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Por uma abordagem textual no ensino do português

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Academic year: 2021

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P O R D M A A B O R D A G E M T E X T U A L N O E N S I N O DO P O R T U G U Ê S

F R U TUOSO D R E H E R SIMÕES

Disser t a ç ã o a presentada ao Curso de p5s- G r a d uação e m L i n g ü í s t i c a da U n i v e r s i d a d e Fe­ deral de Santa Catarina como p a r t e dos r e ­ q u i sitos para a obtenção do G r a u de M e s t r e e m Lingüística.

(2)

ii

E s t a d i s s e r t a ç ã o foi julgada adequada para a o b t e n ç ã o do grau de

MESTRE E M LETRAS

 r e a de L i n g ü í s t i c a A p l i c a d a ao E n s i n o de Português e aprovada e m sua f o r m a final p e l o P r o g r a m a de P õ s - G r a d u a ç ã o o u Letras.

Prof. Dr. A p ó s t o l o T. N i c o l a c o p u l o s C o o r d e n a d o r do Curso de P õ s - G r a d u a ç ã o e m L e tras - Lingüística. B A N C A EXAMIN A D O R A ; Prof? Dr? M a r i a M a r t a F u r l a n e t t o O r i e n t a d o r a P r o f ? Dr? M a r i a M a r t a F u r l a n e t t o P3^ f ? Dr? T e r e s i n b P rof? Dr? í é ^ d a Gomes V i e i r a

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A Nara, incansável c o m p a n h e i r a de jornada.

Á Daniel Rodrigo e C a s s i a n o R a ­ miro, n ossos filhos, razão p r i m e i ­ ra e m e t a m a i o r de todas as n o s s a s c a m i n h a d a s .

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I V

A meus pais, A r t h u r e Laura, minhas raízes e fontes de m i n h a s verdades.

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à P r o f e s s o r a Dra. M a r i a M a r t a Furlanetto, incans á v e l o r i ­ entadora, c o m p a n h e i r a nesta luta, irmã, amiga dedicada m u ­ lher extraordinária.

à C o o r d e n a ç ã o e aos p r o f e s s o r e s do Curso de P Ó s - G r a d u a ç ã o e m L i n g ü í s t i c a da U n i v e r s i d a d e F e deral de Santa Catarina, nas p e s s o a s dos Profes s o r e s Dr. Giles L o t h e r Istre e Dr. A p õ s t o l o T h e odoro N i c o l a c õ p u l o s .

À D i r e ç ã o da F a c u l d a d e de Filosofia, Ciências e L etras e das F a c u l d a d e s Reunidas de Administração, Ciências C o n t á ­ b e i s e Ciências E c o n ô m i c a s de Palmas, pelo a p o i o e e s t í ­ mulo.

Ao P r e s i d e n t e e aos m e m b r o s do C o n selho D i r e t o r do Centro Pastoral, E d u c a c i o n a l e A s s i s t e n c i a l "Dom Carlos", i n s t i ­ t u i ç ã o m a n t e n e d o r a das F a c u l d a d e s de Palmas, p e l o alto e s ­ p í r i t o acadêmico, m a n i f e s t o no a p o i o f i n a n c e i r o que p o s s i ­ b i l i t o u levar-se a b o m termo o p r e s e n t e trabalho.

A o s Profes s o r e s Dr. V i c e n t e de P aula A t a í d e e E u r i d e s Ros- setto, amigos e i n c e ntivadores que m e h o n r a r a m ao me a p r e ­ se n t a r . ao Curso de P Ô s - G r a d u a ç ã o e m L i n g ü í s t i c a da U n i ­ v e r s i d a d e Federal de Santa Catarina.

A o P r o f e s s o r Dr. E d s o n M á r i o de A l c â n t a r a , d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l de Alagoas, p o r seu apoio e i n c e n t i v o amigos.

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V I

RESUMO

P a r t i n d o da p r e o c u p a ç ã o inicial de d e s c obrir as possíveis c o n t r i b u i ç õ e s do d e s e n v o l v i m e n t o das pesqu i s a s lingüísticas p a r a o a p r i m o r a m e n t o do e n sino do Português,.no p r e s e n t e traba- IhOj c o n s i d e r a m - s e os o b j e t i v o s p r o p ostos para o e n s i n o / a p r e n d i ­ z agem do Português, q u e s t i o n a n d o a v a l i d a d e de alguns p r o c e d i ­ m e n t o s adotados. E m seguida, discute-se a q u e stão da gramática e da n o r m a e m r e l a ç ã o ao ensino, fazendo uma rápida e de.spré.ten- siosa a n á l i s e dos dois a s s u n t o s , e destac a n d o a lguns aspectos t e ó r i c o s das difere n t e s gramát i c a s e da q u e s t ã o da n o r m a (ou normas) p a r a r e s s a l t a r q u e a p r o b l e m á t i c a e n s i n o / a p r e n d i z a g e m do P o r t u g u ê s n a o se r e s t r i n g e a tais questões.

A d o t a n d o xjma p e r s p e c t i v a de a b o r d a g e m socio l ó g i c a da lin­ guagem, i n s c r e v e - s e n u m p l a n o e m que é s t a ê v i s t a como i n t e r a ç ã o v e r b a l e tomada do p o n t o de v i s t a da enunciação. Par- te-se d a t e o r i a dos atos de l i n g u a g e m e m direção â s e m â n t i ­ ca a r g u m e n t a t i v a d entro do e n foque teórico de uma macrossintaxe, d e s t a c a n d o a t e x t u a l i d a d e e a a r g u m e n t a t i v i d a d e como suas c a r a c t e ­ r í s t i c a s fundamentais, e n q u a n t o reai4.dãde discur s i v a e fèhómèno

ideolõgicQ

,

Conclui-çe c o m uma t e n t a t i v a de análise textual, , e m que se p r o c u r a demonstrar, praticamente, o f u n c i o n a m e n t o de alguns el e m e n t o s de textualidade.

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A B S T R A C T

The p u r p o s e of this p a p e r is to find out w h a t linguistic theories h a v e c o n t r i b u t e d to the teaching and l e a r n i n g of Portuguese. The graitmiar and the rule issues are d i s c u s s e d in c o n n e c t i o n w i t h t e a c h i n g in order to emphasize that the

t e a c h i n g / l e a r n i n g p r o b l e m of Portug u e s e is n o t r e s t r i c t e d to these issues.

A s o c i o l o g i c a l a p p r o a c h of language is adopted, w h e r e la n g u a g e is seen as v e r b a l intera c t i o n and e x a m i n e d from the v i e w p o i n t o f s p eech acts. This p a p e r starts f r o m the theory of

s p e e c h acts arid p r o c e e d s towards Argiimentative Semantics w i t h i n a m a c r o s y n t a c t i c framework, w h e r e the text a n d the a r g u ments are e m p h a s i z e d as f u n d a m e n t a l charac t e r i s t i c s of language, as speech r e a l i t y and i d e o l o g i c a l phenomenon.

This p a p e r tries to conduct a text analysis w h e r e it is a t t e m p t e d to show in p r a c t i c e how some elements of the text function.

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V l l l SUMÁRIO I N T R O D U Ç Ã O ... '--- 1 C A P Í T U L O I O B J E T I V O S DO E N S I N O DO PORTUGUÊS ... ... 4 1. Do p o n t o de v i s t a o f i c i a l ... 4 2. Do p o n t o de vista do p r e sente trabalho ... 12 3. Os o b j e t i v o s do ensino de língua e o livro d i d á t i c o ... 15

C A P Í T U L O II

T R A T A M E N T O D A N O R M A NAS GRAMÁTICAS ... 25 1. A n o r m a lingüí s t i c a .... ... 26 1.1. N o r m a s sociais e normas lingüísticas implícitas... 34 1.2. N o r m a social e n orma lingüí s t i c a e x p l í c i t a ... 37 2. G r a m á t i c a s Tradic i o n a i s (GT) ... ... ... 4 5 3. G r a m á t i c a E s t r u t u r a l (GE) ... 52 4. G r a m á t i c a G e r a t i v o - T r a n s f o r m a c i o n a l (GGT) ... 57 C A P Í T U L O rii P R E L I M I N A R E S TEÕRICOS DE A N Á L I S E DO D I S CURSO ... 72 1. O m é t o d o s o c i o l ó g i c o ... 72 2. Subjetivismo, ob j et i vi sm o e intersubjetividade, numa

p e r s p e c t i v a de interação verbal ... 73 3. Os atos de l i n g u a g e m ... ... 84 4. A ideol og i a na l i n g u a g e m ... 96

