Teologia da cruz como novo paradigma
para a relação “fé e política”
Tentativa de fundam entação ética da dem ocracia brasileira
Evaldo Luis Pauly
Resumo
Com a regulamentação das con quistas democráticas da Constituição Federal de 1988, criaram-se no Bra sil esferas públicas não-estatais. Tra- ta-se da ação política - que vai além da política partidária - desenvolvida por milhares de conselhos que deter minam algumas políticas públicas.
Resumen
Con la reglamentación de las con quistas democráticas de laConstitución Federal de 1988, se crió en Brasil es feras públicas no estatales. Se trata de la acción política - que va más allá de la política partidaria - desarrollada por millares de consejos que determinan algunas políticas públicas. Muchos de
Abstract
W ith the reg ulatio n o f the democratic conquests of the Federal Constitution o f 1988, non-state public spheres were created in Brazil. This has to do with the political action - that goes beyond party politics - carried out by thousands of councils that determine some public policies.
Muitos desses conselhos possuem composição paritária entre socieda de civil e governo. Essa situação po lítica inusitada provoca uma revira volta na teologia pastoral. Atese cen tral do artigo é demonstrar o poten cial criativo da eclesiologia luterana nessa nova conjuntura.
ellos tienen una composición paritaria entre la sociedad civil y gobiemo. Esa situación política inusitada provoca una modificación en la teologia pastoral. La tesis central del artículo es demostrar el potencial creativo de la eclesiologia luterana en esta nueva coyuntura.
Many o f these councils are made up o f an equal representation o f the civil society and the government. This unusual political situation provokes a turnabout in pastoral theology. The central theme o f this article is to show the creative potential o f the Lutheran ecclesiology in this new situation.
Estudos Teológicos, 4 I(I):I9 -3 6 , 2001
"Jesus Cristo vai voltar Em Porto Alegre vai morar"
Wander Wl dner, cantor punk-brega
Fé e política: nunca a pastoral bra sileira produziu tanto sobre um único tema Milhares de textos1 produzidos e milhares de militantes formados2. Essa pastoral permitiu a inclusão dos cristãos entre as forças políticas do chamado campo democrático e po pular, hoje sob hegemonia do PT3. A tese que defenderei nesta palestra é simples:
A relação entre f é e política é um a ilusão teológica. São os teólogos que pensam que a f é tem importância na política. É preciso ter humildade evan gélica e ser realista p a ra assum ir a materialidade das relações possíveis e factíveis entre com unidade local e p o
lítica partidária.
Para dem onstrá-la, assum o a metanarrativa que fundamenta a pos sibilidade da liberdade, exclusivamen
te, pelo sangue de Cristo. A teologia da cruz é um novo paradigma para a relação “fé e política” fundamentada na democracia. Desde há muito, a teo logia e a ciência política influenciam- se mutuamente4.
Igrejas não sabem o que fazer com a construção da identidade partidária, perturbam-se com os enfrentamentos e confrontos necessários entre partidos, não compreendem a ética das mudan ças de táticas, das coligações... Parece que, no máximo, as igrejas estabele cem suas doutrinas sociais, baseadas na revelação divina e/ou na tradição teológica. Um estado justo seria aque le que aplicasse essa doutrina social ela borada desde fora do estado, cuja legi timidade última é a divindade.
* Cito um exem plo dessa produção: C adernos Fé e Política do CD D H d e Petrópolis/RJ, dos redatores Leonardo e W aldem ar Boff.
2 A vida do intelectual Florestan F ernandes ilustra esse fato. Veja sua entrevista a Paulo de Tarso V enceslau,na revista Teoria & D ebate, n. 13, jan/fev/m ar de 1991.
^ Há controvérsias. É consenso que não se trata de aliança tática ou estratégica entre m arxistas e cristãos. E mais. A “questão das alianças aparece com o superada: os cristãos se tom aram um com ponente dos m ovim entos populares socialistas, libertadores ou revolucionários. Eles trouxeram um a sensibilidade m oral, uma experiência do trabalho popular ‘na b ase’ e um a urgência utópica que contribuíram para enriquecer o m ovim ento”. M. LÕWY, O M arxism o na A m érica L atina, p. 60. A presença dos cristãos m udou o espirito do m ovim ento.
^ Cari SCHM IT, O conceito do politico, Petrópolis : Vozes, 1992. A edição original é de 1932. Esse pioneiro das ciências políticas afirm a que todos "o s conceitos destacados da doutrina m oderna do Estado são conceitos teológicos secularizados. Isso não vale apenas por causa de seu desenvolvimento histórico, m as tam bém na sua estrutura sistem ática.”
Teologia da cruz com o novo para d ig m a p a ra a relação “fé e p o lítica ”
Partidos não sabem o que fazer com a bondade, humildade e tolerân cia da fé. Eles disputam pelo poder até o limite legal da lei do mais forte5. Polí tico não perdoa, mede conseqüên cias. Por isso, proponho trocar a rela ção ideal fé e política pela relação
conflituosa entre comunidade religio sa e partido político. Essa mudança paradigmática produz imediata contra dição: a comunidade se legitima pelo que é comum e o partido pelo que é parte. Nesta palestra, continuo avali ando essa mudança paradigmática6.
