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ISSN v. 1 - n. 2

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v. 1 - n. 2

Revista de Enfermagem da UFJF – REV.Enf-UFJF Juiz de Fora v. 1 n. 2 p. 137-238 jul./dez. 2015 ISSN 2446-5739

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Revista de Enfermagem UFJF / Universidade Federal de Juiz de Fora. -- v. 1, n. 2 (jul./dez. 2015)- .– Juiz de Fora :

Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Enfermagem,

Semestral ISSN 2446-5739 1. Enfermagem.

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SUMÁRIO

EDITORIAL

NOTIFICAÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO COM PERFUROCORTANTES: EXPERIÊNCIAS DE UMA EQUIPE DE ENFERMAGEM INDUSTRIAL ACCIDENTS NOTIFICATION SHARPS: EXPERIENCE OF A NURSING TEAM

Francisca Mad’leyne Silva Rodrigues, Cassimiro Nogueira-Junior, Eliana Maria Scarelli Amaral, Ângela Cristina Puzzi Fernandes

SAÚDE DO TRABALHADOR – PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA ENFERMAGEM NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI HEALTH WORKER - NURSING SCIENTIFIC PRODUCTION IN THE FIRST DECADE OF THE CENTURY XXI

Denise Cristina Alves de Moura, Rosangela Maria Greco, Marileia Leonel

NECESSIDADES DE MULHERES NO ENFRENTAMENTO DO DIAGNÓSTICO DE CÂNCER DE MAMA E DO TRATAMENTO CIRÚRGICO

WOMEN’S NEEDS IN COPING WITH THE DIAGNOSIS OF BREAST CANCER AND SURGICAL TREATMENT Jaqueline Ferreira Ventura Bittencourt, Ivis Emília de Oliveira Souza

EXAME PREVENTIVO GINECOLÓGICO: A PERCEPÇÃO DA MULHER DE ÁREA RURAL

PREVENTIVE EXAMINATION GYNAECOLOGICAL: THE PERCEPTION OF RURAL AREA WOMAN Anna Maria de Oliveira Salimena, Vanessa Aparecida Monteiro Cyrillo

ANÁLISE DA SOBRECARGA E QUALIDADE DE VIDA: CUIDADORES DE IDOSOS DEPENDENTES ANALYSIS OF OVERLOAD AND QUALITY OF LIFE: CAREGIVERS OF ELDERLY DEPENDENT

Elenir Pereira de Paiva, Fabiano Bolpato Loures, Jéssica Castro Santos, Stela Alice Loures de Paiva

PERFIL DOS PACIENTES COM INFECÇÃO POR HIV ADMITIDOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ADULTO EM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JUIZ DE FORA, MG

PROFILE OF PATIENTS WITH HIV INFECTION ADMITTED TO INTENSIVE CARE UNIT ADULT IN UNIVERSITY HOSPITAL OF JUIZ DE FORA, MG.

Meire Cavalieri de Almeida, Érika Bicalho de Almeida

CRIANÇAS COM DIABETES: PERCEPÇÕES MATERNAS CHILDREN WITH DIABETES: MOTHERS PERCEPTIONS

Herica Silva Dutra, Lybia Moratório Fernandes Werneck, Ana Lúcia Gomes

REINTERNAÇÕES EM UNIDADE PEDIÁTRICA: PERCEPÇÕES DA EQUIPE DE ENFERMAGEM REHOSPITALIZATION IN PEDIATRIC UNITY: NURSING TEAM PERCEPTIONS

Jane Santiago Sasso, Rosiane Filipin Rangel, Maria Helena Gehlen, Hilda Maria Barbosa Freitas, Regina Gema Santini Costenaro, Marlon Lenon Marinho Da Silva

ESTRESSE E AS POSSÍVEIS ALTERAÇÕES NO ESTILO DE VIDA E SAÚDE EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

STRESS AND POSSIBLE CHANGES IN LIFESTYLE AND NURSING PROFESSIONALS OF HEALTH IN PRIMARY HEALTH CARE Renata Cristina da Penha Silveira, Lidiane Naiara Teixeira, Emanuely Cristina Da Silva, Flávia Mendes da Silva, Gylce Eloisa Panitz Cruz

143 145 1 53 1 61 1 69 1 81 1 87 1 95 205 21 3

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APPLICATION OF BACTERIAL NANOCELLULOSE MEMBRANES FOR EPITHELIAL TISSUE REPAIR

APLICAÇÃO DE MEMBRANAS DE NANOCELULOSE BACTERIANA PARA O REPARO DE TECIDO EPITELIAL Camila Quinetti Paes Pittela, Luismar Marques Porto

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO 223

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EDITORIAL

REFLEXÕES SOBRE A CULTURA DE SEGURANÇA DO PACIENTE

A cultura de segurança, fio condutor dessa reflexão, perpassa todos os quatro eixos do Programa Nacional de Segurança do Paciente, institucionalizado pela Portaria MS/GM nº. 529/20131. Tal programa

além de destacar a importância de se incrementar a pesquisa sobre o tema, reforça a imprescindibilidade de se estimular sua inclusão no ensino.

O conceito de cultura de segurança do paciente da Organização Mundial de Saúde2, contempla

algumas dimensões que devem ser consideradas:

- Cultura na qual todos os trabalhadores, incluindo profissionais envolvidos no cuidado e gestores, assumem responsabilidade pela sua própria segurança, pela segurança de seus colegas, pacientes e familiares;

- Cultura que prioriza a segurança acima de metas financeiras e operacionais;

- Cultura que encoraja e recompensa a identificação, a notificação e a resolução dos problemas relacionados à segurança;

- Cultura que, a partir da ocorrência de incidentes, promove o aprendizado organizacional;

- Cultura que proporciona recursos, estrutura e responsabilização para a manutenção efetiva da segurança.

A cultura de segurança inclui, portanto, a expressão “responsabilização”, que por sua vez, remete de forma incontestável, aos aspectos éticos relacionados à segurança do paciente. É da ética reflexiva, inseparável da prática profissional que se fala. Uma ética que considera em primeiro lugar a dignidade humana e o respeito aos outros e que incorpora a questão da responsabilidade no exercício profissional, como questão básica.

Para Watcher (2013), para se criar uma Cultura de Segurança é necessário um árduo trabalho, além de lideranças que atuem em prol da Segurança do Paciente. Nessa perspectiva, para esse autor, antes de qualquer ação, três questões devem ser levantadas:

- Os profissionais notificam as falhas assistenciais?

- Existe uma cultura de prevenção da culpabilização individual? - A segurança está referida no planejamento estratégico da instituição?

Recente estudo realizado por Reis (2013) considera que a cultura de segurança do paciente na amostra brasileira se apresenta como uma cultura punitiva frente à ocorrência de erros. Para o autor, os erros decorrentes do cuidado de saúde podem estar ligados a falhas ocultas existentes na estrutura ou no sistema e a melhoria da segurança do paciente requer alterações no sistema, incluindo enfrentar desafios difíceis, como mudar a cultura predominante punitiva frente aos erros. A cultura da culpabilidade desencoraja a notificação de erros, negligencia informações valiosas sobre eles e, portanto, limita a capacidade de analisá-los e evitar que eles aconteçam novamente (REIS, 2012).

