• Nenhum resultado encontrado

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ PROGRAMA DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Álvaro Mendes, Centro - CEP nº Teresina PI

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ PROGRAMA DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Álvaro Mendes, Centro - CEP nº Teresina PI"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ PROGRAMA DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Álvaro Mendes, 2294 - Centro - CEP nº 64000-060 – Teresina – PI PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº 467/2012

RECLAMANTE: LUIZ AUGUSTO ALVES VIEIRA

RECLAMADO: PHILCO ELETRONICOS LTDA E MAGAZINE LILIANI S.A PARECER

I – RELATÓRIO

Cuida-se de processo administrativo instaurado, nos termos da Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), bem como do art. 33 e seguintes do Decreto Federal nº 2.181/97, pelo Programa de Proteção e Defesa do Consumidor, órgão integrante do Ministério Público do Estado do Piauí, visando apurar indício de perpetração infrativa às relações de consumo por parte dos fornecedores PHILCO ELETRONICOS LTDA E MAGAZINE LILIANI S.A.

O Consumidor, no dia 02/04/2012, principiou reclamação, através da ficha de atendi-mento anexa (fls. 03). Na ocasião, informou que adquiriu uma TV PHILCO 21 MMS, no dia 07/01/2012, pelo valor de R$379,00 (trezentos e setenta e nove reais), junto à Loja Magazine Lilia-ni, nota fiscal de n° 9219.

Ocorre que o produto adquirido apresentou vício, ocasião em que o Demandante en-tregou o bem à Autorizada Eletroserve, na data de 18/02/2012, OS n° 8600, às fls. 08. No entanto, até a data do início da Reclamação, em 02/04/2012, o fornecedor, ainda, não havia devolvido o apa-relho reparado.

Diante disso, o Reclamante se dirigiu a este PROCON/MP/PI para solicitar a restitui-ção do valor pago pelo equipamento, monetariamente corrigido.

Destarte, o PROCON/MP-PI notificou os fornecedores PHILCO e MAGAZINE LI-LIANI, para no prazo de 05 (cinco) dias, atender ao pleito do autor; bem como para, no prazo de 10 (dez) dias, comunicar a providência adotada para a solução da contenda.

O reclamante retornou ao PROCON/MP/PI, na data de 23/04/2012, a fim de compro-var que as notificações foram recebidas pelas empresas, às fls. 09/10; e cientificar de que não hou-vera o atendimento de seu pedido por parte dos fornecedores. Nessa ocasião, diante da impossibili-dade de uma composição amigável, o requerente foi orientado a procurar o Poder Judiciário para ter o seu pleito atendido, às fls.11.

(2)

O Fabricante PHILCO, por meio da empresa Britânia Eletrodomésticos LTDA, pro-tocolou manifestação por escrito, na data de 23/04/2012, logo, após o prazo. Neste ato, informou que tentou contato com o Cliente, mas não obteve êxito. Assim, se propôs a restituir ao autor o valor de R$383,11 (trezentos e oitenta e três reais e onze centavos), já devidamente corrigido, até a data de 26/04/2012.

A Loja Magazine Liliani, apesar de comprovadamente notificada, às fls. 09, não apresentou qualquer manifestação.

Na data de 22/05/2012, o fabricante apresentou, novamente, manifestação por escri-to. Nesta, esclareceu que a empresa tentou realizar a restituição ao consumidor, conforme os seus dados bancários informados na reclamação. Contudo, os dados fornecidos estavam incorretos, moti-vo pelo qual o pagamento foi estornado, comprovante às fls. 16. Por derradeiro, acrescentou que es-tava no aguardo do retorno, para dar solução à demanda.

Empós, a Conciliadora considerou a arguição do demandante em face dos reclama-dos como FUNDAMENTADA NÃO ATENDIDA. Contra os mesmos foi instaurado o Processo Ad-ministrativo nº 467/2012 (fls. 17/18).

