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Proposição da estrutura de um hub de bioenergia para a viabilização da cadeia de bioquerosene no contexto do Agropolo Campinas

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Mecânica

MARIA LETICIA NORMANHA SALLES CHRISTOVÃO

Proposição da estrutura de um hub de

bioenergia para a viabilização da cadeia de

bioquerosene no contexto do Agropolo

Campinas

CAMPINAS 2018

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MARIA LETICIA NORMANHA SALLES CHRISTOVÃO

Proposição da estrutura de um hub de

bioenergia para a viabilização da cadeia de

bioquerosene no contexto do Agropolo

Campinas

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Mestra em Planejamento de Sistemas Energéticos.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Pereira da Cunha

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA MARIA LETICIA NORMANHA SALLES CHRISTOVÃO, ORIENTADA PELO PROF. DR. MARCELO PEREIRA DA CUNHA.

CAMPINAS 2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

PLANEJAMENTO DE SISTEMAS ENERGÉTICOS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ACADEMICO

Proposição da estrutura de um hub de

bioenergia para a viabilização da cadeia de

bioquerosene no contexto do Agropolo

Campinas

Autora: Maria Leticia Normanha Salles Christovão Orientador: Prof. Dr. Marcelo Pereira da Cunha

A Banca Examinadora composta pelos membros abaixo aprovou esta Dissertação:

Prof. Dr. Marcelo Pereira da Cunha, Presidente Instituto de Economia - UNICAMP

Prof. Dr. Renato de Castro Garcia Instituto de Economia - UNICAMP

Dr. Antonio Maria Francisco Luiz José Bonomi CTBE/ CNPEM

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

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Dedicatória

Aos meus filhos, Henrique e Thomaz. Amo vocês. Sempre juntos.

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Agradecimentos

Ao meu orientador, professor Marcelo, por me mostrar com tanta clareza caminhos da pesquisa que não imaginava ser parte um dia.

À Dra. Rosana Ceron Di Giorgio, minha co-orientadora de fato, por me apresentar ao tema e compartilhar sua genialidade no campo da gestão da inovação e sua vasta experiência com tanta gentileza. Pelo brilho em seus olhos a cada passo desenvolvido. Por sua disposição a ajudar neste trabalho.

À CAPES, financiadora de minha bolsa durante o mestrado. Gostaria que mais brasileiros e brasileiras pudessem agradecer por isso.

Ao CTBE, especialmente Bonomi e Bruno, pela paciência em me explicar e disponibilidade para esclarecer dúvidas e fornecer informações fundamentais à execução desta dissertação. Ao Lucas, meu marido, por me fazer acreditar que uma vida melhor é possível.

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Resumo

Neste trabalho construiu-se uma estrutura de funcionamento para o Agropolo Campinas, acordo entre instituições firmado em 2015, com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável da região de Campinas através da bioeconomia. Em seguida, tratou-se da possível aplicação da estrutura na viabilização da cadeia produtiva de bioquerosene de aviação e os passos iniciais necessários. Para tal, foi realizada revisão bibliográfica dos principais conceitos de ecossistema de inovação, observação de exemplos de sucesso e contatos pessoais com especialistas no tema. Conclui-se que a plataforma Agropolo Campinas deve ser uma associação que atue como um berço de hubs de inovação nas áreas de interesse – Agricultura, Alimentos & Saúde e Bioenergia & Química Verde, e cada um desses hubs, por sua vez, atuar como articulador e catalisador da inteligência de inovação. Especificamente para a cadeia produtiva de bioquerosene, o hub bioenergia deve concentrar-se em buscar conexões que viabilize, por um lado, a instalação de uma planta de tecnologia HEFA, já madura, e, por outro, a pesquisa para o amadurecimento de outras rotas tecnológicas, por exemplo, a de Fischer-Tropsch.

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Abstract

In this dissertation, a structure to Agropolo Campinas was built. Agropolo Campinas is an agreement among institutions signed in 2015 that aims to promote the sustainable development for Campinas region through bioeconomy. Then, it was analyzed a possible application in order to organize the bio jet fuel chain. To accomplish the goals, a bibliographic review of main innovation ecosystem concepts was done, as benchmarking and contacts with experts. The conclusion is that Agropolo Campinas platform should be an association that acts as a cradle for innovation hubs in Agropolo’s areas: Agriculture, Food & Health and Bioenergy & Green Chemistry. Each hub should play a catalyzer of innovation intelligence. In the case of biojet fuel chain, the bioenergy hub should focus on searching connections for HEFA plant viability and for other routes, like Fischer-Tropsch maturity.

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Lista de Ilustrações

Figura 1: Despesa doméstica bruta em P&D em termos de porcentagem de PIB x

Pesquisadores por milhar de empregados, por país. ... 23

Figura 2: Análise dos pilares do ecossistema de inovação One North, em Singapura ... 34

Figura 3: Papéis de hubs de inovação... 40

Figura 4: Subdivisões da plataforma Agropolo Campinas ... 44

Figura 5: Organograma da plataforma Agropolo Campinas ... 47

Figura 6: Categorias dos membros dos hubs da plataforma Agropolo Campinas ... 51

Figura 7: A cadeia produtiva de bioquerosene para rota HEFA integrada a usina de cana-de-açúcar, caso Viracopos ... 52

Figura 10: Oscilação de Preço do Petróleo entre 1985 e 2017. ... 56

Figura 11: Quadro-resumo das ações de estabelecimento da cadeia de bioquerosene pelo hub Agropolo Campinas Bioenergia ... 69

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Lista de tabelas

Tabela 1: Despesa doméstica em porcentagem do PIB e número de pesquisadores por mil trabalhadores ... 24 Tabela 2: Investimento (CAPEX) para a construção das plantas, utilizado na construção dos cenários ... 64 Tabela 3: Preços de produtos a mercado de dez/2015, sem impostos ... 64

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Sumário

1 Introdução ... 12

2 Metodologia ... 14

3 Inovação, bioeconomia e desenvolvimento ... 17

3.1 Modelos para inspiração ... 22

4 Proposta de atuação para o Agropolo Campinas – Brasil ... 31

4.1. Os hubs de inovação ... 32

4.2. O problema da emulação de políticas ... 40

4.3 A plataforma Agropolo Campinas como berço de hubs de inovação ... 42

4.3.1 Objetivos ... 42 4.3.2 Características gerais ... 43 4.3.3 Personalidade jurídica... 43 4.3.4 Estrutura organizacional ... 44 4.3.5 Serviços oferecidos ... 47 4.3.6 Confidencialidade ... 49

4.3.7 Propriedade Intelectual (PI) ... 49

4.3.8 Financiamento ... 50

4.3.9 Membros ... 50

4.3.10 Roadmap, Monitoramento e Indicadores de desempenho ... 51

5 A cadeia de bioquerosene de aviação ... 52

5.1 Contextualização e relevância do bioquerosene no controle de emissões de gases de efeito estufa ... 52

5.1.1 Cenário para o bioquerosene no Aeroporto de Viracopos ... 56

5.2 Rotas tecnológicas para a produção do bioquerosene de aviação... 57

5.3 Avaliação de investimento e preço mínimo de venda de produto na rota tecnológica elegida ... 61

5.4 Considerações finais: os primeiros passos do hub Bioenergia – cadeia do Bioquerosene ... 67

6 Conclusão ... 70

6.1 Estudos Futuros para a Cadeia de Bioquerosene ... 71

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1 Introdução

O Agropolo Campinas iniciou em 2015, como um acordo de cooperação técnico-científica entre instituições de diferentes esferas, com objetivo de promover o desenvolvimento sustentável da região de Campinas através da bioeconomia.

Este trabalho tem como objetivo sugerir uma estrutura operacional para o Agropolo Campinas, em que atue como berço para seus hubs de áreas específicas, de maneira assertiva, cumprindo um papel de articulador e catalisador da pesquisa, desenvolvimento e inovação, de forma a estreitar o caminho entre essas ofertas e demandas e trazendo os stakeholders à discussão ativa da estratégia da instituição. Após a construção da estrutura, utilizar-se-á da instalação da cadeia de bioquerosene na região de Campinas como exemplo de proposta de aplicação da estrutura sugerida. Para tal, foram revistos trabalhos na área, instituições que atuam em temas semelhantes e realizados contatos com especialistas.