Segundo a Agency for Health Care Research and Quality – AHRQ (2014), há dimensões e variáveis que devem ser incluídas nos instrumentos utilizados para avaliar a cultura de segurança, no âmbito da organização hospitalar:

1 BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº. 529, de 1º de Abril de 2013. Institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 02 abr. 2013. Seção 1, p. 43.

2 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). The Conceptual Framework for the International Classification for Patient Safety v1.1. Final Technical Report and Technical Annexes, 2009. Disponível em: http://www.who.int/patientsafety/taxonomy/en/

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- Apoio da gestão hospitalar para a segurança do paciente: a gestão hospitalar oferece um clima de trabalho que promove a segurança do paciente e demonstra que a segurança do paciente é a prioridade maior;

- Trabalho em equipe pelas unidades hospitalares: as unidades do hospital cooperam e se coordenam entre si para oferecer o melhor cuidado para o paciente;

- Transferências internas e passagens de plantão: informações importantes do cuidado do paciente são transmitidas entre as unidades do hospital e durante as mudanças de turnos.

Observa-se que construir uma cultura de segurança do paciente fundamentada em reflexões éticas não é uma tarefa fácil e pressupõe relações profissionais caracterizadas, principalmente, pela confiança mútua. Certamente, quando os valores das organizações de saúde estão alinhados com os valores das equipes multiprofissionais, os resultados são positivos em relação à produção de cuidados seguros.

Para finalizar essa reflexão, sem a pretensão de aprofundar no tema, pergunta-se: os enfermeiros brasileiros têm reforçado a cultura punitiva frente à ocorrência de erros cometidos pela equipe de saúdeou estão agindo como facilitadores da consolidação da cultura de segurança do paciente?

Márcia dos Santos Pereira Enfermeira, Doutora e professora Professora Adjunta do

Departamento de Enfermagem Aplicada da UFMG

REFERÊNCIAS

1. AHRQ- Agency for Healthcare Research and Quality. Disponível em: <http://www.ahrq. gov>. Acesso em 05 11 2014

2. Reis CT, Laguardia J, Martins M. Adaptação transcultural da versão brasileira do Hospital Survey on Patient Safety Culture: etapa inicial. Cad. Saúde Pública; 2012;(28)11:2199-2210. 3. Reis CT, Laguardia J, Martins M. A cultura

de segurança do paciente: validação de um instrumento de mensuração para o contexto

hospitalar brasileiro. Tese (Doutorado) Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro: Fiocruz, 2013.

4. Watcher, R. M. Compreendendo a segurança do paciente. Porto Alegre: Artmed, 2013.

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ORIGINAL

NOTIFICAÇÃO DE ACIDENTES DE

TRABALHO COM PERFUROCORTANTES:

EXPERIÊNCIAS DE UMA EQUIPE DE

ENFERMAGEM

INDUSTRIAL ACCIDENTS NOTIFICATION SHARPS:

EXPERIENCE OF A NURSING TEAM

Francisca Mad’leyne Silva Rodrigues 1

Cassimiro Nogueira-Junior 2

Eliana Maria Scarelli Amaral 3

Ângela Cristina Puzzi Fernandes 3

RESUMO

Objetivo: Este estudo buscou compreender a importância da notifi cação dos acidentes de trabalho com perfurocortantes na visão de uma equipe de enfermagem. Métodos: Pesquisa descritiva, qualitativa, realizada através de entrevistas semiestruturadas com profi ssionais da equipe de enfermagem de um hospital de São Paulo. Resultados: A principal causa apontada dos acidentes de trabalho foi a desatenção na assistência. Como principais pontos positivos da notifi cação foram citados sua importância como meio de informação e respaldo legal e como pontos negativos o medo de represálias a quem notifi ca e a burocratização do processo de notifi cação. Discussões e conclusão: O processo de notifi cação de acidentes de trabalho com perfurocortantes possui grande relevância e divergência entre os trabalhadores de enfermagem. Nesta consolidação, as atividades educativas aliadas à elaboração de um protocolo assistencial pós-exposição são estratégias fundamentais para sua efi ciência e efi cácia.

Palavras-chave: Acidentes de trabalho. Enfermagem. Notifi cação de acidentes de trabalho.

ABSTRACT

Objective: Th is study aimed to understand the importance of reporting the working sharps injuries in view of a nursing team. Method: Descriptive, qualitative research conducted through semi-structured interviews with professionals from the nursing team of a hospital in São Paulo State. Results: Th e main reason cited for the occurrence of these accidents was the lack of attention on the care. As main strengths of notifi cation were cited its importance as a means of information and legal support and how weaknesses the fear of reprisals who notifi es and the bureaucratization of the notifi cation process. Discussion and conclusion: Th e process of reporting the working sharps injuries has great relevance and divergence among nursing workers. In this consolidation, educational activities together with the development of a post-exposure protocol assistance are key strategies for its effi ciency and eff ectiveness.

Keywords: Occupational accidents. Nursing. Occupational accidents registry.

1 Enfermeira, Universidade Paulista.

2 Enfermeiro, Mestre em Enfermagem Saúde do Adulto (EEUSP), Professor Adjunto da Universidade Paulista (UNIP). 3 Enfermeira, Doutora em Enfermagem (EEUSP-RP), Professora Adjunta da Universidade Paulista (UNIP).

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INTRODUÇÃO

Durante o desenvolvimento da assistência à saúde os trabalhadores de enfermagem se expõem a inúmeros riscos ocupacionais inerentes a sua prática, sendo a classe profissional da saúde a que mais se acidenta no trabalho(1-4).

O acidente de trabalho é definido como aquele que decorre do exercício do trabalho, gerando lesão corporal que pode levar à morte, perda ou diminuição (transitória ou permanente) da capacidade funcional(1,3,4). Esse tipo de acidente

tem relação com os riscos ocupacionais, elementos presentes no ambiente de trabalho e que podem causar danos ao corpo do trabalhador(2).

Na saúde, estes riscos são identificados em decorrência do próprio processo de trabalho, sendo que, para minimizar o seu efeito e prevenir a ocorrência de acidentes, as organizações devem se preocupar com diversas medidas de proteção à saúde do trabalhador(1-4).

Na enfermagem, o maior risco de acidentes de trabalho são os acidentes com materiais perfurocortantes, resultantes de picada de agulha, corte por lâmina ou caco de vidro, objetos que podem estar potencialmente contaminados pela presença de sangue, entre outros fluídos corpóreos(3). Estas exposições ocupacionais a

objetos potencialmente contaminados com materiais biológicos representam um sério risco aos profissionais de saúde podendo ocasionar sérios danos à saúde destes trabalhadores no que diz respeito à transmissão ocupacional de patógenos, causando graves infecções(4).

É necessário, portanto, realizar avaliação rigorosa acerca do acidente, investigando e registrando o tipo de exposição, pois diferentes são os graus de risco de contaminação para certas doenças e, consequentemente, diferentes também são as condutas recomendadas no pós-acidente(3).