No dia 12/11/2012, o reclamado PHILCO, apresentou defesa administrativa, tempes-tivamente, conforme certidão às fls. 24. Em contrapartida, sustentou que celebrou acordo com o re-querente, ocasião em que restituiu ao mesmo o importe de R$387,68 (trezentos e oitenta e sete reais e sessenta e oito centavos), através de depósito judicial, comprovante às fls. 27/28. Diante disso, so-licitou o arquivamento do Processo.

Apesar de devidamente notificada, às fls. 19, a requerida Magazine Liliani não apre-sentou defesa administrativa, conforme certidão às fls. 29.

Após, vieram os autos conclusos.

II – DA POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO

Antes de se adentrar nos fatos propriamente ditos, alguns pontos preliminares devem ser explanados. Pois então, passamos à sua análise.

A Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5º, inciso XXXII, 170, in-ciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas disposições transitórias, sendo um sistema autôno-mo dentro do quadro Constitucional, que incide em toda relação que puder ser caracterizada coautôno-mo de consumo.

O Código de Defesa do Consumidor, como lei principiológica, pressupõe a vulnera-bilidade do consumidor, partindo da premissa de que ele, por ser a parte econômica, jurídica e

(3)

tecni-camente mais fraca nas relações de consumo, encontra-se normalmente em posição de inferioridade perante o fornecedor, conforme se depreende da leitura de seu art. 4º, inciso I, in verbis:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo. (grifos acrescidos)

Neste diapasão, sedimenta o Professor RIZZATTO NUNES1:

O inciso I do art.4º reconhece: o consumidor é vulnerável.

Tal reconhecimento é uma primeira medida de realização da isonomia garan-tida na Constituição Federal. Significa que o consumidor é a parte mais fraca na relação jurídica de consumo. Essa fraqueza, essa fragilidade, é real, con-creta, e decorre de dois aspectos: um de ordem técnica e outro de cunho eco-nômico.

Assim, outro não é o entendimento da Jurisprudência pátria:

Vale ressaltar que a hipossuficiência não se confunde com o conceito de vulnerabilidade do consumidor, princípio esse previsto no art. 4º, I do Código Consumerista, que reconhece ser o consumidor a parte mais fraca da relação de consumo. Tal princípio tem como consequência jurídica a intervenção do Estado na relação de consumo para que seja mantido o equilíbrio entre as partes, de modo que o poder de uma não sufoque os direitos da outra. A vulnerabilidade é uma condição inerente ao consumidor, ou seja, todo consumidor é considerado vulnerável, a parte frágil da relação de consumo.” (TJDFT – AGI nº 20080020135496 - 4º Turma Cível – Rel. Des. Arlindo Mares – DJ. 13/05/09) (grifos inseridos)

A proteção ao consumidor decorre da constatação de ser o consumidor o elemento mais fraco da relação de consumo, por não dispor do controle sobre a produção dos produtos, sendo submetido ao poder dos detentores destes, surgindo, assim, a necessidade da criação de uma política jurídica que busque o equilíbrio entre os sujeitos envolvidos na relação consumerista.

A boa-fé objetiva, a qual é tida como outro princípio máximo do CDC, trata-se do princípio geral do direto contratual, do qual se retira a necessidade de agir corretamente, com lisura e de acordo com as regras da moral. Neste diapasão, impõe o CDC aos contratantes a obediência aos deveres anexos ao contrato – como é o dever de cooperação que pressupõe ações recíprocas de lealdade.

A equidade impõe equilíbrio às relações consumeristas, mantendo-se os direitos e deveres das partes contratantes em harmonia, com a finalidade de encontrar a justiça contratual.

O princípio da transparência, por sua vez, é corolário ao princípio da informação e

(4)

educação e significa que tanto os fornecedores como os consumidores deverão ser educados e informados acerca dos seus direitos e deveres com vista à melhoria do mercado de consumo.

