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2 REVISÃO DE LITERATURA. 2.1 Aprendizagem motora

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1 INTRODUÇÃO

A atenção está presente em nosso cotidiano. Deparamo-nos com inúmeras situações nas quais precisamos optar sobre como, quanto, onde e quando focar a atenção. Ela está presente desde o início de nossa vida escolar, em que uma das frases mais frequentemente ouvidas é “preste bem a atenção”. A falta de direcionamento da atenção pode interferir na aprendizagem e causar dificuldades em inúmeras atividades da vida diária. Pode ser citado, como exemplo, o ato de dirigir, em que a mudança do foco de atenção é uma das principais causas da ocorrência de acidentes.

A atenção tem sido abordada na literatura de diversas formas: é caracterizada como o mecanismo que permite a seleção eficiente das informações (NORMAM, 1968); ela direciona a vigília quando as informações são captadas pelos sentidos; pode, também, ser vista como um mecanismo que consiste na estimulação da percepção seletiva e dirigida através dos sentidos, das memórias armazenadas e de outros processos cognitivos; é um estado de alerta (MARTENS, 1987; GUALLAR & PONS, 1994; MAGILL, 2000; STERNBERG, 2000; SAMULSKI, 2002).

A capacidade de atenção dos seres humanos é limitada (SCHNEIDER & SHIFFRIN, 1977). Essa constatação tem permitido a interpretação de os seres humanos não serem capazes de direcionar a atenção para as fontes mais relevantes de informação durante todo o tempo ou, dependendo do estado, não conseguirem selecionar as informações mais relevantes. Essas interpretações têm estimulado inúmeras pesquisas sobre a atenção, dentre as quais podem ser destacadas aquelas sobre os efeitos do foco de atenção no desempenho e na aprendizagem motora (SCHMIDT & WRISBERG, 2001; WULF, 2007a).

Essas investigações têm sido realizadas em duas principais abordagens de pesquisa. A primeira é aquela proposta por NIDEFFER (1993), a qual envolve quatro dimensões: (1) ampla-externa (análise de situação complexa), (2) ampla-interna (análise de informações passadas), (3) estreita-externa (atenção exigida no momento da resposta) e (4) estreita-interna (concentração). Nessa abordagem, a preocupação é investigar o desempenho e a aprendizagem em função de dicas (LANDIN, 1994; PASETTO, 2004).

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Na segunda abordagem de pesquisa, a preocupação está na compreensão da aprendizagem de habilidades motoras em função do direcionamento da atenção a aspectos do padrão de movimento (foco interno) e ambientais (foco externo). Nessa abordagem, as conclusões dos estudos têm se remetido à adoção do foco externo promover melhor aprendizagem do que a adoção do foco interno em virtude de o primeiro – externo – possibilitar com que os aprendizes cheguem mais rapidamente à automatização da habilidade do que o primeiro – interno (Wulf, 2007a).

Na presente dissertação, essas conclusões e explicações foram questionadas por meio de três experimentos: no primeiro, a hipótese explicativa foi colocada a prova; e, no segundo e no terceiro, foi questionada a conclusão de superioridade do foco externo.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Aprendizagem motora

A Aprendizagem Motora teve sua origem na Psicologia Experimental e na Neurofisiologia (SCHMIDT e WRISBERG, 2001). Nessa abordagem, a Aprendizagem Motora tem procurado investigar os processos internos e os fatores que interferem na aquisição de habilidades motoras (TANI, 1992; CORRÊA, PEROTTI JR. & PELLEGRINI, 1995; SCHMIDT & WRISBERG, 2001). De acordo com Schmidt (1988) as investigações mais antigas sobre habilidades motoras teriam sido feitas por volta de 1820 pelo astrônomo Bessel.

Um importante marco na história da Aprendizagem Motora ocorreu entre o final dos anos de 1960 e início dos anos de 1970, influenciado pela Psicologia Cognitiva. Ele se referiu à mudança de abordagem, de uma “orientação à tarefa”, a qual focalizava os efeitos de variáveis no desempenho de certas tarefas motoras, para uma “orientação ao processo”, a qual enfatizava aspectos neurais ou mentais básicos para explicar a produção de movimentos (CORRÊA, PEROTTI JR. & PELLEGRINI, 1995).

Mas, afinal, o que é aprendizagem motora? Em uma síntese das definições existentes, Barros (2006) sugeriu que ela diz respeito às mudanças internas na

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capacidade de executar habilidades motoras, sendo tais mudanças no sentido de execuções cada vez mais eficientes, relativamente permanentes, e fruto da prática e experiência.

Para que se investigue a aprendizagem, pelo fato de referir-se a mudanças internas, faz-se necessária a utilização de um método que seja capaz de inferir que esteja ocorrendo a produção de movimento. Observar o desempenho é um dos métodos mais utilizados para inferir a aprendizagem de uma determinada habilidade motora.

Outra importante consideração sobre a aprendizagem motora diz respeito à distinção entre desempenho e aprendizagem. Magill (2000) sugere que o desempenho refere-se ao comportamento observável. Por exemplo: quando uma pessoa caminha por um saguão, observa-se o desempenho da habilidade caminhar. Quando utilizado dessa forma, o termo desempenho se refere à execução de uma habilidade num determinado instante e numa determinada situação. Por outro lado, a aprendizagem não pode ser observada diretamente: somente poderá ser inferida a partir das características do desempenho da pessoa, e deverá ser avaliada por demonstrações de desempenho relativamente estáveis.

A aprendizagem de habilidades motoras demonstra uma considerável característica que sugere que todos os indivíduos passam por diferentes estágios à medida que adquirem novas habilidades. Existem vários modelos que descrevem a aprendizagem por estágios, tais como: verbal-cognitivo e motor (ADAMS, 1971); obtenção da ideia do movimento e fixação/diversificação (GENTILE, 1972); dinâmica intrínseca, transição de fase e nova dinâmica intrínseca (ZANONE & KELSO, 1992); restrição, descobrimento e exploração dos graus de liberdade (NEWELL, 1996; VEREIJKEN & BONGAARDT, 1999); estabilização e adaptação (TANI, 2005).

Dentre os diversos modelos, um que pode ser considerado clássico é o de Fitts e Posner (1967). Nesse modelo, a aprendizagem é descrita em três estágios: cognitivo, associativo e autônomo. No estágio cognitivo, o aprendiz concentra-se nos problemas de natureza cognitiva, tentando compreender os objetivos da tarefa, o que faz com que os mecanismos de atenção sejam sobrecarregados e levem a um desempenho inconsistente.

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No estágio associativo, a atividade cognitiva que caracterizava o estágio cognitivo é alterada, visto que o aprendiz começa a associar certas informações ambientais com o movimento necessário para atingir a meta da habilidade. É possível cometer um menor número de erros, desde que se tenha adquirido os fundamentos básicos ou mecânicos da habilidade, embora os mesmos precisem ser aperfeiçoados. A demanda atencional nesse estágio decresce significativamente, como decorrência da variabilidade do desempenho.

Depois de muita prática e experiência, os aprendizes passam para o terceiro e último estágio (autônomo). Nesse ponto a habilidade torna-se automatizada ou habitual. Ela torna-se independente das demandas de atenção, isto é, requerem menos controle cognitivo. Como consequência, o aprendiz é capaz de direcionar a sua atenção a outros aspectos relevantes para o controle da habilidade, apresentando padrão de movimento mais estável. Nesse estágio a variabilidade do desempenho é pequena.

Schmidt e Wrisberg (2001) descrevem quatro características do desempenho relativas à aprendizagem de habilidades motoras: a primeira refere-se ao aperfeiçoamento; nela, o desempenho é melhorado ao longo do tempo, o que significa que, em um dado momento, o aprendiz estará desempenhando certa habilidade melhor do que antes. A segunda diz respeito à consistência, a qual demonstra que, de uma tentativa para outra, o desempenho do aprendiz deve tornar-se mais tornar-semelhante. A terceira, a persistência, sugere que a capacidade melhorada de desempenho se estende por períodos maiores. Na última, a adaptabilidade, o desempenho se adapta a uma grande diversidade de características do contexto.