C A P Í T U L O IV

P O R UIÍA PRAGjtóTICA DO TEXTO ... 101 1. L i n g u a g e m / p r a g m á t i c à / a r g u m e n t a ç ã o ... 101

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2. C o n c e i t o de texto ... ... ..111 3. M a r c a s a r g u m e n t a t i v a s ...117 3.1. S e n t i d o e x p l í c i t o e sentido implícito ... ..118 3.2. O p e r a d o r e s argume n t a t i v o s ... ... ..120 3.3. As r e l ações interf r ã s t i c a s ... ..127 ' 4. Da n e c e s s i d a d e de uma p e d a g o g i a do texto ...129 C A P Í T U L O V A N Á L I S E DE U M T E X T O ... ... ... .. 133 C O N C L U S Ã O . . . ... - ... ..152 B I B L I O G R A F I A ... ..155

(10)

I NTROD U Ç Ã O

Desde o início desté trabalho foi uma c o n s tante a p r e o c u ­ pação e m f azer c o m que o resultado final pudesse ser, de alguma forma, u m a c o n t r i b u i ç ã o p a r a q u e m d i u t u r n a m e n t e luta na d i fícil t arefa de ser p r o f e s s o r de Português. Ao q u e s t i o n a r - s e p o r onde iniciar, c o n s t a t o u - s e que, antes de se p e s q u i s a r o u p r o p o r

qual-_

qu e r c o i s a a respeito do e n s i n o / a p r e n d i z a g e m do Português, ê p r e c i s o r e f l e t i r e q u e s t i o n a r sobre o que se p r e t e n d e c o m o e n s i n o / a p r e n d i z a g e m do Português. 0 p r e s e n t e trabalho c omeça por a i .

o I capítulo, então, ê essa tomada de consciência, esse c o l o c a r os pês no chao: 0 que se pretende, afinal? Assim, o I c a p ítulo se divide e m três partes; a primeira, que se c o n v e n ­ cionou c h a m a r Objetivos do ensino do Português do p o n t o de v i s t a oficial, em que se c o locam e se questi o n a m , p r i m e i r o , o o b j e t i v o de Comunicação e E x p r e s s ã o contido na R e s o l u ç ã o n 9 8/ 71 do CFE; segundo, a ampliação e m e l h o r e x p l i c i t a ç ã o de o b j e ­ tivos do e n s i n o / a p r e n d i z a g e m dó Portu g u ê s contidos no r e l a t ó r i o c o n c l u s i v o dos trabalhos da Comissão de alto nível n o m e a d a p e l o

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do p r e s e n t e trabalho, em que se p r o c u r a e q u a c i o n a r a questão o b j e t i v o s do e nsino de línguas e aspectos da teoria l i n g ü í s t i c a , tais como: variante, registro, função da linguagem, etc.; a t e r c e i r a p a r t e discute o papel do livro didático no contexto dos r e c u r s o s e meios p a r a a conse c u ç ã o dos o b j e tivos do e n s i ­ n o / a p r e n d i z a g e m do Português. E o discute sob um tríplice a s ­ pecto: econômico, p o l i t i c o - c u l t u r a l e pedagógico.

0 II c a p í t u l o v o l t a - s e p a r a a questão da g r a m á t i c a e da n o r m a : a e x i s t ê n c i a de v a r i e d a d e s de gramáticas, suas d i v e r g ê n ­ cias, c r i t é r i o s de g r a m a t i c a l i d a d e , gramática cient í f i c a e g r a m á t i c a pedagógica, g r a m ática n a tural e g r a m ática formal (PE­ RINI (1985), HAUY (.1983), L U F T (.1985)), algumas p o s ições t e ó r i ­ cas (BAKHT I N / V O L O C H I N O V (1981), A L Ê O N G (1983)), distin ç õ e s e n ­ tre n o r m a l e n o r m a t i v o , n o r m a implícita e norma e x p l í c i t a , a n o r m a e as n o r m a s . E m seguida, dentre as gramáticas existentes, a n a l i s a r a p i d a m e n t e as m a i s difundidas: a tradicional, a e s t r u ­ t ural e a gerati v o - t r a n s f o r m a c i o n a l : suas d i v e r s i d a d e s de p o n ­ tos de vista, suas limitações e intercomplementaridades.,. d e s ­ t a c a n d o - s e que nenhuma delas pode ser conver t i d a e m o b j e t o de ensino, e r e s s a l t a n d o - s e as críticas á gramática t r adicional

(PERINI (.1985), LUFT (1985) e HAUY (1983)).

0 III capítulo a p r e s e n t a o ponto de vista do t r a balho em r e l a ç ã o a l i n g u a g e m ; uma a b o r d a g e m s o ciológica ( BAKHTIN/VOLOCHI­ N O V (1981) e m que esta se opõe aos p ontos de v i s t a i d e a lista e ps i c ologista. E, a p a r t i r daí, delimita u m novo e s p a ç o p a r a a pragmá t i c a , em que a l i n g u a g e m é vista no plano de interação v e r b a l e d e n t r o do q uadro formal da enunciação. Deste modo, os a s p e c t o s da subjetividade, objeti v i d a d e e i n t e r s u b j e t i v i d a d e

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c a r a c t e r i z a m a l i n g u a g e m como lugar da i n t e r s u b j e c t i v i d a d e , e m que o f e n ô m e n o da i d e o l o g i a é conce b i d o como p r o d u t o do p r o c e s ­ so e m c a d e i a de c o n s c i ê n c i a a c o n s c i ê n c i a individuais, no qual ê i m p o r t a n t e o papel do signo, m a t e r i a l e social m e n t e d e t e r m i ­ nado.

A p a r t i r daí faz uma rápida c o n s i d e r a ç ã o da t e o r i a dos atos de l i n g u a g e m p a r a chegar ã noção de l i n g u a g e m como drama

(VOGT, 1980) , e v i d e n c i a n d o - s e os papéis, p e r s o n a g e n s (parceiros), o a s p e c t o da i d e o l o g i a ,e t c .

O IV c a p í t u l o p r o c u r a definir o q uadro p r a g m á t i c o da l i n ­ g u a g e m ,e m que tem lugar uma teoria da a r g u m e n t atividade. Neste sentido, a m p l i a e redimen,siona a n o ç ã o de c o m p e t ê n c i a l i n g ü í s ­ tica de m o d o a d a r conta dos aspectos da t e x t u a l i d a d e e da a r ­ g umentatividade. Rumo a uma c o m p e t ê n c i a comunicativa, p a r t i n d o de uma p r a g m á t i c a da enunciação, r e d i m e n s i o n a o o b j e t o da lin­ güística. V o l t a - s e p a r a a n a t u r e z a textual da linguagem, d e l i ­ m i t a n d o e d e f i n i n d o texto (CHARAUDEAU (1984) e O R L A N D I (1983)), numa a b o r d a g e m discursiva. Assim, c o n s i d e r a -o texto como u n i ­ dade de a n álise de d i s c u r s o e d e t e r m i n a o q u a d r o e m q u e se d e ­ finem, de u m lado, os p e r s o n a g e n s do d i s c u r s o e, de outro, as áreas d o dizer e do fazer. E m seguida, p a r t i n d o da a f i r m a ç ã o de V O G T (1980), segundo a qual todo e n u n c i a d o diz algo e o diz de xim c e r t o modo, a borda alguns aspectos r e l a tivos à t e x t u a l i ­ dade e à a r g u mentatividade: intencionalidade, sentido, o p e r a d o ­ res argume n t a t i v o s , e t c .

O V capítulo p r o p õ e a a n álise de u m texto e m q u e se p r o c u ­ ra d e m o n s t r a r a tese da v i s ã o m a c r o s s i n t á t i c a e d i s c u r s i v a do texto e s c r i t o no e nsino do Português.

(13)

OBJETIVOS DO ENSINO DO PORTUGUÊS

Ao se p ropor fazer u m a a b o r d a g e m do e n s i n o da língua p o r ­ tuguesa, d á - s e conta de que a p r i m e i r a indagação a t e r presente é:-^o que se p r e tende com o e n s i n o da língua portuguesa, nos d i ­ ferentes níveis de e n s i n o ? Neste sentido, a p r e o c u p a ç ã o inicial do p r e s e n t e t r a balho ê b u s c a r determinar, c o m a m a i o r p r e c i s ã o possível, quais são e / o u quais d e v e m ser os o b j e t i v o s do ensino de língua portuguesa. T entar responder a questão: O que se p r e ­ tende, e m ú l t i m a análise, com o e n s i n o de língua p o r t u g u e s a ?

