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A Afirmação do Aluno como Protagonista da Própria Aprendizagem

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Academic year: 2021

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Claudiney Washington Alves Júniora*

Resumo

O presente artigo busca demonstrar a importância de que o aluno desenvolva um senso de autonomia no que tange à sua própria aprendizagem, com a finalidade de demonstrar que na relação de ensino-aprendizagem o professor é uma figura muito importante, e indispensável para o caminhar desse processo, mas a figura principal dessa relação não é o professor, mas sim o aluno. Dessa forma, no processo de aprendizagem temos uma relação bivalente e recíproca, onde ao mesmo tempo em que o aluno aprende, ensina, e o professor ao mesmo tempo em que ensina, aprende. O objetivo geral é demonstrar a importância da autonomia do aluno para o sucesso de sua aprendizagem, por meio dos objetivos específicos, discorrer sobre os deveres do professor quanto a formação do aluno dentro de sala de aula, discorrer sobre as diferenças existentes entre os alunos interessados e os não interessados em aprender e finalmente concluir pela importância do aluno ser protagonista de sua história educativa bem como pela importância do papel do professor nesse processo.

Palavras-chave: Autonomia. Ensino-Aprendizagem. Professor. Família. Estado.

Abstract

This paper demonstrates the importance that the student develops a sense of autonomy with regard to their own learning, in order to demonstrate that the relationship of teaching and learning the teacher is a very important figure, and indispensable for the walk this process, but the main figure of this relationship is not the teacher but the student. Thus, the learning process we have a bivalent and reciprocal relationship, where at the same time that the student learns, teaches, and the teacher while he teaches, learns. The overall objective is to demonstrate the importance of learner autonomy to the success of their learning by means of specific objectives, discuss the duties of teacher and student education in the classroom, discuss the differences between students interested and not interested in learning and finally conclude the importance of the student is the protagonist of his story as well as the educational importance of the teacher’s role in this process.

Keywords: Autonomy. Teaching and Learning. Teacher. Family. State.

A Afirmação do Aluno como Protagonista da Própria Aprendizagem

The Student Affirmation as Protagonist of it’s Own Learning

aFaculdade de Goiânia, GO, Brasil *E-mail: claudiney@aedu.com

1 Introdução

Existe um defeito na educação brasileira, isso é público e notório. Em qualquer lugar em que se vá discutir a questão: seja na esquina, no bar, escritório ou até mesmo em sala de aula. A conclusão é sempre a mesma, existe um defeito na educação brasileira. E a quase totalidade das pessoas atribuem a culpa ao administrador público.

Nesse sentido, Pereira e Teixeira (2007) afirmam que assegurar o acesso à escola depende de decisões eminentemente políticas. No entanto, essa afirmação se demonstra um pouco capciosa e tanto quanto egoísta, chegando a parecer que as autoras querem expulsar para longe de si, uma responsabilidade que é de toda a população brasileira.

Existe sim um defeito na educação brasileira, mas essa carga não é exclusivamente dos políticos. Todos nós temos nossa parcela de culpa, devemos ter, portanto, participação ativa na educação brasileira em busca de melhorias. A busca pelo cumprimento de tal objetivo é um papel de todos nós. Nesse sentido, devemos nos espelhar nos gregos, grandes precursores da humanidade que, preocupados com educação e formação de seus filhos/cidadãos, ao tratar sobre

a formação desses indivíduos, faziam diferenciações entre “ensinar” e “educar”. Para eles, “ensinar” consiste na arte de conseguir interiorizar, aprender, conhecimentos externos como: a retórica, a álgebra, a astronomia ou qualquer outra ciência, traduzida, muitas vezes, por um mestre, que detêm o conhecimento e a capacidade de transmiti-lo. “Educar”, seria o dever de despertar conhecimentos intrínsecos ao homem como: ética, humildade, senso humanístico, respeito e outros sentimentos superiores e elevados que fazem parte do homem, sendo seu dever fazê-los transparecer. Geralmente, acontece pela observação de referenciais superiores. Diziam os gregos que, essa parte do aprendizado humano, devia ser observada pela família.

Pelo exposto, pais e mães devem se conscientizar que, o caráter de seus filhos é formado de acordo com o que essas crianças enxergam como realidade humana dentro de casa e no seu convívio social. Se uma pessoa nunca teve contato com um gesto de humildade, como ela poderá reproduzi-lo? O primeiro contato que as crianças têm com o mundo, é por meio do ambiente familiar. Pesquisadores afirmam que é, em seus pais, que os filhos se espelham, para entender e praticar atos futuros.

