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Letramentos na construção civil: um estudo sobre as leituras e as escritas dos técnicos de segurança do trabalho

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LINGUÍSTICA APLICADA

LETRAMENTOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL:

UM ESTUDO SOBRE AS LEITURAS E AS ESCRITAS DOS TÉCNICOS DE

SEGURANÇA DO TRABALHO

Klébia Ribeiro da Costa

Natal/RN

2019

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KLÉBIA RIBEIRO DA COSTA

LETRAMENTOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL: UM ESTUDO SOBRE AS LEITURAS E AS ESCRITAS DOS TÉCNICOS DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutora em Letras, na área de Linguística Aplicada.

Orientadora: Profª. Drª. Ana Maria de Oliveira Paz

Natal/RN 2019

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Imagem da capa:

Criador: PREDRAGILIEVSKI Crédito: Getty Images/iStockphoto

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas – SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHLA

Costa, Klebia Ribeiro da.

Letramentos na construção civil: um estudo sobre as leituras e as escritas dos técnicos de segurança do trabalho / Klebia Ribeiro da Costa. - Natal, 2019.

120f.: il. color.

Tese (doutorado) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2019.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Maria de Oliveira Paz.

1. Letramento - Tese. 2. Letramento Laboral - Tese. 3. Práticas de Letramento - Tese. I. Paz, Ana Maria de Oliveira. II. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 81'33

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LINGUÍSTICA APLICADA

FOLHA DE APROVAÇÃO

A Tese “LETRAMENTOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL: UM ESTUDO SOBRE AS LEITURAS E AS ESCRITAS DOS TÉCNICOS DE SEGURANÇA DO TRABALHO” foi defendida e aprovada em 04 de dezembro de 2019, pela comissão examinadora constituída pelas seguintes professoras:

_________________________________________________ Profª. Drª. Ana Maria de Oliveira Paz (UFRN)

Orientadora

_________________________________________________ Profa. Dra. Glicia Marili Azevedo de Medeiros Tinoco (UFRN)

Avaliadora 1

_________________________________________________ Profa. Dra. Josilete Alves Moreira de Azevedo (UFRN)

Avaliadora 2

_________________________________________________ Profa. Dra. Nádia Maria Silveira Costa de Melo - UERN

Avaliadora 3

_________________________________________________ Profa. Dra. Risoleide Rosa Freire de Oliveira - UERN

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AGRADECIMENTOS

Chegamos ao momento de registrar os nossos agradecimentos pela feitura desta tese e fazermos uma retrospectiva de sua trajetória que se confunde com a da pesquisadora. A princípio, este empreendimento foi o sonho de uma professora que sempre teve na formação educacional o único caminho possível para modificar o destino tão marcado de uma menina pobre do interior seco do Estado do Rio Grande do Norte.

Há muitos anos, fugindo da seca e da falta de perspectivas, tão comuns nas cidades mais pobres do País, sonhei a formatura e ela aconteceu, após algumas tentativas, muito trabalho e orações. Em seguida, veio a necessidade de saber mais sobre os acontecimentos e sobre o próprio saber. Depois, vieram as especializações, que forneceram subsídios para que eu pudesse desempenhar melhor as atividades como professora, coordenadora pedagógica, gestora escolar, assessora pedagógica e pessoa.

Certo dia, assisti a uma palestra da Profª. Drª. Maria do Socorro Oliveira, que falava com voz suave e firme sobre Projetos de Letramento, sobre as contribuições que os projetos poderiam oferecer para ampliar as competências leitoras e escritoras dos seus participantes. Aquela voz inundou as minhas ideias, acendendo um novo sonho: ingressar no mestrado, buscando desvelar os letramentos e as suas implicações na vida das pessoas. Afinal, na minha vida, a leitura e a escrita fomentaram transformações profundas que me trouxeram até aqui.

Em 2011, o projeto que propus contemplava a análise da formação teórica de condutores de veículo automotores terrestres, vislumbrada como prática de letramento, o qual foi generosamente acolhido pela Profª. Drª. Ana Maria de Oliveira Paz, docente da UFRN havia aberto, com a defesa de sua Tese em 2008, um viés de pesquisa no PPgEL/UFRN voltado para os letramentos laborais. O meu trabalho foi defendido no ano seguinte e, até os dias atuais, abre espaços para discussões, publicações e participação em aulas inaugurais nos Centros de Formação de Condutores, que figurou como campo empírico de investigação, além de me proporcionar muitas alegrias pelos ecos das reflexões suscitadas sobre o tema.

No ano de 2016, iniciei o presente trabalho, mais uma vez, acolhido pela Profª. Drª. Ana Paz, que acreditou que nós poderíamos trazer para o cerne das discussões acadêmicas as práticas de letramento dos Técnicos de Segurança do Trabalho em serviço na indústria da construção civil. Esse objeto me chamou a atenção pelo número de acidentes leves e graves registrados no setor, embora ali se faça presente o Técnico de Segurança, encetando orientações para garantir a integridade e a saúde dos que exercem as suas atividades como

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fonte de renda para si e para suas famílias. Chegamos à tão sonhada finalização possível deste empreendimento de vida e só temos a agradecer.

A Deus, Pai bom e generoso, que me deu a vida e manteve acesa em meu coração a fé de que este momento se tornaria realidade, agradeço.

Ao companheiro de todos os momentos, Ari, a minha eterna gratidão pelo apoio incondicional e pelas palavras de encorajamento, quando as forças insistiam em pular pela janela, pela compreensão das inumeráveis ausências e pelas orações silenciosas durante as minhas vigílias.

Ao meu filho, Rodrigo, fonte inesgotável de amor e inspiração divina, agradeço. Aos meus netos, João Rodrigo e Maria Eduarda, chamas de amor e de renovação em minha caminhada, obrigada.

Aos demais familiares, pelo apoio, torcida e orações, muito obrigada

Ao meu padrinho de batismo, Manoel Soares Rosas (in memorian), pelos sorrisos, pelo afeto em tempos de tanta aridez quando eu ainda era criança, por acolher as minhas inquietações infantis e por me ensinar que o “estudo pode levar a lugares que a gente nem imagina que existem”, agradeço. A sua presença sempre viva em minha memória e em meu coração foi imprescindível para que eu chegasse a este momento.

A todos os professores com quem tive a alegria de estudar a aprender sobre o conhecimento, sobre ser e sobre o poder da formação escolar e acadêmica para fazer a diferença que queremos ver na sociedade, agradeço.

À Profª. Drª. Ana Maria de Oliveira Paz, pela acolhida desta ideia, pela confiança e pelas contribuições valiosas para o meu amadurecimento acadêmico e para a construção do trabalho. Agradeço, ainda, pelas palavra de incentivo, pelas discussões que desvelavam os dados, mostrando-me possibilidades de interpretação e de análise com base no que postulam os teóricos sobre o tema, abrindo, dessa forma, possibilidades para que eu ampliasse o entendimento sobre o que me movia, me emocionava, me levava adiante. A você, Ana Paz, a minha eterna gratidão.

À Profª. Drª. Glícia Marili de Azevedo Medeiros Tinoco, pela generosidade em aceitar o convite para participar desta empreitada, pela leitura atenta e pelas valiosas contribuições dadas por ocasião do evento de qualificação e da defesa desta tese, agradeço. Os seus apontamentos foram fundamentais para o crescimento e aprofundamento analítico deste trabalho.

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À Profª. Drª. Ivoneide Bezerra de Araújo Santos Marques, pela amizade, pelo apoio e carinho em todos os momentos desta caminhada, agradeço. Também pela acolhida quanto ao convite para contribuir com o texto do trabalho, mediante sua leitura criteriosa, e pelas relevantes contribuições dadas por ocasião da qualificação da tese, bem como as sugestões apontadas que me trouxeram ganhos inefáveis, fazendo-me compreender melhor a relevância do estudo proposto para o campo do saber ao qual está vinculado, meu muito obrigado.

