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Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Processo: 01007/14

Data do Acordão: 29-10-2014

Tribunal: 2 SECÇÃO

Relator: ARAGÃO SEIA

Descritores: CASO JULGADO GARANTIA HIPOTECA

Sumário: Tendo o TCA Sul determinado que a administração

tributária apreciasse as virtualidades da garantia, previamente à constituição da hipoteca, e tendo a

administração tributária declarado que aceitava a hipoteca oferecida pela executada, não pode posteriormente, sem que haja alteração das circunstâncias que o justifique, determinar o reforço da garantia, por considerar, no âmbito de reapreciação da garantia, que o valor do prédio

hipotecado não é suficiente para garantia do crédito exequendo e demais encargos.

Nº Convencional: JSTA000P18125

Nº do Documento: SA22014102901007

Data de Entrada: 18-09-2014

Recorrente: A...

Recorrido 1: FAZENDA PÚBLICA

Votação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: Acordam os juízes da secção do Contencioso Tributário do

Supremo Tribunal Administrativo:

A………, inconformada, recorreu da sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra (TAF de Sintra) datada de 22 de Abril de 2014, que julgou improcedente a reclamação deduzida contra o acto do Chefe do Serviço de Finanças de Oeiras 3 que determinou o reforço da garantia prestada por considerar insuficiente a hipoteca voluntária efectuada nos autos de execução fiscal nº

3522201201196944 para pagamento da dívida exequenda de IRS no valor de € 1.125.700,81. O recurso foi dirigido ao Tribunal Central Administrativo Sul, que por decisão de 19 de Agosto de 2014, se declarou incompetente em razão da hierarquia, entendendo ser competente este Supremo Tribunal para onde os autos foram remetidos.

Alegou, tendo concluído como se segue:

1ª A Recorrente não foi notificada, até à data do proferimento da decisão, de qualquer Contestação apresentada pela Fazenda Pública, em violação do disposto nos artigos 575°, n.° 1 e 221°, a contrario, do

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CPC, o que a impediu de exercer o seu direito ao

contraditório e de responder às excepções deduzidas pela parte contrária. Por conseguinte, todo o processado a seguir à Contestação é nulo, conforme resulta do Acórdão do Tribunal da Relação de Évora de 30 de Setembro de 2009, processo n.° 870/08.4TBSTR.E1, disponível em www.dgsi.pt por impedir o exercício do direito de defesa à Recorrente e por colocar em causa as suas garantias no processo, em violação dos princípios elementares do processo previsto nos artigos 2°, 3.° 4.° e 7° do CPC, aplicáveis ex vi artigo 2.° do CPPT. Assim, deverá ser revogada a sentença proferida e ordenada a notificação à Recorrente da Contestação apresentada pela Fazenda Pública.

2ª A decisão do Tribunal a quo padece de erro de

julgamento, por não analisar de forma correcta o Ponto 4 da matéria assente e por não proceder a uma correcta aplicação das normas tributárias ao caso concreto. 3ª A AT, depois de aceitar a garantia e notificar a Recorrente para a constituir, veio novamente aceitar a garantia, mais referindo que a mesma era insuficiente e que a Recorrente deveria proceder ao seu reforço ou prestar nova garantia idónea, sob pena da prossecução dos autos de execução.

4ª No entanto, a decisão da AT relativa à insuficiência da garantia constituída pela Recorrente contraria de forma flagrante as decisões judiciais proferidas no âmbito do processo n.° 129/13.5BESNT, nomeadamente da decisão proferida pelo Tribunal Central Administrativo Sul, de onde resulta que, no momento da pronúncia relativamente ao pedido de suspensão da execução, a AT se encontrava vinculada a apreciar a garantia oferecida, aferindo as suas idoneidade e suficiência, aceitando-a ou não, em momento anterior à sua constituição.