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Nesse sentido, Velasquez (2011), coordenador do Centro de Apoio da Infância e da Juventude afirma que a personalidade da criança e do adolescente se estrutura e molda essencialmente no meio familiar. Os pais, responsáveis pela educação e orientação de seus filhos, devem assumir o seu papel e, além de oferecer amor, impor limites a seus descendentes. Tal tarefa, ainda que exigente, não pode deixar de ser exercida com autoridade, à medida em que os filhos necessitam compreender a verdadeira figura dos seus responsáveis.

Ainda de acordo com Velasquez (2011) a ideia de limite na educação dos filhos, que não raras vezes é compreendida equivocadamente como imposição de castigo ou punição, deve ser percebida como um processo de formação da personalidade da criança, um marco em sua socialização, que envolve, dentre outras condutas, a compreensão, o diálogo, o convívio e o respeito. É por meio de tais condutas, que são transmitidos valores éticos sólidos capazes de fazer com que a criança e o adolescente ajustem seus comportamentos às exigências da vida dentro da coletividade e obedeçam regras básicas de convivência.

Portanto, a mudança na educação do Brasil também é responsabilidade dos políticos. Sem dúvida, são eles quem devem prover os investimentos necessários ao bom desenvolvimento da educação, e sem medir esforços, promover a valorização dos professores, em todos os níveis de ensino, por meio de reajuste salarial equivalente ao trabalho realizado por esses profissionais. Com essas medidas, a primeira parte da formação humana dos nossos alunos, o “ensinar”, estaria cumprida.

Mas a educação é, primeiramente, dever e responsabilidade da família e de toda a sociedade. Os pais devem educar seus filhos, demonstrando da importância da disciplina para o aprendizado, do estudo, de serem justos com os outros, dignos em suas ações, respeitando as pessoas e a aplicando valores importantes para o convício social. Isso é educação. Papel de toda a família. Não é digno abdicar de um papel tão nobre quanto à educação de um filho, os pais, devem encarar com mais responsabilidade, esse encargo, e não somente enviar seus filhos à escola, no ledo engado de que lá se tornarão pessoas melhores. No máximo, conseguirá aumentar sua bagagem acadêmica.

Nesse sentido, a auto formação é uma tarefa muito difícil, é abstruso a uma pessoa alcançar qualquer tipo de evolução sozinha. Tanto o ensinar quanto o educar se torna mais fácil com o convívio e a submissão a alguém disposto a ajudar na execução de tal tarefa.

Portanto, desenvolver uma ciência, sozinho, é difícil, mas não impossível. Existem casos em todo o mundo, nos quais pessoas, sozinhas, demonstraram grande domínio em ciências, muitas vezes, complexas. Ao passo que outros envolvidos na mesma ciência não o conseguiram com a ajuda de um mestre.

Esse é o caso de Henri Ford (fundador da montadora de carros Ford), que ao observar um mecanismo que envolvia

roldanas, catracas, polias, rodas dentadas e alavancas, compreendia facilmente à interdependência entre as peças. Isaac Newton famoso cientista inglês, físico e matemático, desenvolveu grandes leis sobre o universo e o movimento dos planetas. E o brasileiro Machado de Assis escritor, considerado como o maior nome da literatura nacional, escreveu praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário.

Mas, a característica mais importante que essas pessoas carregavam consigo é, com toda a certeza, a simplicidade e a grandeza da própria força de vontade. O interesse pela pesquisa, descoberta e conhecimento é o maior prémio objetivado elas.

Portanto, podemos afirmar, a pesquisa e o desenvolvimento do próprio conhecimento é o maior e mais valioso bem alcançado pelo pesquisador/aluno autônomo.

Para demonstrar tais afirmações, passamos ao relato de experiência do senhor José Delotério, um Rábula (denominação dada aos autodidatas na área jurídica) mesmo tendo concluindo apenas a quarta série do ensino primário, desenvolveu e desenvolve o trabalho jurídico, demonstrando imenso conhecimento do Direito, que poucas pessoas conseguem adquirir, mesmo passando cinco anos nas cadeiras de uma faculdade. O relato e experiência desse homem é uma prova de que o aluno deve ser o protagonista da própria formação.

