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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA UNIDADE EDUCACIONAL PALMEIRA DOS ÍNDIOS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL AGNIESKA MICLEANE ALVES DA SILVA

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA

UNIDADE EDUCACIONAL PALMEIRA DOS ÍNDIOS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

AGNIESKA MICLEANE ALVES DA SILVA

ENVELHECIMENTO ATIVO: UMA PROPOSIÇÃO À EFETIVAÇÃO DO DIREITO DA PESSOA IDOSA

PALMEIRA DOS ÍNDIOS - AL 2020

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Agnieska Micleane Alves da Silva

ENVELHECIMENTO ATIVO: UMA PROPOSIÇÃO À EFETIVAÇÃO DO DIREITO DA PESSOA IDOSA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de Alagoas – UFAL, Campus Arapiraca, Unidade Educacional Palmeira dos Índios, como requisito básico para a conclusão do Curso de Graduação em Serviço Social.

Orientador: Prof. Dr. Japson Gonçalves Santos Silva

PALMEIRA DOS ÍNDIOS - AL 2020

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Catalogação na fonte Universidade Federal de Alagoas Biblioteca Unidade Palmeira dos Índios

Divisão de Tratamento Técnico

Bibliotecária Responsável: Kassandra Kallyna Nunes de Souza (CRB-4: 1844)

S586e Silva, Agnieska Micleane Alves da

Envelhecimento ativo: uma proposição à efetivação do direito da pessoa idosa / Agnieska Micleane Alves da Silva, 2021.

61 f.

Orientador: Japson Golçalves Santos Silva.

Monografia (Graduação em Serviço Social) – Universidade Federal de Alagoas. Campus Arapiraca. Unidade Educacional de Palmeira dos Índios. Palmeira dos Índios, 2020.

Bibliografia: f. 59 – 61

1. Serviço social. 2. Envelhecimento. 3. Brasil. [Estatuto do idoso (2003)]. 4. Idosos -- Estatuto legal, leis, etc. 5. Idosos. I. Silva, Japson Gonçalves Santos. II. Título.

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Agnieska Micleane Alves da Silva

ENVELHECIMENTO ATIVO: UMA PROPOSIÇÃO À EFETIVAÇÃO DO DIREITO DA PESSOA IDOSA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de Alagoas – UFAL, Campus Arapiraca, Unidade Educacional Palmeira dos Índios, como requisito básico para a conclusão do Curso de Graduação em Serviço Social.

Data de Aprovação: 15/07/2020

Banca Examinadora

Prof. Dr. Japson Gonçalves Santos Silva

(Orientador Curso de Serviço Social/ Unidade Educacional Palmeira dos Índios)

Profa. Dra. Silvana Marcia de Andrade Medeiros

(Examinador interno Curso de Serviço Social/ Unidade Educacional Palmeira dos Índios)

Iris Vieira Costa

(Examinadora externa Assistente Social Técnica do Planejamento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social).

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, acima de tudo, agradeço a Deus, a luz divina que guia minha vida o qual, com tanto amor e carinho, concedeu cada conquista que obtive durante toda a minha vida e graduação.

A meus pais, Cida e Nildo, que durante todos os dias de minha vida ensinaram-me a importância de estudar. Agradeço o incentivo e o apoio que sempre recebi em todas as ações que realizei. Vocês são tudo para mim, e amo muito vocês.

À minha maravilhosa irmã, Ayrlla, que sempre esteve do meu lado em muitos momentos e frequentemente me esperava estudar para que juntas fossemos dormir. Sobretudo, durante minha gravidez e pós-parto no qual, inúmeras vezes, me acompanhou e cuidou tão bem de mim e do meu filho para que eu pudesse concluir esse estudo. Saiba que você, minha irmã, é muito importante em minha vida e sou enormemente grata por isso e por tudo oque você representa para mim!

Ao meu pequeno e amado filho, Arthur, que veio para abrilhantar ainda mais o meu caminho, me dando mais força para continuar e concluir meu trabalho. Que no futuro, filho, você se orgulhe da mãe e da profissional que me tornarei. Você é o amor da vida da mamãe!

Ao meu companheiro da vida, Anderson, meu esposo e pai do meu filho, por cada palavra de incentivo e cuidado nas vezes em que achei que não seria capaz e que não fosse conseguir. Obrigada por fazer parte da minha vida. Eu amo você!

A todos os meus familiares (avós, tios, primas, sogros) que sempre me apoiaram e deram força para que eu continuasse minha trajetória. O meu muito obrigada!

E claro, agradecer as minhas amigas, dentro e fora da graduação. À Rosana, minha amiga querida de infância e agora madrinha do meu filho, que sempre me deu apoio em todos os momentos em que precisei me incentivando e ouvindo minhas lamentações. Amo você, amiga, sem você eu talvez não tivesse conseguido. À minha outra melhor amiga da vida, Stephany, que também tanto contribuiu e fez por mim, também madrinha do meu filho. Sei que estará sempre ao meu lado, assim como ao dele, e agradeço muito por tudo! Amo você, minha amiga, saiba que você também foi importante para a concretização desse meu sonho.

Às amigas lindas e companheiras que ganhei durante a graduação, Karol, Denise, Lella, Kelly, Tatiane, Amanda e Andressa, não tenho dúvidas que sem o apoio e a amizade de vocês não teria sido fácil nossa jornada. Falo nossa, porque nós entendemos e sabemos tudo que passamos para chegar até aqui. O que me motivou diariamente foi saber que teria a companhia de vocês e que juntas nós conseguiríamos, levando tudo com bom humor e muitas

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alegrias. As correrias e problemas fazem parte e até as “dificuldades” que enfrentamos serviram como obstáculos para que no fim do caminho, ou melhor, no meio dele, pudéssemos dizer: conseguimos! Posso dizer que nossa amizade ultrapassou os muros da universidade e que vocês são muito especiais em minha vida!

À minha antiga orientadora, professora Monica, por todo carinho, respeito e cuidado comigo durante a construção de meu trabalho. Seu apoio foi essencial.

Ao meu orientador, professor Japson, que aceitou continuar me acompanhando para que, finalmente, pudesse concluir esse ciclo.

Ao Sr. Manu, responsável pelo nosso deslocamento até a unidade, todos os dias, que pacientemente nos esperava.

A todos que fazem parte da UFAL que contribuíram direta e indiretamente para concretização desse sonho. Deixo registrado o meu agradecimento.

No mais, Sempre gostei de desafios e ultrapassá-los me motivou cotidianamente a acreditar e buscar meus objetivos. Sempre procurei levar a vida com positividade, acredito que o pensamento positivo nos leva a caminhos surpreendentes. E para quem, assim como eu acredita, a fé é um dos elementos essenciais para alcançar os sonhos. Sei que é só o início e que muito ainda está por vir. Almejo ter força para seguir acreditando e realizando mais propósitos.

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“Viver é envelhecer, nada mais”. Simone de Beauvoir.

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso intitulado “Envelhecimento ativo: uma proposição à efetivação do direito da pessoa idosa” tem como finalidade compreender o envelhecimento do trabalhador brasileiro, a partir de uma concepção crítica e enquanto um processo social, além de conceitos biológicos, bem como os acessos às políticas e programas estão direcionados para a melhoria da qualidade de vida e sobrevivência desses indivíduos. Inicialmente, abordaremos as bases do desenvolvimento capitalista e a problemática do envelhecimento do trabalhador como forma de situar o objeto historicamente. Como método de pesquisa, utilizou-se o materialismo histórico-dialético de Marx (1883) buscando apreender, de forma crítica, os aspectos que envolvem e perpassam o objeto. Utilizamos como metodologia a pesquisa bibliográfica, com o auxílio teórico de artigos, livros, teses e monografias, bem como análise de dados que expressam como esse envelhecimento é situado na sociedade. Podemos observar a relevância do estudo ao analisar que a problemática de envelhecimento passou, sobretudo em meados da década de 1960, a tornar-se uma questão de política pública, o que impulsionou uma intervenção mais “direta” do Estado assimilando os aspectos históricos que tiveram relevância sobre o processo de envelhecimento no mundo e no Brasil que contribuíram para a viabilização dos direitos do idoso na sociedade. Em síntese, como as transformações enfrentadas pela sociedade em tempos de crise estrutural implicam desafios para a prática profissional do (a) assistente social.