1. Do ponto de vista oficial

A lei orgân i c a do ensino, q uando p r opõe a o r g a n i z a ç ã o do c u r r í c u l o p l e n o de 19 e 29 ^raus e estabe l e c e as m a t é r i a s que o compõem, fala e m C o m u n i c a ç ã o e Expressão. M a s é na R e s o l u ç ã o n9 8/71 q u e se encontra, de forma mais explícita, o que sè p r e ­ tende c o m o e nsino de C o m u n i c a ç ã o e Expressão: "... o c u l tivo de l i n g u a g e n s q u e e n s e j e m ao aluno o contato coerente com seus s e ­ m e l h a n t e s e a m a n i f e s t a ç ã o h a r m ô n i c a de sua p e r s o n a l i d a d e , nos

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a s p e c t o s fisico, p s í q u i c o e espiritual, r e s s a l t a n d o - s e a língua p o r t u g u e s a como e x p r e s s ã o da Cultura B rasileira" (Resolução n9 8/71 C F E ) .

De um m o d o b e m amplo, p o d e - s e dizer que o o b j e t i v o é v á l i ­ do, mas que, p o r ser amplo, ê v a g o e, por r eferir-se a C o m u n i ­ c a ç ã o e E x p r e s s ã o n u m sentido global, é n a turalmente abrang e n t e e p o u c o funcional. Seria n e c e s s á r i o e s p e c i f i c a r o que se pode ou se d e v e e n t e n d e r por cultivo de linguagens. A que l i n g u a g e n s se r e f e r e o t e x t o d o d o c u m e n t o ? 0 que entende por "contato c o e ­ rente c o m seus semelh a n t e s e por m a n i f e s t a ç ã o h a r m ô n i c a de sua p e r s o n a l i d a d e "?

No que se r e fere ao termo "linguagens", d e p e n d e n d o do p o n ­ to de v i s t a de que se parta, pode-se ter várias significações. T o m a n d o - s e o p o n t o de v i s t a semiológico mais amplo, l i n g uagem pode s i g n i f i c a r q u a l q u e r forma de m a n i f e s t a ç ã o que use o signo como f o r m a de expressão. Reduzi n d o - s e a q u e s t ã o ao p o n t o de v i s t a d a l i n g u a g e m verbal, ainda assim h a v e r i a m u l t i p l i c i d a d e de i n t e r p r e t a ç õ e s . N u m a p e r s p e c t i v a sociolingíilstica, h á a p o s ­

s i b i l i d a d e de r e m e t e r o t e r m ó 'linguagens' a questões como as de variantes, r e g i s t r o social, dialeto, etc. Por o u t r o lado, d e n t r o d o p o n t o de v i s t a da lingu a g e m verbal, h á a p o s s i b i l i d a d e de re m e t e r o t e r m o linguagens a todas as d i f e r e n c i a ç õ e s que se p o ­ de fazer e m termos de funções da 'linguagem'. Pode-se até m e s m o r e l a c i o n a r ao t e r m o 'linguagens^ as distinções entre l íngua f a l a ­ da e língua escrita.

Uma a n á l i s e s uperficial já pode m o s t r a r que q u a l q u e r p r e o ­ c u p a ç ã o c o m os o b j e t i v o s d o e nsino de língua p o r t u g u e s a n ã o se situa n e s s e nível metodológico, mas no nível p e dagógico, de o p e r a c i o n a l i z a ç ã o .

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r á p i d a o b s e r v a ç ã o dos p r o b l e m a s e d i vergências no ensino do P o r t u g u ê s ê sufici e n t e para r e v e l a r que eles se o r i g i n a m antes da d i v e r s i d a d e de p o s t u r a f i l o s 5 f i c o - i d e o l 5 g i c a e dos i n s t r u ­ m e n t o s u t i l i z a d o s que dos objetivos oficiais em si mesmos. A d i v e r s i d a d e de abordagens do e n s i n o do P o r t uguês situa-se nas d i f e r e n ç a s dos p o s i c i o n a m e n t o s teóri c o s adotados, das p o s turas d i d á t i c o - p e d a g S g i c a s e dos princí p i o s m e t o d o l ó g i c o s propostos. Sobre isso f a l a r - s e - á a inda nos capítulos II e III, c o m mais p r o f u n d i d a d e .

P a r a c o m p r o v a r essa idéia, p o d e - s e referir aqui u m . t r a b a ­ lho e l a b o r a d o por um grupo de p r o f e s s o r e s por m e i o de um c o n ­ v ê n i o e n t r e o M i n i s t é r i o de E d u c a ç ã o e Cultura, D e p a r t a m e n t o de Ensino F u n d a m e n t a l e Univer s i d a d e F e d e r a l de Minas G e r a i s e que p r e t e n d i a ser u m c o n junto de sugestões m e t o d o l ó g i c a s p a r a o e n s i n o de C o m u n i c a ç ã o e Expressão,' e, apesar de sua p o u c a d i v u l g a ç ã o entre os p rofessores de Português, pode s ervir de il u s t r a ç ã o p a r a o assunto: o b j e t i v o s e d i v e r g ê n c i a s de a b o r d a ­ gens d o e n s i n o do Português. Na i n t r o d u ç ã o do t r a b a l h o citado, en c o n t r a - s e , a p r o p ó s i t o de c o n c ordâncias e d i s c o r d â n c i a s s o ­ bre o e n s i n o d o Português, o seguinte:

"... No entanto, essa c o n c o r d â n c i a que parece ex i s t i r no que se refere aos o b j e tivos g erais do e n s i n o do P o r t uguês deixa de existir, q u a n d o são o p e r a c i o n a l i z a d o s esses objetivos, traduz i d o s em ob j e t i v o s específicos, q u a n d o são e s c o l h i d o s os conteúdos, métodos e p r o c e d i m e n t o s de e n s i n o . " *

O g r a n d e p r o b l e m a dos objetivos o f i ciais d o e n s i n o de qual­

*SOARES, M a g d a Becker et alii. (1979). E n s i n a n d o c o m u n i c a ç ã o e m língua p o r t u g u e s a no 19 grau sugestões m e t o d o T o g i c a s 5a. a 8a. series, MEC. p . 06.

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quer m a t é r i a , área de e s t u d o ou disciplina, em p a r t i c u l a r do Português, e s t á e m serem oficiais. Ê neste sentido que o que p arece tão inocente, a nível de objetivos gerais nas leis e d o ­ cumentos, e m termos d e ' s i s t e m a nacional de ensino, ao ser trans­ p o s t o p a r a os p r o g r a m a s oficiais de ensino dos e s tados — m e s m o a t i t u l o de sugestão — acaba adquirindo força de lei, de o b r i ­ g a t o r i e d a d e .

A n a l i s a n d o alguns programas oficiais, o que se p e r c e b e é que os o b j e t i v o s g e r a i s são convertidos e m ^ b j e t i v o s o p e r a c i o ­ nais que n ã o levam e m consid e r a ç ã o — talvez por d e s c o n h e c i m e n ­ to — todos aqueles aspectos implicitados no t e r m o 'linguagens’. O que se p e r c e b e , a p a r t i r de uma rápida leitura, é q u e os o b j e ­ tivos e s p e c í f i c o s de alguns p r o g ramas estaduais, n o que se r e ­ fere ao e n s i n o do português, s u gerem análises superficiais de textos e e n s i n o de metalinguagem. M a i s grave ainda é o fato de que m u i t o s p r o f e s s o r e s de P o r t uguês e l a b o r a m seus objetivos, a n ível de p l a n e j a m e n t o pedagógico, baseados nos p r o g r a m a s o f i ­ ciais e e m seus objetivos, como m e r a formalidade a ser s a t i s ­ f eita e a c a b a m m e s m o s e g uindo as lições do livro d i d á t i c o aula após aula.

Em j a n e i r o de 1986, a comissão de alto nível n o m e a d a pelo M i n i s t r o d a Educação, p e l o decreto n9 91.372, de 26 de junho de 1985, c o n s t i t u í d a pelos profes s o r e s Abgar Renault (presiden­ te) , A n t ô n i o Houaiss, Celso Cunha, Celso Pedro Luft, F á b i o L u ­ cas, J o ã o W a n d e r l e y G e raldi (substituindo A u r é l i o B u a r q u e de Holanda) , M a g d a D e cker Soares, Nelly Medeiros de C a r v a l h o (subs­ t i t u i n d o F r a n c i s c o G o m e s de M a tos)e Raymundo J u r a n d y Wangham, e n t r e g o u o r e l a t ó r i o c o n c l u s i v o de seus trabalhos c h a m a d o D i ­ retri z e s p a r a o A p e r f e i ç o a m e n t o do E n s i n o / A p r e n d i z a g e m da L í n ­ g u a Portuguesa. Nesse dociamento os objetivos do e n s i n o / a p r e n d i ­

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sejável d a q u e l e o b j e t i v o geral da R e s o l u ç ã o n9 8/71 do CFE. C o m r e l a ç ã o ãs séries iniciais do 19 grau p e r c e b e - s e a p r e o c u p a ç ã o c o m a escrita, e n q u a n t o e l e m e n t o de intelecção á distân c i a , d e s t a c a n d o - s e sua função social e seu caráter c o n ­ v e n c i o n a l . Por o u t r o lado perceb e - s e a p r e o c u p a ç ã o com o a s p e c ­ to f u n c i o n a l d a leitura. C i tando o p r ó p r i o documento:

"Para as séries iniciais do 19 G r a u (1? a 4?) . E n t e n d i m e n t o da e s c r i t a como forma de i n ­ t e r l o c u ç ã o a distância, no t e m p o e no espaço, de tal m o d o que a c r iança p e r c e b a seu v a l o r e sua f u n ç ã o social, no meio ambiente ou fora dele;

. e n t e n d i m e n t o de que ã escrita, p a r a p e r ­ m i t i r a i n t e r l o c u ç ã o a distância, obedece a uma

c o n v e n ç ã o o r t o g r á f i c a de que cada usuário não pode ser árbitro, mas que é necessário d o m i n a r p a r a n ã o p r e j u d i c a r o objetivo precí p u o da e x i s ­ t ê n c i a da p r ó p r i a escrita;

. c r i a ç ã o do gosto da leitura, media n t e o c o n v í v i o constante com o b r a s da literatura i n ­ f antil." (p.15)

C o m r e l a ç ã o às séries finais do 19 grau, p a r e c e n í t i d a a p r e o c u p a ç ã o com o a s p e c t o da i n t erpretação e produção:

"Para as séries finais do 19 grau (5? a 8?)

. 'constituição do ouvinte e do leitor c a ­ paz de dar loma i n t erpretaçao dos textos que ouve e lê, e m b o r a n ã o se exija que tal i n t e rpretação a p r e s e n t e alto g r a u de profu n d i d a d e nem análise o r i g i n a l do t e x t o lido;

. 'constituição' do falante e do autor de textos orais e escritos que r e s p ondam as n e c e s ­ sidades de e x p r e s s ã o do aluno e que a p r e s e n t e m estrutura, coesão e c o e r ê n c i a internas que nao d i f i c u l t e m sua interpretação;

. criação do gosto da leitura, mediante o c o n v í v i o constante com obras literárias, infan- t o - j u v e n i s ou não, e s p ecialmente b r a s i l e i r a s . " (p. 15-6)

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fundado da língua, q u e r e m termos de maior c o m p r e e n s ã o de suas d i f e r e n t e s m a n i f e s t a ç õ e s e variações, quer e m termos de m e l h o r c o m p r e e n s ã o de sua estrutura;

". R e c o n h e c i m e n t o da e x i s t ê n c i a das d i f e r e n ­ tes línguas e das d iferentes v a r i e d a d e s da m e s m a

língua como m a n i f e s t a ç õ e s h i s t ó r i c a s de d i f e r e n ­ tes culturas, d a n do-se relevo ã h i s t ó r i a d a l í n ­ gua portuguesa;

. r e c o n h e c i m e n t o de d i f e r e n t e s e s t r u t u r a s l i n g ü í s t i c a s e capacidade de m a n u s e i o de g r a m á t i ­ cas (e de sua metalinguagem) para resolver d ú v i ­ das r e l a t i v a s ãs formas de e x p r e s s ã o da língua de cultura;

. e n t e n d i m e n t o da obra literária como m a n i ­ festação de d e t e r m i n a d a é p o c a cultural e sua vin- c u l a ç a o i n t e r t e x t u a l a outras m a n i f e s t a ç õ e s a r ­ tísticas, literárias ou não." (p.16)

Os o b j e t i v o s s u g e r i d o s p e l a C o m i s s ã o Nacional, e m b o r a g e ­ rais, são b e m mais t a n g í v e i s que o contido na R e s o l u ç ã o n? 8/ 71. S e m dúvida, tais objetivos fornecem indícios de p o s i c i o n a ­ m e n t o t e ó r i c o d iante da q u e s t ã o E n s i n o / A p r e n d i z a g e m do P o r t u ­ guês e p i s t a s e m termos de o r i e n t a ç ã o metodológica. Resiomindo a l g u n s : 1. E n s i n o / A p r e n d i z a g e m v o l t a d o p a r a xima p e r s p e c t i v a de i n ­ t e r a ç ã o verbal. 2. P r e o c u p a ç ã o c o m a c o m p r e e n s ã o e a p r o d u ç ã o de t e x t o (em to d o s os graus), 3. E n s i n o a s s i s t e m á t i c o e p a u l a t i n o da gramática, c o m ê n ­ fase m aior a p a r t i r do 29 grau. A gramática é c o l ocada como e l e m e n t o de c o n sulta e n ã o como o b j e t o de ensino. 4. N e c e s s i d a d e de, p o r m e i o do e n s i n o do Português, opor-

t u n i z a r ao aluno, indepe n d e n t e m e n t e de sua s i t u a ç ã o s o ­ cial, a c e s s o ã língua de cultura,, sem d e t r i m e n t o ' de q u a l q u e r língua que ele já p o s s u a e use , e, como forma de p e r m i t i r - l h e o acesso aos bens culturais.

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5. P o s s i b i l i d a d e de d e s e n v o l v i m e n t o do senso crítico, como fo r m a de d e s p e r t a r no e d u c a n d o a c o n s c i ê n c i a da r e a l i ­ da d e do m e i o p r ó x i m o ou distante no tempo e no e spaço e de f a c u l t a r - l h e o acesso não só aos bens culturais, mas t a m b é m os de o r d e m social e econômica, d e p e n d e n d o do t r a t a m e n t o dado às atividades de leitura sugeridas em t o d o s os níveis. Mais adiante f alar-se-ã mais, e com m a i o r a p r o f u n d a m e n t o , s o b r e a q u e s t ã o da l e i t u r a , n o III e I V capítulos.

6. R e m i s s ã o da leitura, e m q u a l q u e r grau ou nível, c a t e ­ gorica m e n t e , sempre à obra literária.

E s t a ú l t i m a c o n s t a t a ç ã o m erece algumas considerações:

S e m querer, e m h i p ó t e s e alguma, d e ixar de r e c o n h e c e r o v a ­ lor e i m p o r t â n c i a da literatura, na p e r s p e c t i v a s o c i o l ó g i c a que o r i e n t a o p r e s e n t e trabalho, consta t a - s e que os o b j e t i v o s r e f e ­ rentes à l e i t u r a p a r e c e m enfatizar; e x c e s s i v a m e n t e o texto l i t e ­ rário em d e t r i m e n t o de outros textos i gualmente i m p o r t a n t e s e, talvez, atê m a i s c o r r entes nos meios e m que v i v e m os alunos.

Es s e t i p o de postura, como de resto a de boa p a r t e dos e s ­ tudiosos da q u e s t ã o do e n s i n o / a p r e n d i z a g e m do Português, parece q u e r e r i g n o r a r a e x i s t ê n c i a da luta de classes. N i n g u é m nega que, t e o r i c a m e n t e , s e p o d e e n t e n d e r como d e m o c r a t i z a ç ã o do e n s i ­ no o a c e s s o aos bens de cultura, p o r parte de t o d o s . Na m e d i ­ da e m que se a p r o f u n d a a análise da realidade s ó c i o - e c o n ô m i c a brasil e i r a , p o d e - s e p e r c e b e r que, por trás dessa d e m o c r a t i z a ç ã o do e n s i n o c o m ênfase no texto literário, o que se está c a m u ­ f lando é a e l i t i z a ç ã o da cultura.

. Ê n o t ó r i o que o e n sino não é e jamais vai ser d e m o c r á t i ­ co e n q u a n t o a e s t r u t u r a sócio-econômica, que é o s u b s t r a t o do e n ­ sino, não mudar. Ê nesse sentido que não se pode c o n c o r d a r com

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a ê n f a s e e x c l u s i v a d a d a ao texto literário. Há situações em que, d i a n t e d a r e a l i d a d e do meio, da e scola e da clientela e, sobretudo, d i a n t e da realidade da luta de classes, é m u i t o mais i mport a n t e e n f a t i z a r a ‘l e itura funcional.

No m e i o rural, p o r exemplo, ao lado da n e c e s s á r i a c o n s c i ­ e n t i z a ç ã o d e v e - s e e n f a t i z a r a leitura de folhetos instrutivos

sobre o u s o i n d i s c r i m i n a d o de a g r o t õ x i c o s , sobre os c u i dados e normas de m a n u seio, c o n s e r v a ç ã o e a p l i c a ç ã o dos mesmos. Estão aí as e s t a t í s t i c a s a l a r m a n t e s sobre o número de óbitos e de a c i d e n t e s sérios c o m c o n s e q ü ê n c i a s graves d e c o r r e n t e s de falta de i n f o r m a ç õ e s a d e q u a d a s sobre o uso de agrotõxicos. Isto a p e ­ nas p a r a d a r ;um e x e m p l o entre tantos, como foi dito.

A m a n i p u l a ç ã o da o p i n i ã o pública, na c o m u n i c a ç ã o de massa, no disciirso político, na linguagem da propaganda., no apelo ao 'consumismo é uma r e a l i d a d e com que as pessoas c o n v i v e m d i u t u r ­ namente. C o m o d e i x a r de lado o t r a b a l h o com textos d e s s e tipo de r e a l i d a d e ? Como p r e t e n d e r a d e m o c r a t i z a ç ã o do e n s i n o sem abrir e s p a ç o p a r a esse t i p o de leitura? Como a e s c o l a pode e- xercer seu p a p e l de a b r i r as c o nsciências dos alunos p a r a que eles p a s s e m d a c o n d i ç ã o do o b j e t o , a l v o de todo esse p r o c e s s o de c o m u n i c a ç ã o , á c o n dição de sujeitos?

A l i n g u a g e m ê"instrumento" e as p e ssoas p r e c i s a m tomar p o s ­ se d e s s e i n s t r u m e n t o p a r a d izer e c o mpreender sua p r ó p r i a r e a ­ lidade e a r e a l idade d o mundo. No e n t a n t o o que se p e r c e b e ê que, na i n e g á v e l d e s i g u a l d a d e da luta de classes, a linguagem tem-se c o n s t i t u í d o em u m instru m e n t o a serviço d a c l a s s e d o m i ­ nante. A s s i m , o e n s i n o do P o r t uguês será d e m o c r a t i z a n t e e d e m o ­ crático na m e d i d a em que trabalhar esses textos e o p o r t u n i z a r leituras i n t e r t e x t u a i s que o p o r t u n i z e m a t omada de c o n s c i ê n c i a

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e d e s e n c a d e i e m t r a n s f o r m a ç õ e s por p arte dos alunos.

De q u a l q u e r modo, esses o b j e tivos sugeridos p e l a Comissão N a c i o n a l são gerais e d e v e r ã o ser desdobrados em o b j e t i v o s o p e ­ r a c i o n a i s os mais d i v ersos de confor m i d a d e com a reali d a d e do m e i o e da clientela. É aqui que e n t r a m o p r o b l e m a do p r eparo do p r o f e s s o r e a q u e s t ã o da ideologia dele (professor) e/ou da escola, a q u e s t ã o do p o n t o de v i s t a teórico e dos princípios metod o l ó g i c o s . Ë um p ouco t a m b e m a q u estão do m i t o da língua ú n i c a que nao existe m a s que se tenta impor. H a v e r á sempre di­ versidades. 0 importante ë q u e se tenha consci ê n c i a do que se faz. R e t o m a r - s e - â esse a s s u n t o em outro capítulo, e m função do p onto de v i s t a a d o t a d o no p r e s e n t e trabalho.

;2. Do ponto de vista do presente trabalho

Antes, poirêm de p a s s a r a outro assunto, c o n v ê m c o l o c a r a i n ­ da sobre o b j e t i v o s a d i s t i n ç ã o sugerida p o r Gilles GAGNÉ (1983). A p ó s a l g u m a s c o n s i d e r a ç õ e s sobre a import â n c i a da língua p a r a o ensino, numa p e r s p e c t i v a de interdisciplinaridade, c o l o c a em c o n s i d e r a ç ã o duas o rdens de objetivos: 1) O b j e t i v o s de o r d e m c o ­ m u n i t á r i a . são aqueles decor r e n t e s da n e c e s s i d a d e de transmitir, p r o t e g e r e d e s e n v o l v e r esse b e m coletivo que é a língua. N e s t e sentido, GAGNÉ coloca como objetivos do ensino da l íngua m

ater-c

na; a a l f a b e t i z a ç ã o da população, a t ransmissão de valores, da h e r a n ç a cultural e dos conhecimentos. Destarte o e n s i n o da lín­ gua m a t e r n a visa t a m b é m p r e p a r a r os indivíduos p a r a a s s u m i r e m o f u n c i o n a m e n t o eficaz das comunicações i nstitucionalizadas, no i n t e r i o r e no exter i o r da comunidade nacional. Para a t i n g i r tais

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o b j e t i v o s é n e c e s s á r i o transm i t i r as v a r i a n t e s da língua que e s t ã o m a i s e s t r i t a m e n t e relaci o n a d a s òom essas funções: e l e m e n ­ tos l i n g ü í s t i c o s p r ó p r i o s do código e s c r i t o e do r e g i s t r o oral formal. 2) Os o b j e t i v o s de ordem individual d i z e m r e s p e i t o ao d e s e n v o l v i m e n t o das h a b i l i d a d e s r e l a tivas ãs difere n t e s funções i n d i v i d u a i s d a linguagem, tanto ãs funções práticas e u t i l i t á ­ rias: a expres s ã o , a r e l a ç ã o com outrem, q u a n t o ãs funções mais a bstratas: f u n ç ã o r e f e r e n c i a l ou informativa, heurística, p o é ­ tica e m e t a l i n g ü í s t i c a .

N e s t a p e r s p e c t i v a , a e s c o l a deve v i s a r a a\imentar o r e p e r ­ tório l i n g ü í s t i c o dos alunos p a r a p o s s i b i l i t a r - l h e s a u t i l i z a ­ ção das v a r i a n t e s a p r o p r i a d a s ã. situações de c o m u n i c a ç ã o as m a i s diversas. Isto não pressupõe a s u p r e s s ã o da v a r i a n t e e x i ­ b i d a p e l o aluno. A c o i s a pode ser c o l o c a d a mais ou m e n o s nos s e g u i n t e s termos: O o b j etivo do e nsino de língua m a t e r n a não d e ­ ve ser: A p r e n d a a língua certa, a língua boa em lugar da e r r a ­ da, d a m á l íngua que v o c ê usa. Mas antes: A p r e n d a a o u t r a v a ­ riedade, a standard, além da variedade que você já usa. P r e t e n ­ der impedir, p o r q u a l q u e r razão, que a e s c o l a vise a fazer a d ­ q u i r i r o c ó d i g o e s c r i t o e o regis t r o mais formal do código oral, t anto q u a n t o q u e r e r impedir a escola e o i n d i víduo o u m e s m o o a l u n o de u t i l i z a r uma v a r i e d a d e lingüística d i a l e t a l de r e g i s ­ t ro informal, q u a n d o o quiser, por razões de p u r i s m o o u outra qualquer, constitui, para o indivíduo, limitação do repertório; p a r a a comun i d a d e , e m p o b r e c i m e n t o (Cf. GAGNÉ, 1983:486-7).

Como se vê, n u m a p e r s p e c t i v a como a do p r e sente trabalho, os o b j e t i v o s m a i s importantes são p r e c i s a m e n t e aqueles r e l a c i o ­

nados ao d e s e n v o l v i m e n t o de atitudes frente ã v a r i a ç ã o l i n g ü í s ­ tica, q u e p o d e ser de a b e r t u r a ou fechamento. Isto vai ter i m ­ p l i c a ç õ e s nos julgam e n t o s de g r a m a t i c a l i d a d e e / o u n o r m a l i d a

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-de, como se v e r á mais adiante.