José Delotério Alves nasceu em 28 de fevereiro de 1922, em Piumhi-MG. Fez seu curso primário no Grupo Escolar Dr. Avelino de Queiroz, em sua terra natal, onde o concluiu no ano de 1934. Não conseguiu continuar os estudos, em virtude de duas circunstâncias: primeiro, porque descende de família de poucos recursos financeiros; segundo, porque na região do oeste mineiro, na época, não possuía nenhum estabelecimento de ensino de curso médio. A localidade geográfica mais próxima era de grande distância, o que acarretava altos custos financeiros para a família. Casou bastante jovem com Maria Aparecida Alves, mudando-se para Carmo do Rio Verde, sertão goiano, em 04 de abril de 1948, onde era difícil, senão quase impossível, pretender qualquer iniciativa de estudos, porque redundaria em prejuízo, não só da subsistência familiar, como também da criação e educação de sua família.

2 Desenvolvimento 2.1 Relato de experiência

Carmo do Rio Verde era um pequeno povoado no centro das matas de São Patrício, transformado em distrito da velha capital no final de 1948 em que foi instalado. Não tinha estradas, não tinha escolas, enfim não tinha quase nada.

Na eleição de 1950 sai como, primeiro Vereador, com acento na câmara de Goiás, sem nenhuma remuneração cuidei principalmente da criação de escolas (sala de aula na

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Vila Reis) colaboração vultosa na criação do “Grupo Escolas Wilson Balestra” e depois para o “Ginásio Estadual Maria Assunção de Azevedo”.

Em 1953 foi criado o município e instalado, oficialmente em 1º de janeiro de 1954, em 1956 fui nomeado Escrevente do 1º tabelionato de notas e Oficial do Registro Geral de Imóveis, prestando concurso público em 1959, logrando aprovação em 1º lugar.

Carmo do Rio Verde foi Termo Judiciário de Jaraguá, Uruana e depois Ceres. Na condição de Termo Judiciário foi servido por três Juízes Municipais (Dr. José Mota da Costa, Vicente Define e Dra. Maísa) que, embora fossem Bacharéis em Direito tinham atribuições limitadas, quais sejam: No cível até o despacho saneador; e no crime até a sentença de pronuncia, cujos processos, a partir daí passavam ao controle dos Juízes de Direito.

A começar do período de Termo, não haviam advogados aqui na cidade e eu como tabelião passei a ser nomeado indiscriminadamente, para defender em ambas as áreas todas as pessoas que demandavam e as que eram acusadas de qualquer espécie de delito. Isto durou entre 1956 até 1965, quando foi instalada a comarca.

Mesmo com a instalação da Comarca, e a presença do Juiz de Direito, a falta de advogado na cidade era uma constante, e assim foi que, com base no artigo 36 e 37 do Código de Processo Civil continuei sendo nomeado para exercer, ad hoc as funções de advogado da cidade.

A ausência de advogado na cidade e, segundo as precárias condições da maior parte da população, fui nomeado para defender o acusado Divino Raimundo Nonato, num dos processos de homicídio qualificado, mais complicado, até então existentes, patrocinei também a sua defesa perante o Tribunal do Júri da cidade.

Modéstia parte – desempenhei “segundo a opinião geral” um papel tão importante naquela sessão de Júri que o Doutor José Sebastião de Abreu que, na ocasião era Juiz de Direito da vizinha comarca Uruana, veio aqui assisti-lo acompanhado de sua esposa, Doutora Elizabeth de Abreu que, por sinal era a promotora da Comarca.

Terminada a leitura da sentença, fui comprimento e abraçado ainda na tribuna da defesa pelo Doutor Abreu que, em outras considerações, disse o seguinte:

“Sr. José – sempre ouvi dizer coisas a respeito a sua atuação, quer seja como exemplar servidor da justiça, digo também, como advogado do povo. Já como Juiz presidi dezoito sessões de Júri e, sem nenhum rodeio nem lisonja sou forçado dizer que somente cinco tiveram atuação tão brilhante como a do senhor” finalizando afirmou: “se eu fosse Reitor de alguma Faculdade ou Universidade lhe daria um diploma de doutor honoris causa”.

Um fato curioso aconteceu naqueles períodos: - o Doutor Abreu foi removido para a vizinha comarca de Rubiataba e sua esposa Doutora Elizabeth continuou como promotora aqui nesta cidade.

