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Vista do Design, inovação social e sustentabilidade: o conceito de comunidades criativas em Nova Lima – MG

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Carlos Magno Pereira

Universidade Federal de Itajubá – carlosacmape@gmail.com

Design, inovação social

e sustentabilidade:

o conceito de comunidades criativas

em Nova Lima – MG

Rita de Castro Engler

Universidade do Estado de Minas Gerais – rcengler@uol.com.br

Daniela Menezes Martins

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RESUMO

O design hoje amplia o seu campo de atuação, deixando de agir somente no desenvol-vimento de produtos e atuando na criação de serviços ligados à comunidade. Diante de um mercado globalizado e saturado, onde existe uma lacuna em produtos, serviços e sistemas inovadores e críticos, é prioridade o desenvolvimento de pesquisas aplicadas que se configurem instrumentos eficazes para o desenvolvimento sustentável de comunidades inseridas em contextos únicos. Este projeto pesquisou as possibilidades da inserção em comunidades locais, tendo a criatividade como indutora da sustentabilidade. Como estudo de caso, apresenta-se o Programa Comunidades Criativas das Geraes, em especifico a oficina de artesanato desenvolvido no distrito de São Sebastião das Águas Claras que, pertence ao município de Nova Lima, situado no Estado Minas Gerais. O conceito de comunidades criativas surge como uma proposta para o caminho sustentável, sendo ela uma inovação social que traz melhorias nos níveis econômico, ambiental, social e cultural.

PALAVRAS-CHAVE:

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ABSTRACT

Design today expands its area, and does not act only in product development

but also on creating service connected to the community. Facing a global and

saturated market, where there is a gap in products, services and innovative and

critical systems, it is priority the development of applied research that

confi-gure effective tools for sustainable development of communities inserted in

unique contexts. This project researched the possibilities of insertion in local

communities, with creativity as an inducer of sustainability. As a case study, it

is presented the Geraes Creative Communities Program, particularly a craft

workshop developed in São Sebastião das Águas Claras district which belongs

to the city of Nova Lima, located in Minas Gerais state. The concept of creative

communities comes as a proposal for the sustainable way, in which it is a social

innovation that brings improvements in the economic, environmental, social

and cultural levels.

KEY-WORDS:

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1. INTRODUÇÃO

Diante de um mercado globalizado saturado, na qual existe uma lacuna em produtos e serviços inovadores e críticos, é prioridade o desenvolvimento de pesquisas aplicadas que se configurem em instrumentos eficazes para o desenvolvimento sustentável de comunidades inseridas em ambientes únicos. Nesse contexto, o conceito de Comunidades Criativas surge como um caminho para o desenvolvimento sustentável da comunidade em questão, sendo a inovação social identificada mais pelas mudanças de comportamento do que pelas tecnológicas pelo mercado, geralmente através dos processos organizacionais, numa abordagem “bottom-up”1. Desse modo o design desenvolve um papel importante como potencializador através das formas criativas de produção e organização nas melhorias dos níveis econômico, ambiental, social e cultural.

A comunidade de São Sebastião das Águas Claras, também conhecida por Macacos, distrito de Nova Lima - MG, foi escolhida para o presente estudo de caso. A região apresenta fortes características históricas, hábitos e costumes peculiares ideais para o estudo da relação sistêmica entre o design e a inovação social, tendo a criatividade, o território e a sustentabilidade como fomentadores dessa relação. Parte-se do pressuposto que a transdisciplinariedade do design o configura num meio capaz de contribuir para o incremento e desenvolvimento econômico e sociocultural de comunidades através do exercício da criatividade.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Design, Inovação Social e Sustentabilidade

O termo inovação apresenta diversas definições, Coelho (2008), diz que inovação é uma concepção, criação, criação da forma, criação do novo, criatividade, desenvolvimento de ideias, materialização de conceito, processo criativo. Engler (2009) define como uma introdução ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social, em que resulte em novos produtos ou serviços.

O design, atualmente, tem se caracterizado como uma ferramenta estratégica de inovação para o desenvolvimento de produtos e serviços, sendo ele um poderoso catalizador para mudança (MORAES, 2010). Ao mesmo tempo, considerando que a próxima economia é um tipo de economia social, o próximo design é também um novo tipo de design que incorpora a inovação social e a sustentabilidade. Tudo isso, de igual

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forma, nos faz concluir que também será necessário o surgimento de novas abordagens projetuais, novos modelos e novas metodologias que sustentem e direcionem o projeto nesse cenário mutante e complexo que se delineia (MORAES, 2010).

