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156457933 Laplanche Teoria Da Seducao Generalizada

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Psicoan:clilit:(J do Aw de Ler c ..-\prender

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Teoria

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(3)

l314t l.aplanche, Jean

Teoria da sedução generalizada e outros ensaios I Jean l.aplanche : trad. [de] Doris Vasconcellos. - Porto Alegre : Artes Médicas. 1988.

126p. : il. : 23cm.

1. Psicanálise. 2. Sexo (Psicanálise). I. Vasconcellos, Doris. 11. Título.

C.D.D. C.D.U.

616.8917 577.8:159.964.28

Índices Alfabéticos pm o Catálogo Sistemático

Sexo: Psicanálise Sexualidade: Psicanálise Psicanálise: Sexo Psicanálise: Sexualidade 577.8:159.96428 577.8:159.96428 159.964.28:577.8 159.964.28:577.8 (Bibliotecária responsável: Sonia H. Vieira CRB-1 0526)

JEAN LAPLANcHE

Teoria

da Sedução

tterallzada

e outros ensaios

Tradução: DORIS VASCONCELLOS

Do Laboratório de Psicanálise e Psicopatologia da Universidade de Paris VIl (dirigido por Jean Laplanche)

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l314t l.aplanche, Jean

Teoria da sedução generalizada e outros ensaios I Jean l.aplanche : trad. [de] Doris Vasconcellos. - Porto Alegre : Artes Médicas. 1988.

126p. : il. : 23cm.

1. Psicanálise. 2. Sexo (Psicanálise). I. Vasconcellos, Doris. 11. Título.

C.D.D. C.D.U.

616.8917 577.8:159.964.28

Índices Alfabéticos pm o Catálogo Sistemático

Sexo: Psicanálise Sexualidade: Psicanálise Psicanálise: Sexo Psicanálise: Sexualidade 577.8:159.96428 577.8:159.96428 159.964.28:577.8 159.964.28:577.8 (Bibliotecária responsável: Sonia H. Vieira CRB-1 0526)

JEAN LAPLANcHE

Teoria

da Sedução

tterallzada

e outros ensaios

Tradução: DORIS VASCONCELLOS

Do Laboratório de Psicanálise e Psicopatologia da Universidade de Paris VIl (dirigido por Jean Laplanche)

(5)

© da Editora Artes Médicas Sul Ltda .• 1 988

Capa:

Mario Rõhnelt

Supefl'isào editorial:

Paulo Flavio l.edur

Diagramação. arte e composição:

AGE -- Assessoria Grafica e Editorial Ltda.

Reservados todos os direitos de publicação à

EDITORA ARTES MÉDICAS SUL LTDA.

Av. Jerônimo de Ornelas. 670- Fone (0512) 30-3444

Loja centro: Rua General Vitorino. 277- Fone (0512) 25-8143 90040 Porto Alegre. RS - Brasil

IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL

SUMÁRIO

1 - Os princípios do funcionamento psíquico: Tentativa de esclarecimento 7

2 - Interpretar (com) Freud ... 21

3 - O estruturalismo diante da psicanálise ... 33

4 Uma meta psicologia à prova da angústia... 38

5 - É preciso queimar Melanie Klein?... 50

6 - Reparação e retribuição penais: uma perspectiva psicanalítica... 60

7 - A pulsão e seu objeto-fonte: seu destino na transferência... 72

8 - Traumatismo. tradução, transferência e outros trans(es) ... 84

9 - A pulsão de morte na teoria da pulsão sexual ... 97

(6)

© da Editora Artes Médicas Sul Ltda .• 1 988

Capa:

Mario Rõhnelt

Supefl'isào editorial:

Paulo Flavio l.edur

Diagramação. arte e composição:

AGE -- Assessoria Grafica e Editorial Ltda.

Reservados todos os direitos de publicação à

EDITORA ARTES MÉDICAS SUL LTDA.