A Norma Regulamentadora do Ministério da Saúde sobre Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Assistência à Saúde (NR 32) determina que, além de medidas de prevenção e assistência pós-exposição, esses acidentes sejam

notificados imediatamente ao responsável pelo local de trabalho, ao serviço de segurança e saúde do trabalhador e à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), como forma de monitorar o evento(5).

No entanto, em vários hospitais brasileiros, é observada a inexistência de dados sistematizados sobre a ocorrência destes acidentes de trabalho impedindo conhecer de fato a real magnitude do problema, o que dificulta a análise concreta de dados estatísticos referentes ao agravo tanto no nível institucional quanto no governamental (3,6).

É sabido que apenas números não bastam para que diminuam o acontecimento destes acidentes com perfurocortantes por exposição biológica. Contudo, estes dados auxiliam na busca dos fatores causais e na criação de políticas de prevenção e promoção da saúde do trabalhador, colaborando no planejamento de ações e consequente segurança para a saúde do trabalhador(7).

Diante de tal situação, foi proposto um estudo sobre a atual realidade dos trabalhadores de enfermagem frente à notificação de acidentes com perfurocortantes, que teve como objetivos: 1) perceber a importância desta notificação para a equipe de enfermagem, identificando fatores que beneficiam ou bloqueiam este processo; 2) analisar o reflexo das atividades educativas para a obtenção de dados e planejamento de ações para a segurança ocupacional na visão de uma equipe de enfermagem.

MÉTODO

Estudo descritivo, exploratório, com abordagem qualitativa para explicitação da realidade buscada, já que tal fenômeno só pode ser medido pelo relato da experiência dos próprios atores que o vivenciaram(8).

O estudo aconteceu em uma unidade de clínica médica de um hospital público do interior do Estado de São Paulo que é referência para emergências e urgências. A unidade conta com 33 leitos e dispõe de 49 profissionais de enfermagem para atender pacientes em situações clínicas

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crônicas e agudas. Esta unidade foi escolhida, pois, segundo dados da Unidade de Saúde do Trabalhador da instituição, este é o setor que possui a maior incidência de acidentes de trabalho com perfurocortantes.

Foram incluídos no estudo todos os profissionais de enfermagem da unidade, atuantes há mais de um ano na instituição, de quaisquer dos três turnos de atendimento, que demonstraram interesse em participar do estudo através da assinatura de termo de consentimento livre e esclarecido. Foram excluídos profissionais que estavam de férias ou afastados para tratamento de saúde.

A coleta de dados ocorreu no mês de setembro de 2012 através de entrevista presencial gravada, sendo guiada por um questionário semiestruturado que encontrava-se dividido em duas partes: uma composta de questões fechadas para caracterização da amostra; e outra com questões abertas que interrogou sobre causas dos acidentes de trabalho com perfurocortantes e procedimento pós-exposição; pontos positivos e negativos da notificação destes acidentes; e atividade educativa focada nos acidentes ocupacionais. Foram entrevistados 12 profissionais de enfermagem, a amostragem cessou no ponto de saturação, onde as respostas/sentimentos mostraram-se semelhantes e/ou repetitivos.

Primeiro foi realizada uma caracterização da amostra. Posteriormente, as entrevistas foram transcritas e submetidas a análise temática, constituindo unidades de significado(8), que

possibilitou sua subdivisão em três categorias pela semelhança de pensamentos e expressões: Categoria 1: “A Ocorrência dos Acidentes de Trabalho e o Procedimento Pós-Exposição”; Categoria 2: “Pontos Positivos e Negativos da Notificação dos Acidentes de Trabalho”; e Categoria 3: “A Atividade Educativa para a Notificação de Acidentes de Trabalho”.

O projeto de pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê de Ética da referida instituição, com aprovação pelo parecer nº 013/2012 em 24 de setembro de 2012. As falas

dos sujeitos foram identificadas por letras e números, de forma a garantir o sigilo e anonimato dos entrevistados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O perfil da equipe de enfermagem pesquisada demonstrou a existência de representantes de todas as categorias profissionais. Houve predominância do sexo feminino e da faixa etária entre 20 e 40 anos. A maior parte dos entrevistados (66%) concluíram nos últimos 10 anos seu curso de formação em enfermagem, atuando somente na instituição pesquisada (75%), há menos de 1 ano (50%) (Tabela 1).

Tabela 1: Caracterização do perfil do profissionais de enfermagem.

Campinas, 2012. Função no Setor n (%) Enfermeiro 4 33,3 Auxiliar de Enfermagem 7 58,3 Técnico de Enfermagem 1 8,3 Sexo Masculino 3 25,0 Feminino 9 75,0 Faixa Etária De 20 a 30 anos 3 25,0 De 31 a 40 anos 6 50,0 De 41 a 50 anos 2 16,7 Acima de 50 anos 1 8,3

Possui outro Emprego

Sim 3 25,0 Não 9 75,0 Tempo de Formação De 1 a 5 anos 3 25,0 De 6 a 10 anos 5 41,7 De 11 a 15 anos 1 8,3 Há mais de 15 anos 3 25,0

Tempo de Trabalho na Instituição

Menos de 1 ano 6 50,0

De 1 a 5 anos 3 25,0

De 6 a 10 anos 1 8,3

Mais de 10 anos 2 16,7

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Categoria 1: A Ocorrência dos Acidentes de Trabalho e o Procedimento Pós-Exposição

No contexto analisado, os entrevistados apontaram como principais causas dos acidentes com perfurocortantes a falta de atenção e/ou descuido do profissional no desenvolvimento de técnicas e procedimentos, como mostram os trechos a seguir:

[...] é um pouco de falta de atenção do profissional. Já tem orientações e acredito que mesmo assim as pessoas ainda são muito desatentas. (E2)

[...] isso é mais é um descuido da enfermagem [...] às vezes a gente faz as coisas, não presta muita atenção [...] eu acho que é mais uma falta de atenção nossa. (E10)

Estudos mostraram que itens de desatenção ou descuido do profissional aparecem, com elevado percentual, como fatores causais destes acidentes. Muitos profissionais de enfermagem possuem carga de trabalho extensiva, em virtude da baixa remuneração, tendo que trabalhar longas jornadas, seja em seu domicílio ou em outras ocupações, o que aumenta seu déficit de atenção e eleva o risco desta ocorrência(1,4,9,10).

Inúmeros fatores podem ser atribuídos como causas dos acidentes com perfurocortantes, que vão deste a estrutura física da unidade até o próprio desenvolvimento do processo de trabalho. Contudo, a identificação das principais causas desta ocorrência é um fator basilar inicial para que métodos eficazes de prevenção sejam pensados e implantados(11,12).

Deste modo, a conduta pós-exposição com registro da ocorrência é um dado fundamental para o diagnóstico situacional e direcionamento de ações preventivas. Entretanto, muitas organizações afirmam que seus trabalhadores desconhecem ou mesmo não se importam com tal registro, demonstrando desinteresse pelos aspectos epidemiológicos ou legais envolvidos nesta situação(13).

