• Nenhum resultado encontrado

O PET-Saúde no semiárido baiano: uma experiência transformadora no ensinar “fazendo saúde”

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O PET-Saúde no semiárido baiano: uma experiência transformadora no ensinar “fazendo saúde”"

Copied!
234
0
0

Texto

(1)

O PET-SAÚDE

NO SEMIÁRIDO

BAIANO

uma experiência transformadora

no ensinar “fazendo saúde”

NÍLIA MARIA DE BRITO LIMA PRADO EDI CRISTINA MANFROI

ELVIRA CAIRES DE LIMA

(2)

O PET-SAÚDE

NO SEMIÁRIDO

BAIANO

uma experiência transformadora

(3)

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA reitor

João Carlos Salles Pires da Silva vice-reitor

Paulo Cesar Miguez de Oliveira assessor do reitor

Paulo Costa Lima

EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA diretora

Flávia Goulart Mota Garcia Rosa conselho editorial

Alberto Brum Novaes Angelo Szaniecki Perret Serpa Caiuby Alves da Costa Charbel Niño El Hani Cleise Furtado Mendes Evelina de Carvalho Sá Hoisel José Teixeira Cavalcante Filho Maria Vidal de Negreiros Camargo Maria do Carmo Soares de Freitas

(4)

O PET-SAÚDE

NO SEMIÁRIDO

BAIANO

uma experiência transformadora

no ensinar “fazendo saúde”

NÍLIA MARIA DE BRITO LIMA PRADO EDI CRISTINA MANFROI

ELVIRA CAIRES DE LIMA Organizadoras

SALVADOR EDUFBA 2017

(5)

2017, Autores

Direitos dessa edição cedidos à Edufba. Feito o Depósito Legal

Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.

capa, ilustraçãoeprojetográfico Gabriel Cayres

revisão

Juliana Lopes Roeder normalização Equipe EDUFBA

sistemadebibliotecas – ufba

Editora afiliada à

Editora da UFBA Rua Barão de Jeremoabo s/n – Campus de Ondina 40170-115 – Salvador – Bahia Tel.: +55 71 3283-6164 Fax: +55 71 3283-6160 www.edufba.ufba.br edufba@ufba.br

P477 O PET-Saúde no semiárido baiano : uma experiência transformadora no ensinar “fazendo saúde” / Nília Maria de Brito Lima Prado; Edi Cristina Manfroi; Elvira Caires de Lima, organizadoras.- Salvador: EDUFBA,

2017.-231 p.

ISBN: 978-85-232-1649-8

1. Profissional em Saúde (Bahia). 2. Mercado de trabalho. 3. Educação para o trabalho. 3. Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET). I. Prado, Nília Maria de Brito Lima. II. Manfroi, Edi Cristina. III. Lima, Elvira Caires de.

(6)

SUMÁRIO

PREFÁCIO 9

Sobre a ousadia da construção coletiva de novas práticas de educação na saúde liliana santos

Apresentando um pouco da nossa história... 15

nília maria de brito lima prado, edi cristina manfroi, elvira caires de lima

DIMENSÃO TEÓRICA: HORIZONTES E PROPOSIÇÕES CAPÍTULO I

Pró-Saúde e PET-Saúde em Vitória da Conquista:

avanços e desafios do modelo de formação 21

elvira caires de lima, josé patrício bispo júnior

CAPÍTULO II

Itinerários transformadores no semiárido baiano:

o PET-Saúde e as mudanças na práxis 35

nília maria de brito lima prado, poliana cardoso martins

CAPÍTULO III

Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) – Redes de

Atenção à Saúde (RAS): tecendo fios e construindo as redes de cuidado no SUS 51 adriano maia dos santos, aline benevides sá feres, ana paula steffens,

helca franciolli teixeira reis, maria paula carvalho leitão

CAPÍTULO IV

Contribuições do PET-Saúde para os serviços de saúde 67 michela macedo lima costa, karine brito matos santos, rodrigo santos damascena

CAPÍTULO V

Reorientando a formação em saúde: uma experiência

exitosa no semiárido baiano sob o olhar discente 75 paulo souza monteiro, etna kaliane pereira da silva, gabriela dos santos vilasboas

(7)

DIMENSÃO PRÁTICA: TERRITÓRIOS E AÇÕES CAPÍTULO VI

Cuidado integral em um grupo hiperdia: visão holística

e interdisciplinar na formação em saúde 85

edi cristina manfroi, arlinda gomes almeida , fernanda vilas boas ruas araújo, islane silva nascimento, ismar gobira, marcos dourado

CAPÍTULO VII

Loucos por cinema: saúde mental em unidade de saúde da família 95 ialane monique vieira dos santos, patrícia baier krepsky,

maria de lourdes freitas fontes

CAPÍTULO VIII

A ‘Ludicidade em Saúde’ no combate ao tabagismo: relato de experiência de um grupo tutorial interdisciplinar

do Programa PET Saúde em Vitória da Conquista – BA 105 rodrigo santos damascena, maria de lourdes freitas fontes,

nília maria de brito lima prado

CAPÍTULO IX

A experiência do PET-Saúde Pradoso em uma proposta

de promoção da saúde de adolescentes rurais 117

alexsandra souza, camila dos santos chaves, danielle souto de medeiros, rebeca silva dos santos

CAPÍTULO X

O “olhar” multidisciplinar re(conhecendo) possibilidades

e necessidades do território: contribuições para a formação em Saúde 127 nília maria de brito lima prado, etna kaliane da silva, rebeca pinheiro aguilar, amanda avelar lima, hellen dayane dos santos marinho, jéssika mendes reis

CAPÍTULO XI

A experiência do PET-Vigilância em Saúde e a Proposta de Educação Permanente em Saúde como estratégia de melhoria da informação e redução da mortalidade infantil

no município de Vitória da Conquista – BA. 143

josé andrade louzado, mônica viera silva achy, arina ariadne freire carvalho, eric santos almeida, jéssica nunes moreno, patrícia serra dos reis rios, yanna andrade ferraz

CAPÍTULO XII

O PET-Vigilância em Saúde na construção do Plano

Municipal de Saúde: um relato de experiência 153

josé andrade louzado, michela macedo lima costa, bruna luisa de sousa pereira, débora freire coutinho, carolina oliveira dos santos lima, hive santos dias,

(8)

CAPÍTULO XIII

Natureza e cultura em saúde mental 163

patrícia baier krepsky, bárbara emanuely de brito guimarães, péricles norberto matos, tamyla farias andrade

CAPÍTULO XIV

Hábitos saudáveis: intervenção multidisciplinar em um grupo de mulheres 177 edi cristina manfroi, rebeca pinheiro aguilar, amanda avelar lima,

etna kaliane pereira da silva, hellen dayane dos santos marinho, jéssika mendes reis

CAPÍTULO XV

A experiência do PET-Redes: é possível vislumbrar um processo

de mudança no sistema de saúde? 185

maria paula carvalho leitão, amanda gomes barros, amanda taiza de araújo, jamille áurea batista, marianne oliveira gonçalves, raíssa amaral oliveira

CAPÍTULO XVI

Conhecimento popular e científico sobre plantas medicinas:

diálogos no contexto da extensão universitária 203

patrícia baier krepsky, maura neves coutinho

PARÓDIAS – GRUPO PET 221

POSFÁCIO

Considerações finais: avanços, limitações e desafios no fazer

profissional em saúde no sistema local 225

(9)
(10)

9

SOBRE A OUSADIA DA CONSTRUÇÃO COLETIVA

DE NOVAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO NA SAÚDE

LILIANA SANTOS

A leitura do livro O PET-Saúde no semiárido baiano: uma experiência transforma-dora no ensinar “fazendo saúde” me possibilitou uma imersão em uma experiên-cia educativa com um potenexperiên-cial nitidamente transformador, tanto para os estu-dantes e docentes, quanto para profissionais da saúde e cidadãos que usufruem dos serviços relacionados com a experiência em questão. Duas universidades envolvidas com uma gestão historicamente comprometida com a Reforma Sa-nitária Brasileira e com as necessidades de saúde da população se articulam de forma singular, e, dessa parceria, nasce este livro.

A riqueza de cenários possibilitou a produção de vínculos entre estudan-tes, docenestudan-tes, profissionais de saúde, cidadãs e cidadãos os quais vivenciam o cotidiano das unidades e serviços de saúde da região, em realidades que transi-tam entre a Atenção Básica, o conjunto das vigilâncias, a atenção psicossocial e questões como a violência, a promoção da saúde, agravos relacionados ao novo perfil epidemiológico da população brasileira, como câncer e as doenças crôni-cas. O aprendizado das Redes de Atenção à Saúde (RAS) também foi potencia-lizado pela experiência do PET Redes, que integrou à formação o componente da gestão regional e a articulação entre a produção do cuidado e a organização de sistemas locais e regionais de maneira singular.