O CORSIA, “Carbon Offsetting Reduction Scheme for International Aviation”, acordo realizado entre membros do ICAO (International Civil Aviation Organization), firmou em 2010 o compromisso de melhorar em 2% a eficiência de combustível nas aeronaves, e também de zerar o crescimento de emissão de carbono, independente do crescimento do setor até 2020 (ICAO, 2018). Ainda, a autoridade de aviação da União Europeia obriga a voos que chegam ou saem do continente a adquirir os créditos de carbono referentes à compensação da viagem, encarecendo o transporte. Considerando a posição de destaque do Aeroporto de Viracopos na categoria de transporte de carga e sua crescente oferta de voos internacionais de passageiros, a escolha para a implementação do desenvolvimento da cadeia de bioquerosene em seu entorno se justifica totalmente.

Sendo um dos objetivos do Agropolo Campinas promover o desenvolvimento sustentável através da inovação em bioeconomia, o capítulo três deste trabalho, logo após introdução e metodologia (numerados como capítulos 1 e 2, respectivamente), destina-se a apresentar definições de ecossistemas de inovação e seus diferentes arranjos até chegar na definição de hub, fundamental para o trabalho: “o local em que profissionais de diferentes formações e instituições de diferentes áreas de atuação se encontram para concretizar suas ideias: uma organização intermediária híbrida, que preenche vazios institucionais de forma a promover empreendedorismo, inovação e amplas mudanças sociais” (LITTLEWOOD;

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KIYUMBU, 2017). Em seguida, são revistos exemplos de casos de sucesso de hubs de inovação – que nem sempre assim se identificam, mas se encaixam no conceito. O intuito é compreender os pontos positivos que não podem faltar na construção aqui proposta. Percebe-se, então, a necessidade de propor um arranjo para que o Agropolo Campinas trabalhe de forma assertiva, fazendo o papel de articulador e catalisador da inteligência de inovação. Propõe-se, então, que a plataforma Agropolo Campinas seja o berço de hubs de inovação.

No capítulo quatro, o conceito de hub de inovação é aprofundado. Acompanhando a metodologia utilizada por Dalberg (2017), o cenário em que se insere a plataforma Agropolo Campinas é caracterizado. Em seguida, a estrutura de operação é proposta, incluindo personalidade jurídica, serviços oferecidos, estrutura organizacional, confidencialidade, propriedade intelectual, financiamento, participação de membros e indicadores de desempenho.

Por fim, a cadeia de bioquerosene é caracterizada, para que se possa definir um plano de ação para seu estabelecimento. Dentre as diversas rotas tecnológicas possíveis, as mais viáveis atualmente são Fischer-Tropsch e HEFA, mas o “technology readiness level”, ou nível de maturidade tecnológica, da Fischer-Tropsch ainda dificulta sua operação comercial (MAHWOOD et al., 2016). Dessa forma sugere-se, nesta dissertação, que a demanda de bioquerosene de aviação, na Região de Campinas, seja promovida através de instalação de planta HEFA. Em paralelo, ICTs (Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação), pesquisadores independentes e start-ups devem seguir trabalhando na viabilização da rota Fischer-Tropsch. Para compreender em que formato a instalação da planta HEFA deve ocorrer, é feita a simulação de preço mínimo de venda do bioquerosene de aviação para três cenários de operação. O trabalho finaliza com a aplicação do método apresentado pelo World Bank (2017), preenchido com as indicações para os primeiros passos do hub Agropolo Campinas Bioenergia, com foco no desenvolvimento da cadeia produtiva do bioquerosene.

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2 Metodologia

Para propor a estrutura operacional do Agropolo Campinas para alavancar a inovação e, especificamente, a cadeia de bioquerosene de aviação na região de Campinas, foi realizada revisão bibliográfica acerca do tema de modelos promotores de inovação, tendo-se verificado que o que mais se aproxima da proposta é o de um hub. O conceito, que engloba diversos formatos de ecossistema, vem sendo recentemente mais utilizado e bastante reconhecido em órgãos de apoio ao desenvolvimento, como o Banco Mundial. Existem diversos casos de sucesso que podem ser caracterizados como hub de inovação ao redor do mundo. Optou-se por citar aqui o mais famoso de todos, o Silicon Valley, um caso de sucesso em energia - o Energy Research Park, ambos nos estados Unidos e os considerados como melhores exemplos em missão da FAPESP no acordo com o Agropolo Campinas, que teve suas informações passadas em comunicação pessoal (Di Giorgio, 2017): Food Valley e TU Delft Science Park (Holanda), Pôle IAR (França) e Wagralim (Bélgica).

A teoria da hélice tríplice de Etzkowitz & Leydesdorff (1998) afirma que pesquisa, desenvolvimento e inovação ocorrem com mais facilidade se fruto de parceria dinâmica entre governo, universidades (ICTs, no caso) e corporações. Em World Bank (2017), é ressaltado como ponto de partida para o sucesso de um hub a demanda, demonstrando a necessidade do envolvimento das corporações no projeto. A partir daí, percebeu-se que o modelo atual do Agropolo Campinas, de plataforma para cooperação científica, em que seus principais envolvidos – e tomadores de decisão – são em sua maioria ICTs, pode deixar o Agropolo Campinas em posição passiva, enquanto poderia ser um excelente facilitador da inovação. Assim, o Agropolo Campinas deve conter os três grupos da sociedade em sua constituição. Para que possa atuar de forma mais livre e de acordo com o direcionamento do grupo participante, sugeriu-se que o Agropolo Campinas se registre com personalidade jurídica própria, de uma associação de caráter privado. Em termos de organização, devido a amplitude de temas abarcados pelo Agropolo Campinas, sugeriu-se a divisão em temas agrupados e, a partir desses, a criação dos hubs para articulação do desenvolvimento de cadeias de inovação. A elaboração do rol de serviços prestados pelo Agropolo Campinas, por sua vez, teve como base os casos de sucesso estudados.

A cadeia de bioquerosene e as principais motivações para sua instalação foram pesquisadas em artigos científicos e instituições renomadas do setor. Também na literatura

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foram pesquisadas as rotas tecnológicas disponíveis à produção deste biocombustível e seus níveis de maturidade: Mahwood et al (2016) afirmam que as rotas tecnológicas que se destacam para a produção de bioquerosene de aviação são Fischer-Tropsch e HEFA, mas apenas HEFA possui maturidade para operação comercial.

A análise da viabilidade econômica da cadeia de bioquerosene foi construída em parceria com o Dr. Klein, da Divisão de Inteligência de Processos do CTBE (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol), e teve como base as mesmas premissas utilizadas em Klein et al. (2018) em que avalia diferentes rotas tecnológicas para a produção de bioquerosene. Para adequar as plantas simuladas no artigo à referente ao cenário desejado, foi utilizada a Biorrefinaria Virtual, uma “ferramenta de simulação computacional que possibilita avaliar a integração de novas tecnologias – nas fases agrícolas, industrial e de uso – à cadeia produtiva de cana-de-açúcar e outras biomassas, considerando os três eixos da sustentabilidade: econômico, ambiental e social” (CTBE, 2018), desenvolvida pelo CTBE (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol)

Para elaboração do cenário Viracopos 2030, verificou-se que no Aeroporto de Viracopos foram consumidos 292 milhões de litros de querosene de aviação no ano de 2017 (Aeroporto de Viracopos, 2018). De acordo com Moraes (2018), a expectativa de crescimento do aeroporto é de 4,5% ao ano. Aplicando esta taxa de crescimento anual ao valor de 2017, encontra-se para 2030 o valor projetado de 517 milhões de litros de consumo de querosene de aviação neste Aeroporto. Para este trabalho, calculou-se uma demanda de bioquerosene inicial equivalente a 10% da demanda total, resultando, assim, em um volume de 51,7 milhões de litros a ser produzido pela planta em questão.