Não demorou muito que na comarca de Rubiataba aconteceu um pavoroso crime hediondo, de caráter passional. O crime em si atingiu uma família grande e bastante conceituada naquele município, e a repercussão foi extraordinária.

Numa caçada sem trégua o criminoso foi preso e, diante da reação popular, e iminente perigo de seu linchamento, foi trazido para a delegacia de polícia de Ceres, a qual também houve ameaça de invasão, tendo o criminoso sido levado para o quartel do batalhão da polícia em Uruaçu.

Para interrogatório do acusado, foi montada uma estratégia equivalente, quase a uma operação de Guerra, qual era: o Doutor Abreu que foi Coronel reformado da polícia e, como Juiz combinou com o Comandante do Batalhão para vestir uma farda de polícia do acusado vindo num ónibus lotado que chegaram de surpresa no fórum, interditando todas as adjacências; e só assim que o acusado foi interrogado e, imediatamente retornado ao batalhão de Uruaçu sem que a população tivesse qualquer participação.

Daí para frente iniciou o calvário do Doutor Abreu, com a nomeação e recusa seguida de todos os advogados da Comarca, e também dos solicitadores acadêmicos, temerosos ou não querendo arriscar incompatibilidades com a família da vítima.

Foi naquela encruzilhada que eu estando dentro do cartório e, por telefone contatado pelo Doutor Abreu dizendo-me: - “senhor José estou necessitando de sua colaboração para defender um criminoso aqui na comarca porque, todos se recusaram”, ao que lhe respondi “Doutor Abreu essa causa é muito pesada para quem não tem diploma”, com aquilo não se convencendo o Doutor Abreu disse finalmente – “senhor José, não acredito que o senhor vai me negar essa tão valiosa colaboração”.

Naquela contingência resolvi aceitar aquele pesado encargo, com uma condição: “Doutor Abreu, patrocinarei a defesa do acusado, somente até a contrariedade do libelo”, no que foi prontamente aceito, pegando o processo trazido pela Doutora Elizabeth, fazendo a defesa prévia.

Logo depois foi designada a audiência instrutória criminal, tendo o Doutor Abreu mandado seu motorista particular, no seu carro, comboiado por escolta policial para me dar garantia, dada a beligerância do clima que envolvia aquela dramaticidade, no que fui levado participei ativamente da audiência, até altas horas da madrugada com o salão de audiência e o Fórum, protegidos pela polícia.

Feitos os memoriais e, por ocasião da contrariedade do libelo veio o Doutor Abreu pessoalmente trazer o processo o qual me entregou. Após algumas confabulações acerca do rumoroso processo falou-me o Doutor Abreu: - “Senhor José, o senhor não está pensando em desaforar o julgamento desse processo porque, vou lhe ser franco: se o senhor não pedir, serei obrigado a fazê-lo como último recurso, porque não farei esse Júri aqui em Rubiataba, porque não vou colocar em risco a minha pessoa, a do promotor, da defesa e nem do acusado, como também dos jurados e da população”.

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Ali mesmo naquele instante respondi ao doutor Abreu: “Já estava pensando seriamente nisso, porém, estava dependendo de uma conversa com o senhor, exatamente porque a palavra do Juiz é decisiva para que tal coisa aconteça”.

O processo ficou comigo. Elaborei cuidadosamente dentro das minhas limitações a contrariedade do libelo. Em seguida tirei do processo todas as peças que se fizeram necessárias por fotocópia. Mandei autentica-las. Depois de um enorme esforço mental, elaborei pela primeira vez na carreira, o pedido de desaforamento diretamente ao Tribunal de Justiça porque, considerei que aquele julgamento não podia realizar-se nas comarcas vizinhas, porque o risco de linchamento do acusado era o mesmo. Colocando o pedido de desaforamento no correio, registrado sob “Aviso de Recebimento”, tudo a minhas expensas, colocando cópia no processo, o qual foi devolvido ao Doutor Abreu.

Na condição de serventuária da justiça que eu era, era também assinante do “Diário da Justiça” ao qual montei vigilância aguardando a publicação da pauta de julgamento, tomei dela conhecimento. Não tive dúvida: peguei condução dirigi para Goiânia e, dentro do Tribunal compareci perante a câmara criminal designada, me apresentei como defensor dativo pedindo inscrição para fazer a sustentação oral do julgamento.

