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PRODUTO INTERNO BRUTO E DESENVOLVIMENTO http://adrianobranco.eng.br/2009/07/08/produto-interno-bruto-e-desenvolvimento/ 13.11.2009

Adriano M. Branco

Márcio Henrique B. Martins

Há poucos dias discutimos um tema da atualidade, que é a relação entre a qualidade de vida e o desenvolvimento, deixando para um novo artigo, que ora publicamos, a relação entre o Produto Interno Bruto e o Desenvolvimento.

Durante muitos anos procurou-se medir o enriquecimento e o progresso dos países através do PIB e a distribuição de renda através do PIB “per capita”. Mas de longa data o economista John K. Galbraith advertia para a relatividade desse conceito, até com argumentos curiosos, como aqueles encontrados em seu “A Economia ao Alcance de Quase Todos” (1978), quando diz: “Uma mulher da rua, já que ela cobra pelos favores que presta, contribui para o Produto Nacional Bruto, pelo menos em princípio; uma esposa dedicada, que administra o lar, não”. Ou ainda: “Uma loja de grande movimento que vende fotos indecentes contribui mais para o PNB do que a ausência de poluição atmosférica”.

Atualmente, vários são os economistas mundialmente conhecidos que contestam a utilização do PIB como medida a ser perseguida pela sociedade e pelos governos como forma de aumento de bem-estar social. O prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz, em seus livros “Globalização e seus malefícios”, “Exuberantes anos 90″ e “Globalização: como dar certo”, critica severamente o modelo econômico baseado no livre mercado (modelo neoliberal surgido no início da década de 80), cuja máxima expressão é a busca desmedida do crescimento do PIB. Suas afirmações vão além, ressaltando que a visão imediatista do mercado prejudica qualquer tentativa de planejamento visando ao desenvolvimento, isto é, crescimento econômico respeitando os limites humanos e naturais, conforme a seguinte passagem:

“Hoje, de um modo geral, há uma compreensão (pelo menos entre os economistas, se não entre os políticos) da limitação dos mercados. Os escândalos dos anos 90 nos Estados Unidos e em outros lugares derrubaram o ‘estilo americano de finanças e capitalismo’ do pedestal em que esteve durante demasiado tempo. De forma mais ampla, a perspectiva de Wall Street, que é freqüentemente míope, está sendo reconhecida como antitética ao desenvolvimento, que exige pensamento e planejamento de longo prazo”. [1] Segundo Stiglitz, o crescimento do PIB não implica necessariamente em desenvolvimento de um país. Para ele, o “sucesso significa um desenvolvimento sustentável, eqüitativo e democrático que tenha seu foco na melhoria dos padrões de vida e não apenas no PIB medido” [2]. Adiante, mostra como esta medida pode ser perversa para a economia:

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“O PIB é uma medida útil de crescimento econômico, mas não é tudo. O crescimento deve ser sustentável. Todos sabem que o estudo de última hora faz passar nos exames, mas o que se aprende é logo esquecido. É possível aumentar o PIB espoliando o meio ambiente, esgotando recursos naturais escassos, fazendo empréstimos no exterior, mas esse tipo de crescimento não é sustentável”. [3]

No mesmo livro da citação anterior, Stiglitz reconhece que há dois grupos distintos de economistas: os conservadores, restritos ao conceito de que os mercados livres são mais eficientes, e aqueles que pensam como ele. Na passagem seguinte, ele deixa bem claro a sua visão da economia, e como a vontade da população, ou seja, seu bem-estar está condicionado não somente à eficiência econômica, mas também à equidade social:

“Por outro lado, aqueles que, como eu, pensam que os mercados, com freqüência, deixam de produzir resultados eficientes (produzindo poluição demais e pesquisa básica de menos, por exemplo) e se preocupam com as desigualdades de renda e os altos níveis de pobreza acreditam também que reduzir essa desigualdade pode custar menos do que os economistas conservadores predizem. Aqueles que se preocupam com a desigualdade de renda e a pobreza também vêem os enormes custos de não enfrentar o problema: as conseqüências sociais, entre elas a alienação, a violência e os conflitos sociais. Eles são também otimistas em relação às possibilidades das intervenções governamentais; embora os governos às vezes – ou mesmo freqüentemente – sejam menos eficientes do que se esperaria, há exemplos notáveis de sucesso, vários dos quais discuto nas páginas deste livro. Todas as instituições são imperfeitas e o desafio para cada uma delas é aprender com os sucessos e com os fracassos.”[4]

A visão conservadora ao redor do crescimento do PIB é resultado de uma série de políticas denominadas Consenso de Washington. Embora no momento de sua proposição, há vinte e cinco anos, esperava-se que poderia levar a uma melhora nas condições de vida, hoje, sabe-se que está baseada em pressupostos irrealistas, que levam a conseqüências outras que aquelas difundidas como suas vantagens. A análise de Stiglitz nas duas próximas passagens atesta veementemente estas afirmações:

“A liberalização do comércio e a do mercado de capitais eram dois componentes fundamentais de uma proposta política mais ampla, conhecida como Consenso de Washington – um consenso forjado entre o FMI (localizado na rua 19), o Banco Mundial (na rua 18) e o Tesouro americano (na rua 15) – sobre o que constituía o conjunto de políticas que melhor promoveria o desenvolvimento. Ele enfatizava a diminuição de escala do governo, a desregulamentação, a liberalização e privatização rápidas. Nos primeiros anos do milênio, a confiança no Consenso de Washington já estava desgastada e surgia um consenso pós-Consenso de Washington. O Consenso, por exemplo, havia dado pouquíssima atenção às questões de eqüidade, emprego e competição, ao gradualismo e ao seqüenciamento das reformas, ou ao modo como deveriam ser conduzidas as privatizações. Existe agora também um consenso de que ele propunha um foco excessivo em um simples aumento do PIB, não em outras coisas que afetam os padrões de vida, e dava pouca atenção à sustentabilidade – se o crescimento pode ser sustentado econômica, social, política e ambientalmente.”[5]

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“A receita do Consenso de Washington baseia-se numa teoria da economia de mercado que supõe informação perfeita, competição perfeita e riscos de mercado perfeitos, uma idealização da realidade que tem pouca relevância para os países em desenvolvimento em particular. Os resultados de qualquer teoria dependem de seus pressupostos – e se os pressupostos se afastam demais da realidade, as políticas baseadas naquele modelo estarão provavelmente erradas”.[6]

Para finalizar, a opinião deste formidável economista resume como devem ser encaradas as posições daqueles que ainda insistem com a tese do livre mercado, que acreditam que maximização de lucro é a mesma coisa que maximização de bem-estar: ”Há 25 anos, era compreensível que ocorresse um debate sobre o fundamentalismo de mercado e as receitas do Consenso de Washington: elas não haviam sido experimentadas (naturalmente, as objeções teóricas e as experiências históricas ofereciam uma forte palavra de cautela). Hoje, ao vermos os sucesso e fracassos, é difícil entender a continuação desse debate – afora o papel da ideologia e dos interesses que são servidos pelas políticas do Consenso (mesmo quando a economia não cresce, há quem lucre com essas políticas)”. [7]

A crítica ao PIB como indicador de riqueza de uma nação também pode ser vista em artigo publicado por Henrique Rattner na revista Política Externa[8]:

“O PIB reflete somente uma parcela da realidade, distorcida pelos economistas – a parte envolvida em transações monetárias. Funções econômicas desenvolvidas nos lares e de voluntários acabam sendo ignoradas e excluídas da contabilidade. Em conseqüência, a taxa do PIB não somente oculta a crise da estrutura social, mas também a destruição do habitat natural – base da economia e da própria vida humana. Paradoxalmente, efeitos desastrosos são contabilizados como ganhos econômicos. O crescimento pode conter em seu bojo sintomas de anomia social.”

A onda de crimes nas áreas metropolitanas impulsiona uma próspera indústria de proteção e segurança, que fatura bilhões. Seqüestros e assaltos a bancos atuam como poderosos estimulantes dos negócios das companhias de seguros, aumentando o PIB. Algo semelhante ocorre com o ecossistema natural. Quanto mais degradados são os recursos naturais, maior o crescimento do PIB, contrariando princípios básicos da contabilidade social, ao considerar o produto da depredação como renda corrente. O caso da poluição ilustra ainda melhor esta contradição, aparecendo duas vezes como ganho: primeiro, quando produzida pelas siderúrgicas ou petroquímicas e, novamente, quando se gasta fortunas para limpar os dejetos tóxicos. Outros custos da degradação ambiental, como gastos com médicos e medicamentos, também aparecem como crescimento do PIB.

A contabilidade do PIB ignora a distribuição de renda, ao apresentar os lucros enormes auferidos no topo da pirâmide social como ganhos coletivos. Tempo de lazer e de convívio com a família são considerados como a água e o ar, sem valor monetário. “O excesso de consumo de alimentos e os tratamentos por dietas, cirurgias plásticas, cardiovasculares etc. são outros exemplos da contabilidade, no mínimo bizarra, sem falar dos bilhões gastos com tranqüilizantes e tratamentos psicológicos.”