De acordo com Samanez (2009), o valor presente líquido de um fluxo de caixa é a somatória de todos os eventos do fluxo de caixa ao longo do período determinado, trazidos a valor presente. A taxa interna de retorno (TIR) é aquela que resulta na anulação do valor presente líquido, ou seja, que a faz resultar em zero. Considera-se um projeto viável se esta taxa interna de retorno é maior que o custo de oportunidade do capital (SAMANEZ, 2009). Neste trabalho, procurou-se encontrar, para dada taxa de retorno, qual o preço mínimo de venda do produto – diretamente responsável pela receita, mantendo o valor presente líquido igual a zero. Foram avaliadas três alternativas de produção: (1) planta HEFA integrada a uma destilaria, para aproveitamento da energia elétrica, (2) planta HEFA “stand alone”, comprando energia elétrica e (3) planta HEFA “stand alone” comprando energia elétrica e terceirizando a produção de

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hidrogênio, para um horizonte de tempo de vinte e cinco anos, em cada um dos casos. Os valores têm com base dezembro de 2015. Foram consideradas as despesas de capital (investimento em bens de capital) e as operacionais (como aquisição de insumos e despesas com funcionários, por exemplo), com base em Klein et al (2018) e adaptadas, se caso, para o cenário construído.

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3 Inovação, bioeconomia e desenvolvimento

Estabelecer uma iniciativa de inovação em determinada região, apesar de certamente carregada de boas intenções, é desafiadora em todos os seus aspectos. Mazzucato (2017) considera que são características sistêmicas da inovação incerteza, cumulatividade e coletividade. Incerta, porque os agentes não podem calcular com antecedência as probabilidades de sucesso ou fracasso. Cumulativa, porque os agentes devem ser pacientes e agir de forma estratégica para acumular competências e capacidades, com visão de longo prazo. Coletiva, porque os agentes precisam trabalhar juntos para suportar os riscos e, ainda, dividir as recompensas (MAZZUCATO, 2017). Dado o conjunto de relações entre esses agentes, os espaços criados para que interajam ficaram conhecidos por “ecossistemas de inovação”. Ecossistemas de inovação são ambientes que propiciam a interação organizada entre pessoas e instituições, incentivando o aprendizado, a troca de experiências, otimizando instalações e criando sinergias, de forma a impulsionar a inovação. São “espaços que agregam infraestrutura e arranjos institucionais e culturais, que atraem empreendedores e recursos financeiros, constituindo-se em lugares que potencializam o desenvolvimento da sociedade do conhecimento, compreendendo, entre outros, parques científicos e tecnológicos, cidades inteligentes, distritos de inovação e polos tecnológicos” (MCTIC, 2017). A utilização da palavra “ecossistema” permite que o raciocínio seja estendido à sua evolução, tal como na biologia. Para Luo (2017), a aptidão de evoluir (“evolvability”) de um ecossistema de inovação está relacionada à sua habilidade de gerar variações criadoras de valor na configuração tecnológica dos produtos deste ecossistema. Mesmo com diversas configurações possíveis, a evolução do ecossistema deve estar entre as preocupações dos tomadores de decisão e seu arranjo inicial é chave para o resultado.

Assim, como mencionado, ecossistemas, ou ambientes de criação de sinergias em inovação, podem ser construídos em diversos formatos, tais como: arranjos produtivos locais (APL) ou clusters, polos de competitividade, plataformas de relacionamento e hubs. De acordo com o MDIC – Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (2018), que traz a definição do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Arranjos Produtivos Locais (APLs), ou clusters, “são aglomerações de empresas, localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação a aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como: governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa” (MDIC, 2018). “Polos de competitividade” é uma expressão bastante utilizada para aglomerados que “são instalados em

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certas zonas delimitadas geograficamente, que têm uma especialização de produção significativa e que já comportam uma combinação de empresas, centros de formação profissional, instituições de ensino superior e de pesquisa envolvidas em parcerias para realização de projetos de inovação conjuntos, que possuam, simultaneamente, uma visibilidade internacional” (GUIMARÃES & PECQUEUR, 2015). Entretanto, na Europa, é usual a designação de polo de competitividade a plataformas de relacionamento (Di Giorgio, 2017). As plataformas de inovação, por sua vez, “reúnem infraestrutura e equipamentos compartilhados destinados à pesquisa, desenvolvimento e inovação designados a fornecer serviços ou recursos (aluguel de equipamentos, entre outros.). Estas plataformas estão abertas aos agentes dos polos e, em particular, às pequenas e médias empresas. Permitem que a comunidade de usuários execute trabalhos colaborativos de pesquisa e desenvolvimento, testes e produção de lotes-teste” (GUIMARÃES & PECQUEUR, 2015).

Menos difundido no Brasil, por outro lado, o conceito de hubs de inovação engloba locais de trabalho que promovem o fluxo de conhecimento entre indústria, governo e academia. Um local em que tomadores de decisão podem encontrar cientistas e empreendedores, bem como discutir a complexidade dos desafios de seus negócios. Um local em que boas soluções são apresentadas a fortes desafios. Hubs são verdadeiros portais para atividades de P&D1, empresas e prestadores de serviços, atraindo parceiros e auxiliando em sua evolução para um centro global. Toivonen & Frederici (2015) descrevem a dificuldade de definir objetivamente um hub, mas relatam que, de acordo com suas pesquisas, foi possível encontrar quatro itens em comum entre os observados: Hubs (1) constroem comunidades colaborativas ao redor de indivíduos empreendedores, (2) atraem diversos membros com conhecimentos heterogêneos, (3) facilitam a criatividade e a colaboração em espaços físicos e digitais e (4) concentram cultura empreendedora global. Com diferentes origens, públicas, privadas ou mistas, e diferentes modelos de negócios, hubs são identificados como espaços de troca de conhecimento e construção de comunidades. O local em que profissionais de formações distintas e instituições de diferentes origens se encontram para concretizar suas ideias: uma organização intermediária híbrida, que preenche vazios institucionais de forma a promover empreendedorismo, inovação e amplas mudanças sociais (LITTLEWOOD; KIYUMBU, 2017). Nesse contexto, pode-se compreender o hub como o ponto de encontro dos players relevantes que incentiva a sinergia entre eles.

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Dentre todos os esforços em direção ao desenvolvimento ao redor do mundo, o estabelecimento de hubs de tecnologia tem apresentado resultados de destaque. De acordo com o Banco Mundial, os exemplos encontrados na África demonstram não somente o efeito “bola de neve” positivo desse tipo de iniciativa, mas também a importância do envolvimento de governo, iniciativa privada e academia, juntos, para seu sucesso. Embora possa apresentar diversas conformações, desde parques científicos até hubs virtuais (WORLD BANK, 2018), o

hub é marcado pelo papel de catalisador do ecossistema de inovação, estreitando as distâncias

entre oferta e demanda e empreendendo esforços para o desenvolvimento regional através de pesquisa e empreendedorismo.

Araújo (2012), ao descrever a experiência brasileira na atuação do poder local, lembra que as cidades latino-americanas passaram a trazer à tona a promoção do desenvolvimento muito depois das europeias, asiáticas e norte-americanas. No entanto, políticas locais têm mostrado “potencial de intervenção não só na dimensão social, mas também na ambiental e econômica”. Um hub de inovação pode desenvolver a região incentivando o empreendedorismo através da identificação de oportunidades para start-ups, gerando empregos, aumentando a receita de empresas locais e, por consequência, a arrecadação de impostos para o município. Pode, também, ir mais além. A cultura de um hub de inovação pode se ampliar para a cidade, contaminando, positivamente, a gestão da região em si. Na cidade de Seul, Coréia do Sul, trabalham-se políticas públicas no formato de compartilhamento. Se existe demanda por uma linha noturna de ônibus, por exemplo, pode-se enviar um tweet (mensagem através do aplicativo Twitter) para o prefeito, que será recebida e avaliada por sua equipe. A viabilização das demandas é feita em formato de hub, ou seja, o problema é compartilhado com o público e há incentivos para que alguém desenvolva a solução e implemente. Há suporte de investidores e governo em todas as etapas, zelando pelo amadurecimento das pequenas empresas (LEE, 2017).

