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Foto 4 Assinaturas dos participantes de momento formativo realizado no canteiro

3.1 LETRAMENTOS: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS

Estudos longitudinais apontam que a escrita existe desde os primórdios da humanidade e tornou-se uma importante prática social7, necessária à realização de atividades das mais diversas naturezas com vistas ao atendimento de demandas cotidianas, tais como registrar a história, definir espaços sociais de atuação, dentre incontáveis outros usos. Desde então, a utilização dessa tecnologia foi sendo aprimorada e exigida cada vez mais, a fim de dar conta das variadas demandas impostas pela sociedade em cada tempo histórico.

Foi seguindo essa percepção que Vieira (2005, p. 13) elencou algumas funções sociais da escrita, como

[...] resolver nossas necessidades materiais, influenciar os outros, mudando seu comportamento ou crenças, estabelecer ou refletir relações com outras pessoas, revelar como percebemos a nós mesmos, expressando sentimentos, buscar novos conhecimentos, exercitar a imaginação, descrever e criticar situações ou ideias, divertir, estabelecer concordância ou expectativas,

rememorar o passado.

7 Tomamos, nesta tese, a concepção de práticas sociais como produções dos atores sociais em seus contextos de interação. Elas são constituídas de uma multiplicidade de fatores materiais, culturais, ideológicos e sociais, o que possibilita considerá-las como manifestações sociais e refletem a capacidade dos atores sociais de reproduzirem modelos historicamente construídos e/ou redimensioná- los (BOURDIEU, 1989; GIDDENS, 1984).

Sob essa ótica, é possível compreender a escrita como um artefato social utilizado para atender às exigências de cada tempo histórico, com suas peculiaridades políticas, econômicas, sociais e culturais. São as escritas que orientam práticas individuais e coletivas, organizam grupos em torno de necessidades específicas de cada âmbito de atuação, demarcam territórios, firmam acordos, apenas para citar algumas possibilidades de usos. Nesse sentido, são válidas as contribuições de Lewis (1993, p. 51) quando argumenta:

A língua não existe no vácuo. As pessoas a utilizam como meio para chegar a um fim, para alcançar seus propósitos [...]. Estes são os intermediários entre o usuário da língua e o mundo exterior. A língua nos permite expressar, e, portanto, lidar com muitas das nossas necessidades humanas. Nada poderia ilustrar melhor a natureza multidimensional da língua que o importante fato de que ela empodera seu usuário.

Conforme essa assertiva, a língua, mais especificamente, a língua escrita, além de servir aos propósitos humanos como interação social, constitui-se como ação social de empoderamento, visto que os indivíduos que dominam essa tecnologia têm maiores possibilidades de exercício da cidadania. Ao dominar o recurso da escrita, os cidadãos tornam-se a aptos a lutar por seus objetivos de formação e de trabalho, reivindicam direitos, sugerem o redimensionamento de políticas públicas de educação, saúde, segurança, enfim, exigem a plena cidadania.

Sobre essa discussão, Tinoco (2008, p. 100) assevera que

Tomar a língua como práxis social é considerar, portanto, os usos da língua(gem) em relação aos interlocutores, suas posições sociais, seus interesses e metas e as condições sócio-histórico-culturais que delimitam esses usos.

Por esse viés, depreende-se que a linguagem, em situações reais de uso, permite que as interações entre os diferentes indivíduos, tanto nas demandas pessoais quanto nas relativas ao campo do trabalho, sejam efetivadas e, como consequência disso, estabeleça uma ordem mínima de organização social e política. Ademais, as práticas de linguagem mediadas pela escrita se constituem como atividades agentivas, no sentido de que promovem mudanças de pontos de vista em relação ao que os indivíduos leem, escrevem, depreendem, e de atitudes que os seus usuários assumem a partir do contato que estabelecem com o texto.

