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Ações em direção à qualidade estudo comparativo entre empresas construtoras com e sem certificação de qualidade

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Ações em direção à qualidade – estudo comparativo entre empresas

construtoras com e sem certificação de qualidade

João César Bezerra de Menezes (UFPB) joaocesarbm@uol.com.br

Maria de Lourdes Barreto Gomes (UFPB) marilu@producao.ct.ufpb.br

Resumo

As disputas de mercados vivenciadas, atualmente no mundo dos negócios, obrigam as empresas produtoras de bens e serviços incorporarem métodos modernos de trabalho e inovações tecnológicas aos seus sistemas produtivos. Neste escopo, a construção civil setor edificação, especialmente no caso brasileiro, não poderia ficar a margem desse processo e busca, através da implantação do programa de qualidade específico para o setor, o aprimoramento de suas atividades.

O estudo foi realizado em duas empresas do subsetor de edificações com o SIQ – Construtoras e duas empresas que não possuem sistema de qualidade, verificando as ações dirigidas à obtenção da melhoria da qualidade e da produtividade em relação aos critérios de desempenho para competir no mercado, programas de capacitação e conscientização dos operários, procedimentos para execução e inspeção de serviços e materiais, e o relacionamento das construtoras com seus fornecedores.

Palavras chave: Construção Civil, Qualidade, Edificações, SIQ-Contrutoras. 1. Introdução

As novas formas de competição, estabelecidas a partir das duas últimas décadas do século passado, obrigam as empresas a incorporarem aos seus sistemas de produção inovações tecnológicas e organizacionais como condição para permanecerem atuando no mercado. Termos como qualidade, produtividade, ISO 9000, entre outros são assuntos diários e objeto de estratégias das organizações em todos os setores da atividade econômica em busca da eficiência com resultados compensadores.

A indústria da construção civil subsetor edificação, especialmente no caso brasileiro, não poderia ficar a margem desse processo, com uma cadeia produtiva bastante complexa e heterogênea, isto é, há uma grande diversidade de agentes intervenientes e de produtos parciais gerados ao longo do processo de produção, os quais têm diferentes níveis de qualificação que afetam a qualidade do produto final.

A nova performance deste subsetor se efetua, a partir da implantação do sistema de gestão da qualidade, o SIQ - Construtoras, que estabelece níveis de qualificação progressivos, segundo os quais os sistemas de gestão da qualidade das organizações são avaliados e classificados. Dessa forma, foi realizado um estudo comparativo com duas empresas que possuem a certificação do SIQ – Construtoras e em outras duas que não possuem sistema de gestão de qualidade, observando as ações voltadas à melhoria da qualidade e da produtividade em relação aos critérios de desempenho para competir no mercado, programas de capacitação dos operários, procedimentos para execução e inspeção de serviços e materiais, e o relacionamento das construtoras com seus fornecedores.

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2. A qualidade no subsetor edificações – construção de edifícios

A qualidade vem sendo conceituada desde séculos passados, porém na visão do Dr. Juran, em palestra no Congresso Anual da Qualidade, em Las Vegas-1994 (informação verbal), “os futuros historiadores se referirão ao século (XX) que se finda como o da produtividade, e ao que se inicia (XXI) como o século da qualidade”.

Na análise de Garvin (1992), nas duas últimas décadas, diretores a nível de presidência e diretoria executiva expressaram interesse pela qualidade, estão relacionando-a à lucratividade, definindo-a de acordo com o ponto de vista do cliente e exigindo sua inclusão no processo de planejamento estratégico, utilizando-a como arma agressiva de concorrência.

A construção civil difere muito da indústria de transformação, de onde foram gerados e se desenvolveram os conceitos e metodologias em relação à qualidade. Sendo que, nos últimos anos esforços têm sido feitos para introduzir na construção civil a Qualidade Total que já predomina em outras indústrias.

Na construção civil brasileira, os primeiros movimentos em direção à abordagem ampla do controle da qualidade surgem de forma mais organizada no início da década de 90, em função de estudos voltados para cada etapa do processo de projeto, execução de obras, manutenção, desperdícios de material e de tempo, retrabalho, entre outras atividades relacionadas à produção de edifícios.