5ª A AT tinha todos os elementos necessários para decidir sobre a idoneidade e a suficiência da garantia antes da sua aceitação, não tendo ocorrido qualquer alteração de circunstâncias que determinasse a necessidade de

reforçar a garantia ou de prestar uma nova garantia, pelo que não tem aplicação o disposto no n.° 8 do artigo 169.° do CPPT.

6ª Assim sendo, a aceitação da garantia comunicada à Recorrente por ofício datado de 18 de Novembro de 2013 deve considerar-se definitiva e susceptível de garantir o pagamento do valor em dívida e acrescido, sob pena de se colocar em causa o disposto no artigo 60.° do CPPT.

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cautela de patrocínio se equaciona, sempre será de referir que a garantia é suficiente para efeitos de suspensão do processo de execução fiscal, porquanto se deverá

considerar que o valor de mercado deve prevalecer ao VPT apurado, para efeitos de determinação do valor dos imóveis.

8ª A interpretação do artigo 250.° do CPPT não se deve limitar à letra do preceito, devendo ter-se em linha de conta os critérios interpretativos previstos do artigo 9.° do CC, nomeadamente o sistemático e o teleológico, sob pena de se colocar em causa as garantias e direitos dos contribuintes e o princípio da proporcionalidade, nos termos 18°, n.° 2, 62.° e 266.° da CRP. Não se poderá admitir a prevalência do valor de mercado em

determinadas situações em detrimento de outras, sob pena de incongruência sistemática (cfr. artigo 12°, n.° 1 do CIMT). Também não se poderá admitir que, sendo a AT a entidade que determina o VPT e a credora, se restrinja o direito de propriedade da Reclamante, em violação do princípio da proporcionalidade, não existindo um interesse público superior que legitime a opção por um valor dos bens que não corresponde ao seu valor real (artigos 18°, n.° 2 e 266.° da Constituição da República Portuguesa). 9ª Conforme resulta do entendimento do Supremo Tribunal Administrativo, em Acórdão datado de 18 de Setembro de 2013, “este valor é o que a lei prevê como valor base a

anunciar numa venda em execução fiscal (art° 250º, n° 4 do CPPT). Porém, este montante, só por si nada significa já que os bens até podem vir a ser vendidos por valor substancialmente superior (como podem vir a ser vendidos por valor inferior)”.

“Assim, e como se concluiu no Acórdão deste STA, de 16.01.2013 — Processo n° 01294/12, uma coisa é o valor fiscal ou contabilístico dos bens, outra é o seu valor de mercado que é o que deve ser tido em conta para efeitos de avaliação dos bens. Comparando o valor apurado pela AT e o valor resultante do relatório de avaliação

apresentado pelo recorrente, desde logo se vê que a discrepância impõe alguma cautela, havendo, por isso, que tentar apurar se existiu a depreciação do valor dos bens apontada pela AT e justificativa da exigência do reforço de garantia”.

10ª Deve entender-se que, provando-se, como fez a Reclamante por via da apresentação de Relatório de Avaliação, que o valor de real do imóvel é suficiente para cobrir o valor em dívida e acrescido, não poderá deixar de se considerar este valor para aferir da suficiência da

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garantia oferecida.

NESTES TERMOS, deverá a decisão do Tribunal a quo

ser revogada, por nulidade de todo o processado a partir da Contestação, atendendo a que esta não foi notificada à Recorrente, conforme legalmente exigido.

Caso assim não se entenda, deverá a decisão ser revogada por erro de julgamento da questão jurídica controvertida, devendo julgar-se procedente a pretensão da Recorrente e, por consequência, considerar-se

suficiente e definitivamente constituída a garantia prestada pela Recorrente no âmbito do processo de execução

fiscal.

Não foram produzidas contra-alegações.

O Ministério Público, notificado pronunciou-se pela total improcedência do recurso. Entende o Ministério Público, resumidamente que a insuficiência da garantia é originária e não superveniente, de garantia que houvesse sido

prestada e tivesse determinado a suspensão da execução. Entende que o despacho comunicado a 18 de Novembro de 2013, limitou-se a admitir a garantia oferecida e só através do despacho reclamado, de 6 de Janeiro de 2014, proferido após a efectivação da hipoteca a AT se

pronunciou sobre a idoneidade da garantia, considerando a mesma insuficiente.