Qual não foi a minha surpresa agradável, quando a diretora da secretaria me mandou para o departamento apropriado acompanhado de um oficial de justiça para pegar a toga de advogado e, daquela maneira poder atuar na cessão de julgamento.

Aberta a cessão e, encontrando minha inscrição determinou-me que tomasse acento à tribuna da defesa, ocasião em que se iniciou o julgamento com a leitura do relatório, passando-me o processo e dando-me a palavra para proferimento da sustentação.

Recordo-me com toda a tranquilidade que fiz de improviso uma sustentação de conteúdo tão convincente que, logo após o término saiu o voto concessivo do desaforamento para Goiânia, aprovado pela unanimidade dos componentes daquela câmara, dando eu por terminada as minhas tarefas de cumprimento daquele “múnus publicum”, mesmo na qualidade de cidadão.

Na condição de defensor dativo funcionei também na comarca de Uruana, a pedido do então Juiz Doutor Eldeucio Fagundes, também em processos de difíceis implicações, e de grande repercussão social, também na recusa dos advogados lá existentes.

Encurtando um pouco essas considerações, a extenssão de todos os serviços que prestei não só como serventuário da justiça, por longos anos, até a minha aposentadoria, também como advogado dativo só poderá ser inteiramente avaliada, caso alguém, muito idealista e, com pendor de historiar poderão ser levantadas se fizeram uma incursão nos arquivos do fórum de Carmo do Rio Verde.

A par de todas essas atuações, com destaque junto ao

setor da educação e da cultura que, foi tão intensa que, no ano de 1979, fui convidado para ser paraninfo da 1º turma de normalistas do colégio Maria Assunção de Azevedo, ocasião em que prazerosamente aceitei, compareci ufanamente naquela extraordinária solenidade e proferi um discurso sobre “o agravamento da situação sócio econômica, e o papel da juventude”

Qual não foi a minha satisfação, quando em agosto de 1984 recebi o mais honroso de todos os convites, para proferir palestra sobre Direito Imobiliário, Direito da Propriedade, e a legislação que lhe diz respeito na Faculdade de Direito de Anápolis, lá compareci acompanha pelo Doutor Delson José Santos, sendo encaminhado diretamente para a sala da reitoria, de onde sai rodeado de uma comissão de alunos até a mesa dos trabalhos.

Naquela ocasião – lembro-me muito bem. Proferi uma palestra sobre os temas já referidos que, durou mais de três horas seguidas, no clima da maior cordialidade e atenção. Acredito que fui tão feliz e empolgante que recebi a ovação de todos os presentes, que me aplaudiram de pé por mais de quinze minutos. O meu grande pesar – é o de que aquela palestra não foi filmada nem gravada. Paciência.

Por igual aconteceu no mês de novembro de 2005 quando fui convidado também para palestrar na Faculdade de Direito de Rubiataba, proferindo também palestra de grande extensão, sendo também muito aplaudido.

A par de todos esses acontecimentos, embora aqui retratados resumidamente, tenho a dizer que, durante toda a minha existência aqui nessa cidade de Carmo do Rio Verde já proferi mais discursos, mensagens, artigos escritos assinados e publicados em vários jornais, talvez em maior número do que os gols feitos pelo Pelé com a camisa 10 da seleção brasileira.

Desde que me aposentei e, a partir de 1989 idealizei e abri em nome de meus familiares, já formados e com licenciatura da OAB, o escritório denominado “Penafiel Advocacia”, um dos mais conceituados do Vale do São Patrício, onde continuo, até hoje, mercê de Deus prestando minha modesta colaboração coadjugadora dos trabalhos do referido escritório, durante todos os expedientes normais, dos quais nunca tive, nem desejo ter férias.

José Delotério Alves

O relato de experiência acima é mais uma prova de que a autonomia, em busca da superação dos próprios limites, ultrapassa todas as dificuldades e deficiências provenientes da desorganização social em que vivemos. A educação familiar, os ensinamentos de uma escola fazem um ser humano melhor, mais consciente e mais capaz de encontrar seu lugar no mundo.

Pelo exposto fica muito fácil entender que não existe o “ensinar” sem a figura do “aprender”, mas a recíproca não é verdadeira. Tendo em vista que é completamente possível aprender sem a interferência externa, mas ensinar sem ninguém para receber o ensinamento é impossível.