N e s t e sentido, o levar-se em conta as funções da l i n g uagem a d quire c a p i t a l importância. Ao se falar em o b j e tivos do ensino da língua t em-se que p e n s a r que a p r õ p r i a faculdade de l i ngua­ g e m se c o n s t i t u i de u m repert ó r i o de elementos lingüí s t i c o s v a ­ riados a l i a d o à h a b i l i d a d e de os u t i l i z a r p a r a a t e n d e r os d i f e ­ rentes o b j e t i v o s p e r s e g u i d o s pelo h o m e m no e x e r c í c i o dessa f a ­ culdade. Assim, a faculdade da l i n g uagem se m a n i f e s t a e m fun­ ções de o r d e m individual ou comunitária.

Se, de u m lado, p o r parte do indivíduo, a função c o m u n i c a ­ tiva p e r m i t e a c o m u n i c a ç ã o e a inter c o m p r e e n s ã o c o m o utros in­ d i v í d u o s — o que p r e s s u p õ e a n ecessidade de u m c ódigo e m c o ­ m u m — e se a funçao c o g n i t i v a da l i n g uagem lhe p e r m i t e n o m e a r e c o n c e p t u a l i z a r o universo, ajudan d o - o a compreendi-lo, por outro, i t a m b e m v e r d a d e que essas funções, e m b o r a i m p o r t a n t e s , não são únicas. Há outras, ligadas ora mais â f u n ç ã o c o m u n i c a ­ tiva, o r a mais â conceptual.

S e m e n t r a r no m e r i t o da discu s s ã o que, a esse respeito, o- p õ e g e r a t i v i s t a s e f u n c i o n a l i s t a s , q u e r-se c hamar a a t enção p a ­ ra as c o n s e q ü ê n c i a s de tal posicionamento:

- A p r i m e i r a ê a de que há implicações import a n t e s entre funções e variações, na m e d i d a e m que as varia ç õ e s de funções

p o d e m p r o v o c a r v a r i a ç õ e s dos elementos lingüí s t i c o s utilizados, seja p e l a s intenções do locutor, seja pelo tipo de d i s c u r s o i m ­ p l i c a d o o u pelas e s t r a t i g i a s discursivas utilizadas. E m d e c o r ­ r ê ncia da f unção da l i n g u a g e m e v idenciada no discurso, v ai-se e n c o n t r a r uma sêrie de características desse discurso. Se se tr a t a r da função expressiva, por exemplo, v ai-se e n c o n t r a r no d i s c u r s o c a r a c t e r í s t i c a s tais como: o emprego da 1? pessoa, o uso de v e r b o s que e x p r e s s e m julgamento e opinião, a p r e s e n ç a de

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i n t e r j e i ç õ e s e exclamações, e t c .

- A s e g u n d a c o n s e q ü ê n c i a ê a de pôr em evidê n c i a que a língua n ã o ê um fim em si mesma, mas "meio p r i v i l e g i a d o de a t e n ­ der fins m a i s e s s e n c i a i s ao h o m e m e à humanidade". Isto tem o p o d e r de r e l a t i v i z a r o papel do cõdigo e, por isso, a i m p o r t â n ­ cia do p o n t o de v i s t a normativo. Nesta perspectiva, o código n ã o c o n s t i t u i senão u m a s p e c t o do ato de linguagem. Trata - s e de novo c o n c e i t o que se p r o p õ e levar e m conta não somente o ato lingüístico, m a s t a m b é m sua a d a p tação ã situação de comuni c a ç ã o e âs funções q u e ele p r e t e n d e atender e que, como tal, c o n s t i ­ tui uma n o ç ã o m a i s ampla e mais signif i c a t i v a d a q u i l o que uma p r o p o s t a de e n s i n o de língua terâ que levar em conta.

3. Os objetivos do ensino de língua e o livro didático

Na t arefa p e d a g ó g i c a do ensino de língua, a l ê m das o r i e n ­ tações e d o c u m e n t o s do M E C a respe i t o do assunto, dos planos es t a d u a i s e c o m base neles, o p r i n cipal instru m e n t o de c o n s e c u ­ ção dos o b j e t i v o s e o mais difundido, na m a i o r parte da rede n a c i o n a l de ensino, é o livro didático.

M u i t o se t e m d i s c u t i d o sobre o livro d i d á t i c o nos últimos tempos. P r a g a do e n s i n o o u não, é ele o i nstrumento n ú m e r o um de traba l h o na m a i o r i a das salas de aula brasileiras. Não há en­ c o n t r o de professores, seminário ou congresso de língua p o r t u ­ guesa, de l e i t u r a e e s crita e m que não se d i scuta o problema.

A p e s a r disso, a b i b l i o g r a f i a sobre o a s sunto é ainda b a s ­ tante reduzida. A l é m de u m o u outro capit u l o e m algumas obras sobre e d u c a ç ã o e m g e r a l - é importante d e s t a c a r a l gumas que for­ n e c e r a m d a d o s i mportantes e o f e r e c e r a m elementos para as

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consi-derações e r e f l exões do prese n t e trabalho: A P o l í t i c a do Livro D i d á t i c o > de João B a tista A r aújo e Oliveira, Sonia Dantas Pinto Gu i m arães e H e l e n a M a r i a B o u s q u e t Bomény, P r o b l e m a s inculturais b r a s i l e i r o s , de O s m a n Lins, Ideologia no livro d i d á t i c o , de Ana Lucia G. de Faria, M e n t i r a s que p a r e c e m v e r d a d e , de Umberto Eco. - p o u c a coisa mais existe.

Uma das coloca ç õ e s que se faz é que, n u m certo s e n t i d o , t o ­ do livro é didático. Mas, p a r a efeito de d e l i m i t a r o campo de estudo, q u e r - s e t ratar aqui do livro que comumente ê u t i l i z a d o e m sala de aula p e l o p r o f e s s o r e alunos.

Na i n t r o d u ç ã o de "A p o l í t i c a do livro didático", discute- -se a t r í p l i c e i m p o r t â n c i a desse recurso de ensino-aprendizagem: P edagógica, e c o n ô m i c a e p o l í t ico-ideológica.

A o q u e parece, nos últimos anos t ê m p r e v a l e c i d o os aspectos ec o n ô m i c o s e p o l í t i c o - i d e o l õ g i c o s sobre o pedagógico. Ate b e m pouco t e m p o h avia v e r d a d e i r a g uerra entre as empresas e d i t o r i ­ ais n a d i s p u t a da p r e f e r ê n c i a dos professores, c o m v o l u m o s a d i s t r i b u i ç ã o gratuita de coleções de livros didáticos a p r o f e s ­ sores de todo o País, cujos custos e r a m t r a nsferidos p a r a o preço f i n a l do livro do aluno.

O livro didático, em 1981, r e p r e s e n t a v a 50% dos l ivros p r o ­ duzidos no País, segundo o Sindicato N a c i o n a l dos E d i tores de Livros. Se, p o r \im lado, somados todos os livros d i d á ticos de todas as d i s c i p l i n a s nao se teria 1 livro por aluno, p o r outro, as d e s p e s a s c o m a compra de todos os livros didáticos p o r uma família media, e m 1982, repre s e n t a v a o c o m p r o m e t i m e n t o da m aior parte de iim salário-mínimo.

Se o livro didático é importante no aspecto e c o n ô m i c o , s e j a pelo ô n u s que r epresenta no o r ç a m e n t o familiar, seja p e l o a s ­ pecto e s p e c u l a t i v o das empresas editoriais, d i s t r i b u i d o r a s ,e t c .,

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não é menos import a n t e e m seu aspecto p o l í t i c o e cultural, so­ b r etudo no a s p e c t o ideológico. D i z e m os autores OLIVEIRA, G U I ­ MARÃES e B O M É N Y (1984:11)

"O livro d i d á t i c o t ambém é i mportante por seu a s ­ pecto p o l í t i c o e cultural, na m e d i d a em que r e ­ produz e r e p r e s e n t a os v a lores da sociedade em re lação à sua v i s ã o da ciência, da história, da i n t e r p r e t a ç ã o dos fatos e do p r ó p r i o p r o c e s s o de t r a n s m i s s ã o do conhecimento."