Cumpre decidir.

Na sentença recorrida deu-se como assente a seguinte factualidade concreta:

1-A Adm. Fiscal instaurou em 05.11.2012, processo de execução fiscal n° 3522201201196944, contra

A………, para pagamento da dívida exequenda de IRS, no valor de € 1 125.700,81 - cfr Rosto do Proc° de Execução instaurado no Serviço de Finanças de Oeiras 3 e “Certidão de Dívida” de fls 37 e 38, do proc. exe.

apenso..

2- Em requerimento dirigido ao órgão de execução fiscal recebido em 20.11.2012, a reclamante veio requerer a suspensão da execução prévia à apresentação de impugnação administrativa dos actos tributários de liquidação de imposto que determinou a instauração da execução fiscal referida supra e ao abrigo do n° 2, do artº 169° do CPPT, protestando prestar garantia no valor de € 1 081.077,81 através da hipoteca voluntária sobre o prédio

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urbano como art° 11316, da freguesia de ………, com base na avaliação por si realizada. - cfr cópia do

requerimento de fls 42 a 59 v., do Proc. Exe. apenso.

3- Em 07.12.2012, foi proferido pelo Chefe de Finanças de Oeiras 3, despacho de indeferimento do requerimento referido em 2, notificado ao interessado, o qual se dá aqui por reproduzido, o qual considera que não tendo sido prestada garantia à data da apresentação do pedido, será de indeferir a petição, não cabendo à adm Fiscal notificar o executado para prestar a mesma, sendo que apenas após a sua prestação será viável aferir da sua idoneidade e suficiência. - cfr despacho proferido sobre Parecer e Informação, de fls 62 a 63 v. e Oficio e correspondência postal de fls 64 e v., do proc. exe. apenso.

4- Em razão da decisão do T.T. de Sintra, proferida em 28.02.13, confirmada pelo TCA- Sul, por acórdão de 21.05.2013, de anulação da decisão referida supra, foi aceite a garantia prestada no bem imóvel através de hipoteca voluntária, tendo a executada procedido à

respectiva constituição e registo. - cfr Sentença e Acórdão, de fls 25 a 29 e de fls 30 a 39, respectivamente, e Oficio de fls 40, Despacho aposto sobre Parecer e Informação de fls 40 v. a 43, requerimento de fls 44 a 46, dos autos.

5- Em 06.01.14 foi proferida decisão de aceitação da garantia prestadas nos autos como idónea mas tida por insuficiente para garantir a dívida exequenda e o acrescido nos termos apurados pelos serviços, em razão do valor patrimonial tributário obtido por avaliação para efeitos de IMI do bem dado como garantia e de acordo como valor base considerado para venda, tendo-se determinado o seu reforço pela diferença ou através de prestação de nova garantia, não se determinando a suspensão da execução atento a verificação daquela insuficiência. - cfr Oficio de fls 7, Despacho aposto sobre Parecer e Informação dimanada dos serviços de fls 7 v. a 11 v. dos autos.

Nada mais se deu como provado.

Há agora que conhecer do recurso que nos vem dirigido. A recorrente suscita duas questões principais no presente recurso, uma processual e outra atinente ao erro de

julgamento da sentença recorrida.

A primeira, prende-se com a falta de notificação da

resposta apresentada pela Fazenda Pública, o que implica a violação do disposto nos artigos 575º, n.º 1 e 221º, a

contrario, ambos do CPC.

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sentença recorrida se ter aceite como boa a decisão sindicada nos presentes autos.

Quanto à primeira questão.

A questão da nulidade processual que a recorrente traz à apreciação deste Supremo Tribunal, já foi tratada no recente acórdão datado de 24/09/2014, recurso n.º 0978/14.