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2.2 Entre o ensinar e o aprender

Todos os conhecimentos na área jurídica, adquiridos por José Delotério, foram moldados por ele próprio. Fora dos muros institucionais de uma universidade.

Em uma escola/universidade, o objetivo principal é a aprendizagem do aluno, que ele tenha êxito na descoberta de uma nova ciência. Dessa forma no processo ensino-aprendizagem o aluno deve ser visto como o personagem principal, e não o professor, como era o entendimento de anos passados.

Ensinar, sem dúvida, é tarefa do professor, mas como o esse é dicotômico, aprender é dever do aluno. Como salienta Paulo Freire (1996, p.13):

É preciso, [...] que o formando, desde o princípio mesmos de sua experiência formadora, assumindo-se como sujeito também da produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar a possibilidade para a sua produção ou a sua construção.

O aluno deve estar ciente da importância do seu papel na sua aprendizagem, uma vez que ensinar não é transferir conhecimento, mas sim produzi-lo e/ou construi-lo. E logo em seguida Freire (1996, p. 13) ainda afirma “quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado”. Com essa afirmação um pouco confusa – mas que se desdobra ao caminhar da obra – o autor quis demonstrar exatamente, a relação ambivalente da educação, onde o professor ensina e aprende enquanto exerce sua função educativa e o aluno por sua vez, aprende e ensina na mesma circunstância.

Por ser uma relação de mão dupla, com papeis distintos entre as partes, cada um deve desempenhar com grande maestria seu dever. Só assim será alcançada a aprendizagem efetiva. O professor deve se preparar com todas as armas para proporcionar uma boa aula, mas o aluno – por ser o personagem principal do processo ensino-aprendizagem – muito mais importante que o professor, deve exercer seu papel de leitura, releitura, pesquisa, análise e síntese com a bravura de um guerreiro. Porque é ele, o protagonista de sua própria educação, porque é ele o formador de suas opiniões e convicções.

Enquanto teoria do ensino, o trabalho do professor não pode ser alheio à aprendizagem do aluno, lembrando que conhecer é estabelecer relações sobre um determinado objeto/ conteúdo. O aluno, em sala de aula, vai construir o seu conhecimento fazendo o percurso da síncrese para a síntese pela mediação da análise, uma vez que este é o caminho geral de construção do conhecimento.

Explicativamente, a síncrese é compreendida pelo processo de confusão mental, instalado logo ao primeiro acesso com a matéria estudada. Como quando lemos pela primeira vez um texto, e não temos completo entendimento das palavras e termos técnicos usados para sua redação, dessa forma, o processo de entendimento do texto é um pouco mais lento do que para uma pessoa que tem domínio sobre os termos

usados. Essa “confusão” não é de todo ruim, pois é através da sistematização desse conflito, se alcançará o conhecimento.

A análise é, justamente, a sistematização da síncrese. É com a análise do conteúdo escuro, que o aluno desenvolverá seu entendimento sobre o tema estudado. A síntese, portanto, é a conclusão do conhecimento. Com ela o aluno poderá discorrer sobre o conteúdo estudado e repassar o conhecimento, de forma natural.

Então, faz-se muito importante, nessa hora do trabalho, destacar a abordagem vygotskyana sobre as relações existentes entre os processos de desenvolvimento e a capacidade de aprendizado. Ele afirma a existência de dois níveis de desenvolvimento: o primeiro, nível de desenvolvimento real. Caracterizando aquilo que o indivíduo consegue fazer ou resolver sozinho, de forma autônoma. O segundo é o nível de desenvolvimento potencial, caracterizado pela potencialização do desenvolvimento real – pela ajuda ou mediação do outro, de material pedagógico ou de uma estratégia didática. (VYGOTSKY 1998).

Dessa maneira, Vygotsky (1998, p.112) introduz o importante conceito de zona de desenvolvimento proximal, definido como:

[...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.

Assim ratifica-se o afirmado em folhas volvidas. O aluno é o centro do processo de aprendizagem, sendo capaz de desenvolver seu conhecimento mesmo que de forma autônoma. Mas quando o processo é acompanhado por um professor, material pedagógico ou estratégia didática, há a potencialização da produção do conhecimento.

