INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS Lei n. 9.784/99
A Lei n. 9.784/99 é uma lei federal que estabelece regras para o processo administrativo na esfera federal. Sendo uma lei federal, ela é aplicada apenas no âmbito da União.
De acordo com a doutrina, a lei nacional é aquela que é aplicada em todo território nacional, isto é, em todos os estados, todos os municípios, no Distrito Federal e na União, como, por exemplo, a Lei n. 8.666. Já a lei federal é aplicada apenas no âmbito federal.
Os Estados, Municípios e DF têm competência legislativa para criar suas leis de processos administrativos. Assim, o estado de Goiás, por exemplo, tem suas próprias leis de processos administrativas, com âmbito de aplicação apenas para esse estado.
A função típica do Poder Legislativo é praticar e executar processo legislativo, isto é, edição e elaboração de leis. A função típica do Poder Judiciário, por sua vez, é dar andamento aos processos judiciais. A função típica do Poder Execu-tivo, por fim, é justamente o que será trabalhado nesta aula: o processo adminis-trativo.
Mas nas funções do Poder Judiciário e do Poder Legislativo também se encontram atividades administrativas como atividade-meio. Esses Poderes rea-lizam, por exemplo, licitação pública, que é um processo administrativo. Caso um servidor de um desses Poderes faça um requerimento para tirar licença para tratar de interesses particulares, será gerado também um processo administra-tivo. Desse modo, percebe-se que o processo administrativo está presente em todos os Poderes. A Lei n. 9.784/99, portanto, é aplicada não apenas ao Poder Executivo, mas também ao Judiciário e ao Legislativo quando se trata de suas funções atípicas em relação ao processo administrativo.
A Lei n. 9.784/1999 é aplicada, no Poder Executivo, tanto na Administração Direta quanto na Indireta e, portanto, engloba também autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista.
Trata-se de uma lei genérica sobre processo administrativo, havendo leis pró-prias e específicas de processo administrativo sobre determinada matéria. A Lei n. 8.112, por exemplo, trata do processo administrativo em relação a assuntos como processo disciplinar, direito de petição. No caso de solicitação de Licença Capacitação, por exemplo, instaura-se um processo administrativo, o qual tem uma regulamentação própria na referida lei.
Faltando qualquer informação nas leis específicas, o administrador deverá aplicar de maneira subsidiária os dispositivos da Lei n. 9.784/1999. Não havendo lei específica, essa lei será, então, aplicada na íntegra.
LEI N. 9.784, DE 29 DE JANEIRO DE 1999
Regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1º Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo no âmbito da Administração Federal direta e indireta, visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da Administração.
§ 1º Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando no desempenho de função administra-tiva.
§ 2º Para os fins desta Lei, consideram-se:
I – órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura da Administração indireta;
II – entidade - a unidade de atuação dotada de personalidade jurídica; III – autoridade - o servidor ou agente público dotado de poder de decisão.
Conforme o disposto no artigo 1º, a Lei n. 9.784 tem dois objetivos: • a proteção dos direitos dos administrados;
O objetivo e os fins de toda ação da Administração Pública é sempre atender ao interesse público. Portanto, os objetivos dessa lei significam justamente aten-der ao interesse público.
Essa lei traz ainda os conceitos de órgão e entidade, os quais são muito utilizados no Direito Administrativo. Quando se fala em organização administrativa (desconcen-tração e descentralização), são estudados os órgãos públicos e as entidades.
Considera-se comumente órgão público como unidade integrante da Admi-nistração Direta e entidade, da AdmiAdmi-nistração Indireta. Mas é inegável que na Administração Indireta também há a existência de órgão público. Por exemplo: sabe-se que o INSS é uma autarquia federal. Existem, no entanto, vários postos de atendimento de INSS em todo o Brasil, que são órgãos da autarquia INSS. O INSS, portanto, desconcentrou, criando órgãos dentro de sua própria estrutura. Outro exemplo é a UnB, Universidade de Brasília, que é uma fundação que tem campi em várias cidades-satélites do Distrito Federal. Há um campus da UnB na cidade de Ceilândia, Gama, Planaltina etc. Portanto, a fundação UnB também desconcentrou, criando órgãos dentro de sua competência. Tanto é assim que, se um aluno propuser uma ação judicial por um dano moral ou material cometido no campus da Ceilândia, por exemplo, ele entrará na justiça contra a entidade UnB, e não contra esse campus.
Quando se fala em entidade administrativa, trata-se de unidade que faz parte da Administração Indireta, como a autarquia, a fundação, a empresa pública e a sociedade de economia mista. O órgão não tem personalidade jurídica própria.