(11)

10 sobreaousadiadaconstruçãocoletivadenovaspráticasdeeducaçãonasaúde

O exercício relatado neste livro nos permite pensar e exercitar a formação pro-fissional com um olhar inquieto e transformador, como sabiamente os autores re-latam. Foi possível articular correntes teóricas e o diálogo com o Sistema de Saúde enquanto espaço de produção de cuidado e cenário de práticas acadêmicas, além de catalisar mudanças curriculares que se fizeram necessárias diante da análise conjunta dos projetos pedagógicos dos cursos que se envolveram na experiência.

A leitura traz à tona a questão da formação de profissionais da saúde em uma perspectiva inovadora, ou, parafraseando Santos (2005): uma formação com memória de inovação. Essa formação se orienta pelos princípios da mul-tidimensionalidade, da flexibilidade e da democracia. Agrega-se, ainda, a no-ção de transdisciplinaridade, desenvolvida por Almeida Filho (1997; 2000), que possibilita o avanço epistemológico em relação aos desafios apontados para a formação profissional em saúde.

A multidimensionalidade indica que a formação não pode e não deve cen-trar-se apenas no desenvolvimento de capacidades técnicas e científicas, mas também nas dimensões humanas, éticas, filosóficas, sociais, emocionais e polí-ticas. Atividades do âmbito das humanidades podem ser desenvolvidas na pers-pectiva de experiências culturais, com o valor de atividade acadêmica, o que Santos (1995) chama de “curricula informais”. Além de atividades de extensão universitária e pesquisa, oferecendo aos estudantes um conjunto de aprendiza-dos os quais transcendem o fazer específico de determinado exercício profissio-nal futuro, a vivência de distintos cenários e práticas de saúde, a busca de solu-ções para problemas concretos da população e do sistema de saúde criou uma miríade de possibilidades para a formação das pessoas envolvidas na experiên-cia contada neste livro. Distintas dimensões são abordadas por distintos olha-res, o que coloca o leitor quase em contato direto com cheiros, gostos, o calor do sol e o vento noturno do sudoeste baiano, certamente, lembranças que marcam a formação de protagonistas e leitores.

A flexibilidade permite aos estudantes fazerem opções sobre suas trajetó-rias de formação, tomando decisões que ampliem seu processo formativo para além daquilo que é proposto pela instituição formadora. Cada memória relata-da se traduz em um caminho possível: experiência vivirelata-da e compartilharelata-da nos encontros de síntese e pesquisa torna vivos e reflexivos os processos formativos.

A democracia nos processos educativos se apresenta, de acordo com San-tos (2005), nas perspectivas interna e externa. Por democracia externa, o autor compreende “o vínculo político e orgânico entre a universidade e a sociedade”

(12)

lilianasantos 11

(p. 100), demarcando certa abertura institucional na perspectiva da responsa-bilização social da universidade. Questões como a relação desta última com o mercado de trabalho e com as demandas desse mercado em relação à produção de mão de obra também estão em jogo quando se fala de democracia externa. Nesse sentido, os diálogos e negociações estabelecidos entre as duas institui-ções de ensino as quais protagonizaram a experiência relatada junto à Secreta-ria Municipal de Saúde de VitóSecreta-ria da Conquista e com a população possibilita-ram o exercício da democracia no processo educativo, no qual distintos saberes têm valor equivalente e a troca/negociação desses saberes vai definindo pau-latinamente os destinos do projeto coletivo, o que Santos (2005) compreende como ecologia dos saberes: saber científico e saber popular dialogam na produ-ção de outros saberes.

Do conjunto de indicadores que compõem a ideia de uma formação com memória da inovação, pode-se retomar a noção de transdisciplinaridade pro-posta por Almeida Filho (1997; 2000). O foco de reflexão é deslocado dos cam-pos de conhecimento – típico de algumas versões teóricas as quais buscam con-ceituar interdisciplinaridade – para os representantes dos campos; ou seja, os primeiros, em circunstâncias muito restritas, são capazes de, ao se articula-rem, produzir um novo campo de conhecimento. Os axiomas e as concepções de cada campo de conhecimento e, consequentemente, as perspectivas teóricas daí decorrentes fazem parte do núcleo que, por definição, diferencia um campo de conhecimento do outro. Esses campos se articulam em torno da produção de um novo conhecimento, conectado a um problema que demanda certa com-plexidade de análise e solução, a exemplo de uma necessidade de saúde. Dessa forma, busca-se responder às necessidades demandadas ao trabalho na saúde, criando novas formas de produzir ciência e o próprio trabalho.

Em outra abordagem, é importante registrar que a área de Saúde traz pe-culiaridades e especificidades as quais se acrescentam ao debate a respeito da integração possível entre o mundo da universidade e o mundo do trabalho. Para Santos (1995), as atividades obrigatórias dos currículos devem “privilegiar a in-tervenção social, humanística, artística e literária” (p. 227), além de possibilitar aos estudantes o protagonismo nas cenas educativas, substituindo-se as formas de avaliação tradicional pela avaliação do aproveitamento social e artístico dos conhecimentos. Para pensar-se a formação dos profissionais de saúde, torna-se necessário considerar o diálogo entre as políticas das áreas de Saúde e de Edu-cação, tornando o cotidiano das escolas uma articulação permanente com os

(13)

12 sobreaousadiadaconstruçãocoletivadenovaspráticasdeeducaçãonasaúde

serviços e sistemas de saúde, bem como com a comunidade em geral. Assim, a discussão sobre o trabalho em saúde e a organização dos processos de trabalho referida anteriormente contribui para a análise do grau de relação entre o pro-cesso educativo em questão e o mundo do trabalho na saúde, ou seja, suas prá-ticas, saberes e fazeres.

Nesse sentido, Ceccim e Ferla (2008, p. 449) ressaltam a importância da re-lação educação-saúde-cidadania no cotidiano do ensino das profissões da saú-de, demarcando, inclusive, que, a partir deste imbricamento, surge o próprio movimento da Reforma Sanitária Brasileira. Os autores destacam que a forma-ção tradicional de profissionais de saúde distancia a clínica da política e frag-menta os atos de cuidado e de gestão. Defendem que se torna necessário que os educadores abandonem a segurança do modelo pedagógico tradicional e “assu-mam posturas criativas de construção do conhecimento, tendo como referência as necessidades dos usuários, que são extremamente dinâmicas, social e histo-ricamente construídas”.

Outro diálogo importante é o da intersetorialidade, especialmente quan-do nos referimos às políticas públicas e à relação da Saúde Coletiva com o co-tidiano dos serviços de Saúde. Como a universidade dialoga com os diversos setores da sociedade? Como se insere no cotidiano? Que tipo de conhecimen-to vem produzindo? Como, de faconhecimen-to, escuta e valoriza outros saberes? Como a prática acadêmico-científica instaurada historicamente nas universidades tem se configurado?

Esses desafios permeiam a discussão apresentada e suscitam alguns cami-nhos, no sentido de avançar na produção de conhecimento e, principalmente, na reorientação das funções e práticas no interior dos espaços acadêmicos e dos serviços.

Cabe ressaltar que a mudança de referencial e de práticas em saúde não acon-tece de forma repentina, nem exclusivamente por determinação institucional ou legal; é resultado de constantes discussões e experimentações de coletivos os quais refletem cotidianamente suas práticas, para além das transformações le-gais. Não basta a oferta de disciplinas isoladas, ou campos de estágio que ofere-çam pequenas incursões pelo cotidiano social, ou, ainda, uma pretensa neutrali-dade científica a qual mascara históricas dificulneutrali-dades de interação entre o campo científico e o conjunto das relações sociais. É preciso pensar uma formação in-tegral e que dê conta de estabelecer conexões entre a produção de conhecimen-to, a prática profissional e a transformação das condições de vida das pessoas,

(14)

lilianasantos 13

levando em consideração que os sujeitos do processo de ensino-aprendizagem são também os estudantes que, em conexão e diálogo com distintos universos e formas de produzir conhecimento, assumem uma função de protagonismo.

A formação dos profissionais da área de Saúde está tradicionalmente dire-cionada para as ações de controle de doenças, cura e reabilitação, enquanto a vida busca outras coisas. Como, então, pensar uma formação que cuide sem controlar? E que organize sem impor? Que ofereça sem restringir? Enfim, que seja generosa o suficiente para acolher a própria contradição da vida humana? Talvez a compreensão da complexidade do ser humano auxilie na produção de outra ciência, que abrigue em si respostas às necessidades humanas e permita uma validade também ética e estética.