1 - 0 equívoco da relação antímoderna entre fé e política
Pensar a relação “fé e política” é pensar na implicação entre liberda de e libertação, conforme a sugestão dos autores do artigo “Perspectivas da Teologia da Libertação”7. A rela ção entre liberdade e libertação é feita pela ética da modernidade, que der rotou o absolutismo e a cristandade, expressão religiosa deste. Ao mesmo tempo, celebra a vitória da ética de mocrática e da tolerância religiosa. A cristandade ruiu para salvar o cris tianismo, tal como se deu com o fím do socialismo real8.
Tradicionalmente, fé e política são uma espécie de pretinho básico. Toda moça moderna e prática tem um no guarda-roupa. O nosso básico é o dogma de que a verdadeira fé tem implicações políticas. A fé sem obras é morta, e as boas obras são políti cas. Na América Latina, esse dogma assumiu a identidade sociopolítica democrática e popular. O problema é que a teologia tradicional não acei ta que a recíproca seja verdadeira. Sua lógica diz que é verdadeiro que a fé implica política e falso que a
^ A lei 9.504, de 30.09.97, no art. 20, perm ite o uso de recursos próprios para custear despesas de cam pa nha, conform e a com unicação à Justiça E leitoral (art. 18). Em alguns países m ais dem ocratizados, com o a A lem anha, o Estado financia as cam panhas políticas para com pensar essa desigualdade e coibir a corrupção dos tesoureiros de cam panha. PC Farias e Eduardo Jorge não são exclusividade nossa.
® Fiz um a avaliação anterior sobre essa relação no artigo “ P. K u r t Robert W ellm ann”, in: lig a K N O R R, G odofredo G . BO LL, M osaico Vivo, Porto A legre : CEPA, 1998.
n
P ublicado p o r A ltm ann, Bobsin, Zw etsch em E studos Teológicos, n. 2, 1997.
® U m a intuição do novo paradigm a sugere associar fatos da história da religião com fatos da história das revoluções. “N a expressão de A ntonio G ram sci, o Estado, na Rússia, era tudo e a sociedade civil não era nada. Ou seja, o Estado, que era tudo, dirigia de cim a um a sociedade civil gelatinosa. (...) aparato estatal (...) se sobrepunha a um a sociedade civil sem instituições sólidas, sem um a cidadania estruturada e sem relações ju ridicas(...)” . Tarso G EN RO , Política & m odernidade, p. 60.
Estudos Teológicos. 41 (l):1 9 -3 6 , 2001
política implica fé. A lógica da tradi ção é condicional. Proponho a lógi ca bicondicional.
A tradição trabalha fé e política a partir de pressupostos escolásticos. E sempre a fé que determina a política. Nunca o contrário. Na tese escolástica, a verdadeira comunidade de fé é polí tica. Por quê? Porque tanto a fé cristã verdadeira quanto a política verdadei ra almejariam o bem. A fé, o bem su premo; a política, o bem comum. Ora, se a fé e a política visam algum bem, então visam ações plausíveis. Para Aristóteles, o bem como uma “forma” em si não tem sentido. Os modernos, contra os escolásticos, assumem a po sição aristotélica de humildade quase evangélica:
(...) ainda que haja um bem úni co que seja um predicado univer sal dos bens, ou capaz de existir separada e independentemente, tal bem não poderia obviamente ser praticado ou atingido pelo homem, e agora estamos procu rando algo atingível.9
O fundamento epistemológico da modernidade é a práxis, as possibili
dades do mundo. O conceito ou a forma ideal do bem não passa de boa intenção, que “parece colidir com o método científico”. Pelo argumento da modernidade, o critério de vali dade da ciência é o vínculo do co nhecimento ao mundo do trabalho, ao ato humano de transformar a na tureza. O bem está na cultura e não fora dela. Trata-se de uma relação lógica de bicondicionalidade
1. Saber <-> Trabalho (na episte- mologia das ciências)
2. Fé <-* Política (na episte- mologia da teologia da cruz)
Essa segunda relação lógica toma necessário introduzir a teologia da cruz. Lutero concorda com Aristóteles, por que a filosofia exatamente nesse pon to contraria a teologia. Na última tese de Heidelberg, afirma:
O amor humano evita os peca dores e os maus. Cristo diz: “Não vim chamar os justos, mas peca dores” (Mt 9.13). E este é o amor da cruz, nascido da cruz, que não se dirige para onde encontra o bem de que possa usufruir, mas para onde possa proporcionar o bem ao mau e ao pobre.10
^ A RISTÓ TE LE S, Ética a Nicôm acos, p. 22 (1097a).
Teologia d a cruz com o novo para d ig m a p a ra a relação “fé e p o lítica ”
O bem da filosofia e da política é distinto do bem da teologia da cruz. Por causa dessa diferença, o bem ocupa o mesmo lugar lógico. Bem é aquilo que deve ser feito e, ao ser feito, justifica a racionalidade da boa obra, mas não justifica o agente pro motor da obra! Qualquer um ou todo sujeito ético que participa do OP (= Orçamento Participativo) diz, a seu modo, “a nossa decisão por realizar esta boa obra justifica-se por razões x, y e z. Mas nenhum de nós está jus tificado por tê-la realizado”. É assim que, tanto na filosofia quanto na teo logia, a busca do bem implica uma epistemologia e que esta implique uma ética. Vejamos caso a caso. No caso da educação popular, essa im plicação entre epistemologia e ética produz a síntese do senso comum11. D esta d ia lé tic a entre ética e epistemologia surge a fundamenta ção do ato educativo, conforme Pau lo Freire12. Para o caso da política, a prática do bem comum pode ser pra ticada (ética) e, portanto, aprendida
(conhecimento). Esta é a base filo sófica da formação política, pois par te-se “do princípio de que é possível ensinar e aprender democracia, tal como é possível ensinar e aprender a jogar tênis ou tocar piano” 13. Para o caso da teologia da cruz, Lutero cha ma tal implicação de boas obras “no sentido de que as suas obras (do jus to ou justificado) não fazem a sua justiça; antes é a sua justiça que faz as obras” 14. Ou seja, a relação entre o conhecimento do que sejam as boas obras não determina a sua realização. Há, portanto, uma distinção entre epistemologia e ética; logo, elas têm relação! Obvio.