Não basta, entretanto, considerar aspectos de desenvolvimento em geral, somente. Ao cogitar a possibilidade de certa ação dessa ordem em dada região, a sustentabilidade já não pode mais ser deixada de lado. O conceito de desenvolvimento sustentável que ganhou espaço foi o de Brundtland (1987), citado em Alier & Jusmet (2001): “satisfazer as necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”. Os autores seguem a discussão de forma mais aprofundada, ponderando de que forma isso seria possível: “somente uma economia humana baseada unicamente em

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fontes energéticas renováveis e em ciclos fechados de matéria pode potencialmente ser sustentável de maneira indefinida”. Se não é factível, na prática, o alcance dessas condições, que se busque a maior aproximação possível. Apresenta-se, aqui, parte da missão do Agropolo Campinas: promover o desenvolvimento sustentável da região de Campinas (AGROPOLO, 2017). Os temas tratados em seu âmbito devem não somente desenvolver a região, no sentido de melhora de seus indicadores socioeconômicos, como fazê-lo de forma sustentável, tanto na escolha dos temas, quanto na busca dos resultados. Objetivamente, os indicadores elegidos para representar o desenvolvimento sustentável nas ações do Agropolo Campinas são: número e qualidade de empregos formais, criação de novos produtos de valor agregado e redução de emissão de gases de efeito estufa (CARBONELL et al, 2017).

A bioeconomia, por sua vez, está perfeitamente alinhada à ambição de um desenvolvimento sustentável. OCDE (2009) entende que a adoção e crescimento da bioeconomia está ligada a três principais elementos: o uso de conhecimento avançado sobre genes e processos celulares complexos para o desenvolvimento de novos processos e produtos, o uso de biomassa renovável e bioprocesso eficiente que suporte uma produção sustentável e a integração do conhecimento em biotecnologia e suas aplicações pelos diferentes setores. Os setores potenciais para a adoção da bioeconomia são agricultura, saúde e indústria. Na indústria, são destacadas as aplicações em química, plásticos, enzimas, biossensores e a produção de biocombustíveis (OECD, 2009). O Agropolo Campinas tem como visão dobrar a proporção da utilização da bioeconomia em relação à fóssil, entre o presente e 2050, chegando a alcançar a relação de 40% entre bioeconomia e economia fóssil (CARBONELL et al., 2017).

A Região Administrativa de Campinas é composta por mais de 90 municípios. Somente a Região Metropolitana de Campinas (RMC) já abarca as cidades de Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d'Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo, totalizando 20 municípios (EMPLASA – Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano, 2018). Além da Unicamp, diversas ICTs estão instaladas na região. A vocação de pesquisa e desenvolvimento da região teve início ainda no período imperial brasileiro, na área agrícola, com a criação do Instituto Agronômico de Campinas, o IAC. Mais tarde, surgiram o Instituto de Zootecnia (IZ), o Instituto

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Biológico (o Centro Experimental do IB localiza-se na região), o Instituto Tecnológico de Alimentos (ITAL), o Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), a Sociedade Brasileira para Promoção de Exportação de Software (Softex), o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) e o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), esses três últimos administrados pelo Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Encontram-se na região, ainda, 43 unidades de pesquisa ou serviços da Embrapa, além de muitas universidades públicas (USP, UNESP) e privadas (PUC-Campinas, Unimep, Universidade São Francisco, Uniraras, Unipinhal, São Leopoldo Mandic, entre outras) (FELICIELLO & AMARAL, 2010).

No caso da Prefeitura Municipal de Campinas, os princípios norteadores de seu planejamento estratégico são: direito à cidade (no qual todos os cidadãos possam desfrutar de oportunidades e vantagens, econômicas, ambientais ou sociais, e que sejam parte da gestão urbana), função social da cidade (qualidade de vida e bem-estar da população), função social da propriedade (redução de terra urbana ociosa e distribuição do uso do território), desenvolvimento sustentável, acessibilidade (aos espaços, por parte dos cidadãos), articulação do desenvolvimento regional (compartilhamento de responsabilidades e ações entre os municípios da Região Metropolitana de Campinas) e gestão democrática (participativa e transparente) (PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS, 2018). Nota-se, portanto, que o objetivo do Agropolo Campinas está totalmente alinhado aos da região, de forma a merecer o envolvimento da Prefeitura, que é signatária do acordo inicial.

Ao considerar o tema “pesquisa, desenvolvimento e inovação”, Feliciello & Amaral (2010) revelam, no entanto, em trabalho realizado pela INOVAUnicamp, que a maioria dos grupos de pesquisa sugere melhorias em três áreas, principalmente: acesso dos pesquisadores a recursos financeiros, aproximação da universidade à sociedade e arranjos cooperativos entre instituições da região. Na síntese das recomendações, referem que

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“Um projeto de C,T&I2, para os próximos dez a vinte anos na RAC3, deve contemplar duas frentes. A primeira, voltada à especialização e ao avanço em trajetórias importantes na atualidade, nas quais há capacidade de inovação nas empresas e capacidade de pesquisa nas universidades e institutos de pesquisa. Uma segunda frente estaria voltada a novas trajetórias tecnológicas, buscando atrair investimentos de risco e incubando negócios próximos a grupos de pesquisa de excelência em um conjunto de temas emergentes que fazem sentido para a região.” (FELICIELLO & AMARAL, 2010)

Complementam, então, que seis temas mostraram ser parte da vocação da cidade, a partir de instituições já instaladas. Dentre eles, estão “Agrotecnologias” e “Eco-inovações”, em que se inserem os tópicos de energias renováveis, matérias-primas renováveis (substituição de petroquímicos) e aproveitamento econômico da biodiversidade (FELICIELLO & AMARAL, 2010). Dessas informações, é possível concluir que há vocação na região para P&D em biocombustíveis e, ainda, que o tema está alinhado com o governo local. É lacuna, entretanto, o entrelace das instituições, a chegada da demanda às ICTs e o direcionamento do desenvolvimento, através de política pública, de forma a traduzir o alto potencial de pesquisa para o desenvolvimento regional. Para compreender que formato deverá ter a instituição que se propõe a preencher esta lacuna (o Agropolo Campinas), foi observado como o tema é tratado em outras localidades.

3.1 Modelos para inspiração

Ao avaliar a pesquisa ao redor do mundo, é possível notar que dois países se destacam em porcentagem do Produto Interno Bruto direcionado para pesquisa e em número de pesquisadores por milhar de trabalhadores: Israel e Coréia. De acordo com OECD (2018), em Israel, a despesa bruta em P&D alcança 4,3% do PIB do país, com 17,4 pesquisadores por mil trabalhadores. Na Coréia, a despesa com P&D alcança 4,2% do PIB e são 13,7 pesquisadores por mil trabalhadores. Dentre os últimos do ranking, está o Brasil, com 1,2% de seu PIB em despesas com P&D. Outros países, como Espanha e Eslováquia, estão no mesmo patamar de porcentagem. Chama a atenção, no entanto, que o número de pesquisadores por mil trabalhadores está muito abaixo inclusive de países com patamares de despesa (% PIB) bem

2 Ciência, Tecnologia e Inovação 3 Região Administrativa de Campinas

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menores que o Brasil: é apenas 1,5 pesquisador por mil trabalhadores, valor inferior ao 1,6 da África do Sul. A Figura 1 representa a distribuição dos países conforme sua despesa com pesquisa e seu número de pesquisadores por mil empregados. No círculo marcado em verde, pode-se notar a posição do Brasil que, para um mesmo nível de despesa relativa em pesquisa, possui menos pesquisadores por mil empregados, conforme apresentado no ranking da Tabela 1.

FIGURA 1: DESPESA DOMÉSTICA BRUTA EM P&D EM TERMOS DE PORCENTAGEM DE PIB X PESQUISADORES POR MILHAR DE EMPREGADOS, POR PAÍS.