A despeito da própria constituição da Saúde Coletiva brasileira e da defi-nição constitucional da saúde como um direito, o ensino das profissões da área de Saúde continua reproduzindo os modos hegemônicos de se fazer saúde, tal como mantendo ordens e processos que, longe de contribuir para a melhoria das condições de vida da população, perpetuam lógicas de desigualdade e exclu-são. A experiência relatada neste livro aponta caminhos e possibilidades para a superação desse modelo e para a construção cotidiana, viva e entusiasmada de um novo desenho de universidade, em que a integração e o aprendizado coletivo e cotidiano são constantes.

Sou grata pela leitura privilegiada e em primeira mão, e desejo que a expe-riência permaneça nos corações e práticas de quem viveu e no aprendizado de quem, como eu, teve o privilégio de ler.

Que a luta cotidiana seja permeada de sonho e alegria! Boa leitura!

REFERÊNCIAS

ALMEIDA FILHO, N. Transdisciplinaridade em Saúde Coletiva: formação ou subversão (ou um barato?). Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1-2, 1997.

ALMEIDA FILHO, N. Intersetorialidade, transdisciplinaridade e saúde coletiva: atualizando um debate em aberto. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 34, n. 6, nov./dez. 2000.

ALMEIDA FILHO, N. Universidade nova: textos críticos e esperançosos. Brasília: UnB, 2007.

(15)

14 sobreaousadiadaconstruçãocoletivadenovaspráticasdeeducaçãonasaúde

CECCIM, R. B.; FERLA, A. A. Educação e saúde: ensino e cidadania como travessia de fronteiras. Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 6, n. 3, 2008.

SANTOS, B. S. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1995.

SANTOS, B. S. A universidade no século XXI. São Paulo: Cortez, 2005.

SANTOS, L. Educação e trabalho na saúde coletiva brasileira: estudo de caso sobre a criação dos cursos de Graduação na área de Saúde Coletiva nos cenários nacional e local. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA). Salvador, 2014.

(16)

15

APRESENTANDO UM POUCO

DA NOSSA HISTÓRIA...

“Aqui vos venho falar de uma terra distante, difícil de encontrar. Um povo acolhedor com carinho e muito amor para dar e emprestar. É uma gente diferente, de vários setores carentes, mas muito de se admirar... ‘apôis’ Que não é fácil a ‘lida’, ainda há quem não tenha água e comida e assim a delatar. O trabalho é puxado, sol a sol, no capinado e pouco tempo para se cuidar. Apesar de pequena, só para exemplificar, já veio roubar os problemas da nossa ‘capitá’. Mas o cuidado com devoção usa a fé e a tradição e o saber popular. A gente ensina e aprende, conhecimento é para compartilhar.” (Yuri Dias da Silva, ex-aluno UFBA/IMS, ex-petiano e enfermeiro).

Foi na região sudoeste do estado da Bahia, no sertão, no semiárido, que tudo começou... Um município que se destacou no cenário nacional, pela inovação e avanços nos serviços de saúde desde o final da década de 1990, devido à expan-são dos serviços da Atenção Primária a Saúde (APS) como eixo estruturante de um novo modelo de atenção. Com a implantação, em 2006, de um campus avan-çado da Universidade Federal da Bahia – o Instituto Multidisciplinar em Saúde, Campus Anísio Teixeira (IMS/UFBA) – somado às ações já desenvolvidas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), o município de Vitória da Conquista tornou-se um polo de educação e referência no setor saúde para todo o interior da Bahia.

Desse modo, não poderia ser diferente seu envolvimento na proposta de mudanças no modelo de formação em Saúde e de (re)significação das práticas profissionais sustentadas pelo ideal da integralidade da atenção e da longitudi-nalidade do cuidado. Assim, estabelecida a parceria entre as Instituições de En-sino Superior (IES) e a Secretaria Municipal de Saúde, deu-se início, em 2008,

(17)

16 niliamariadebritolimaprado, edicristinamanfroi, elviracairesdelima

o processo de mudança do modelo de formação em saúde vigente e de qualifica-ção dos profissionais da rede Sistema Único de Saúde (SUS) municipal.

Será relatada neste livro a experiência exitosa do Pró-Saúde e do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), vivenciada por atores so-ciais locais que estão em constante construção.

As vivências aqui apresentadas buscaram a consolidação da integração ensi-no-serviço-comunidade, de modo a favorecer a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, os pilares das IES. Nessa perspectiva, o caminho percor-rido pelas histórias aqui contadas se propôs a reorientar o processo de forma-ção dos futuros profissionais de saúde, de modo a responder as necessidades de saúde loco-regionais, bem como potencializar os processos de educação perma-nentes dos profissionais da rede SUS e ampliar a duração da prática educacio-nal na rede pública de serviços básicos de saúde, tripé que rege os princípios da proposta do Pró-Saúde.

A inserção de discentes dos cursos de graduação em Saúde nos serviços da APS e em outros níveis do sistema local de saúde, orientados por preceptores que se constituíam de profissionais da rede SUS do município e por tutores do-centes das IES, impulsionou o estabelecimento da relação de rede entre os ser-viços, além de permitir aos estudantes a compreensão da lógica da universali-zação, descentraliuniversali-zação, hierarquiuniversali-zação, integralidade, continuidade dos cuida-dos e responsabilização.

Durante a execução das propostas do PET, também foram desenvolvidas pesquisas conduzidas pelos docentes das IES em parceria com os profissionais da rede de serviços e discentes.

O grande diferencial dessa proposta é fomentar pesquisas e produção de novos saberes em uma lógica a qual rompe com o modelo científico tradicional positivista. Um novo modo de fazer ciência que valoriza a realidade e necessida-des de saúde da população local. Desse modo, as pesquisas necessida-desenvolvidas pro-duziram novos conhecimentos a partir da APS e em outras áreas estratégicas, de acordo com as necessidades em saúde regional.

O objetivo deste livro é proporcionar um registro da experiência do Pró--Saúde e PET no município de Vitória da Conquista e estimular as discussões sobre a formação em saúde.

O Pró-Saúde e PET são instrumentos para a consolidação das mudanças atuais no processo formativo para os cursos, permitindo a formação focada em dimensões históricas, econômicas, sociais e culturais da população.

(18)

apresentandoumpoucodanossahistória... 17

Durante as vivências, foi possível desenvolver habilidades com os docen-tes, profissionais de saúde e discentes para conduzir atividades com a comu-nidade que potencializaram práticas de promoção da saúde. Os discentes ti-veram a oportunidade de, durante o seu processo de formação, vivenciar a realidade dos serviços de saúde adequando sua prática para atender as neces-sidades da comunidade.

As relações de parcerias estabelecidas entre as IES, os serviços, a gestão e a sociedade possibilitaram o desenvolvimento de novas formas de interven-ção, incorporação de novas tecnologias e desenvolvimento de indicadores para o monitoramento da resolubilidade da atenção, fazendo com que esses atores atuem como corresponsáveis pela consolidação do SUS.

Outro avanço foi a expansão das universidades para além dos seus muros, extrapolando os limites dos laboratórios e salas de aula, fortalecendo e valori-zando as atividades de extensão. No sentido inverso, o acolhimento da socieda-de socieda-dentro do espaço da universidasocieda-de com a participação da comunidasocieda-de externa à mesma em atividades como seminários, sessões comentadas de cinema e fei-ras expositivas estimulou a aproximação do cidadão a um novo espaço coletivo de divulgação de novos conhecimentos.

Dessa forma, as histórias aqui reunidas foram escritas por discentes, do-centes, profissionais da saúde, gestores da saúde, conselheiros municipais, a fim de “dar vida” as “experimentações coletivas” vivenciadas na articulação entre a academia, os serviços e a comunidade.

Este livro foi dividido em duas partes.

Na primeira parte, denominada “Dimensão teórica: horizontes e proposi-ções”, relata-se, em cinco capítulos, a história do Pró-Saúde e PET no municí-pio de Vitória da Conquista, discutindo a dimensão ideológica desta desafia-dora proposta de tentar contribuir com a consolidação de uma atenção à saúde contínua e integral, tendo os serviços de APS como coordenadores dessa rede. Ainda nessa parte do livro, são apresentadas as contribuições do PET para o fortalecimento do SUS municipal e o “olhar discente” sobre essa nova forma de “aprender fazendo”, a qual permeabiliza novos formatos de relações pedagógi-cas entre o professor e o aluno em busca de uma lógica do aprender e ensinar, comprometida com os aspectos sociais.