Como se pode perceber, dentre as diversas características de cada estágio, ocorre nos processos da atenção uma importante mudança decorrente da prática (LADEWING, 2000), foco do tópico seguinte.

2.2 A atenção em aprendizagem motora

Os estudos sobre atenção vêm da Psicologia, com a utilização dos métodos de introspecção e de tarefas duplas (dual task), os quais investigavam os estágios de desenvolvimento da automatização de uma nova tarefa.

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A atenção é um fenômeno que está presente na maioria de nossas atividades diárias. No entanto, embora o significado da palavra seja conhecido, há grande dificuldade em conceituá-la. Isso é evidenciado nas clássicas palavras de Willian James (1890): “todo mundo sabe o que é atenção; é o tomar posse pela mente, de forma clara e vívida, de informações onde vários objetos e linhas de pensamentos estão presentes simultaneamente; focalização e concentração são a sua essência; ela implica na seleção de algumas informações e pensamentos de maneira ordenada, para lidar eficazmente com as outras” (JAMES, 1890).

A atenção tem sido utilizada para definir vários processos que variam da concentração à vigilância (ABERNETHY, 1993). Schwartzman (2001) sugere que a atenção é o processo que torna consciente um determinado estímulo. Já para Schmidt e Wrisberg (2001), ela relaciona-se às capacidades de processamento de informação que colocam limites sobre o desempenho humano habilidoso.

Em síntese, de acordo com o exposto, pode-se sugerir que a atenção envolve seleção de informação, vigília/estado de alerta, consciência, concentração e, ainda, processos complexos que englobam várias estruturas, processos perceptivos e capacidades de processar informação.

Ao longo dos anos, algumas teorias têm sido propostas na tentativa de explicar os mecanismos da atenção. Uma das primeiras foi a teoria do filtro ou gargalo (WELFORD, 1952; BROADBENT, 1958; DEUTSCH & DEUTCH, 1963; KEELE, 1973), considerando que as pessoas teriam dificuldade em realizar várias tarefas ao mesmo tempo e que, em algum lugar, as informações não selecionadas seriam filtradas. A hipótese básica era que os mecanismos de atenção possuíam capacidade fixa para processar informações e, cada vez que a capacidade fosse ultrapassada, o desempenho seria afetado, o que faria com que as informações transcorressem através de um canal que permitisse a passagem de apenas uma informação ou operação estímulo-resposta por vez. Desses filtros em diante, as informações que fossem selecionadas receberiam os recursos de atenção e passariam a ser processadas de modo seriado, o que faria com que o processamento dessas informações fosse concluído. Acrescenta-se que não há um consenso na literatura sobre onde ou em que momento ocorreria esse filtro.

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De acordo com a teoria da capacidade dos recursos centrais (KAHNEMAM, 1973), haveria uma reserva de recursos ou um reservatório de atenção, onde as atividades ou informações disputariam entre si para usufruir desses recursos. Essa competição ocorreria de acordo com as características da pessoa, da atividade ou da situação. O reservatório seria subdividido de modo que a demanda de atenção suprisse todas as necessidades; entretanto, se as demandas ultrapassassem a capacidade da reserva atencional, o sistema poderia ser prejudicado e uma das “situações” não seria executada com a atenção devida, e desta forma a atividade poderia não ser concluída.

A teoria de recursos múltiplos (WICKENS, 1976) sugere que o ser humano dispõe de diversos mecanismos de atenção, mas cada um com seus respectivos recursos limitados. Os recursos para o processamento da informação viriam de três fontes diferentes: modalidades de entrada e de saída (visão e audição), estágios de processamento de informação (percepção, codificação da memória, saída de respostas) e o código de processamento de informação (códigos verbais, códigos espaciais). Para realizar duas ou mais tarefas ao mesmo tempo com boa qualidade, seria necessário que a solicitação da atenção não necessitasse compartilhar do mesmo recurso; caso os recursos fossem compartilhados, a tarefa poderia ter um desempenho inferior em relação à utilização de recursos diferentes.

Todas as definições, estudos e teorias deixam claro que a atenção ou a capacidade de atenção é limitada. Uma pergunta que pode ser feita em relação a isso é a seguinte: como diminuir os efeitos dessa limitação? De acordo com Magill (2000), uma possível resposta remete ao processo de focalização da atenção. Trata-se do ato de direcionar a atenção para determinadas fontes de informação (MAGILL, 2000; SCHMIDT & LEE, 1999; SCHMIDT & WRISBERG, 2001). Ao contrário das solicitações da atenção, que se referem à distribuição de recursos da atenção para várias tarefas que precisam ser desempenhadas simultaneamente, focalizar a atenção significa organizar os recursos disponíveis para dirigi-los a determinadas fontes de informação.

Conforme apresentado anteriormente, uma das abordagens de pesquisa que tem se desenvolvido nos últimos anos refere-se aos efeitos dos focos interno e

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externo de atenção no desempenho e aprendizagem de habilidades motoras, que será apresentada a seguir.

2.3 Estudos sobre foco de atenção

O foco interno refere-se ao direcionamento da atenção a aspectos da própria execução ou padrão de movimento, bem como a pensamentos e sentimentos relativos ao desempenho. O foco externo, por sua vez, diz respeito ao direcionamento da atenção para informações relacionadas ao resultado da ação no ambiente (WULF, 2007a). A busca pela compreensão dos efeitos de ambos os focos de atenção no desempenho e na aprendizagem de habilidades motoras tem envolvido a realização de muitas pesquisas.

Em termos de aprendizagem, Wulf, Hoß e Prinz (1998) investigaram os efeitos de diferentes tipos de instrução na aprendizagem de habilidades motoras complexas, por meio dos movimentos de uma tarefa similar ao slalom (modalidade do esqui), realizada em um simulador de esqui. No experimento 1, participaram 33 estudantes universitários, 20 mulheres e 13 homens, com idade entre 19 e 35 anos. Os participantes foram divididos em três grupos: foco interno, que recebia instrução para tentar exercer força na parte externa do pé; foco externo, que recebia instrução similar ao outro grupo, para colocar a força na parte externa do pé, mas na direção do movimento da plataforma; e controle, o qual não recebia nenhuma instrução. Os participantes tiveram dois dias de prática, e no terceiro dia foi realizado o teste de retenção. Nos três dias foram realizadas vinte e duas tentativas, sendo oito no primeiro dia, oito no segundo dia e seis no terceiro dia. Nesse experimento, os resultados mostraram que o grupo de foco externo teve, no teste de retenção, melhor desempenho do que os grupos de foco interno e controle.

No experimento 2, com a tarefa de equilíbrio, 16 dos 33 participantes do experimento 1 foram divididos em dois grupos: um de foco interno e outro de foco externo, tendo o mesmo delineamento do primeiro experimento; dois dias de prática e um terceiro dia de teste de retenção. O resultado mostrou o grupo de foco externo com melhor desempenho que o grupo de foco interno.

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Wulf, Lauterbach e Toole (1999) realizaram um estudo para verificar a influência dos focos interno e externo de atenção na aprendizagem da tacada do golfe. O experimento contou com 22 estudantes universitários, 9 mulheres e 13 homens, com idade entre 21 e 29 anos, sem experiência no golfe. O experimento foi conduzido em um gramado ao ar livre onde cada sujeito realizava uma tacada de golfe, com o objetivo de acertar um círculo (alvo) com raio de 45 centímetros. Dez bolas eram fornecidas para cada bloco de 10 tentativas, para que não houvesse interrupção da prática. O alvo circular estava localizado a 15 metros de distância de onde os participantes estavam posicionados. Os participantes foram divididos em 2 grupos: foco interno, que recebeu informação sobre a técnica do movimento (posicionamento da mão no taco), e foco externo, que recebeu informação sobre o clube (campo de golfe e o alvo). O experimento consistiu de 8 blocos de 10 tentativas. Após o oitavo bloco foi realizado o teste de retenção, que consistia de 30 tentativas com as mesmas situações experimentais. O desempenho dos participantes foi medido através da somatória de pontos (acerto no alvo). Foram analisados 3 blocos de 10 tentativas para os 2 grupos. Após a análise dos resultados, verificou-se que o grupo de foco externo se mostrou mais eficiente que o grupo de foco interno no teste de retenção.