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A economista Henzel Hederson, autora do livro “Mercado Ético”, também é uma crítica severa dos economistas que vêem no PIB uma medida única de sucesso de um país. Para ela, é preciso considerar na contabilidade nacional o custo social da realização de determinadas atividades que reduzem o estoque que proporciona os fluxos de riquezas de uma localidade, isto é, o capital humano e o capital natural. O modelo econômico atual, para ela não se adapta à realidade das necessidades dos cidadãos:

”A economia tradicional é hoje amplamente vista como um código de fonte imperfeito entranhado nos discos rígidos das sociedades, replicando a insustentabilidade: as altas súbitas, as falências, as bolhas, as recessões, a pobreza, as guerras comerciais, a poluição, a desintegração das comunidades e a perda da cultura e da biodiversidade. Cidadãos de todo o mundo estão rejeitando este código fonte econômico imperfeito e os seus sistemas operacionais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e os bancos centrais autoritários”. [9] Enfim, a visão de que o crescimento do PIB é condição necessária, mas não suficiente para garantir a pujança econômica de determinado país é a consciência mundial em torno da necessidade de se encontrar indicadores mais completos, como é o caso do Índice de Desenvolvimento Humano, publicado pela Organização das Nações Unidas. No Butão, por exemplo, o governo local introduziu o conceito de Felicidade Nacional Bruta, conceito esse defendido de longa data por Galbraith, como contrapartida ao cálculo do PIB, visando medir o grau de felicidade da nação. Talvez, por relevância histórica, tenha mais envergadura o fato de o presidente francês Nicolas Sarkozy ter convidado o economista Joseph Stiglitz para criar um novo indicador que meça o bem-estar do povo francês, devido à insuficiência do PIB como medida.

O momento é muito oportuno para iniciativas como essa, em que o presidente francês procura modernizar os conceitos da economia de seu país, ante as graves conseqüências dos equívocos das três últimas décadas. De seu lado, o presidente dos EUA, Barack Obama, vem procurando também traçar novos rumos para o desenvolvimento de seu país, sobretudo buscando modificar comportamentos em setores diversos como saúde, finanças e ambiente, comportamentos esses que aparentemente resultavam do aumento da qualidade de vida, mas que, na verdade, atuavam na direção oposta. De sua orientação dá noticia o artigo de Joseph B. White, do The Wall Street Journal, transcrito pelo Valor Econômico, em 23/06/09.

O caminho escolhido por Obama foi o do “empurrão” na sociedade para mudar as suas opções em seu próprio beneficio (caso da obesidade, por exemplo) ou em benefício coletivo (problemas da poluição atmosférica, dentre outros).Cass Sunstein, especialista em economia comportamental, que foi escolhido por Obama para dirigir o Escritório de Administração e Orçamento, é um dos autores do livro “Nudge – O Empurrão para a Escolha Certa”.

O que é crucial neste momento é ter em conta seriamente que a humanidade hoje consome 30% mais recursos da natureza do que ela é capaz de repor e causa danos a ela cada vez mais irreversíveis, em nome de um padrão de consumo que caracteriza o

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desenvolvimento econômico dos países ricos, deixando ainda 1,4 bilhões de seres humanos vivendo abaixo do nível de pobreza. É o crescimento econômico em dose letal.

---[1] Stiglitz, J. Globalização: como dar certo. São Paulo: Companhia da Letras, 2007. [2] Idem. [3] Idem. [4] Idem. [5] Idem. [6] Idem. [7] Idem.

[8] Rattner, H. Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável: O Mundo na Encruzilhada da História. Em Política Externa, vol. 11, nº 2, set/out/nov, 2002.

[9] Henderson, H. Mercado Ético: a força do novo paradigma empresarial. São Paulo: Cultrix, 2007.

Eng. Adriano Murgel Branco

Adriano Murgel Branco, paulistano de 76 anos, é administrador e engenheiro eletricista formado por uma das melhores escolas de engenharia do país – a Universidade Mackenzie. Branco, foi consultor no Brasil e em Moçambique, professor universitário, ocupou inúmeros cargos públicos, entre eles o de secretário da Habitação e secretário dos Transportes do Estado de São Paulo, nos anos 80. Ocupou também, cargos privados como o de diretor da Coplan, da Trol S.A., da TCL, da Caio entre outras. Ministrou palestras no Brasil,México,Colômbia,Venezuela,Equador, Paraguai, Argentina, Uruguai, Peru e Chile sobre transporte, segurança rodoviária e habitação. É autor de mais de duas centenas de artigos em jornais e revistas, publicadas até na Inglaterra e Alemanha. Em 1972, foi publicada sua primeira monografia sobre Acidentes Rodoviários; em 1975 é publicada a Normatização Brasileira de Defensa Rodoviárias. Teve também três de suas monografias publicadas em 1978: Trólebus,Tendências Modernas dos transportes Coletivos Pneumáticos e Transportes Urbanos por Trólebus; nos anos oitenta foram publicadas: Uma visão Sistêmica do Transporte Urbano, O Transporte Urbano no Brasil e A Prevenção dos Recursos Hídricos no Estado de São Paulo.

Seus livros mais recentes são:

Segurança Rodoviária, O Financiamento de Obras e de Serviços Públicos, em parceria com o Adilson Abreu Dallari; e

Desenvolvimento Sustentável na Gestão de Serviços Públicos, em parceria com o economista Márcio Henrique Bernardes Martins.

Referências

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