Aí se escreveu, na parte com interesse:

“Da violação do princípio do contraditório, por falta de

notificação do conteúdo da contestação da Fazenda Pública e da eventual nulidade da sentença.

Face às conclusões de recurso impõe-se, em primeiro lugar conhecer da invocada violação do direito ao

contraditório, já que, procedendo tal nulidade processual secundária, ficará prejudicado o conhecimento da nulidade por contradição entre os fundamentos e a decisão e do erro de julgamento imputados à decisão recorrida. Cumpre referir que não há impedimento a que essa

nulidade seja suscitada em sede de recurso, pois embora a regra seja a do conhecimento das nulidades secundárias em sede de reclamação, a deduzir no prazo geral de dez dias previsto art. 149.º do CPC, o certo é que, por força do n.º 1 do art. 199.º do mesmo Código, esse prazo tem de ser contado do conhecimento da nulidade pelo

interessado. Ora, no caso sub judice, o conhecimento da invocada nulidade só ocorreu com a notificação da

decisão, motivo por que o prazo para arguição da nulidade não se tinha ainda iniciado antes desse momento.

Como ficou escrito no Ac do Pleno da Contencioso Tributário de 6.07.2011, proferido no recurso 786/10 e publicado in WWW.DGSI.PT «as nulidades do processo anteriormente ocorridas e não sanadas, conhecidas com a notificação da sentença e às quais esta implicitamente deu cobertura, têm o mesmo regime das nulidades da

sentença (cfr. os nºs. 2 e 3 do art. 668° do CPC), dado que se tornaram também vício da mesma e causa da sua

nulidade. Devendo, por isso, ser arguidas em recurso daquela interposto – quando admissível – que não em reclamação perante o tribunal a quo.»

Vejamos, pois, se ocorre a invocada violação do princípio do contraditório.

(…)

Ora resulta do artº 195º, nº 1 do (novo) Código de

Processo Civil que, fora dos casos previstos nos artigos anteriores, a prática de um acto que a lei não admita, bem como a omissão de um acto ou de uma formalidade que a

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lei prescreva, só produzem nulidade quando a lei o declare ou quando a irregularidade cometida possa influir no

exame ou na decisão da causa.

A regra do referido normativo é a de que se a lei não prescrever expressamente que ele tem como

consequência a invalidade do acto, o vício do acto

processual só deve produzir nulidade quando dele resulte prejuízo para a relação jurídica contenciosa.

Por sua vez dispõe o artº 3º, nº 3 do Código de Processo Civil (princípio do contraditório) que o juiz «deve observar e fazer cumprir, ao longo de todo o processo, o princípio do contraditório, não lhe sendo lícito, salvo caso de

manifesta desnecessidade, decidir questões de direito ou de facto, mesmo que de conhecimento oficioso, sem que as partes tenham tido a possibilidade de sobre elas se pronunciarem”

Como ficou sublinhado no Acórdão 63/10, de 03.03.2010, da Secção de Contencioso Tributário deste Supremo Tribunal Administrativo, esta norma, introduzida pela

reforma do Código de Processo Civil operada pelo Dec.Lei nº 329-A/95, de 12 de Dezembro, e pelo Dec.Lei nº

180/96, de 25 de Setembro, «veio ampliar o âmbito tradicional do princípio do contraditório, trazendo uma noção mais lata de contraditoriedade, com origem na garantia da participação efectiva das partes no

desenvolvimento de todo o litígio, mediante a possibilidade de, em plena igualdade, influírem em todos os elementos (factos, provas, questões de direito) que se encontram em ligação com o objecto da causa e que em qualquer fase do processo apareçam como potencialmente relevantes para decisão.

Dela decorre, pois, o dever de facultar sempre às partes a oportunidade de, antes de a decisão ser proferida, se pronunciarem sobre qualquer questão que as possa afectar e que ainda não tenham tido possibilidade de contraditar, mesmo tratando-se de questões meramente de direito e que sejam de conhecimento oficioso. Só assim não será em casos de manifesta desnecessidade, por se tratar de questão simples e incontroversa.»