Eu me lembro do justo orgulho que senti quando aprovamos a cons trução do Abrivivência, um equipa mento de primeiro mundo para os moradores de rua da cidade, o me lhor projeto desse tipo no Brasil. Minha presença como pastor no Con selho do Orçamento foi fundamen tal para essa aprovação, disseram-me os assessores da CRC. Nunca em
mi-11 Veja-se o artigo de A lbrecht W E LL M E R , Sentido com um e justiça.
^ a convivência sem pre respeitosa que tive com o ‘senso com um ’, desde os idos de m inha experi ência no N ordeste brasileiro, a que se ju n ta a certeza que em m im nunca fraquejou de que a sua superação passa po r ele” . Paulo FREIR E, Pedagogia da esperança, p. 58. A cho que Freire definiria ciência com o a superação possível do senso com um p o r dentro dele m esm o.
1 ^ L othar KRA FT, Form ação p olítica e educação p a ra a cidadania, p. 4. Tomei um exem plo de partido conservador: a U nião D em ocrata-C ristã, da A lem anha.
Estudos Teológicos. 4 1 (l):1 9 -i6 , 2001
nha vida ajudei tantas pessoas e nem as conhecia. A capacidade inicial era de 80 atendimentos. Pelos levanta mentos da época, havia 300 morado res de rua na cidade. Fui justo com 80 e injusto como 220! Nada pode me justificar diante de mim mesmo. Não adianta saber que é natural, afi nal eu fiz o melhor que pude. A mai oria não faz nada e nem se sente cul pada. É melhor fazer alguma coisa do que nada. Bobagens para quem olha e deseja ver a sua boa obra!
Lutero tem razão: “As obras nada fazem em prol da justificação”; por isso, eu preciso da justificação so mente pela cruz para continuar fazen do boas obras. A teologia da cruz é um instrumento hermenêutico privi legiado para pensar e praticar a rela ção “fé e política”. Até porque com bate o risco do salto-alto da auto-su ficiência e da soberba de quem estamos vencendo uma eleição atrás da outra.
2 - Fé e política na história brasileira recente
No início da redemocratização, nos anos 70, as vanguardas católicas definiam a política nas CEB’s, nas pastorais sociais (CIMI, CPT, PO, PJ), da CNBB, etc. Com a constru ção do PT, no início dos anos 80, a política muda de mão. Surge uma estranha confirmação: os militantes cristãos se filiavam ao partido e su miam da igreja.
Os anos 90 criam uma realidade política inesperada. De um lado, su cedem-se as vitórias eleitorais das administrações populares. A conquis
ta e a permanência do campo demo crático e popular no poder em alguns governos muda a conjuntura políti ca. De outro lado, a institucionalidade política transforma-se com a promul gação da leg islaçã o o rd in ária requerida pela Constituição de 8 8 .0 ECA15, a LOAS, o SUS, a LDB cri am em todo o país con selh os paritários de gestão dessas políticas públicas. Nunca, em nenhum lugar do mundo, a democratização da ges tão de políticas sociais foi tão longe!
“O Estatuto da C riança e do A dolescente já influenciou a elaboração de legislações sem elhantes em m ais de 15 países da região, constituindo um a verdadeira ponte de integração do Brasil com os países- irm ãos da A m érica Latina.” A ntonio Carlos G om es da COSTA, O novo direito da infância e da ju v e n
Teologia d a cru z com o no vo para d ig m a p a ra a relação “fé e p o lític a ”
Outra novidade dos anos 90 é a participação direta da cidadania. Al gumas prefeituras - do PT ao PFL16 - criaram Orçamentos Participativos, uma forma peculiar de socialização. Acredito que o OP seja uma versão, do jeitinho brasileiro, da necessária se- cularização da gestão pública pela racionalidade política17.
Essa peculiaridade ultrapassa a relação genérica “fé e política” pela relação objetiva entre a comunidade religiosa local e os partidos que dis putam e se tornam governo. Em Lutero, as obras da fé perdem seu presumido valor salvífico. Em nossa democratização, as obras da fé ga
nham relevância política. A fé não precisa de obras, mas as obras da fé precisam de política. A justificação de qualquer obra ou serviço público é dada por sua eficácia. No âmbito público, vale a justificação de resul tados. O campo democrático e popu- ' lar adotou, sem querer, o je ito luterano de pensar e praticar boas obras. Sem salvacionismo, apenas com racionalidade. Sintomas desse fato aparecem entre analistas brasi leiros que trabalham a teoria da es co lh a ra c io n a l18 do eleito ra d o crescentemente pragmático19. Jorna listas falam do novo eleitor de resul tados.