Estes estudos são fundamentais para uma empresa, em relação à definição das prioridades competitivas (preço, prazo, qualidade, flexibilidade, inovatividade), porque segundo Bezerra (2000), as empresas que, por exemplo, possuem alto nível de desperdício estão sujeitas a ficar para trás na competição e perder mercado, uma vez que tais desperdícios são contabilizados no custo do produto final, elevando assim, seu preço em relação aos seus concorrentes que controlam o desperdício.

Na construção civil, o desperdício é muito acentuado e é um dos indicadores dos custos da não-qualidade, apresentando-se nas falhas do processo de produção (retrabalho), falhas nos processos gerenciais e administrativos da empresa (compras baseadas apenas em menor preço), e falhas na fase de pós-ocupação das obras (recuperação de patologias construtivas). Neste aspecto, fica evidente que a falta de qualidade acarreta um aumento no custo da produção, que segundo Davis (2001), uma das maiores contribuições de Deming foi a demonstração que um processo de alta qualidade é menos custoso do que um de baixa qualidade. Quando os produtos são feitos corretamente da primeira vez, economias consideráveis são conseguidas, devido à eliminação de pessoal para realizar retrabalhos e reparos e do custo de refugar materiais não-conformes.

A qualidade na construção civil deve ser ampla, dando ênfase às várias etapas do processo de produção e uso, que podem ser divididas em: - necessidades do usuário, - planejamento, - projeto, - fabricação de materiais e componentes, - execução de obras, - uso,operação e manutenção. Estas etapas formam o ciclo da qualidade na construção civil, o qual é iniciado pela identificação das necessidades do usuário da obra, passando estas pelas várias etapas do processo (produtos e serviços com diferentes níveis de qualidade), obtendo um produto final que deve satisfazer às necessidades iniciais do usuário. A qualidade será considerada em relação à adequação ao uso e à satisfação total dos clientes externos e internos da empresa. Neste aspecto, Davis (2001), cita que, segundo Deming, 85% dos problemas de qualidade gerados em uma empresa podem ser atribuídos à administração, pois esta tem o poder de tomar decisões que impactam nos sistemas e nas práticas prevalecentes na empresa.

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Conforme Souza (1995), no caso da indústria da construção civil, inúmeras pesquisas realizadas em obras que apresentaram falhas e patologias construtivas identificaram erros não apenas técnicos, mas também de caráter humano, de organização e gestão das empresas. Segundo Slack (1997), os problemas de qualidade em uma empresa podem ocorrer devido ao sistema ou pela falta de um. De acordo com a definição da International Standards

Organization (ISO), um sistema de qualidade é definido como: a estrutura organizacional,

responsabilidades, procedimentos, processos e recursos para implementar a administração da qualidade.

Conforme a NBR ISO 9001 – Sistemas de gestão da qualidade – Requisitos, a adoção de um sistema de gestão da qualidade é uma decisão estratégica de uma organização. O projeto e a implementação de um sistema de gestão da qualidade de uma organização são influenciados por várias necessidades, objetivos específicos, produtos fornecidos, os processos empregados e o tamanho e estrutura da organização.

No caso da construção civil, um dos sistemas de qualidade adotado por esta indústria é o Sistema de Qualificação de Empresas de Serviços e Obras – SIQ – Construtoras, que é válido para empresas construtoras que atuem no subsetor de edifícios, com adequação dos requisitos do referencial da série de normas NBR ISO 9.000:2000.

3. Sistema de qualificação de empresas de serviços e obras – SIQ –construtoras – subsetor de edifícios

O Sistema de Qualificação de Empresas de Serviços e Obras – SIQ – Construtoras, é válido para empresas construtoras que atuem no subsetor de edifícios, e faz parte do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat- PBQP-H. Este sistema propõe organização do setor da construção civil em torno de duas questões principais: a melhoria da qualidade do habitat e a modernização produtiva.

Segundo a Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidência da República (2001), o SIQ-Construtoras possui caráter evolutivo, estabelecendo níveis de qualificação progressivos, segundo os quais os sistemas de gestão da qualidade das empresas construtoras são avaliados e classificados.