Preocupados com as questões relacionadas à apropriação e aos usos da escrita, pesquisadores das áreas da educação e da linguagem se voltaram para as questões da alfabetização de crianças e de adultos (SOARES, 1995; FERREIRO, 1995), ao considerarem que esse tema era bastante emblemático. Isso se deu tanto em relação aos métodos utilizados no processo de ensino-aprendizagem do código escrito quanto devido aos altos índices de analfabetismo no Brasil, mostrados historicamente nos resultados das avaliações de larga escala, como Provinha Brasil e Prova Brasil, responsáveis por avaliar a compreensão leitora e de escritura de alunos do 2º e do 5º ano do Ensino Fundamental.

No que tange às discussões sobre o Letramento, estas têm origem, conforme Descardeci (1997), após a Segunda Guerra Mundial, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. Esse movimento foi impulsionado em razão de a população jovem e adulta não alcançar êxito nas demandas diárias de leitura e de escrita. Em virtude disso, pesquisas passaram a ser realizadas com o propósito de investigar os fatores que interferiam no desempenho desses alunos, sobretudo, no tocante ao fracasso referente à aquisição do código escrito.

A partir dos trabalhos realizados na África por Scribner e Cole (1981), baseados na psicologia sociocultural, essa perspectiva foi se modificando, na medida em que outras metodologias passaram a ser utilizadas na alfabetização de jovens e de adultos. Nesse contexto, surgem, quase que simultaneamente, em outros países, estudos antropológicos sobre a leitura e a escrita, como os de Street (1984), com a pesquisa realizada no Irã, e os de Heath (1983), com a investigação nos Estados Unidos perseguindo o mesmo objetivo: compreender e definir com maior clareza o que constituía o fenômeno do letramento.

No Brasil, as discussões acerca do letramento foram iniciadas na segunda metade da década de 1980 (KATO, 1986), e se confundiram, por algum tempo, com as questões relacionadas à apropriação da língua escrita. Por essa razão, o termo letramento foi utilizado como sinônimo de alfabetização durante um determinado período, por pesquisadores interessados no fenômeno, cujo grupo orientou a produção de livros didáticos, metodologias de ensino e a formação de professores.

Nas décadas seguintes, uma expressiva quantidade de estudos empíricos de vertente etnográfica se fez realizar no intuito de dar inteligibilidade acerca de questões relacionadas ao letramento que, para muitos pesquisadores da área (KLEIMAN, 1995; TFOUNI, 1995), alcançava vislumbre para além da codificação e decodificação do código escrito. Nesse movimento, surgiram diferentes tentativas de estabelecer fronteiras entre o que seria

alfabetização e letramento. Dentre as pesquisas que se debruçaram sobre essa temática, destacam-se as publicações de Tfoni (1995) e de Soares (1995).

Nessa procura por uma definição ou distinção entre os significados de alfabetização e de letramento, torna-se relevante a contribuição de Soares (1995; 2001, p. 31; 39), ao estabelecer que

alfabetizar é ensinar a ler e escrever, o que torna o indivíduo conhecedor do código escrito. [...] Alfabetização, por sua vez, constitui na ação de alfabetizar, enquanto que letramento é o estado ou condição obtido pelo grupo social ou sujeito como consequência de ter-se apropriado da escrita e das práticas sociais que a envolvem.

Buscando superar a dicotomia que se estabeleceu entre os conceitos de alfabetização e de letramento, Kleiman (1995, p. 19) avança em seus estudos e advoga que o termo letramento designa “[...] um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos”. Por essa perspectiva, o letramento não estaria relacionado apenas à aquisição e ao domínio da leitura e da escrita, mas aos seus múltiplos usos como prática social para atuar no mundo, inclusive na realização das práticas laborais.

Na contemporaneidade, agir por meio da leitura e da escrita tornou-se quase indispensável para a participação ativa dos indivíduos na sociedade e, por conseguinte, para a conquista de espaços socialmente privilegiados. Isto porque muitas demandas sociais, tais como se orientar geograficamente, localizar um endereço, pegar um ônibus urbano, preencher documentos como um requerimento para solicitar um reparo na rede elétrica, operar o caixa eletrônico do banco, por exemplo, exigem conhecimentos e domínio sobre a linguagem escrita.