Esse processo de potencialização do conhecimento acontece em outras circunstâncias, como: quando existe excepcional interesse do indivíduo, ou necessidade extrema de superação. Como no relato de experiência de José Delotério Alves, que mesmo tendo somente os estudos iniciais, explorando seu nível de desenvolvimento potencial, desenvolveu sozinho, grande conhecimento jurídico, superando o zoneamento de desenvolvimento real – segundo a teoria de Vygotsky – uma pessoa desenvolve potencialmente com a ajuda de outro, mas no caso citado, o desenvolvimento foi potencializado por necessidade extrema de superação.

Essa relação de aprendizagem autônoma, ligada ao despertar do interesse do próprio aluno, é tema de grande discussão, não restando dúvida quanto à superioridade do desenvolvimento educacional de um aluno interessado em relação a outro completamente desmotivado.

Esse tema foi muito bem configurado por Rubem Alves (2010, p.20-21), em sua obra intitulada: Entre a ciência e a sapiência. O autor é muito feliz ao afirmar que a arte e a beleza superam a ciência. A vontade atinge níveis supremos, fazendo uma observação cómica, pertinente e elucidativa:

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Faz dias vi na televisão um anuncio que já vira muitas vezes. Campos verdes se perdendo no horizonte, riachos de água cristalina, bosques, cavalos selvagens livres, em galope. A imagem era cheia de beleza. Utópica. Impossível não desejar estar lá. Era o anúncio de Marlboro. Logo depois, por alguns segundos na tela, a advertência: ‘O Ministério da Saúde adverte: o fumo pode causar câncer’. Dos dois, qual é o verdadeiro? É a advertência do Ministério da Saúde. Trata-se de uma verdade cientificamente comprovada. Já o anúncio seduz pela beleza, mas mente ao sugerir que o cigarro é o caminho para a beleza desejada. Contudo, não conheço nenhuma pessoa que tenha sido convencida pela verdade da ciência. Conheço muitas, entretanto, que foram mortalmente seduzidas pela beleza da imagem. A verdade fica guardada na cabeça. Mas a beleza faz amor com o corpo.

Merecedor de aplausos, por essa poética inferência sobre o despertar do interesse do ser humano, Rubem Alves (2010) demonstra em um parágrafo de sua obra, o que realmente desperta os sentimentos humanos. Não é a verdade da ciência, mas sim a beleza da imagem.

Nesse contexto, a beleza da imagem, pode ser substituída por qualquer outra coisa que desperte o interesse no indivíduo. Assim ele se sentirá satisfeito e motivado para aprender alguma ciência.

E é justamente esse o papel do professor. Produzir conhecimento, criar um ambiente propício para que ele seja efetivamente construído. O docente sozinho, não consegue ensinar, porque não existe docência sem discentes, mas para atrair estes, aquele deve se valer da beleza e sedução da arte, e assim transmitir as verdades da ciência.

O processo de construção do conhecimento em sala de aula requer uma interação direta, entre professores-alunos e alunos-alunos. Aqui compreendendo sala de aula, como qualquer espaço físico, aberto ou fechado onde o objetivo é a produção do conhecimento.

Como afirma Freire (1996, p.26):

Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar. Foi assim, socialmente aprendendo, que ao longo dos tempos mulheres e homens perceberam que era possível - depois, preciso – trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar. Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente fundante de aprender. Não temo dizer que inexiste validade do ensino de que não resulta um aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado, em que o ensinado que não foi apreendido não pode realmente aprendido pelo aprendiz. Uma pergunta antiga, cômica, mundialmente conhecida – e ainda discutida pela ciência é: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? – pelo afirmado por Paulo Freire, o aprender precede ao ensinar, não restando dúvida, diferentemente da pergunta universal sem solução. Foi “aprendendo” que se descobriu a possibilidade de “ensinar”.

Portanto, foram os alunos quem criaram os professores, e não o contrário. Ressaltando mais uma vez: o aluno é o centro da relação de ensino-aprendizagem, devendo se portar como tal. Porque, se em uma universidade, tiver um professor que não consegue ou não tem compromisso com o ensino,

ele é prontamente substituído por outro. Mas o aluno, que não se preocupa com sua aprendizagem e não se empenha para alcançar o conhecimento, não será substituído, mas sairá da faculdade, exatamente como entrou, sem nenhuma transformação quanto a seus conhecimentos.

Não podendo, nesse caso, ser considerado como um personagem do processo ensino aprendizagem, a saber, o sucesso só é obtido por quem se dispõe a ser protagonista e atuar ativamente em busca do próprio conhecimento.