Totsika e Wulf (2003) investigaram a influência do foco de atenção sobre uma nova situação de uma habilidade motora. Com a tarefa do pedalo (um aparelho similar a um pedal de bicicleta), os participantes tinham que percorrer uma distância de 7 metros. Para o foco interno, os participantes eram induzidos a direcionar sua atenção para os pés; já para o foco externo, os participantes direcionavam sua atenção para a plataforma onde eram colocados os pés. O estudo foi realizado com 22 estudantes universitários (12 mulheres e 10 homens), com idade entre 19 e 36 anos. Após análise da aquisição, os resultados evidenciaram que o grupo de foco externo teve melhor desempenho que o grupo de foco interno.

Wulf et al. (2003), realizaram outro estudo com o objetivo de verificar se o foco de atenção teria influência sobre a aprendizagem de uma tarefa de equilíbrio. No experimento 1, o objetivo foi verificar se o foco de atenção adotado poderia afetar o desempenho e a aprendizagem. Participaram do estudo 18 estudantes universitários sem experiência com a tarefa. Os participantes ficavam sobre uma plataforma de

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equilíbrio (stabilomiter) e tinham que manter um tubo de madeira no plano horizontal o máximo possível durante noventa segundos. Dentro do tubo havia uma bolinha de tênis de mesa. Os participantes foram divididos em dois grupos, um com a atenção direcionada para o foco interno (a instrução era sobre as mãos) e o outro grupo com a atenção dirigida para foco externo (a instrução era sobre o tubo de madeira). Os resultados apontaram para um melhor desempenho do grupo que teve sua atenção direcionada para o foco externo.

No experimento 2, participaram 29 estudantes universitários. A tarefa foi a mesma utilizada no primeiro experimento; apenas a bolinha de tênis de mesa foi retirada do tubo, e foi acrescentado o grupo controle, que não recebia instrução sobre foco algum. Os resultados também apontam para a eficiência do foco externo. Em ambos os experimentos, o grupo foco externo mostrou-se mais eficiente em relação aos grupos foco interno e controle, na fase de aquisição e nos testes de retenção e transferência. Os autores sugeriram que esses resultados também demonstram que a aprendizagem de habilidades motoras poderia ser influenciada diretamente pela manipulação de foco de atenção do participante em relação a uma determinada tarefa.

Poolton et al. (2006), investigaram os efeitos do foco de atenção na aprendizagem de habilidades motoras complexas. Participaram do primeiro experimento 30 estudantes universitários, sendo 7 homens e 23 mulheres, todos sem experiência com a habilidade motora complexa da tacada do golfe. Os participantes foram distribuídos entre 2 grupos: um de foco externo, que focava sua atenção para a “cabeça” do taco do golfe, e outro de foco interno, que foi instruído a direcionar sua atenção para o movimento das mãos. A tarefa foi realizada em uma esteira de grama artificial de 4 metros de comprimento e 36 centímetros de largura, e as tacadas eram realizadas a 3 metros de distância do alvo. Foram usadas bolas de golfe padrão que eram colocadas 2 metros à frente do buraco (tamanho padrão) e a 15 centímetros para a esquerda do centro do buraco. Todos os participantes usaram o mesmo taco. A aprendizagem envolvia 10 blocos de 30 tentativas. No começo de cada bloco, os participantes eram lembrados sobre o foco de atenção e, após a aprendizagem, um questionário foi administrado sobre qualquer método, movimento ou técnica que eles tivessem lembrado para utilizar na tarefa. Foram realizados, ainda, um teste de

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retenção e um teste de transferência, ambos com 30 tentativas. No teste de transferência, foi exigido dos participantes que, durante a execução das tacadas, contassem simultaneamente a quantidade de tons (agudos) que eram produzidos a cada 900 milissegundos, por um computador. Foi considerado o número total de tacadas realizadas com sucesso por bloco de 30 tentativas. Desse modo, um mínimo de 0 e um máximo de 30 pontos poderiam ocorrer. Os resultados mostraram que para o teste de retenção ambos os grupos mantiveram o nível de desempenho, e não foi detectada diferença entre os grupos; porém, no teste de transferência, com a introdução de uma nova tarefa, o desempenho do grupo foco interno foi afetado, enquanto o grupo foco externo manteve a robustez em seu desempenho.

O experimento 2 teve como objetivo verificar se a quantidade de informação sobre um foco de atenção poderia influenciar no desempenho de uma habilidade motora. Participaram desse experimento 39 estudantes universitários, sendo 15 homens e 24 mulheres, com idade média de 20 anos. Os participantes foram divididos em 2 grupos, baseados no protocolo verbal do experimento 1: o grupo de foco interno recebia 6 informações sobre o processo mecânico da tarefa, e o grupo de foco externo recebia 6 informações sobre os efeitos do movimento. A tarefa foi realizada sobre a mesma superfície do experimento 1 (tacada do golfe em um campo menor) e sobre o mesmo delineamento. A análise dos resultados não demonstrou diferenças significativas entre os grupos. Para o experimento 1, foi justificado que a adoção do foco externo reduzia a carga sobre a memória de trabalho, possibilitando melhor desempenho e aprendizagem. Para o segundo experimento, os autores concluíram que a quantidade de informações fornecidas para os participantes não influenciou no desempenho das habilidades.

Wulf, Tollner e Shea (2007) tiveram como objetivo investigar as vantagens para o aprendizado quando a atenção está voltada para o foco externo ou para o foco interno. Foram realizados 2 experimentos. No primeiro, foi utilizada a tarefa de equilíbrio. Participaram do estudo 18 estudantes universitários, com idade média de 23 anos, sem nenhuma experiência prévia na tarefa. Os participantes realizaram o experimento em 3 condições: foco externo (direcionar a atenção para triângulos colocados sobre a plataforma), foco interno (direcionar a atenção para os pés), e controle (era solicitado apenas que tentassem manter o equilíbrio). Em todas as

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condições, os participantes eram instruídos a olhar para frente. Cada sujeito realizou 3 tentativas para cada condição. As condições experimentais foram contrabalançadas entre os participantes. Os resultados mostraram que não houve diferença entre os grupos. No experimento 2, foram utilizados os mesmos equipamentos, tarefas e procedimentos do experimento 1. Participaram do estudo 24 estudantes universitários, e nenhum destes tinha participado do experimento 1. O diferencial do experimento 2 foi que os participantes deveriam realizar a tarefa tentando se equilibrar sobre apenas um dos pés, aumentando assim a dificuldade de execução. Os resultados apontaram um melhor controle do equilíbrio para o grupo de foco externo, enquanto nos grupos de foco interno e controle não foram detectadas diferenças significativas. Os autores concluíram que, com o aumento da exigência da tarefa, o foco externo mostra-se mais eficaz.

Parr e Button (2009) realizaram um estudo com objetivo de comparar a influência dos focos interno e externo de atenção na aprendizagem de uma habilidade motora. A tarefa utilizada foi o remo. Os participantes, todos iniciantes, foram divididos em dois grupos, que participaram de 24 sessões de treinamento durante um período de seis semanas; na sétima semana, foram realizados testes de transferência e retenção. Para o grupo 1, foi fornecida uma instrução sobre o momento de entrada da lâmina do remo na água (foco externo) e para o grupo 2 foi fornecida uma instrução sobre o movimento do remador (foco interno). Os resultados demonstraram que o grupo de foco externo demonstrou melhorias na técnica, e foi mais eficiente em comparação ao grupo de foco interno. Os autores sugeriram que o fornecimento de instruções sobre o foco externo é benéfico para iniciantes.