A inovação social é definida por Manzini (2008, p. 61) como “mudanças no modo como indivíduos ou comunidades agem para resolver seus problemas ou criar novas oportunidades”. Para Thackara (2008) tanto a inovação social quanto soluções tecnológicas fazem parte da transição para a sustentabilidade, sendo esse, um mundo menos voltado a coisas materiais e sim, voltado para as pessoas. A inovação social faz parte da capacidade da própria sociedade solucionar os seus problemas de forma criativa. Mulgan, Tucker, Rushanara apud Cipolla (2012), definem como uma nova ideia que atende às necessidades prementes, mas ainda desconsidera, melhorando a vida das pessoas, apesar de, comumente ser associada a iniciativas sem fins lucrativos, sendo muito mais ampla, pois lida praticamente com todas as questões que impactam a sociedade (CIPOLLA, 2012).

[...] a definição de inovação social, consequentemente, indica também o reconhecimento dos limites do modelo atual de produção e consumo, considerando não somente termos ambientais, mas também questões econômicas, sociais e institucionais. Apesar do fato de que inovações sociais podem ser não planejadas ou acontecer espontaneamente, se condições favoráveis forem criadas por meio do design, elas podem ser encorajadas, empoderadas, reforçadas, ampliadas e integradas com programas maiores para gerar mudanças sustentáveis (CIPOLLA, 2012, p.65-66).

O termo inovação social, nada mais é que os três pilares da sustentabilidade, econômico, social e cultural, empregados na melhoria de uma determinada comunidade. Vezzoli (2010) abrange o termo como sendo um design de sistemas de inovação ambiental, social e economicamente sustentáveis, podendo assim ser definido como o “design para a equidade e a coesão social do sistema de produtos e serviços que, conjuntamente, atendem a uma demanda particular de interações de atores (locais e estruturadores em rede) envolvidos diretamente e indiretamente nesse sistema de satisfação” (VEZZOLI, 2010, p.155).

O conceito de desenvolvimento sustentável foi definido há algumas décadas como algo necessário para atender às necessidades atuais sem prejudicar as futuras gerações, sendo “um modelo de negócios que gere resultado consistente a longo prazo, por intermédio do equilíbrio e da coordenação das dimensões financeira, ambiental e social” (ZYLBERSTAJN, 2010, p.60).

Para Vezzoli (2010), nos últimos dez anos, o conceito de desenvolvimento sustentável foi inserido no cenário político internacional, sendo um termo que se refere às condições sistêmicas de desenvolvimento produtivo, social, em nível mundial, ocorrendo dentro

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dos limites da resiliência ambiental que é, a capacidade do planeta absorver e regenerar, frente aos impactos ambientais gerados pelo homem, pela manutenção do capital natural, sendo a capacidade das futuras gerações em se satisfazerem e pela distribuição equânime direto ao acesso ao espaço ambiental que consiste em ter acesso aos recursos naturais.

A sustentabilidade está inserida no design como um processo que requer um reposicionamento dos modos de viver da sociedade, implicando assim, um processo de aprendizado coletivo, que é lento e complexo. Daí surge o argumento que o caminho a se alcançar para chegar à sustentabilidade segue um caminho evolucionário, o qual requer o entendimento e o exercício do nível anterior (SANTOS, 2009).

Lana (2010) menciona que o pensamento cartesiano tenha contribuído para a evolução e progresso da ciência e tecnologia que se conhecem hoje. A sustentabilidade é um conceito sistêmico que se relaciona com a comunidade e seus aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Manzini (2008) afirma que o design para a sustentabilidade é o design estratégico, capaz de colocar em ato, descontinuidades locais promissoras, contribuindo para efetivas mudanças sistêmicas.

Em síntese, o design sustentável tem como objetivo desenvolver projetos sustentáveis, não almejando o fim da produção de bens, sem consumo de nenhuma espécie, mas apoiando o desenvolvimento de bens no ponto de vista de uma nova ótica de consumo, sem exageros, sem destruição de reservas naturais, sem acúmulo de resíduos e poluição.