Av. Jerônimo de Ornelas. 670- Fone (0512) 30-3444

Loja centro: Rua General Vitorino. 277- Fone (0512) 25-8143 90040 Porto Alegre. RS - Brasil

IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL

SUMÁRIO

1 - Os princípios do funcionamento psíquico: Tentativa de esclarecimento 7

2 - Interpretar (com) Freud ... 21

3 - O estruturalismo diante da psicanálise ... 33

4 Uma meta psicologia à prova da angústia... 38

5 - É preciso queimar Melanie Klein?... 50

6 - Reparação e retribuição penais: uma perspectiva psicanalítica... 60

7 - A pulsão e seu objeto-fonte: seu destino na transferência... 72

8 - Traumatismo. tradução, transferência e outros trans(es) ... 84

9 - A pulsão de morte na teoria da pulsão sexual ... 97

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OS PRINCÍPIOS DO

FUNCIONAMENTO PSÍQUICO

TENTATIVA DE ESCLARECIMENTO*

O título deste texto indica claramente seu campo e seus limites. Trata-se de um esclarecimento de metapsicologia que se refere. portanto. aos fundamentos básicos da nossa teoria. Apresentar aqui minhas idéias sobre um ponto fundamental da nossa doutrina. sem tentar dissimular as dificuldades teóricas com exemplos clínicos mais ou menos adventícios. peças escolhidas e retomadas de uma experiência que

é nossa referência comum.

"Tentativa de esclarecimento": estes termos querem marcar que nossa reflexão tomará como ponto de partida o que Freud chamou de Prinzipien des psychischen Geschehens.

No texto de 1911 que leva este título. dois princípios são enunciados: prazer e realidade. e sozinhos já bastam para nos embaraçar. Todos nós os utilizamos: alguns. talvez. sem escrúpulos. outros com um pouco mais de reserva: não são. se desculpam. o que se diz deles vulgarmente ... Mas quem dentre nós não é, hoje em dia e alternativamente. às vezes este psicanalista vulgar que, quando é preciso atender ao mais urgente. na clínica, para o relatório rápido de uma cura, a explanação simples que vai fazer a principiantes. agarra-se às concepções teóricas estereotipadas. e, às vezes. que, na calma de uma reflexão ou de discussões que se pretendem mais aprofundadas, coloca entre aspas os termos clássicos que ainda emprega, para testemunhar que o psicanalista realmente está "noutro lugar" e que a psicanálise autêntica é "outra coisa"?

Nossa finalidade aqui não é de alimentar esta cômoda duplicidade. Mas tentar introduzir alguma clareza em referências confusas e múltiplas. Confusas: as definições são freqüentemente feitas de aproximações. e o próprio Freud referiu-se mais de

*Texto baseado em conferências proferidas em Strasbourg e Paris.

(8)

uma vez à necessidade que sentia de manter ao menos provisoriamente uma certa ambigüidade. Múltiplas: o princípio de prazer e o princípio de realidade não são os únicos enunciados. Encontramos ainda o princípio de constância. o princípio de estabilidade (por referência a Fechner). o princípio de Nirvana. o princípio de inércia neurônica da' Entwu?f ... Sem contar as pulsões de vida e de morte! das quais. há muito tempo. àssinalamos que se situam num plano mais geral. mais importante. que o plano propriamente pulsional.

Multiplicidade e confusão exigem que se ponha em ordem. Como operar? Pode-mos nos contentar com uma espécie de imagem composta? Permitir-nos-emas esco-lher o que nos agrada em função dos progressos realizados depois de Freud?

Nosso método

É uma reflexão sobre a obra de Freud e sua experiência. alimentada evidente-mente, controlada pela nossa experiência de psicanalista. Esta reflexão. inseparável para mim na sua gênese de um trabalho desenvolvido em comum com J.-8. Pontalis sobre os conceitos fundamentais da nossa ciência. como caracterizá-la? Talvez por dois termos: problemática e histórico-estrutural. Problemático. nosso método quer. em primeiro lugar. ser analítico. se possível em todos os sentidos do termo. caminhando passo a passo em contato com os textos. utilizando as contradições que não podem ser tratadas todas da mesma forma. algumas podendo ser consideradas como adven-tícias. outras devendo ser utilizadas dialeticamente. sllia como contradições do pensa-mento. seja como contradições da própria coisa (que se pense por exemplo. na noção de Ego ou no uso freudiano da biologia). "Analítico", nosso enfoque leva a interpretações que absolutamente não se recusam a declarar-se abertamente como tal.