Corroborando essa ideia, Coulmas (2014, p. 25) argumenta:

Como prática social, a escrita ocupa uma posição diferente nos recursos simbólicos das diferentes sociedades e é encarregada de funções diferentes relativas, de diversas maneiras, ao poder.

Com base nessa assertiva, depreende-se que à medida que o sujeito utiliza a leitura e a escrita de forma competente, maiores são as possibilidades que ele tem de ascender a lugares socialmente privilegiados, em que o domínio dessas competências incorpora um elemento essencial para a ação, seja escrever um endereço na agenda, seja um bilhete para um colega de

trabalho, produzir trabalhos científicos, solicitar um direito maculado, dentre outras possibilidades de uso.

Uma vez que os letramentos são concebidos como os usos sociais da leitura e da escrita, os olhares dos pesquisadores da área da linguagem se voltam para o modo como as práticas de letramento podem ser compreendidas nesse contexto, isto é, como atividades nas quais a escrita é utilizada como ação por meio da qual se efetivam os eventos de letramento, dado que se tratam de acontecimentos em que os usos da escrita são elementos cruciais.

Discorrendo sobre essa temática, Matencio (2009, p. 6) ressalta que “a contribuição determinante de estudos sobre o letramento resulta de assumirem que se lida, sempre, com práticas – no plural” e, nesse sentido, “procura flagrar e compreender as atividades de leitura e de escrita no âmbito das práticas sociais em que ocorrem”. Ou seja, os Letramentos devem ser tratados no plural em virtude da multiplicidade de usos em que a leitura e a escrita vigoram para dar conta das inumeráveis demandas e espaços que permeiam os letramentos e, ainda, que esses estudos possibilitam ouvir as vozes de grupos sociais como dos Técnicos de Segurança do Trabalho.

Sobre a questão da multiplicidade dos Letramentos, Street (1995) assevera que os Letramentos são múltiplos porque se realizam em diferentes situações comunicativas e por diferentes pessoas para atender a propósitos distintos. E, ainda, que novos Letramentos se realizam a cada momento e variam de um grupo social para outro, conforme as relações de poder e as condições socioculturais. Segundo os postulados de Street (1984), as práticas de letramento não podem ser isoladas do contexto político e ideológico em que ocorrem, uma vez que se trata de um produto social, envolve pessoas, interesses, possibilidades de uso, hierarquia dos participantes, domínio do código escrito, dentre outros aspectos implicados nessas práticas. Seguindo esse ponto de vista, o teórico previu a existência de dois modelos como visões de letramento: o autônomo e o ideológico.

Para Street (1984, p. 18), o modelo autônomo, em voga entre os anos 1950 e 1980 e que se tornou bastante popular entre sociólogos, antropólogos e psicólogos sociais, apresenta a escrita como uma “tecnologia do intelecto”, como um objeto abstrato, neutro e descontextualizado no que se refere ao tempo e ao espaço. Já o modelo ideológico, cunhado pelo citado autor por volta das décadas de 1980 e 90, compreende as práticas de leitura e de escrita constituídas dentro de um contexto específico, o que implica saber sobre o que, como, quando e por que ler e escrever, quer dizer, saber as condições imediatas de produção dos letramentos.

Em Street (2003, p. 9), o mesmo pesquisador retoma essa discussão e esclarece que esses modelos não são dicotômicos, uma vez que

[...] os modelos jamais foram propostos como opostos polares: em vez disso, o modelo ideológico de letramento envolve o modelo autônomo. A apresentação do letramento como sendo “autônomo” é apenas uma das estratégias ideológicas empregadas em associação ao trabalho no campo do letramento, que em realidade disfarça a maneira em que a abordagem supostamente neutra efetivamente privilegia as práticas de letramento de grupos específicos de pessoas. Nesse sentido, o modelo autônomo mostra-se profundamente ideológico. Ao mesmo tempo, o modelo ideológico consegue perceber as habilidades técnicas envolvidas, por exemplo, na decodificação, no reconhecimento das relações entre fonemas e grafemas e no engajamento nas estratégicas aos níveis de palavras, sentenças e de textos [...]. Entretanto, o modelo ideológico reconhece que essas habilidades técnicas estão sempre sendo empregadas em um contexto social e ideológico, que dá significado às próprias palavras, sentenças e textos com os quais o aprendiz se vê envolvido.