No cenário avaliado, os entrevistados afirmaram conhecer o protocolo pós-exposição,

demonstrando ciência do procedimento a ser realizado, conforme evidenciam os trechos a seguir:

[...] a gente tem um informativo. Sobre as etapas [...] a serem seguidas após o acidente de trabalho. (E4)

[...] a gente vai até o pronto socorro [...] e faz todos os encaminhamentos. (E8)

No entanto, esta não é uma realidade unânime. Alguns profissionais apontam desconhecimento do protocolo pós-acidente:

Dessa instituição eu não conheço. (E3) [...] eu não conheço por que eu nunca fiz, eu nunca tive um acidente de trabalho.(E10)

Ainda assim, existe um reconhecimento da importância da estruturação do protocolo:

[...] tem que ter ajuda, auxílio de outra pessoa pra ta orientando [...] (E4)

[...] tem que ser feito, que é correto. Nós deveríamos ter um acompanhamento. Deveria de ter alguém pra poder acompanhar no caso quem se acidentou. (E8)

Conforme determina a lei, uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) deve ser emitida no pós-acidente como direito do trabalhador, direcionando cuidados imediatos que devem ser prestados com vistas à prevenção de danos decorrentes do acidente de trabalho, através de rigorosa avaliação da ocorrência, investigação da exposição e do risco de contaminação, a fim de registrar o evento e recomendar adequadas condutas no pós-acidente(1,4,11,13,14).

Todavia, não compete às instituições somente instituir estes protocolos. É necessário que sejam amplamente difundidos entre os trabalhadores como estratégia de estímulo a busca por assistência pós-ocorrência, reduzindo a subnotificação deste evento(1,3,9,11).

A notificação do acidente através de emissão da CAT deve ocorrer sempre após a exposição

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ocupacional. Este documento é um meio de informação para amparo legal do trabalhador e empresa, garantindo que seus direitos sejam resguardados. Assim, o reconhecimento de sua importância pelos trabalhadores é um primeiro passo para promover cuidados de qualidade ao trabalhador acometido por acidentes com perfurocortantes, assegurando que este processo seja estabelecido e o registro esteja protegido(1,4,11,13,14).

Categoria 2: Pontos Positivos e Negativos da Notificação dos Acidentes de Trabalho

Compreendendo melhor os pontos positivos da notificação dos acidentes com perfurocortantes, os profissionais de enfermagem reconhecem esta como uma ferramenta estratégica para obtenção de informações na tomada de decisão dos administradores, conforme segue:

[...] ter dados estatísticos, sobre quantos por cento que ocorreu [...] de acidente de trabalho, pra que você possa mover ações [...] preventivas pra que os acidentes diminuam ou acabem... (E11)

É uma maneira de fazer estatística. [...] fazer uma avaliação de quais são os setores que têm mais [...] e daí ta identificando o porquê, se é falta de material, se é falta de capacitação [...], se ta trabalhando muito. (E6)

Não há como planejar medidas de correção e prevenção dos acidentes sem nem mesmo saber onde, como e por que estes acidentes ocorrem. Assim, torna-se necessária esta obtenção de dados para o estabelecimento de políticas cada vez mais eficientes e eficazes(9,11).

Esta visão apoia o princípio da aquisição de informações para a promoção de ações. A partir do conhecimento da realidade dos acidentes na instituição será possível traçar um plano de melhorias focado nas causas principais desta ocorrência, com análise do cenário, dos episódios, e caracterização dos profissionais que mais se acidentam, favorecendo melhorias para a segurança do trabalhador(3,11).

Os profissionais também consideram como outro ponto positivo desta notificação o significado legal da mesma, pois julgam importante realizá-la para obterem algum respaldo jurídico frente à ocorrência:

A importância é que você tem um respaldo [...] (E5)

[...] é uma proteção pra gente. É uma segurança. Eu acho que tem que notificar, por simples que seja, tem que notificar. (E7)

Como já discutido, a notificação através da CAT é um direito do trabalhador, e antes da obtenção de dados ela é um registro que garante que os benefícios assistenciais ao profissional acidentado estejam protegidos conforme pressupõe a legislação vigente(13).

Contudo, apesar da maioria dos profissionais serem a favor da notificação e não enxergarem maiores dificuldades que impeçam sua realização, reconhecendo, portanto, sua importância, em algumas falas também foram destacados fatores que podem influenciar negativamente o processo, como pode ser visto nos relatos a seguir:

[...] alguma pessoa que teve o acidente ficasse exposta. Eu acho que o único ponto negativo seria isso, em relação a expor o funcionário que foi contaminado por aquilo. (E3) Às vezes pode sofrer uma represália da equipe, as próprias pessoas colegas da enfermagem pode ta com preconceito, olhar torto pra pessoa porque sabe que ela teve algum acidente. (E11)

A literatura nos mostra que a não notificação dos acidentes ainda é uma realidade vivenciada por muitos profissionais da enfermagem, onde a subnotificação ocorre muitas vezes devido ao constrangimento do trabalhador em expor que ele cometeu um erro técnico, por medo de represálias, embora este conheça todos os riscos potenciais desta subnotificação(6,15).

É imperativo que as instituições, através de suas comissões de prevenção de acidentes, estimulem um processo reflexivo sobre a seriedade

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desta notificação, estimulando uma cultura de informação que busca primordialmente a segurança do trabalhador e a qualidade da assistência à saúde.

Entretanto, não é somente por constrangimento e medo que os profissionais se afastam da notificação, a burocratização do processo no pós-exposição também foi citada como situação que pode afastar o trabalhador da busca por seus direitos de assistência.

Fluxogramas de atendimento ao trabalhador pós-exposição devem ser pensados de forma a estimular a procura por assistência e intensificar o processo de notificação. Situações de desrespeito ao profissional acidentado, limitando e/ou excluindo seu acesso aos benefícios, contrariam princípios doutrinários do modelo de saúde vigente no país, além de configurar condição de cidadania invertida, posição em que o cidadão ocupa qualidade de não cidadão perante o estado de direito em que vive(16).

A construção de protocolos claros, e cada vez mais eficientes, dando prioridades ao trabalhador que sofreu um acidente, pode se tornar um mecanismo de estímulo à notificação favorecendo a adequação das normas e a adesão ao processo.

Categoria 3: A Atividade Educativa para a Notificação de Acidentes de Trabalho

As atividades educativas são frequentemente apontadas como fator de prevenção de acidentes de trabalho por perfurocortantes, sendo tática de estímulo à notificação, favorecendo o reconhecimento do fenômeno em questão pelo trabalhador(9).

Os entrevistados afirmaram a existência destas atividades educativas na instituição pesquisada:

[...] é orientado o tempo todo com relação ao acidente de trabalho. Eles deixam bem esclarecido isso. (E2)

Tem, ontem teve uma. Teve a CIPAT ontem [...] a semana de prevenção de acidente de trabalho. (E12)

O enfermeiro, como educador e gerenciador de risco, possui um papel fundamental como orientador das ações preventivas a fim de conscientizar sua equipe sobre os riscos de acidente de trabalho inerentes a sua prática profissional. Neste âmbito, as atividades educativas colaboram com o esclarecimento e enfatizam o valor da notificação e do acompanhamento pós-acidente de trabalho(17).