É através da interpretação que unimos as noções de história e de est[u_tura: trata-se de tentar reencontrar. através dos rerlian~ds estruturais ou

das

contradições aparentes. das exigências. das correspondências. produtos freqüentemente de verda-deiros "deslocamentos" no sentido psicanalítico do termo: noções. elementos doutri-nais. às vezes panoramas inteiros do pensamento se encontram. numa outra configu-ração. desempenhando um papel inteiramente novo no pensamento de Freud. enquan-to a exigência fundamental permanece imutável. Equivale a dizer o quanenquan-to uma explanação sincrética. sintética. do pensamento freudiano leva necessariamente a um absurdo. ou seja, por redução. à mais completa evidência.

1 _ Partiremos do princípio do prazer e do princípio de realidade tomando-os a um nível fenomenal. descritivo. da maneira como somos convidados pela sua própria denominação ...

8

O princípio do prazer

Suas definições são pouco numerosas na obra freudiana. e relativamente unívocas. Em Os dois princípios do funcionamento psíquico. se enuncia: "Os processos psíquicos tendem ao ganho de prazer. Nossa atividade se retira dos atos que podem despertar desprazer".

Esta definição acarreta duas séries de observações:

1) É o desprazer que tem primazia - Sabe-se. aliás. que nas suas primeiras formulações Freud partiu da noção de princípio de desprazer. depois da de desprazer-prazer. Isto destaca o fato de que se passa sempre da tensão presente. desagradável. à descarga.

Já para Fechner, esta idéia estará presente. e convém insistir sobre o fato de que é a Fechner que se deve o enunciado do princípio de prazer (Uber das Lustprinzip des Handelns, 1848) e não somente o do princípio de constância ou de estabilidade. Ora. para Fechner. não se trata absolutamente de um hedonismo no sentido tradicional: a representação do prazer ou do desprazer futuro não serve para nada. O princípio de prazer é um princípio regulador exigindo uma sensação atual para pôr tudo em andamento. é um princípio que já atua ao nível das próprias representações e não ao nível do representado, do visado, do projetado. Como o movimento é sempre um movimento que vai do desprazer ao prazer. concebe-se que, nesta dupla. o termo presente. motivante, seja o desprazer. Freud fala várias vezes de uma regulação automática do curso dos prpcessos psíquicos por este princípio. o que significa apenas a retomada da tese fechneriana.

Z) Para quem existe prazer-desprazer? - Primeira interpretação possível: é a nível do conjunto da atividade psíquica. Conhece-se o modelo freqüentemente retomado: o de uma vesícula viva de um organismo com uma camada periférica figurando o sistema percepção-consciência. Esta camada superficial receberia do exte-rior as quantidades e as qualidades. sendo estas a primeira garantia da realidade do que é percebido. Do interior só recebe uma única gama de sensações. as que escalonam entre o máximo de prazer e o máximo de desprazer.

Ora. assim que o modelo se complica. surgem as dificuldades: e o modelo se complica necessariamente com a idéia de conflito e de inconsciente. A experiência psicanalítica mostra que o prazer. por exemplo no sonho. pode aparecer sob uma outra forma (mascarado -ou traduzido?). a dos sonhos de angústia. por exemplo. A distinção tópica que nos é bem familiar volta aqui a nos ajudar de um ponto de vista teórico: enunciemos. o que é prazer_ para um sistema, é desprazer para um outro. Assim. no quadro de referência da primeira tópica. um prazer inconsciente pode se mascarar num sintoma aparentemente neutro ou desagradável. Na segunda tópica. as instâncias estando ainda mais personificadas, teremos ainda menos escrú-pulos em invocar, por exemplo, o "despra~er" ou o "prazer" do Superego sem implicar com isto que um tal desprazer ou prazer chegue até a consciência.

Mas que sentido tem ainda falar. nestas condições, do prazer e do desprazer como qualidades psíquicas? Isto sem querer ir mais longe do que mencionar um

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uma vez à necessidade que sentia de manter ao menos provisoriamente uma certa ambigüidade. Múltiplas: o princípio de prazer e o princípio de realidade não são os únicos enunciados. Encontramos ainda o princípio de constância. o princípio de estabilidade (por referência a Fechner). o princípio de Nirvana. o princípio de inércia neurônica da' Entwu?f ... Sem contar as pulsões de vida e de morte! das quais. há muito tempo. àssinalamos que se situam num plano mais geral. mais importante. que o plano propriamente pulsional.