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TABELA 1: DESPESA DOMÉSTICA EM PORCENTAGEM DO PIB E NÚMERO DE PESQUISADORES POR MIL TRABALHADORES

Fonte: Elaboração da autora a partir de dados de OECD (2018).

O estabelecimento de uma plataforma, berço de hubs de inovação, como o Agropolo Campinas, pode colaborar para colocar o país em melhor posição em relação à pesquisa. É interessante, portanto, aprender com iniciativas de sucesso desenvolvidas em outros países. De acordo com a UNESCO (2017), atualmente existem mais de 400 parques científicos no mundo, e os números crescem a cada ano. O pioneiro deste conceito foi o Silicon Valley, que iniciou suas atividades na década de 1950, nos Estados Unidos. Em seguida, Sophia Antipolis surgiu na França em meados dos anos 1960 e Tsukuba Science City, no Japão, no início dos anos 1970. Inspirados pelo sucesso do Silicon Valley, outras iniciativas com o objetivo de aproximar

stakeholders de uma mesma cadeia, de forma a incentivar conexões de valor, foram

desenvolvidas em diversos formatos. Com diferentes histórias, são exemplos de hubs a serem observados. Sigla País Despesa doméstica bruta em P&D em porcentagem de PIB Pesquisadores por milhares de trabalhadores ISR Israel 4,3 17,4 KOR Coréia 4,2 13,7 CHE Suíça 3,4 8,8 JPN Japão 3,3 10,0 SWE Suécia 3,3 13,6 AUT Áustria 3,1 9,9 DNK Dinamarca 3,0 15,0 DEU Alemanha 2,9 9,0 FIN Finlândia 2,9 15,0 USA EUA 2,8 9,1 BEL Bélgica 2,5 12,0 FRA França 2,2 9,8 SVN Eslvênia 2,2 8,4 ISL Islândia 2,2 10,6 AUS Austrália 2,1 9,0 CHN China 2,1 2,1 NLD Holanda 2,0 8,8

EU28 União Européia (28) 2,0 8,0 CZE República Tcheca 1,9 7,4

NOR Noruega 1,9 11,1 CAN Canadá 1,7 8,8 GBR Reino Unido 1,7 9,2 IRL Irlanda 1,5 10,8 EST Estônia 1,5 6,7 HUN Hungria 1,4 5,9 ITA Itália 1,3 4,9 LUX Luxemburgo 1,3 7,1 NZL Nova Zelândia 1,3 7,9 PRT Portugal 1,3 8,6 ESP Espanha 1,2 6,6 SVK Eslováquia 1,2 6,4 BRA Brasil 1,2 1,5 RUS Rússia 1,1 6,2 POL Polônia 1,0 5,2 GRC Grécia 1,0 8,7 TUR Turquia 0,9 3,6

ZAF África do Sul 0,7 1,6

IND Índia 0,6 0,6

LVA Latvia 0,6 4,1

MEX México 0,5 0,8

CHL Chile 0,4 1,0

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O Silicon Valley é a maior referência em termos de sinergia em inovação. Apesar de seu estrondoso sucesso, sua formação atual não foi exatamente planejada. Os investimentos em tecnologia da Stanford University datam do início do século XX. Pouco depois, alunos formados na mesma universidade optaram por criar suas empresas e estabelecê-las em seu entorno, como a HP e a Varian Associates, por exemplo. Em seguida, no pós- segunda guerra, devido à permanência de militares em suas bases naquela região, o número de estudantes que demandavam a universidade aumentou consideravelmente e, portanto, a pressão sobre o orçamento da instituição. Na tentativa de alavancar fundos, foi criado o Stanford Industrial Park, que recebeu diversas empresas de tecnologia desde então. Nos anos 1950, William Shockley (inventor do transistor) mudou-se para lá; seus engenheiros acabaram criando a Fairchild Semiconductor, assim como a Intel, anos depois. Desde então, o número de empresas instaladas na região, ligadas à tecnologia e afins, aumentou vertiginosamente. Em 2016, o estado da Califórnia teve cerca de US$ 94 bilhões em venture capital, alavancados pela dinâmica do Silicon Valley (MESSINA & BAER, 2016).

Outro exemplo interessante e mais recente de parque científico diz respeito à expansão da Universidade de Houston (UH), há uma década, que foi a maior até então. A Universidade adquiriu o vizinho “Schlumberger headquarters”, uma área de aproximadamente 300 mil metros quadrados (30 hectares) com 15 prédios, mais 70 mil metros quadrados (7 hectares) de terra desocupada. A ação era parte do objetivo de tornar-se a melhor universidade do mundo em energia e um instituto de pesquisa de primeira linha, nacionalmente competitivo. Decidiu-se, então, que a área abrigaria o Energy Research Park. Centros e institutos de pesquisa da universidade com afinidade ao tema foram realocados para dentro do parque, trazendo outras instalações e formando um hub de inovação, que deu origem a inúmeras parcerias e inovações (The University of Houston, 2009). De acordo com os números publicados pela Universidade (University of Houston, 2017), em 2013, a UH acumulou US$16,6 milhões em royalties, graças à iniciativa.

Como parte da investigação no projeto FAPESP 2016/50198, denominado Projeto PPPBio FAPESP (Políticas Públicas para o Desenvolvimento da Bioeconomia), pesquisadores foram enviados em missões de benchmarking a países da Europa, com objetivo de capturar as melhores ideias. O projeto buscou identificar áreas estratégicas de pesquisa, visando a criação

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de um ecossistema bioeconômico de classe mundial, no âmbito do Agropolo Campinas - Campinas. Em contato pessoal em outubro de 2017, a dra. Rosana Di Giorgio, uma das pesquisadoras participantes das missões, compartilhou suas observações, também aqui descritas, como modelos de inspiração. As experiências de Yes!Delft, Food Valley, Pôle IAR e Wagralim pareceram ser as de maior contribuição como inspiração para o Agropolo Campinas. É interessante ressaltar que, durante as visitas, as instituições não se apresentaram como hubs, apesar de encaixarem-se no conceito.

Um dos grandes desafios atuais da Academia no Brasil é compreender as demandas da indústria para que o produto da pesquisa lhe seja interessante e, portanto, tenha mercado. A “Yes!Delft” é uma incubadora que possui vários quotistas, dentre eles a Prefeitura e a Delft University of Technology (TU Delft). A incubadora oferece às spin-offs e start-ups programas de apoio financeiro, gerenciamento de projetos e propriedade intelectual, auxilia na busca de investimentos e networking. Ao participar do programa oferecido, a start-up se compromete a partilhar benefícios com a incubadora. A Yes!Delft é aberta à participação do público, ou seja, podem participar empresas não originadas a partir de tecnologias da TU Delft. Professores da universidade, entretanto, não podem participar destas empresas por questões de conflito de interesse. Há, de fato, um ecossistema de inovação criado em Delft, sem fronteiras, o TU Delft Science Park. A Universidade tem grande proximidade com a indústria. Estão presentes, além da Yes! Delft, TNO (centro de pesquisa), Be-Basic, DSM e Applikon (biotecnologia). Ainda, não distante estão a Universidade de Wageningen, o Food Valley, a Rotterdam Maasvlakte (área portuária e industrial) e a Universidade de Leiden, resultando em uma região extremamente rica em atividades de biotecnologia. Durante a visita, uma mensagem interessante foi dada pelos palestrantes: ecossistemas não progridem na velocidade desejada, é preciso paciência e persistência.