Agradeço às Profas. Dras. Josilete Alves Moreira de Azevedo, Nádia Maria Silveira Costa de Melo e Risoleide Rosa Freire de Oliveira, pela acolhida, leitura atenta, valiosas contribuições e participação na banca de defesa desta tese.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte e, em especial, ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, pela oportunidade que me deu de ampliar saberes, fazer contatos com quem faz ciência, pela possibilidade de modificar a sociedade pela via de meu fazer, com base nos saberes apreendidos no desenvolvimento do curso de doutorado. Agradeço.

Ao Prof. Dr. Edvaldo Bispo, Coordenador do PPgEL/UFRN, pela forma acolhedora com que me recebeu no Programa e pelas vezes que atendeu às minhas solicitações, sempre com muita disponibilidade e simpatia, meu obrigada.

À Beth, Gabriel e à equipe da Secretaria do PPgEL/UFRN, pelas valiosas contribuições e acolhidas das nossas demandas acadêmicas, agradeço.

Aos amigos que ganhei nesse percurso e que ficarão para sempre em meu coração, pelo carinho, sugestões e compartilhamento de leituras e de ideias: Maria Aparecida, Carlos Henrique, Lindneide, Rosineide, Alizandra, Gleidson, Jardiene, Maria Laura, Glênio e tantos outros que, em algum momento, mostraram-me possibilidades de como fazer melhor o empreendimento pensado, meu muito obrigada.

Aos amigos, colegas de trabalho e alunos, com seu apoio como interlocutores em dados momentos desta caminhada acadêmica, agradeço.

Aos colaboradores da pesquisa – os Técnicos de Segurança do Trabalho e seus interlocutores: mestres, pedreiros, gesseiros, armadores, serventes e outros profissionais – que se dispuseram a colaborar na construção do corpus desta tese e que ganharam o meu carinho e a minha admiração pelo acolhimento em um espaço laboral tão singular e, ainda, pelo respeito a mim dispensado durante a nossa convivência, agradeço demais.

Enfim, sou imensamente grata a cada pessoa que acreditou neste projeto, que me abraçou quando achei que não suportaria o peso da responsabilidade, pelos ombros e ouvidos

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atentos às minhas incertezas e por compreender o meu afastamento, não pelo meu desejo, mas pelo espírito de responsabilidade que me chamava ao trabalho.

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DEDICATÓRIA

A Deus, por Seu Amor incondicional de Pai, manifestado em cada momento de minha existência.

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“A gente já trabalha há muitos tempos com esse negócio de construção, sabe? Já se acostumou a fazer as coisas sem os equipamentos que o Técnico manda usar. Mas ele sempre explica, mostra os acidentes que podem acontecer se a gente não usa o equipamento, entrega o EPI na mão da gente e manda assinar o papel pra provar que a gente recebeu. [...] Devagarinho a gente vai entendendo que precisa se proteger mais porque pode dar errado um dia, né? Aí a gente vai tentando se acostumar a usar os equipamentos pra não ter acidente”. (João Pedro, pedreiro)

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RESUMO

A linguagem é uma construção humana empregada desde as primeiras gerações das quais se tem notícia, utilizada para mediar a comunicação entre os pares. Devido à relevância que assume na sociedade contemporânea, tornou-se objeto de interesse de diversas pesquisas da área da linguagem, observando os usos e os impactos que têm na vida dos seus usuários. A linguagem escrita, especificamente, é mediadora das atividades que as pessoas realizam cotidianamente nas mais diversas ações, efetivando tarefas desde as mais simples, como escrever um bilhete, às mais complexas, como a produção de materiais para cursos de formação para o trabalho. Considerando que essa modalidade da língua tem papel primordial na agência social, a presente tese se propõe a compreender as práticas de letramento de Técnicos de Segurança do Trabalho que atuam na indústria da construção civil, no intuito de analisar como se efetivam e de que forma contribuem para a preservação da saúde e da vida dos que trabalham nesse espaço laboral, visto que as atividades escritas desses profissionais têm caráter agentivo, sendo relevantes tanto em relação ao seu fazer quanto na orientação de seus pares. O trabalho situa-se no âmbito da Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006) e é de natureza qualitativa com traços de vertente etnográfica (BODGAN; BIKLEN, 1994; ANDRÉ, 1995; CANÇADO, 1994). Os aportes teóricos estão ancorados nas concepções de letramento como prática social (KLEIMAN, 1995; OLIVEIRA; KLEIMAN, 2008; BARTON; HAMILTON, 1998), de linguagem como mediadora das atividades no desenvolvimento das atividades laborais (NOUROUDINE, 2002; PAZ, 2008) e de agência como posicionamentos assumidos pelos indivíduos na interação com os diversos textos (BANDURA, 2001; ARCHER, 2000). A análise dos dados aponta para a relevância que as práticas de letramento assumem para orientar, assegurar direitos e espaços, registrar o trabalho realizado e o mais importante: para provocar mudanças de atitude quanto à forma de perceber os riscos que os afazeres laborais oferecem, evidenciando, dessa forma, uma perspectiva agentiva ao fomentar a mudança de atitude dos diversos trabalhadores que atuam na esfera em estudo. Portanto, a investigação tem como contribuição ressaltar o caráter agentivo da escrita dos Técnicos e o potencial das práticas de letramento desses profissionais para modificar as relações entre trabalho, o bem-estar e a segurança no âmbito laboral. PALAVRAS-CHAVE: Letramento. Letramento Laboral. Práticas de Letramento.

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ABSTRACT

Language is a human construction, employed since the first known generations to make communication among individuals and their people easier. Given its importance, playing a mediating role in a modern society as a means of daily social interactions, it has become a topic of interest for several researchers in the literacy field, observing its uses and the consequences that it causes to its users’ life. Considering that written language is a mediator of human relationships and that it plays a paramount role for social agency, the present work intends to shed light on the literacy practices carried out by Workplace Health and Safety Officers who work in the civil construction industry, aiming to investigate how these practices are done and how they contribute to the preservation of health and life of those who work in such workplace. The study is in the scope of Applied Linguistics, it is qualitative in nature with ethnographic traits (BODGAN; BIKLEN, 1994; ANDRÉ, 1995; CANÇADO, 1994). Theoretically, it is anchored in the conceptions of literacy as a social practice (KLEIMAN, 1995; OLIVEIRA; KLEIMAN, 2008; BARTON; HAMILTON, 1998), as language as a mediator of work activities (NOUROUDINE, 2002; PAZ, 2008), and as agency with positions assumed by individuals by interacting with various texts (BANDURA, 2001; ARCHER, 2000). The analysis points out the importance that literacy practices assume to guide, ensure rights and spaces, register the work done, and most importantly, to provoke changes in attitude such as how the risks that the work presents for those who develop their labor activities in this scope, assuming, thus, an agentive perspective by encouraging changes in attitude of many employees who work in the civil construction industry. Therefore, the work has as a contribution to evidence the Agentivo character of the writing of technicians and the potential of literacy practices of these professionals to modify the relationships between work, welfare and safety in the workplace.