Na segunda parte do livro, intitulada “Dimensão prática: territórios e ações”, são revelados os relatos de experiências vivenciados e conduzidos pe-los grupos tutoriais do PET. Nela, expõe-se a condução de trabalhos educativos

(19)

18 niliamariadebritolimaprado, edicristinamanfroi, elviracairesdelima

realizados com grupos específicos: experiências inovadoras de fazer educação em saúde que extrapolam o formato de palestras e salas de espera. São apresen-tados, também, os desafios de se trabalhar em um território de saúde na lógica da Estratégia Saúde da Família (ESF), as especificidades em saúde nas áreas ru-rais e a diversidade desse público, a fitoterapia e o saber popular tradicional e o olhar do cinema no desenvolvimento de discussões temáticas inerentes à saúde mental, a redes de atenção à saúde. Além disso, relata-se a inovação de incorpo-rar discentes em atividades de planejamento, avaliação e monitoramento con-duzidas em parceria com a gestão municipal de saúde.

Assim, busca-se, no decorrer dos capítulos, apresentar as propostas e ações desenvolvidas no sistema local em atividades de vivência e pesquisa nos cená-rios de prática, refletir os seus impactos na formação discente, a qualificação do profissional de saúde no seu cotidiano, a ressignificação do papel do tutor/pro-fessor e o despertar para a necessidade de mudanças curriculares e pedagógicas nos cursos de graduação das IES.

Esperamos que a leitura deste livro desperte no leitor a motivação em ten-tar fazer diferente, em reconstruir sua história enquanto profissional, em es-tabelecer um novo modelo de ensino, com novas relações pedagógicas entre o professor e o aluno, em desejar e trabalhar para ser um profissional o qual faz a diferença e acredita que, apesar da luta árdua e contínua, trabalhando em cole-tividade, é possível fazer acontecer um SUS que dá certo... Como nas histórias aqui contadas.

A comissão organizadora, Nília Maria de Brito Lima Prado Edi Cristina Manfroi

(20)

DIMENSÃO TEÓRICA

(21)
(22)

21

ELVIRA CAIRES DE LIMA, JOSÉ PATRÍCIO BISPO JÚNIOR

Seria impossível pensar a existência de sistemas de saúde sem a presença dos profissionais da saúde. Ainda que as práticas sanitárias envolvam um conjunto elevado de recursos e insumos – a exemplo de equipamentos, aparelhos diagnós-ticos, medicamentos e outros –, estes ocupam sempre lugar secundário frente à primazia da conduta dos profissionais. Existe uma assertiva bastante difundida entre trabalhadores e gestores do setor que aponta: não se faz saúde sem gente. Tal expressão ilustra de maneira clara e direta que o principal recurso e instru-mento do fazer em saúde são os trabalhadores.

Conforme destacam Campos e colaboradores (2008), o trabalho em saú-de se baseia, necessariamente, no elemento humano, ou seja, na capacidasaú-de saú-de escutar, refletir, agir e ter a sensibilidade para entender a dinamicidade e com-plexidade dos determinantes do processo saúde-doença-cuidado. Frente a esse contexto, a formação dos profissionais de saúde apresenta-se como de essen-cial importância para o desenvolvimento e manutenção de um sistema público de saúde. É durante o período de formação que o futuro profissional adquirirá habilidades e conhecimentos básicos os quais o acompanharão durante toda a vida, embora esse saber não possa, de forma alguma, ser considerado comple-to e acabado. Espera-se também que, nesse período, além das especificidades e

PRÓ-SAÚDE E PET-SAÚDE

EM VITÓRIA DA CONQUISTA

avanços e desafios do modelo de formação

(23)

22 elviracairesdelima, josépatríciobispojúnior

domínios técnicos de cada profissão, o estudante possa compreender os propó-sitos e a dinâmica do sistema de saúde, e, sobretudo, desenvolver atitudes e va-lores ético-sociais inerentes às profissões de saúde.

Assim, como afirma Bispo Júnior (2009), a formação dos profissionais de saú-de saú-deve estar em sintonia com a realidasaú-de dos mosaú-delos saú-de atenção à saúsaú-de, com o perfil epidemiológico da população e ocorrer articulada com os profissionais dos serviços e em diálogo com as comunidades. Entretanto, isso não ocorre de manei-ra automática. Não manei-raro, as instituições de ensino em saúde ainda reproduzem um modelo de formação baseado na realidade de décadas passadas e, portanto, des-contextualizado das necessidades e desafios contemporâneos. Por exemplo, a rea-lidade dos novos problemas de saúde é radicalmente diferente dos agravos preva-lentes há 30 ou 40 anos. Hoje, as doenças crônicas não transmissíveis exigem abor-dagens e intervenções diferentes das doenças infecciosas e parasitárias. O foco da intervenção em saúde não se restringe mais à abordagem curativa, medicamentosa e focada no ambiente hospitalar. Para as doenças da modernidade não se busca a cura, mas, sobretudo, o cuidado contínuo, o que demanda uma lógica diferente de organização da atenção à saúde e das abordagens dos profissionais.

Era de se esperar que o ensino da saúde acompanhasse rapidamente todas essas mudanças. No entanto, se observa ainda grande defasagem entre o que se ensina nos cursos de graduação em saúde e a realidade vivenciada no cotidiano dos serviços ou no seio das comunidades. (CAMPOS et al, 2008) Nesse senti-do, a reorientação da formação dos profissionais de saúde apresenta-se como condição essencial para o aprimoramento dos níveis de saúde da população e para a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS). No Brasil, embora sem-pre tenha existido a sem-preocupação sobre a importância da formação dos profis-sionais de saúde, as parcas iniciativas governamentais e a lentidão da academia sempre se constituíram em entraves para uma educação articulada com a reali-dade dos serviços, conforme destaca Bispo Júnior (2009).

Em períodos mais recentes, a publicação das novas diretrizes curriculares dos cursos de graduação em Saúde se constituiu em importante avanço na for-mação dos profissionais. A partir de 2002, o Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou diretrizes curriculares para todas as 12 graduações em saúde. Não obstante as especificidades de cada curso, em todas as diretrizes aparecem como elementos comuns da formação: o perfil generalista, a adoção da integra-lidade como eixo orientador e a necessidade de formar profissionais compro-metidos com os princípios do SUS.

(24)

pró-saúdeepet-saúdeemvitóriadaconquista 23

Todavia, a simples publicação de novas diretrizes curriculares, por si só, não se constitui em garantia de efetivação das mudanças. Com um novo governo ini-ciado em 2003, ocorreram alterações significativas na direcionalidade das polí-ticas de formação e desenvolvimento para a qualificação do trabalho em saúde. (TEIXEIRA et al., 2012) A criação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) do Ministério da Saúde constitui-se em marco indutor para orientação de políticas nacionais com maior nível de instituciona-lidade e, principalmente, estimulou a adoção de mecanismos desencadeadores de políticas de formação dos profissionais de saúde sintonizada com os novos modelos de atenção. (PINTO, 2014)

Na agenda da educação superior, as políticas passam a se articular na lógica do binômio ensino-serviço. Observa-se nesse período a aproximação e o desen-volvimento de ações conjuntas entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação (MEC). Embora possa parecer lógica e natural a atuação organizada entre os dois ministérios, até então, cada um atuava de maneira independente com ações fragmentadas e desconexas. Tal distanciamento mostra-se incompa-tível com o desenvolvimento de políticas de formação superior contextualiza-das com a realidade do SUS.

Por sua própria natureza, a formação dos profissionais de saúde guarda a peculiaridade de necessariamente desenvolver-se na articulação dos sistemas educacional e da saúde. Isso porque as universidades são componentes do tema educacional, no entanto, os profissionais são formados para atuar no sis-tema de saúde. Por outro lado, de acordo com a própria Lei Orgânica da Saúde, cabe ao SUS atuar na formação de recursos humanos. Por sua vez, as atividades práticas do processo de formação, embora sejam de responsabilidade das insti-tuições de ensino, são desenvolvidas nas unidades e serviços de saúde. Assim, a educação superior em saúde não pode prescindir da articulação entre ensino e serviço. (BRASIL, 1990)

A partir dessa compreensão é que foi criado, em 2005, o Programa de Reo-rientação da Formação dos Profissionais de Saúde (Pró-Saúde), numa articula-ção entre a SGTES do Ministério da Saúde e a Secretaria de Educaarticula-ção Superior (SESu) do MEC. Silva e colaboradores (2012) explicam que a proposta levou em conta os pressupostos apontados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais estabelecidas pelo CNE para as profissões de saúde, bem como o desenvolvi-mento de práticas sanitárias mais contextualizadas às necessidades da popula-ção, contribuindo para uma atenção à saúde de melhor qualidade.