Princípios expressos na Lei n. 9.784/99
Existem princípios expressos na Constituição Federal e princípios expressos também em lei infraconstitucional. A CF, artigo 37, dispõe os princípios conhe-cidos como LIMPE. E o artigo 2º da Lei n. 9.784 também estabelece 11 (onze) princípios de maneira expressa, que são:
• Legalidade • Moralidade • Eficiência
• Motivação • Finalidade • Interesse público • Razoabilidade • Proporcionalidade • Ampla defesa • Contraditório • Segurança jurídica Legalidade
O agente público, ao exercer suas atividades conduzindo o processo admi-nistrativo, deve ter como base a lei. Não apenas a legislação em sentido estrito, mas também qualquer regulamento, decreto ou ato normativo.
Moralidade
O processo administrativo deve ser conduzido com ética, justiça, boa-fé e equidade, que é uma conduta reta do administrador público.
Eficiência
O processo administrativo – sua decisão e seu processamento – deve ser efi-ciente. Então o administrador público deve ser eficiente na condução, bem como no resultado do processo administrativo.
Motivação
A motivação do ato administrativo significa, dentro do processo administra-tivo, que os atos devem ser motivados, uma decisão deve ser motivada. A moti-vação explica por que determinada decisão foi tomada, por que certo ato admi-nistrativo foi praticado.
Finalidade e Interesse Público
São princípios correlatos. A finalidade de toda ação do administrador público é atender ao interesse público. Na Constituição Federal é expresso o princípio da impessoalidade, que também é um princípio correlato com o princípio da fina-lidade e do interesse público. Os conceitos desses princípios são parecidos, mas lembre-se: os princípios que estão escritos na Lei n. 9.784/99 são finalidade e interesse público.
Razoabilidade e Proporcionalidade
O princípio da razoabilidade significa que o administrador público deve ser ponderado ao praticar uma atividade dentro de um processo, deve ser razoável e agir com bom senso.
A razoabilidade tem a ver com sanção: não pode a Administração Pública apli-car uma sanção superior a estritamente necessária. Se a infração praticada pelo particular é leve, a sanção também deve ser branda. Se a infração é grave, a pena deve ser grave. Portanto, a Administração Pública deve ser proporcional em suas ações. Esse princípio também é conhecido como princípio da proibição de exces-sos: a Administração Pública não pode proibir de maneira excessiva o particular.
Alguns consideram também a relação entre meios e fins, ou seja, os meios utilizados devem ser proporcionais ao fim visado. Por exemplo: considera-se uma passeata pacífica que está atrapalhando o trânsito e a polícia é chamada. E esta, então, para dispersar a passeata, resulta na morte de três manifestantes. Uma atividade como essa não foi proporcional, pois utilizou uma força maior do que a estritamente necessária.
O pulo do gato
É muito comum as bancas de concurso tratarem esses princípios como sinônimos, até porque não tem como uma atividade ser proporcional se não for também razoável. Mas cuidado: há bancas que tratam esses princípios de maneira separada.
Ampla defesa e Contraditório
O contraditório tem relação com o momento da defesa. Quando a Adminis-tração Pública acusa o particular e aplica uma sanção, tem que conceder um prazo para defesa, que, como será visto, a Lei concede o prazo de 10 dias para recurso.
A ampla defesa, por seu turno, significa que o particular prejudicado pode utili-zar todos os meios lícitos e provas necessárias para provar sua inocência e mudar o entendimento da Administração Pública. Por exemplo: por meio de perícia, oitiva de testemunha, apresentação de provas ao processo no momento que quiser etc.
Segurança jurídica
O cidadão precisa confiar e ter uma segurança nos posicionamentos da Admi-nistração Pública. Observe o seguinte exemplo: considera-se a Lei n. 3.480/11, que remete competência ao prefeito da cidade para estabelecer regras sobre ocupação de área pública. Um prefeito edita, então, o Decreto n. 4.120/12, que concede direito aos particulares de construir em determinada área pública um
avanço de 3 m2 no comércio. Supõe-se que um comerciante exerceu esse direito.
Sendo assim, esse direito foi incorporado no patrimônio jurídico do particular. Supondo-se que, ao mudar o prefeito, foi editado um novo decreto: Decreto n. 5.772/16, cujo objetivo é revogar o decreto anterior, autorizando o avanço de apenas
1 m2. É possível que a Administração Pública mude sua interpretação da lei. A lei,
entretanto, não pode retroagir. O novo decreto terá ação apenas para o futuro.
O princípio da segurança jurídica, portanto, veta que nova interpretação da lei pela Administração Pública alcance situações pretéritas. É a mesma regra da CF, que determina que a lei não retroagirá. Do mesmo modo, o ato normativo não retroagirá.
�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula preparada e ministrada pelo professor Rodrigo Cardoso.