Por esse viés, as práticas de letramento efetivadas pelos Técnicos de Segurança do Trabalho se inserem no âmbito do modelo ideológico, uma vez que ideias, desejos, responsabilidades e agência estão implícitos nessas práticas. Ao exercer atividades que envolvem a escrita para a orientação do trabalho, são impressos posicionamentos axiológicos por parte dos profissionais engajados, uma vez que “[...] toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém”, como defendem Bakhtin e Volochinov (2006, p. 123). Nessa relação dialógica, são evidenciados posicionamentos, objetivos, responsividade e ressignificações na interação que se estabelece entre o leitor e o texto escrito.

Acompanhando essa ideia, Rojo (2009, p. 102) salienta que os novos estudos de letramento têm apontado para a variedade de usos sociais da leitura e da escrita e defende o “caráter sociocultural e situado das práticas de letramento”, haja vista que essas práticas se presentificam nas diversas esferas sociais, mediadas por eventos de letramento. Ou seja, tais práticas são levadas a efeito por grupos sociais diferentes para atender a propósitos que lhes são específicos em espaços diversos, a partir de demandas variadas e necessidades também específicas. Em resumo, todas as práticas de Letramento, desde as mais simples, como escrever um bilhete para um membro da família, até as mais complexas, como produzir um texto acadêmico, são práticas situadas dos pontos de vista social, histórico e cultural.

[...] as práticas de letramento são formas culturais de uso da leitura e da escrita que se realizam em eventos de letramento. Envolvem não apenas o que as pessoas fazer, mas o que elas pensam sobre o que fazem e os valores e ideologias que estão subjacentes a essas ações.

Conforme esse entendimento do autor, as práticas de letramento vão muito além da ação de escrever, já que envolvem o que as pessoas pensam sobre o que leem e escrevem, de maneira que estão muito mais ligadas às ações que são realizadas a partir do que se lê e se escreve como forma de agir no mundo.

Ao discutir acerca das práticas sociais, Oliveira (2008, p. 100) apresenta três características básicas que podem ser atribuídas às práticas:

a) são formas de produção da vida social, não apenas no sentido de que produzem um efeito econômico, mas no sentido que produzem também efeitos culturais e políticos;

b) são localizadas dentro de uma rede de relações com outras práticas, sendo que as relações externas determinam sua constituição interna; c) têm uma dimensão reflexiva, haja vista que as pessoas constantemente geram representações a respeito do que fazem.

Em consonância com essa premissa, as práticas sociais envolvem o que os sujeitos realizam e pensam sobre o que realizam – seja nas atividades rotineiras que abrangem todos os aspectos da vida, seja em atividades circunscritas nas instituições, inclusive as relacionadas ao trabalho. Devido seu alto poder de impacto social, tais práticas podem coexistir em favor da manutenção de um status quo ou em busca de transformações políticas e sociais que favoreçam o exercício da cidadania.

O conceito de eventos e práticas de letramento, de acordo com Heath (1983, p. 196), diz respeito a situações nas quais é possível observar a interação de pessoas em torno de peças escritas, sendo nesses momentos que os participantes atribuem sentido àquilo que eles realizam. Pode-se dizer que os eventos de letramento são ocasiões que, centradas em textos escritos, possibilitam diversas formas de interpretar os diferentes modos de ser e de estar no mundo.

Baseando-se na proposta de Van Leeuwen, Hamilton (2000) estabelece quatro elementos básicos a serem considerados nas abordagens dos eventos e práticas de letramento. De acordo com a pesquisadora, os eventos e as práticas letradas devem ser examinados a partir de aspectos fundamentais representados por elementos como participantes, ambientes, artefatos e atividades, conforme demonstra o quadro a seguir.

Quadro 3 – Elementos constitutivos de eventos e práticas de letramento Elementos visíveis nos

eventos de letramento

Constituintes não visíveis das práticas de letramento

Participantes: pessoas que

podem ser vistas interagindo com textos escritos.