A Professora CLÁUDIA LIMA MARQUES2, por sua vez, ensina que esta vulnerabilidade se perfaz

em três tipos: técnica, jurídica e econômica:

Na vulnerabilidade técnica o comprador não possui conhecimentos específi-cos sobre o objeto que está adquirindo e, portanto, é mais facilmente engana-do quanto às características engana-do bem ou quanto à sua utilidade, o mesmo ocorrendo em matéria de serviços.

Noutro aspecto, vale discorrer sobra a boa-fé nas relações de consumo. Esta, por sua vez, é considerada como a boa conduta humana que se espera de todos nas relações sociais (art. 4º, inciso III, do CDC).

Na linha do Código de Defesa do Consumidor, o artigo 422 do Código Civil estabelece que “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios da probidade e boa-fé”. A boa fé diz respeito ao exame objetivo e geral da conduta do sujeito em todas as fases contratuais (pré-contratual, contratual e pós-contratual), servindo, a partir de suas funções, como parâmetro de interpretação dos contratos, identificação de abuso de direitos e criação de deveres anexos.3

É natural, nos ordenamentos jurídicos modernos, que têm a dignidade da pessoa humana como fundamento, a imposição dessa boa-fé nas relações contratuais e, sobretudo, nas relações de consumo, enquanto concretizadora de direitos fundamentais4.

Nesse viés, ensina o Superior Tribunal de Justiça:

O princípio da boa-fé se aplica às relações contratuais regidas pelo CDC, impondo, por conseguinte, a obediência aos deveres anexos ao contrato, que são decorrência lógica deste princípio. O dever anexo de cooperação pressupõe ações recíprocas de lealdade dentro da relação contratual. A violação a qualquer dos deveres anexos implica em inadimplemento contratual de quem lhe tenha dado causa. (STJ – Resp 595631/SC – Rel. Min. Nancy Andrighi – DJ 02.08.2004) (grifos inclusos)

III – DA INFRAÇÃO AO ARTIGO 18, §1°, II DO CDC

Para o deslinde do processo, deve-se analisar a pretensão deduzida à luz do art. 18, da Lei nº 8.078/90, que trata sobre a responsabilidade pelo vício de produto.

O tema diz respeito justamente aos produtos que não atendem à sua finalidade específica.

2CLÁUDIA LIMA MARQUES, Contratos no Código de Defesa do Consumidor, Revista dos Tribunais, 3. Ed, p.

148/149.

3 BESSA, Leonardo Roscoe; MARQUES, Cláudia Lima; BENJAMIN, Antônio Herman V. Manual de Direito do

Consumidor. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 324.

4 KHOURI, Paulo R. Roque A. Direito do Consumidor - Contratos, Responsabilidade Civil e Defesa do Consumidor

(5)

O Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 18 vaticina:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. (grifos insertos)

LEONARDO ROSCOE BESSA5 preceitua que, de acordo com a leitura do artigo

supratranscrito, existem três espécies de vícios, quais sejam: 1) vício que torne o produto impróprio para o consumo; 2) vício que lhe diminua o valor; 3) vício decorrente da disparidade das características dos produtos com aquelas veiculadas na oferta e publicidade.

O Preclaro doutrinador elucida que, existindo vício, possui o consumidor direito a, alternativamente e à sua livre escolha: a) substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; b) restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; c) abatimento proporcional do preço.

Preleciona que, antes da escolha de uma das três alternativas que se abrem em favor do consumidor na hipótese de vício de produto, o fornecedor possui prazo de 30 (trinta) dias para saná-lo, conforme se depreende da leitura do §1º, do artigo 18, da Legislação Consumerista Pátria:

Art. 18 - (…) § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço. (grifos implementados)

Ora, após extrapolado o prazo legal, o consumidor não é mais obrigado a aceitar o reparo do produto. Ademais, quando realizada a escolha pelo cliente entre a substituição do produto, a restituição do valor pago ou abatimento proporcional do preço, faz este jus ao cumprimento imediato de uma daquelas alternativas, nos exatos termos do dispositivo legal transcrito alhures, sendo, assim, considerado desarrazoado, desproporcional e ilegal a exigência de novos prazos para o cumprimento da lei.