^ É o caso do prefeito A lceni G uerra, de Pato Branco/PR . U m a história dessa gestão pública está em L uiz A ntônio C U N H A , Educação, estado e dem ocracia no Brasil, São Paulo : C ortez, 1991, p. 110- 125. A prim eira experiência foi desenvolvida em B oa Esperança/Espirito Santo, po r A m aro C ovre, eleito em 1976 pela ARENA.
17 Luciano FED O ZZ I, O rçam ento P articipativo, p. 36: “O m om ento dos direitos políticos é o m om ento delim itado estruturalm ente pelo progressivo processo de racionalização do Estado e do poder, do qual a cidadania é, ao m esm o tem po, prom otora e resultante” .
'^ V e ja - s e Jon ELSTE R , Peças e engrenagens das ciências sociais. A idéia de escolha racional é m uito sim ples. O autor a define com o sendo “ guiada pelo resultado da ação” (p. 38), ressalvando-se que “os custos da deliberação podem exceder os benefícios” (p. 42). “A teoria da escolha racional tem o objetivo de explicar o com portam ento hum ano. Para isso, deve, em qualquer caso. p roceder em dois passos. O prim eiro passo é determ inar o que um a pessoa racional faria nas circunstâncias. O segundo passo é verificar se isso é o que a pessoa realm ente fez.”
^ V e j a - s e M arcello BAQUERO, A s eleições m unicipais de 1996 : form as em ergentes de um novo com portam ento eleitoral?.
E studos Teológicos, 4 1 (l):1 9 -3 6 , 2001
3 - Teologia da cruz como superação da dicotomia
“fé e política”
A justificação das obras e dos serviços públicos pertence ao deter
minado livre-arbítrio20 da racio
nalidade democrática pela decisão da maioria depois de bem informada pelos especialistas. Esse é o limite que demarca o espaço da liberdade humana. Fora desse limite entramos na irracionalidade. Essas teses são básicas para o liberalismo que tanto assusta as teologias. Suspeito que o susto é determinado pelo medo irra
cional e inconsciente das burocra cias eclesiais diante da mais leve sus peita de que a democratização atinja a instituição eclesiástica21. Onde os leigos controlam a pastoral, a igreja é mais liberal. Exemplo disso é a Pastoral da Criança da CNBB22. As mulheres dessa pastoral salvam cri anças com orações, bênçãos, balan ças, chás e multimistura, pagas corfi pequenas verbas do Ministério da Saúde.
20
Suportar a contradição da liberdade determ inada é típica do luteranism o. Basta ler o clássico “ Da Liberdade cristã” . O cristão é senhor e ao m esm o tem po servo! N um a perspectiva filosófica, essa reflexão vem sendo feita desde Kant. Valério RO H D EN , Razão prática e direito, p. 128-129: “O ho m em é livre de determ inações estranhas, m as não de se autodeterm inar, e esta autodeterm inação en volve um universo social, que o indivíduo codeterm ina e dentro do qual, não contra o qual, ele se determ ina” . Portanto, desde a teologia de Lutero e da filosofia m oderna é possível sustentar a possibi lidade da liberdade determ inada, sem perder os ganhos do hum anism o de Erasm o. V eja-se o artigo de Jean-Paul SARTRE, D eterm inação e L iberdade, in: G alvano delia VO LPE et ai., M o ra l e so c ie d a d e : atas do convênio prom ovido pelo Instituto G ram sci, 2. ed., Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1982. 21
Os presbíteros da CEPA m e incentivaram a concorrer ao cargo de Conselheiro contra a orientação dos colegas pastores. O Plano de Investim entos de 1995 da Prefeitura de Porto A legre apresenta a lista dos 42 conselheiros do O rçam ento Participativo. N enhum assessor explicou-m e por que, apenas no m eu caso, foi incluído o m eu título profissional de Pastor. O Conselheiro da Região das Ilhas m e contou que um padre foi eleito C onselheiro por sua Região e, quase im ediatam ente, foi transferido para outra Diocese. A cho que essa experiência pessoal ju stifica esta suspeita.
Teologia da cruz com o novo p a ra d ig m a p a ra a relação “f é e p o lítica ”
A teologia deve criticar o libera lismo a partir dos próprios princípios liberais23. Esse foi o jeito de Lutero enfrentar o debate com Erasmo. E prudente criticar o liberalismo a par tir de bandeiras liberais24. E óbvio que a superação do liberalismo ne cessariamente passa por ele! A expe riência do terror estalinista demons tra que socialismo sem democracia é barbárie. A democracia é patrimônio inalienável e universal da humanida de, com todas as conseqüências daí advindas. A teologia da Reforma vin- cula-se a essa tradição política. Di retamente por sua eclesiologia, e creio que indiretamente pela teolo gia da cruz. No contexto de fé e polí tica, lembro uma tese central para negar a justificação do simpático humanismo de Erasmo:
“É necessário, portanto, poder dis tinguir com absoluta certeza entre o poder de Deus e o nosso, entre sua obra e a nossa obra, se é que queremos viver piedosamente.”25
Penso num caso concreto. Não importa que a escola infantil seja mantida por espíritas, luteranos ou budistas. Importa que preste um bom serviço público. Se as crianças oram à mesa para espíritos, Jesus ou Buda, é irrelevante. E necessário apenas que o alimento esteja balanceado, seja barato e os critérios da distribuição sejam justos, democráticos e trans parentes. Se uma criança ganhar dois bifes porque os pais foram ao culto da mantenedora, é constrangimento ilegal. Se ganha mais um bife por que está com anemia, é justiça! As noções luteranas de justiça ativa e
^ N orberto BO B BIO , Liberalism o e dem ocracia, p. 81-82 : “ Com isso não se q uer dizer que a relação entre dem ocracia e socialism o tenha sido sem pre pacífica. Sob certos aspectos, aliás, foi com freqüência um a relação polêm ica, não diversam ente da relação entre liberalism o e dem ocracia. Era evidente que o recíproco esforço da dem ocracia pelo socialism o e do socialism o pela dem ocracia era um a relação circular. De que ponto do círculo dever-se-ia com eçar? (...) De qualquer m odo, a dúvida sobre a validade do m étodo dem ocrático para a assim cham ada fase de transição jam ais cancelou po r com ple to a inspiração dem ocrática de fundo dos partidos socialistas, no que se refere ao avanço da dem ocra cia num a sociedade socialista, e a convicção de que um a sociedade socialista seria de longe m ais dem ocrática do que a liberal, nascida e crescida com o nascim ento e o crescim ento do capitalism o” .