(25)

24 elviracairesdelima, josépatríciobispojúnior

Em 2007, o Ministério da Saúde, em parceria com o MEC, lançou a publi-cação “Pró-Saúde: objetivos, implementação e desenvolvimento potencial”. De acordo com a obra, o Pró-Saúde surge numa perspectiva de desempenhar papel indutor na transformação do ensino em saúde no Brasil. A lógica de atuação baseia-se principalmente no apoio técnico e financeiro às instituições de ensi-no que estejam dispostas a enfrentar os processos de mudança. Tem como eixo central a integração ensino-serviço, com a consequente inserção dos estudantes no cenário real de práticas, que é a rede SUS, com ênfase na Atenção Primária à Saúde (APS), desde o início da formação.

Segundo a publicação, os principais objetivos do Pró-Saúde são: 1) reorien-tar o processo de formação dos profissionais da saúde, de modo a oferecer à so-ciedade profissionais habilitados para responder às necessidades da população brasileira e à operacionalização do SUS; 2) estabelecer mecanismos de integra-ção entre os serviços de saúde e as instituições de ensino, visando à melhoria da qualidade e à resolubilidade da atenção prestada, e potencializar os proces-sos de educação permanentes dos profissionais da rede; 3) ampliar a duração da prática educacional na rede pública de serviços básicos de saúde.

Ainda no texto, três eixos de ações são propostos para a estruturação do Pró-Saúde:

• Eixo A – orientação teórica; • Eixo B – cenários de prática; • Eixo C – orientação pedagógica. Vejamos do que se trata cada um deles:

O eixo da orientação teórica pressupõe transformar a formação centrada nos aspectos biológico-curativos para um modelo de formação orientado para promoção da saúde. A maior parte dos cursos de Saúde ainda mantém a for-mação focada na doença e desarticulada do sistema de saúde público vigente. Esse modelo mostra-se limitado para abordar a complexidade do processo saú-de-doença-cuidado e, na maioria das vezes, está dissociado do contexto social. Assim, a orientação teórica dos cursos deve embasar-se nos aspectos relativos aos determinantes sociais da saúde e levar em consideração o conceito ampliado de saúde, com o propósito de abordar os problemas de saúde de maneira abran-gente e integral.

(26)

pró-saúdeepet-saúdeemvitóriadaconquista 25

O eixo do cenário de práticas pressupõe uma diversificação no locus onde ocorre o aprendizado prático dos estudantes, com a progressiva desospitaliza-ção do ensino em saúde. Assim como a lógica dos novos modelos de assistên-cias pressupõe a mudança do cenário hospitalar-curativo para o ambulatorial e de acompanhamento continuado, também as práticas formativas em saúde de-vem enfocar o ambiente da Atenção Primária como cenário privilegiado para o aprendizado. Tal tendência desencadeia a diversificação dos espaços de apren-dizagem, visto que as práticas poderão desenvolver-se nas unidades de saúde, nas comunidades e nos domicílios. Dessa forma, esse eixo possibilita uma for-mação coerente com os atuais modelos de atenção, assim como possibilita uma formação mais contextualizada com realidade socioeconômica e com os proble-mas de saúde locais. A vivência e interação dos estudantes nas unidades de saú-de e com as populações saú-deve ocorrer saú-dessaú-de o início do processo formativo e não apenas ao final do curso, o que possibilita reflexões e atitudes sobre problemas reais e amplos das comunidades.

O eixo da orientação pedagógica busca superar as práticas de transmissão vertical do conhecimento para as metodologias ativas de aprendizagem. Nas prá-ticas tradicionais, o professor “dador de aula” é aquele que sabe e tem a respon-sabilidade de transmitir os conhecimentos aos estudantes, tido como elementos passivos na prática do ensino. As metodologias ativas propõem a inversão dessa lógica, em que os estudantes passam a ocupar o lugar de sujeitos na construção do conhecimento e o professor passa a ocupar a função de facilitador e orienta-dor desse processo. O aprendizado a partir de situações e problemas reais verifi-cados no cotidiano dos serviços orientará a busca do conhecimento e habilidades necessárias para as intervenções dos casos, tanto do ponto de vista da clínica in-dividual quanto sobre os determinantes sociais do problema.

A partir da articulação e integração entre esses três eixos, o Pró-Saúde bus-ca provobus-car uma inflexão no modelo de formação tradicional que se mostra inadequado e pouco efetivo frente à realidade epidemiológica e social do país. Além de apoiar as instituições de ensino superior no processo de reorientação da formação dos profissionais de saúde, o Pró-Saúde também estimula o de-senvolvimento de pesquisas e a produção de novos conhecimentos na Atenção Primária e no ambiente comunitário. Além do mais, a maior presença de pro-fessores e estudantes nos serviços de saúde proporciona a ampliação da oferta de serviços na rede do SUS, contribuindo para o atendimento integral e resolu-tividade do sistema.

(27)

26 elviracairesdelima, josépatríciobispojúnior

PRÓ-SAÚDE E PET-SAÚDE EM VITÓRIA DA CONQUISTA – BA

O Instituto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia (IMS/ UFBA) foi criado em 2006, no bojo da proposta de expansão das universidades pú-blicas federais. O Instituto nasce com o propósito de formar profissionais de saúde comprometidos com os princípios do SUS. O IMS/UFBA pretende se constituir como cenário que extrapole os limites técnico-científicos do ensino das graduações e forme profissionais imbuídos de responsabilidade social e sujeitos crítico-refle-xivos. Atualmente, o instituto oferece à comunidade da macrorregião sudoeste da Bahia seis cursos de graduação (Enfermagem, Nutrição, Psicologia, Biologia, Far-mácia, Biotecnologia), e está em fase de implantação do curso de Medicina. O IMS/ UFBA possui, também, dois programas de pós-graduação strictu sensu nas áreas de Ciências Fisiológicas e Biociências, além do recente mestrado em Saúde Coletiva.

A opção pelo município de Vitória da Conquista para acolher o campus uni-versitário se deu em virtude da representatividade do município na macrorre-gião sudoeste e pelos considerados avanços do SUS municipal. O município, desde 1997, promoveu uma reorganização dos seus serviços de saúde. Foi prio-rizada a APS como eixo estruturante de um novo modelo de atenção. (VITÓ-RIA DA CONQUISTA, 2014)

Atualmente, Vitória da Conquista é a terceira maior cidade do estado da Bahia, com população estimada em 340 199 habitantes. (IBGE, 2015) É muni-cípio de referência para prestação de serviços de saúde para aproximadamente 73 municípios circunvizinhos e população de influência de cerca de 2 milhões de habitantes. (VITÓRIA DA CONQUISTA, 2014) Também se destaca como referência na área da educação por possuir, além do IMS/UFBA, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e o Instituto Federal de Ensino, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), além de quatro outras instituições de ensino su-perior privadas com cursos de graduação na área de saúde.

Os três primeiros cursos do IMS/UFBA – Enfermagem, Farmácia e Nutri-ção – foram implantados utilizando-se de matrizes curriculares tradicionais e rígidas. Era nítida a contrastante dicotomia entre o desejo de se formar profis-sionais orientados pelo modelo de promoção da saúde e comprometidos com SUS e a estrutura curricular vigente. Com o início das atividades, percebeu-se a necessidade de promover reformulações curriculares e estimular ações as quais viabilizassem a formação de profissionais habilitados a trabalhar com as reais necessidades de saúde da população.

(28)

pró-saúdeepet-saúdeemvitóriadaconquista 27

Assim, frente à necessidade de mudança no modelo de formação em saúde, o IMS/UFBA, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), ade-riu, em 2007, a proposta do Pró-Saúde II. Essa primeira experiência foi marca-da pela aproximação entre gestores municipais e a Universimarca-dade. A cooperação entre as entidades proponentes visava à inserção precoce dos estudantes no co-tidiano dos serviços de saúde e melhoria da qualidade dos serviços prestados a comunidade. Pode-se afirmar que a grande contribuição do Pró-Saúde II foi promover a articulação entre os cursos de graduação do IMS/UFBA e estimular a criação e ampliação, dentro das disciplinas curriculares, de vivências na rede de serviços do SUS. Para tanto, foram realizadas atividades de sensibilização dos docentes e estudantes por meio de rodas de conversa e seminários. Essa estratégia buscou despertar a compreensão da necessidade de novas práticas educacionais capazes de contribuir não apenas com a formação técnica de exce-lência do profissional, mas que possibilite uma formação contextualizada com a realidade social da população brasileira.