2.2 DESIGN TERRITORIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL

O design territorial é o desenvolvimento regional utilizado para qualificar ações locais que resultem em um esforço conjunto de toda área produtiva, visando destacar, desenvolver e difundir as habilidades e características da região, buscando torná-la um centro de referência (MARTINS; MERINO, 2011). Thackara (2008) menciona que nos dias atuais pensar “local” torna-se uma abordagem de horizontes mais amplos, aonde iremos do presente ao futuro, em uma série de passos menores, porém cuidadosamente considerados. O desenvolvimento pode ser visto como um processo de potencialização de oportunidades e características de cada território, isto é, diante das diferenças geográficas, econômicas, sociais e culturais, em especial as relacionadas à atividade do design. Percebe-se momentaneamente uma grade participação desses profissionais, que estão comprometidos com sua região e contribuem para a formulação de políticas que visam a destacar e valorizar a produção e o produto local contemplando as influências culturais e especificas da região (MARTINS; MERINO, 2011).

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Um bom exemplo da aplicação do design territorial é o artesanato. Freitas (2011) diz que peças artesanais diferenciam-se pela matéria-prima, técnica de concepção e pelos valores culturais, sendo eles, religiosos, folclóricos ou tradicionais, os quais apresentam aspectos intrínsecos de cada região. “O artesanato baseado no legado de tradições passadas que se renovam em cada geração constitui um verdadeiro patrimônio vivo” (FREITAS, 2011).

Malaguti (2009) crê que influências socioculturais desempenham um papel importante para a concepção de produtos, sendo que, todo produto, inconsciente ou não, vem a ser fruto de interação dos atores envolvidos em sua concepção e dos artefatos com a realidade social circundante. O que pode ser observado de tal maneira, mais abertamente, quando se volta para a produção artesanal popular. “O artesanato é o resultado do convívio do homem com a sua cultura autóctone, suas tradições, cultural material espontânea e popular” (MALAGUTI, 2009).

Para Borges (2011), o artesanato é um dos meios de maior importância para representar a identidade de uma população, através dela temos a representação não só de técnicas e matérias, mas também dos valores coletivos que são fortemente representados. O artesanato é uma atividade cultural de maior ocorrência nas cidades brasileiras, segundo pesquisa realizada em 2006 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estáticas (IBGE). Essa pesquisa foi realizada em 5.564 municípios, sendo as ocorrências em 57,7% exposições de artesanato, 55,6% feiras de artesanato, 49,2% festivais de manifestação tradicional popular, 38,7% festivais de música, 35,5% festivais de dança, 34,8% concursos de dança e 31,9% concurso de música.

Torna-se então estratégico para o design local, dentro do cenário de complexidade, valer-se do modelo ‘meta-projetual’ (como intervenção possível junto aos cenários complexos) para pesquisar e decodificar as diversas referências culturais advindas da fauna, flora, arquitetura, festividades e religiosidades locais. Passando, por fim, pelo artesanato e pelas topografias e tessituras existentes na ambiência, em busca de, posteriormente, conectá-las e traduzi-las em signos e ícones decodificáveis como elementos possíveis de aplicação nos componentes da indústria e do design local (MORAES, 2008, p. 18).

Entretanto, o design deve ser capaz de contextualizar e globalizar, desenvolvendo soluções que relacionem favoravelmente ambos os polos. Deste modo, favorecendo os recursos e potencialidades locais, atendendo as necessidades dos usuários situados em contextos específicos e, concomitantemente, promovendo a integração das comunidades e das diversidades, incorporando benefícios dos avanços tecnológicos e acionando diálogos e redes locais e globais (MORAES, 2008).