(…)

É certo que no processo previsto pelos arts. 276º a 278º do Código de Procedimento e Processo Tributário não está prevista qualquer resposta ou réplica à contestação da Fazenda Pública.

Porém se o representante da Fazenda Pública suscitar questões sobre as quais o reclamante não se pronunciou, nomeadamente se forem suscitadas nas respostas

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questões que obstem ao conhecimento do mérito da reclamação, ou se for oferecida prova ou suscitada qualquer questão cuja solução possa relevar para a

decisão da reclamação deverá, em regra, ser assegurada a possibilidade de o reclamante se pronunciar sobre elas (Ver neste sentido Código de Procedimento e Processo Tributário anotado de Jorge Lopes de Sousa, 6ª edição, Áreas Editora, vol. IV, pag. 312 e Acórdãos deste Supremo Tribunal Administrativo de 29.01.2014, recurso 663/13 e de 19.02.2014, recurso 870/13, in www.dgsi.pt.), como decorre do princípio do contraditório.”.

Como se surpreende da concreta situação dos autos, a Fazenda Pública contestou, remetendo para uma

informação elaborada pelos serviços da AT, sobre a qual recaiu um despacho datado de 03 de Março de 2014. Se é certo, que se pode entender, que essa informação repete de alguma forma o despacho reclamado, também é certo que deveria ter sido levada ao conhecimento da reclamante porquanto serviu de contestação, e nada nos indica nos autos que dela tenha tido conhecimento em algum momento.

E isso, é quanto basta para que se possa considerar verificada a nulidade processual, decorrente da violação do princípio do contraditório.

No entanto, como mais à frente se verá, a recorrente não virá a retirar qualquer utilidade da declaração desta

nulidade, uma vez que a pretensão de mérito será julgada procedente.

Nestes casos, fazendo apelo ao disposto nos artigos 3º, n.º 3 e 195º, n.º 1, ambos do CPC (novo), bem como aos

princípios da tutela jurisdicional efectiva e pró actione (favorecimento da decisão de mérito), não se julgará

procedente tal nulidade, uma vez que isso acarretaria uma menor segurança do direito que a recorrente pretende fazer valer em juízo.

Quanto à questão de fundo.

No essencial a recorrente alega que a decisão da AT agora impugnada viola as decisões judiciais proferidas no processo n.º 129/13.5BESNT, uma vez que, ao invés de se pronunciar quanto à idoneidade da garantia conforme lhe havia sido ordenado pelo TCA SUL, pronunciou-se em dois momentos distintos, assim entrando em flagrante contradição com tal decisão.

A matéria de facto relevante é a seguinte, que foi levada ao probatório da sentença recorrida:

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Na sequência de uma execução fiscal contra si instaurada, em requerimento dirigido ao órgão de execução fiscal recebido em 20.11.2012, a reclamante veio requerer a suspensão da execução prévia à apresentação de impugnação administrativa dos actos tributários de liquidação de imposto que determinou a instauração da execução fiscal referida supra e ao abrigo do n° 2, do artº 169° do CPPT, protestando prestar garantia no valor de € 1 081.077,81 através da hipoteca voluntária sobre o prédio urbano como art° 11316, da freguesia de ……….., com base na avaliação por si realizada;

Em 07.12.2012, foi proferido pelo Chefe de Finanças de Oeiras 3, despacho de indeferimento do requerimento referido em 2, notificado à interessada, o qual considera que não tendo sido prestada garantia à data da

apresentação do pedido, será de indeferir a petição, não cabendo à adm Fiscal notificar o executado para prestar a mesma, sendo que apenas após a sua prestação será viável aferir da sua idoneidade e suficiência;

Este despacho foi judicialmente impugnado e sobre ele veio a recair decisão do T.T. de Sintra, proferida em 28.02.13, confirmada pelo TCA- Sul, por acórdão de 21.05.2013, de anulação, o que levou a que fosse proferido novo despacho, datado de 11/11/20013, de aceitação da garantia prestada no bem imóvel através de hipoteca voluntária, tendo a executada procedido à

respectiva constituição e registo;