Assim, o SiQ-Construtoras tem como objetivo estabelecer o referencial técnico básico do sistema de qualificação evolutivo adequado às características específicas das empresas construtoras atuantes no subsetor de edifícios, e se baseia nos seguintes princípios :

a) Harmonia com a normalização internacional: adequação dos requisitos do referencial ao da série de normas NBR ISO 9.000:2000.

b) Caráter evolutivo: o referencial estabelece níveis de qualificação progressivos, segundo os quais os sistemas de gestão da qualidade das empresas construtoras são avaliados e classificados. Isto visa induzir e dar às empresas o tempo necessário para a implantação evolutiva de seu Sistema de Gestão da Qualidade.

c) Caráter Nacional: o Sistema é único e se aplica a todos os tipos de contratantes (públicos municipais, estaduais, federais ou privados) e a todas as obras, em todo o Brasil; o que varia são os serviços de execução que devem ser motivo de controle por parte das empresas, que constam da parte específica a cada subsetor de atuação apresentada no documento denominado Requisitos Complementares, bem como os prazos de exigência dos contratantes. d) Flexibilidade: o Sistema se baseia em requisitos que possibilitam a adequação ao Sistema de empresas de diferentes regiões, que utilizem diferentes tecnologias e que atuem na construção de obras.

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e) Sigilo: quanto às informações de caráter confidencial das empresas. f) Transparência: quanto aos critérios e decisões tomadas.

g) Independência: dos envolvidos nas decisões.

h) Caráter público: o Sistema de Qualificação de Empresas de Serviços e Obras não tem fins lucrativos, e a relação de empresas qualificadas é pública e divulgada a todos os interessados. i) Harmonia com o SINMETRO - Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial: toda qualificação atribuída pelo Sistema será executada por organismo credenciado pelo INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial e o processo evolutivo visa ampliar o número de empresas do setor que venham a ter certificação de conformidade na área de Sistemas de Gestão da Qualidade por ele reconhecido (com base na série de normas ISO 9.000, em sua versão de 2000).

Toda qualificação atribuída pelo SIQ - Construtoras é executada por Organismo de Certificação Credenciado (O.C.C.) pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - INMETRO.

O SIQ-Construtoras prevê 04 (quatro) níveis de qualificação, níveis – D, C, B, A, por isso é considerado um sistema de qualidade evolutivo. Em cada nível há uma série de Requisitos e Itens, que devem ser cumpridos para que a empresa possa receber a qualificação daquele nível, chegando até ao nível A, onde é concluído o SIQ-Construtoras, que contempla os mesmos requisitos da ISO 9000.

Para este Sistema, a Direção da empresa tem a responsabilidade de definir a Política da Qualidade a ser implantada na empresa, pois a partir desta definição é desencadeado todo o processo para qualificação, sendo elaborado um sistema da qualidade, que atenda de maneira evolutiva aos níveis de qualificação definidos.

Este sistema deve ter sua concepção em função dos tipos de obras e serviços que a empresa executa, elaborando Manual da Qualidade e Procedimentos de execução dos serviços, sendo definida uma lista de no mínimo 25 serviços obrigatoriamente controlados, e uma lista de materiais que sejam utilizados nestes serviços, que afetem tanto a qualidade destes serviços, quanto à do produto final. Essa lista deve ser composta por no mínimo 30 materiais.

Da lista de serviços obrigatoriamente controlados são exigidos os seguintes percentuais para atingir os níveis de qualificação: Nível C : 15 %; Nível B : 40 %; Nível A : 100 %.

Da lista dos materiais utilizados nestes serviços são exigidos os seguintes percentuais para atingir os níveis de qualificação: Nível C : 20 %; Nível B : 50 %; Nível A : 100 %.

4. Metodologia

Os procedimentos metodológicos utilizados para desenvolver o presente trabalho foram divididos em duas etapas. A primeira consistiu de uma pesquisa realizada no Sindicato da Indústria da Construção Civil da Paraíba (SINDUSCON/PB) com o objetivo de identificar as empresas que possuem o Sistema de Qualidade - SIQ Construtoras, permitindo para análise, selecionar duas empresas com este sistema, e duas que não possuem sistema de gestão da qualidade.

Na segunda etapa realizou-se a pesquisa de campo, utilizando-se duas técnicas, a entrevista com gerentes ou o próprio empresário e a observação do trabalho no canteiro de obras. Para as entrevistas aplicou-se um roteiro que orientou a busca e a organização das informações coletadas. A análise do canteiro de obra foi guiada por um check-list o qual permitiu comparar as atividades que preconizam o programa SIQ - Construtoras e a realidade

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mencionadas, foram discutidas e analisadas, servindo de embasamento para os resultados apresentados no item seguinte.

5. Resultados

Os resultados desta pesquisa foram obtidos pelos procedimentos metodológicos apresentados no item anterior, relacionados às exigências do SIQ – Construtoras no que diz respeito às ações dirigidas à obtenção da melhoria da qualidade e produtividade em relação aos critérios de desempenho para competir no mercado, programas de capacitação dos operários, procedimentos para execução e inspeção de serviços e materiais, e o relacionamento das construtoras com seus fornecedores.

As quatro empresas estudadas são genuinamente paraibanas, atuam no estado da Paraíba, exclusivamente no mercado da Indústria da Construção Civil, especificamente no Subsetor de Edificações. As empresas A e C são de médio porte, estão em atividade há mais de 15 anos. As empresas B e D são de pequeno porte, têm menos tempo de atividade, apenas 05 anos no mercado.

As empresas A e B possuem certificação do Sistema de Qualificação de Empresas de Serviços e Obras – SIQ – Construtoras, enquanto as empresas C e D não implantaram nenhum sistema de qualificação, entretanto, os entrevistados destas duas empresas acreditam que com o sistema de qualidade existe a oportunidade de organizar a empresa, tanto no processo construtivo quanto no âmbito do escritório da construtora, no que diz respeito às rotinas de trabalhos, procedimentos da execução de serviços, entre outros.

O profissional entrevistado que pertence à empresa C, não vê no momento, a necessidade da implantação deste sistema, pois considera que o SIQ – Construtoras burocratiza muito as ações do cotidiano de uma empresa, em relação aos preenchimentos das fichas de verificação de serviços e materiais, elaboração de manual da qualidade, etc. A rejeição às mudanças e a permanência com práticas empíricas de produção é uma característica de parte das empresas de construção civil - subsetor de edificações, as quais possuem características tradicionais com grande inércia às alterações.

Quanto aos critérios de desempenho para competir no mercado, elencados por Tubino (2000), como: Qualidade, Custo, Desempenho de Entrega (prazo), Flexibilidade e Inovatividade; as respostas das quatro empresas estudadas são apresentadas na figura -01.

Iniciando pelo item Qualidade, isto é, construir com desempenho de qualidade melhor ou igual à concorrência, foi considerada pelas quatro empresas como prioridade um, independente do porte,.

O critério Custo, construir edificações a um custo mais baixo que a concorrência, foi considerado como 2ª prioridade pelas empresas A e C e 3ª pelas empresas B e D, já o Desempenho das entregas (prazo), isto é, ter confiabilidade e velocidade nos prazos de entrega dos edifícios melhor do que a concorrência, as empresas B e D na escala de prioridade, consideram como a 2ª e as empresas A e C como a 3ª prioridade.

Quanto ao critério de Flexibilidade, que corresponde à capacidade de reagir rapidamente em eventos repentinos e inesperados, todas as empresas consideraram como 4ª prioridade. Esta colocação para este critério de desempenho é conseqüência da influência das características básicas da Construção Civil em relação a cada produto ser grande e único, ter uma produção centralizada (operários móveis em torno de um produto fixo).

O critério da Inovatividade, que equivale à adoção de novas tecnologias na construção de edifícios, foi considerado por todas as empresas como a 5ª prioridade. Neste aspecto,

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deste critério, porque o Subsetor - Edificações é bem conservador em relação à introdução de novas tecnologias e a utilização da mão-de-obra intensiva e pouco qualificada.