Cito algumas: oportunidades iguais para todos; cada cidadão, um voto; todos são iguais perante a lei previam ente acordada pela maioria; é injusto tratar igualm ente os desiguais; a segurança social é fruto do equilíbrio do m ercado de consum o pela distribuição racional da renda m ediante a m assa salarial; é necessária a intervenção do estado na distribuição da renda através de políticas com pensatórias das desigualdades sociais; as liberdades civis vinculam -se à livre concorrência de m ercado; o estado mantém a livre-iniciativa, preservando a com petitividade pela repressão aos m onopólios e oligopólios, etc.
Estudos Teológicos. 4 l(l):1 9 -3 6 , 2001
justiça passiva resolvem o problema cos como esse que brotam da gestão político e pedagógico do segundo democrática não há método teológi-bife sem cair num moralismo irra- co melhor que a teologia da cruz. cional. Para resolver problemas
éti-4 - Esquema da caminhada da relação “fé e política”
nos últimos 40 anos
Década de para
60 Igrejas T R A N S IÇ Ã O Pastorais
70 Pastorais ► Partido
80 Partido A d m in istraçõ es P o p ulares
90 A d m in istraçõ es popu lares Ig rejas
Quem experimentou o processo de construção do jeito petista de go vernar sabe que é mais fácil ganhar e administrar uma prefeitura do que mobilizar e manter a participação efetiva da sociedade civil nas defini ções e controle das políticas públi cas. O jeito petista de governar, na verdade, não depende tanto do jeito do PT quanto do jeito como a socie dade civil se organiza para controlar o governo26. É preciso dizer com to das as letras: tão estratégica quanto a construção do partido e da admi nistração popular é a construção de
uma sociedade civil sempre mais or ganizada, fortalecida, democratiza da e capacitada para a participação. A política do campo democrático e popular nos mostrou que fazer polí tica e fazer pastoral tem o mesmo valor estratégico. Quem não for bom na pastoral não será bom nessa po lítica.
Numa linguagem religiosa: im porta que a sociedade civil cresça e que o partido diminua. Esta é a fór mula de o campo democrático e po pular consolidar-se no poder! Tra- ta-se de um êxodo às avessas: sair
26 Raul PONT, A profundar a D em ocracia e garantir o papel regulador do estado, p. 51: “N ão podem os perder de vista a questão de que a organização popular tem de ser autônom a, deve te r sua capacidade de auto-organização. (...) Isso faz com que se estabeleça um a relação de m aior controle sobre o nosso partido, sobre o governo” . N o m esm o sentido, R obert M IC H EL S desenvolve a idéia de que um a espécie de “lei de bronze” prenderia o partido revolucionário seja pela burocratização interna do partido, seja pela influência parlam entar. Em alguns casos, o partido originado das lutas populares transform a-se num “ E stado dentro do E stado” (Sociologia dos p a rtid o s po lítico s, p. 221).
Teologia da cruz com o novo p a ra d ig m a p a ra a relação “fé e p o lítica "
de dentro da igreja para voltar para dentro da igreja. Só com piedade evangélica permaneceremos na du reza da pastoral, resistindo à sedu ção do poder secular. Graças a Deus, as obras do Orçamento Participativo são sempre mais belas que as obras da OASE, mas o OP será mais signi ficativo com a presença organizada e autônoma da OASE27.
Um estranho e inútil sentimento de culpa teológico parece dominar os teólogos da libertação luteranos: tra- ta-se do atrelamento de nossa igreja ao poder estatal. Os príncipes assu miram a chefia das igrejas da Refor ma. A inutilidade desse sentimento está na ilusão que o alimenta. A ilu são de que exista alguma instituição sem poder legitimado. O poder é a base m aterial para o conceito de hegemonia, seja de Maquiavel ou de Gramsci. A Igreja de Cristo não é uma instituição humana porque é in visível e tem Cristo por único cabe ça. A boa igreja visível, institucional, falível, pecaminosa tem a estrutura de poder menos ruim da sua socie dade. Os principados eram a forma de poder menos ruim. Dos piores, o menos ruim. Desculpem, mas essa é
a única possibilidade até que Deus decida nos dar a plenitude do seu Reino. Mas isso é problema de Deus e não nosso. Depois da derrota dos camponeses, em 1525, a sociedade alemã não dispunha de nada melhor do que os príncipes para mandar na igreja evangélica. A eclesiologia luterana nega a ilusão do bom poder. Toda instituição, mesmo que divina mente desejada, é falível. O campo democrático e popular, especialmen te depois da queda do muro, sabe que deve resistir à ilusão de que haja uma forma boa de governo. E menos pior redigir a proposta orçamentária sob o co n tro le do OP do que em conchavos de gabinetes. Essa justi ficação da democracia é necessária e suficiente, mesmo que não satisfaça o nosso desejo de liberdade. A ética moderna não nos dá nenhuma justi ficação absoluta. Na melhor das hi póteses, dá-nos mais liberdade, sem nunca saciar nossa sede por liberda de. Que “o justo viverá por fé” (Rm
1.17) é nosso único consolo e defesa contra a ilusão.