Verificando a influência dos focos de atenção sobre o desempenho, foram realizados alguns estudos como o de McNevin e Wulf (2002), que investigaram se o foco de atenção tem influência no desempenho de uma tarefa de equilíbrio, através de uma tarefa de toque em uma plataforma de força. Em frente à plataforma de equilíbrio, foi colocada uma plataforma de força onde os participantes apoiavam-se de acordo com a instrução fornecida. Um grupo recebeu instrução de foco interno (manter a ponta do dedo sobre a plataforma de força) e outro grupo recebeu instrução de foco externo (segurar uma folha que estava sobre a plataforma de força). O estudo contou com 19 participantes (11 mulheres e 8 homens), com idade

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entre 26 e 54 anos. Os participantes realizaram três tentativas de trinta segundos cada. Ambas as posições resultaram em um melhor controle postural, mas a frequência de resposta foi melhor para o foco externo.

Considerando que os indivíduos podem ter melhor desempenho ao escolher determinado tipo de foco, Wulf, Shea e Park (2001) examinaram as diferenças individuais para os efeitos e o tipo de foco de atenção para a aprendizagem motora. No experimento 1, participaram 17 estudantes (10 mulheres e 7 homens), todos alunos universitários. A tarefa foi de equilíbrio, realizada com o stabilomiter (plataforma de equilíbrio de madeira, medindo 65 por 105 centímetros, com inclinação máxima de 15º, 2 marcas redondas da cor laranja com 3 centímetros de diâmetro cada, uma a 18 centímetros e outra a 25 centímetros do plano sagital da plataforma). No primeiro dia, foram apresentados aos participantes 2 tipos de foco de atenção. Para o foco interno, os participantes recebiam instruções sobre a força exercida nos pés e, para o foco externo, as instruções eram sobre o posicionamento dos pés nas marcações feitas sobre a plataforma. No primeiro dia, os participantes praticavam os 2 focos de atenção, e no segundo dia de prática os participantes eram questionados sobre o foco que iriam utilizar para a tarefa, sendo que 9 participantes optaram pelo foco interno e 8 participantes pelo foco externo. Foram realizadas 8 tentativas por sujeito. No terceiro dia, foi realizado o teste de retenção. Após o término do experimento, os participantes foram questionados sobre o foco que utilizaram durante a tarefa. Dentre os participantes, 5 utilizaram o foco interno e 12 o foco externo. Os resultados mostraram que os participantes que optaram pelo foco externo obtiveram melhor desempenho no teste de retenção em relação aos participantes que optaram pelo foco interno.

No experimento 2, participaram 20 estudantes (10 mulheres e 10 homens universitários). O aparato utilizado foi o mesmo do experimento 1, com única variação para a inclinação máxima, que chegou a 30º. Durante a prática, os participantes foram questionados sobre o seu ponto de concentração (no pé ou nas marcas feitas sobre a plataforma). Durante cada tentativa, o sujeito era questionado sobre onde estava direcionando sua atenção. No terceiro dia, foi realizado o teste de retenção. Os resultados mostraram que 16 participantes utilizaram o foco externo e 4 participantes utilizaram o foco interno. Os autores concluíram que o foco interno foi

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mais eficiente para a aprendizagem; porém, com o decorrer das sessões de prática, os autores sugerem que os participantes passam pelo processo de automatização, diminuindo a margem de erro e assim direcionando sua atenção para o foco externo de atenção.

Wulf et al. (2004), examinaram a influência do foco de atenção em uma tarefa de equilíbrio. Participaram do estudo 32 estudantes sem nenhuma experiência com a tarefa de equilíbrio, os quais foram divididos em 4 grupos. A tarefa era equilibrar-se sobre um disco de borracha com as mãos segurando em uma barra de PVC. Todos os participantes recebiam a instrução de ficar em pé e segurar na barra. Foram realizadas 3 séries de 15 segundos. Cada série era executada com 4 tipos de foco de atenção, sendo uma instrução de foco interno (efeito dos pés sobre o disco), uma de foco externo (atenção no movimento do disco), outra de foco interno (manter as mãos imóveis) e outra de foco externo (manter a barra imóvel). Os participantes eram induzidos a utilizar um dos focos de atenção. A ordem das condições era contrabalançada entre os participantes. Os resultados apontaram melhor desempenho quando os participantes dirigiam sua atenção para o efeito do movimento disco ou barra (foco externo) do que quando se concentravam nos movimentos do corpo pé ou mãos (foco interno).

Vance et al. (2004), estudaram o efeito do foco de atenção sobre o resultado do desempenho. Foi utilizado o EMG (eletromiografia) para determinar as diferenças entre o foco externo e o foco interno sobre o nível de manifestação neuromuscular. Foram realizados 2 experimentos. No experimento 1, participaram 11 estudantes universitários do sexo masculino, com idade média de 26 anos. A tarefa utilizada foi um exercício de musculação bilateral para o bíceps. O peso utilizado foi estabelecido através de um teste de carga máxima em um dinamômetro, e na execução da tarefa os participantes utilizaram uma carga correspondente a 50% da carga máxima. Para o foco interno, a instrução era direcionar a atenção para a contração do músculo bíceps. Já para o foco externo, os participantes eram instruídos a prestar atenção ao movimento feito pela barra do equipamento. Os participantes realizaram 2 séries com 10 tentativas para cada foco, de forma contrabalançada. Os resultados mostram que o grupo foco externo obteve melhor desempenho comparado com o grupo foco interno, principalmente nas primeiras repetições. O experimento 2 demonstrou os

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mesmos procedimentos do experimento 1, ressaltando que os participantes não recebiam nenhuma instrução sobre os focos de atenção. Participaram do experimento 12 universitários (10 homens e 2 mulheres). Os resultados não mostraram diferenças significativas entre os participantes.

Ford, Hodges e Williams (2005) investigaram a influência do foco interno de atenção no desempenho de uma habilidade motora e a relevância desse foco para iniciantes e avançados. Foi utilizada a tarefa do drible do futebol. Os participantes passavam driblando (conduzindo) uma bola através de uma fileira de cones. O estudo contou com 20 participantes, sendo 10 avançados (mais habilidosos) com idade média de 21 anos, e 10 iniciantes (menos habilidosos) com idade média de 22 anos. Todos os participantes foram submetidos a quatro situações experimentais: direcionar a atenção para o pé dominante (foco interno considerado relevante); foco direcionado para os braços (foco interno considerado irrelevante); foco para o pé não dominante; e, por último, sem direcionamento do foco. Os resultados não demonstraram diferença significativa entre as situações manipuladas. Os autores concluíram que mais estudos precisam ser realizados, verificando a influência e a relevância do foco interno de atenção.

Stanley, Pargman e Tenenbaum (2007) realizaram um estudo em que o objetivo foi verificar a influencia dos focos interno e externo de atenção sobre a percepção subjetiva de esforço de ciclistas. Participaram do experimento 13 estudantes universitárias, que foram divididas em dois grupos. No grupo 1, as participantes eram convidadas a se concentrar em seus corpos (respiração, transpiração e músculo), e no teste de retenção as participantes eram convidadas a assistir a um vídeo de sua escolha durante a execução da tarefa. No grupo 2, as participantes tinham sua atenção direcionada para uma tela que exibia informações sobre a duração do exercício, a distância e a quantidade de calorias, e no teste de retenção a bicicleta era posicionada em frente a um ginásio, ao mesmo tempo em que era solicitado às participantes contar quantos homens e mulheres passavam em frente ao ginásio. Foram realizadas cinco sessões de prática, sendo que a primeira consistia de um teste de VO2 destinado a avaliar a capacidade aeróbia das participantes. Após as cinco sessões, as participantes pedalaram em um ciclo ergômetro (ciclismo estacionário), a 75% VO2 max. por 10 minutos, onde foi avaliada

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a percepção de esforço. Os resultados não apontaram diferença significativa entre os grupos.