Multiplicidade e confusão exigem que se ponha em ordem. Como operar? Pode-mos nos contentar com uma espécie de imagem composta? Permitir-nos-emas esco-lher o que nos agrada em função dos progressos realizados depois de Freud?

Nosso método

É uma reflexão sobre a obra de Freud e sua experiência. alimentada evidente-mente, controlada pela nossa experiência de psicanalista. Esta reflexão. inseparável para mim na sua gênese de um trabalho desenvolvido em comum com J.-8. Pontalis sobre os conceitos fundamentais da nossa ciência. como caracterizá-la? Talvez por dois termos: problemática e histórico-estrutural. Problemático. nosso método quer. em primeiro lugar. ser analítico. se possível em todos os sentidos do termo. caminhando passo a passo em contato com os textos. utilizando as contradições que não podem ser tratadas todas da mesma forma. algumas podendo ser consideradas como adven-tícias. outras devendo ser utilizadas dialeticamente. sllia como contradições do pensa-mento. seja como contradições da própria coisa (que se pense por exemplo. na noção de Ego ou no uso freudiano da biologia). "Analítico", nosso enfoque leva a interpretações que absolutamente não se recusam a declarar-se abertamente como tal.

É através da interpretação que unimos as noções de história e de est[u_tura: trata-se de tentar reencontrar. através dos rerlian~ds estruturais ou

das

contradições aparentes. das exigências. das correspondências. produtos freqüentemente de verda-deiros "deslocamentos" no sentido psicanalítico do termo: noções. elementos doutri-nais. às vezes panoramas inteiros do pensamento se encontram. numa outra configu-ração. desempenhando um papel inteiramente novo no pensamento de Freud. enquan-to a exigência fundamental permanece imutável. Equivale a dizer o quanenquan-to uma explanação sincrética. sintética. do pensamento freudiano leva necessariamente a um absurdo. ou seja, por redução. à mais completa evidência.

1 _ Partiremos do princípio do prazer e do princípio de realidade tomando-os a um nível fenomenal. descritivo. da maneira como somos convidados pela sua própria denominação ...

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O princípio do prazer

Suas definições são pouco numerosas na obra freudiana. e relativamente unívocas. Em Os dois princípios do funcionamento psíquico. se enuncia: "Os processos psíquicos tendem ao ganho de prazer. Nossa atividade se retira dos atos que podem despertar desprazer".

Esta definição acarreta duas séries de observações:

1) É o desprazer que tem primazia - Sabe-se. aliás. que nas suas primeiras formulações Freud partiu da noção de princípio de desprazer. depois da de desprazer-prazer. Isto destaca o fato de que se passa sempre da tensão presente. desagradável. à descarga.

Já para Fechner, esta idéia estará presente. e convém insistir sobre o fato de que é a Fechner que se deve o enunciado do princípio de prazer (Uber das Lustprinzip des Handelns, 1848) e não somente o do princípio de constância ou de estabilidade. Ora. para Fechner. não se trata absolutamente de um hedonismo no sentido tradicional: a representação do prazer ou do desprazer futuro não serve para nada. O princípio de prazer é um princípio regulador exigindo uma sensação atual para pôr tudo em andamento. é um princípio que já atua ao nível das próprias representações e não ao nível do representado, do visado, do projetado. Como o movimento é sempre um movimento que vai do desprazer ao prazer. concebe-se que, nesta dupla. o termo presente. motivante, seja o desprazer. Freud fala várias vezes de uma regulação automática do curso dos prpcessos psíquicos por este princípio. o que significa apenas a retomada da tese fechneriana.

Z) Para quem existe prazer-desprazer? - Primeira interpretação possível: é a nível do conjunto da atividade psíquica. Conhece-se o modelo freqüentemente retomado: o de uma vesícula viva de um organismo com uma camada periférica figurando o sistema percepção-consciência. Esta camada superficial receberia do exte-rior as quantidades e as qualidades. sendo estas a primeira garantia da realidade do que é percebido. Do interior só recebe uma única gama de sensações. as que escalonam entre o máximo de prazer e o máximo de desprazer.