Em Wageningen, Holanda, o grupo de pesquisadores em missão encontrou uma boa inspiração para o Agropolo Campinas: o Food Valley. Especializado em saúde, nutrição e alimentos funcionais, o Food Valley deu início a suas atividades em 2004 e denomina-se como

hub do conhecimento em agrifood. Atualmente, oferece os serviços de inteligência de inovação,

desenvolvimento de cluster, além de sua atuação em eventos e treinamentos e no World Food

Innovation, um portal que mostra as inovações mais recentes em alimentos na Holanda. O Food

Valley reúne 8000 cientistas, 70 science companies, 20 institutos de pesquisa, 145 empresas-membro, incluindo membros de fora da Holanda. Sabendo que a inovação não vem por si só, o

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Food Valley atua facilitando o encontro de interesses e interessados em uma organização privada sem fins lucrativos. Não detém, no entanto, qualquer patente ou participação em

start-ups: apenas facilita o relacionamento entre seus membros, revelando que cooperação é a chave

da inovação. De acordo com o aprendizado no Food Valley, as empresas estão buscando tecnologias mais maduras, como as disponibilizadas pelas start-ups, ao invés de investirem em P&D dentro da própria estrutura. Isto já está acontecendo no Brasil. Conforme descrito em Hoesel (2016), “o objetivo de um cluster de inovação é, de fato, estabelecer uma colaboração entre organizações que compartilham uma localização geográfica”. O autor, que lidera o Food Valley desde 2004, enfatiza que o sucesso deste tipo de projeto é a diversidade entre os players. As “três pás” da “hélice tríplice” – empresas, universidade e governo – devem estar presentes, de forma a “mapear oportunidades e ameaças sobre desenvolver, testar e implementar soluções juntos, dentro do cluster”. Uma rede que contemple esses agentes – universidades, pequenas e médias empresas e departamento de P&D de multinacionais – assegura que ideias e conhecimentos terão aplicação imediata (HOESEL, 2016).

Na França, a visita de destaque foi ao Pôle IAR, que se denomina um polo de competitividade em bioeconomia e possui unidades em vários locais neste país, bem como em outros países, incluindo o Brasil. Seu objetivo é usar a biomassa em todas as aplicações possíveis, de forma sustentável. A unidade visitada, financiada com apoio do governo francês, funciona com um grupo de vinte pessoas, que trabalham com network, interligando pequenas e médias empresas, start-ups, universidades e laboratórios de pesquisa. Dão suporte à inovação, facilitando a colaboração entre parceiros e acelerando a industrialização de uma nova ideia. Entendem que é necessário investir em plantas-piloto para demonstrar a viabilidade de novas tecnologias, antes de se ter as plantas industriais, uma vez que estas últimas requerem altos custos de capital. Trabalham divididos em working groups: biocombustíveis, bioquímica, biomateriais e bioingredientes. Como sua função é conectar pessoas e instituições, os agentes são entrevistados para que se conheça sua demanda: detectam as necessidades, prospectam soluções e promovem o contato entre as partes. Segue-se, então, a negociação entre as partes, sem envolvimento do IAR. É parte do rol de serviços oferecidos, ainda, a preparação de projetos para submissão a agências de fomento governamentais. Além da preparação em si, proporcionam um selo de qualidade no projeto exigido pelo governo francês. Em termos de estrutura, operam hoje com membros que cobrem toda a cadeia de valor de cada tema trabalhado – tópico enfatizado como “segredo do sucesso” durante a apresentação. Apesar do apoio governamental, cerca de metade de sua receita vem dos valores de associações pagos

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pelos membros. A instituição não possui qualquer isenção tributária. Em números, são mais de 350 membros, sendo que 50% deles são pequenas e médias empresas, e mais de duzentos projetos de pesquisa e inovação. Em doze anos, foram no total mais de 1,5 bilhão de euros investidos em projetos colaborativos.

Wagralim também se denomina um polo de competitividade – caracterizado como

cluster de agroindústria – localizado na Bélgica e visitado pela missão da FAPESP. Trabalham

em três áreas temáticas principais: nutrição, eficiência (tecnologia, preservação e gerenciamento industrial) e indústrias sustentáveis (valorização e sistemas de produção). Possuem um amplo ecossistema, como grandes empresas (incluindo internacionais e multinacionais), universidades, institutos de pesquisa e start-ups. Oferecem aos membros os serviços de tendências de mercado e inovações, troca de experiências e informações, contato com especialistas, projetos colaborativos e internacionalização - para Ásia, América do Norte ou Europa. Muita energia é investida em colocar as empresas juntas e selecionar bem os tópicos que serão discutidos. Em sua estrutura, possui uma equipe de doze pessoas e 160 membros. Criaram uma plataforma denominada Keyfood para tratar soluções rápidas e prestações de serviços (KEYFOOD, 2018). Subcontratam as universidades para a realização dos trabalhos, mas estas universidades não participam dos contratos firmados entre a Keyfood e a empresa parceira. As empresas trazem o problema, eles acham a solução, fazem o contrato, desenham o projeto e elaboram relatórios finais para assegurar a qualidade destes. De acordo com o que foi apresentado, a equipe de Wagralim afirma que as universidades possuem infraestrutura ociosa e, por isso, a plataforma é útil para todos.

Em resumo, de acordo com Di Giorgio (2017), os principais pontos de aprendizado, fruto das missões da FAPESP, foram:

 Intensa relação empresa – instituição de pesquisa: todas as universidades e institutos de pesquisa visitados tinham forte relação com a indústria;

 Ambiente político favorável (ponto destacado como fundamental) e forte investimento do governo: incubadoras pertencentes a prefeituras e governo federal, start-ups com financiamento público de até cinco anos, escritórios de transferência de tecnologia, iniciativas de fomento à inovação, tais como polos e hubs, com forte apoio financeiro do governo em suas diferentes instâncias (federal, estadual e municipal);

 Políticas econômicas claras. Em países como a Holanda, por exemplo, as políticas giram em torno de áreas que permitem a obtenção de soluções de alto valor agregado. Para exemplificar,

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a Holanda é a segunda maior exportadora de alimentos do mundo, entretanto, possui território pequeno e a agricultura não está entre os setores-chave priorizados pela sua política de governo – mas sim a cadeia de valor gerada. Toda a inovação decorre de desdobramentos destas políticas;

 Participação ativa de instituições governamentais nas iniciativas de inovação, através da atuação como membros dos conselhos de incubadoras e hubs. O interesse do governo no sucesso destas iniciativas é bastante claro e o acompanhamento por parte deste é sistemático, com o estabelecimento de metas e o descredenciamento e perda de financiamentos governamentais em casos de seu não-cumprimento. Foi constatada, assim, que a participação pública em empreendimentos de apoio à inovação é definitivamente importante. Normalmente, participam dos conselhos membros as três esferas: governo, ICTs e empresas;

 Problemas similares aos do Brasil foram identificados: o governo assume boa parte dos riscos. Investidores privados, como empresas de venture capital, não financiam empreendimentos na fase de semente, devido ao alto risco inerente a essa etapa. Resta ao governo esta iniciativa ou as chances de se atingir a inovação tornam-se mínimas.

 Clusters de competitividade surgem de uma iniciativa conjunta entre governo e indústrias para promover o crescimento econômico. Uma vez tomada a decisão de criação do cluster, o governo busca um conjunto inicial de empresas para iniciar o empreendimento;

 Clusters devem conter a cadeia produtiva inteira. Dentre os participantes deve haver algum que disponha de planta-piloto para o segmento da indústria em questão, ou disposição para construí-la, dada a intensidade em capital deste tipo de empreendimento e sua necessidade imperativa, característica dos negócios em evolução, que exigem a demonstração de sua viabilidade. Plataformas virtuais de avaliação integrada são extremamente bem-vindas para este tipo de avaliação, uma vez que questões econômicas, sociais e ambientais devem ser consideradas.

 A fim de potencializar a inovação nos clusters e polos de competitividade, são criadas unidades de negócios especializadas e focadas em relacionamentos, tais como aquelas tratadas por “hubs” neste documento. Food Valley, IAR e Wagralim são exemplos.

 Há alta pró-atividade por parte destes hubs nos contatos com as pequenas e médias empresas, a fim de levantar suas demandas e disseminá-las pelas ICTs;

 A forma jurídica mais comum nos hubs visitados é a privada sem fins lucrativos e, normalmente, o financiamento é misto: empresas e governo.