0 2 4 6 8 10

Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D

Qualidade Custo Prazo Flexibilidade Inovatividade

Figura 01 - Prioridade dos critérios de desempenho para competir no mercado

Na ordem de prioridades do conjunto de ações foi constatado um resultado nivelado entre as quatro empresas analisadas. A Qualidade está em evidência, tanto para as empresas que possuem o SIQ – Construtoras, quanto para as que não implantaram este sistema de qualidade. O Custo e o Desempenho das Entregas (prazo) foram os diferenciais do resultado, oscilando entre a segunda e a terceira colocação, mas como atualmente, há uma interação entre essas três ações, qualidade, custo e prazo, em relação às exigências do consumidor, esta diferença de posicionamento não interfere muito no resultado final.

A área de recursos-humanos das empresas analisadas é dividida basicamente em dois segmentos, a Administração, formada por engenheiros, tesoureiro, comprador, setor pessoal; e o Processo Construtivo, formado por encarregados, técnicos em edificações, estagiários de engenharia, almoxarifes, operários da produção. Neste aspecto, apenas a empresa A, possui um terceiro segmento, a Manutenção Predial, apresentando um diferencial em relação às demais empresas no que diz respeito ao ciclo da qualidade, na etapa de uso, operação e manutenção, vale salientar que esta empresa possui o SIQ – Construtoras.

Quanto à capacitação dos funcionários e terceirizados, verificou-se a partir das informações dos questionários que o treinamento foi uma questão que diferenciou as empresas analisadas entre as que estão com a certificação da qualidade e as que não estão, devido às exigências do padrão de qualidade na execução dos serviços requerido pelo SIQ - Construtoras. Dessa forma, desde engenheiros até os operários da produção, realizam cursos e treinamentos relativos as suas áreas de atuação, podendo ser treinamentos específicos voltados para a tarefa, relações interpessoais e dinâmica de grupo.

Neste aspecto da capacitação dos recursos-humanos, as empresas C e D, que não possuem o sistema de qualidade, em relação à busca da melhoria da qualificação da mão de obra, ainda estão atuando conforme a consideração de Colaço (1998), que apesar do grande contingente de mão-de-obra empregada pela construção, durante muito tempo este setor notabilizou-se, pela falta de atenção dispensada a uma gestão de recursos humanos que considerasse o envolvimento das pessoas em todos os níveis de serviços com vistas a despertá-los para preocupações dentro do contexto da qualidade e produtividade nos seus aspectos mais amplos. As empresas analisadas C e D não realizam treinamento de funcionários, havendo apenas um aprendizado prático no que diz respeito ao conhecimento de um profissional (pedreiro) ser passado para um servente (ajudante de pedreiro) através da observação na execução do serviço. Esta forma empírica de aprendizado profissional, contradiz a ordem de prioridade dos

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consideram a qualidade como prioridade número um, mas não estão interessadas em qualificar sua mão-de-obra, apesar da dependência da produção a esse fator.

As falhas ou defeitos da execução dos serviços nas empresas A e B, que possuem a certificação do SIQ – Construtoras, são detectados e controlados pelos engenheiros, encarregados, técnicos ou estagiários durante o processo construtivo, através da utilização da Ficha de Verificação de Serviço (FVS), na qual são descritas todas as etapas, procedimentos para execução e inspeção do serviço. Esta ação é uma das exigências do SIQ – Construtoras. Nas empresas C e D, que não possuem certificação de qualidade, as falhas ou defeitos da execução dos serviços são detectados e controlados pelo engenheiro de obra, técnicos em edificações e encarregado, através do conhecimento e experiência profissional, pois não há nenhum tipo de documento que descreva as etapas, procedimentos para execução e inspeção dos serviços.

As empresas que possuem o SIQ –Construtoras utilizam a Ficha de Verificação de Materiais (FVM) para inspeção dos materiais que chegam à obra, diferente das empresas que não possuem o certificado de qualidade, que os materiais são inspecionados apenas através do conhecimento e experiência dos profissionais da obra, pois não há nenhum tipo de documento que descreva as etapas e procedimentos para inspeção do material.