Ora. assim que o modelo se complica. surgem as dificuldades: e o modelo se complica necessariamente com a idéia de conflito e de inconsciente. A experiência psicanalítica mostra que o prazer. por exemplo no sonho. pode aparecer sob uma outra forma (mascarado -ou traduzido?). a dos sonhos de angústia. por exemplo. A distinção tópica que nos é bem familiar volta aqui a nos ajudar de um ponto de vista teórico: enunciemos. o que é prazer_ para um sistema, é desprazer para um outro. Assim. no quadro de referência da primeira tópica. um prazer inconsciente pode se mascarar num sintoma aparentemente neutro ou desagradável. Na segunda tópica. as instâncias estando ainda mais personificadas, teremos ainda menos escrú-pulos em invocar, por exemplo, o "despra~er" ou o "prazer" do Superego sem implicar com isto que um tal desprazer ou prazer chegue até a consciência.

Mas que sentido tem ainda falar. nestas condições, do prazer e do desprazer como qualidades psíquicas? Isto sem querer ir mais longe do que mencionar um

(10)

fenômeno clínico ainda mais embaraçante: o famoso Schmerzlust. o prazer que o masoquista encontra na própria dor. Diante destas dificuldades dois tipos de solução são tentadas por Freud:

Manter-se num mínimo de respeito de uma psiclogia descritiva ou fenomeno-lógica. conservando seu sentido qualificativo aos termos prazer e desprazer. o que supõe que s~am percebidos pelo sistema percepção-consciência ao menos a título

de afeto inicial, de sinal. Este é o caminho indicado em Inibição, sintoma e angústia.

A outra solução é do tipo econômico: trata-se de interpretar o prazer-desprazer em termos de processos puramente objetivos. Deixa-se. assim. de lado a difícil questão de saber a partir de que momento um aumento de tensão torna-se motivante como prazer sentido. A partir daí pode-se enunciar o princípio de prazer em termos tão válidos para as instãncias inconscientes como para as instâncias conscientes da pessoa. As dificuldades inerentes ao princípio de prazer são então transferidas ao princípio de constância que estudaremos mais adiante.

O princípio de realidade

Suas definições também são raras nos textos de Freud. Conhece-se do texto sobre os Dois princípios:

"É somente a falta persistente da satisfação esperada, a decepção. que provoca

o

abandono da tentativa de satisfação pela alucinação. No seu lugar. o aparelho psíquico teve que se decidir a se representar o estado real do mundo exterior e a buscar uma modificação real. Assim. um novo princípio da atividade psíquica foi introduzido: o ::JUe era representado não era mais o que era agradável. mas o que era real. mesmo se isto devia ser desagradável."

Sabe-se que é apresentado como modificação do princípio de prazer e como regulador deste. que introduz condutas de tergiversação e a capacidade de adiar a satisfação: conhece-se sua ligação com toda uma série de funções nas quais se encarna: atenção, julgamento. memória. pensamento como atividade de controle. seja uma atividade onde se substitui a descarga imediata à manipulação de pequenas quantidades de energia. O pensamento é considerado como uma "ação para ver". Sabe-se. também. que o princípio de realidade se encarna na busca da "identidade de pensamento" substituindo-se à busca primária da "identidade de perceção" que caracteriza

o

prazer. O que é notado com menos freqüência é que a identidade de pensamento é apenas um elo intermediário na busca da identidade de percepção. Tudo isto se conhece bem, mas permanece um problema central: em virtude de que Freud chama este princípio princípio de realidade. um tal termo implicando quase necessariamente uma teoria da aprendizagem. do amestramento da pulsão em contato com o real?

No mesmo texto do qual tomamos esta definição é igualmente introduzida a "prova de realidade". a Realitãtprüfung. Mas só aumenta a ambigüidade do termo.

·;

O termo prova. por si mesmo. induz a noção de ensaios e erros. De prova de realidade, termo relativamente neutro. os psicanalistas escorregaram muito depressa para a noção de prova da realidade. Tratar -se-ia. portanto, aí. de pôr à prova nossas pulsões ao contato da realidade, de submeter à prova a alucinação pela confrontação com a decepção que não pode deixar de suscitar. com uma apreensão mais discrimi-nativa das relações objetivas. com os resultados. enfim. de uma ação motora proba-tória. Destacamos de passagem que se a teoria freudiana da alucinação primitiva devia implicar na possibilidade de uma redução. por aproximações suscessivas. do erro que comporta. a experiência clínica da alucinação. que sabemos impossível de reformar por qualquer confrontação que seja com o real. viria revogar definitivamente. Naqueles casos (sonho, alucinação) em que a prova de realidade seria mais necessária e onde se esperaria que devesse desempenhar seu papel. ela é estritamente ineficaz.

posta imediatamente fora de cogitação.

