O GÊNERO CROTALARIA L. (LEGUMINOSAE-FABOIDEAE) NA PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO DO ALTO RIO PARANÁ, BRASIL Jéssica Magon Garcia (PIBIC/Fundação Araucária-UEM), Maria Conceição
de Souza (Orientadora), Liliana Rodrigues (Co-orientadora), e-mail: conceicao@nupelia.uem.br.
Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Biologia/Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura/Maringá, PR.
Área de Ciências Biológicas e sub-área de Taxonomia Vegetal (2.03.04.00-5)
Palavras-chave: Fabaceae, vegetação ripária, levantamento florístico Resumo:
Com a crescente devastação e o insipiente conhecimento da biodiversidade é essencial a intensificação de levantamentos florísticos, em especial nas áreas ripárias pela importância dos ecossistemas aquáticos. Nesse contexto, teve-se por objetivo realizar um levantamento florístico do gênero Crotalaria L. (Leguminosae-Faboideae) no trecho superior da planície de inundação do alto rio Paraná (MS e PR) localizada a, aproximadamente, 22º38' - 22º57' S e 53º05' - 53º36' W. O material de estudo foi proveniente de coletas e do acervo do herbário HUEM. Procedeu-se a identificações, revisões e confirmações taxonômicas, descrições morfológicas, elaboração de chave de identificação e ilustrações para as espécies. Foram encontradas C. incana L., C. lanceolata E. Mey., C. micans Link, C. pallida Aiton e C. vespertilio Benth. Exclusivas para o estado de Mato Grosso do Sul ocorreram C. micans e C. vespertilio, enquanto que as demais foram comuns para ambos os Estados.
Introdução
O gênero Crotalaria L. pertence à família Leguminosae, subfamília Faboideae e à tribo Crotalarieae (Benth.) Hutch., de acordo com Polhill (1981). Constitui-se num dos maiores gêneros da família, com 690 espécies, distribuídas em regiões tropicais e subtropicais, principalmente no hemisfério Sul (Lewis et al., 2005). Caracteriza-se pelo porte herbáceo ou arbustivo; folhas trifolioladas ou unifolioladas; flores predominantemente amarelas; androceu com filetes em tubo monadelfo aberto na base e anteras dimorfas, e legumes inflados. Podem ser encontradas próximas a rios, orla de matas, morros litorâneos, restingas, campos e cerrados, além de constituírem invasoras de culturas e de margens de estradas (Flores e Miotto, 2005).
A planície de inundação do alto rio Paraná (PIARP) constitui-se num dos centros de estudos em Ecologia, vinculados ao PELD/CNPq (sítio 6). Sua flora vascular reúne 128 famílias, 575 gêneros e 955 espécies, com dominância de Leguminosae (ou Fabaceae) com 104 espécies (Souza et al.,
2009), destacando-se a subfamília Faboideae. Essa representatividade tem despertado o interesse no aprofundamento dos estudos taxonômicos de Leguminosae, sendo que o objetivo deste estudo foi o levantamento do gênero Crotalaria L., associado à elaboração de chaves de identificação, descrições e ilustrações das espécies, buscando-se facilitar o reconhecimento futuro das mesmas.
Materiais e métodos
A área de estudo compreende o trecho superior da planície de inundação do alto rio Paraná, abrangendo áreas dos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul a, aproximadamente, 22º 38' a 22º 57'S e 53º05' a 53º36'W. Incluem-se ilhas e áreas marginais do rio Paraná e dos principais tributários para essa região onde estão inseridas áreas da APA Federal das Ilhas e Várzeas do rio Paraná (PR e MS) e do Parque Estadual do Rio Ivinhema (MS). O clima da região é do tipo subtropical (Cfa), segundo Koeppen, com temperatura média anual superior a 22ºC (Iapar, 2000). A vegetação pertence ao Bioma Mata Atlântica e à Floresta Estacional Semidecídua, compreendendo desde áreas secas aos pântanos com solos permanentemente inundados (Souza et al., 2009).
Foram realizadas coletas de agosto de 2009 a julho de 2010, de plantas ou amostras de ramos com folhas, flores e/ou frutos. Para cada planta foram feitas anotações sobre localização, data, coletor e características morfológicas, como altura, coloração e odor, além de registros fotográficos. As amostras coletadas foram devidamente herborizadas e acervadas no Herbário HUEM – Coleção Especial Vegetação Ripária/Nupélia. Foi incluído o material do referido Herbário, oriundo da mesma área de estudo.
Foram realizadas e conferidas identificações taxonômicas, baseando-se em análibaseando-ses morfológicas e literatura sobre o gênero (Bentham, 1859; Burkart, 1952; Flores e Miotto, 2001), e elaboradas chave de identificação, descrições e ilustrações para as espécies.