Wulf e Su (2007) realizaram um estudo para verificar se a adoção de uma instrução de foco externo melhoraria a precisão da tacada de golfistas iniciantes e experientes. Foram realizados dois experimentos. O primeiro contou com 30 estudantes universitários sem nenhuma experiência com a tarefa, e foi conduzido em um campo de golfe. Os participantes tinham que realizar a tacada a quinze metros do alvo, e o objetivo era aproximar a bolinha o mais próximo possível do centro. Os participantes foram distribuídos aleatoriamente em três grupos: foco interno, que recebia instrução sobre o movimento de balanço dos braços; foco externo, que recebia instrução sobre o movimento de balanço do taco; e grupo controle, que não recebia informação sobre nenhum foco. Cada sujeito realizou seis blocos de dez tentativas no primeiro dia, e no segundo dia foi realizado o teste de retenção com dez tentativas. Os resultados apontaram melhor desempenho do grupo que recebeu instrução de foco externo, através do teste de retenção. No segundo experimento, os procedimentos foram semelhantes aos do primeiro experimento, com a participação de 6 golfistas experientes. Cada sujeito realizou vinte tentativas para cada condição. Os resultados apontaram melhor desempenho para o grupo de foco externo. Os autores sugeriram que, tanto para iniciantes quanto para experientes, a adoção do foco externo melhora a precisão da tacada do golfe.

Oliveira, Apolinário e Tertuliano (2008) realizaram uma pesquisa com o objetivo de investigar qual seria o foco de atenção preferido, e se haveria diferença entre a preferência de nadadores másteres de 50 metros e 400 metros livre. O estudo foi desenvolvido por meio de um questionário aberto, no qual constava a pergunta: “em que você direciona sua atenção quando realiza a prova de 50/400 metros livre”? Os resultados mostram que 42,5% dos nadadores de 50 metros livre preferiam foco externo e 7,5% preferiam foco interno, enquanto 30% dos nadadores de 400 metros livre preferiam foco externo e 20% preferiam foco interno. Os autores concluíram que os nadadores de 50 metros livre preferem foco externo, enquanto os nadadores de 400 metros livre não denotam preferência significativa.

Dentre os estudos realizados, parte deles fornece instrução sobre a técnica correta para a execução da tarefa e permitem que os participantes tenham tempo

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para praticar e conhecer a tarefa antes da fase de aquisição (este comentário será justificado mais à frente).

Wulf et al. (2000), realizaram um estudo para investigar se o foco externo de atenção era mais eficaz quando direcionado para o efeito do movimento ou para uma ação que não estivesse relacionada ao efeito do movimento, como a antecipação ou dicas do movimento. Foram realizados dois experimentos. No primeiro foi utilizada a tarefa do forehand do tênis. O estudo foi realizado em uma quadra oficial de tênis. Participaram do estudo 36 estudantes universitários (21 mulheres e 15 homens), com idade entre 16 e 33 anos. Os participantes recebiam instruções sobre a técnica correta de como realizar o forehand, e praticavam 10 tentativas antes de iniciar a pesquisa. Posteriormente, os participantes foram divididos em dois grupos experimentais: grupo de antecipação do movimento, que tinha sua atenção direcionada para a trajetória da bola que ia em direção do sujeito, e grupo efeito do movimento, que direcionava sua atenção ao alvo. Os participantes eram posicionados de um lado da quadra e rebatiam a bola que era lançada por uma máquina para o outro lado da quadra, buscado acertar áreas predeterminadas que recebiam pontuações de 1 a 5 (caso a bola não chegasse às zonas de pontuação,, o valor atribuído era zero). Na fase de prática, foram realizados 10 blocos com 10 tentativas cada (com 1 minuto de intervalo entre cada bloco), e após 50 tentativas foi realizado um tempo maior de descanso para recarregar a máquina de lançar bolas. Após um dia, os participantes realizavam o teste de retenção, no qual eram realizados 3 blocos de 10 tentativas, sem qualquer instrução ou lembrete sobre as situações de foco. Após a análise dos resultados, verificou-se que o grupo de efeito do movimento obteve melhor desempenho no teste de retenção, pois sua situação experimental tinha uma meta, que era acertar o alvo.

No experimento 2, foi utilizada a tarefa da tacada do golfe, similar àquela utilizada por Wulf et al. (1999). O experimento foi realizado em um campo de golfe, onde os participantes utilizaram um taco 9 de golfe para acertar a bola em um alvo com 45 centímetros de diâmetro em seu centro e outros 4 círculos (com 1,45 metros, 2,45 metros, 3,45 metros e 4,45 metros, respectivamente). O participante era posicionado a 15 metros do alvo e tinha como objetivo acertar a bola no alvo com uma tacada. A pontuação era aferida de acordo com o local onde a bola parasse,

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sendo atribuídos 5 pontos para o centro do alvo e 4, 3, 2 e 1 para os respectivos arcos seguintes (caso a bola não atingisse nenhum dos objetivos, o valor atribuído era zero). Participaram do estudo 26 estudantes universitários (14 homens e 12 mulheres). Os participantes não tinham nenhuma experiência com a tarefa. Todos recebiam instruções sobre a técnica para realizar a tacada, e praticavam 5 tentativas antes de iniciar a tarefa. Foram criados 2 grupos para o experimento. O primeiro grupo tinha como foco sua atenção dirigida para o campo (noção espacial), e antes de realizar a tarefa os participantes eram questionados sobre como realizariam o movimento da tacada para o referido campo. O segundo grupo direcionava sua atenção para a trajetória da bola, e antes de realizar a tarefa era perguntado aos participantes sobre a trajetória que eles imaginavam para o percurso da bola. Os participantes realizaram 8 blocos com 10 tentativas na fase de prática. Um dia depois realizavam o teste de retenção, no qual eram realizadas 30 tentativas e não era fornecida instrução alguma sobre os focos de atenção. Os resultados mostraram que o grupo com foco no campo obteve melhor desempenho em relação ao grupo com o foco de atenção na trajetória da bola. Após os dois experimentos, concluiu-se que direcionar a atenção para o efeito do movimento leva a um melhor aprendizado. Conforme os autores, provavelmente o foco de atenção direcionado para o efeito do movimento pode estar relacionado ao nível do processo de controle motor dos participantes, ou ainda ao tipo de instrução que é fornecido aos participantes.

Wulf et al. (2002) estudaram ainda os efeitos da frequência de feedback e do tipo de foco de atenção na aprendizagem de habilidades motoras complexas do voleibol. No experimento 1, participaram 48 estudantes universitários, sendo um grupo de iniciantes com idade entre 15 e 30 anos e outro grupo de experientes com idade entre 16 e 23 anos. Os participantes foram selecionados através de observação das aulas. O grupo de experientes treinava periodicamente o jogo de voleibol, enquanto os iniciantes praticavam aulas de tênis e não tinham experiência com a modalidade do experimento. A tarefa era realizar o saque por cima do voleibol. Antes de iniciar o experimento, os participantes recebiam instruções sobre a técnica do movimento (foco interno) para realização da tarefa. O objetivo era acertar um alvo demarcado na quadra. Foram formados 4 grupos (foco interno, iniciantes-foco externo, experiente-iniciantes-foco interno e experiente-iniciantes-foco externo), os quais foram

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submetidos a dois dias de prática, com 10 blocos de 5 tentativas. No terceiro dia foi realizado o teste de retenção, com 10 blocos de 3 tentativas. O alvo era dividido em quatro áreas: para o centro do alvo eram computados 4 pontos, para a segunda área 3 pontos, para a terceira 2 pontos, e para a quarta 1 ponto (caso a bola parasse fora do alvo, o valor atribuído era zero). A cada bloco de cinco tentativas, os grupos de foco interno recebiam informações sobre a técnica do movimento, e os grupos de foco externo recebiam informações sobre o efeito do movimento. Os resultados apontaram melhor desempenho dos grupos de foco externo em relação aos grupos de foco interno nos testes de retenção. O grupo de experientes, como já era esperado, demonstrou melhor desempenho do que o grupo de iniciantes.

No experimento 2, foi investigado o efeito da frequência de feedback em relação ao tipo de foco de atenção. Participaram do estudo 52 estudantes com idade entre 18 e 25 anos, experientes e iniciantes. A tarefa foi o chute do futebol, com o objetivo de acertar um alvo de 80 x 80 centímetros divididos em dois (centro e extremidade). Os participantes foram divididos aleatoriamente em 4 grupos (foco interno com 33% de feedback, foco interno com 100% de feedback, foco externo com 33% de feedback e foco externo com 100% de feedback), sendo que o grupo de foco interno recebia informações sobre a técnica do movimento, e o grupo de foco externo recebia informação sobre o efeito do movimento. Foi seguido o mesmo delineamento do experimento 1. Os resultados mostraram que o grupo de foco externo com 100% de feedback obteve melhor desempenho. Comparando o nível de experiência com a frequência, nos testes de retenção, o grupo foco externo com 100% de feedback foi melhor que o grupo foco externo com 33%, entre os experientes; já para os iniciantes, o grupo foco interno com 33% de feedback obteve melhor desempenho que o grupo foco interno com 100%.