Em 2008, o Ministério da Saúde e o MEC instituíram o PET-Saúde como es-tratégia para ampliar as ações do Pró-Saúde. O IMS/UFBA também aderiu a essa proposta, manteve a parceria com a SMS e incluiu a participação da UESB. Foram envolvidos nessa proposta os cursos de graduação em Enfermagem, Nutrição e Farmácia do IMS/UFBA e o curso de Medicina da UESB. Com a criação de gru-pos tutorias, a progru-posta de um novo modelo de formação em saúde se fortaleceu. Isso porque a inserção dos alunos na rede de serviços, a partir da articulação com as disciplinas curriculares dos cursos de graduação, enfrentou várias dificuldades decorrentes da estrutura disciplinar fragmentada e da rigidez dos horários de sala de aula. Ademais, havia dificuldades de supervisão e acompanhamento dos discen-tes nos campos de prática. Como os grupos Programa de Educação pelo Trabalho e Saúde (PET-Saúde) são constituídos por um professor-tutor, por preceptores da rede de serviços do SUS e por estudantes, a vivência e acompanhamento dos estu-dantes no serviço foram facilitados. Associado a isso, desencadeou-se um proces-so de qualificação dos profissionais da rede SUS, especialmente os preceptores dos discentes, os quais passaram a estar em constante contato com a academia.

Com a estruturação do PET-Saúde, houve um estímulo ao desenvolvimento de atividades interdisciplinares, pois suas ações envolviam os estudantes dos di-versos cursos de graduação das IES, diferentes categorias entre os profissionais dos serviços e docentes. Essa experiência incita a reflexão sobre o modelo peda-gógico que, corriqueiramente, vem sendo adotado pelas instituições de ensino.

(29)

28 elviracairesdelima, josépatríciobispojúnior

O modelo ensino-aprendizagem tradicional se estrutura a partir de barreiras rígidas do conhecimento, demarcada por campo de saberes com limites bem definidos e, muitas vezes, inflexíveis. O ensino-aprendizagem construído nesse molde resulta na formação de profissionais com visão restrita a sua área de co-nhecimento, inflexível a mudanças e distante da realidade dos serviços de saúde. O PET-Saúde viabilizou aos docentes envolvidos a possibilidade de repensar os limites disciplinares e diversificar os cenários de aprendizagem, promovendo a desinstitucionalização dessas práticas. (BRASIL, 2007) Do mesmo modo, per-mitiu aos estudantes e profissionais de saúde vivenciar, no cotidiano dos servi-ços, a construção interdisciplinar do cuidado em saúde.

As experiências positivas do PET-Saúde foram ampliadas com a adesão ao PET-Saúde da Família, em 2009, e ao PET-Vigilância em Saúde (PET-VS), em 2010. O PET-Saúde da Família foi constituído por cinco grupos tutorais e suas ações estavam estruturadas em dois vetores principais: 1) as vivências dos estudantes na realidade da Estratégia de Saúde da Família (ESF), o que possibilitou o aprendizado pela prática, a maior oferta de serviços, o desen-volvimento de ações de educação em saúde, dentre outros; 2) desenvolvimen-to de um leque de pesquisa sobre os serviços de atenção primária e as condi-ções de saúde das comunidades.

Por sua vez, o PET-VS foi constituído por três grupos tutoriais. O primei-ro grupo teve como eixo de atuação a vigilância epidemiológica da violência doméstica e sexual, com a proposta de implementar uma rede de notificação e atenção às vítimas da violência. O segundo grupo trabalhou com a vigilância ambiental, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento e implementa-ção do Plano de Gerenciamento de Resíduos em Serviços de Saúde (PGRSS) do município. O último grupo contemplado no PET-VS também atuou na área de vigilância epidemiológica e realizou o monitoramento de famílias com histó-rico de sífilis na gestação entre os anos 2000 e 2008.

A inovação que o PET-VS possibilitou foi a inclusão de mais três cursos de graduação do IMS/UFBA (Psicologia, Biologia e Biotecnologia) e a ampliação dos cenários de vivência para além da ESF. Os estudantes passaram a vivenciar a experiência do setor da vigilância à saúde, com atividades na vigilância epide-miológica, vigilância sanitária, vigilância ambiental e no Centro de Referência DST/HIV/AIDS (Caav). Foi possível estabelecer a articulação entre os serviços de vigilância à saúde e da APS, incorporando a abordagem integral ao processo saúde doença e estimulando a construção do trabalho em rede.

(30)

pró-saúdeepet-saúdeemvitóriadaconquista 29

A reorientação do processo de formação proposto pelo Pró-Saúde, fortale-cida pela estruturação dos grupos PET-Saúde, foi ampliada e robustefortale-cida com a articulação das duas propostas em um único edital, em 2012. Com a manu-tenção das articulações já estabelecidas entre o IMS/UFBA, a UESB e a SMS, o novo projeto do Pró-Saúde/PET-Saúde de Vitória da Conquista foi aprovado e contemplado com cinco grupos de aprendizagem tutorial. Quatro deles man-tiveram seus cenários de aprendizagem na ESF, em que foram desenvolvidas vivências no cotidiano das práticas profissionais e pesquisas a partir das deman-das e necessidades dos serviços. Outro grupo estabeleceu como eixo de atuação práticas na vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, através da preven-ção e monitoramento da dengue no município. Destaque-se que entre os gru-pos que mantiveram vivências na ESF, dois deles conseguiram expandir seus cenários de prática incorporando outros níveis de assistência, através de práti-cas em um hospital especializado em saúde da mulher e da criança e no Centro de Apoio Psicossocial (Caps).

A proposta articulada do Pró-Saúde e PET-Saúde impactou de forma po-sitiva na condução do processo da reorientação curricular dos cursos de gra-duação envolvidos. Uma vez que, com sua consolidação enquanto política ins-titucional, passou a existir maior envolvimento acadêmico com a proposta de novas práticas de ensino. Somado a isso, foi desencadeado por todos os cursos de graduação do IMS/UFBA processos de reformulação de suas respectivas matrizes curriculares.

As experiências positivas do Pró-Saúde/PET-Saúde foram utilizadas como estratégia para sensibilizar a comunidade acadêmica da necessidade de novos modelos ensino-aprendizagem os quais promovam a integração disciplinar, aprendizagem ativa e integração da universidade com os serviços de saúde. Para tanto, foram realizados, de maneira sistemática, seminários com objetivo de dar visibilidade a novos modelos pedagógicos, promover a qualificação dos profis-sionais de saúde e avaliar as atividades desenvolvidas. Com essas experiências, pretendeu-se fortalecer o processo de educação permanente e integrar os pro-fissionais do serviço e novos docentes na proposta desafiadora de mudança no modelo de formação profissional.

Paralelo à execução do Pró-Saúde/PET-Saúde, foram aprovados mais dois projetos: o PET-VS e PET-Redes de Atenção. O PET-VS foi contemplado com dois grupos tutoriais que trabalham com a vigilância do câncer na APS e com a melhoria da informação e redução da mortalidade infantil. O PET-Redes

(31)

30 elviracairesdelima, josépatríciobispojúnior

foi contemplado com quatro grupos tutoriais. São eles: 1) Rede de atenção às pessoas com doenças crônicas: cuidado integral para a prevenção e tratamen-to em cânceres cérvico-uterino e digestivo; 2) Rede de atenção às urgências e emergências: acolhimento com classificação de risco; 3) Rede cegonha: direi-tos reprodutivos e sexuais através do acesso ao planejamento familiar na APS; 4) Rede de atenção psicossocial: prevenção e controle do tabagismo – ênfase em ações de descentralização à saúde mental.

O PET-Redes surge como uma estratégia que visa contribuir na construção e consolidação de uma rede de atenção à saúde integrada, com cuidados coor-denados por profissionais da APS. Desse modo, os grupos tutoriais integram obrigatoriamente profissionais da ESF e dos demais níveis de atenção. Outra inovação refere-se à ampliação da parceria entre as IES e a rede SUS, incluindo, além da SMS, a Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (Sesab). Assim, observa--se uma nova configuração do trabalho do Pró-Saúde/PET-Saúde muito mais articulado e com amplitude dos serviços de saúde em que ocorrem as vivências dos estudantes, o que também potencializa a abordagem integral sobre o pro-cesso saúde-doença-cuidado.

Outro ponto que fortalece a proposta do Pró-Saúde/PET-Saúde é a Comis-são Gestora Local (CGL), que é um órgão deliberativo o qual integra represen-tantes docentes, discentes, preceptores, gestores, usuários do serviço e repre-sentante dos colegiados dos cursos de graduação. A CGL tem funcionado como um espaço de discussão, negociação e deliberação relacionadas a demandas dos grupos de aprendizagem tutorial, utilização de recurso do Pró-Saúde, seleção de estudantes e preceptores e articulação com os colegiados de curso. Apesar da conquista de um espaço democrático e deliberativo de negociação, a CGL ainda precisa ser fortalecida e reconhecida no espaço acadêmico como indutora de mudança no processo de formação.