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2.3 DESIGN E CRIATIVIDADE

A criatividade é conceituada por Baxter (2003) como “o coração do negócio, em todos os estágios do projeto. O projeto mais excitante e desafiador é aquele que exige inovações de fato - a criação de algo radicalmente novo, nada parecido com tudo que se encontra no mercado”, observando que muitas vezes a criatividade é confundida com inovação, mas, isso só mostra o quanto ela se torna parte essencial no processo projetual (MORAES, 2010). O design como atividade criativa tem como objetivo estabelecer e qualificar as várias faces dos objetos, dos processos, dos serviços e dos sistemas, compreendendo todo o ciclo de vida. Dessa forma o design busca identificar e avaliar as relações estruturais, organizacionais, funcionais, expressivas e econômicas, tendo como meta:

• Ampliar a sustentabilidade global e a proteção ambiental (ética global); • Fornecer benefícios e liberdade a toda humanidade, aos grupos e aos indivíduos; • Fomentar a participação ativa de usuários finais e de produtores, tornando-os

protagonista do processo de geração de valor (ética social);

• Apoiar a diversidade cultural, mesmo com o processo de globalização (ética cultura);

• Dar aos produtos, serviços e sistemas, formas que expressem (semiologia) e sejam coerentes com (estética) a sua própria complexidade (COUNCIL OF SOCIETY IN INDUSTRIAL DESIGN apud VEZZOLI, 2010, p.38).

Manzini (2008) menciona que existem muitos casos em que essa criatividade é expressa no design como atividades denominadas “colaborativas”. Tendo como exemplos “modos de vida em comum nos quais espaços e serviços são compartilhados (como o co-housing2), atividade de produção baseada nas habilidades e recursos de uma localidade especifica” (MANZINI, 2008), igualmente como ocorrem com alguns produtos típicos locais.

O grupo de pessoas que organiza inovações sociais é definido pelo EMUDE como Comunidades Criativas (CIPOLLA, 2012, p.67). Manzini (2008) define esses indivíduos como pessoas que possuem habilidades particulares para projetos, em especial pessoas criativas e empreendedoras que sem esperar provocam mudanças na economia, instituições e infraestrutura, conseguindo reorganizar o estado existente em algo novo (MANZINI, 2007, p.14).

O design, entretanto, se mostra como uma ciência transversal (e mesmo atravessável) ao aceitar e indicar interações multidisciplinares que se relacionam com precisão das áreas exatas, passando pelas reflexivas áreas humanas e sócias e chegando à expressão e liberdade das artes. De fato, o design amplifica o diálogo com as disciplinas tecnológicas, econômicas e humanas, passando pelos campos da gestão, da semiótica e da comunicação (MORAES, 2010, p. 10).

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3. METODOLOGIA

Durante o desenvolvimento da pesquisa se utilizou da coleta de dados por meio da documentação indireta – pesquisa bibliográfica, e da documentação direta – pesquisas de campo, seguidos de registro fotográfico e entrevistas.

4. ESTUDO DE CASO

4.1 Nova Lima

O município de Nova Lima está situado a 22 km da capital mineira – Belo Horizonte, cercado por uma região de montanhas. Seu povoamento inicia-se por volta de 1701, quando o bandeirante paulista Domingo Rodrigues da Fonseca Leme iniciou a extração aurífera, que originou ao o povoamento de Nova Lima (MELO, 2008, p. 21).

O belo local do estabelecimento é uma depressão, de formato irregular, com cerca de três quartos de milha de comprimento e meia milha de largura. O estreito vale termina a oeste em um beco sem saída (Voltaire nos proíbe de chama-lo um ‘cul de sac’), formado por uma elevação; os morros que o cercam se elevam de 230 a 300 metros acima do Ribeirão. Esse ribeirão, serpenteado para o rumo da nascente, arrasta uma corrente carregada de pirita e lodo de arsênio, deve ter um efeito deletério. A terra em torno foi levada pelo Rio das Velhas e o solo frequentemente bom foi muito empobrecido. A paisagem ainda apresenta a antiga beleza romântica e, nos dias bonitos, sol e a atmosfera dão a tudo uma tonalidade que é um verdadeiro prazer contemplar (BURTON, 1976, p.193).

A cidade possui uma natureza exuberante, os seus principais exemplos são a Mata do Jambeiro e o Parque Estadual do Rola Moça. Nesses locais é possível caminhar por trilhas, nadar em cachoeiras, rios, praticar esportes náuticos em lagos, ver a fauna silvestre, fazer cavalgadas e admirar noites estreladas. O turismo ecológico é uma das muitas opções de lazer, o que inclui a localidade no roteiro do ecoturismo mineiro (MELO, 2008, p.120).