Ceccato, Passmore e Lee (2003) examinaram a influência das instruções de foco interno e externo de atenção sobre o desempenho de uma tacada no golfe, realizada por golfistas habilidosos e não habilidosos. Participaram deste estudo 8 homens e 2 mulheres, e a meta era aproximar a bola o máximo possível do alvo. A tarefa foi realizada em um campo de golfe, e os participantes podiam optar entre usar o taco fornecido pelo experimentador ou o taco particular. Antes de iniciar o experimento, os participantes praticaram algumas tentativas em cada uma das 4

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posições. Os participantes foram posicionados a uma distância de 10, 15, 20 e 25 metros do alvo. Para o foco interno, os participantes recebiam instrução para se concentrarem no balanço dos braços e no controle da força, enquanto para o foco externo os participantes foram orientados a se concentrarem em acertar a bola o mais próximo possível do alvo. Os participantes realizavam 40 tentativas em cada situação experimental para cada distância, de forma contrabalançada, somando 80 tentativas para cada sujeito. Os resultados mostraram que os participantes mais habilidosos obtiveram melhor desempenho para o foco externo de atenção, enquanto para o foco interno não foi encontrada diferença significativa.

Wulf e McNevin (2003) tiveram como objetivo investigar os benefícios dos focos de atenção na aprendizagem de uma tarefa de equilíbrio, comparando o foco externo com o foco interno de atenção, utilizando ainda um grupo controle (sem instrução de foco) e um grupo sombreamento (que tinha sua atenção distraída durante a execução da tarefa). Foi utilizada a tarefa de equilíbrio, realizada sobre uma plataforma (stabilometer). Participaram do estudo 41 estudantes universitários de ambos os sexos, sendo que nenhum dos participantes tinha experiência prévia na tarefa. O objetivo era manter-se equilibrado o máximo possível sobre a plataforma, por noventa segundos. Todos recebiam a informação de que deveriam manter a plataforma na horizontal. Os participantes tinham um tempo para se familiarizar e se posicionar sobre o aparelho, com os pés atrás de uma marcação feita sobre a plataforma. Os participantes foram divididos aleatoriamente entre os grupos, sendo o primeiro orientado sobre a condição de foco interno, com a instrução de direcionar sua atenção para os pés e tentar manter-se na horizontal. O segundo grupo foi orientado sobre a condição de foco externo, e tinha sua atenção direcionada para o efeito dos movimentos produzidos ao tentar posicionar os pés sobre a marcação feita na plataforma. O terceiro grupo (controle) não recebia nenhuma instrução sobre os focos. E, por fim, os participantes do quarto grupo (sombreamento) deveriam prestar a atenção em uma história que era contada durante a execução da tarefa. Foram realizados dois dias de prática, e no terceiro dia foi realizado o teste de retenção, no qual não havia marcação para o posicionamento dos pés. Os resultados obtidos nos testes de retenção mostraram que o grupo de foco externo obteve melhor desempenho do que os demais grupos.

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Considerando a premissa de que a adoção do foco externo de atenção tem sido associada à diminuição da frequência cardíaca e a um melhor desempenho, se comparada à adoção de foco interno, Abes (2004) realizou um estudo com objetivo de avaliar a influência dos tipos de foco de atenção sobre a frequência cardíaca e o desempenho no primeiro saque do tênis. O estudo contou com 12 participantes, com idade entre 14 e 45 anos. Estes participantes foram selecionados de forma não aleatória, de acordo com o seu nível e experiência de competição: iniciantes (n=4), intermediários (n=4) e avançados (n=4). Os participantes foram divididos em dois grupos, sendo que um grupo recebia instrução de foco externo (acertar a bolinha em uma área pré-determinada do lado oposto da quadra) e o outro grupo recebia instrução de foco interno (técnica de pegada da raquete e mecânica do golpe). Foram realizadas 3 coletas com 20 tentativas cada. Os resultados apontam que os participantes que receberam instrução de foco externo obtiveram melhor desempenho e uma diminuição da frequência cardíaca, em comparação aos que receberam instrução de foco interno. Sendo assim, os autores sugeriram que o foco de atenção externo aparenta ser mais indicado antes da execução do saque, e que a frequência cardíaca pode servir como indicador do nível de atenção dos jogadores.

Zachry et al. (2005), tiveram como objetivo investigar o efeito da utilização de um foco de atenção no desempenho de uma habilidade motora de precisão, bem como registrar as atividades musculares através da eletromiografia. A tarefa utilizada foi o arremesso de lance livre do basquetebol. Participaram do estudo 14 estudantes universitários (8 homens e 6 mulheres) com idade média de 26 anos, com pelo menos um ano de prática no basquetebol. Foram fornecidas instruções sobre a técnica correta e a posição inicial (foco interno) antes que a coleta fosse iniciada. Os sensores do aparelho de EMG foram colocados no bíceps, tríceps e deltóide de cada indivíduo. Os participantes eram livres para praticar a tarefa enquanto se sentissem confortáveis com o aparelho e a técnica. Os participantes realizavam dois blocos com 10 tentativas em cada condição, as quais foram contrabalançadas entre os indivíduos. Na condição de foco interno, os participantes recebiam informação para direcionarem sua atenção sobre o movimento do punho. Já sobre a condição de foco externo, os participantes tinham que direcionar sua atenção diretamente à cesta

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(aro). Os resultados apontam para um melhor desempenho para a condição foco externo.

Wulf et al. (2007), realizaram um estudo com o objetivo de avaliar os benefícios do foco externo em relação aos do foco interno de atenção. No primeiro experimento, foi utilizada a tarefa do salto vertical com o objetivo de saltar e atingir um determinado ponto o mais alto possível. Participaram do estudo 10 estudantes universitários (1 homem e 9 mulheres), com idade média de 23 anos. Antes de iniciar a tarefa, os participantes recebiam instruções sobre a posição inicial para realizá-la. Todos os participantes realizaram os três tipos de situações experimentais: primeiro todos realizavam a situação “controle”, na qual não era fornecido nenhum direcionamento sobre o foco de atenção; depois, de forma contrabalançada, os participantes realizavam a tarefa sobre condições de foco externo (direcionar a atenção para as marcações de altura e tentar alcançar o mais alto possível), e de foco interno (direcionar a atenção para a ponta dos dedos). Foram realizadas 5 tentativas sobre cada condição. Os resultados mostraram que o foco externo possibilitou melhor desempenho comparado com as condições de foco interno e controle. Para o experimento 2, foi utilizado o mesmo procedimento e delineamento do primeiro experimento, com o diferencial de ser instalada uma plataforma de força na qual os participantes realizavam a tarefa. As três situações experimentais – foco externo, foco interno e controle – foram contrabalançadas entre si, formando a seguinte ordem: controle-interno-externo, interno-externo-controle e externo-controle-interno. Participaram do segundo experimento 12 estudantes universitários (5 homens e 7 mulheres), com idade média de 23 anos, sendo que nenhum dos participantes havia participado do primeiro experimento. Os resultados mostraram que, sobre a condição de foco externo, os participantes tiveram melhor desempenho em relação à altura alcançada do que as condições de foco interno e controle; no entanto, em relação às medidas de força não foram encontradas diferenças significativas. Com relação a este tipo de tarefa, foi concluído que o foco de atenção pode interferir na execução, dificultando um melhor desempenho sobre a condição de foco interno.