Percebe-se com o Pró-Saúde/PET-Saúde um crescente movimento de re-estruturação dos modelos de ensino-aprendizagem e das práticas dos profis-sionais da rede SUS em Vitória da Conquista: os espaços de trabalho foram ampliados, a articulação entre universidade e os serviços de saúde aumentaram, a autonomia dos estudantes fortaleceu, estimulando a formação de profissio-nais critico-reflexivos e o processo de educação permanente dos profissioprofissio-nais de saúde foi estimulado. Desse modo, se reconhece a contribuição da proposta do Pró-Saúde/PET-Saúde com a construção de um novo modelo de formação pautado em metodologias ativas, inserção precoce do estudante nos cenários

(32)

pró-saúdeepet-saúdeemvitóriadaconquista 31

do SUS e qualificação profissional. Não obstante aos avanços e conquistas ob-servados, são ainda enormes os desafios para consolidação dos novos modelos e ensino aprendizagem.

AVANÇOS E DESAFIOS PARA A CONSOLIDAÇÃO DOS NOVOS MODELOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Ao longo dos cinco anos de consolidação da experiência do Pró-Saúde/PET--Saúde, tem-se percebido os impactos na condução de novos modelos pedagó-gicos de educação. A inserção precoce do estudante de graduação em saúde nos cenários do SUS tem permitido um aprendizado construído em vivências reais – educação pelo trabalho – e produzido como resultado um profissional mais sensível às demandas da comunidade e mais preparado para enfrentar os desa-fios inerentes a consolidação do sistema de saúde brasileiro.

Os novos métodos de ensino-aprendizagem construídos pelas experiências dos grupos tutoriais estimularam a construção de novas práticas pedagógicas dentro das disciplinas curriculares dos cursos de graduação. No entanto, a ex-pansão desses caminhos alternativos de aprendizagem ainda se limita a discipli-nas ministradas por docentes vinculados ao Pró-Saúde/PET-Saúde. Portanto, faz-se necessário intensificar o processo de discussão do modelo de formação dentro dos processos de reformulas curriculares dos cursos de graduação.

É importante destacar que, apesar dos avanços, ainda é um desafio supe-rar o modelo de aprendizagem fragmentado, disciplinar fundamentado no pa-radigma flexneriano. Essa forma de construção do conhecimento tem provoca-do a valorização das superespecialidades e das tecnologias duras. Esse formato pedagógico de ensino se opõe as novas demandas dos serviços de saúde e, nesse contexto, emerge com urgência a necessidade de alinhar a prática de formação a proposta de valorização da promoção da saúde e da abordagem integral do pro-cesso saúde doença. (SILVA et al., 2012)

Uma alternativa para superar a fragmentação do ensino na área da saúde é a proposta da integração curricular. Os currículos integrados visam promo-ver a articulação entre teoria e prática, entre os conteúdos do ciclo básico e os profissionalizantes. Para tanto, nos processos de reformulação curriculares dos cursos do IMS/UFBA, estão propostos componentes curriculares integrado-res, com o objetivo de articular e integrar os diversos saberes das disciplinas de um mesmo período letivo.

(33)

32 elviracairesdelima, josépatríciobispojúnior

Outro avanço conquistado com a experiência do Pró-Saúde/PET-Saúde foi a aproximação entre a universidade e os serviços de saúde. O aprimoramento dessa interlocução contribuiu para fortalecer o equilíbrio do tripé ensino-pes-quisa-extensão, no qual se fundamenta a universidade. A consolidação das vi-vências nos cenários do SUS robustece e promove visibilidade das práticas de extensão universitária, muitas vezes desvalorizada em detrimento das práticas de pesquisas e de ensino.

Os resultados já alcançados com o Pró-Saúde/PET-Saúde também têm moti-vado e instigado os profissionais da rede SUS a aprimorarem suas práticas e se en-volverem em atividades de pesquisa e produção do conhecimento científico. To-davia, apresenta-se ainda como desafio a necessidade de estruturação e desenvol-vimento de uma política municipal de educação permanente em saúde, a fim de intensificar o aprendizado em serviço, não apenas com as experiências da precep-toria. O aprendizado a partir da prática pressupõe a utilização das vivências como ato educativo, contudo, isso deve ocorrer de maneira sistematizada e com suporte técnico pedagógico da secretária municipal de saúde e das instituições de ensino.

Diante das grandes conquistas promovidas pela experiência do Pró-Saúde/ PET-Saúde, é evidente a necessidade de manutenção e ampliação desse novo mo-delo de ensino-aprendizado. Todavia, existe uma inquietação em relação à susten-tabilidade dessa proposta, tendo em vista que sua execução até o momento envol-veu o financiamento de suas ações por intermédio de recursos do Ministério da Saúde destinados às universidades e aos serviços de saúde, assim como a dispo-nibilização de bolsas para docentes, discentes e profissionais da rede. Acredita-se que uma das alternativas para a sustentabilidade da integração ensino-serviço-co-munidade seja fortalecer os mecanismos de participação social como conselhos de saúde e a CGL e buscar a institucionalização da proposta através da inserção desta como política estrutural das universidades e secretarias de saúde.

REFERÊNCIAS

BISPO JÚNIOR, J. P. Formação em Fisioterapia no Brasil: reflexões sobre a expansão do ensino e os modelos de formação. História, Ciência, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 16, n. 13, 2009.

BRASIL. Casa Civil. Lei nº 8.8080, de 19 set. 1990. Dispões sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília, DF, 1990.

(34)

pró-saúdeepet-saúdeemvitóriadaconquista 33

BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Pró-Saúde: objetivos, implementação e desenvolvimento potencial. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2007. CAMPOS, F. E. et al. A formação superior dos profissionais de saúde. In: GIOVANELLA, L. et al. Políticas e Sistemas de Saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2008.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades. Bahia: Vitória da Conquista [2015]. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/ perfil. php? lan g=&codmun=293330&search=bahia%7Cvitoria-da-conquista>. Acesso em: 28 maio 2015. PINTO, I. C. M. De recursos humanos a trabalho e educação na saúde: o estado da arte no campo da saúde coletiva. In: PAIM, J.; ALMEIDA FILHO, N. Saúde Coletiva: teoria e prática. Rio de Janeiro: MedBook, 2014.

SILVA, M. A. M. da et al. O Pró-Saúde e o incentivo à inclusão de espaços diferenciados de aprendizagem nos cursos de odontologia no Brasil. Interface – Comunicação Saúde, Educação, Botucatu, SP, v. 16, n. 42, 2012.

TEIXEIRA, M. et al. Mudanças nas políticas do trabalho e da educação em saúde no governo Lula. In: MACHADO, C. V. et al. Políticas de Saúde no Brasil: continuidade e mudanças. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2012.

VITÓRIA DA CONQUISTA. Secretaria Municipal de Saúde. Plano Municipal de Saúde 2014-2017. Vitória da Conquista, 2014.

(35)
(36)

35

NÍLIA MARIA DE BRITO LIMA PRADO, POLIANA CARDOSO MARTINS

REFLETINDO AS NECESSIDADES EM SAÚDE NA FORMAÇÃO SUPERIOR EM SAÚDE

Diante dos desafios do mundo globalizado, a educação manifesta a necessida-de necessida-de romper com monecessida-delos tradicionais para o ensino. Na sociedanecessida-de atual, a formação profissional em Saúde tem sido pautada pelo paradigma flexneriano, como herança de um modelo de ensino médico, que prioriza a fragmentação do indivíduo e a consequente superespecialização profissional. Nesse exercício, evidencia-se uma dissociação entre teoria e prática, entre o ciclo básico e clíni-co, com predomínio de aulas teóricas e acúmulo de conhecimentos especializa-dos, desumanização no cuidado e descontextualização da prática, característi-cas que vêm definindo a estrutura das matrizes curriculares de muitos cursos de formação superior no Brasil e no mundo. (ALMEIDA FILHO, 2011)

Esse “modelo” de formação profissional em saúde passou a nortear pri-mordialmente a formação do graduando em Medicina, contudo, vem continua-mente sendo impresso no próprio processo de trabalho médico, com reflexo na formação e exercício dos demais profissionais de saúde. Como consequência,

ITINERÁRIOS TRANSFORMADORES

NO SEMIÁRIDO BAIANO

o PET-Saúde e as mudanças na práxis

(37)

36 níliamariadebritolimaprado, polianacardosomartins

formam-se profissionais de Saúde passivos, com uma atuação predominante-mente centrada nas práticas hospitalares, individualistas e com enfoque na es-pecialização e subeses-pecialização, e com atitudes que favorecem a “mercantiliza-ção da saúde” e incentiva a medicaliza“mercantiliza-ção excessiva. (LAMPERT, 2002)

Tendo em vista os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), faz-se necessário estabelecer uma nova lógica. Nesse sentido, a integralidade deve ser um dos pilares que alicerça a formação em saúde, oportunizando a vi-vência da prática acadêmica e favorecendo a reflexão sobre a realidade, ou seja, instigando mudanças no cotidiano das práticas de saúde.