Resultados e Discussão
Caracterização do gênero Crotalaria L., na PIARP
Porte arbustivo; filotaxia alterna espiralada. Folhas simples ou 3-folioladas. Estípulas filiformes ou subuladas, persistentes ou caducas. Racemos terminais, multifloros ou paucifloros; brácteas e bractéolas filiformes, subuladas, triangulares ou lanceoladas, persistentes ou caducas. Cálice campanulado; lacínias 5, adpressas ou livres no ápice, maiores ou menores que o tubo calícino. Pétalas 5, frequentemente com estrias avermelhadas. Ovário súpero; estilete curvo; estigma capitado, piloso. Legume inflado, estipitado ou séssil. Semente assimétrica, reniforme, glabra. Na PIARP foram encontradas cinco espécies (Fig. 1).
Chave de identificação para espécies de Crotalaria L. ocorrentes na PIARP
1- Ramos com ala internodal frequentemente presente; folhas simples; cálice bilabiado; estandarte com 2 apêndices basais; ovário e fruto glabros …...C. vespertilio Benth. 1'- Ramos com ala internodal ausente; folhas 3-folioladas; cálice não bilabiado, tubuloso e com 5 lacínias; estandarte sem apêndices basais; ovário e fruto pubérulos a pubescentes, raramente glabros ...2
2- Estípulas ausentes; folíolos lineares; frutos não estipitados ...C. lanceolata E.Mey.
2'- Estípulas presentes; folíolos elípticos a obovados; frutos estipitados ...3 3- Pecíolos frequentemente maiores que o folíolo terminal; folíolos 0,8-2,5 cm comp. x 0,5-1,5 larg.; brácteas e bractéolas persistentes; frutos pubescentes ...C. incana L. 3'- Pecíolos frequentemente menores que o folíolo terminal; folíolos 2,2-7,2 cm comp. x 1,5-4,0 larg.; brácteas e bractéolas caducas; frutos pubérulos a glabros ...…...4
4- Pecíolos 3,0-6,0 cm comp.; brácteas 0,5-0,8 cm comp.; bractéolas inseridas no ápice do pedicelo; frutos eretos ou patentes ....C. micans Link 4'- Pecíolos de 1,5-4,5 cm compr.; brácteas de 0,3-0,4 cm compr.; frutos pêndulos.…...C. pallida Aiton Conclusões
As identificações e revisões taxonômicas, a elaboração da chave de identificação, as descrições e as ilustrações, contribuíram com o levantamento e o reconhecimento de cinco espécies da família Leguminosae para a PIARP.
Referências
BENTHAM, G. Leguminosae: Papilionaceae. In: MARTIUS, C.F.P.; ENDLICHER, A.C. & URBAN, J. (eds.). Flora Brasiliensis. Munique, 1859, v. 15.
BURKART, A. Las leguminosas argentinas: sylvestres y cultivadas. Buenos Aires: ACME Agency, 1952.
FIDALGO, O.; BONONI, V.L.R. Técnicas de coleta, preservação e herborização de material botânico. São Paulo: Instituto de Botânica/ Secretaria do Meio Ambiente, 1989.
FLORES, A.S.; MIOTTO, S.T.S. O gênero Crotalaria L. (Leguminosae-Faboideae) na região Sul do Brasil. Iheringia Série Botânica 55: 189-247, 2001.
FLORES, A.S.; MIOTTO, S.T.S. Aspectos fitogeográficos das espécies de Crotalaria L. (Leguminosae – Faboideae) na região Sul do Brasil. Acta Botanica Brasilica. v. 19, n. 2, p. 245-249, 2005.
IAPAR - Instituto Agronômico do Paraná, Curitiba. Cartas climáticas do Estado do Paraná. Londrina: IAPAR, 2000.
LEWIS, G.P.; SCHRIRE, B.; MACHINDER, B. & LOCK, M. Legumes of the world. Kew: Royal Botanic Gardens. p. 577, 2005.
POLHILL, R.M. Tribe 29. Crotalarieae (Benth.) Hutch. In R.M. Polhill & P.H. RAVEN (eds.). Advances in Legumes Systematics. Part. 1. Kew: Royal Botanic Gardens. p. 399-402, 1981.
SOUZA, M.C. de; KITA, K.K.; SLUSARSKI, S.R.; PEREIRA, G.F. Vascular flora of the Upper Paraná River floodplain. Brazilian Journal of Biology. v. 69, n. 2, p. 735-745, 2009.
Figura 1 – Crotalaria L. na PIARP. Na seqüência: C. incana L. (1); C. lanceolata E. Mey. (2);
C. micans Link (3); C. vespertilio Benth. (4) e C. pallida Aiton (5). A: ramo; B: cálice; C:
