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NATUREZA E CULTURA EM SAÚDE MENTAL

A OFICINA DE PLANTAS MEDICINAIS E HORTICULTURA

Durante o processo de planejamento da oficina de plantas medicinais e horti- cultura, houve liberdade e mobilização para sua criação, sendo envolvidos no processo a coordenação do Caps, a associação de amigos, usuários e familiares da saúde mental de Vitória da Conquista e região, o poder executivo, a Secre- taria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri) e, claro, os profissionais e usuários dinamizadores do processo, fortalecidos na relação que acontecia.

Após tentativas iniciais emperradas, já com outros profissionais participan- tes e com apoio da associação de amigos, usuários e familiares da saúde mental,

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a oficina nasceu em 2010. No ano seguinte, uma parceria importante foi esta- belecida com o Instituto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia (IMS/UFBA), Campus de Vitória da Conquista, e, em conjunto, realizou- -se o primeiro seminário sobre a horticultura e plantas medicinais no Caps II, em março de 2011, com participação de usuários, profissionais, estudantes, profes- soras. Foram envolvidos os cursos de Farmácia e Biotecnologia do IMS/UFBA.

Em agosto de 2012, o Caps II passou a fazer parte do PET-Saúde, contando, inicialmente, com apenas um preceptor psicólogo, sendo posteriormente incor- porada como preceptora a farmacêutica, a qual já participava como voluntária. Dessa forma, estudantes do PET passaram a ter a oportunidade de atuar tanto na oficina de plantas medicinais e horticultura como em outras atividades do Caps II.

Ao se pensar na oficina de plantas medicinais e horticultura, buscou-se agregar as atividades com plantas com os princípios da reforma psiquiátrica brasileira, sobretudo a desinstitucionalização e percepção do indivíduo em so- frimento mental de forma integral.

As relações e cuidados em saúde mental passaram por posturas e entendi- mentos diversos ao longo da história. Mesmo as oficinas terapêuticas com hor- tas, jardins, entre outras, foram utilizadas, inicialmente, no contexto da lógica da exclusão. Acreditava-se, naquele momento, que as pessoas em sofrimento mental precisavam desenvolver atividades para sair da ociosidade, como forma de ocupação do tempo ou da mente. Nesse sentido, pode não haver encontro, como descrito por Martin Buber.

Na oficina proposta no Caps II, pretendeu-se estabelecer um fazer e um criar a fim de mobilizar e provocar processos, relações e interações com os pre- sentes, sejam estes outros usuários, profissionais ou estudantes, tendo como ca- talisador a vivência com as plantas – o plantar, o cuidar, o molhar, o colher, o distribuir, o retirar o mato, o irrigar, o desenvolver a compostagem, o tratar a terra e as “pragas”, o cultivar de modo orgânico, o esperar pela chuva, o traba- lhar ao sol, o sentir a terra, o cheirar – do ponto de vista cultural, medicinal, emocional, ecológico.

Essa oficina também teve como objetivo a realização de encontros com abordagem multidisciplinar e potencial dinâmico que sirvam como parte do processo terapêutico dos usuários, além de resgatar e valorizar o uso tradicio- nal das plantas e promover o diálogo entre o conhecimento científico e o conhe- cimento tradicional, contribuindo para o uso coerente de plantas medicinais e

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fitoterápicos. Mais do que isso, a oficina pretendeu colaborar com a formação de estudantes, professores e profissionais na área de fitoterapia e saúde mental. Buscou-se abordagem complexa e multidisciplinar, a qual envolveu encontros semanais em campo, na horta do Caps II, e bimensais em sala de oficina, onde eram realizadas as discussões sobre plantas medicinais e alimentícias entre usu- ários, profissionais, estudantes e professora.

A coordenação da oficina foi compartilhada por profissionais do serviço (farmacêutica, médico e psicólogo) e uma docente da Universidade Federal da Bahia (UFBA), farmacêutica e tutora do PET-Saúde até dezembro de 2013. Par- ticiparam, também, estudantes de Psicologia, Farmácia e Biologia, bolsistas do PET-Saúde.

Os encontros em campo contaram com a coordenação do psicólogo e apoio dos estudantes do PET-Saúde. Os usuários foram encaminhados para oficina pelos profissionais do Caps II quando esta era incluída no projeto terapêutico. Com certa frequência, também participaram o médico e, eventualmente, a far- macêutica do serviço e a tutora do PET-Saúde. As atividades aconteceram nos canteiros localizados no próprio Caps II. Os encontros semanais foram realiza- dos nas sextas-feiras, quando se concentravam a maior parte dos participantes. No entanto, alguns usuários contribuíram com o cuidado do local em outros momentos durante a semana, de forma espontânea.

Em média, seis usuários do Caps II participaram de cada turno em campo, desde setembro de 2011. O máximo de usuários presentes foi de 13, e o mínimo de dois.

Durante os encontros, foram realizadas atividades de preparação da ter- ra, adubação, irrigação, plantio, poda, retirada de plantas daninhas, colheita e partilha da produção. Enquanto tais atividades eram desenvolvidas, surgiam perguntas, provocações, alguns temas eram compartilhados, tanto pelos pro- fissionais, quanto pelos usuários, sendo essa dinâmica enriquecida e partilha- da num movimento solidário, mas também, por vezes, conflituoso ou insti- gante. Dentre os conflitos, podemos citar as diferentes formas de organizar as espécies: em forma de mandala, separadas umas das outras, misturadas, refletindo as formas de agricultura existentes em nossa sociedade. Houve, também, conflitos relacionados às diferenças de personalidade, especialmen- te quando havia autoritarismo ao invés de cooperação. Outra divergência foi quanto ao uso de restos de beneficiamento de café, pelo risco de contamina- ção da horta com agrotóxicos.

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Manifestações espontâneas aconteceram: mudas foram doadas por partici- pantes, tanto por usuários, quanto pela coordenação da oficina; canteiros line- ares deram lugar a plantios diversos, numa perspectiva que lembra técnicas de agroecologia, assim como a opção pelo não emprego de herbicidas, fungicidas e outros defensivos agrícolas não permitidos em cultivos orgânicos. Além disso, foram empregadas técnicas de compostagem, as quais também fazem parte da agroecologia, usando restos de hortaliças e espécies invasoras para produção de terra vegetal.

Em alguns momentos, as colheitas foram relativamente abundantes, mo- tivando os participantes e trazendo alegria. Por outro lado, a produção em si não era o objetivo. O trabalho toma um formato de ação e interação em cam- po, visando produção de sentido, observação dos ciclos de cuidado, aprendiza- do, sendo que, muitas vezes, acontecem atritos e desabafos, assim como diver- gências entre os participantes. Polaridades emocionais, performances às vezes opostas, formas, jeitos e gestos são apresentados no fazer. Nas relações, estão presentes as experiências vividas. Nesse sentido, a coordenação, em ação, dialo- ga, interfere, interage, valorizando a experiência.

De acordo com Angerami-Camon e colaboradores (2002):

É na experiência do mundo que todas as nossas operações lógicas de significação devem fundar-se; e o próprio mundo é, portanto, uma certa significação, comum a todas as experiências, que teríamos através delas, uma idéia que viria animar a matéria do conhecimento. (ANGERAMI- -CAMON et al., 2002, p. 3)

Além da oficina semanal em campo, na horta do Caps II, foram realizados encontros na sala de oficina. Geralmente, participavam todos os coordenadores (professora, psicólogo, farmacêutica, médico, usuários e estudantes). Esses mo- mentos eram abertos a todos os usuários do Caps II e aconteceram sem rigidez quanto às datas. Entre agosto de 2012 e fevereiro de 2014, foram realizados sete encontros com participação de 16 usuários em média, com um máximo de 22, mínimo de 12. Cada encontro teve duração de cerca de duas horas.

Durante o planejamento desses encontros, foram selecionadas duas a três espécies vegetais medicinais. As espécies eram sugeridas pelos usuários e co- ordenação, orientando-se, principalmente, por aquelas já plantadas na hor- ta do Caps, de modo que fossem momentos em que se discutisse sobre o que era cultivado, e que os temas abordados estimulassem a criatividade, tendo

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um significado para os usuários. Foram discutidas espécies similares em cada ocasião, seja por seus efeitos terapêuticos ou características botânicas. Existiu abertura para outros temas, de acordo com a demanda dos usuários, como ali- mentos e cosméticos. A importância da seleção adequada das espécies foi ob- servada durante as oficinas, sendo o grau de participação dos usuários menor quando discutidas espécies menos conhecidas na região, mesmo quando esta- vam presentes na horta, como o guaco.

Nos encontros em sala de oficina, usuários, profissionais, docente e estu- dantes sentavam-se em círculo para favorecer a interação e a não hierarquiza- ção. Os coordenadores estimulavam uma dinâmica de maneira que as experiên- cias dos usuários fossem relatadas, comunicando eventos, vivências, histórias, intercaladas com conhecimentos científicos e populares trazidos pelos profis- sionais, sempre fazendo dialogar as diversas formas de construção do conheci- mento. (MORIN, 1999; ALMEIDA, 2003) Visou-se o uso coerente de plantas medicinais, respeitando-se as tradições, assim como os conhecimentos acadê- micos. Foram levadas para a oficina amostras das espécies vegetais e, algumas vezes, fotos eram projetadas ou eram realizadas demonstrações sobre prepara- ções caseiras.

Todos os participantes tinham a oportunidade de expor suas experiências com cada espécie, priorizando os relatos dos usuários, os quais incluíram culti- vo, preparações caseiras, uso medicinal ou alimentício, e problemas que podem acontecer em função do uso inadequado. Quando existiam questões relaciona- das às precauções, geralmente, os próprios usuários apontavam os cuidados ne- cessários, cabendo aos profissionais coordenar a discussão e contribuir com co- nhecimentos complementares. Adicionalmente, incentivava-se o relato das pro- priedades organolépticas das plantas, o que, muitas vezes, despertavam sensa- ções as quais remetiam a lembranças e histórias vividas. Trocas de receitas acon- teciam espontaneamente, incluindo remédios caseiros, cosméticos e alimentos.

É através da cultura que o homem estabelece suas vivências e caracteriza seu grupo. Nesse sentido, podemos fazer menção aos fundamentos da etnobotânica, a qual pode ser entendida como o estudo da inter-relação direta entre pessoas de culturas viventes e as plantas do seu meio, aliando-se fatores culturais e ambien- tais, bem como as concepções desenvolvidas por essas culturas sobre as plantas e o aproveitamento que se faz delas. Os estudos etnobotânicos visam compreender como as pessoas relacionam-se com as plantas e quais os relacionamentos produ- zidos nos diversos sistemas culturais. (ALBULQUERQUE, 2005)

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A oficina no Caps II não envolveu a realização de um estudo etnobotânico, no entanto, assim como em tais estudos, tem-se como objetivo, de modo con- comitante com a questão terapêutica, o resgate e a preservação dos conheci- mentos tradicionais, os quais vêm sendo construídos ao longo dos séculos no contexto de diferentes grupos populacionais por todo o mundo, considerando o valor cultural das plantas nos diversos espaços, cada comunidade tem seus costumes e peculiaridades. (PASA; SOARES; GUARIM NETO, 2005; MAR- TINS et al., 2005) Valorizar os saberes tradicionais sobre plantas medicinais acumulados por seus membros e perpetuá-los amplia as vivências dos mem- bros das comunidades, auxiliando-os nas questões por eles enfrentadas no dia a dia. (LOPES et al., 2011) Nesse sentido, a oficina visa tanto a valorização do conhecimento tradicional, sem hierarquia em relação ao conhecimento científi- co, quanto sua aplicação, considerando o contexto local.

As plantas têm um importante papel nos mais variados domínios das ati- vidades humanas, como alimentação, medicina, rituais sagrados, folclore etc. As plantas usadas como remédio quase sempre têm posição predominante e significativa nos resultados das investigações etnobotânicas de uma região ou grupo étnico. Os tratamentos de saúde por meio da medicina popular coexis- tem paralelamente aos serviços de saúde, fundamentados pelos próprios valo- res encontrados pela população local e também pela transmissão da herança cultural. (PASA; SOARES; GUARIM NETO, 2005)

Segundo Albuquerque (2005), onde existem pessoas e plantas interagindo em um mesmo sistema, também haverá uma forma de pensar quais motivações especiais determinam o comportamento e percepção das pessoas em relação às plantas. Além disso, desenvolve-se um equilíbrio em que o ser humano racio- naliza o seu ambiente botânico de uma forma consistente e ordenada, com uma lógica que é interna, mas apreensível ao observador ocasional, desde que esse se proponha a abandonar seus próprios conceitos, suas categorias culturais para apreciar um discurso numa outra linguagem. Observação atenta é essencial no acompanhamento das atividades em campo e das discussões em sala de oficina, a fim de possibilitar a compreensão, por parte dos coordenadores, das formas como os usuários lidam com as plantas, assim como com conhecimento sobre seus usos medicinais, cosméticos e alimentares.

Em alguns momentos, a discussão em sala iniciou-se com avaliações. No quin- to encontro, foi estimulado o depoimento de todos os usuários presentes quan- to à sua visão sobre as atividades as quais foram realizadas até então na oficina.

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Nesse momento, foi possível perceber que os encontros são significantes para os participantes, o que era um dos questionamentos levantados pelos coordenado- res. Estes se reuniam após as oficinas a fim de avaliar e planejar ações.

Estima-se que os momentos da oficina convidem a uma vivência reflexiva. São oportunidades para manifestação de crenças, experiências, diferenças, in- dividualidade, religiosidade, contextos sociocultural, ambiental e psicossocial. Desse modo, desenvolve-se ambiente de resgate da história de cada usuário, re- lacionando temas abordados com as singularidades afetivas.

Para fins de registro, após cada encontro, os usuários registravam presen- ça em livro específico. Esses encontros foram gravados e os áudios transcritos, servindo de base para a produção de uma cartilha educativa sobre o uso de plan- tas medicinais. Informações complementares foram incluídas, sendo as fontes consultadas listadas ao final da cartilha e citadas no texto. Portanto, trata-se de uma cartilha bem fundamentada e contextualizada.

Assim, estabeleceu-se a oficina terapêutica. Seus parâmetros e sua lógica envolveram a mescla do fazer e do pensar na dimensão da prática do cuidado, com resgate de conhecimentos e memórias, ao tempo em que se revivenciavam formas de uso dos cultivos (plantas medicinais e hortaliças, nas quais a memó- ria cognitiva e afetiva é buscada), seja do ponto de vista do cozinhar ou do fazer uso das plantas como remédios, ou ainda nas suas formas “mágicas”, rebuscam- -se as formas em que se davam os laços afetivos, com suas crenças e conheci- mentos antepassados e presentes, em que se faz e se fala ou se fez e se disse. (CERTEAU, 1998; MORIN, 1999)

A oficina terapêutica é um fazer continuado, pois nela se estabelecem rela- ções que irão definir sua caminhada.

Na oficina de horticultura e plantas medicinais, a partir de um determina- do momento, passou a acontecer certo esvaziamento. Os profissionais envol- vidos foram se desarticulando. Suas questões ocupacionais, suas prioridades, contribuíram para tal. Isso refletiu diretamente na presença dos usuários e no entusiasmo do grupo. Seria importante que se incluíssem outros profissionais do Caps na oficina, assim como seria preciso mais dedicação, particularmente nos demais dias da semana que não a sexta-feira, pois o cuidado com as plantas deve ser contínuo. Adicionalmente, a articulação com os demais profissionais não foi efetiva no sentido de colocar a oficina no contexto das indicações tera- pêuticas. Logo, isso se estendeu para falta de materiais e, na própria sexta-fei- ra, o esvaziamento era evidente. Foi sentida a falta de adubo animal, sementes,

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a tela protetora, de água, devido a longa estiagem regional que durou cerca de dois anos, e de uma caixa d’agua, a qual foi implementada no final de 2013, sen- do uma conquista importante de nossa caminhada.

Nos encontros em sala de oficina, ainda havia presença e participação, po- rém menos intensa que aquela observada no início. A falta de mobilização foi sentida pelo grupo também nesse momento, reforçando a necessidade de cons- tante inovação.

O imobilismo contrastava com as conquistas na ação: momentos de presen- ça, momentos de ausência, apatia participativa, a não ação política institucional, nossa micro ação política local, nosso contato com a associação de amigos, usu- ários e familiares da saúde mental, nossa história de surgimento como grupo. Tudo isso revelou a necessidade de pensarmos em fortalecimento da memória e ação de grupo de uma forma mais vigorosa. “O relato é a língua das operações, abre um teatro de legitimidade para ações efetivas”. (CERTEAU, 1998) São ne- cessárias ações mais efetivas e oportunidades para dar continuidade a uma ofi- cina relevante como essa, desafio com o qual nos comprometemos a estar aten- tos e em contribuição.

Através desta escrita e das avaliações realizadas durante e após os encon- tros, foi possível refletir sobre a oficina e, assim, repensar a prática, reforçando a necessidade de mudanças a fim resgatar os objetivos originais. Foram levanta- dos diversos questionamentos: o que ficou? O que foi efetivo? O que foi ilusão? Como recriar a oficina a cada encontro? O que de significativo para todos traz os encontros, o fazer, o partilhar? Estas perguntas não podem ser respondidas de um modo objetivo neste momento, são questões para a continuidade deste trabalho, e mostram necessidade de constante reflexão teórica sobre a prática, seguida de ações direcionadas para a mudança.

Apesar das dificuldades, alguns usuários com significativa afinidade pelo trabalho com a terra, mantêm participação constante e demonstram interes- se na continuidade da oficina, o que foi constatado também em recente assem- bleia de usuários, quando foi considerada importante a sua revigoração. Além disso, usuários e profissionais utilizam a horta com diversas finalidades, como obtenção de plantas medicinais para preparação de remédios caseiros, preparo de chás para uso no serviço, coleta e distribuição de hortaliças, como também coleta de mudas e sementes que contribuem para o desenvolvimento de outras hortas. A horta tem, também, uma função estética na unidade e já foi local des- tinado a atividades didáticas para estudantes da UFBA.

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Embora seja um espaço planejado para uma oficina terapêutica, percebe- -se que existem outras possibilidades de aproveitamento: jardinagem, plantio e cultivos de flores foram sugeridos em vários momentos. No contexto atual do serviço, avaliamos que será necessária uma rediscussão entre a equipe do Caps, para redimensionar sua prática envolvendo outros técnicos afins, dada a com- plexidade que sentimos para sua manutenção como atividade de campo, cuja necessidade diária de cuidado tem implicações na saúde, vigor e entusiasmo, tanto das plantas como dos cuidadores.

Enfim, todo o percurso foi extremamente válido tanto para processo terapêu- tico dos usuários quanto para o desenvolvimento profissional da equipe. O gru- po, com suas diferenças, soube aproveitar os momentos da oficina e, no contato, soube criar. A sensação do inacabado sugere a possibilidade de recriar a oficina, reinventá-la com novos atores de caminhada. Podemos afirmar e sentir seus lados positivos, bem como seus momentos de fragilidade, todos somando. Vivencia- mos plenamente possibilidades de relação em um Caps II, crescemos como pes- soas e profissionais que aprendem continuamente no ato do fazer, relacionando teoria e prática.

Compartilhando nossa vivência, esperamos contribuir para que outros gru- pos se inspirem.

Concluímos com uma fala do Péricles Norberto Matos (médico homeopa- ta/CAPS II da rede municipal): “Há pessoas que cuidam e partilham, há humanos que caminham e se veem com o olhar que encontra, que descobre, descortina, e onde se revela o frágil e o que não se sabe. Há encontro. Quanta ternura. Veículos que so- mos. Momentos de presença, momentos de passagem. Oficina de encontro. Frágil desafio de náufragos. Passaram e ficaram as medidas. Avaliem e qualifiquem. Que importa. Memórias, relações...”.

Agradecimentos: ao psicólogo Átila Patez Lemos, pela coordenação da ofi- cina de horticultura e plantas medicinais; à professora Ana Carolina Rodrigues Cunha, pela identificação botânica de espécies vegetais e participação no pri-