Da exegese do dispositivo legal, outro entendimento não se pode chegar, senão a de que a restituição do valor pago, monetariamente corrigido, pelo produto viciado deve ser imediata, aplicando-se este entendimento à hipótese de escolha da troca do bem.

Sendo este o direcionamento da Jurisprudência Pátria:

5 BENJAMIN, Antônio Herman V.; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do

(6)

CIVIL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. COMPRA DE VEÍCULO NOVO COM DEFEITO. LEGITIMIDADE PASSIVA DA CONCESSIONÁRIA. REVELIA. AFASTAMENTO. RESCISÃO CONTRATUAL. DEVOLUÇÃO DO VALOR PAGO. RETORNO AO STATUS QUO ANTE. PERDAS E DANOS. RESTITUIÇÃO PROPORCIONAL. DANOS MORAIS. IMPROCEDÊNCIA. Nos termos do artigo 18, §1º, do CDC, ultrapassado o prazo de 30 (trinta) dias para solução do vício do produto, é facultado ao consumidor a restituição imediata da quantia paga pelo bem, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. Vale dizer, apresentando o veículo novo defeito não sanado em 30 (trinta) dias, faz jus o adquirente à rescisão contratual com o respectivo recebimento integral do valor pago por aquele bem. ( TJ/DF. Apelação Cível nº 67661-12.2009.807.0001 – Rel. Des. Cruz Macedo. 4º Turma Cível – Publ. 05/04/11, Pág. 130) (grifos adicionados)

Nesse diapasão, é importante sublinhar que a verdadeira intenção do Código de Defesa do Consumidor foi a de que os fornecedores, ocorrendo quaisquer das hipóteses que facultam ao consumidor as escolhas do artigo 18, imediatamente, já realizassem a troca do bem ou a restituição do valor pago, sem a necessidade de se recorrer aos Órgãos de Proteção e Defesa do Consumidor ou ao Poder Judiciário.

Outrossim, referindo-se especificamente ao fato ensejador do presente processo ad-ministrativo, cumpre assentar o entendimento deste PROCON de que, em cumprimento ao que de-termina o artigo 18, §1°, II do CDC, atinente a imediaticidade para promover a restituição do valor pago; o prazo concedido aos fornecedores em sede de Notificação Recomendatória, por ser razoá-vel, é para o atendimento ao pleito do consumidor. A resolução da demanda, portanto, em prazo su-perior é considerada prática abusiva e ilegal.

Infelizmente, as empresas tentam, a todo preço, esquivar-se de suas responsabilidades, sendo obrigação do PROCON equilibrar esta balança, na qual coexistem os interesses dos fornecedores e dos consumidores.

Consignadas as explanações aqui exposta, que tratam sobre os direitos previstos na Lei nº 8.078/90, e examinados os autos do processo, tem-se que o âmago da questão controvertida se encontra na procrastinação do atendimento do pleito do consumidor, após escoado o prazo legal de 30 (trinta) dias, bem como no desatendimento da determinação do PROCON/PI constante na no-tificação recomendatória.

No caso vertente, constatou-se que o consumidor entregou o aparelho à Autori-zada para reparo, na data de 18/02/2012, às fls. 08, sendo que até a data em que o requerente iniciou a reclamação neste PROCON/MP/PI, no dia 02/04/2012, o bem ainda não havia sido devolvido. Logo, houve flagrante descumprimento do prazo estabelecido pelo artigo 18, §1° do CDC, para o conserto do produto.

(7)

Cabe frisar que as empresas PHILCO E MAGAZINE LILIANI, como citado alhu-res, embora devidamente notificadas, não se conciliaram com o consumidor nesta esfera administra-tiva.

O fabricante PHILCO apresentou proposta de acordo. Todavia, a proposta en-viada pela empresa foi protocolada neste Órgão após a data estabelecida no Termo da Notifi-cação Recomendatória, para que o fornecedor comprovasse o atendimento ao pleito, logo, o requerido manifestou-se intempestivamente. Inclusive, urge salientar que, na ocasião do rece-bimento por este PROCON da proposta de acordo por escrito, o autor já havia sido encami-nhado ao Judiciário para ter o seu pleito analisado.

Nesse diapasão, destaca-se que, por intempestiva, a proposta da empresa não foi apta a impedir que o reclamante tivesse o seu direito desrespeitado, o que implicou em conse-quente instauração deste Processo Administrativo.

Em oposição ao Processo em epígrafe, o fabricante argumentou que a solicitação da demanda foi atendida no âmbito judicial.

Ademais, impera-se consignar que o objeto deste Processo não é o atendimento do pleito do reclamante, até mesmo porque, o mesmo foi orientado a procurar o Judiciário para ter a sua demanda atendida; e sim apurar a ocorrência de infração à Legislação Consumerista e aplicar a devida sanção administrativa nos termos do disposto no art.56 do CDC.

Devidamente notificado o fornecedor Magazine Liliani de todos os atos da reclação e deste Processo, o mesmo preferiu omitir-se e não apresentou qualquer esclarecimento ou ma-nifestação por escrito.

Assim, resta cristalina a desídia do referido reclamado que, embora comprovadamente sabedor da manifestação de seu cliente, manteve-se inerte, sem diligenciar em cumprir suas obrigações, decorrente de norma legal de ordem pública, no caso, do Código de Defesa do Consumidor.

De mais a mais, constatou-se que as empresas requeridas descumpriram a de-terminação do PROCON/MP/PI para no prazo de 05 (cinco) dias, atender ao pleito do autor.

Digno de nota que o prazo concedido aos fornecedores em sede de Notificação Recomendatória é para atendimento ao pleito no prazo de 05 (cinco) dias, devendo a empresa apresentar defesa no prazo de 10 (dez) dias para comunicar o procedimento adotado, ou seja, comprovar a substituição do produto por um novo ou a restituição do valor pago, conforme opção do cliente.

Por estas razões, em função das evidentes lesões à legislação consumerista, no sentido de que o prazo para cumprimento das obrigações insertas na Lei Consumeristas não podem

(8)

ficar ao alvedrio dos fornecedores, medida que se impõe é a penalização dos reclamados PHILCO E MAGAZINE LILIANI, a fim de que se abstenham de trilhar a conduta abusiva combatida.

Derradeiramente, cumpre frisar que as sanções administrativas impostas, nos termos do artigo 56 do CDC, possuem um viés didático, a fim de que o fornecedor, que descumpriu as or-dens do citado código, não reitere sua conduta e adote ações que se coadunem com o espírito da lei consumerista.

IV – DA INFRAÇÃO AO ARTIGO 55, §4° DO CDC

Colhe-se nos autos que a omissão por parte da empresa Magazine Liliani se deu em todos os atos da reclamação e do Processo em epígrafe. Assim, além a infração, já analisada, ao arti-go 18,§1°, II do Diploma Consumerista, houve ainda grave infração ao artiarti-go 55,§4° do CDC.

Nesse sentido, dispõe o seguinte dispositivo do Código de Defesa do Consumidor:

Artigo 55, §4 Os órgãos oficiais poderão expedir notificações aos fornecedores para que, sob pena de desobediência, prestem informações sobre questões de interesse do consumidor, resguardado o segredo industrial.

A disposição legal acima certifica a competência e legalidade da aplicação de sanções administrativas por infração às normas de defesa do consumidor, pelos órgãos públicos federais, estaduais e municipais, encarregados da fiscalização e controle do mercado de consumo.