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RESUMEN

El lenguaje es una construcción humana que se ha empleado desde las primeras generaciones de noticias para mediar en la comunicación entre compañeros. Dada la relevancia que esta práctica asume en la sociedad contemporánea, se ha convertido en un objeto de interés en varias investigaciones en el área del lenguaje, observando los usos e impactos que tienen en la vida de sus usuarios. El lenguaje escrito es mediar en las actividades que las personas en las más diversas acciones que realizan diariamente para realizar tareas de lo más simple como escribir un ticket o el más complejo como la producción de materiales para cursos de formación para el trabajo. Teniendo en cuenta que el lenguaje escrito es un mediador de las relaciones humanas y tiene un papel primordial para el organismo social, esta tesis propone discutir las prácticas letradas llevadas a cabo por los técnicos de seguridad en el trabajo que trabajan en la industria de la construcción con el fin de analizar cómo estas prácticas surten efecto y cómo contribuyen a la preservación de la salud y la vida de quienes trabajan en este espacio de trabajo, ya que las prácticas de estos profesionales tienen un carácter agentevo, supone relevancia tanto en relación con su hacer como con lo que guía a sus compañeros a lograr. La obra se encuentra en el contexto de la Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006) es de naturaleza cualitativa con trazas de hebra etnográfica (BODGAN; BIKLEN, 1994; ANDRÉ, 1995; CANÇADO, 1994). Teóricamente, está anclada en las concepciones de la alfabetización como práctica social (KLEIMAN, 1995; OLIVEIRA; KLEIMAN, 2008; BARTON; HAMILTON, 1998), del lenguaje como mediador de las actividades en el desarrollo de las actividades laborales (NOUROUDINE, 2002; PAZ, 2008) y agencia como posiciones asumidas por los individuos a través de la interacción con los diversos textos (BANDURA, 2001; ARCHER, 2000). El análisis de datos señala la relevancia que las prácticas de alfabetización suponen para orientar, garantizar derechos y espacios, registrar el trabajo realizado y el más importante, provocar cambios de actitud en cuanto a cómo percibir los riesgos que Las tareas laborales ofrecen, asumiendo, de esta manera, una perspectiva de agentiva fomentando el cambio de actitud de los diversos trabajadores que trabajan en el ámbito en estudio. Por lo tanto, el trabajo tiene como contribución a la evidencia el carácter Agentivo de la escritura de los técnicos y el potencial de las prácticas de alfabetización de estos profesionales para modificar las relaciones entre el trabajo, el bienestar y la seguridad en el lugar de trabajo.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAT – Comunicação por Acidentes de Trabalho CEB – Câmara de Educação Básica

CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CNE – Conselho Nacional de Educação

Crea/PR – Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Paraná EaD – Ensino a Distância

EPI – Equipamento de Proteção Individual IAB – Instituto dos Arquitetos do Brasil

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LA – Linguística Aplicada

LAEL/PUC – Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem/Pontifícia Universidade Católica

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

LTCAT – Laudo Técnico das Condições dos Ambientes de Trabalho MEC – Ministério da Educação

MPT – Ministério Público do Trabalho NR – Normas Regulamentadoras

OIT – Organização Internacional do Trabalho OMS – Organização Mundial da Saúde OS – Ordem de Serviço

PCMAT – Programa das Condições de Meio Ambiente de Trabalho PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais RAIS – Relação Anual de Informação Social

SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SESI – Serviço Social da Indústria

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Atividades desenvolvidas por segmento profissional da construção civil .. Quadro 2 - Distribuição de acidentes por setor de atividade laboral ... Quadro 3 - Elementos constitutivos de eventos e práticas de letramento ... Quadro 4 - Letramento como prática social ... Quadro 5 - Exemplo de árvore de domínio da segurança ... Quadro 6 - Termos utilizados na esfera da segurança do trabalho em outros campos de atuação humana ... 31 33 59 60 106 107

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 - Matriz Curricular do Curso para Técnicos de Segurança ... Ilustração 2 - Itinerário formativo proposto pelo Plano de Curso para Técnicos de Segurança ... Ilustração 3 - Ficha de controle de entrega de EPI ... Ilustração 4 - Análise de Risco ... Ilustração 5 - Ordem de Serviço do Pedreiro Fachadeiro ... Ilustração 6 - Ordem de Serviço do Gesseiro ... Ilustração 7 - Permissão de Trabalho ... Ilustração 8 - Sumário do PCMAT ... Ilustração 9 - Proposta de organização da formação em serviço ...

36 37 79 81 83 84 86 96 99

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Gênero dos colaboradores que interagem com os Técnicos ... Gráfico 2 - Formação escolar dos colaboradores ... Gráfico 3 - Faixa etária dos colaboradores ... Gráfico 4 - Funções exercidas pelos colaboradores ...

45 47 48 49

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LISTA DE FOTOS

Foto 1 - Reunião entre Técnicos e Engenheiros analisando a planta do prédio ... Foto 2 - Treinamento sobre o trabalho na área da fachada 1 ... Foto 3 - Treinamento sobre o trabalho na área da fachada 2 ... Foto 4 - Assinaturas dos participantes de momento formativo realizado no canteiro ...

90 91 92 94

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 20

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA ... 27

2.1 SEGURANÇA DO TRABALHO: ELEMENTOS CONSTITUTIVOS ... 27

2.2 ATRIBUIÇÕES DOS TÉCNICOS DE SEGURANÇA ... 29

2.3 A CONSTRUÇÃO CIVIL COMO ESPAÇO LABORAL ... 31

2.4 DA FORMAÇÃO DOS TÉCNICOS DE SEGURANÇA DO TRABALHO ... 35

2.5 INSERÇÃO NA LA, ABORDAGEM E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA... 38

2.6 CENÁRIO DE PESQUISA ... 41

2.7 COLABORADORES DA PESQUISA ... 43

2.7.1 Os Técnicos de Segurança do Trabalho ... 44

2.7.2 Os profissionais que interagem como os Técnicos em situação laboral ... 45

2.8 A GERAÇÃO DOS DADOS ... 49

3 APORTES TEÓRICOS ... 52

3.1 LETRAMENTOS: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS ... 52

3.2 LETRAMENTO LABORAL: ESTUDOS EM EXPANSÃO ... 63

3.3 GÊNEROS E AGÊNCIA ... 66

3.4 ESCRITAS ESPECIALIZADAS E EFETIVAÇÃO DO TRABALHO ... 71

4 PRÁTICAS DE LETRAMENTOS NO EXERCÍCIO LABORAL DO TÉCNICO DE SEGURANÇA DO TRABALHO ... 76

4.1 GÊNEROS E AGÊNCIA ... 76

4.2 ESCRITA ESPECIALIZADA DOS TÉCNICOS DE SEGURANÇA ... 102

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 109 REFERÊNCIAS ... 115 APÊNDICES ... 121 APÊNDICE A ... 122 APÊNDICE B ... 124 APÊNDICE C ... 125

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1 INTRODUÇÃO

A história da humanidade se confunde com a da escrita, uma vez que a segunda foi instrumento sine qua non para o registro da primeira, ainda que por meio de assentamentos considerados, atualmente, como não convencionais. Ao longo de sua existência, a escrita se modificou e assumiu as mais variadas funções como mediadora das atividades realizadas pelo homem, como registrar a história, comunicar as conquistas e necessidades, reivindicar direitos, demarcar espaços conquistados, provocar emoções, orientar a realização de atividades no espaço do trabalho, dentre outras possibilidades de uso.

Ao discorrer sobre o papel da escrita e da interação, Koch (2011) nos lembra de que a escrita faz parte da vida das pessoas, uma vez que estas são incentivadas a ler e a escrever nas mais diversas situações sociais em que isso se faz necessário. Constituem exemplos dessas atividades as que surgem em atendimento a demandas cotidianas, como pegar uma condução, orientar-se no trânsito, escrever um bilhete com recomendações sobre o funcionamento da casa e da família, fazer as leituras religiosas, solicitar a realização de produtos ou serviços etc. Assim, considerando que vivemos em uma sociedade grafocêntrica, dominar essa tecnologia permite a circulação da informação e a participação efetiva dos seus cidadãos nas práticas em que a escrita assume um papel importante, tanto nas atividades laborais quanto nas de outras naturezas.

Seguindo os postulados defendidos por Koch (2011), é possível compreender o homem como um ser de linguagem, que atua socialmente mediante os variados textos com os quais interage. Nessa perspectiva, a linguagem assume uma função importante “[...] na formação do eu, moldando a face que o indivíduo apresenta ao mundo e o eu interior que busca variadas formas de cooperação e relação com os outros” (BAZERMAN, 2007, p. 110).

Por esse viés, ao se envolver em situações em que a escrita está presente, as pessoas assumem uma postura agentiva, marcada pela interação com as atividades de leitura, ao escrever e ao ouvir, podendo, no decurso dessas atividades, construir novas interpretações acerca do que consideravam verdade absoluta. Como resultado, tais atividades desencadeiam a mudança de opiniões e atitudes, ajudando na transformação do lugar em que as pessoas vivem.

Durante muito tempo, as discussões acerca dos usos da escrita ficaram restritas ao universo escolar e à formação de professores. Isso se deu não por acaso, mas pelo fato de a escola se constituir na nossa sociedade como um locus privilegiado de apropriação e de uso

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dessa tecnologia. É principalmente na escola que a maioria das crianças, jovens e adultos se apropria da escrita, tem contato com os diversos gêneros que circulam socialmente para atender as necessidades comunicativas e aprendem com os gêneros a agir na sociedade, no intuito de transformá-la a fim de que atenda às necessidades das classes menos favorecidas (KLEIMAN, 1995).

A partir da década de 2000, trabalhos realizados no Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPgEL/UFRN) abre uma vertente de pesquisas que ultrapassa os territórios escolares e se volta para os usos da escrita como agência para a realização de atividades nas diversas esferas da atuação humana, inclusive no domínio do trabalho e na formação para o trabalho (PAZ, 2008; COSTA, 2012). Tais pesquisas situam-se no escopo da LA, seguem viés etnográfico e estão vinculadas ao Grupo de Pesquisa Letramentos e Contemporaneidade.

Enveredando por essa seara, Paz (2008) traz à tona os registros escritos elaborados pelos profissionais da enfermagem no desenvolvimento de suas atividades laborais, categorizando-os como práticas de letramento. O trabalho da pesquisadora procura evidenciar a forma como esses registros são produzidos, a relevância que assumem na efetivação do trabalho e o significado que os profissionais atribuem a esses registros.

Por seu caráter seminal em comparação às pesquisas desenvolvidas no PPgEL, o referido estudo instaura uma tradição de pesquisas no âmbito da UFRN que se direcionam para os usos da linguagem em situações laborais. Seguindo os passos de Paz (2008) e sob a sua orientação, outros trabalhos estão sendo desenvolvidos com o propósito de dar inteligibilidade aos aspectos que povoam o universo laboral de diversos segmentos profissionais, focalizando o fato de como a leitura e a escrita se perfazem nesses espaços e de que forma contribuem para a formação ou para a efetivação do trabalho.

Nessa perspectiva, Costa (2012) investiga a formação de condutores de veículos automotores terrestres, procurando dar visibilidade a esse espaço de formação para agir no trânsito. Trata-se de práticas de letramento que podem contribuir, significativamente, para a assunção de posturas agentivas por aqueles que são habilitados a conduzir veículos e, dessa forma, cooperar para a tomada de atitudes mais comprometidas com a vida e com a segurança de quem utiliza as vias públicas para se deslocar.

Mais adiante, Silva (2013) elucida os fazeres dos Agentes Comunitários de Saúde, focalizando as escritas desses profissionais como registro ou retratos de realidades de cidadãos e comunidades por eles assistidas. O pesquisador defende que as escritas desses

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profissionais, feitas em registros próprios, evidenciam realidades sociais que reverberam na deflagração de políticas públicas de assistência às populações mais distantes dos órgãos reguladores de saúde e de assistência social.

Já Oliveira (2015) se insere no universo da chamada cibercultura e se lança a desvelar as práticas de letramento desse segmento, mais especificamente, os posts veiculados no blog PROED no Sertão, criado por policiais militares com o objetivo de prevenir o uso e abuso de drogas ilícitas por adolescestes e jovens nas escolas de Ensino Fundamental da região do Seridó do RN.

Santos (2015), por sua vez, envereda pelo universo jurídico e analisa o gênero ata de audiência na condição de documento comprobatório de ações, procedimentos e deliberações acordadas por partes envolvidas em lides da esfera jurídico-trabalhista.

Ampliando o escopo estudado, Costa (2016) aborda as práticas de letramento em atividades desenvolvidas por Técnicos e Agentes de Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na execução da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). A pesquisa procura identificar e caracterizar as rotinas letradas constitutivas ao trabalho desses profissionais.

Outra importante contribuição é apresentada por Melo (2016) que se debruça sobre as práticas de Letramento efetivadas por profissionais da saúde no curso de formação para maternidade que são oferecidos pelos serviços básicos de saúde às gestantes nos cuidados do pré-natal.

Silva (2016), por sua vez, volta-se para o desenvolvimento das práticas de Letramento que se realizam no âmbito da formação para cuidadores de idosos, uma vez que esse é um nicho profissional que tem se aberto em virtude do envelhecimento da população brasileira.

Como é possível perceber, os estudos acerca das práticas de linguagem no trabalho estão ampliando o seu escopo no âmbito dos Estudos de letramento do PPgEL/UFRN e, consequentemente, atraindo a atenção de novos pesquisadores que têm lançado o olhar sobre essas questões, com o propósito de dar-lhe inteligibilidade (MOITA LOPES, 1996).

Uma vez interessadas nos usos da linguagem em circunstâncias de trabalho ou na formação para o trabalho, tais investigações têm trazido contribuições relevantes para a academia. Isso porque as pesquisas ora apresentadas evidenciam aspectos que, por muitos anos, ficaram opacos para os gestores públicos, empregadores e empregados que utilizam a leitura e a escrita em situações de trabalho.

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Em face dessas questões, os estudos dos Letramentos nos espaços laborais ou na formação para o trabalho se constituem como campo fértil de pesquisa e de interpretação que podem, sobremaneira, dar mais visibilidade acerca desses fazeres, bem como contribuir para novos direcionamentos no que se refere ao cuidado e à proteção dos diversos atores sociais, por meio da construção de agendas de políticas públicas que atendam às suas necessidades de forma mais efetiva.

Nesse sentido, são consideráveis as implicações desta tese para o avanço dos estudos do Grupo Letramentos e Contemporaneidade, ao se lançar no propósito de elucidar as práticas de leitura e de escrita que norteiam as atividades laborais de uma categoria profissional ainda não contemplada na ora perspectiva articulada: a dos Técnicos de Segurança do Trabalho que atuam na indústria da construção civil. Saliente-se, além disso, as contribuições no tocante às demais discussões que envolvem esse tema, como a formação leitora e escritora dos Técnicos e as implicações das práticas de Letramento para o bom desenvolvimento das atividades profissionais em questão.

Nesse cenário, a presente tese toma como objeto de pesquisa as práticas de letramento efetivadas por Técnicos de Segurança do Trabalho vinculados ao ramo da construção civil. Defendemos que uma discussão amparada por um estudo de cunho científico sobre as práticas de letramento efetivadas no contexto laboral desses trabalhadores pode visibilizar as demandas de leitura e de escrita que conduzem esses trabalhos, e que são indispensáveis à manutenção da segurança e da vida de quem opera nesses locais, bem como de condôminos, transeuntes e visitantes dos empreendimentos construídos. O exame constitui-se, dessa forma, como um diálogo entre os estudos de letramento e os fazeres dos Técnicos de Segurança do Trabalho da indústria da construção civil, assinalando o estreitamento entre esses dois distintos campos da atuação humana.

A escolha do objeto se deu por dois motivos principais. O primeiro se reveste de uma preocupação social, visto que a indústria da construção civil diz respeito a um espaço laboral em que há um alto índice de acidentes que lesionam e matam trabalhadores em serviço como consequências de acidentes que poderiam ser, na maioria das vezes, evitados com o uso de equipamentos adequados e outras medidas de proteção. O segundo é por entendermos que os usos da linguagem têm potencial para modificar pessoas, quanto ao que elas pensam, ao que fazem e às relações que estabelecem com seus pares, colaborando para mudanças de atitudes em relação à segurança de si e do outro, concorrendo, dessa forma, para a construção de um

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espaço mais seguro, no qual a manutenção da saúde e da vida sejam asseguradas por via das orientações possibilitadas pela práticas de Letramento.

O intuito desta tese é oferecer contribuições no sentido de compreender como essas práticas se efetivam e de que forma elas podem cooperar para modificar as percepções dos sujeitos engajados acerca da segurança de si e do outro, modificando esse cenário, cuja classificação quanto ao grau de letalidade o coloca dentre os que mais matam trabalhadores em exercício no Brasil, conforme apontam dados do Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho (2018).

Assim, o foco desta investigação repousa sobre as demandas de escrita que orientam e procuram garantir a preservação da integridade dos operários do setor da construção civil, bem como sobre a observância das normas que resguardam a estabilidade e a confiabilidade das obras em edificação.

Nesse sentido, as questões que norteiam a presente pesquisa são:

✓ O que leem e o que escrevem os Técnicos de Segurança do Trabalho que atuam no âmbito da construção civil no decurso de suas atividades laborais?

✓ Como são circunscritas e realizadas as práticas de leitura e escrita efetivadas nesse exercício laboral?

✓ Que significados/representações os profissionais constroem sobre as práticas letradas utilizadas no mundo do trabalho?

No intuito de responder a essas questões, o trabalho elege como objetivos:

Geral

✓ Compreender as práticas de letramento dos Técnicos de Segurança do Trabalho que atuam no âmbito da construção civil no decurso de suas atividades laborais.

Específicos

✓ Descrever o que leem e o que escrevem os Técnicos de Segurança do Trabalho que atuam no âmbito da construção civil no decurso de suas atividades laborais.

✓ Identificar como são circunscritas e realizadas as práticas letradas dessa esfera laboral. ✓ Discutir os significados/representações que os profissionais constroem sobre as

práticas letradas utilizadas no mundo do trabalho.

Sob o escopo da LA, área do conhecimento que tem se preocupado cada vez mais com os usos da linguagem em situações reais (MOITA LOPES, 1996; SIGNORINI, 1998), esta tese assume uma perspectiva de análise tomando como referência uma língua utilizada por

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pessoas reais no desenvolvimento de suas atividades profissionais. Com base nisso, torna-se importante refletir sobre o papel do pesquisador em LA no que se refere ao seu compromisso com a sociedade (LEFFA, 2001).

Pesquisando sobre a linguagem e os problemas sociais nos diversos domínios em que ela se faz presente, inclusive no do âmbito do trabalho, buscam-se caminhos para a discussão e a compreensão de tais problemas, bem como possíveis alternativas para atenuar questões que dificultam a vida das pessoas ou trazem sofrimento para a sociedade. Não se trata, pois, de pesquisar para descrever mas também para analisar como as práticas de letramento se efetivam e, ainda, contribuir para dirimir questões em espaços em que a linguagem escrita assume papel relevante para a agência das pessoas.

No intuito de contemplar as questões de pesquisa e os objetivos propostos, adotamos como categorias de análise os gêneros que orientam os fazeres laborais dos Técnicos e a escrita utilizada nesse contexto como uma escrita especializada (KRIEGER, 2004). Focalizamos os gêneros tendo em vista que eles orientam ações, envolvem pessoas, são artefatos materiais e integram um sistema de gêneros que são específicos da esfera da segurança do trabalho (BAZERMAN, 2009; 2015; HAMILTON, 2000).

Além desses aspectos, focalizamos a análise das produções escritas que direcionam o trabalho desses profissionais a partir do que postulam os estudos sobre as escritas especializadas. Tais produções, por seu turno, possuem características que as tornam muito particulares em um universo em que emergem escritas nos diferentes espaços da atuação humana (KRIEGER; FINATTO, 2004), razão por que podem ser consideradas de natureza especializada.

Em termos teóricos, a pesquisa está assentada sobre os Estudos de Letramento (BARTON, 1993; BARTON; HAMILTON, 2000; BAYNHAM, 1995; KLEIMAN, 1995; KLEIMAN; STREET, 1984; OLIVEIRA, 2008, 2010; PAZ, 2008), entendidos como práticas sociais que se perfazem em diversos espaços sociais, inclusive no âmbito laboral.

Metodologicamente, o estudo segue a abordagem de pesquisa qualitativa (BODGAN; BIKLEN, 1994), mais especificamente de viés etnográfico (ANDRÉ, 1995; CANÇADO, 1994). Nesse sentido, procuramos descrever o fenômeno das práticas de leitura e de escrita realizadas no percurso de atuação dos Técnicos de Segurança do Trabalho, “sem arrancá-los da tessitura de suas raízes” (SIGNORINI, 1998, p. 101), logo, buscando apreender aspectos de sua atuação mediante diversas técnicas do olhar e do perguntar (ERICKSON, 1986), inclusive do registrar.

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A relevância desta pesquisa consiste na relação que reúne três princípios: primeiro, no fato de trazer para o cerne das discussões acadêmicas uma temática inédita, visto que não há estudos anteriores interessados nas práticas de letramentos dos Técnicos de Segurança do Trabalho em situação laboral; segundo, por evidenciar quem são esses profissionais que utilizam a escrita como artefato para a realização do trabalho, apontando para o valor formativo via estudos dos gêneros que são próprios do seu métier (CLOT, 2006); e terceiro, por dar ênfase às implicações que as intervenções mediadas pela leitura e pela escrita podem trazer para modificar as relações desses profissionais e daqueles que estão sob sua orientação quanto aos aspectos de segurança de si, do outro e do empreendimento em que atuam.

Seguindo os postulados da LA, cuja área tem buscado, no bojo de suas pesquisas, evidenciar elementos que possibilitem o impacto na realidade social visando transformá-la, esperamos que o presente estudo propicie outras compreensões acerca das questões que envolvem a leitura e a escrita na formação e na realização do trabalho de Técnicos de Segurança do Trabalho, a fim de redimensionar as práticas de letramento nessa esfera.

Do ponto de vista composicional, esta tese encontra-se organizada em cinco seções. Esta, de natureza introdutória, faz um preâmbulo sobre o tema que aborda, apresenta o objeto da pesquisa, a justificativa que norteou sua escolha, as questões de pesquisa e os objetivos, bem como as escolhas teórico-metodológicas que dão suporte às reflexões apresentadas ao longo do trabalho e a organização do texto. Além disso, apresenta um breve estado da arte, assinalando como o campo de estudos dos letramentos laborais têm se constituído no PPgEL/UFRN.

A segunda seção descreve a contextualização da pesquisa, os espaços de geração de dados e os respectivos colaboradores; a terceira focaliza os aportes teóricos que ancoram as discussões tecidas sobre o tema em tela. Em seguida, vem a quarta seção, apresentando as análises dos dados gerados com base no que postulam teóricos reconhecidos, no intuito de avançar em relação às reflexões e considerações finais, de modo a contribuir para a ampliação das discussões sobre o tema abordado. Por fim, traz as referências que subsidiaram a construção desta produção acadêmica, além dos apêndices e dos anexos.

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2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA

Nesta seção, objetivamos focalizar o âmbito que em se inscreve o presente estudo, o tipo de pesquisa e a abordagem de dados, bem como descrever o ambiente de pesquisa, os colaboradores e o cenário em que se deu a geração de dados, situando, desse modo, a amplitude e o contexto da pesquisa.