Emanuel, Jarus e Bart (2008) investigaram os efeitos do foco de atenção no desempenho de participantes de diferentes idades. A tarefa utilizada foi o arremesso

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de dardo de salão. Participaram do experimento 20 meninas e 14 meninos com idade média de 9 anos, os quais foram divididos de forma randômica em dois grupos: um com 17 participantes para foco interno, e outro com 17 participantes para foco externo. Os adultos foram 32, sendo 16 mulheres e 16 homens, com idade média de 29 anos, os quais também foram divididos de forma randômica em dois grupos: 16 para grupo de foco interno e 16 para o grupo de foco externo. Antes de iniciar o experimento, os participantes recebiam instruções sobre a técnica correta para executar o movimento (foco interno) para a realização da tarefa. Os grupos de foco interno recebiam instrução para direcionar a atenção para a técnica, como por exemplo, posição do braço e dos dedos. O grupo de foco externo, por sua vez, recebia instrução para direcionar sua atenção para o alvo ou a trajetória do dardo. Todos os participantes recebiam na fase de prática informações básicas sobre a técnica do arremesso. O experimento foi realizado em 5 blocos de 10 tentativas na fase de aquisição, e após esta fase os participantes eram questionados sobre o direcionamento de sua atenção. Houve também uma fase de retenção, que contou com 2 blocos de 10 tentativas, e outra de transferência, com 2 blocos de 10 tentativas. Os resultados mostraram que, o foco externo foi mais eficiente entre os adultos, enquanto entre as crianças não foram encontradas diferenças significativas.

Wulf (2008) realizou um estudo com o objetivo de verificar os efeitos dos focos de atenção em uma tarefa de equilíbrio. Participaram do estudo 10 homens e 2 mulheres, os quais eram artistas profissionais do Cirque du Soleil e estavam trabalhando no show “Mystère,” em Las Vegas. A tarefa exigia que os participantes se equilibrassem sobre um disco de borracha inflado, medindo 13 polegadas e 33 cm de diâmetro. Foram propostas três condições experimentais de foco de atenção, distribuídas aleatoriamente entre os participantes: foco externo (minimizar os movimentos do disco), foco interno (minimizar os movimentos dos pés) e controle (sem condições de foco). Antes da coleta de dados, os acrobatas foram estimulados a familiarizar-se com a tarefa. O objetivo da tarefa era permanecer por pelo menos dez segundos em cima do disco (que estava sobre uma plataforma de força). Os resultados não mostraram diferenças significativas entre os grupos.

Bell e Hardy (2009) realizaram um estudo que teve como objetivo comparar a eficácia de três diferentes tipos de foco de atenção no desempenho de golfistas

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habilidosos em condições de alta ansiedade. Para realização do estudo, participaram 33 golfistas com idade entre 15 e 59 anos, que foram divididos de forma aleatória em quatro grupos: foco interno (atenção direcionada para o movimento dos braços), foco externo estreito (atenção dirigida para o movimento, trajetória do taco), foco externo amplo (atenção dirigida para o voo ou a trajetória da bola) e controle (sem direcionamento da atenção). A tarefa foi a tacada do golfe realizada a uma distância de vinte metros do alvo, em um campo oficial, com o objetivo de aproximar a bolinha do alvo. Para gerar a condição de ansiedade, os golfistas eram informados de que seria feita uma análise dos vídeos por um especialista da confederação dos golfistas, com intuito de avaliar o desempenho individual dos atletas. Cada um dos atletas recebeu incentivo financeiro para participar do estudo. Os participantes tiveram tempo para praticar e se familiarizar com as condições experimentais. Cada sujeito realizou 3 blocos de 30 tentativas. Os resultados demonstraram que o grupo de foco externo amplo obteve melhor desempenho quando comparado aos outros grupos. Para garantir a adoção das situações experimentais, a cada 10 tentativas os participantes eram lembrados sobre o direcionamento, e antes das tentativas era solicitado que eles dissessem a situação ou para onde estaria direcionada sua atenção. Após o teste, foi aplicado um questionário com intuito de verificar a adoção das situações propostas pelos participantes. Os autores sugeriram que, mesmo em condições de ansiedade, a adoção do foco externo amplo foi mais eficiente para golfistas profissionais.

Barros et al. (2009) realizaram um estudo examinando os efeitos da instrução de foco de atenção na aprendizagem do arremesso de disco. Sugere-se que a maioria dos estudos tem empregado tarefas que parece privilegiar o uso do foco externo. O estudo também se preocupou em investigar se os participantes haviam seguido as instruções, por meio de questionário. Participaram do estudo 24 estudantes universitários do sexo masculino, que foram divididos aleatoriamente em 3 grupos: G1 (foco externo, que recebia instrução sobre a trajetória do disco), G2 (foco interno, que recebia instrução sobre o movimento do quadril) e G3 (controle, que recebia a instrução, “faça o seu melhor”). Todos os participantes receberam instruções básicas sobre a técnica do lançamento do disco, e assistiram a um vídeo sobre a execução da tarefa. O estudo contou com uma fase de aquisição, que

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consistia de quatro blocos de 10 tentativas, e 24 horas depois foi realizado o teste de retenção com 10 tentativas. Os resultados não revelaram diferenças significativas entre os grupos. No entanto, a análise dos questionários revelou que os participantes dos grupos 1 e 2 utilizaram uma combinação das instruções de foco interno e externo durante a aquisição e o teste de retenção. A discussão sugeriu que os participantes poderiam espontaneamente usar vários diferentes tipos de foco durante a aprendizagem de habilidades motoras.

Mendonça et al. (2010) investigou o efeito do foco de atenção sobre o desempenho do arremesso no handebol. Participaram do experimento 40 atletas, sendo vinte mulheres e 20 homens, com idade entre 14 e 16 anos. Os sujeitos foram divididos aleatoriamente entre quatro grupos: G1 (controle), G2 (foco interno, que recebia instrução para direcionar sua atenção para a mão buscando gerar maior velocidade possível), G3 (foco externo proximal, que recebia instrução para direcionar sua atenção sobre a bola) e G4 (foco externo distal, que recebia instrução para direcionar sua atenção para o gol). O grupo controle não teve prática. O desempenho foi analisado por meio de análise de vídeo, onde foi feito um scoute técnico especifico com análise qualitativa do arremesso, em cindo tentativas de cada fase. O estudo consistiu de pré-teste, pós-teste e retenção. A medida de resultado foi realizada em função do número de acertos ao alvo de 30 centímetros de diâmetro posicionado no centro do gol. A análise dos resultados não encontrou diferença significativa entre os grupos. Os resultados foram justificados em função da quantidade de prática e da complexidade do arremesso analisado.

Oelke e Cláudio (2010) realizaram um estudo com objetivo de analisar o efeito do foco de atenção interno e externo sobre a aprendizagem de uma tarefa de driblar, verificando se as características desenvolvimentistas influenciariam no desempenho. O experimento contou com 60 participantes de ambos os sexos, com idade entre 5 e 21 anos de idade, todos iniciantes. Os participantes foram divididos em seis grupos: grupo NI (5-6 anos com foco interno), grupo NE (5-6 anos com foco externo), grupo VI (9-10 anos com foco interno), grupo VE (9-10 anos com foco externo), grupo AI (19-21 anos com foco interno) e grupo AE (19-21 anos com foco externo). A tarefa foi driblar uma bola em um tempo de 20 segundos, considerando o número total de batidas na bola. Antes de iniciar a pesquisa, os participantes foram familiarizados

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com a tarefa. Os grupos de foco interno recebiam instrução sobre a mão, e os grupos de foco externo tinham sua atenção direcionada para a bola. O estudo consistiu de pré-teste, aquisição (que foi realizada em quatro aulas), pós-teste e retenção. Os resultados mostraram que os participantes aprenderam a tarefa, porém não foram encontradas diferenças entre os grupos. Os autores sugeriram que os resultados podem ter sido em função da capacidade dos participantes em manter o foco de atenção.