Participantes ocultos: outras pessoas ou

grupos de pessoas envolvidas em relações sociais de produção, interpretação, circulação e, de modo particular, na regulação de textos escritos.

Ambientes: circunstâncias

físicas imediatas nas quais a interação ocorre.

O domínio de práticas dentro das quais o evento acontece, considerando seu sentido e propósito sociais.

Artefatos: ferramentas

materiais e acessórios envolvidos na interação (incluindo os textos).

Todos os outros recursos trazidos para a prática de letramento, incluindo valores não materiais, compreensões, modos de pensar, sentimentos, habilidades e conhecimentos.

Atividades: as ações realizadas

pelos participantes no evento de letramento.

Rotinas estruturadas e trajetos que

facilitam ou regulam ações; regras de apropriação e legibilidade; quem pode ou não se engajar em atividades particulares.

Fonte: Hamilton (2000, p. 17).

Adotando os construtos propostos por Hamilton (2000) para caracterizar os elementos que constituem as práticas de letramento investigadas neste estudo, depreendemos que

(a) os participantes compreendem aspectos biográficos relacionados aos sujeitos que desenvolvem as práticas de letramento em estudo8;

(b) o ambiente e o domínio dizem respeito às condições físicas e de natureza institucional em que as práticas de letramento são realizadas;

(c) os artefatos compreendem instrumentos de ordem material e conceitual ligados a textos escritos que são utilizados no desenvolvimento das atividades laborais dos Técnicos. Os de ordem material incluem, dentre outros instrumentos, os gêneros discursivos que orientam os seus fazeres laborais. Os artefatos conceituais abrangem as vivências e representações construídas pelos Técnicos de Segurança e seus

8 Assumimos, nesta tese, o termo participantes para os Técnicos e demais profissionais com os quais eles interagem por meio da escrita, conforme Hamilton (2000).

interlocutores, bem como o modo como esses sujeitos lidam com a leitura e com a escrita;

(d) as atividades, por sua vez, reúnem os procedimentos adotados na execução das práticas de leitura e de escrita.

Quando compreendemos letramento como uma prática social, torna-se mister destacar que os processos de estruturação social dependem da continuidade da aplicação de recursos materiais ou simbólicos para se realizarem. Ademais, essas práticas se perfazem sempre de forma situada, refletindo a diversidade social e cultural de determinados grupos, com o propósito de atender as suas necessidades comunicativas. Conforme afirma Street (2006, p. 466), “quaisquer que sejam as formas de leitura e escrita que aprendemos e usamos, elas são associadas a determinadas identidades e expectativas sociais”.

Essa percepção acerca do letramento aponta para a diversidade de práticas letradas que existem em diferentes sociedades, da mesma forma que são encontradas distintas competências de leitura e de escrita de sujeitos que pertencem a contextos sociais plurais, daí a defesa de que existem múltiplos letramentos (GEE, 2001).

No intuito de dar maior clareza ao letramento como prática social, Barton, Hamilton e Ivanic (2000) resumem e apresentam algumas características desse construto, tomando como base a perspectiva dos Novos Estudos do Letramento.

Quadro 4 – Letramento como prática social

• O letramento é mais bem compreendido como um conjunto das práticas sociais que podem ser inferidas de eventos mediados por textos escritos.

• Existem diferentes letramentos associados a diferentes domínios da vida.

• Práticas de letramento são modeladas por instituições sociais e por relações de poder e alguns letramentos são mais dominantes, visíveis e influentes que outros.

• O letramento é historicamente situado.

• As práticas de letramento mudam e novas práticas são frequentemente adquiridas através de processos de aprendizagem informal e estabelecimento de sentido.

• As formas pelas quais as pessoas usam e dão valor à leitura e à escrita são, elas próprias, enraizadas nas concepções de identidade, conformidade e ser.

Como é possível observar, as proposições apresentadas ratificam o conceito de letramento como conjunto de atividades sociais relacionadas a situações concretas de usos da leitura e da escrita. Essas práticas assumem espaço importante na vida das pessoas, orientando-as e situando-as em relação aos aspectos da vida cotidiana.