3 Conclusão

Portanto, é completamente possível concluir que, mesmo estando em condições não favoráveis ao ensino ou a aprendizagem, o aluno, por meio de seu interesse e força de vontade, pode promover seu desenvolvimento intelectual.

O relator da experiência acima demonstrou que, apesar de não ter tido, as mínimas condições que proporcionassem conhecimentos jurídicos. Ou seja, não concluiu nem mesmo o ensino fundamental. Pois faltava escola, professores, e condições para buscá-los. Só foi possível descobrir os ensinamentos jurídicos com muita força de vontade e excepcional interesse individual, conseguindo se informar, e descobrir que poderia fazer toda a diferença na própria formação, proporcionando a quem lhe assistia um grande exemplo de autoconstrução.

O educar e o ensinar são faces diferentes de uma mesma moeda: a formação pessoal de um indivíduo, educação e ensinamentos. A primeira é papel dos pais e familiares, pelo já exposto introdutoriamente, e o segundo, papel das instituições de ensino, professores, tutores, educadores, juntamente com o interesse em aprender do aluno – que julgamos ser o fator mais importante.

A maioria dos pais, alunos e entidades reguladoras da educação, tendem a colocar nos ombros das instituições de ensino, ou mais especificamente, nos ombros dos professores, todo o encargo relacionado à educação, instrução e preparação do discente ao mundo e ao campo de trabalho.

Dessa forma, as instituições são julgadas e condenadas, por não conseguir despertar no aluno, o interesse na pesquisa, descoberta e iluminação educacional. O que, não é responsabilidade exclusiva da faculdade, universidade ou escola. Ninguém obriga ninguém a aprender.

Sem dúvida, a instituição de ensino, deve proporcionar condições para que o estudo e a pesquisa sejam objetivos a serem alcançados dentro de seus muros. E isso é cumprido, em grande parte delas.

Nesse sentido, o papel do aluno, não é apenas o de estar presente em sala de aula, ou participar das atividades institucionais, coisa que muitos não cumprem. Mas também dispor de seu tempo, extraclasse, para o desenvolvimento da própria aprendizagem. De pouco adianta a presença em sala de aula, escutando o direcionamento dos professores, se o aluno não se firma no conhecimento, trilhando seu próprio caminho, seguindo o que foi dito pelo mestre em sala de aula.

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Se uma pessoa simples, como José Delotério Alves, através de excepcional interesse e força de vontade, sem nenhuma infraestrutura para tanto, desenvolveu seu próprio conhecimento nas áreas jurídicas. É claramente possível, muito mais do que era para a dita pessoa, que um jovem estudante, acompanhado de uma grande estrutura institucional, ao lado de mestres capazes e ansiosos para proporciona-lo um momento de direcionamento, possa alcançar seu mais elevado patamar do conhecimento.

Portando o que falta a esses alunos, que não reconhecem a importância da instrução do professor, e não se preocupam com a própria formação acadêmica, é simplesmente se importarem um pouco mais com a própria aprendizagem e passarem a desenvolver dentro de si mesmos as qualidades de um protagonista deixando de ser coadjuvantes da própria educação.

Finalmente, o que deve ocorrer é a junção de professores e alunos, em busca da construção do conhecimento. E não, alunos contra professores, um culpando o outro pela falta de conhecimento e educação no Brasil. Mais uma vez afirmo, a educação é função da família, os ensinamentos, objetivo

dos professores. Mas o conjunto da obra – a formação de uma pessoa quanto cidadão e a solução do defeito na educação do Brasil – deve ser objetivo de todo brasileiro, iniciando pela autonomia da própria formação, passando pela assistência concisa de toda a sociedade e participação efetiva do Estado.

Referências

ALVES, R. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. São Paulo: Loyola, 2010.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

PEREIRA, E.W.; TEIXEIRA, Z.A. Reexaminando a educação básica na LDB: o que permanece e o que muda. 2007. Disponível em: http://www.anpae.org.br/congressos_antigos/ simposio2007/147.pdf. Acesso em: 21 out. 2011.

VELASQUEZ, M.G. O papel dos pais e os limites na educação dos filhos. 2011. Disponível em: <http://www.mp.go.gov.br/ portalweb/hp/8/docs/o_papel_dos_pais_e_os_limites_na_ educacao_dos filhos.pdf>. Acesso em: 11 out. 2011.

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Referências

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