Palavras-chaves: Problemática do envelhecimento. Capitalismo. Política Social. Estado. Envelhecimento ativo.

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ABSTRACT

The present conclusion work entitled “ACTIVE AGING: a proposition for the realization of the right of the elderly person” aims to understand the aging of Brazilian workers, from a critical conception and as a social process, in addition to biological concepts, and how access to policies and programs are aimed at improving the quality of life and survival of these individuals. Initially, we will approach the bases of capitalist development and the problem of the aging worker as a way to situate the object historically. As a research method, Marx's (1883) historical-dialectical materialism was used, seeking to apprehend, in a critical way, the aspects that involve and permeate the object. We use bibliographic research as a methodology. With the theoretical assistance of articles, books, theses and monographs, as well as data analysis that express how this aging is situated in society. We can observe the relevance of the study, when analyzing that the problem of aging started, above all, in the mid-1960s to become a matter of public policy, which impelled a more “direct” intervention of the State assimilating the historical aspects that had relevance on the aging process in the world and in Brazil that contributed to the viability of the rights of the elderly in society. In summary, how the changes faced by society in times of structural crisis imply challenges for the professional practice of the social worker.

Keywords: Problem of aging. Capitalism. Social Policy. State. Active aging.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Unidades de Federação- Probabilidade de um indivíduo de 60 atingir 80 anos

40 Figura 2 - Unidades de Federação - Probabilidade de um indivíduo de 60 atingir 80 anos

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Sistema de proteção social no Brasil: periodização e transformação (1964-1985)

Tabela 2 - Expectativa de vida aos 65 anos

30 37

Tabela 3 - Unidades de Federação- Esperança de vida aos 60 e 65 anos e tempo médio de vida aos 65 anos - 2017

38

Tabela 4 – Unidade de Federação – probabilidade de um individuo de 60 atingir 80 anos

Tabela 5 - Porcentagem da população abaixo da linda da pobreza em (2000)

39

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BPC Benefício de prestação continuada. CNI Conselho Nacional do idoso

CAPS Caixas de Pensões e Aposentadoria CAS

DATAPREV

Coordenação de Assistência Social Empresa de Tecnologia da Previdência FHC

FPAS

FUNRURAL

Fernando Henrique Cardoso

Fundo da Previdência e Assistência Social Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural IAPS Instituto de Aposentadorias e Pensões

IPASE Instituto de pensão e Aposentadorias dos Servidores do Estado IPAMC Instituto de Pensão e Aposentadoria dos Marítimos

INSS INPS INAM INAMPS

Instituto Nacional do Seguro Social Instituto Nacional de Previdência Social Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição

Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social LBA Legião brasileira de Assistência

LOAS MPAS MDS OMS ONU OPAS ONGs PNAS PNI PCA PAT PSA PRORURAL

Lei Orgânica da Assistência Social

Ministério da Previdência e Assistência Social Ministério do Desenvolvimento Social

Organização Mundial da Saúde Organização das Nações Unidas Organização Pan Americana de Saúde Organizações não governamentais Política Nacional de Assistência Política Nacional do Idoso

Programa de Complementação Alimentar Programa de Alimentação ao Trabalhador Programa de Suplementação Alimentar

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PRONAN SINPAS SUAS SESC

Programa Nacional de Alimentação e Nutrição Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social Sistema Único de Assistência Social

Serviço Social do Comércio

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 15 2 A PROBLEMÁTICA DO ENVELHECIMENTO NA SOCIEDADE CAPITALISTA 18 2.1 O DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA E AS PARTICULARIDADES DO ENVELHECIMENTO 18

2.2 PERSPECTIVAS DA PROTEÇÃO SOCIAL À PESSOA IDOSA NO BRASIL

24

2.3 A SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRA E O DIREITO DO IDOSO 31 3 ENVELHECIMENTO ATIVO: UMA CONSTRUÇÃO DE

PRÁTICAS PARA A EFETIVAÇÃO DO DIREITO DA PESSOA IDOSA

34

3.1 O MOVIMENTO POLÍTICO E SOCIAL DA CONSTRUÇÃO DOS DIREITOS DA PESSOA IDOSA NO BRASIL

34

3.1.1 Política Nacional do Idoso 42

3.1.2 3.2 3.3 3.4 4 Estatuto do Idoso

O ENVELHECIMENTO ATIVO E A EFETIVAÇÃO DO DIREITO DA PESSOA IDOSA: CONCEITO E AÇÕES

POLÍTICAS E PROGRAMAS SOCIAIS DESTINADOS À PESSOA

IDOSA: A INTERVENÇÃO DO ESTADO E OS

CONDICIONANTES DO ENVELHECIMENTO ATIVO

O SERVIÇO SOCIAL E A “GARANTIA” DO DIREITO DA PESSOA IDOSA CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS 44 46 49 53 57 59

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso, denominado “Envelhecimento ativo: uma proposição à efetivação do direito da pessoa idosa”, tem como propósito analisar a problemática do envelhecimento do trabalhador enquanto processo social, alicerçado ao modo de produção capitalista. Para tanto, inicialmente, será situado historicamente como o desenvolvimento do capitalismo e como suas contradições refletem para abordagem desta pesquisa, e como está associado ao nosso objeto.

Desta maneira, o despertar para o presente estudo ocorreu pelo desejo em abordar outras áreas de atuação incorporadas pelo Serviço Social. Observou-se que o objeto ainda é pouco discutido no interior da academia, mesmo havendo uma demanda frequente no cotidiano das atuações desses profissionais. Por meio de um estágio na modalidade não obrigatório, realizado no Serviço Social do Comércio (SESC), na coordenação de Assistência Social (CAS) de uma unidade do município de Arapiraca-AL, em 2018, o contato com o objeto de pesquisa efetuou-se, a partir da vivência profissional no trabalho social com grupo de idosos (TSI).

Referente aos objetivos, o propósito geral do trabalho baseia-se em apontar como o envelhecimento - compreendido a partir de uma concepção crítica e enquanto um processo social, ou seja, além de conceitos biológicos – é tratado nas políticas públicas, de que forma as políticas e programas direcionam-se para o envelhecimento do trabalhador, para a melhoria da qualidade de vida e sobrevivência desses indivíduos. Quanto aos objetivos específicos, a finalidade é i) compreender o papel do Estado frente à viabilização desses programas; ii) analisar como o envelhecimento, apontado como um fenômeno social em crescimento, pode ser afetado pelo desenvolvimento do capitalismo e de suas características inerentes; iii) investigar a existência de normas legislativas que visam a “garantia” dos direitos do idoso na sociedade, atrelado também a novos conceitos, como exemplo dos termos “envelhecimento ativo”, “envelhecimento saudável” e “qualidade de vida”; e iv) apreender de que maneira esses conceitos estão sendo abordados no interior das classes sob a lógica do modo de produção capitalista.

Diante disso, a metodologia utilizada para a consolidação do estudo buscou compreender os aspectos qualitativos, bem como os quantitativos, ou seja, questões que possibilitem ir além do aparente, em busca da essência, por meio do materialismo histórico dialético de Marx (1883). Para tanto, serão utilizadas pesquisas que foram essenciais para a

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consolidação e suporte do objeto, tais como: pesquisas bibliográficas e documentais, baseadas em livros, monografias, artigos e documentos para embasamento teórico com o objetivo de ofertar respostas às questões levantadas. Realizamos, também, análise de dados quantitativos que contribuíram para a possibilidade de mensurar como ocorre esse fato, particularmente entre a sociedade brasileira, tendo como pressuposto a abordagem do objeto, por meio da perspectiva da totalidade baseada na teoria de Marx (1883). Como salienta Paulo Netto (2011),

[...] o método de pesquisa que propicia o conhecimento teórico, partindo da aparência, visa alcançar a essência do objeto. Alcançando a essência do objeto, isto é: capturando a sua estrutura e dinâmica, por meio de procedimentos analíticos e operando a sua síntese, o pesquisador a reproduz no plano do pensamento; mediante a pesquisa, viabilizada pelo método, o pesquisador reproduz, no plano ideal, a essência do objeto que investigou (PAULO NETTO, 2011, p. 22).

A partir de então, busca-se apreender a totalidade, embasada pelo método crítico desse “fenômeno” que vem crescendo nas últimas décadas do século XXI.

A relevância do objeto é demonstrada quando observamos que as projeções acerca do envelhecimento se mostram atreladas a uma transição demográfica que pode ser representada pela queda da taxa de natalidade e o aumento dos índices de longevidade. Estima-se que esse acontecimento é desencadeado desde a década de 1950, onde a média de filhos por mulher dava-se na marca de cerca de seis filhos, mas houve uma redução considerável em comparação com as décadas atuais. No Brasil, por exemplo, estima-se que esse número concentra-se na casa de dois filhos por mulher, representando uma taxa de fecundidade concentrada em apenas 1,77. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010).

Já em meados da década de 1960, o envelhecimento tornou-se uma questão de política pública, o que impulsionou a intervenção estatal. O envelhecimento da população, não só no Brasil, mas também no mundo, é um acontecimento evidente. Os impactos podem ser visualizados em todos os sistemas sociais das variadas nações, sejam essas desenvolvidas ou em desenvolvimento. Ao tomar como referência o caso do Brasil, por meio de dados e pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (2010), foi possível observar que houve um aumento significativo da longevidade no país. Constatamos o que é chamado de modificação demográfica, isto é, um aumento do crescimento da população nos níveis cultural, social e econômico.

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Nesta perspectiva, nosso trabalho divide-se em duas partes: no primeiro capítulo, pretende-se discorrer sobre os condicionantes históricos e sociais que envolvem a problemática do envelhecimento do trabalhador a partir do desenvolvimento do modo de produção capitalista, apontando quais as particularidades desse envelhecimento, não em seu aspecto biológico, mas como um processo social “afetado” pelas contradições inerentes ao desenvolvimento do capitalismo. É necessário, também, situar os aspectos históricos que perpassam de forma específica os países em desenvolvimento, em especial o Brasil, as perspectivas da proteção social ao idoso e a configuração da Seguridade Social.

No segundo e último capítulo, discutimos o envelhecimento ativo e, sobretudo, qual o perfil dos indivíduos está sendo atribuído; os princípios normativos que remetem à viabilização dos direitos do idoso (Política Nacional do Idoso – PNI/1994 e o Estatuto do Idoso/2003); o conceito de “envelhecimento ativo” como meio de efetivação do direito do idoso, as políticas e os programas; a ação do Estado para condicionar um envelhecimento ativo para todos. Por fim, é abordado como o Serviço Social tem lidado com a demanda do envelhecimento e as implicações que refletem não só na consolidação das políticas sociais brasileiras, como também no interior de outras profissões. Em particular, como tem lidado o profissional do Serviço Social dentro de um contexto de crise estrutural do capital e do aumento dos preceitos neoliberais.

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18

2 A PROBLEMÁTICA DO ENVELHECIMENTO NA SOCIEDADE CAPITALISTA

Inicialmente, para compor esta primeira parte, buscamos abordar suscintamente como se deu o processo de desenvolvimento do modo de produção capitalista e como seus condicionantes voltam-se para nosso objeto de estudo: o envelhecimento do trabalhador nesta forma de produção de riqueza.

2.1 O DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA E AS PARTICULARIDADES DO ENVELHECIMENTO

A base da dinâmica do capitalismo para Marx (1996) é a propriedade dos meios de produção. Esta propriedade, para ele, não é atribuída ao trabalho, mas mediante ao trabalho são proporcionadas as condições essenciais para a exploração dos trabalhadores. De modo que “[...] a utilização da força de trabalho é o próprio trabalho. O comprador da força de trabalho a consome ao fazer trabalhar o vendedor dela” (MARX, 1996, p. 297). Dessa forma, a posse da propriedade privada e do poder econômico devem estar sempre concentradas em poucas e objetivas mãos, ou seja, nas mãos dos burgueses. A exploração da classe oprimida (o proletariado) pela classe opressora (burguesia) constitui a principal característica desse modo de produção de riquezas.

Marx (1996) aponta que o trabalho, inicialmente, caracteriza-se por meio de um processo específico entre homem e natureza que é possibilitado pela união da força intelectual com a força manual. Paulo Netto e Braz (2006) apontam que a transformação fundamental do processo de trabalho deu-se em virtude dos resultados das ações dos homens nessa relação com a natureza e que, pela primeira vez, consentiram na produção de bens que ultrapassaram as necessidades de sobrevivência imediatas de todos. Os avanços no processo de trabalho – aperfeiçoamento dos instrumentos, desenvolvimento de habilidades e conhecimento mais “apurado” da natureza – tornou- mais produtivo, uma vez que dele agora provinham bens maiores que o necessário para o consumo e desenvolvimento de todos do grupo. Os homens, naquele momento, passaram a produzir quantidades maiores do que precisavam para sua sobrevivência e foram percebendo que a produção de maiores quantidades ultrapassaria suas necessidades imediatas. Surge, então, o chamado excedente econômico, a primeira forma de

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acúmulo de riqueza. Segundo Paulo Netto e Braz (2006, p.57) “[...] a comunidade começava a produzir mais do que carecia para cobrir suas necessidades imediatas”. Para os autores,

[...] o surgimento do excedente econômico que assinala o aumento da produtividade do trabalho opera uma verdadeira revolução na vida das comunidades primitivas: com ele, não só a penúria que as caracterizava começa a ser reduzida, mas, sobretudo, aparece na história a possibilidade de acumular os produtos do trabalho (PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 57).

Em contrapartida, ao mesmo tempo em que por um lado se teve o avanço da produção de excedentes, por outro os impactos logo foram sentidos. A produção do excedente do trabalho impulsionou, consequentemente, uma maior distribuição/divisão do trabalho entre os homens. As formas de trabalho estavam se modificando e passaram a requisitar maiores especializações. Diante disso, os bens produzidos agora seriam destinados à troca com os indivíduos de outras comunidades e não mais distribuídos comumente entre todos. Estava surgindo, assim, a mercadoria e com ela as primeiras formas de comercialização. Dessa forma, ao mesmo tempo em que se teve a possibilidade de acumular os produtos do trabalho, significando um grande avanço, foi gerado, como alternativa, a exploração dos indivíduos. Nessa possibilidade, a comunidade naturalmente tende a segmentar-se entre os que produzem os bens materiais e aqueles que somente apropriam-se dos bens que já foram produzidos. Assim, de acordo com Paulo Netto e Braz (2006, p. 57)

[...] quando essa possibilidade (de acumulação) e alternativa (de exploração) se tornam efetivas, a comunidade primitiva – com a propriedade e a apropriação coletivas que lhes eram inerentes – entra em dissolução, sendo substituída pelo escravismo.

Rompe-se com a sociedade primitiva, na qual se tinha uma produção e distribuição coletiva, e implanta-se o escravismo1, que origina as primeiras formas de exploração do homem pelo homem.

A chamada acumulação primitiva ou “originária” do capital, dessa forma, marca a transformação do dinheiro em capital, isto é, como, por meio dele, são comercializadas as mercadorias e desenvolve-se a produção de mais-valia - ou sobre trabalho extraído do trabalhador. Marx (1996) aponta que a acumulação do capital, porém, pressupõe mais-valia da produção capitalista e essa, por sua vez, a existência de massas relativamente grandes de capital e de força de trabalho nas mãos de produtores de mercadorias. De acordo Marx (1996, p. 251), todo esse processo se refere a uma espécie de “círculo vicioso” que cada vez

1 Para Paulo Netto e Braz (2006), o modo de produção escravista, ou escravismo, surgiu no Ocidente por volta 3.000 anos A.C., configurando o chamado Mundo Antigo que perdurou até a queda do Império Romano.

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pressupõe a acumulação primitiva e mesmo essa sendo anterior ao acúmulo capitalista não se torna consequência do modo capitalista de produção, mas o ponto de início.

Nessa contradição, mercadoria e dinheiro tornaram-se, desde o início do processo, meios para transformar as formas de subsistência e produção em mais capital. Essa conversão só é possível quando há a separação de dois grupos distintos detentores de mercadorias que se confrontam diretamente. Em um grupo, encontram-se os possuidores de poder, dos modos de produção, do dinheiro e dos bens produzidos, assim como as formas de adquirir força de trabalho. No outro, estão os que nada possuem: os trabalhadores “livres” que não pertencem diretamente aos meios de produção - servos escravos etc. Eles não possuem os meios para produzir e, portanto, são desprovidos de tudo, exceto de sua força de trabalho. Desse modo, para Marx (1996),

[...] com essa polarização do mercado, estão dadas as condições fundamentais da produção capitalista. A reação-capital pressupõe a separação entre os trabalhadores e a propriedade das condições da realização do trabalho. Tão logo a produção capitalista se apoie sobre seus próprios pés, não apenas conserva aquela separação, mas a reproduz em escala sempre crescente. Portanto, o processo que cria a relação-capital não pode ser outra coisa que o processo de separação de trabalhador da propriedade das condições do seu trabalho, um processo que transforma, por um lado, os meios sociais em de subsistência e de produção em capital, por outro, os produtores diretos em trabalhadores assalariados. A assim chamada acumulação primitiva é, portanto, nada mais que o processo histórico de separação entre produtor e meio de produção. Ele aparece como o “primitivo” porque constitui a pré-história do capital e do modo de produção que lhe corresponde (MARX, 1996, p. 252).

A centralidade da exploração do trabalhador, segundo Marx (1996), teve como ponto inicial a servidão que produziu tanto quanto o próprio capitalista. A busca por capital e a extração da mais-valia do trabalhador são partes essenciais dos preceitos capitalistas. O trabalhador que se encontrava na condição de escravo, nessa forma de produzir riqueza, vê-se “livre” para vender a única mercadoria que dispõe: sua força de trabalho. A continuidade dessa exploração foi apenas mudada, de feudal passou a ser capitalista. No modo feudal, como o meio de produção desencadeava-se na propriedade da terra que constituía o fundamento da estrutura social dessa sociedade, havia divisão entre possuidores de terra e poder (nobres, chamados senhores feudais) e despossuídos (os servos formados pelos chamados glebas). Diante dessa divisão, os servos recebiam uma parte do feudo2 e esse pedaço de terra era cedido para que ele produzisse e, em contrapartida, após a produção, o

2

Sobre o feudo, como informam Paulo Netto e Braz (2006, p.68) “[...] são unidades econômico-sociais desse modo de produção: base territorial de uma economia fundada no trato da terra, o feudo pertencia a um nobre (senhor), que sujeitava os produtores diretos (servos)”.

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servo restituía ao senhor feudal (proprietário da terra) por meio do pagamento de impostos e tributos obrigatórios. Tratava-se de uma relação de troca, não igualitária, uma vez que o senhor feudal detinha o poder sobre a terra e, consequentemente, do excedente produzido por seus servos que desfrutavam dos instrumentos para sua produção, implicando em inúmeros compromissos. Dessa forma, a „exploração‟ no feudalismo era condicionada pelo trabalho artesanal de produtores diretos (servos) em virtude da obrigação do servo em „pagar‟ pelo uso da terra como meio de obter a sobrevivência de sua família e, principalmente, produzir mercadorias destinadas tanto para o autoconsumo quanto para a troca.

Após a sucessão do modo de produção feudal no Ocidente, o modo de produção capitalista passou a dominar todo o mundo entre os séculos XVIII e XIX. Paulo Netto (1996) destaca que, durante a entrada do século XXI, a dominação do capitalismo pôde ser visualizada em escala global.

Certamente, quando o capitalismo atingiu determinados graus de desenvolvimento, as exigências e as contradições determinadas pelas sociedades de classes acarretaram na instauração de um novo pilar para poder administrá-los. Para dar continuidade ao ordenamento da sociedade capitalista, foi atribuído poder ao Estado3. Dessa forma, Bizerra (2016) enfatiza que o Estado não é naturalmente um produto imposto pela vida cotidiana, mas é o produto dos próprios antagonismos de classe, sendo resultado da respectiva complexidade da ação dos indivíduos que tornaram as relações sociais contraditórias e colidentes. São essas atitudes que legitimam seu surgimento historicamente.

A configuração da sociedade de classes demonstra como, por meio da propriedade privada, se determina o poder exercido pela classe social economicamente e como, por meio do Estado, essa é assegurada. Sua natureza coloca-se em assegurar que a propriedade privada seja garantida por tal classe e, apesar de aparentar certa “neutralidade” atuando na mediação desses conflitos, não existe em suas ações algo que o comprove, visto que sua intervenção está sempre pautada em favor da classe que domina e não da dominada. O Estado se configura, segundo Engels (2002, p. 215), como

[...] o Estado da classe mais poderosa, da classe economicamente dominante, classe que, por intermédio dele, se converte também em classe politicamente dominante e adquire novos meios para a repressão e exploração da classe oprimida.

Vimos como a riqueza é constituída a partir do acúmulo de excedentes e como esses são obtidos por meio do trabalho explorado. Desta forma, o que edifica a base da dinâmica no

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modo de produção capitalista concentra-se na exploração da força de trabalho e na garantia da propriedade privada dos meios de produção, tornando essa a condição essencial para sua existência.

Na produção capitalista, um grande contingente de trabalhadores “livres” para vender sua mercadoria (força de trabalho) torna-se necessário. O capitalista integra a classe que possui bens, entre eles o dinheiro, para compra de mercadorias com fins de produção: máquinas, instalações e, o principal deles, a força de trabalho.

Dentro dessa perspectiva, as particularidades do envelhecimento, nesse modo de produção, estão vinculadas ao aumento da produtividade. O idoso dedicou uma parcela considerável de sua vida para o trabalho, ou seja, boa parte de sua existência foi mão de obra explorada para o capital. Com o passar dos anos, as transformações da sociedade possibilitaram o desenvolvimento dos meios de produção, do próprio trabalho, e o uso da tecnologia (principalmente) acarretou novas exigências para o mercado de trabalho, a maior dessas, houve aumento de força de trabalho considerada “ativa”.