A omissão dos Fornecedores, que não prestam informações quando solicitadas por órgão oficiais de defesa do consumidor, é prática veementemente combatida e enseja a aplicação de sanção administrativa à empresa desidiosa. Neste sentido, segue a jurisprudência:

AÇÃO ANULATÓRIA – PROCESSO ADMINISTRATIVO – APLICAÇÃO DE MULTA PELO PROCON DO MINICÍPIO DE CONCÓRDIA – NOTIFICAÇÃO AO FORNECEDOR PARA PRESTAR ESCLARECIMENTOS SOBRE RECLAMAÇÃO FORMULADA POR CONSUMIDOR – DESATENDIMENTO – INFRIGÊNCIA AO ART. 55, §4° DA LEI N. 8.078/90 E ART. 33, §2° DO DECRETO N. 2.181/97 – RECURSO IMPROVIDO.

O não atendimento pelo fornecedor de determinação expedida pelo órgão municipal do Procon, no sentido de prestar es esclarecimentos acerca de reclamação formulada por consumidor, enseja a aplicação da penalidade de multa, com base no art. 55, §4 da Lei n. 8.078/90 e art. 33, §2°, do Decreto n. 2.181/97. (TJSC – Apelação Cível : AC96617 SC 2010.009661-7- Relator Sérgio Roberto Baasch Luz. Julgamento: 19/03/2010).

Igual entendimento também é o do Ministro Antônio Herman V. Benjamin que em manifestação no Recurso Especial nº1.120.310 – RN (2009.0016426-0) afirma que o fornecedor que se recusa a prestar informações sobre questões de interesse do consumidor viola frontalmente o CDC e o princípio da informação, devendo tal atuação ser coibida pelos órgãos de defesa do consu-midor.

(9)

Instado a se manifestar acerca desta conduta o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) – atual Secretaria Nacional do Consumidor (SENACON) - exarou a Nota Técnica nº 220/2003, que assim dispôs:

Com efeito, a legalidade da convocação para comparecimento ao órgão público de defesa do consumidor decorre da norma extrapenal inscrita no §4º do art. 55 da Lei nº 8.078/90, que expressamente ressalva o concurso das sanções administrativas e penal pelo descumprimento do dever de prestar informações sobre questões de interesse do consumidor.

Não cabe ao fornecedor a possibilidade de eleger o meio pelo qual prestará as informações, recusando-se a comparecer ao órgão de defesa do consumidor acaso convocado, sob pena de manifesta e desaconselhável interferência no exercício do poder de polícia.

O ato administrativo na defesa do consumidor para apurar uma reclamação é, como todo ato de polícia, em princípio, discricionário. Não se confunde discricionariedade com arbitrariedade, pois a primeira consiste na liberdade de agir dentro dos limites e a segunda corresponde à ação fora desses limites. (…) Interpretar como ilegal a convocação para prestar informações em audiência, com o fito simultâneo de promover a harmonia da respectiva relação de consumo, significa contrariar todo o sistema normativa do CDC e, na prática, corromper a vocação histórica dos PROCON'S, conduzindo a defesa administrativa do consumidor à burocracia e ineficaz sucessão de atos formais para a aplicação de sanção. Opina-se pela legalidade, portanto, da ordem emanada por autoridade pública com fundamento no art. 55, §4º do CDC c/c art. 33, §2º, do Decreto nº 2.181/97, para que o fornecedor compareça em audiência para prestar informações de interesse do consumidor, oportunidade na qual poderá ser proposta a possibilidade de acordo, ajustando-se a conduta do fornecedor às exigências legais, tal como previsto no art. 113 c/c 117 do CDC.