P a r t i c u l a r m e n t e interessante, no que diz respeito ao livro d i d ático de Português, é o aspecto da língua p a drão em o p o sição aos l inguajares locais e regionais. O a s pecto mais grave e m re­ lação ao livro d i d á t i c o é, no entanto, o do p a t r u l h a m e n t o i d e o ­ lógico. Cite-se como exemplo, marcante' desse tipo de controle, no passado, a p o l í t i c a do livro d i d ático do E stado Novo. 0 D e ­ creto n 9 1 . 0 0 6 , de 30 de d e z embro de 1938; trouxe m o d i f i c a ç õ e s que, e m seu bojo, f a z i a m graves restri ç õ e s à livre p r o d u ç ã o do livro de um modo geral e do livro d i d ático e m particular, e e x e r c e r a m forte c o n t r o l e ideológico. M a i s r e c e n t e m e n t e houve a p o l í t i c a dos governos da x e v o l u ç ã o de 1964, e m que o fato se r e petiu de m a n e i r a tão o u mais grave ainda do q u e no E s t a d o N o ­ vo.

O livro d i d á t i c o d e v e r i a refletir a função da e s c o l a de d e s e n v o l v e r o senso c r í t i c o dos a lunos e de d e s p e r t a r - l h e s as consciências, todavia t o r n o u - s e reprodutor dos m o d e l o s e dos e squemas de v a lores da c lasse dominante. Isto p o r q u e a p r ó p r i a escola, consciente ou inconscientemente, a c a b o u f a zendo o jogo dos d o m i n a d o r e s , saJLvaguardadas, heróicas exceções.

A p r e o c u p a ç ã o f undamental deste t r a balho ê cora o ensino- - a p r e n d i z a g e m do Português, mas, q u a n d o se p e n s a nos livros de História, já que se está a falar do livro didático, o p r o b l e m a

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é ainda m a i s sério, p o s t o que muitos profe s s o r e s s e g u e m à risca o livro sem se q u e s t i o n a r e m sobre o outro lado da h i s t ó r i a que não a v e r s ã o do dominador.

O u t r a faceta da q u e s t ã o é a que se refere S qualidade, à natureza, ã dosagem, d i s t r i b u i ç ã o e t ratamento dos conteúdos. O a s s u n t o diz r e s p e i t o aos livros didáticos de um modo geral, mas aqui se t e m como p r e o c u p a ç ã o imediata aqueles utiliz a d o s no e n s i n o - a p r e n d i z a g e m do Português.

Nos ú l t i m o s tempos, e m que pese o grande d e s e n v o l v i m e n t o da l i n g ü í s t i c a no Brasil, o que se percebe nos livros didáticos e nos p r o c e d i m e n t o s do e n s i n o do Português, quase g e n e r a l i z a d a - mente, é a falta de p o s t u r a teórica, q u e r do ponto de vista lingüístico, q u e r do p o n t o de vista das m o d ernas t e orias de ensino. Os livros d i d á t i c o s e as gramáticas escolares, como se verá m a i s p r o f u n d a m e n t e nos próxi m o s capítulos, são um e m a r a ­ n h a d o de t e xtos e c o n t e ú d o s desconexos e estanques, tratados de m a n e i r a i n a d e q u a d a p o r m e i o de métodos e técnicas cujos prin­ cípios são d e s c o n h e c i d o s dos autores e dos p r o f e s s o r e s que vão tr a b a l h a r cora tais livros, na m a i o r parte dos casos.

Se, de ura lado, e n f a t i z a - s e o t r a balho c o m textos no e n ­ s i n o - a p r e n d i z a g e m do Português, de outro, c o n s t a t a - s e que na raaior p a r t e dos livros d i d á t i c o s :

1) N a o há c r i t é r i o s raais sérios de seleção de textos, ou há a m a n i p u l a ç ã o do sistema n e s s e particular.

2) Os m e smos textos se r e p e t e m até mesrao de uma série para o u t r a nas m e s m a s coleções.

3) Os textos o u são tão fora da r e a l idade do a l u n o que o a f a s t a m da n e c e s s á r i a refle x ã o sobre ela, ou tratara da realidade, m e s m o p r ó x i m a do a luno de modo a r e p r o d u z i r

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os modelos e e s q u e m a s de valores da classe dominante, 4) Sugere-se, prepo n d e r a n t e m e n t e , o trabalho c o m o texto e s ­

crito, d e i x a n d o de lado ou n u m segundo, p l a n o o aspecto , da oralidade. E, q u a n d o se sugere alguma atividade oral,

isto é, feito ,tao..inadequadamente que c ondiciona os p r o f e s ­ sores a d e i x a r e m sistem a t i c a m e n t e de lado tais a t i v i d a ­ des .

5) Trabalha-"se quase exclus i v a m e n t e o texto literário, d e i ­ xando de lado outros textos igualmente i mportantes tais como os jornalísticos, os didáticos; os técnicos e c i ­ entíficos, e outros.

6) O tipo de t r a b a l h o p r o p o s t o e m análise de texto, na ma i o r i a dos casos, é de tal sorte superficial, p r i n c i ­ p a l m e n t e no 19 grau, que não chega a riscar sequer o v e r n i z da e s s ê n c i a do texto.

7) Os textos são m u i t o m a i s p r e t e x t o para e n s i n a r q u e stões de gramática n o r m a t i v a do que objetós de análise, c o m ­ preensão, interpretação, retenção e p r o d u ç ã o oral e e s ­ crita, o q u e deve ser o v e r d a d e i r o o b j e t i v o do e studo de t e x t o .

8) Há ainda o p r o b l e m a dos excertos, textos fora de c o n ­ texto que c a r e c e m de interesse por. parte dos alunos., e dificu l t a m - l h e s a compreensão.

9) M a s o aspecto mais grave é, sem dúvida, o da i d e o l o g i a v e i c u l a d a nos textos o u c o n d i c i o n a d a no t r a t a m e n t o dos mesmos, i d e o l o g i a de domest i c a ç ã o e de dominação.

O P l a n o E s t a d u a l de E d u c a ç ã o de Santa Catarina, r e s u l t a d o de d e bates dos professores, c oloca uma série de d e f i c i ê n c i a s re­ l a c i o n a d a s ã necess i d a d e de se levar em conta a r e a l i d a d e do aluno, da escola e do m e i o , e propõe algumas soluções no sentido

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da p r o m o ç ã o de iim e n sino v o ltado para a realidade catarinense e brasileira, aberto e democrático.

No que tange aos conteúdos de língua p e r c e b e - s e a ênfase dada ã g r a m á t i c a normativa. Sem q u e r e r entrar agora no mérito da q u e s t ã o da g r a m á t i c a p r o p r i a m e n t e dita*. Pode-se dizer, no momento, q u e a m a i o r p a r t e dos livros didáticos:

1) N ã o p ossui critérios mais rigorosos de d i s t r i b u i ç ã o e d o s a g e m de conteúdos gramaticais.

2) P o r outro lado, não apresenta t a m b é m tratamento a d e q u a ­ do desses c o n t e ú d o s em funçao do grau de m a t u r i d a d e dos alunos.

3) T r a t a a g r a m á t i c a de forma s istemática e p r e s a ã n o m e n ­ c l a t u r a g r a m a t i c a l brasileira, tendo como p r e o c u p a ç ã o m a i o r a m e m o r i z a ç ã o de regras e definições sem f u n d a ­ m e n t a ç ã o científica.

4) A p r e s e n t a e x e r c í c i o s e exemplos feitos em cima de f r a ­ ses e stereotipadas, q uando não contraditórias.

5) Impõe uraa g r a m á t i c a formal, padrão, normativa, sem l e ­ v a r e m conta a g r a m á t i c a usual dos alunos.

6) A p r e s e n t a como exemplos e sugestão de exercí c i o s : fra­ ses retiradas de textos literários (ora de todas as forraas de l i n g u a g e m a literária é a mais l i v r e ) .