Teixeira (2008) diz que o envelhecimento coloca em cena todas as desigualdades vividas pelos trabalhadores ao longo de suas vidas. Assim, essa fase é marcada pela capacidade laboral para o trabalho formal, pela incapacidade mental e física, não somente pelo avançar da idade, mas por refletir diretamente nas condições de vida e trabalho que esses trabalhadores foram submetidos.

Por meio dessa condição, o idoso vê suas possibilidades esgotarem na medida em que envelhece e é colocado à margem dessa sociedade. No modelo capitalista, o envelhecimento não possibilita meios para o aumento da produção de riquezas, uma vez que o idoso não é mais considerado útil para a exploração e aumento da lucratividade do capital.

Trata-se de uma devassidão que afeta todo o conjunto da classe trabalhadora, equiparada à condição de objeto de valor. Essas implicações evidenciam o que se denominou como “fetiche da mercadoria”4

, relações reificadas e coisificadas. Assim, para o trabalhador envelhecido, o cessar de sua força para o capital coloca-o muitas vezes em condições desumanas e/ou degradantes muito abaixo da “satisfação” de suas necessidades sociais mínimas.

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Nesta proporção, para Rodrigues (2000), envelhecimento é um fenômeno multidimensional, social e individual, variando de acordo com as condições de saúde, socioeconômicas, culturais e territoriais da sociedade e dos indivíduos. Dessa maneira, o papel social que é atribuído ao idoso, nessa sociedade, tornar-se-á condição fundamental que determina seu processo de envelhecimento.

Quando o idoso é colocado à margem do mercado de trabalho, tem como alternativa a aposentadoria, que no início representa o descanso merecido pela longa jornada de exploração. Posteriormente, muda-se a direção e o idoso passa a enxergar sua “inutilidade” no seio da sociedade, levando-o, na maioria das vezes, para um isolamento e até mesmo ao adoecimento, fazendo-o perceber que sua ausência dentro do sistema não mais é considerada relevante. Outro fator que se soma à questão do envelhecimento é a redução da renda, principalmente para uma parcela considerável de idosos que vivem em condições de vulnerabilidade social, o que afeta diretamente a qualidade de vida e o acesso às políticas e programas voltados para o envelhecimento nos dias atuais.

Além disso, as dimensões que giram em torno da problemática do envelhecimento do trabalhador perpassam, de acordo com Teixeira (2008), dentro de uma dimensão dupla e associada. Por um lado, tem-se a manutenção das determinações de ordem natural do sistema, gerando improbabilidade de manter-se sem os fundos da família, como também da sociedade, que seja capaz de viabilizar um envelhecimento justo. E, por outro lado, colocam-se os condicionantes do próprio modo de produção que “despreza” essa mão de obra envelhecida que não vai ser mais significativa em termos econômicos para a rentabilidade do capital, torna-se, portanto, descartável.

As projeções que englobam o envelhecimento encontram-se muito próximas de se tornarem uma das principais transformações sociais do século XXI, ocasionando implicações em todos os setores da sociedade. Nosso estudo remete-se a observar o aumento da longevidade e as ações, programas e medidas que estão sendo incorporados como mecanismos de resposta, viabilizando um envelhecimento mais digno, na medida do possível, para todos os indivíduos nessa forma de sociedade. No próximo item, especificaremos, em nossa análise, os países em desenvolvimento, tomando como referência o caso do Brasil.

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2.2 PERSPECTIVAS DA PROTEÇÃO SOCIAL À PESSOA IDOSA NO BRASIL

Na história, a existência de políticas sociais é colocada como acontecimento que se associa ao modo de produção e reprodução capitalista, especialmente na forma com que sua expansão gerou intensas desigualdades sociais entre as classes. As contradições existentes entre a expansão do capitalismo e um crescimento considerável da pobreza acarretaram o reconhecimento da “questão social” e percebeu-se que sua consolidação é inerente ao próprio modo de produzir a riqueza.

Para Behring (2006), a generalização das primeiras medidas de Seguridade Social no modo de produção capitalista se deu durante a chamada fase tardia do capital, no pós-segunda Guerra Mundial (após 1945). Em conjunto com o enfraquecimento dos argumentos e bases materiais e subjetivas que sustentavam os liberais, que também contribuem nesse processo, especificamente ao longo da metade do século XIX e início do século XX, a autora chama atenção para dois procedimentos políticos e econômicos de grande relevância. O primeiro aponta para o crescimento do movimento das lutas operárias que passaram a ocupar grande destaque no cenário político de reivindicações dos trabalhadores brasileiros, como exemplo do parlamento. O segundo remete à centralização e concentração do capital monopolista5, demolindo a utopia liberal dos indivíduos.

Os trabalhadores tiveram enorme relevância nesse período, pois, percebendo as contradições do sistema, assumiram papéis políticos e revolucionários essenciais que destacaram seu protagonismo, auxiliando para a consolidação das primeiras normas e medidas de proteção social, em meados do século XIX. O que se encontrava era uma relação contraditória entre as classes sociais (burguesia e proletariado), pois, ambas, claramente, tinham interesses antagônicos. Dentro desta proporção, a atuação do Estado dava-se obviamente em favor da classe dominante. Assim, para Bizerra (2016, p. 95) “[...] o campo de resposta do Estado aos problemas sociais materializa-se de modo a garantir a manutenção da „ordem‟ do capital e assegurar as condições fundamentais para o exercício de dominação dos capitalistas”.

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Dessa forma, torna-se necessário exemplificar algumas características do capitalismo monopolista. De acordo com Paulo Netto (2001, p. 20), “a constituição da organização monopólica obedeceu à urgência de viabilizar um objetivo primário: o acréscimo dos lucros capitalistas através do controle dos mercados”. Os preços das mercadorias tendem a subir e, consequentemente, as taxas de lucro também acrescem; a taxa de acumulação aumenta. Outra consequência é o movimento de economia de trabalho humano que, com a introdução dos recursos tecnológicos, gera desemprego.

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Nesse sentido, em consonância com Behring e Boschetti (2011), o surgimento das políticas sociais no Brasil deu-se de forma gradual e lenta. Diferentemente dos outros países, onde já existiam, foi fruto da dependência dos movimentos de organização e pressão da classe trabalhadora, do grau de desenvolvimento das forças produtivas e das correlações de forças e composições de âmbito do Estado. Para as autoras, as sociedades pré-capitalistas não priorizavam as ações do mercado (capital) e o que se tinha dizia respeito à identificação de algumas responsabilidades de cunho social. Por outro lado, esse reconhecimento não visava assegurar o coletivo, mas responder individualmente, por meio de medidas e/ou ações aparentes que culpavam os indivíduos por estarem em determinada condição. Essas práticas eram os meios de fazer com que a ordem estabelecida continuasse a ser mantida, especialmente contra a vagabundagem6. Por meio de ações pontuais, filantrópicas e caritativas de âmbito privado, realizavam-se algumas práticas assistenciais, a exemplo da chamada lei dos pobres (Poor Law) de 1601; a Lei de Domicílio de 1662 e a Speenhamland de 1975, que tinham como objetivo manter estabelecida a ordem, por meio de medidas coercitivas que impedissem a livre movimentação de força de trabalho.

No final do século XIX, o Estado capitalista passa a assumir e a realizar ações sociais de forma mais ampla, planejada, sistematizada e com caráter de obrigatoriedade. Dessa forma, para Behhring e Boschetti (2011),

[...] por um lado, os direitos sociais, sobretudo trabalhistas e previdenciários, são pauta de reivindicações dos movimentos e manifestações da classe trabalhadora. Por outro, representam a busca de legitimidade das classes dominantes em ambientes de restrição de direitos políticos e civis (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p.79).