Se colocamos agora em relação o princípio de prazer e o princípio de realidade, que visão estranha nos traz um texto como Os dois princípios mas também todos os outros textos freudianos sobre este tema, O prqjeto de psicologia científica. A interpretação do sonho. O Ego e o ld, o Esboço de psicanálise.

Estranha visão se tomamos as formulações ao pé da letra: trata-se de uma visão genética. o que Freud afirma abertamente alardeando sua intenção de trans-formar a psicanálise em psicologia genética.

Dentro deste panorama. o ponto de partida é uma espécie de mônada fechada sobre si mesma e. neste sentido, narcisista. Ora. esta mônada auto-suficiente, que

só tende

a

descarregar

e

que alucina sua própria Satisfação, Freud pretende mostrar como ela se abre. em função de uma insatisfação impensável, para o mundo exterior. como elabora as funções do Ego começando pela própria percepção.

Insatisfação impensável

Se nos situamos. como Freud parece fazê-lo às vezes. a nível de uma mônada em princípio sem representações. a única alucinação que se possa. então, imaginar é a da qualidade prazer. fora de qualquer outro conteúdo. Muito esperto será então quem for capaz de dizer a diferença entre o prazer alucinado e o prazer sentido, quem poderá mostrar como a falta representada por uma insatisfação, por mínima que seja. poderia se introduzir na vivência de um prazer alucinado até a consumpção. Ou então o recém-nascido alucina algumas de suas primeiras representações

(Vorstei/Ungen). Evidentemente, esta é a solução de Freud. Mas então toda a sua dedução cai. Enquanto ele pretendia deduzir a formação de um sistema de marcas (Merken) da intervenção secundária do princípio de realidade. eis que este sistema de marcas. proveniente da percepção. deve ser concebido como anterior ao princípio de prazer. se é verdade que o princípio de prazer é captado primeiro na reprodução alucinatória de tais marcas. Em outros termos. longe de serem pontos de referência para um esquadrinhamento cada vez mais perfeito do princípio de prazer pelo princípio

(11)

fenômeno clínico ainda mais embaraçante: o famoso Schmerzlust. o prazer que o masoquista encontra na própria dor. Diante destas dificuldades dois tipos de solução são tentadas por Freud:

Manter-se num mínimo de respeito de uma psiclogia descritiva ou fenomeno-lógica. conservando seu sentido qualificativo aos termos prazer e desprazer. o que supõe que s~am percebidos pelo sistema percepção-consciência ao menos a título

de afeto inicial, de sinal. Este é o caminho indicado em Inibição, sintoma e angústia.

A outra solução é do tipo econômico: trata-se de interpretar o prazer-desprazer em termos de processos puramente objetivos. Deixa-se. assim. de lado a difícil questão de saber a partir de que momento um aumento de tensão torna-se motivante como prazer sentido. A partir daí pode-se enunciar o princípio de prazer em termos tão válidos para as instãncias inconscientes como para as instâncias conscientes da pessoa. As dificuldades inerentes ao princípio de prazer são então transferidas ao princípio de constância que estudaremos mais adiante.

O princípio de realidade

Suas definições também são raras nos textos de Freud. Conhece-se do texto sobre os Dois princípios:

"É somente a falta persistente da satisfação esperada, a decepção. que provoca

o

abandono da tentativa de satisfação pela alucinação. No seu lugar. o aparelho psíquico teve que se decidir a se representar o estado real do mundo exterior e a buscar uma modificação real. Assim. um novo princípio da atividade psíquica foi introduzido: o ::JUe era representado não era mais o que era agradável. mas o que era real. mesmo se isto devia ser desagradável."