Nesta perspectiva, os profissionais e serviços de saúde têm a responsabilidade de estabelecer processos de educação permanente, com vistas a orientar, fiscalizar e propor mudanças significativas para a equipe de saúde, proporcionando um ambiente de confiança e estabilidade para um atendimento com segurança(18).

No entanto, apesar da existência de atividades educativas, alguns profissionais destacaram a falta de periodicidade das mesmas:

Nesses dois anos que eu entrei teve [...] uma vez e só [...] quando a gente inicia. Fora isso [...] a gente não teve nenhuma capacitação aqui. (E4).

Raramente tem algum tipo de treinamento sobre isso, especificamente sobre isso. (E9)

Outras falas afirmaram a ausência de práticas educativas no cenário em estudo:

Não, aqui não existe. Eu quando entrei mesmo, o que eu sei de base foi das outras instituições que eu trabalhei. [...] Mas aqui, particularmente, não tem nada. (E3). Se tem, eu nunca vi nenhuma. [...] nunca assisti, às vezes [...] a gente é orientado pelo nosso enfermeiro do setor, mas palestra eu nunca, nunca tive não. (E10)

A percepção da ausência de atividades educativas foi mais frequente entre os profissionais do período noturno.

Faz tempo que eu não vejo nenhuma, mas também to a noite, quem fica a noite fica meio esquecido em algumas coisas. (E6)

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[...] A gente que trabalha a noite nós estamos meio que desprovidos de palestras. Porque o noturno já e meio trabalhoso […] (E8)

As capacitações são importantes e sua execução de forma permanente, com ampla divulgação e disseminação entre todos os trabalhadores, é de fundamental importância para a uniformização de práticas.

As normas organizacionais são apontadas em estudos como um ponto desfavorecedor de satisfação de profissionais de enfermagem, principalmente os do noturno. Assim, não basta apenas fomentar um processo educativo, mas este deve contemplar planejamento para sua efetivação, divulgação e avaliação, buscando envolver todos os trabalhadores alvos da prática(19,20).

Além do mais, estratégias de incorporação dos trabalhadores do noturno devem ser sempre pensadas para sua inserção nestas ações e nas demais atividades oferecidas. Deste modo, com uma prática extensiva e periódica, todos os profissionais de enfermagem sentir-se-ão incluídos nas ações da instituição de modo a contribuir com todo o processo(19,20).

CONCLUSÃO

Os resultados desta pesquisa possibilitaram ampliar a compreensão sobre o processo de notificação dos acidentes com perfurocortantes através de uma análise ampliada da visão de toda a equipe de enfermagem. Este fato permitiu captar a importância e o conhecimento de uma equipe de enfermagem sobre estas ações de vigilância e identificar lacunas para a adesão neste processo.

A busca por ampla compreensão da notificação dos acidentes de trabalho nas diversas conjunturas poderá fornecer pilares fundamentais que vão delimitar o planejamento de ações favoráveis ao processo, buscando intensificar esta prática como medida essencial para a qualidade da assistência ao trabalhador.

Este processo de notificação de acidentes de trabalho com perfurocortantes possui grande

relevância para os trabalhadores de enfermagem. Entretanto, não há como estabelecer um processo de notificação sem a elaboração de um protocolo assistencial pós-acidente que seja claro, conciso, objetivo e sigiloso, que busque a adesão dos profissionais e favoreça a formação de banco de dados, além de garantir respaldo legal aos mesmos.

Portanto, torna-se necessário o planejamento e implantação de atividades educativas abrangentes e permanentes, que procurem esclarecer dúvidas, e ressaltar a seriedade e necessidade desta prática. Assim, será possível realçar a importância da notificação e da prevenção de acidentes com perfurocortantes, além de favorecer que os profissionais expostos recebam uma assistência segura e de qualidade nas instituições de saúde.

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REVISÃO INTEGRATIVA

SAÚDE DO TRABALHADOR – PRODUÇÃO

CIENTÍFICA DA ENFERMAGEM NA

PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI

HEALTH WORKER – NURSING SCIENTIFIC

PRODUCTION IN THE FIRST DECADE OF THE

CENTURY XXI

Denise Cristina Alves de Moura 1

Rosangela Maria Greco 2

Marileia Leonel 3

RESUMO

Introdução: O desenvolvimento da saúde do trabalhador pressupõe que se tenha uma atuação multiprofi ssional e dentre as várias profi ssões destacamos a enfermagem. Objetivo: Discutir a produção cientifi ca de Enfermagem em Saúde do Trabalhador nos primeiros dez anos do século XXI, no âmbito nacional. Métodos: Revisão integrativa realizada na Biblioteca Virtual de Saúde no período de 2001 a 2010, por meio de artigos científi cos. Resultados e discussões: Identifi cados 45 artigos. Houve incremento da produção entre 2006-2010, a maior parte foi realizada por pesquisa aplicada (80,0%) e por docentes (66,6%). Conteúdo dos artigos: 88,8% discutiram condições de trabalho; 82,2% sugeriram propostas de mudanças; 80% abordaram os riscos que os trabalhadores estão expostos; 73,3% citaram doenças e/ou agravos relacionados ao trabalho e 55,5% discutiram ações preventivas. Considerações fi nais: Há necessidade de ampliar a produção cientifi ca sobre ações preventivas em saúde do trabalhador; deve haver incremento na pesquisa dos enfermeiros sobre outras categorias profi ssionais.

Palavras-chave: Enfermagem. Saúde do Trabalhador. Pesquisa em Enfermagem. Trabalho. Condições de Trabalho.

ABSTRACT

Introduction: Th e development of occupational health presupposes that has a multi-acting and among the various professions highlight nursing. Objective: To discuss the scientifi c production of Occupational Health Nursing in the fi rst ten years of the twenty-fi rst century, at the national level. Methods: Integrative review held at the Virtual Health Library from 2001 to 2010, through scientifi c papers. Results and discussion: Identifi ed 45 articles. Th ere was an increase in output from 2006-2010, most was done by applied research (80,0%) and teachers (66.6%). Content articles: 88.8% discussed working conditions; 82.2% suggested proposals for changes; 80% have addressed the risks that workers are exposed; 73.3% cited illness and/or injuries related to work and 55.5% discussed preventive actions. Final considerations: Th ere is need to expand the scientifi c literature on preventive actions in workers’ health; there should be an increase in the research of nurses to other professional categories.

Keywords: Nursing. Occupational Health. Nursing Research. Work. Working Conditions.

1 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Faculdade de Enfermagem (FACENF) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). 2 Enfermeira. Doutora em Saúde Pública. Professora do Departamento de Enfermagem Básica da FACENF – UFJF.

3 Enfermeira. Mestre em Engenharia de Produção. Professora do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública da FACENF – UFJF.