Sem muito esforço, infere-se que o Órgão responsável pela coordenação da política do sistema nacional de defesa do consumidor (art. 106, caput, Lei nº 8.078/90) entende pela existência de infração à legislação consumerista, nas hipóteses em que as empresas arbitrariamente não apresentam quaisquer esclarecimentos atinentes às reclamações formuladas pelos consumidores nas entidades integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, motivo pelo qual denominada infração deve ser repreendida com aplicação das sanções administrativas consignadas no art. 56, do Código de Defesa do Consumidor.

Entendimento contrário ao acima esposado estaria desprestigiando os PROCON's, ceifando-lhe sua histórica credibilidade, na medida em que ficaria ao bel-prazer do reclamado esforçar-se ou não em atender ao pleito do consumidor em audiência previamente pactuada.

Assim, pelo só fato de deixar de deixar de esclarecer assunto de interesse do Consumidor quando demandado pelo PROCON/MP/PI, a empresa praticou a infração administrativa prevista no dispositivo legal citado acima, ficando, em consequência, sujeita à aplicação de sanção administrativa.

(10)

V – CONCLUSÃO

Ante o exposto, por estar convicta da existência de transgressão à Lei nº 8.078/90, opino pela aplicação de multa ao reclamado PHILCO ELETRONICOS LTDA, tendo em vista perpetração infrativa ao artigo 18, §1°, II da Lei nº 8.078/90; bem como pela aplicação de multa ao reclamado MAGAZINE LILIANI S.A, tendo em vista perpetração infrativa aos artigos 18, §1°, II e 55, §4° da Lei nº 8.078/90

É o parecer.

À apreciação superior.

Teresina, 16 de Outubro de 2013.

Gabriella Prado Albuquerque Técnico Ministerial – Matrícula n°102

Assessor Jurídico PROCON/MP/P

(11)

PROGRAMA DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Álvaro Mendes, 2294 - Centro - CEP nº 64000-060 – Teresina – PI PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº 467/2012

RECLAMANTE: LUIZ AUGUSTO ALVES VIEIRA

RECLAMADO: PHILCO ELETRONICOS LTDA E MAGAZINE LILIANI S.A DECISÃO

Analisando-se com percuciência e acuidade os autos em apreço, verifica-se indubitável infração ao artigo 18, §1°, II do Código de Defesa do Consumidor, perpetrada pelo fornecedor PHILCO ELETRONICOS LTDA, e infração aos artigos 18, §1°, II e 55, §4° do CDC, perpetrada pelo fornecedor MAGAZINE LILIANI S.A; razão pela qual acolho o parecer emitido pela M.D. Técnico Ministerial, impondo-se, pois, a correspondente aplicação de multa, a qual passo a dosar.

Passo, pois, a aplicar a sanção administrativa, sendo observados os critérios estatuídos pelos artigos 24 a 28 do Decreto 2.181/97, que dispõe sobre os critérios de fixação dos valores das penas de multa por infração ao Código de Defesa do Consumidor.

A fixação dos valores das multas nas infrações ao Código de Defesa do Consumidor dentro dos limites legais (art. 57, parágrafo único da Lei nº 8.078, de 11/09/90), será feito de acordo com a gravidade da infração, vantagem auferida e condição econômica do fornecedor.

Fixo a multa base no montante de R$3.000,00 (três mil reais) ao fornecedor PHILCO ELETRONICOS LTDA.

Considerando a inexistência a existência de circunstâncias agravantes contidas no art. 26 do Decreto 2.181/97. Considerando a existência da circunstância atenuante contida no art. 25, II do Decreto 2.181/97, por ser o infrator primário. Diminuo o quantum em ½ (um meio), convertendo-se a obrigação no importe de R$1.500,00 (um mil e quinhentos reais).

Pelo exposto, em face do fornecedor PHILCO ELETRONICOS LTDA torno a multa fixa e definitiva no valor de R$1.500,00 (um mil e quinhentos reais).

Outrossim, fixo a multa base no montante de R$3.000,00 (três mil reais) ao fornecedor MAGAZINE LILIANI S.A.