Sabe-se que é apresentado como modificação do princípio de prazer e como regulador deste. que introduz condutas de tergiversação e a capacidade de adiar a satisfação: conhece-se sua ligação com toda uma série de funções nas quais se encarna: atenção, julgamento. memória. pensamento como atividade de controle. seja uma atividade onde se substitui a descarga imediata à manipulação de pequenas quantidades de energia. O pensamento é considerado como uma "ação para ver". Sabe-se. também. que o princípio de realidade se encarna na busca da "identidade de pensamento" substituindo-se à busca primária da "identidade de perceção" que caracteriza

o

prazer. O que é notado com menos freqüência é que a identidade de pensamento é apenas um elo intermediário na busca da identidade de percepção. Tudo isto se conhece bem, mas permanece um problema central: em virtude de que Freud chama este princípio princípio de realidade. um tal termo implicando quase necessariamente uma teoria da aprendizagem. do amestramento da pulsão em contato com o real?

No mesmo texto do qual tomamos esta definição é igualmente introduzida a "prova de realidade". a Realitãtprüfung. Mas só aumenta a ambigüidade do termo.

·;

O termo prova. por si mesmo. induz a noção de ensaios e erros. De prova de realidade, termo relativamente neutro. os psicanalistas escorregaram muito depressa para a noção de prova da realidade. Tratar -se-ia. portanto, aí. de pôr à prova nossas pulsões ao contato da realidade, de submeter à prova a alucinação pela confrontação com a decepção que não pode deixar de suscitar. com uma apreensão mais discrimi-nativa das relações objetivas. com os resultados. enfim. de uma ação motora proba-tória. Destacamos de passagem que se a teoria freudiana da alucinação primitiva devia implicar na possibilidade de uma redução. por aproximações suscessivas. do erro que comporta. a experiência clínica da alucinação. que sabemos impossível de reformar por qualquer confrontação que seja com o real. viria revogar definitivamente. Naqueles casos (sonho, alucinação) em que a prova de realidade seria mais necessária e onde se esperaria que devesse desempenhar seu papel. ela é estritamente ineficaz.

posta imediatamente fora de cogitação.

Se colocamos agora em relação o princípio de prazer e o princípio de realidade, que visão estranha nos traz um texto como Os dois princípios mas também todos os outros textos freudianos sobre este tema, O prqjeto de psicologia científica. A interpretação do sonho. O Ego e o ld, o Esboço de psicanálise.

Estranha visão se tomamos as formulações ao pé da letra: trata-se de uma visão genética. o que Freud afirma abertamente alardeando sua intenção de trans-formar a psicanálise em psicologia genética.

Dentro deste panorama. o ponto de partida é uma espécie de mônada fechada sobre si mesma e. neste sentido, narcisista. Ora. esta mônada auto-suficiente, que

só tende

a

descarregar

e

que alucina sua própria Satisfação, Freud pretende mostrar como ela se abre. em função de uma insatisfação impensável, para o mundo exterior. como elabora as funções do Ego começando pela própria percepção.

Insatisfação impensável

Se nos situamos. como Freud parece fazê-lo às vezes. a nível de uma mônada em princípio sem representações. a única alucinação que se possa. então, imaginar é a da qualidade prazer. fora de qualquer outro conteúdo. Muito esperto será então quem for capaz de dizer a diferença entre o prazer alucinado e o prazer sentido, quem poderá mostrar como a falta representada por uma insatisfação, por mínima que seja. poderia se introduzir na vivência de um prazer alucinado até a consumpção. Ou então o recém-nascido alucina algumas de suas primeiras representações

(Vorstei/Ungen). Evidentemente, esta é a solução de Freud. Mas então toda a sua dedução cai. Enquanto ele pretendia deduzir a formação de um sistema de marcas (Merken) da intervenção secundária do princípio de realidade. eis que este sistema de marcas. proveniente da percepção. deve ser concebido como anterior ao princípio de prazer. se é verdade que o princípio de prazer é captado primeiro na reprodução alucinatória de tais marcas. Em outros termos. longe de serem pontos de referência para um esquadrinhamento cada vez mais perfeito do princípio de prazer pelo princípio

(12)

de realidade, as marcas de origem perceptiva são indispensáveis ao funcionamento

do processo primário.