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 Os hubs visitados só intermediam as relações, que são negociadas e firmadas pelas partes envolvidas, com suas próprias exigências e restrições. Outras unidades de negócios atuam de forma diferente, como por exemplo a SAT, na França. Esta instituição se comporta como um TTO (Technology Transfer Office) regional e é integralmente financiada pelo governo. No caso da SAT, as universidades assinam acordo dando exclusividade para a SAT negociar suas tecnologias (Di Giorgio, 2017).

 Os hubs de inovação têm a credibilidade do governo, uma vez que este participa da sua gestão, e dão um “selo de qualidade” aos projetos que intermediam, os quais competirão por financiamentos governamentais. Sem este “selo”, as propostas de projeto não são nem mesmo consideradas para análise pelos órgãos governamentais.

 Os clusters, polos e hubs são market driven, ou seja, direcionam seus esforços para as demandas de mercado;

 Os hubs normalmente possuem membros que contribuem para o seu financiamento, inclusive de outros países, o que é coerente na realidade europeia devido à proximidade geográfica;  O modelo financeiro mais comum de um hub é aquele em que os membros pagam anuidade,

que dá direito a um certo pacote de serviços. Para outros serviços específicos, sob demanda, é cobrado um valor à parte. Ressalta-se que o governo, frequentemente, apresentou papel fundamental no financiamento das instituições visitadas;

 Constatou-se, através de reunião na Embaixada do Brasil na Holanda, que é possível aprimorar as colaborações internacionais com o Brasil em P&D, através do estreitamento de relações com a Embaixada e o Itamaraty.

Para a efetiva operacionalização do Agropolo Campinas, portanto, é necessário que saia do patamar de um acordo de cooperação científica e estabeleça um plano de operação. Este trabalho sugere que a plataforma Agropolo Campinas se estabeleça como um berço de hubs de inovação, no formato de um articulador que realize a inteligência de inovação, promovendo um encontro entre demanda e oferta. Para tal, conforme será explicado no capítulo seguinte, deve-se, em primeiro lugar, adicionar ao grupo um componente que ainda falta para cumprir a hélice tríplice: as corporações. O próximo capítulo sugere de que forma a plataforma Agropolo Campinas pode ser viabilizada e como deve atuar para cumprir sua missão.

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4 Proposta de atuação para o Agropolo Campinas – Brasil

O Agropolo Campinas foi criado em 2015 como um acordo de cooperação técnico-científica, entre ICTs (UNICAMP e ICTs do governo do estado de São Paulo), Prefeitura Municipal de Campinas, TechnoPark e Agropolis International. Atualmente, o Agropolo Campinas define-se como uma “plataforma interinstitucional, fundamentada no conceito de inovação colaborativa4, que tem como objetivo desenvolver projetos de cooperação técnica nas áreas de agricultura, alimentação, biodiversidade, bioenergia, química verde e desenvolvimento sustentável” (AGROPOLO CAMPINAS-BRASIL, 2018). Desde então, outros integrantes passaram a participar de suas atividades, como o CTBE (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol). Os vetores promotores deste desenvolvimento residem na geração de empregos formais, inovação em produtos de alto valor agregado e redução de emissões de gases de efeito estufa. Para alcançar seus objetivos, o Agropolo Campinas definiu sua estratégia em torno de: “ i. Catalisar as parcerias em pesquisa e desenvolvimento tecnológico entre a academia e o setor privado, criando assim um ambiente favorável à inovação; ii. Criar parcerias que propiciem ampliar e criar novas fontes de financiamento para o desenvolvimento e inovação tecnológica em bioeconomia; iii. Formar grupos associados de pesquisa, estimulando as parcerias, as joint ventures e os investimentos em bioeconomia; iv. Atrair novos investimentos e acessar novos mercados para as empresas instaladas da Região de Campinas; v. Criar um ecossistema inovativo de classe mundial de modo a maximizar os nascimentos e as instalações de empresas startups e spin-offs em Campinas; vi. Projetar internacionalmente o Agropolo Campinas-Brasil como plataforma de inovação e negócios entre a região de Campinas e o Mundo”. (CARBONELL et al. 2017).

No período de 2016-2018 foi concedido auxílio pela FAPESP ao projeto “Agropolo Campinas – Brasil: roadmap para identificação de áreas estratégicas de pesquisa visando a criação de um ecossistema econômico de classe mundial”, com o objetivo de caracterizar da melhor maneira cada área, identificar possibilidades de cooperação (FAPESP, 2018) e, dessa forma, construir um plano estratégico para concretizar a transição entre a situação da economia atual, de base fóssil, e o objetivo, com base em recursos biológicos. Ao longo do projeto, foram

4 Em Chesbrough (2003), a inovação colaborativa é definida como a situação em que as ideias internas ou

externas à empresa, assim como o caminho ao mercado (de dentro para fora ou de fora para dentro), tem a mesma importância.

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realizados workshops nos diferentes temas pertinentes: bioeconomia, resíduos urbanos e agrícolas, combustíveis avançados para aviação e transporte de carga, alimentos, biomassa para produtos químicos, tecnologia para agricultura de precisão, óleos essenciais e plantas aromáticas e medicinais, novas embalagens para alimentos e bebidas, pecuária de baixo carbono, enzimas e química verde. Ainda estão para acontecer os workshops em “Uso sustentável da água”, “Indústria da nova bioeconomia” e “Tecnologia de bebidas e alimentos” (AGROPOLO CAMPINAS-BRASIL, 2018). Apesar de haver importante participação de empresas nos workshops, o envolvimento em parcerias concretas precisa ser potencializado para garantir a perpetuação do projeto.

Para operacionalizar seu objetivo, a plataforma Agropolo Campinas deve atuar como um berço para hubs do ecossistema de inovação já existente em sua região de trabalho, que deseja consolidar como polo agro-tecnológico. Assim, a plataforma deve tratar de atuar como articulador entre oferta e demanda de pesquisa e novos produtos, de forma proativa na prospecção de oportunidades. Além disso, o setor privado deve ser envolvido de forma a desenvolver sentimento de ownership pelo projeto, ou seja, sentir-se dono e parte de sua gestão. Neste capítulo será desenvolvida e justificada a estrutura proposta para a plataforma de relacionamento, separada em diferentes hubs, por área de atuação, que, eventualmente, estarão sobrepostos, conforme a cadeia que se pretender desenvolver.

4.1. Os hubs de inovação

A inovação acontece mais frequentemente como resultado da interação entre múltiplos elementos, e não do esforço isolado de um indivíduo (CONTRERAS, PINEDA & EGADE, 2013). Hubs de tecnologia conectam stakeholders, alavancam recursos e preenchem as lacunas existentes em ecossistemas de inovação (ELIASZ; FRIEDERICI, 2014). Com essa ideia de conexão e articulação deve se estabelecer o Agropolo Campinas. Para operacionalizar este formato, alguns elementos carecem de atenção. São identificados por World Bank (2017) como fatores de sucesso, entre hubs ao redor do mundo, quatro principais pontos. O primeiro e mais determinante fator é também seu ponto de partida: a demanda. Apesar de ser inerente à inovação a característica de ir além, o processo deve iniciar com a detecção de quais perguntas precisam ser respondidas. Ressalta-se aqui, então, o envolvimento das corporações no estabelecimento

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do hub como peça-chave, passando a ser de suma importância compreender sua necessidade. Em seguida, deve-se considerar que a tecnologia é importante tanto ao input quanto ao output, mas não é o único insumo necessário. Em terceiro lugar, hubs podem atender a objetivos tanto de curto quanto de médio prazos e ainda servir como uma boa ponte de conexão entre eles, cobrindo possíveis lacunas para sua interligação. Por último, mas não menos importante, considerar que um bom ecossistema de inovação é aquele que gera valor para os setores público, privado e também social. Para tal, é fundamental que todos esses setores participem e estejam engajados, a fim de que se compreenda o que é valor para cada um deles. Ainda de acordo com World Bank (2017), as principais lições aprendidas para o desenvolvimento de hubs de inovação na Nigéria, com base em boas experiências ao redor do mundo, foram: (a) determinar claramente os objetivos do hub; (b) encontrar parceiros para a construção do ecossistema; (c) desenhar o hub de maneira a incentivar proximidade e interação humanas; (d) almejar a sustentabilidade do negócio desde o início, considerando múltiplos modelos comerciais; (e) desenvolver um hub de inovação considerando que eles não são a cura para todos os males do mundo; (f) usar todas as políticas possíveis para alavancar a criação de um ambiente favorável à inovação