As primeiras introduções de políticas sociais brasileiras foram orientadas a partir da lógica dos seguros sociais em 1883, na Alemanha. Essa “novidade” na intervenção estatal, dentro de um contexto marcante da social democracia alemã do parlamento e dentro das lutas sociais, marca o reconhecimento público de que a incapacidade para o trabalho, de alguns indivíduos, era resultado de contingências (idade avançada, enfermidade, e desemprego) e deveriam ser protegidas. Outro elemento de destaque é o Estado que passou a ampliar a ideia de “cidadania” junto às políticas sociais, desfocando, assim, suas ações, que antes eram

6 Esse termo era utilizado para designar os indivíduos que estavam às margens da sociedade (miséria): os mendigos, os que não tinham trabalho e nem dispunham dos meios para suprir sua subsistência.

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direcionadas apenas para o pauperismo extremo. Esses aspectos fazem ocorrer mudanças na interpretação da relação do Estado e as requisições da classe trabalhadora7.

Foi por meio do governo do Chanceler alemão Otto Von Bismark que se instituiu o primeiro seguro saúde nacional obrigatório em 18838, em um contexto de fortes mobilizações da classe trabalhadora. As iniciativas tomaram a forma de seguro público obrigatório, destinado a algumas categorias impostas e específicas de trabalhadores, tendo como objetivo desmobilizar as lutas nascentes. As medidas compulsórias de seguro público têm como pressuposto a garantia Estatal de prestações de substituição de renda em momentos de perda da capacidade laborativa, decorrente de doença, idade ou incapacidade para o trabalho. No ano posterior (1884), cria-se o seguro contra acidentes de trabalho e o custeio desse seguro era de responsabilidade dos empregadores. O seguro destinado à invalidez e a velhice também era atribuições dos patrões e do Estado, instituído em 1889. Nesse sentido, as deliberações instauradas por Bismark originaram as primeiras formas de seguros sociais para os trabalhadores e a partir desse momento, tornou-se um dos pioneiros na criação da Previdência Social no mundo.

Dentro desse contexto, a Igreja Católica também se faz presente. Por meio de discursos de “preocupação” com os trabalhadores, de normas doutrinárias impostas que poderiam surgir tanto no presente quanto no futuro desses trabalhadores, com base na ideia de criação de um sistema de poupança para o trabalhador, o custeio do seguro dava-se por meio do salário do próprio, visando a “proteção” de eventuais riscos sociais.

Ademais, nos Estados Unidos foi instituído o New Deal por Franklin Roosevelt em meio ao preceito do Welfare State (Estado de bem estar social), com efeitos da grande depressão econômica que assolava o país desde 19299. Destaca-se a peleja contra os altos índices de vulnerabilidade social, em especial aos que mais necessitavam: idosos e

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De acordo com Bizerra (2016), o Estado gerencia as expressões da questão social ao incorporar algumas demandas de reivindicação da luta dos trabalhadores perante suas condições de vida e trabalho, protegendo, assim, o metabolismo social vigente e regulando o processo de reprodução da força de trabalho explorada no modo de produção capitalista.

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Cria-se o seguro doença, de caráter obrigatório para os trabalhadores empregados na indústria. O custeio era realizado a partir de contribuições dos trabalhadores, dos capitalistas e do Estado.

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Necessário destacar, que o Keynesianismo como uma estratégia de intervenção da economia, reitera da iniciativa privada algumas de suas funções antes exercidas com exclusividade, tinha por finalidade encontrar novas formas de manutenção da ordem do sistema reprodutivo dominante, e garantir a expansão do capital, dado o esgotamento da fase do predomínio das “livres” leis do mercado (PANIAGO, 2009).

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desempregados,10 que caracteriza o que Teixeira (2008) nomeou de dualidade política entre os que eram assistidos e os que detinham a proteção do mercado.

Já em 1941, na Inglaterra, é criado o plano Beveridge. Foi elaborado pelo Lord Bveridge e reformulado em 1946. Tinha a finalidade de criar um sistema de seguro social que viabilizasse aos indivíduos proteção contra possíveis ações que pudessem desencadear a inaptibilidade para o trabalho como, por exemplo, as consideradas indigências. Desse modo, a lógica do seguro e as medidas protetivas deveriam efetivar-se do nascimento até a morte dos assegurados. Suas peculiaridades baseavam-se na implantação da universalidade da proteção social a todos os indivíduos.

Vale destacar que os modelos adotados e/ou incorporados pelos diversos países não são os mesmos. No Brasil, por exemplo, também se difere, pois se ressalta que, diante do contexto histórico em que foi referido acima, as políticas e formas de seguros que são incorporadas apresentam características dos dois modelos: Bismarkano (alemão) e o beveridgiano (inglês) atualmente.

No período do governo de Getúlio Vargas (1930-1945), as primeiras formas do sistema previdenciário baseavam-se na tentativa de regulamentação da contradição existente entre capital e trabalho. Para Couto (2010), a regulamentação da relação capital e trabalho marcou a tônica do período. As ações criadas viabilizaram cobrir primeiramente os riscos do trabalho, logo após passaram também a incorporar demandas habitacionais, por meio de empréstimos e/ou financiamentos para os trabalhadores. Com a finalidade de dar ênfase a essa forma de política, o governo de Vargas centrou suas ações no campo previdenciário e logo no começo de sua gestão estimulou a ampliação das caixas de aposentadoria e pensões (CAPs)11, que tinham como intuito assegurar o direito a aposentadoria em virtude de invalidez ou velhice; socorro médico para o trabalhador ou membro de sua família; a obtenção de pensão ou pecúlio pelos familiares e a possibilidade de compra de medicamentos com preços reduzidos com a contribuição dos trabalhadores e dos empregadores, sem a interferência do Estado. Cabe ressaltar que as CAPS perduraram até meados dos anos 1953.

10 Destaca-se que em 1935 é instituída a lei de segurança social (Social Security Act), voltada a amparar os idosos e ao estímulo do consumo. Também nesse ano é instituído o auxílio desemprego aos trabalhadores (SILVA, 2012).

11 Em consonância com Couto (2010), as primeiras CAPS foram instituídas em 1923, baseadas na Lei Eloy Chaves que se destinava aos trabalhadores ferroviários. Sua consolidação serviu como base para a ampliação da Previdência Social no Brasil.

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No entanto, a política teve alterações nos anos seguintes. Em 1933, com a criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), com base no caráter centralizador do Estado brasileiro, como apontado por Couto (2010, p. 97), “[...] os institutos começaram a ter a característica de atuarem congregando todos os trabalhadores brasileiros no âmbito de sua competência”. Tendo como objetivo “conter” as demandas dos trabalhadores, os institutos criaram privilégios que se distinguiam das realizadas pelas CAPs. Assim, consoante com Couto (2010, p.98),

[...] essa nova estrutura previdenciária, implementada juntamente com a legislação trabalhista e sindical, formando o que alguns denominaram “tripé”, institui um padrão verticalizado de relação Estado com a sociedade civil e sacramenta o universo do trabalho como atinente à esfera de responsabilidade do Ministério do Trabalho.

Entretanto, segundo Couto (2010), foram essas ações/medidas que firmaram a iniciação de um sistema de proteção social baseado no conservadorismo meritocrático-particularista marcado por ações clientelistas, concedendo “privilégios em forma de benefícios”. Desse modo, os critérios para inclusão ou não nesses benefícios sociais eram atribuídos ao lugar ocupado pelo trabalhador e seu rendimento no mercado de trabalho.