Lohse et al. (2010), investigaram os efeitos dos focos interno e externo de atenção no controle e na aprendizagem de uma habilidade motora. A tarefa utilizada foi o arremesso de dardo de salão. O erro foi mensurado através da distância linear do centro do alvo para o dardo, e serviu como a medição de desempenho comportamental. O experimento contou com 12 participantes, e foi realizado em três fases. A primeira fase (aquisição) teve como objetivo familiarizar os participantes com a tarefa, mas sem instrução explicita – embora em todas as fases os participantes tenham sido instruídos a atirar os dardos com a maior precisão possível. Na segunda e terceira fases, os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um grupo recebia instrução sobre o movimento do braço (foco interno) e outro recebia instrução sobre a trajetória do dardo (foco externo). O estudo combinou eletromiografia de superfície (tríceps), com análise de movimento, sendo este o primeiro estudo que incluiu uma análise abrangente das mudanças no desempenho motor em função do foco atencional. Os resultados apresentaram vantagem para o foco externo de atenção no controle motor e na aprendizagem, onde os participantes apresentaram melhor desempenho (menor erro absoluto), uma diminuição no tempo de preparação entre os lances, e diminuição da atividade EMG do tríceps braquial. Estes resultados sugerem que a adoção do foco externo resultou em uma economia de movimento. Concluiu-se que a adoção do foco externo de atenção leva a uma melhor precisão e desempenho no arremesso de dardo de salão e também a uma economia de movimento, demonstrando que mesmo mudanças sutis na estrutura de uma tarefa podem ter efeitos profundos sobre o comportamento motor.

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2.4 Síntese

Os efeitos dos focos interno e externo de atenção sobre o desempenho e a aprendizagem de habilidades motoras foram investigados em 29 estudos, os quais envolveram um total de 37 experimentos. Dentre as pesquisas revisadas, doze investigaram os efeitos do foco de atenção na aprendizagem (WULF, HOß & PRINZ, 1998; WULF, LAUTERBACH & TOOLE, 1999; WULF et al., 2000; TOTSIKA & WULF, 2003; WULF & MCNEVIN, 2003; WULF et al., 2003; POOLTON et al., 2006; WULF, TOLLNER & SHEA, 2007; PARR & BUTTON, 2009; BARROS et al., 2009; OELKE & CLAUDIO, 2010; LOHSE et al., 2010); quatorze estudos verificaram a influência dos focos de atenção no desempenho (WULF, SHEA & PARK, 2001; MCNEVIN & WULF, 2002; CECCATO, PASSMORE & LEE, 2003; WULF et al., 2004; VANCE et al., 2004; ABES, 2004; FORD, HODGES & WILLIAMS, 2005; ZACHRY et al., 2005; STANLEY, PARGMAN & TENENBAUM, 2007; WULF & SU, 2007; WULF et al., 2007; EMANUEL, JARUS & BART, 2008; WULF, 2008; BARROS et al., 2009); a pesquisa de Bell e Hardy (2009) investigou a influência dos focos de atenção em uma situação de ansiedade no desempenho; Wulf et al. (2002) investigaram os efeitos do foco de atenção através da frequência de feedback; e, Oliveira, Apolinário e Tertuliano (2008) verificaram através da aplicação de um questionário, qual o foco de atenção preferido para nadadores em diferentes provas de natação.

A maioria dos estudos aponta, em seus resultados, superioridade da condição de foco externo quando comparada com as condições de foco interno e controle. De acordo com Wulf (2007a), quando um indivíduo adota o foco externo em detrimento do foco interno, o processo de aprendizagem é acelerado, e alcança-se mais cedo um estado de automaticidade. Sugere-se, ainda, que os primeiros estágios de aprendizagem são encurtados pela utilização do foco externo (WULF et al., 1998; MCNEVIN & WULF, 2002; WULF & MCNEVIN, 2003; WULF, 2007b; BELL & HARDY, 2009).

Outra hipótese explicativa sobre a superioridade dos efeitos do foco externo sobre aqueles do foco interno, com pouca aceitação na comunidade científica, foi elaborada por Poolton et al. (2006). Eles sugeriram que, ao invés de automatização,

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durante a fase inicial da aquisição das habilidades motoras, a adoção do foco externo promove menor sobrecarga na memória de trabalho.

Um aspecto que chama a atenção é que apenas dois estudos procuram investigar a hipótese explicativa da automatização (WULF & MCNEVIN, 2003; POOLTON et al., 2006). Entretanto, a falta de rigor nos delineamentos (em específico, a falta de grupo controle e a falta de interpretação restrita aos resultados) compromete as conclusões dos autores.

Diante disso, o experimento 1 foi realizado com o objetivo de investigar os efeitos dos focos interno e externo de atenção na aprendizagem de habilidades motoras em função da automatização da habilidade.

Outra inquietude incitada pela revisão da literatura revisada é que, em 14 dos 29 estudos contemplados, os participantes receberam instruções sobre a técnica correta para execução da tarefa anteriormente ao início da fase experimental, e em parte desses estudos os participantes ainda tiveram tempo para se familiarizar (praticar) com a tarefa (WULF et al., 2000; WULF et al., 2002; CECCATO, PASSMORE & LEE, 2003; WULF & MCNEVIN, 2003; ABES, 2004; ZACHRY et al., 2005; WULF et al., 2007; EMANUEL, JARUS & BART, 2008; WULF, 2008; BELL & HARDY, 2009; BARROS et al., 2009; MENDONÇA et al., 2010; OELKE & CLAUDIO, 2010; LOHSE et al., 2010). Considerando que a instrução sobre a técnica correta para a execução da tarefa diz respeito ao foco interno (WULF, 2007a), perguntou-se: os efeitos “superiores” do foco externo de atenção seriam dependentes daqueles de foco interno anteriores na instrução inicial ou, ainda, na fase de aquisição? Essas perguntas foram investigadas, respectivamente, nos experimentos 2 e 3.

3 EXPERIMENTO 1

3.1 Objetivo

Investigar os efeitos dos focos interno e externo de atenção na aprendizagem de habilidades motoras em função da automatização.

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3.2 Método

3.2.1 Participantes

Foram convidados a participar do experimento 48 adultos jovens de ambos os sexos (23♀ e 25♂), com idade de 18 a 35 anos (±26 anos). Os participantes não tinham experiência na tarefa de aprendizagem e foram distribuídos aleatoriamente nos grupos experimentais. A participação foi condicionada ao preenchimento de formulário de participação livre e esclarecida (Anexo I). O presente projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética na Pesquisa da Escola de Educação Física e Esporte da USP (Anexo V).

3.2.2 Tarefa

A tarefa foi a tacada do golfe, especificamente a última tacada. Essa tarefa foi escolhida por se tratar de uma habilidade descrita na literatura e, por isso, com algum conhecimento acumulado (WOOLFOLK, PARRISH & MURPHY, 1985; DELAY et al., 1997; WULF, LAUTERBACH & TOOLE, 1999; WULF et al, 2000; THILL & CURY, 2000; SKEHAN & FOSTER, 2002; CECCATO, PASSMORE & LEE, 2003; ROSS et al., 2003; POOLTON et al., 2006), sem riscos para os participantes, e pouco praticada entre a população.

3.2.3 Materiais

Um campo de mini-golfe (Figura 1) com 5 metros de comprimento e 1,5 metros de largura, com um buraco (alvo-10,8 cm) no final do “campo”, semelhante ao utilizado no estudo de Poolton et al. (2006); dois tacos de golfe (um taco masculino e um taco feminino – modelo putter) para iniciantes; 10 bolas oficiais (Spirit Titanium Core); e um laptop para anotação dos resultados.

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Figura 1 – Representação do mini campo de golfe utilizado para coleta de dados

3.3 Delineamento e procedimentos

O estudo envolveu duas fases experimentais: aquisição e teste de retenção. Todos os grupos praticaram a tarefa durante a fase de aquisição (tacada realizada a 3 metros do alvo), com execução de 100 tentativas divididas em 10 blocos de 10 tentativas cada, com intervalo de até 1 minuto após cada bloco. O teste de retenção foi realizado quarenta e oito horas após a fase de aquisição, e envolveu a execução de 10 tentativas.

O experimento foi realizado na Faculdade Veris Metrocamp, na cidade de Campinas (SP), e no Clube Atlético Valinhense, na cidade de Valinhos (SP).

Alvo – 10,8 centímetros 5 metros 3 metros aquisição / retenção taco 1,5 metros

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