Outro complexo problema polí tico para o campo democrático e po pular é a atribulação permanente. E
77
N um a A ssem bléia da Região H um aitá-N avegantes, o C onselheiro L othar M arkus, m em bro da P aró quia da Paz, convidou o coral da OA SE para abrir os trabalhos cantando m úsicas sacras alem ãs. O fato foi elogiado po r Tarso G enro em seu pronunciam ento à Plenária da Tem ática Saúde e A ssistência Social que eu coordenava, se não m e engano, em 1996.
Estudos Teológicos, 4 I (l) :I 9 - 3 6 , 2001
uma tentação viabilizar o governo desde o aparelho estatal sem o esfor ço de governar pelas decisões ema nadas da sociedade civil. Esse pro blema está registrado, mas não resol vido pela ciência política28. Nesse contexto, seria possível uma releitura da chamada teologia dos dois reinos. E preciso ter um pé na pastoral e ou tro no aparelho estatal. Um pé den tro do governo e outro fora. Os dois pés, no entanto, mantêm o equilíbrio porque são coordenados pela razão possível. Essa racionalidade está se concretizando sob duas formas. Uma primeira maneira é a da legalidade prevista pela Constituição de 88 atra vés da noção da paridade entre os representantes governamentais e os da sociedade civil. A paridade pres supõe que qualquer definição nessas políticas públicas implique um efe tivo pacto social entre governo e so ciedade civil. Essa definição legal adotou - sem querer - a doutrina da universalidade do pecado como mo delo paradigmático de gestão públi ca. Nas políticas públicas e na teolo gia luterana, o pecado não é dos ad versários, é nosso também! A omis
são pecaminosa do governo implica o pecado da sociedade civil, que é uma atalaia dorminhoca.
U m a seg u n d a fo rm a é a informalidade pela qual se estabele ce uma relação de subordinação das decisões governamentais à delibera ção dialógica entre governo e a par cela da cidadania que se apresentou ao debate e à decisão pública. A re lativa informalidade da participação voluntária das pessoas interessadas preserva o espírito constitucional bra sileiro, segundo o qual o poder po pular emana do povo:
a) p e la p rese n ça p e sso a l do ci dadão q ue se apresenta à com unida d e dos iguais;
b) p e lo voto através do q u a l a cidadania estabelece su a represen tação política.
O peculiar processo democráti co que estamos vivenciando mostra uma complexa rede social tecida no cotidiano das cidades, das esferas de governo e das instâncias da socieda de civil. Tarso Genro e outros teóri cos vêm chamando essa rede com plexa de “esferas públicas
não-esta-Robert M IC H EL S, op. cit., p. 239: “A concepção realista das condições m entais das m assas nos m ostra com evidência que, m esm o adm itindo a possibilidade de um a m elhoria m oral dos hom ens, os m ateriais hum anos, dos quais os p olíticos e os filósofos não podem fazer abstração em seus projetos de reconstrução social, não estão em condições de ju stificar um otim ism o excessivo” .
Teologia da cruz com o novo para d ig m a p a ra a relação “f é e p olítica "
tais” ou “espaço público não-esta- tal”29. Essa complexidade, vivida no cotidiano, demonstra que a democra cia é uma possibilidade lógica para quem assumi-la como se num ato de fé. Só a fé na democracia garante a sobriedade analítica durante sua in terminável construção. Foi por cau sa da fé que Lutero legitimou o mais antigo Orçamento Participativo que conheço, o de 1523, na cidade de Leisnig30. A democracia é um ato de fé, especialmente quando invocada pelo meu adversário. Somente pela fé posso viver a minha derrota como sendo uma vitória da democracia. Democracia é o único regime no qual quem está no poder garante a possi bilidade permanente da sua derrota.
O ato ético de expor-se à possibili dade da morte para garantir a possi bilidade da vitória, racionalmente, só pode ser fundamentado como um ato de fé. A fé é necessária para suportar a condição democrática. Do contrá rio, sucumbimos à ilusão da infalibi lidade. Aqui está a dimensão espiri tual da política: a tentação da perfei ção pode ser superada apenas pela assunção da fé. O valoroso Partido Bolchevique caiu nessa tentação. Seu ateísmo dogmático, na minha opinião de teólogo e educador, transformou as obras do partido em obras de jus tificação, isto é, em ilusão religiosa, através da falsa justificação do parti do único através e pela teologia da glória de Stalin31.
Tarso G EN RO , C om binar dem ocracia direta e dem ocracia representativa, p. 31.
Veja-se m inha dissertação: C idadania e P astoral Urbana.
3 ' Carlos R. V. C im e LIM A , O d ev e r-se r- Kant e Hegel. “A crítica de M arx é, em m inha opinião, pertinen te. A solução que M arx oferece, não. Pois o problem a é apenas deslocado no tem po e no espaço. No estágio final do com unism o, após a grande revolução proletária, o Estado será o Estado divino e defini tivo. A eticidade nesta perfeita conciliação consigo m esm a está encerrada em seu processo de efetivação. A história, ao invés de ser um processo aberto de indivíduos livres e de povos livres, se fecha sobre si m esm a num a necessidade em repouso que elimina toda e qualquer liberdade. O m arxism o, se não for corrigido, leva logicam ente ao determ inism o e ao totalitarism o stalinista” (p. 77). O texto é anterior à queda do m uro de Berlim! Essa é, na m inha opinião, a interpretação filosófico-política que m ais se aproxim a da interpretação teológica que assumi com o teologia da cruz. A conciliação perfeita não é possível na política. A conciliação possível apenas garante e preserva a instabilidade (o não-repouso) com o condição de possibilidade da liberdade. Essa possibilidade é a cruz única e absoluta de Cristo que se deu na história hum ana, m as desde fora do tem po e do espaço. A cruz é po r todos e todas nós em qualquer tem po e lugar, conform e confessam os no Credo Apostólico.
Estudos Teológicos. 4 I(I):I9 -3 6 , 2001
Ao participar do OP, fui testemu nha de uma nova kénosis32 - de um estranho e secular esvaziamento. Porto Alegre mostra que, para man ter-se no poder, é necessário que o partido não usurpe de sua condição de vencedor das eleições. Pelo con trário, é necessário que assuma a for ma de servo, de servidor público que se apresenta para dialogar, ouvir e executar as decisões da assembléia popular. Essa kénosis é tão óbvia, que quase passa despercebida. A formu lação da proposta orçamentária é prerrogativa constitucional exclusi va do prefeito. O prefeito esvazia-se do poder que de fato tem. Transfere- o para o OP. Esse auto-esvaziamen- to de poder aumenta o poder do pre feito, como demonstram os sucessi vos mandatos. Objetivamente: ganha p o der porqu e sabe p erd ê-lo ! A
kénosis dos vitoriosos, assim me pa
rece, só pode ser compreendida em sua profundidade pela hermenêutica da teologia da cruz. Há risco dessa teologia virar um naturalismo piedo so e inócuo, assim como acontece com a d ia lé tic a que se to rn a mecanicista. Não consigo, com a hermenêutica da teologia da cruz, fazer teologia sistemática. Consigo sistematizar uma reflexão sobre o vivido na práxis coletiva da comuni
dade local com a política partidária. Esta é nossa experiência crucis.
Leio, no séc. XXI, a tese funda mental da Reforma “Justificação só pela fé” como “Democracia só pela fé” ! A justificação última da demo cracia é a fé que, óbvio, produz boas obras por si mesma. Democracia sem fé e sem obras é racionalmente in concebível. Dada a fé nela, então a democracia pode ter uma concepção racional e tomar-se, por fé, falível permanentemente. De outro modo, a democracia transforma-se em sober ba e nega-se a si mesma! A história heróica do movimento socialista é a prova sangrenta dessa tese. Talvez uma releitura acurada da antropolo gia teológica do servo-arbítrio no contexto democrático supere esses paradoxos presentes no mundo da vida democrática e popular. Desse modo, vejo as conseqüências espiri tuais da política. Necessito da fé para fundamentar uma ação moral que pretende construir um ideal democrá tico que não está dado na realidade. Preciso da fé para transcender-me como agente político. Tal tran s cendência não é um mero desejo meu. E transcendência necessária à vida pública no campo democrático e popular.
Teologia da cruz com o novo paradigm a p a ra a relação “f é e p olítica "
Arrisco-me, por fé, a afirmar que há uma teologia da cruz sendo vivi da na política brasileira. É teologia da cruz porque essa política aponta para um lugar vazio (a inexistência de tradição democrática consolidada) e diz que é exatamente desse lugar vazio33 que o poder dem ocrático cresce e se consolida pelo seu auto- esvaziamento! Um poder que já está aí, mas ainda não se estabeleceu. A teologia da cruz não é racional. A interpretação da teologia da cruz, sim, pode ser racional. Mas a cruz não! A justiça da fé e a justiça da ra
zão são absolutamente distintas. A cruz é exclusivamente de Cristo. Esse exclusivismo é a única garantia da universalidade necessária à funda mentação da democracia. Seja do governo democrático e popular, seja da igreja dem ocrática e popular. Creio ter demonstrado as possibili dades da teologia da cruz34 como conseqüência espiritual necessária do p ro jeto p o lític o in acab ad o da modernidade, que está sendo concre tizad o p elas p o lític a s p ú b licas implementadas pelo campo democrá tico e popular.
4 - Anexo para o debate
Todos os presbíteros da IECLB são pobres e míseros pecadores. Es ses dirigentes eclesiásticos eleitos fazem, senão a melhor, uma das me lhores administrações de entidade civil no país. Deve ser insignificante o percentual de presbíteros no uni verso das pessoas envolvidas em
maracutaias com dinheiro público. A administração das comunidades é um exemplo vivo de que a gestão da coi sa pública tem conseqüências espiri tuais. Graças a Deus, nossos presbí teros são os pecadores mais hones tos do país.
Esse vazio foi diagnosticado pela política. “O ideal dem ocrático tradicional não se preocupou em constituir form as efetivas de ‘p articipação ig u al’ ou pelo m enos ‘m ais ig u al’, nas decisões públicas. E ste é o d esafio a que d ev em o s responder.” Tarso G E N R O , U b iratan de SO U Z A , O rçam ento
P articipativo, p. 19.
^4 A associação entre a teologia da cruz e a relação “ fé e política” é um a posição teológica tradicional. O scar C U LLM A N N , Cristo e política. O original é de 1956. Para este exegeta, a relação “ Igreja- E stado” ou “ E vangelho-E stado” faz parte do “ponto m ais central de todo o N ovo Testam ento: o relato da m orte de C risto” .
E studos Teológicos. 4 1 (l):19-36, 2001
Papel da pastoral na democracia
brasileira
C aracterística Nas décadas anteriores No século XXI
Objetivo fundam ental da
pastoral
Formar militantes para o partido a partir do trabalho
eclesial, motivando-os, politicamente, a partir da fé
cristã.
Inserir a comunidade eclesial na sociedade civil como entidade organizada,
mobilizando filiados para uma participação qualificada pelo Evangelho
nas esferas públicas não- estatais.
Com preensão p rática de Igreja
Agência de conscientização por desejo divino, conforme a revelação e/ou a história
da Igreja.
Entidade civil prestadora de alguns serviços públicos pelo desejo democrático dos
filiados em parceria com esferas públicas não-
estatais.
Papel do teólogo/a
Dar legitimidade teológica à ideologia partidária, falando
em nome de Deus Libertador.
Ampliar e garantir a legitimidade comunitária de
algumas políticas públicas. 0 pastor representa o senso
comum da comunidade. Posição com relação à tese republicana de separação Igreja/Estado
Nega. A Igreja define a doutrina social e o Estado,
se for justo, executa. A Igreja está acima do Estado e sente-se no direito de ver e julgar a ação do Estado.
Assume. Igreja e Estado são co-responsáveis pela manutenção e ampliação da
democracia. A Igreja sabe- se sob o poder do Estado porque se reconhece como
parte da sociedade que mantém o Estado.
Relação entre fé e política
0 cristão é responsável pela política. A conversão transforma o cristão num
servo do próximo. A fé determina a política.
A política é responsável pelo cristão. 0 Estado converte-se em instrumento
a serviço da cidadania. A politica determina a fé.
Teologia da cruz com o novo pa ra d ig m a p a ra a relação ‘f é e p o lítica ”
Bibliografia
ARISTÓTELES, Ética a Nicômacos. 3. ed. B rasília: Universidade de Brasília, 1992. BAQUERO, Marcello. As eleições municipais de 1996 : formas emergentes de um
novo comportamento eleitoral? In: FIGUEIREDO, Rubens et alii. Comporta
mento eleitoral e marketing político. São Paulo : Fundação Konrad Adenauer,
1997. p. 17-34.
BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. 6. ed. São Paulo : Brasiliense, 1995. COSTA, Antonio Carlos Gomes da. O novo direito da infância e da juventude do
Brasil. Brasilia : UNICEF, 1999.
CULLMANN, Oscar. Cristo e política. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1968.
ELSTER, Jon. Peças e engrenagens das ciências sociais. Rio de Janeiro : Relume- Dumará, 1994.
FEDOZZI, Luciano. Orçamento Participativo. Porto Alegre : Tomo, 1997. FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança. 3. ed. São Paulo : Paz e Terra, 1994. GENRO, Tarso, SOUZA, Ubiratan de. Orçamento Participativo. São Paulo : Funda
ção Perseu Abramo, 1997.
GENRO, Tarso. Política & modernidade. Porto Alegre : Ortiz, 1990.
. Combinar democracia direta e democracia representativa. In: W . AA. Desa
fio s do governo local. São Paulo : Fundação Perseu Abramo, 1997. p. 14-31.
KRAFT, Lothar. Formação política e educação para a cidadania. São Paulo : Fun dação Konrad Adenauer, 1995.
LIMA, Carlos R. V. Cime. O dever-ser- Kant e Hegel. In: Filosofia política 4. Porto Alegre : L&PM, UNICAMP/UFRGS, 1987. p. 66-88.
LÖWY, M. O marxismo na América Latina. São Paulo : Fundação Perseu Abramo, 1999.
LUTERO, Martin. La voluntad determinada. Buenos Aires : Paidós, 1976.
LUTERO, Martinho. O Debate de Heidelberg, 1518. In: Obras Selecionadas : v. 1:
Os primórdios : escritos de 1517 a 1519. São Leopoldo : Sinodal; Porto Alegre
: Concórdia, 1989. p. 35-54.
MICHELS, Robert. Sociologia dos partidos políticos. Brasília : UNB, 1982. PAULY, Evaldo Luis. Cidadania e Pastoral Urbana. São Leopoldo : Sinodal, 1994. PONT, Raul. Aprofundar a Democracia e garantir o papel regulador do Estado. In:
W . A A. Desafios do governo local. São Paulo : Fundação Perseu Abramo, 1997. p. 46-52.
ROHDEN, Valério. Razão prática e direito. In: ROHDEN, Valério (Coord.).
Racionalidade e ação. Porto Alegre : UFRGS, Instituto Goethe/ICBA, 1992. p.
124-144.
E studos Teológicos, 4 I(J):19-36, 2001
WELLMER, Albrecht. Sentido comum e justiça. In: ROHDEN, Valério (Coord.).