O atual processo de reorganização do sistema de serviços de saúde no Brasil favorece a discussão e implementação de estratégias com o objetivo de preparar os futuros profissionais de saúde para atender a uma nova práxis sanitária. Pro-picia, portanto, uma formação de sujeitos capazes de ver e entender o mundo de forma holística, em sua rede infinita de relações e em sua complexidade. Uma formação em saúde que perceba o valor da interdisciplinaridade e a necessida-de necessida-de situar a importância da educação nos necessida-desafios, dúvidas e interrogações da atualidade. (ALMEIDA FILHO, 2011)

A partir de 1988, com a intensificação do movimento de Reforma Sanitária e a implantação do SUS, a discussão sobre direcionamento da prática dos pro-fissionais de saúde para a atuação no SUS evidenciou a necessidade de inclusão de estratégias pedagógicas que valorizassem o vínculo entre a universidade e o serviço de saúde.

A busca pela formação de um profissional com perfil generalista, crítico e reflexivo, capacitado para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, incenti-vou o Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação (MEC), a perceber a relevância de um novo olhar para a formação em saúde. Nesse sen-tido, no ano de 2000, foram publicadas as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), como uma proposição a ruptura com o modelo tradicional e garantia de recursos humanos qualificados para o trabalho em saúde (BRASIL, 2001), fazendo com que, tanto as instituições formadoras, quanto os órgãos governa-mentais, assumissem o desafio de implementar diretrizes as quais orientem a formação profissional para atenção às necessidades sociais da população brasi-leira, com ênfase no SUS.

Nessa perspectiva, o espaço de formação profissional, deveria se transfor-mar em um locus privilegiado para a reflexão sobre as práticas de saúde. Uma das principais iniciativas governamentais para a qualificação de recursos humanos

(38)

itineráriostransformadoresnosemiáridobaiano 37

para a Saúde na Atenção Primária à Saúde (APS) e outros níveis de atenção, foi o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), regulamen-tado pela Portaria Interministerial nº 421, de 3 de março de 2010. Essa propos-ta foi espropos-tabelecida por meio da parceria do Ministério da Saúde, por intermédio das Secretarias de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), da Secretaria de Atenção à Saúde e do Ministério da Educação, por meio da Secre-taria de Educação Superior (SESu), e propõe a efetivação do eixo “cenários de prática”, no sentido de tornar o SUS um importante componente de uma rede de ensino aprendizagem na prática do trabalho em saúde. (BRASIL, 2010)

A partir de 2012, o programa foi estendido a outros níveis de atenção à saú-de, segundo proposto à organização de ações em redes de atenção, reforçando uma abordagem integral e ampliada do conceito de saúde. O PET-Saúde apre-sentou como pressupostos a consolidação da integração ensino-serviço-comu-nidade e a educação pelo trabalho, a qualificação em serviço dos profissionais da saúde e a inserção precoce dos estudantes de graduação ao trabalho e vivência no sistema de saúde, tendo em perspectiva a qualificação da atenção e a inserção das necessidades dos serviços como fonte de produção de conhecimento.

Os atores sociais incluídos no programa eram organizados em grupos de aprendizagem tutorial, formado por tutores (docentes), preceptores (profissio-nais de saúde dos serviços) e estudantes, tendo as práticas permeadas pela inter-disciplinaridade e a integração ensino/serviço, incluindo o desenvolvimento de pesquisas conformadas pela necessidade loco regional.

No Brasil, um processo ainda lento vem ocorrendo no que diz respeito aos aspectos culturais, sociais, econômicos e políticos que exigem do profissional de saúde uma nova postura crítica: sujeitos com potencial para transformar o processo de cuidado em saúde. Nesse novo contexto, as matrizes curriculares tradicionais precisam ser redesenhadas, possibilitando que os cenários e as es-tratégias de ensino-aprendizagem possam ser repensados e reestruturados, e o processo de aprendizagem consiga alcançar uma total ressignificação. (FEU-ERWERKWER, 2002)

Contudo, muitas instituições de ensino superior em Saúde ainda persistem com a estrutura rígida de formatos curriculares tradicionais. Esse modelo de formação é incapaz de atender as demandas atuais como ampliação do acesso com qualidade à atenção à saúde e do grau de satisfação dos usuários do SUS. Para que seja possível uma transformação, é imprescindível a qualificação dos profissionais e trabalhadores da saúde.

(39)

38 níliamariadebritolimaprado, polianacardosomartins

Este capítulo relata a experiência institucional do programa Pro/PET-Saúde no município de Vitória da Conquista, desenvolvido em parceria entre o Insti-tuto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia (IMS/UFBA) Campus Anísio Teixeira, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e a Secretaria Municipal de Saúde de Vitória da Conquista (PMVC).

VIVENCIANDO O COTIDIANO E “APRENDENDO COM QUEM FAZ”: ITINERÁRIOS TRANSFORMADORES

O Pro/PET-Saúde foi desenvolvido de 2012 a 2014 em âmbito nacional, como uma estratégia inovadora para unir em um único edital a proposta do Pró-Saúde com a do PET-Saúde. O projeto propunha estimular mudanças no modelo de formação dos graduandos da área de saúde e promover processos de educação permanente dos profissionais de saúde os quais atuam na rede de serviços SUS. A grande novi-dade desse referido edital foi a disponibilinovi-dade de recursos para as Instituições de Ensino Superior (IES) e Secretarias de Saúde, com o objetivo de facilitar a organi-zação das ações dos grupos tutoriais e qualificar os serviços da rede SUS.

A experiência do Pro/PET-Saúde no município de Vitória da Conquista possibilitou inovações em relação a sua organização nas IES por incluir os cur-sos de graduação em Psicologia e Ciências Biológicas do IMS/UFBA, os quais não haviam sido contemplados em propostas anteriores. Desse modo, abran-geu os cursos de graduação em Farmácia, Nutrição, Enfermagem, Psicologia e Ciências Biológicas do IMS/UFBA, além do curso de Medicina da UESB.

Em relação aos serviços de saúde da rede SUS, manteve-se a atuação nas Unidades de Saúde da Família (USF), mas ampliou-se os cenários de práticas para além da APS. Incluiu um Centro de Atenção Psicossocial (Caps II); a Fun-dação de Saúde de Vitória da Conquista (Hospital Municipal de referência Ma-terno Infantil); gestão municipal em saúde/vigilância epidemiológica e vigilân-cia sanitária. Assim, essa proposta inovadora buscou ampliar a compreensão do cuidado em rede, estimular a produção de saúde e o cuidado humanizado na formação de profissionais da área da saúde e (re)significar os processos de tra-balho dos profissionais que já atuavam na rede SUS local.

O programa constituiu-se, também, em um instrumento importante para instigar, a partir das experiências bem sucedidas de novas práticas pedagógicas, as mudanças curriculares já iniciadas no IMS/UFBA. A proposta foi estrutura-da em cinco grupos tutoriais com ativiestrutura-dades desenvolviestrutura-das para a implantação

Referências

Documentos relacionados

Finalmente, introduz-se uma norma inovadora, que visa consagrar a institucionalização da autorregulação nesta área. Tendo em conta que a aplicação do presente decreto-lei deve

3.1 State complexity, nondeterministic state and transition operational com- plexity of basic regularity preserving operations on regular languages.. 42 3.2 State complexity

Os cinco parâmetros alvos de análise e controlo nos efluentes gerados foram o Fósforo, o Azoto, os Sólidos Suspensos, a Carência Bioquímica do Oxigénio e a

Esta análise, comparada aos resultados obtidos na tabela 2, permite concluir que a molhabilidade entre a grafite e a liga metálica influenciou apenas na morfologia dos

NOTA: Para obter informações sobre como conectar dispositivos sem fio, consulte Conexão a uma rede na página 17.. NOTA: Para obter mais informações sobre o software e os

Esse trabalho apresenta uma análise das tecnologias e de algumas ferramentas de conversão de conteúdo para acesso à Internet através de dispositivos móveis.. A

A rede de instituições de apoio à ciência, tecnologia e inovação em segurança pública no Brasil estrutura-se em torno da Financiado- ra de Estudos e Projetos

Esta pesquisa teve como objetivo propor procedimentos, utilizando como referência a metodologia projetual de Löbach para desenvolvimento de produtos sustentáveis