Hoje com a expansão e o desenvolvimento econômico da região sul da cidade de Belo Horizonte, vê se o aumento de condomínios residências, o comercio local e vários tipos de serviços voltados para o atendimento da população, sendo os principais – hotéis, hospitais, escolas e restaurantes, que garantem a região geração de recursos e novos empregos. Vale destacar a região de São Sebastião das Águas

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Claras (Macacos), Jardim Canadá e Vale do Sol, que estão inseridas nos roteiros culturais e gastronômicos do turismo mineiro, em vazão dos excelentes eventos culturais, restaurante e pousadas em suas localidades (MELO, 2008, p.142-143).

4.2 SÃO SEBASTIÃO DAS ÁGUAS CLARAS (MACACOS)

A fundação de São Sebastião das Águas Claras é semelhante à de outras tantas povoações mineiras – baseada na mineração. Conforme relata Queiroz (2003), na região em que se encontram o Rio das Velhas e o Rio Paraopeba, existe uma ampla área de solo aurífero e grande número de córregos e riachos, situação ideal para a atividade mineradora.

A formação do arraial ocorreu a partir de uma parada obrigatória para os usuários da Estrada Geral3, rota de uso frequente de mineradores e comerciantes. As tropas que levavam mercadorias necessitavam de um local para descanso e trato dos animais. Isso gerou um pequeno foco urbano, um início de comunidade muito comum em Minas Gerais, no século XVIII (QUEIROZ, 2003).

Esses abrigos acabavam por fazer surgir, em seu entorno, grupos de pessoas que erguiam suas construções para moradia, que plantavam com base na agricultura de subsistência, criavam animais e mantinham negócios com tropeiros e mineradores (QUEIROZ, 2003). Tudo isso fez com que o local obtivesse certo dinamismo, provocando o nascimento de um povoado.

As belas paisagens e o clima bucólico são favoráveis à recepção de turistas em busca de tranquilidade, além dos amantes dos esportes radicais que se aventuram por trilhas no meio das montanhas. Atualmente o turismo é responsável por boa parte da renda da comunidade de Macacos, contribuindo para a manutenção das pousadas, bares, restaurantes e atividades ligadas a esportes radicais e de aventura.

4.3 A IMERSÃO DO PROGRAMA COMUNIDADES CRIATIVAS

DA GERAES

O Programa Comunidade Criativas da Geraes tem como meta aplicar um conjunto de ações baseados no conceito de Comunidades Criativas, tendo como modelo piloto a sua inserção no município de Nova Lima - MG. O programa tem por intuito promover a integração e o beneficiamento dos indivíduos em seu território por meio de experiências, trocas e dinâmicas culturais, utilizando como catalisador a criatividade no processo de desenvolvimento sustentável. O programa é desenvolvido pela equipe interdisciplinar do

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Centro de Estudos de Design & Tecnologia – CEDTec da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais – ED/UEMG (COMUNIDADES CRIATIVAS, 2012).

O objetivo das Comunidades Criativas compreende a geração de renda para seus participantes, propiciando o enriquecimento e a melhoria da qualidade da vida da região. De fato, nos dias atuais, o valor econômico é cada vez mais uma associação de elementos que envolvem uma criação conjunta de diversos fatores, não somente econômicos, porém a concepção do valor não é mais um posicionamento dentro da cadeia de valor (“uma sequência linear definida passo a passo: produtivo, logístico e de comunicação; percurso em que o produto sempre aumenta de valor”). Na contemporaneidade, de início, o valor não é somente um simples incremento em relação a uma condição pelo qual o próprio valor, como elemento projetual, pode se reinventar. Trata-se de uma intervenção fortemente projetual que recebe vida e forma dentro de um contexto, baseado em rede de trabalho, fundamentalmente inter e transdisciplinar. Sendo, assim, um panorama mais fluido, direcionado pela lógica da rede, tendo sua estruturação sob fluxos que atravessam e colocam em relação a diversos pontos, cunhando esquemas de técnicas produtivos de forma menos cristalina, sendo ela de uma forma organizacional não hierárquica (BIAMONTI (2007) apud MORAES, 2010, p. 23)

O referente estudo de caso tem como base de análise a Oficina de Processos Criativos em Design para Artesanato. O intuito da oficina é valorizar a diversidade cultural pouco explorada, visto que muitos moradores da comunidade possuem habilidades artísticas e vontade de produzir, porém encontravam-se desmotivados. O desenvolvimento turístico de alto nível socioeconômico, com a construção de dois hotéis horizontais de cadeias internacionais, contribuirá para a geração de novas oportunidades de negócios, sendo de grande importância a capacitação para o empreendedorismo da comunidade de forma que possam viabilizar negócios que valorizem seu território e cultura.