Na aplicação do questionário desta pesquisa, foram solicitados os posicionamentos destas empresas em relação ao nível de satisfação com seus principais fornecedores e prestadores de serviços numa escala de 0 a 10. As duas empresas, que possuem o SIQ – Construtoras, (A e B), para o relacionamento com seus principais fornecedores obteve média 6,5. Para a empresa C, a média foi 6,0, já a empresa D, o relacionamento desta com seus fornecedores é considerado nota 10,0, causando dúvida em até que ponto há um critério de avaliação com estes agentes intervenientes, visto o resultado das outras empresas.

Dos dez principais fornecedores e prestadores de serviços das empresas analisadas, exceto a empresa D, os que receberam nota abaixo da média foram: impermeabilizadoras, fornecedores de madeira, concreteiras, armazéns de construção, serviços terceirizados e empreiteiros. Com este resultado observa-se que mais da metade destes agentes intervenientes estão abaixo da expectativa de um bom relacionamento entre cliente e fornecedor, demonstrando assim, um ponto vulnerável dentro da cadeia produtiva da construção civil, causando instabilidade no ciclo da qualidade.

Para as empresas pesquisadas, uma das principais razões para a pouca agilidade da construção em modernizar seus processos é que a grande maioria das inovações ainda não tem preço para concorrer com os sistemas tradicionais. Conforme Gomes (2000), no subsetor de edificações, as introduções de técnicas e equipamentos modernos não foram suficientes a ponto de descaracterizá-lo como um subsetor altamente empregador de mão-de-obra, em geral, as máquinas e as ferramentas utilizadas, substitui a força muscular, agiliza a produção, mas não as habilidades do operário.

Em relação aos manuais de qualidade, de procedimentos de execução dos serviços de obras, que são exigências do SIQ – Construtoras, sendo elaborados pelas empresas A e B, segundo os entrevistados das empresas C e D, que não possuem certificação, estes já tentaram elaborar manuais de procedimentos, mas sempre esbarraram na falta de tempo. Na percepção dos diretores destas duas empresas, quem teria que fazer isto seria o Diretor, o Engenheiro de Obra ou o Técnico em Edificações, os quais estão sempre envolvidos com as atividades diárias da empresa, dificultando o estabelecimento de rotinas e a padronização de processos entre equipes, pois para eles, o que importa é o resultado final.

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Nas duas empresas pesquisadas que possuem o sistema de qualificação, há um consenso em considerar como uma das maiores dificuldades na implantação deste sistema, a mudança do empirismo para normalização, tanto no processo executivo dos serviços (relação de procedimentos), quanto na parte burocrática dos preenchimentos das tabelas e fichas de verificações, entre outros documentos exigidos pelo novo sistema. Esta postura apenas passou a ser assumida após a implantação do SIQ – Construtoras.

As empresas A e B concluem o primeiro ano de certificação do SIQ – Construtoras em junho deste ano. Por isso, serão inspecionadas por um Organismo de Certificação Credenciado (O. C. C.) para autorizar a manutenção do certificado deste Sistema de Gestão da Qualidade.

6. CONCLUSÃO

Independente do tipo de empresa e do ramo industrial, a adoção dos procedimentos para a gestão da qualidade e produtividades requer, efetivamente, mudanças comportamentais e culturais. Atingir esse objetivo exige esforço, dedicação, perseverança e comprometimento de todos que fazem a empresa. No caso específico do setor analisado, os resultados indicam que as ações dirigidas à obtenção da qualidade do produto e melhoria da produtividade contemplam questões relacionadas aos critérios de desempenho para competir no mercado, programas de capacitação e conscientização dos operários, aplicação de técnicas e procedimentos em substituição ao empirismo, melhoria da relação empresa / fornecedor, etc. Neste sentido, foi observada a grande inércia às alterações por parte das empresas que não possuem a certificação de qualidade, enfatizando uma das características básicas deste subsetor da construção, mantenedor do empirismo no gerenciamento e execução dos serviços da obra, mas que devido às exigências atuais pela melhoria da qualidade de produtos e serviços, este subsetor começa a modificar esta característica com a implantação de sistemas de gestão da qualidade.

Referências

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COLAÇO, Zeferino Jorge. Análise da implantação de um programa de qualidade e produtividade na construção pesada/ segmento rodoviário – estudo de caso. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção. Universidade Federal da Paraíba, 1998.

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