Vale destacar que todos os instrumentos legais criados nesse período eram digeridos aos trabalhadores que se encontravam nas cidades. Somente com a Constituição de 1934 onde se decorre quais os direitos que estão assegurados aos brasileiros, foram ratificados os direitos civis em consonância com os ideários liberais e nas constituições existentes em outros países. A constituição teve duração de três anos quando, em 1937, Vargas, por meio de um regime ditatorial autoritário, implantou o que ficou conhecido como “Estado Novo”. O golpe do Estado Novo perdurou até 1945 e foi incorporado em virtude do processo de modernização que perpassava o país. De acordo com Couto (2010, p.101), “[...] a legitimação do Estado Novo foi sustentada pela criação de um projeto social de recorte autoritário, com sua ação voltada para a arena dos direitos sociais, entendidos como necessários ao processo de industrialização em curso no país”.

Por esse ângulo, indagamos como o processo de industrialização do país acarretou grandes desdobramentos nesse período. Durante a segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira mostrava-se marcada fortemente por meio de relações coloniais, primeiro com Portugal e depois com a Inglaterra, essas relações foram fundamentais para a consolidação do capitalismo industrial no país. Para Couto (2010, p. 77), “Brasil, descoberto

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em 1500 e mantido como colônia portuguesa por três séculos, incorporou, na sua organização social e, portanto, no campo dos direitos, traços marcantes da relação de dependência com o império lusitano [...]”.

A conotação do capitalismo industrial no Brasil foi estimulada pelo governo de Getúlio Vargas, que perdurou entre o período de (1930 - 1964). De acordo com Couto (2010), o governo de Vargas agrupou suas ações com o intuito de estruturar a relação entre capital-trabalho, a exemplo da criação do Ministério do Trabalho em 1930, cuja finalidade era “apaziguar” as relações entre os empregados e empregadores. Como tentativa de harmonizar os conflitos entre patrão/funcionário, criou-se um sistema corporativo, por meio de leis de sindicalização. Para a autora, é primordial o destaque nesse momento para o começo da transferência do foco agroexportador para o urbano industrial.

Com a introdução de indústrias e fábricas capitalistas, as pequenas cidades vão se tornando grandes centros urbanos. Já para Ianni (2004), no decorrer da segunda metade do século XIX, aconteceram mudanças significativas. A economia, que prosperava à base da produção de café, destinada inicialmente às importações, passa a gerir sua lógica econômica para a criação de mercadorias visando o lucro. Ianni (2004, p. 24) ainda aponta que “[...] a sociedade brasileira está apoiada numa economia produtora de mercadorias para o mercado internacional, com fundamento na utilização predominante do trabalhador escravizado [...]”, com o crescimento da urbanização e da industrialização, tanto para importações quanto para exportações advindas da manufatura. Couto (2010) pontua ainda que as condições não eram favoráveis à exportação do café, pois, com os impactos advindos da crise, o preço caiu consideravelmente no mercado internacional, o que somente beneficiou as ações incorporadas com a revolução de 1930.

Carvalho (2008) expressa que tanto a independência quanto a proclamação da república herdaram traços do escravismo, uma economia com base na monocultura e no latifúndio, e um Estado absolutista. A relação de dependência econômica do Brasil, em princípio como colônia de Portugal e posteriormente com a Inglaterra, acarretam uma entrada lenta do país no sistema capitalista de produção.

Com o aprofundamento dessa perspectiva, percebemos que a diferença em relação às duas constituições do período governado por Vargas faz menção à intervenção direta do Estado na execução dos direitos que ficaram estabelecidos nesse período, que eram dominados pelas ações do projeto econômico-social do Estado Novo. Mesmo que de forma

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incoerente, a Constituição de 1937 preservou a maioria dos direitos estabelecidos na constituição de 1934. Apesar disso, produziram mecanismos para que esses fossem cancelados caso pudessem ser consideradas contraditórias as ações do governo.

Sumariamente, os desenhos das políticas sociais do período de 1937-1945 ficaram marcados pelos contornos autoritários e de monopolizações técnico-burocráticas que tinham como finalidade executar e dar suporte às ações autoritárias do Estado. Todo direcionamento dessa forma voltava-se para prover as exigências do desenvolvimento da indústria. Anos depois, o período dos anos 1964-1985 é fortemente marcado pelas mudanças econômicas e sociais da ditadura militar pelo governo e intervenção dos militares.12

Couto (2010) pontua que o golpe militar e a forma de governo estabelecida tiveram grande incidência no campo dos direitos, mesmo que alguns documentos incorporassem a democracia e a garantia de direitos, muitos instrumentos legais foram editados nesse período, demonstrando assim intensas contradições. De forma breve, na tabela abaixo, poderemos visualizar especialmente como o sistema de proteção social brasileiro se desenvolveu dentro deste contexto.

Tabela 1 - Sistema de proteção social no Brasil: periodização e transformação – (1964-1985)

Periodização Previdência Assistência Social e programas de Alimentação e Nutrição Saúde Consolidação Internacional 1964 – 1977

1967: Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) 1971: Prorural/ Funrural 1972: Empregadas domésticas 1973: Autônomos 1974: Ministério da Previdência e

Assistência Social; Criação da Dataprev;

Criação da renda mensal vitalícia 1977: Sinpas – unificação; criação do

Fundo da Previdência e Assistência Social(FPAS) 1994: Funabem 1972: Inam 1973: I Pronam 1975: PNS 1976: II Pronam 1977: PCA, PAT 1971: Ceme (Distribuição de medicamentos) 1974: Plano de pronta ação 1976: Piass 1977: Inamps Crise e ajustamento

1982: Elevação das alíquotas de

Contribuição Social 1985: PSA

1984: Ações integradas de

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De acordo com Couto (2010, p.128) as ações de cunho social durante o período da ditadura direcionavam-se apenas para construção de “um corpo institucional tecnocrático” com intenção de responder às demandas sociais e do capital.

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conservador (1977- 1985)

saúde

Fonte: COUTO (2010, p.129).

Assim, tendo exposto os condicionantes históricos que tiveram maior influência na criação da Seguridade Social - Saúde, Assistência Social e Previdência Social13- no Brasil e no mundo, pretendemos ressaltar como o recorte dessas políticas obteve um direcionamento voltado aos idosos.

2.3 A SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRA E OS ASPECTOS DIRECIONADOS AO DIREITO DO IDOSO

A partir da Constituição Federal de 1988, as políticas sociais passam a ser reconhecidas como políticas públicas, demarcando uma nova mudança em relação ao que se tinha no contexto sócio-histórico brasileiro anteriormente14. Torna-se fundamental destacar a ampliação dos direitos sociais nesse período, a partir do reconhecimento da política de Assistência Social como uma política pública da Seguridade Social, tornando-se dever do Estado e um direito do cidadão brasileiro garantido na forma de lei constitucionalmente.

No Brasil, a Seguridade Social é organizada por meio do Ministério da Previdência Social (MPS), sendo executada pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com auxílio da Secretaria Estadual de Assistência Social, o Ministério da Saúde e o Ministério do Trabalho e Emprego. Conta também com os regimes individuais, por meio da gestão dos três entes federativos (Estados, Municípios e o Distrito federal), no qual a política de Saúde e Assistência Social pode ser direcionada pelas próprias entidades. Para a manutenção desse sistema de proteção, a Constituição Federal (1988) tem definido um modelo de junção do financiamento. Esse acordo é determinado por meio do inciso I art.195, no qual estabelece que a Seguridade Social deverá ser abarcada pelo conjunto da sociedade, por meio dos recursos decorrentes dos fundos orçamentários das políticas sociais e da contribuição social dos trabalhadores. Dessa forma, o custeio da Seguridade Social brasileira é realizado pela

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Com base na Constituição, de forma precisa, o Art.194 explicita que “a seguridade Social compreende um conjunto (integrado) de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.”. Dessa forma, a política de saúde para todos os indivíduos porta caráter de universalidade, a Assistência Social para quem dela necessitar e Previdência Social de caráter contributivo.