Considerando a existência da circunstância atenuante contida no art. 25, II do Decreto 2.181/97, por seu o infrator primário. Considerando a existência da circunstância agravante contida no art. 26, IV, do Decreto 2.181/97, por ter o infrator deixado, tendo conhecimento do ato lesivo, de tomar as providências para evitar ou mitigar suas consequências. Mantenho a obrigação no importe de R$3.000,00 (três mil reais), tendo em vista que uma atenuante anula uma agravante

(12)

fixa e definitiva no valor de R$3.000,00 (três mil reais).

Para aplicação da pena de multa, observou-se o disposto no art. 24, I e II do Decreto 2.181/97.

Posto isso, determino:

- A notificação do fornecedor infrator PHILCO ELETRONICOS LTDA, na forma legal, para recolher, à conta nº 1.588-9, agência nº 0029, operação 06, Caixa Econômica Federal, em nome do Ministério Público do Estado do Piauí, o valor da multa arbitrada, correspondente a R$1.500,00 (um mil e quinhentos reais), a ser aplicada com redutor de 50% para pagamento sem recurso e no prazo deste, ou apresentar recurso, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar de sua notificação, na forma dos arts. 22, §3º e 24, da Lei Complementar Estadual nº 036/2004;

- A notificação do fornecedor infrator MAGAZINE LILIANI S.A, na forma legal, para recolher, à conta nº 1.588-9, agência nº 0029, operação 06, Caixa Econômica Federal, em nome do Ministério Público do Estado do Piauí, o valor da multa arbitrada, correspondente a R$3.000,00 (três mil reais), a ser aplicada com redutor de 50% para pagamento sem recurso e no prazo deste, ou apresentar recurso, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar de sua notificação, na forma dos arts. 22, §3º e 24, da Lei Complementar Estadual nº 036/2004;

- Na ausência de recurso ou após o seu improvimento, caso o valor da multa não tenha sido pago no prazo de 30 (trinta) dias, a inscrição dos débitos em dívida ativa pelo PROCON Estadual, para posterior cobrança, com juros, correção monetária e os demais acréscimos legais, na forma do caput do artigo 55 do Decreto 2181/97;

- Após o trânsito em julgado desta decisão, a inscrição do nome dos infratores no cadastro de Fornecedores do PROCON Estadual, nos termos do caput do art. 44 da Lei 8.078/90 e inciso II do art. 58 do Decreto 2.181/97.

Teresina-PI, 16 de outubro de 2013.

Dr. CLEANDRO ALVES DE MOURA Promotor de Justiça

Referências

Documentos relacionados

A pesquisa teve como objetivo realizar um levantamento de dados a respeito das disciplinas que abrangem a temática da educação inclusiva de Projetos Pedagógicos de

A nova concepção arquitetônica das casas vai, como já referimos, isolar, a partir do século XVIII, a família da promiscuidade da vida cole- tiva, estreitando os laços entre

4.) Informe ao Immobile, quais lançamentos foram lançados como taxa de administração no exercício de 2018 em UTILITÁRIOS / PARÂMETROS DO SISTEMA / OCORRÊNCIAS no campo

Além disso, só as Cooperativas respondem por empregar diretamente mais de 360 mil pessoas, de acordo com dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). É cada vez mais

Para tanto, podemos fazer perguntas para o modo como no espaço interseçor se concretiza a produção de processos típicos deste espaço enquanto um

O Clima está bom para os trens, uma melhor cadeia de valor na mobilidade Crescer melhorando a Cadeia de Valor local. Bombardier Transportation

alteração das condições de operação, efetuados no período regulatório em causa, calculada pelo método de quotas constantes, em duodécimos, apurada nos termos do RTR e do

DO PAGAMENTO PARCELADO: Os interessados em adquirir o bem penhorado em prestações poderão apresentar: (i) até o início do primeiro leilão, proposta para aquisição do