Ê b o m que se e n t e n d a que o que se está a c r i ticar não é o uso do texto de q u a l q u e r n a t ureza no ensino de língua. O que

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se está a c r i t i c a r é a forma como isso v e m sendo feito ou suge­ rido em g rande parte dos livros didáticos. M u i t o pelo c o n t r á ­ rio, o p r e s e n t e t r a balho vê no texto, em seu a s p e c t o ■ d i s c u r s i ­ vo, a v e r d a d e i r a d i m e n s ã o do ensino de língua. A p r o p ó s i t o ,c o n ­ v ê m c i t a r o que a f i r m a m Jean Claude Beacco e M i r e i l l e Darot

{1384:6):

"No d o m í n i o da lingüí s t i c a e as vezes no da d i d á ­ tica das línguas e n t e n d e - s e por análise de dis-■ c u r s o o e s t a b e l e c i m e n t o de uma r e l ação e n t r e o

l i n g ü í s t i c o (textos políticos, por exemplo) e o n ã o l i n g ü í s t i c o (infrae s t r u t u r a social, formação i d e o l ó g i c a e t c . ) . No que nos diz respeito, trata- -se de c o l o c a r e m c o n f r o n t o textos e u m nível r e ­ l a t i v a m e n t e m e n o s p r o fundo de suas c o n d i ç õ e s de produção: o e v e n t o comunicativo."

P o d e - s e p e r c e b e r pois^_. _ que u m ensino v o l t a d o p a ­ ra o texto é uma forma de t r a n s f o r m a r o ensino — p r e t e n s a m e n t è n e u t r o — de um c o n t e ú d o b a s e a d o na língua, tomada como sistema m a i s o u m e n o s e s t ável e m u m ponto de encon t r o c o m o s o c i a l . N e s ­

ta medida, a língua d e i x a de ser apenas u m c o n teúdo o b j e t i v o e e s t ável p a r a t o r n a r - s e u m a forma de e n v o l v i m e n t o c o m o social, portanto, de c o n v e r g ê n c i a entre o lingüístico e o não l i n g ü í s ­ tico (o social, o político, o i d e o l ó g i c o ) , uma vez que ê no discurso, é no texto que se dá a m a n i f e s t a ç ã o desse fenômeno da p r e s e n ç a do não lingüístico. E q u a n d o se fala e m texto não se e s t á p e n s a n d o apenas no texto escrito. Há u m u n i v e r s o a ser e x p l o r a d o neste sentido.

A t é aqui pouco se c o m e n t o u o aspecto p e d a g ó g i c o do livro d idático, c o n s i d e r a n d o - s e que, em grande parte, o livro didático a i n d a é imposto. S e gundo Sônia Dantas Pinto Guimarães, o livro d i d á t i c o t o r n o u - s e loma a u t o r i d a d e inquestionável; o livro t o r ­ na-se o p r ó p r i o programa; n este sentido, é v i s t o como uma obra fechada. S e g u n d o a a utora citada, p e s q u i s a r e a l i z a d a entre 800

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p r o f e s s o r e s r e v e l o u que 35% deles g o s t a r i a m de a d o t a r outro l i ­ vro. Esta p e s q u i s a r e velou t a mbém a falta de informação sobre o m a t e r i a l a escolher: menos de 40% dos e n t r e v i s t a d o s t i v e r a m a l ­ guma forma de inform a ç ã o sobre o m a t e r i a l adotado.

O u t r o p r o b l e m a que concorre p a r a a g ravar o c a ráter a u t o ­ ritário do livro didático é o que diz respeito á formação do professor, á falta de informação, ã falta de v a l o r i z a ç ã o e e s ­ tímulo. O livro d i d ático assiime u m c a r á t e r ditato r i a l que, f e ­ lizmente, c omeça a incomodar. Uma p r o f e s s o r a do Rio de Janeiro c hegou a a f i r m a r que o livro didático é u m vício como outro qual­ quer.

E m r e c e n t e depoi m e n t o ao jornal Leia, o p r o f e s s o r Demerval Saviani a f i r m a que o livro didático d e v e r i a ser uma forma de organizar, numa seqüência e gradação, os conteúdos, mas c o n v e r ­ teu-se e m e s p é c i e de folheto de instruções, rebaixando, c o n s e ­ qüentemente, o nível do ensino*.

O q u e se p e r c e b e é que o livro d i d ático a s s u m i u todo o p a ­ pel e f u n ç ã o pedagógicos, papel e funçao que d e v e r i a m ser do p r o f e s s o r e da escola. É o que c o n s t a t a o p r o f e s s o r Demerval Sa­ viani:

"Os cursos de p e d a g o g i a hoje p o u c o se a f a s t a m - do senso comixra, deixando ao livro didático a tarefa de transf o r m a r o saber s i s t e m a t i z a d o e m saber escolar, fazer seleção dos conteúdos e c o n c r e t i ­ zar u m m é t o d o de ensino." (p.22)

Isso r e flete a falta de p o s t u r a t e órica dos p r o f e s s o r e s e da escola. M e s m o depois da adoção da nova p o l í t i c a do livro d i ­ dático, e m q u e pese a inegável p o s s i b i l i d a d e que t ê m hoje o p r o f e s s o r e a escola de m aior p a r t i c i p a ç ã o e d e c i s ã o n a e s colha do livro didático, as condições de uma discussão mais séria dos

*Demerval Saviani em seu artigo "O grande pedagogo". Leia n9 82, a gosto de 1985.

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m a n u a i s e s c o l a r e s a i n d a são precárias.

A p r o p ó s i t o do a s s u n t o uma equipe de profes s o r e s e p e s q u i ­ s a dores d o I n s t i t u t o de Estudos da L i n g u a g e m da U N I C A M P a n a l i ­ sou o p r o c e s s o de e s c o l h a e c o n s t a t o u que:

"Os m a n u a i s escolares de C omunicação e E x p r e s s ã o , . p r e t e n d e n d o 'facilitar' o processo de a p r e n d i z a ­ gem, t r a n s f o r m a m o dinamismo do uso da língua, p r e s e n t e no dia a dia de q u a l q u e r falante numa s é r i e de a t i v i d a d e s rígidas e estanques."*

A n a l i s a n d o as cinco coleções mais solicitadas, no recente p r o c e s s o de e s c o l h a do livro didático, das muitas q u e stões p a s ­

síveis d e reflexão, o grupo r e s tringiu-se á q u e stão da forma de o r g a n i z a ç ã o .do livro didát i c o e c o n s t a t o u que, por trás das a p a r e n t e m e n t e n u m e r o s a s atividades, o livro d i d á t i c o se r e s ­ t ringe a a p e n a s três: leitura - g r a m ática - redação. Consci e n t e o u i n c o n s c i e n t e m e n t e /isto e s t aria r ecuperando as três grandes a t i v i d a d e s l i n g ü í s t i c a s do falante: recepção (ouvir/ler), p r o ­ d u ç ã o (falar/escrever) e reflexão m e t a l i n g ü í s t i c a (ato de tomar a p r ó p r i a l í n g u a como objeto). Daí a crítica: Na prática, essas três a t i v i d a d e s são i n terligadas e interdependentes, p o r q u e se c o n c r e t i z a m na e pela interação verbal, e m que os i n t e r l o c u t o ­ res se c o n s t i t u e m como tais pela p r ó p r i a ação que realizam.

A o q u e parece, o p r o b l e m a do livro didático recai sobre o p r o b l e m a da formação do professor. De lom lado, p o r q u e são p r o ­ fessores q u e e l a b o r a m os livros didáticos. Pelo menos deveria ser. De outro, são p r o f e s s o r e s que vão trabalhar c o m tais li­ vros. Ora, se o p r o f e s s o r autor de livros didáticos ~ c o n s c i e n t e o u i n c o n s c i e n t e m e n t e - faz o jogo do sistema, é de se e s p e r a r que o p r o f e s s o r que vai t r a b a l h a r com tais livros tenha suficiente

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c o n s c i ê n c i a da r e a l i d a d e do inundo e suficiente senso crítico pa­ ra d e s m o n t a r os esquemas. Ê nesse sentido que se pode afirmar que atê c o m u m m a u livro se pode fazer um b o m trabalho. É nesse sentido que se a f i r m a que o p r o b l e m a do ensino do P o r t uguês e s ­ tá m e n o s no livro d i d á t i c o e mais na formação do professor, na falta de v a l o r i z a ç ã o de seu trabalho, na. sobrecarga de t r a b a ­ lho q u e a s s u m e p a r a s o b r e v i v e r economicamente, na falta de tempo e e s t í m u l o p a r a o aperfeiçoamento.

A p r o p o s t a deste t r a b a l h o vai na m e s m a senda da análise do g rupo de p r o f e s s o r e s da UNICAMP, c i tados há pouco, o u seja, uma a b o r d a g e m s o c i o l ó g i c a da l i n g uagem e de seu ensino. É n esta pers­ p e c t i v a q u e se p r e t e n d e v e r a q u estão da g r a m á t i c a e / o u da n o r ­ ma.

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