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INTRODUÇÃO

O trabalho é um instrumento fundamental na sociedade em que vivemos, uma vez que possibilita reconhecimento social, é considerado a base da sustentação humana e ocupa um lugar de centralidade na nossa sociedade e na vida das pessoas. Além disso, possui sentidos e significados variados, que dependem das condições históricas e sociais(1,2).

Muitas modificações ocorreram no século passado e também neste século no mundo do trabalho, como o crescimento do campo científico e tecnológico, com inúmeras inovações, porém o desemprego cresce a cada dia, levando à precarização das condições de trabalho que terminam por gerar agravos à saúde tanto de origem física, quanto psíquica(3,4). Esses agravos

demonstram a complexidade que permeia a análise da relação entre o processo saúde-doença e o trabalho(5).

O campo da saúde do trabalhador atua nas relações de produção-consumo e no processo saúde-doença de indivíduos, coletividades e trabalhadores de modo especifico. Nos dias de hoje, quando se fala em atenção à saúde do trabalhador, o que se propõe é intervir nas relações entre o trabalho e a saúde, promovendo e protegendo a saúde dos trabalhadores através das ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de trabalho, dos agravos à saúde do trabalhador e da organização e prestação de assistência a estes, compreendendo procedimentos de diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada no Sistema Único de Saúde (SUS)(6).

A saúde do trabalhador é um campo de atuação multidisciplinar e multiprofissional, pois conta com o corpo de conhecimento de várias disciplinas para compreender seu objeto de estudo, desenvolvendo a interligação de diversos saberes e práticas, além de congregar o trabalho de vários profissionais. Dentre essas profissões, destaca-se a enfermagem que é imprescindível para este campo de atuação(7).

O objeto do trabalho da Enfermagem é o cuidado a indivíduos e grupos sociais, apreendido progressivamente na formação profissional, com a finalidade de promover à saúde integral do ser humano. Portanto, faz-se necessária a instrumentalização desses profissionais para a execução de ações voltadas à promoção e à proteção da saúde, com vistas a reduzir as morbimortalidades decorrentes das ações produtivas empregadas no trabalho. Assim, o enfermeiro, ao prestar o cuidado em saúde, passa a atuar na manutenção de condições de trabalho seguras e saudáveis(8).

Frente a estas considerações, torna-se importante e pertinente realizar uma pesquisa de revisão bibliográfica integrativa para identificar o que está sendo produzido em relação à saúde do trabalhador pela enfermagem, analisando quem são os sujeitos envolvidos e quais agravos predominam, com a finalidade de esclarecer as seguintes questões norteadoras: os pesquisadores têm demonstrado preocupação em relação às condições de trabalho? Há propostas de melhoria destas condições? Os artigos buscam estudar os riscos que os trabalhadores possam estar expostos? Há estudos sobre doenças ou agravos relacionadas ao trabalho? Existem pesquisas que relatam ações preventivas relacionadas à saúde do trabalhador?

Assim, o objetivo deste trabalho é discutir a produção cientifica de Enfermagem em Saúde do Trabalhador nos primeiros dez anos do século XXI, no âmbito nacional.

MÉTODO

A metodologia empregada neste estudo é a Revisão Integrativa da Literatura, este é um método de pesquisa que utiliza a prática baseada em evidências. Assim, tem sido considerada um instrumento indispensável no campo da saúde, pois sintetiza as pesquisas disponíveis de um assunto em questão e permite o direcionamento da prática fundamentando-se em conhecimento científico(9).

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Para realização deste estudo foram utilizadas todas as etapas previstas da revisão integrativa: identificação do tema e elaboração da pergunta norteadora, busca na literatura com critérios de inclusão e exclusão definidos, definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados por meio de uma ficha bibliográfica previamente construída, coleta de dados propriamente dita, avaliação com análise crítica dos estudos incluídos na revisão, discussão dos resultados, apresentação da revisão integrativa.

Para alcançar o objetivo proposto, foi realizado um levantamento bibliográfico retrospectivo de 2001 a 2010, por meio do banco de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando os descritores: enfermagem e saúde do trabalhador. A escolha desta data se justifica por ser um estudo que revela um panorama da produção científica da enfermagem sobre saúde do trabalhador na primeira década do século XXI. Assim, verificamos o que foi publicado em relação à temática neste inicio de século, o que poderá no futuro contribuir para avaliação e acompanhamento do desenvolvimento deste campo de conhecimento.

A escolha da BVS se deve ao fato de ser este um dos mais importantes e abrangentes índices da literatura científica, a qual contempla importantes bancos de dados da área da saúde, como o Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), o Scientific Electronic Library Online (Scielo) e o National Library of Medicine’s (Medline), dentre outros.

Foi realizada uma leitura dos resumos das publicações sendo utilizados os seguintes critérios de exclusão: artigos científicos publicados antes de 2001 e após 2010, os não pertinentes ao assunto e os repetidos. Os seguintes critérios de inclusão foram: artigos científicos que descrevessem situações brasileiras ou que tivessem sido publicadas por estrangeiros em revistas nacionais e publicações que descrevessem situações latino-americanas, nos anos de 2001 a 2010.

Após a leitura dos resumos, com consequente discernimento dos artigos de interesse, foi realizada

a leitura dos artigos na íntegra e preencheu-se uma ficha bibliográfica previamente elaborada, com os seguintes tópicos: autor, título, tipo de publicação, local da publicação, mês e ano, categoria profissional e área de atuação dos autores, número de autores, sujeitos da pesquisa, resumo e objetivo do artigo. Na segunda parte os seguintes tópicos foram extraídos do conteúdo dos artigos selecionados: riscos a que os trabalhadores estão submetidos, condições de trabalho, proposta de mudanças sugeridas para as condições de trabalho, doenças ou agravos relacionados ao trabalho e ações preventivas.

No que se refere aos aspectos éticos, vale ressaltar que não houve conflito de interesses para a realização desta revisão da literatura e a mesma não foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa, pelo fato da metodologia empregada ser uma pesquisa bibliográfica.

RESULTADOS

Inicialmente, ao utilizar os descritores enfermagem e saúde do trabalhador, obtivemos 2877 resumos. Ao incluir somente os resumos do idioma português este número decresceu para 512, a seguir selecionamos apenas os textos completos e assim obtivemos 260 resumos, destes 225 eram artigos científicos. Posteriormente, refinando a pesquisa, ao usarmos como limite o termo “humanos” encontramos 124 resumos. A seguir utilizamos como assunto principal “saúde do trabalhador” e obtivemos um total de 66 artigos. Destes apenas 56 eram do período pesquisado (2001-2010), porém apenas 45 artigos científicos estavam enquadrados na temática pesquisada.

Com o levantamento realizado, encontramos 45 artigos relacionados ao objeto de pesquisa os quais foram distribuídos entre os periódicos investigados e os anos de publicação. Verificou-se que a Revista de Enfermagem da Escola Anna Nery (31,1%) seguida pela Revista Latino-Americana de Enfermagem (11,1%) constituíram-se os principais meios de divulgação

(20)

dos trabalhos relacionados à temática Saúde do Trabalhador. O maior número de estudos publicados foi referente ao período de 2006-2010 (82,0%), sendo que o ano com maior número de publicações foi 2007 (22,2%) enquanto em 2003 não houve nenhuma publicação do assunto.