Em 06.01.14 foi proferido despacho de aceitação da garantia prestada nos autos como idónea, mas tida por insuficiente para garantir a dívida exequenda e o acrescido nos termos apurados pelos serviços, em razão do valor patrimonial tributário obtido por avaliação para efeitos de IMI do bem dado como garantia e de acordo como valor base considerado para venda, tendo-se determinado o seu reforço pela diferença ou através de prestação de nova garantia, não se determinando a suspensão da execução atento a verificação daquela insuficiência.

Como bem se percebe, é deste despacho datado de 06/01/2014, que a recorrente discorda, e com razão. Depois de ter sido recusada pela AT a aceitação da garantia que a recorrente pretendia prestar, sem que previamente estivesse constituída a hipoteca sobre o imóvel, o TCA SUL, no seu acórdão datado de 21 de Maio de 2013, já junto aos autos a fls. 30 e ss., veio a

determinar: “(…)

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Com este pano de fundo, cumpre ter presente que a ora Recorrida apresentou requerimento nos termos do qual declara a intenção de discutir a legalidade ou exigibilidade da dívida exequenda com referência ao IRS descrito, pretendendo a suspensão da execução fiscal, oferecendo para o efeito, como garantia, hipoteca voluntária sobre o imóvel apontado nos autos.

Nesta sequência, surge o indeferimento do pedido com fundamento no facto de não ter sido apresentada garantia, fazendo-se alusão ao art. 169º nº 2 do CPPT, o qual

dispõe que “a execução fica igualmente suspensa, desde que, após o termo do prazo de pagamento voluntário, seja prestada garantia antes da apresentação do meio gracioso ou judicial correspondente, acompanhada de requerimento em que conste a natureza da dívida, o período a que

respeita e a entidade que praticou o acto, bem como a indicação da intenção de apresentar meio gracioso ou judicial para discussão da legalidade ou da exigibilidade da dívida exequenda”.

Ora, a apresentação do requerimento acima apontado é o início de um procedimento que poderá culminar com a sua apreciação positiva ou o respectivo indeferimento, não podendo, no entanto, acompanhar-se a posição assumida pela AT neste processo.

Com efeito, a norma acima descrita alinha os elementos de que depende a suspensão da execução fiscal, mas não impõe que a garantia esteja já concretizada, sem prejuízo da necessidade de o requerente identificar os termos em que pretende prestar a mesma.

Isto equivale a dizer que a AT, no caso presente, deveria ter apreciado as virtualidades da garantia apresentada para o fim em vista, analisando se a garantia oferecida, mediante hipoteca voluntária era suficiente para, em caso de incumprimento do devedor, assegurar a efectiva

cobrança da dívida exequenda e acrescidos.

Desde logo, quando o legislador se refere à hipoteca voluntária, no art. 199º do CPPT, como um exemplo de garantia idónea, ele não ignora as particularidades desta garantia, designadamente o risco de mercado que co-envolve, em qualquer caso, a venda dos imóveis, bem como os procedimentos necessários à concretização da venda dos bens hipotecados.

E, mesmo assim, valorou-a como uma garantia idónea idêntica às demais, porque igualmente adequada a

cumprir os objectivos subjacentes à prestação de garantia, fazendo depender a mesma da “concordância da

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apreciação do pedido.

Naturalmente, essa maior liberdade implica deveres

acrescidos de fundamentação, devendo a recusa alicerçar-se em razões objectivas, que hão-de asalicerçar-sentar

fundamentalmente na insuficiência dos bens objecto da garantia, pois que aí sim poderá haver prejuízo para o credor ( nº 5 do art. 52º da LGT), bem como observar o princípio da proporcionalidade.