2.1 SEGURANÇA DO TRABALHO: ELEMENTOS CONSTITUTIVOS

A Segurança do Trabalho pode ser compreendida como o conjunto de medidas que são adotadas com vistas a minimizar os acidentes no ambiente do trabalho, as doenças ocupacionais, e também como proteger a integridade e a capacidade laboral do trabalhador. Essa área é definida por Leis e Normas específicas.

No Brasil, a Legislação de Segurança do Trabalho baseia-se na Constituição Federal de 1988, na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), nas Normas Regulamentadoras (NR)1 e em outras leis complementares, como decretos, portarias, instruções normativas e resoluções, e, ainda, por orientações das convenções internacionais da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo a NR 4, que trata de serviços especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, as empresas privadas e públicas, os órgãos públicos da administração direta e indireta e dos poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela CLT, manterão, obrigatoriamente, Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, com a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho.

O dimensionamento dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho vincula-se à gradação do risco da atividade principal e ao número total de empregados do estabelecimento. Em geral, o quadro de Segurança do Trabalho de uma empresa é formado por uma equipe multidisciplinar, composta por Técnicos de Segurança do Trabalho, Auxiliar ou Técnico em Enfermagem do Trabalho, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Médico do Trabalho e Enfermeiro do Trabalho. Esses profissionais formam o que

1 A Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho e suas alterações estabeleceram as Normas Regulamentadoras (NR), que devem ser observadas por empregadores e empregados regidos pela CLT.

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se denomina de Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT). Participam da equipe, também, os empregados da empresa que constituem a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), que tem como objetivo prevenir acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível, permanentemente, o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador.

No Brasil, a Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho e suas alterações orientam as diversas atividades que devem ser observadas pela equipe responsável pela Segurança do Trabalho. Dentre as 36 NR, destacamos as mais importantes para nosso estudo, a saber:

NR 1 – Disposições Gerais: estabelece o campo de aplicação de todas as Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho Urbano, bem como os direitos e obrigações do Governo, dos empregadores e dos trabalhadores no tocante a este tema específico. A fundamentação legal, ordinária e específica que dá embasamento jurídico à existência desta NR são os artigos 154 a 159 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA: estabelece a obrigatoriedade das empresas públicas e privadas organizarem e manterem em funcionamento, por estabelecimento, uma comissão constituída exclusivamente por empregados com o objetivo de prevenir infortúnios laborais, através da apresentação de sugestões e recomendações ao empregador, para que melhore as condições de trabalho, eliminando as possíveis causas de acidentes do trabalho e de doenças ocupacionais.

NR 6 – Equipamentos de Proteção Individual – EPI: estabelece e define os tipos de EPI que as empresas estão obrigadas a fornecer aos seus empregados, sempre que as condições de trabalho exigirem, a fim de resguardar a saúde e a integridade física dos trabalhadores.

NR 8 – Edificações: dispõe sobre os requisitos técnicos mínimos que devem ser observados nas edificações para garantir segurança e conforto aos que nelas trabalham.

NR 18 – Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção: estabelece diretrizes de ordem administrativa, de planejamento e organização, que objetivem a implantação de medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho na indústria da construção civil.

NR 27 – Registro profissional do Técnico em Segurança do Trabalho no Ministério do Trabalho: estabelece os requisitos a serem satisfeitos pelo profissional que desejar exercer as funções de Técnico em Segurança do Trabalho, em especial no que diz respeito ao seu registro profissional como tal, junto ao Ministério do Trabalho.

É com base nesse arcabouço de direcionamentos postulados pelas NR que o Técnico de Segurança do Trabalho a serviço da indústria da construção civil ancora a sua prática, orienta-se em relação aos afazeres e responsabilidades que assume, bem como se respalda acerca de quaisquer questionamentos que possam surgir em face de ações realizadas por ele na efetivação do trabalho.

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2.2 DAS ATRIBUIÇÕES DOS TÉCNICOS DE SEGURANÇA DO TRABALHO

No que se refere às atribuições do Técnico de Segurança do Trabalho, trata-se de uma profissão que foi definida no Brasil em 1989, conforme Portaria nº 3.275 de 21 de setembro de 1989, pela então Ministra do Trabalho, Dorothea Werneck. Segundo a mencionada portaria, são atividades do Técnico de Segurança do Trabalho:

Art. 1º – As atividades do Técnico de Segurança do Trabalho são as seguintes:

I – informar o empregador, através de parecer técnico, sobre os riscos existentes nos ambientes de trabalho, bem como orientá-lo sobre as medidas de eliminação e neutralização;

II – informar os trabalhadores sobre os riscos da sua atividade, bem como as medidas de eliminação e neutralização;

III – analisar os métodos e os processos de trabalho e identificar os fatores de risco de acidentes do trabalho, doenças profissionais e do trabalho e a presença de agentes ambientais agressivos ao trabalhador, propondo sua eliminação ou seu controle;

IV – executar os procedimentos de segurança e higiene do trabalho e avaliar os resultados alcançados, adequando estratégias utilizadas de maneira a integrar o processo prevencionista em uma planificação, beneficiando o trabalhador;

V – executar programas de prevenção de acidentes do trabalho, doenças profissionais e do trabalho nos ambientes de trabalho, com a participação dos trabalhadores, acompanhando e avaliando seus resultados, bem como sugerindo constante atualização dos mesmos estabelecendo procedimentos a serem seguidos;

VI – promover debates, encontros, campanhas, seminários, palestras, reuniões, treinamentos e utilizar outros recursos de ordem didática e pedagógica com o objetivo de divulgar as normas de segurança e higiene do trabalho, assuntos técnicos, visando evitar acidentes do trabalho, doenças profissionais e do trabalho;

VII – executar as normas de segurança referentes a projetos de construção, aplicação, reforma, arranjos físicos e de fluxos, com vistas à observância das medidas de segurança e higiene do trabalho, inclusive por terceiros;

VIII – encaminhar aos setores e áreas competentes normas, regulamentos, documentação, dados estatísticos, resultados de análises e avaliações, materiais de apoio técnico, educacional e outros de divulgação para conhecimento e autodesenvolvimento do trabalhador;

IX – indicar, solicitar e inspecionar equipamentos de proteção contra incêndio, recursos audiovisuais e didáticos e outros materiais considerados indispensáveis, de acordo com a legislação vigente, dentro das qualidades e especificações técnicas recomendadas, avaliando seu desempenho;

X – cooperar com as atividades do meio ambiente, orientando quanto ao tratamento e destinação dos resíduos industriais, incentivando e conscientizando o trabalhador da importância para a sua vida;

XI – orientar as atividades desenvolvidas por empresas contratadas, quanto aos procedimentos de segurança e higiene do trabalho, previstos na legislação ou constantes em contratos de prestação de serviço;

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XII – executar as atividades ligadas à segurança e higiene do trabalho, utilizando métodos e técnicas científicas, observando dispositivos legais e institucionais que objetivem a eliminação, o controle ou a redução permanente dos riscos de acidentes do trabalho e a melhoria das condições do ambiente, para preservar a integridade física e mental dos trabalhadores; XIII – levantar e estudar os dados estatísticos de acidentes do trabalho, doenças profissionais e do trabalho, calcular a frequência e a gravidade destes para ajustes das ações prevencionistas, normas regulamentos e outros dispositivos de ordem técnica que permitam a proteção coletiva e individual; XIV – articular-se e colaborar com os setores responsáveis pelos recursos humanos, fornecendo-lhes resultados de levantamento técnicos de riscos das áreas e atividades para subsidiar a adoção de medidas de prevenção a nível de pessoal;

XV – informar os trabalhadores e o empregador sobre as atividades insalubres, perigosas e penosas existentes na empresa, seus riscos específicos, bem como as medidas e alternativas de eliminação ou neutralização dos mesmos;

XVI – avaliar as condições ambientais de trabalho e emitir parecer técnico que subsidie o planejamento e a organização do trabalho de forma segura para o trabalhador;

XVII – articular-se e colaborar com os órgãos e entidades ligados à prevenção de acidentes do trabalho, doenças profissionais e do trabalho; XVIII – participar de seminários, treinamentos, congressos e cursos visando ao intercâmbio e ao aperfeiçoamento profissional.

A leitura da Portaria 3.275/89 do Ministério do Trabalho nos faz ver que cabe ao Técnico de Segurança do Trabalho a responsabilidade por diversas demandas que se voltam, principalmente, para a segurança dos trabalhadores e do espaço no qual o trabalho é realizado. Dentre as atribuições que lhe são imputadas, encontram-se ações que se concretizam pelas práticas de leitura e de escrita realizadas como parte de suas atividades laborais. Além disso, para se apropriar desses saberes e para se habilitar para o trabalho, os Técnicos precisam fazer uma formação específica para atuar nesse âmbito.

Ao discorrer acerca da formação e da profissionalização docente, Tardif (2010, p. 247), argumenta que “[...] no mundo do trabalho, o que distingue as profissões das outras ocupações é, em grande parte, a natureza dos conhecimentos que estão em jogo”. Apoiamo-nos na assertiva de Tardif (2010) para defender que o métier dos Técnicos de Segurança do Trabalho se constitui por sua formação profissional, pelos conhecimentos que detêm a respeito do universo em que atuam e pelas especificidades da atividade profissional que realizam. Assim, o percurso formativo desses profissionais é de grande relevância para que eles se apropriem de saberes necessários para um exercício laboral exitoso.

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2.3 A CONSTRUÇÃO CIVIL COMO ESPAÇO LABORAL

A construção civil é considerada um dos principais setores industriais do Brasil devido à capacidade de gerar efeitos na produção, na renda e na ampliação das vagas de trabalho (CUNHA, 2012). Ademais, pelo nível de correlação que estabelece com outros setores produtivos, como o comércio de insumos e a indústria de produtos para esse campo, alavanca, de forma considerável, o desenvolvimento da economia no País. Tal setor gera empregos diretos e indiretos, estimula as vendas do comércio de materiais de construção, e também de outros setores que mobiliza, a fim de dar conta das necessidades dos empreendimentos assumidos.

Visando à promoção do bem-estar da sociedade por meio da edificação de imóveis para os mais diversos fins, a construção civil articula conhecimentos da área ambiental, a exemplo da preservação do meio e o aproveitamento dos recursos naturais, como posição do vento, iluminação natural e sombreamento, para pensar no conforto a ser proporcionado por obras de engenharia civil nos segmentos da infraestrutura e da edificação. Dentre os profissionais vinculados a essa esfera, podem-se destacar o Engenheiro Civil, o Arquiteto e Urbanista, o Perito em Engenharia e os operários – Mestres de obra, Pedreiros, Ajudantes ou Serventes, Armadores e Carpinteiros.

De acordo com matéria divulgada na Gazeta do Povo e baseada em dados do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Paraná (Crea/PR) e do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), constituem-se atividades desses profissionais a relação que está disposta no Quadro 1.

Quadro 1 – Atividades desenvolvidas por segmento profissional da construção civil.

PROFISSIONAL ATRIBUIÇÕES

Arquitetos Fazem o projeto arquitetônico, organizam o projeto executivo e aprovam as plantas junto aos órgãos da prefeitura. Além disso, fiscalizam a obra, junto com o engenheiro, para ver se a edificação está sendo executada conforme o planejado. Os arquitetos contribuem para a qualidade final da obra, provendo controle de desperdício de materiais, melhor aproveitamento do espaço construtivo e atendimento às necessidades e às normas de construção.

Engenheiros São envolvidos vários engenheiros na obra, dependendo do tamanho e da sua complexidade. O engenheiro civil completa a função do arquiteto e a ele cabe formalizar a pergunta “como fazer?”, para executar o que foi projetado pelo arquiteto. Ademais, é ele quem faz o projeto estrutural da obra que irá compor o projeto executivo. Além do estrutural, há outros

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projetos complementares, como o elétrico, o hidro sanitário e a prevenção de incêndios. Todos devem compor o projeto executivo, embora cada projeto peça um engenheiro especializado.

Mestres de obras São os intermediários entre o engenheiro e os funcionários. Conhecem todas as etapas da obra e conferem a execução de cada serviço. Há a opção de ter um mestre de obras para cada etapa, por exemplo, um mestre de obras com conhecimento em hidráulica e um para estrutura, mas o ideal é um único que tenha conhecimento em todos os segmentos.

Encarregados Trata-se de um mestre menos qualificado, mas que conhece as etapas da obra e coordena o serviço dos demais funcionários. Trabalha sob a coordenação do mestre de obras ou, na ausência deste, do engenheiro.

Pedreiros Aos pedreiros cabem os serviços de alvenaria, revestimento de paredes e de pisos e acabamento em geral.

Serventes Auxilia todos os profissionais da obra. Transporta materiais, prepara argamassa para revestimentos, limpa o canteiro.

Carpinteiro É responsável pelos andaimes e pelas formas estruturais para vigas e pilares. Em alguns casos, faz o telhado também.

Armadores É o ferreiro, isto é, o operário que corta, dobra e monta os ferros estruturais.

Eletricista Realiza a ligação elétrica para a construção, coloca os conduítes, passa a fiação e instala tomadas e interruptores. Encanador Instala os canos para a ligação de água e esgoto, coloca peças

sanitárias, pias, tanques e torneiras.

Fonte: Acervo da pesquisa (2018).

Esses profissionais atuam de forma conjunta para a execução de um projeto arquitetônico que pode ser simples, como a construção de uma residência unifamiliar, ou demasiadamente complexo, como um hospital, um shopping center ou um aeroporto. Para orientar esses profissionais acerca dos cuidados que devem tomar para evitar acidentes no exercício laboral2 e para garantir o respeito às normas de segurança na edificação da obra, faz-se necessária a prefaz-sença do Técnico de Segurança do Trabalho, em atendimento ao que orienta a NR 183.

2 O Art. 19 da Lei nº 8.213/19 define acidentes de trabalho como aqueles que acontecem durante a execução de trabalho a serviço de uma empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, perda ou redução da capacidade do operário.

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Conforme dados do Observatório de Saúde e de Segurança do Trabalho, divulgados pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicados entre o início do ano de 2017 e início de março de 2018, foram registradas 675.025 comunicações por acidentes de trabalho (CAT) e notificadas 2.351 mortes. Ainda de acordo com o ObservatórioDigital de Saúde e Segurança do Trabalho, entre os anos de 2012 e 2017, a Previdência Social gastou mais de R$ 26,2 bilhões com o pagamento de auxílios-doença, aposentadorias por invalidez, auxílios-acidente e pensões por morte de trabalhadores. Distribuindo esses dados por setor de atividade laboral, observa-se que a construção civil está entre os principais ramos laborais com alto número de CAT, conforme se vê no Quadro 2.

Quadro 2 – Distribuição de acidentes por setor de atividade laboral

SETOR NÚMERO DE CAT

Ramo hospitalar e de atenção à saúde 10%

Comércio varejista 3,5%

Administração pública 2,6%

Correios 2,5%

Construção civil 2,4%

Transporte rodoviário de cargas 2,4%

Fonte: Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho (2018).

Em conformidade com os dados do Observatório, dentre os profissionais com o maior número de CAT estão os que trabalham em linhas de produção: técnicos de enfermagem, faxineiros, serventes de obras e motoristas de caminhão. Os dados destacam que quem trabalha em contato com máquinas e equipamentos têm mais chances de se acidentar e de sofrer ferimentos mais graves. As despesas médico-hospitalares geradas durante a recuperação desses trabalhadores, as aposentadorias pagas por lesões irreversíveis que afastam permanentemente os trabalhadores das suas funções e as pensões por morte, findam por onerar o erário público, sendo esta mais uma sequela dos acidentes de trabalho.