No que diz respeito à qualificação dos autores, identificamos que os docentes estão entre os que mais publicaram (n=30, 66,6%). Outro dado pesquisado foi em relação ao número de autores, sendo possível perceber o interesse dos autores em desenvolverem trabalhos em grupos, uma vez que todos trabalhos foram realizados por pelo menos dois autores.

Em relação às categorias dos artigos, tem-se que os de pesquisa (n= 36, 80,0%) predominaram em relação aos demais, sendo que sete (15,5%) foram artigos de revisão, um (2,2%) artigo de reflexão e um (2,2%) estudo teórico.

De todos os artigos pesquisados (pesquisa, revisão bibliográfica, reflexão e estudo teórico), 38 (84,4%) tiveram como sujeitos ou assunto de interesse a equipe de enfermagem. No entanto apenas dois estudos tiveram como sujeitos os trabalhadores da saúde (4,44%), um estudo os costureiros industriais (2,22%) e um artigo os trabalhadores do Tribunal Regional do Trabalho (2,22%). Além desses, dois artigos tiveram como sujeitos os estudantes de enfermagem (4,44%) e um artigo os estudantes de odontologia e enfermagem (2,22%). Outro dado encontrado foi que estes estudos caminham mais na direção da Saúde do Trabalhador (53,4%) do que da Saúde Ocupacional (46,6%).

Na segunda parte desta pesquisa procurou-se elucidar as questões norteadoras, por meio da análise dos conteúdos dos artigos, como: riscos que os trabalhadores estão submetidos; condições de trabalho; propostas para a melhoria destas condições; doenças ou agravos relacionados ao trabalho e ações preventivas relacionadas à Saúde do Trabalhador. A tabela 1 ilustra o número de artigos e a porcentagem destes, com os enfoques acima considerados.

Tabela 1: Distribuição quanto ao conteúdo dos artigos.

Conteúdo dos Artigos Número de artigos % em relação à 45 artigos*

Condições de trabalho 40 88,8

Propostas de mudanças sugeridas 37 82,2

Riscos 36 80,0

Doenças ou agravos relacionados

ao trabalho 33 73,3

Ações preventivas 25 55,5

* O número total de conteúdos dos artigos encontrados é superior ao número de artigos, pelo fato de em um mesmo artigo haver mais de um conteúdo abordado.

Fonte: Autores

Percebe-se que a maior preocupação dos pesquisadores está nas condições de trabalho (88,8% dos artigos). A maioria dos artigos que apresentaram esta temática também sugeriu propostas de mudanças (82,2% dos artigos). Os riscos que os trabalhadores estão expostos foram enfocados em 80,0% dos artigos e as doenças ou agravos relacionados ao trabalho em 73,3%. Porém as ações preventivas e de proteção à saúde do trabalhador estiveram presentes em apenas 55,5% dos artigos.

As condições de trabalho que se fizeram mais presentes foram os problemas advindos da organização do trabalho (53,3%) como o tipo de vínculo empregatício e jornada de trabalho extenuante. Já o assunto sobrecarga de trabalho esteve presente em 44,4% dos artigos pesquisados. As infrações ético-legais (2,22%) e os serviços de saúde do trabalhador terceirizados (2,22%) foram os assuntos enfocados em menor proporção nos artigos analisados.

Em relação às propostas sugeridas para a melhoria das condições de trabalho as mais citadas foram: construção de ambientes saudáveis e estrutura física (26,6%) e necessidade de ampliação ou criação de ações dos programas de saúde do trabalhador/saúde ocupacional (24,4%). As propostas que foram incluídas em menor número foram: ação dos órgãos fiscalizadores de enfermagem (2,22%) e a remuneração satisfatória (2,22%).

Em relação aos riscos que os trabalhadores estão submetidos, os riscos ergonômicos e os psicossociais foram os mais presentes (60,0%), seguidos dos riscos biológicos (44,4%). Os riscos

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físicos e químicos estiveram presentes em 28,8% e 26,6%, respectivamente. Já os riscos menos abordados foram os mecânicos (4,44%).

Das doenças e agravos relacionados ao trabalho que foram discutidas nos artigos, merece destaque o desgaste/adoecimento psíquico (53,3 %), sendo que o estresse esteve presente em 33,3% destes artigos. Já o desgaste físico foi mencionado em 44,4%. Além disso, 26,6% abordaram o assunto Lesão por Esforço Repetitivo/Distúbrio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (LER/ DORT). Já as doenças e/ou agravos menos discutidas foram a Perda Auditiva Induzida Pelo Ruído (PAIR) e o Diabetes Mellitus, com 2,22% cada um.

Dentre as ações preventivas mais citadas merecem destaque as ações focadas no trabalhador e no ambiente de trabalho com ênfase na qualidade de vida do trabalhador (24,4%). Outra ação que foi igualmente mencionada nas ações preventivas se refere ao uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) e medidas de biossegurança (24,4%). A ação preventiva que foi menos abordada se refere ao descarte de materiais perfuro cortante (2,22%).

DISCUSSÃO

De acordo com os resultados encontrados, a Revista de Enfermagem da Escola Anna Nery e a Revista Latino-Americana de Enfermagem foram os periódicos que mais publicaram artigos relativos à produção da enfermagem sobre saúde do trabalhador no período pesquisado, sendo que estes se constituem importantes veículos na divulgação do conhecimento.

Os resultados encontrados podem estar associados à tradição de um número relevante de pesquisas serem realizadas pelas universidades do Sudeste do País. Esta região possui estrutura socioeconômica que possibilita maior desenvolvimento científico e tecnológico. O destaque da produção científica especialmente no estado do Rio de Janeiro pode estar relacionado à Escola de Enfermagem Anna Nery ser a primeira

instituição do país a criar escolas profissionalizantes em Enfermagem e Programas de Pós-Graduação em Enfermagem, o que proporciona incentivo à pesquisa e significativa produção científica(10).

Além disso, os periódicos são avaliados por um sistema denominado Qualis, fornecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES), que é um conjunto de procedimentos utilizados por este órgão para classificar a qualidade da produção científica dos programas de pós-graduação. A classificação das revistas acima citadas para a área da Enfermagem são: Escola Anna Nery Revista de Enfermagem – B1; Revista Latino-Americana de Enfermagem – A1, demonstrando boa qualidade destas, o que influencia os autores na escolha destes periódicos para divulgação de suas pesquisas(11).

O aumento da produção científica nos anos de 2006 a 2010 pode estar associado ao investimento na pós-graduação no Brasil, que resultou em sua expansão contínua por meio do aumento do número de cursos oferecidos. Como consequência do aumento do número de cursos, há o aumento do número de publicações, uma vez que é uma das exigências das agências financiadoras de pesquisa e dos cursos de pós-graduação do país(12,13).