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contribuição dos trabalhadores e empresas, bem como pelas ações de importações de bens e serviços.

Especificamente no art. 194, a Seguridade Social se caracteriza como um conjunto integrado, fruto das ações e iniciativas dos poderes públicos, bem como da própria sociedade, uma vez que assegura o chamado triângulo da Seguridade Social: Saúde, Previdência e Assistência Social. A constituição, no que lhe concerne, traz uma nova forma de concepção dentro da política de Assistência Social brasileira, posto que é incluída no âmbito da Seguridade Social, não mais na perspectiva do favor/caridade, mas como um direito social regulamentado pela lei n° 8.74215- Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS)- instituída no mês de dezembro de 1993. Assim, a Assistência Social brasileira inicia seu trânsito para um novo campo: dos direitos sociais, da universalização, do acesso e da primazia da responsabilidade do Estado com os indivíduos (BRASIL, 2004).

Apoiado nesse pressuposto, foi a partir da promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) que os artigos 203 e 204, nessa ordem, dentro da Constituição Federal (1988), passaram a ser normalizados. A lei prevê a concessão de proventos, projetos e programas que se destinam aos idosos como, por exemplo, o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Trata-se de um benefício de caráter não contributivo, destinado para idosos com idade superior a 65 anos, que comprovem não dispor de meios de prover ou ter provida sua sobrevivência. O benefício é atribuído por meio do pagamento de um salário mínimo mensalmente pelo governo aos idosos que comprovem renda per capita familiar inferior ou igual a ¼ do salário mínimo.

Visando a promoção da autossuficiência do idoso na sociedade, foi ratificada a lei de n° 8842/94, respectiva à Política Nacional do Idoso (PNI), por meio do decreto n°1948/96. Como forma de assegurar os direitos das pessoas idosas anos depois. Em 2003, sanciona-se a lei de n° 10.741, que corresponde ao Estatuto do Idoso, vigente até atualmente. Extinta a LBA, as políticas e ações da política de assistência ficaram a cargo da Secretaria de Assistência Social. Vale ressaltar que no mesmo ano foi criado o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS).

No entanto, mesmo sendo uma condição legitimada na Constituição Federal brasileira, como dever do Estado, não implica que outros órgãos, de caráter filantrópico e/ou iniciativa privada, também não possam atuar nesse processo, dado que se destaca a expansão da

15 Foi a partir da regulamentação da Lei Orgânica da Assistência Social que os artigos 203 e 204, respectivamente, são normatizados (MENDONÇA, 2015).

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privatização e mercantilização dos serviços socioassistenciais. O modelo dessas ações pode ser visualizado atualmente em virtude da onda neoliberal expandida após os anos de 199016, no Brasil. Um exemplo dessas medidas na política previdenciária pode ser demonstrado por meio da ampliação da previdência privada; na saúde, observa-se o crescimento e a expansão e comercialização de planos privados; na assistência, tem-se o crescimento do chamado terceiro setor, que registra cada vez mais a execução de ações meramente assistenciais por meio de empresas, ONG‟s e entidades religiosas. O conjunto dessas ações remeteu a um redirecionamento da responsabilidade, ou seja, a uma transferência (do público para o privado), na qual a sociedade passa a assumir ações que deveriam ser realizadas no âmbito do Estado. A esse fato, explica-se gradativamente a criação e expansão do chamado terceiro setor17.

Desse modo, podemos perceber que a qualidade de vida se torna fundamental para um processo de envelhecimento adequado. No entanto, as desigualdades/expressões da “Questão Social”, aglutinadas com a crise estrutural18

e as transformações societárias em curso, bem como o atual formato incorporado pelas políticas sociais, colocam maiores desafios para que todos possam ter direitos iguais, oportunidades tanto de vida quanto de envelhecer dignamente.

Especialmente na política de Assistência Social, essa nova conotação, condicionada pelas “transformações” da sociedade – tanto nos âmbitos social, cultural- trazem ao cenário novas formas de assistencialismo, filantropia, com caráter minimalista – consolidando o que Paulo Netto (2012, p.202) denominou de “face contemporânea da barbárie”. Contudo, coloca-se a necessidade de compreender a totalidade social de forma estrutural, pois ela é o ponto de partida para que se faça possível compreender essas transformações e, o mais importante, a quem essas mudanças afetam diretamente e, em especial, o recorte dado ao que se refere às políticas voltadas ao idoso brasileiro e não só ele (PAULO NETTO, 2012).

16 Para Paniago (2009), o neoliberalismo pode ser representado enquanto uma reação articulada da burguesia às dificuldades expansionistas do capital. Ele se apresenta-se como um conjunto de medidas políticas, econômicas e sociais que visam tirar o capitalismo da crise e criar as condições necessárias para a recuperação da lucratividade da ordem global do capital em queda. Essas mesmas medidas intentam realizar objetivos diversos, a depender de quais interesses de classe procuram proteger.

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Trata-se de uma nomeação utilizada para a definição de instituições autônomas, ou seja, sem a contribuição financeira do Estado, que realizam ações em diversos setores da sociedade com a finalidade de “responder solidariamente” os desdobramentos que afetam a ela.

18 Segundo Mészáros (2002), trata-se de uma crise sem precedentes que incide em todas as esferas e dimensões da vida social,atingindo todo o globo.

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3 ENVELHECIMENTO ATIVO: UMA CONSTRUÇÃO DE PRÁTICAS PARA A EFETIVAÇÃO DO DIREITO DA PESSOA IDOSA

Nossa análise, neste momento, aponta as legislações que representam, atualmente, significativas conquistas em relação aos direitos do idoso. Como toda lei, possuem algumas contradições, mas são caminhos para buscar constantemente a viabilização de políticas sociais que se voltem para esse segmento. O aumento do envelhecimento vem sendo percebido de forma considerável em países em desenvolvimento, como o Brasil, e dessa forma tem exigido proporções elevadas para que esses indivíduos, ao envelhecer, possam ter possibilidades de sobreviver dignamente.

Para tanto, faz-se necessário abordar de forma sucinta as principais leis, normas e decretos que atualmente viabilizam os direitos do idoso, como também ações e conceitos voltados para a consumação de um envelhecimento ativo e saudável para todas as camadas do corpo social em favor da luta para reinserção desses idosos que se sentem colocados à margem. Dessa forma, os condicionantes históricos de maior confluência dentro desse processo serão abordados e analisados para que a reflexão sobre a demanda se desenvolva por meio de conceitos históricos.

3.1 O MOVIMENTO POLÍTICO E SOCIAL DA CONSTRUÇÃO DOS DIREITOS DA PESSOA IDOSA NO BRASIL

O envelhecimento, enquanto um processo social na vida dos indivíduos, está diretamente associado à forma como a sociedade é organizada. Nesse estudo, o foco de nossa investigação desdobra-se por meio das relações sociais estabelecidas no modo de produção capitalista. Observaremos como as questões voltadas para o envelhecimento dos indivíduos foram desenvolvidas e quais os avanços alcançados em países em desenvolvimento, efetuando uma análise da situação específica no Brasil.

No caso peculiar do Brasil,19 o ano de 1976 foi um ano de grande importância para as ações voltadas para o idoso. Por meio do Ministério da Previdência e Assistência Social

19 De acordo com Mendonça (2015), em 1973, por meio da portaria n° 3286, é regulamentada a aposentadoria por velhice pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social aos assegurados com 65 anos (homens) e 60 anos (mulheres). Em 1974, o Ministério da Previdência e Assistência Social fez modificações na portaria de n° 82 e assim amplia-se a proteção social ao segurado.

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