A oficina utilizou a metodologia de pesquisa-ação, que consiste na análise sobre o contexto da realidade das comunidades envolvidas no projeto (THIOLLENT4 apud MARTINS, ENGLER, et al., 2012). Teve a carga horária de 57 horas e etapas que consistiram em: (a) aulas teóricas sobre design, produção artesanal, cultura material e imaterial; (b) atividades práticas – fotografia, construção de mapa territorial, exercícios de estimulação da criatividade; (c) visitas técnicas – museus, galerias, parques e reservas ambientais; (d) visitas aos locais de produção do artesanato (MARTINS, ENGLER, et al., 2012).

Como conclusão das atividades realizadas durante a Oficina de Processos Criativos em Design para Artesanato, realizou-se uma exposição na Escola Municipal Rubem Costa Lima dos novos produtos produzidos. Foram selecionados os melhores produtos de cada artesão participante para integrarem um catálogo comercial distribuído gratuitamente nos hotéis, pousadas, restaurantes e pontos comerciais com intuito de divulgar e impulsionar a comercialização dos produtos (MARTINS, ENGLER et al., 2012).

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Também foram aplicados dois questionários, após o encerramento da oficina. O primeiro teve como objetivo conhecer o turista que visita o distrito e o segundo com o objetivo de perceber o quão importante foi a realização da oficina para os artesões participantes e o desenvolvimento local, abordando a relação do território e a sustentabilidade.

Como resultado do primeiro questionário, realizado no mês de março de 2013, observou-se que 70% dos entrevistados costumam viajar 3 ou mais vezes por ano e na maioria das vezes com a família e amigos, tendo uma estadia média de 5 dias. Normalmente, escolhem o destino de viagem pela beleza natural (35%), diversão e lazer (18%), descanso (13%) e pela cultura local (13%), e costumam adquirir produtos artesanais locais, sendo eles – produtos típicos (38%), lembranças/souvenir (35%), utilitários (14%), produtos de referência cultural (8%) étnicos e esotéricos (8%), possuindo como motivação ao adquirir esses produtos: presentear amigos (40%), adquirir lembranças do local (33%). O universo pesquisado foi constituído por 30 entrevistas, na qual 97% pertencem à população economicamente ativa.

Já na segunda pesquisa participaram 11 artesãos que concluíram a Oficina de Processos Criativos em Design para Artesanato, procurando entender o processo criativo e produtivo do artesão. A renda familiar média entre os participantes é de 3 salários mínimos, sendo que 18% dos participantes não possuem renda alguma proveniente do artesanato, 55% menos da metade, 18% metade e 9% mais da metade. Atualmente 91% dos artesãos participam de algum grupo produtivo. Após a oficina, todos os participantes, desenvolveram novos produtos, melhorando o acabamento, modificando as formas, empregando a temática local no produto e reaproveitando materiais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse contexto, a transdiciplinariedade do design configura-se num meio capaz de contribuir para o incremento e desenvolvimento econômico e sociocultural das comunidades, através do exercício da criatividade. Atualmente é fundamental saber interagir com grupos heterogêneos e mediar a integração de diversos contextos, além de compreender a diversidade cultural tanto no projeto de produto como também de sistemas e serviços nas formas de inovação colaborativa e participação social. Portanto, o conceito de Comunidades Criativas surge como uma proposta para o caminho sustentável, como alternativa de soluções de produtos, sistemas e serviços tendo assim, uma abordagem diferenciada em que as relações lineares são evitadas, dando forma preferencialmente a uma interação de cada membro, de forma sistêmica.

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NOTAS

1. Em tradução livre: da base ao topo.

2. Comunidade de convivência compostas por casas privadas, onde os moradores compartilham espaços e experiências com seus vizinhos.

3. Denominação de qualquer via terrestre percorrida no processo de povoamento e exploração econômica à época do Brasil Colônia.

4. THIOLLENT, M. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortez, 1986.

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Referências

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