Na enfermagem esse fenômeno da expansão da pós-graduação também se fez presente e pode ser evidenciado pelo aumento considerável do número de publicações passando de 5.194 artigos nos anos de 2007-2009 para 9.206 artigos em 2010-2012(14).

Os docentes estiveram como autores em 30 (66,6%) dos artigos analisados. Este resultado pode estar associado às exigências de publicação científica dos docentes por parte dos programas de pós-graduação, bem como à pressão das agências financiadoras de pesquisa que destinam recursos àqueles com produção científica significativa. Estes achados demonstram a necessidade de que sejam desenvolvidos meios que incentivem os enfermeiros assistenciais na participação em pesquisas, possibilitando análise crítica e reflexiva sobre sua prática(15).

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Do total de artigos analisados (45), apenas dois artigos pesquisaram trabalhadores da saúde, um costureiros industriais e um artigo trabalhadores do Tribunal Regional do Trabalho, sendo que os demais tiveram como sujeitos a equipe de enfermagem e estudantes de enfermagem/ odontologia. Através do exposto percebe-se que, como a maioria dos autores são enfermeiros, estes estão estudando predominantemente a própria categoria profissional. Há de se considerar que a complexidade das condições de trabalho destes profissionais é digna de muitos estudos, no entanto há uma lacuna nestes resultados, uma vez que o enfermeiro, ao prestar seus cuidados, lida com inúmeros outros profissionais cuja saúde também deveria ser objeto de interesse e estudos, para que os profissionais de enfermagem possam estar mais preparados para prestar assistência aos demais trabalhadores.

Dessa forma, deve haver um incentivo para que os enfermeiros, principalmente os assistenciais, busquem realizar pesquisas para compreender o processo saúde-adoecimento e as condições de trabalho de outros profissionais, possibilitando uma prática assistencial baseada em evidências.

Os artigos pesquisados caminham mais na direção da Saúde do Trabalhador (53,3%) do que da Saúde Ocupacional (46,6%). Assim, pode-se dizer que há predominância de estudos com uma abordagem mais ampla, nos quais há uma preocupação com o processo saúde-adoecimento dos trabalhadores considerando o contexto social, político, econômico e cultural(7).

Uma informação que merece destaque no que se refere ao conteúdo dos artigos é que apenas 55,5% discutiram ações preventivas e de proteção à saúde do trabalhador. Assim sendo, tais temas devem ser foco de estudos e pesquisas de modo a favorecer ambientes de trabalho mais seguros, melhores condições de trabalho e a defesa da saúde do trabalhador(7).

As condições de trabalho mais discutidas nos artigos foram os problemas advindos da organização do trabalho como o tipo de vínculo empregatício e jornada de trabalho extenuante,

seguido do assunto sobrecarga de trabalho, sendo estes um reflexo das más condições de trabalho, o que gera adoecimento dos trabalhadores e interferências no âmbito pessoal, social, profissional e familiar(16).

No tocante aos riscos que os trabalhadores estão expostos, todos os tipos de riscos à saúde foram encontrados nos artigos analisados, no entanto o risco ergonômico e psicossocial foi abordado em maior proporção, seguido do risco biológico, físico, químico e mecânico.

O risco ergonômico é derivado de posturas incorretas, de esforços físicos exagerados, e vem sendo muito abordado recentemente devido às repercussões como doenças incapacitantes que podem causar aos trabalhadores. Já os riscos psicossociais são causados pelas exigências e pressões geradas no trabalho, pelo desgaste e sofrimento emocional, exigências de produtividade e relações de trabalho(17).

O risco biológico também é muito enfocado pelos pesquisadores devido à relevância que este apresenta, como a possibilidade de um trabalhador se infectar com alguma bactéria, vírus, fungos ou protozoários presentes em fluidos corpóreos e até mesmo no ambiente de trabalho, podendo levar ao adoecimento e ao afastamento do trabalho(18).Os

riscos físicos são aqueles relacionados à temperatura, vibração, ruídos e radiações. Já os riscos químicos são representados por gases, poeiras, vapores e desinfetantes, dentre outros(17).

Das doenças e agravos relacionados ao trabalho os mais abordados foram o desgaste e adoecimento psíquico, incluindo o estresse seguido do desgaste físico. Com base nas informações apresentadas, é possível identificar que os pesquisadores têm se preocupado não só com aspectos relativos à saúde física dos trabalhadores, mas também com questões voltadas para a saúde psíquica destes.

As doenças psíquicas relacionadas ao trabalho têm se constituído como um desafio no que se refere aos cuidados direcionados à saúde do trabalhador, devido às repercussões que estas causam, expondo os trabalhadores aos desgastes

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mentais, como resultado de condições inadequadas de trabalho(19).

Em relação ao estresse, vale ressaltar que ele é responsável por inúmeras consequências sobre a saúde do trabalhador, como queixas de insônia, absenteísmo, sintomas físicos e doenças provenientes do estresse. Desta forma, torna-se necessário que os serviços de saúde do trabalhador subsidiem ações para lidar com o estresse no trabalho(20).

Ao analisar os achados nesta pesquisa e em estudos anteriores é possível dizer que a Saúde do Trabalhador envolve o estudo sobre as doenças e sua prevenção, sobre a relação com o ambiente de trabalho, considerando o contexto sociopolítico e econômico e os aspectos culturais, educacionais e psicológicos para a compreensão e intervenção nos processos de trabalho(21).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A construção do conhecimento em Enfermagem sobre saúde do trabalhador, nos dez primeiros anos do século XXI, foi evidenciada por uma produção de 45 artigos, com predominância de pesquisas aplicadas, sendo que a maior produção foi no período de 2006 a 2010 e continuando em expansão.

Tendo em vista o que foi apresentado e discutido, verificou-se que os artigos analisados apontam para uma sensibilização dos enfermeiros em relação aos fatores envolvidos principalmente com a saúde dos trabalhadores de enfermagem, a partir de pesquisas que privilegiam tanto os aspectos físicos como questões relativas à saúde mental destes.

O conhecimento produzido pela enfermagem sobre a relação entre saúde e trabalho foi predominantemente direcionado às condições de trabalho, em especial ao trabalho de enfermagem. No entanto, torna-se importante que enfermeiros realizem pesquisas voltadas também para outros trabalhadores além de sua própria categoria profissional e enfatizem outras temáticas.

Houve predominância de pesquisadores que atuam como docentes, reforçando a necessidade,

já evidenciada por outros autores, de criar estratégias para que a pesquisa possa fazer parte do cotidiano dos trabalhadores dos serviços de saúde, inclusive dos enfermeiros assistenciais. Torna-se necessário também que os serviços de saúde se preocupem em criar um banco de dados para que as informações colhidas possam ser trabalhadas e sirvam de instrumento para planejamento de ações e tomada de decisões.

Pode-se concluir que os objetivos propostos inicialmente foram alcançados e as questões norteadoras foram respondidas. É esperado que nos últimos 10 anos do século XXI seja possível encontrar investigações com realidades diferentes, com incremento de ações preventivas à saúde do trabalhador e que as lacunas do conhecimento possam ser preenchidas.

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