Dalberg (2017) caracteriza inovação como um catalisador na direção de economias resilientes, sustentáveis e em crescimento, e fator gerador de crescimento de emprego e renda. Neste caminho, ainda é possível atacar problemas dos mais desafiadores para o mundo, como aumentar o acesso a alimento e energia, melhorar educação, solucionar desafios ambientais, tirar pessoas da pobreza. Assim, hubs de inovação podem ter diferentes papéis no processo: proporcionando caminhos para acelerar ideias, atacando desafios sociais para que os negócios tenham sucesso, incentivando a difusão dos benefícios da tecnologia de forma mais ampla na economia, preenchendo lacunas em infraestrutura e no ambiente de inovação, criando espaço para uma ágil reinvenção da economia fora das restrições tradicionais, facilitando o crescimento do ecossistema e a coalisão de ideias, atraindo, retendo e aumentando o número de talentos, localizando e promovendo a cultura de inovação. Ressalta, no entanto, que se deve ter fortemente em conta os seguintes princípios: a inovação floresce em um ecossistema que funcione, hubs de inovação são apenas parte da solução e devem ser desenhados de acordo com o ecossistema disponível, hubs de inovação de sucesso têm seus modelos de negócios otimizados em torno de objetivos, e, por fim, a forma e a estrutura de participação do

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Princípio #1: “A INOVAÇÃO FLORESCE EM UM SISTEMA QUE FUNCIONE”

No primeiro item, que afirma que a inovação deve florescer dentro de um ecossistema que funcione, foi orientado que os principais pilares a serem observados, com o intuito de detectar pontos fortes e de melhoria, são: demanda, políticas, infraestrutura, financiamento e investimento, talentos, network e condições de P&D (pesquisa e desenvolvimento). No caso da Nigéria, descrito em Dalberg (2017), percebeu-se boas condições de demanda e disponibilidade de talentos, mas financiamento, network e políticas são pontos de melhoria que demandam atenção. O trabalho citado mostra, como exemplo, uma análise resumida do One North, hub de inovação localizado em Singapura:

FIGURA 2: ANÁLISE DOS PILARES DO ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO ONE NORTH, EM SINGAPURA

Fonte: Dalberg (2017), traduzido pela autora.

Para avaliar a demanda de cada hub do Agropolo Campinas, é necessário fazê-lo para cada cadeia produtiva que se deseja abordar. Este trabalho tem foco na cadeia de bioquerosene de aviação e sua demanda será descrita no capítulo seguinte, em conjunto com outras características.

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Em termos de políticas públicas, no Brasil, atualmente, o principal aliado a esse tipo de projeto é a Lei de Inovação. Em 2004, foi promulgada a lei 10.973, que ficou conhecida com esta alcunha. Constitui-se como o marco legal do Brasil nessa área, atualizado posteriormente em 2016 pela lei 13.243. Os principais temas tratados estão nos artigos 4º, 8º. O artigo 4º trata do estímulo à parceria entre ICTs e empresas. O artigo 8º trata da necessidade de um Núcleo de Inovação Tecnológica, que poderá ter personalidade jurídica própria, e deverá zelar pelo cumprimento das diretrizes da ICT, complementado pelo artigo 10º, que descreve as atribuições do NIT. A norma permite à ICT (Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação) compartilhar seus recursos de infraestrutura e/ou intelectuais, com empresas, outras ICTs ou pessoas físicas, através de contrato ou convênio por tempo determinado, prestar serviços técnicos especializados ao setor produtivo e celebrar acordos de parceria para a realização de pesquisa científica e tecnológica. Permite, ainda, que a ICT receba compensação, financeira ou não, em todos os casos citados. Em seu nono parágrafo consta que “O servidor, o militar, o empregado da ICT pública e o aluno de curso técnico, de graduação ou de pós-graduação envolvidos na execução das atividades previstas no caput, poderão receber bolsa de estímulo à inovação diretamente da ICT a que estejam vinculados, de fundação de apoio ou de agência de fomento”. Este parágrafo garante, por exemplo, o poder à ICT de montar seu time de pesquisa conforme a demanda das parcerias, pois não somente está amparada por lei para estabelecer parcerias remuneradas, como também o está para destinar diretamente os recursos recebidos. Em 2017, a lei federal foi regulamentada no estado de São Paulo através do decreto 62.817, sem grandes novidades em relação a seu conteúdo, mas enfatizando e deixando mais claro a flexibilidade de atendimento a demandas da sociedade por parte das ICTs, como UNICAMP, IAC, ITAL, participantes do Agropolo Campinas. Em fevereiro de 2018 foi criado o decreto 9.283, que regulamenta a Lei de Inovação no âmbito federal e deixa claro pontos que ainda traziam insegurança jurídica para a relação empresa – ICT, como a sessão sobre ambientes promotores de inovação, que orienta sobre a cessão de imóveis por parte de ICTs nesta situação e a participação minoritária de ICTs no capital social de empresas. Há muito o que evoluir, no entanto, em termos de política para start-ups e viabilização de pequenas e médias empresas, assim como no processo de patentes. O item “política” acaba por demandar um trabalho aprofundado somente a ele dedicado, mas claramente se apresenta como ponto de melhoria no contexto brasileiro.

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Seguindo com os pilares enumerados, no caso da infraestrutura, a Região Metropolitana de Campinas dispõe não somente de logística privilegiada, por sua localização junto às rodovias Anhanguera e Bandeirantes, o Aeroporto de Viracopos, segundo maior terminal de cargas do país e sexto maior em número de passageiros (Deutsche Welle, 2018), como também de rico parque industrial e diversas ICTs instaladas em seu perímetro. A presença da UNICAMP, dentre outras universidades, formando mão-de-obra qualificada e auxiliando na viabilização de potenciais programas de treinamento, faz com que o quesito talento também seja um ponto forte da região. Da mesma forma, a concentração de universidades e ICTs na região de Campinas, tendo a UNICAMP como carro-chefe, faz com que a capacidade de pesquisa seja um ponto forte. Um possível ponto de melhoria, nesse caso, é verificar se poderiam atender melhor as demandas da sociedade e do mercado que dela faz parte, extrapolando a pesquisa somente acadêmica e voltada para a publicação. Além disso, a universidade brasileira carrega um estigma: morosidade. No seminário “Lei do Bem”, oferecido pela CAPES em dezembro de 2016, empresas apresentaram depoimentos sobre suas parcerias em pesquisa e desenvolvimento com ICTs. Para o PSA Groupe, por exemplo, os principais limites são “risco no cronograma e entregas, falta de competência no nível ‘técnico’, demora no período inicial da parceria e dificuldades administrativas”. Para a Natura Cosméticos, os principais desafios enfrentados no relacionamento são: “excesso de burocracia – necessidade de simplificação, entraves a respeito de Propriedade Intelectual e Remuneração em geral, diferenças (culturais), as quais dificultam a cooperação entre as instituições; necessidade de maior atenção ao cumprimento de cronogramas e prazos; calendário escolar e greves; falta de incentivo aos pesquisadores” (CAPES, 2016). Nota-se em comum a falta de confiança em cumprimento de prazos e o excesso de burocracias.

Em termos de networking, há sem dúvida espaço para melhoria de comunicação entre as instituições. O tamanho da necessidade de melhoria é proporcional à demanda potencial. O

hub proposto neste trabalho propõe-se a focar exatamente no canal de comunicação entre os stakeholders, permitindo que demanda e oferta se encontrem.

Por fim, o tema do financiamento e investimento. Há de fato demanda potencial por parte de empresas, assim como um rol de investidores dedicados a start-ups, listados no Anexo I. No entanto, a conjuntura do país e a falta de incentivos à pequena e média empresa, citado

Referências

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