A construção civil segue essas características e se apresenta como o quinto segmento laboral com maior número de registros de CAT. Isso porque, segundo os colaboradores da pesquisa, ocorrências consideradas de pequeno porte, como arranhões causados pelo atrito com estruturas férreas, cortes na pele por contato com equipamentos perfurocortantes ou em resíduos de vidros e de ferros, quedas de andares baixos ou de máquinas não são enviadas para registro. Nesses casos, o funcionário acidentado é levado ao pronto atendimento médico pelo Técnico, a medicação é fornecida pela empresa, que também envia mantimentos para a residência do funcionário, até que ele se recupere e retorne aos afazeres laborais. Logo, a

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ausência desses registros ou subnotificações alteram de forma significativa o lugar da indústria civil nessa classificação.

Os dados divulgados pela Delegacia Sindical RN do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho apontam que o Rio Grande do Norte registrou cerca de 3.700 casos de acidentes de trabalho em 2018. Ainda foram registradas 18 mortes em razão desses acidentes. Segundo o chefe da Seção de Inspeção do Trabalho do RN, Calisto Torres Neto, acidentes de trabalho “são decorrentes da falta de organização no trabalho, da concepção errada dos postos de trabalho e da pressão exercida sobre o indivíduo para o cumprimento de metas [...]”.

Ele também destaca que “onde ocorrem acidentes, impera o improviso, a falta de planejamento e com muita frequência o completo descaso com as medidas de segurança e de saúde nos ambientes de trabalho [...]”. Em 2018, a Inspeção do Trabalho do Rio Grande do Norte identificou 4.872 irregularidades em segurança e saúde nos postos de trabalho.

Pelo que foi apresentado, evidencia-se que a construção civil é, ainda, um campo de trabalho de alta periculosidade pelos riscos que oferece à vida e à saúde dos seus trabalhadores e dos empreendimentos que são edificados por eles. Daí a relevância da supervisão, da orientação e de intervenções por parte do Técnico de Segurança do Trabalho, ações evidentemente possibilitadas pelas práticas da leitura e da escrita, no intuito de preservar a integridade da saúde e da vida dos operários em serviço, bem como das pessoas que irão residir, trabalhar ou circular nesses empreendimentos.

Considerando a periculosidade que marca o contexto estudado, a ação laboral pautada nas práticas letradas do Técnico de Segurança assume grande relevância com o fim de garantir a integridade física e emocional dos trabalhadores em qualquer espaço de atuação, inclusive no âmbito da construção civil. Nessa direção, defendemos que uma formação que focalize as práticas de letramento na formação e na efetivação do trabalho como caminho para orientar, prevenir, cuidar do ambiente e das pessoas é fundamental para modificar o atual cenário no que se refere ao número de acidentes registrados no desenvolvimento desse tipo de trabalho.

2.4 DA FORMAÇÃO DOS TÉCNICOS DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Como em todo campo de atuação profissional, há de se ter um conjunto de saberes específicos para cada segmento profissional no Brasil. No caso dos Técnicos de Segurança do Trabalho, exige-se a formação em cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC).

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A fundamentação legal que rege o Curso Técnico de Segurança do Trabalho, regime modular, ampara-se nos seguintes dispositivos legais:

✓ Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9394/96 ✓ Decreto nº 5.154/2004

✓ Portaria nº 646/97

✓ Parecer CEB/CNE nº 16/99 ✓ Resolução CEB/CNE nº 04/99

✓ Diretrizes Curriculares Nacionais da Área de Saúde

Um levantamento realizado em diversos cursos oferecidos para a formação de Técnicos em Segurança do Trabalho oferecidos no País, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), o Serviço Social da Indústria (SESI) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), dentre outros, evidenciou que, em linhas gerais, todos eles seguem a mesma organização no que se refere à distribuição de conteúdos e de carga horária (cf. Ilustração 1). Apresentamos, nesta tese, a Matriz Curricular do Curso para Técnicos de Segurança proposto pelo SENAI de Boa Vista/RR por se tratar de um documento de domínio público e que se assemelha aos utilizados em outras instituições brasileiras.

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Ilustração 1 – Matriz Curricular do Curso para Técnicos de Segurança proposto pelo SENAI de Boa Vista/RR.

Fonte: Acervo da pesquisa (2018).

O curso oferecido na modalidade de ensino a distância (EaD) possui 1.200h, divididas em módulos nos quais são desenvolvidas atividades que contemplam conteúdos voltados, muito especificamente, para as questões de execução da atividade de prevenção de acidentes e de segurança dos trabalhadores e do ambiente de trabalho.

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Ilustração 2 – Itinerário formativo proposto pelo Plano de Curso para Técnicos de Segurança proposto pelo SENAI de Boa Vista/RR

Fonte: Acervo da pesquisa (2018).

Levando em conta a descrição das disciplinas oferecidas em cada módulo, observa-se que a cadeira do módulo básico voltada para a área de linguagem, denominada Comunicação

Oral e Escrita, possui apenas 60h. Segundo os colaboradores da pesquisa, essa disciplina

focaliza tão-somente os aspectos gramaticais da língua. Nesse sentido, deixa de contemplar orientações que instrumentalizem os Técnicos para realizarem a formação dos seus

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interlocutores, bem como orientações acerca do uso e da produção de gêneros de texto que são artefatos materiais importantes na condução dos fazeres do Técnico.

Os dados evidenciam que há uma fragilidade na formação para o uso da escrita e dos textos que acompanham as atividades laborais dos Técnicos, como o estudo da planta baixa, a apresentação do empreendimento para os trabalhadores que atuarão ali, a divulgação sobre os materiais de proteção individual e coletivo e como fazer a organização do espaço físico da obra, por exemplo.

2.5 INSERÇÃO NA LA, ABORDAGEM E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

Seguindo a tradição das pesquisas situadas no âmbito da LA, que trazem para o centro das discussões acadêmicas práticas de letramento emergentes nos mais diversos domínios sociais (igrejas, hospitais, família, locais de trabalho, dentre outros), esta tese discute práticas de letramento que se perfazem em situação laboral de Técnicos de Segurança do Trabalho no âmbito da construção civil, a partir de uma abordagem qualitativa. Essa perspectiva corrobora o que estabelece Rojo (2006, p. 59), ao defender que é papel dos trabalhos em LA “[...] contribuir para compreender, interpretar e interferir nas realidades complexas representadas pelas práticas sociais situadas”.

Tal viés de análise tem deixado aflorar o “caráter mestiço e transdisciplinar” da LA (MOITA LOPES, 2009, p. 100), buscando, com seus trabalhos, abastecer-se de conhecimentos e vivências de diversas áreas para abordar aspectos da linguagem nos inúmeros domínios. Sob esse enfoque, a LA traz para sua área de atuação o estudo de temas ainda sem vinculações com essa área do conhecimento, com o objetivo de destacar questões a serem discutidas e redimensionadas pelos indivíduos em seus respectivos espaços sociais.

De acordo com André e Lüdke (1986, p. 86), “a pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, geralmente, por meio do trabalho intensivo de campo”. Trabalhar nessa perspectiva implica a imersão do pesquisador no locus de atuação dos participantes, a fim de apreender elementos que estão imbricados no que eles realizam e, dessa forma, dar maior significado às práticas que são ali efetivadas. Isso se dá por buscar entender os usos de uma língua viva em situações reais de uso.

Assim sendo, ao voltarmos a nossa atenção para os processos em que se instituem as práticas de letramentos realizadas pelos Técnicos em Segurança do Trabalho, procuramos

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