Não se olvida ainda que a hipoteca confere ao credor o direito de ser pago pelo valor de certas coisas imóveis, ou equiparadas, pertencentes ao devedor ou a terceiro com preferência sobre os demais credores que não gozem de privilégio especial ou de prioridade de registo.

No entanto, no caso em apreço não está em causa a ponderação pela AT de meros riscos hipotéticos, ou da menor solidez da hipoteca, mas sim o facto de a mesma ainda não ter sido efectivamente constituída.

Pois bem, em função do que ficou exposto sobre a

garantia em apreço, a natureza da mesma, a necessidade de concordância da AT e do cumprimento dos vários elementos já descritos, sendo conhecido que a

constituição da mesma importa custos, não se vislumbra qual a necessidade nem fundamento legal para a hipoteca já estar constituída no momento da apresentação do

requerimento, devendo a AT tomar posição sobre a garantia oferecida, sendo que, caso a mesma seja considerada idónea, caberá então ao requerente comprovar a efectivação da mesma, facto que poderá então determinar a suspensão da execução fiscal.

Aliás, na informação que suporta o acto reclamado, na sua parte final, esboçou-se uma análise da garantia

apresentada, que depois encalhou na afirmação de que só após a sua constituição poderá aferir-se se a mesma é suficiente, raciocínio que não é possível acompanhar, dado que, basta exigir à requerente uma certidão com os ónus e encargos que incidem sobre o imóvel para se poder fazer tal juízo de forma cabal, o que significa que não pode acolher-se a tese assumida pela AT quanto à matéria em discussão nos autos.”.

Lido atentamente este acórdão do TCA SUL, em particular os segmentos sublinhados, podemos surpreender com relativa facilidade que foi ordenado à AT que, face aos elementos facultados pela recorrente, procedesse à

apreciação das virtualidades da garantia apresentada para

o fim em vista, analisando se a garantia oferecida,

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de incumprimento do devedor, assegurar a efectiva cobrança da dívida exequenda e acrescidos; este é o

sentido daquela decisão, que se pode retirar da

interpretação declarativa que se impõe que se faça do acórdão.

E, é a única interpretação possível desse acórdão que se conforma com o disposto no artigo 9º do Código Civil, apelando, portanto, ao elemento gramatical (o texto do acórdão) e ao elemento racional ou teleológico, os factos e os preceitos legais invocados para se concluir naqueles precisos termos.

E é certo que, em cumprimento deste acórdão, a AT aceitou a garantia, que a recorrente pretendia prestar, por despacho datado de 11/11/2013; se o fez mal, sem ter em consideração todas as virtualidades da garantia, não pode posteriormente vir a dar o dito por não dito, e a decidir coisa diferente.

A ter havido erro na aceitação da garantia, esse erro apenas aos serviços da AT é imputável, sibi imputet, deveriam esses serviços ter procedido de modo mais diligente e atento. A aceitar-se o contrário, no caso concreto, sem que tenham ocorrido circunstâncias

supervenientes ao despacho de aceitação que imponham diferente solução, estar-se-ía perante uma flagrante e grosseira violação do decidido pelo TCA SUL, o que não é de todo aceitável.

À AT incumbe-lhe, antes de mais, acatar com rigor e diligência as decisões dos Tribunais, que tenham

transitado em julgado, não criando expedientes para que se exima ao seu cumprimento, ou por qualquer forma venham a por em causa essas mesmas decisões. Sem necessidade de mais considerandos, teremos

forçosamente que concluir pela procedência do presente recurso e, consequentemente, pela procedência da presente Reclamação.

Face ao exposto, os juízes da Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo acordam, em conferência:

- conceder provimento ao recurso e, em consequência, revogar a decisão recorrida;

- julgar procedente a presente Reclamação (artigo 276º CPPT) e, em consequência, anular o despacho aqui impugnado e ordenar a suspensão da execução fiscal.

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Sem custas nesta instância e em primeira instância pela FP.

D.N.

Lisboa, 29 de Outubro de 2014. – Aragão Seia (relator) –

Referências

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