Esta idéia de um acesso perceptivo imediato da realidade é, ao mesmo tempo, conforme com tudo que sabemos da psicologia do recém-nascido e prefigurada em inumeráveis indicações de Freud. Nossa finalidade não é. como se diz, pôr Freud em contradição com ele próprio. Não se trata. por assim dizer. de forçá-lo retrospecti-vamente a escolher neste velho debate psicanalítico que opôe os partidários de um absurdo idealismo ou mesmo solipsismo biológico de partida e os que colocam de saída a existência de uma "relação de objeto" ou de um "amor primário de ol:!jeto". É a um outro nível, ao nível da interpretação. que colocamos a questão. Se é verdade que para Freud. cientificamente, não há dúvida de que existe de saída uma abertura perspectiva ao Aussenwelt*, qual é, então o sentido de sua absurda

dedução do princípio de realidade a partir do princípio de prazer? Absurda a nível

do indivíduo. será extrapolada à história da espécie (como parece fazer o Prqjeto

de psicologia científica) ou mesmo à história da vida (Para além do princípio do

prazer)? Ou então pode ser considerada como uma gênese transcendental, e que

quer dizer isto? Ou então trata-se de uma ficção. um mito até. e, neste caso, que ele encobre? A que campo se aplica este mito?

Antes de tentar responder, é preciso que passemos ao plano da significação

econômica do princípio do prazer.

11 - O PRINCIPIO DE CONSTÂNCIA

Freud declara explicitamente que é o fundamento do princípio de prazer. Um seria apenas a tradução do outro no plano da vivência suQjetiva.

São nos dadas numerosas formulações dele, sem que jamais s!liam. no entanto, satisfatórias. Freud anotou desde cedo que "pode-se entender por isso as mais diferentes coisas", tem-se a impressão que, para ele, o termo "constãncia" cobre uma mercadoria relativamente heteróclita. Citemos. neste sentido. duas formulações claramente exemplares de Para além do princípio de prazer:

- a tendência à "redução. à constância, à supressão da tensão de excitação interna" ... ;

- ou ainda, a tendência do aparelho psíquico "a manter tão baixa quanto possível a quantidade de excitação presente nele. ou ao menos de mantê" la constante". Existe aí uma contradição maior: a redução a zero é posta em oposição, e concebida como sinônimo de manutenção da constãncia. ou, ainda, a constãncia é

apresentada como o menor dos males na falta da redução absoluta das tensões. A contradição pode ser percebida aqui: num sistema dito homeostático, num organismo regido por uma lei de constãncia, a carga energética tanto quanto a

descarga pode. segundo as circunstãncias. ser favorável à constância (simbolizada abaixo pelo nível N) ou desfavorável a ela.

' Em alemão no original: Mundo exterior. (N. do T.)

Esta contradição fundamental pode se esclarecer por uma comparação do

pensa-mento de Breuer com

o

de Freud.

Breuer (nas suas Considerações teóricas de 1895) e Freud (no seu Prqjeto

de psicologia científica de 1895) atribuem-se mutuamente a paternidade do princípio

de constãncia. É certo que partem ambos da mesma experiência: a "ab-reação", e seu contrário, a "retenção" do afeto nos histéricos. No entanto, a perspectiva é completamente diferente.

Não esqueçamos que Breuer colaborou nos trabalhos de Hering a respeito de uma das mais importantes auto-regulações do organismo: a da respiração. A constãncia da qual fala é do mesmo tipo: trata-se de uma homeostase. Certamente não uma homeostase do organismo no seu conjunto (como o são precisamente aquelas que regulam as grandes funções vitais) mas uma homeostase de um sistema mais particular. mais especializado, a do sistema nervoso central.

~.=I ~

L "".

N.

~7

/

É neste referencial que deve ser compreendida sua distinção entre uma energia "quiescente" ou "excitação tônica intracerebrai", e uma energia cinética circulando através do sistema. O princípio de constãncia regula, para Breuer. o nível de base da energia tônica e não, como o fará o princípio de prazer para Freud, o escoamento da energia dita livre.

A partir daí, enuncia-se assim: "Existe no organismo uma tendência a manter constante a excitação tônica intracerebral" (Studien über Hysterie)•.

Tal nível de base é concebido como um optimum. Como tal. pode ser ameaçado por diversas modificações de nível, algumas operando uma perturbação generalizada, outras mais localizada; como tal pode ser restabelecido pela descarga (ab-reação)

mas também pela carga. Trata-se, diríamos. de manter uma verdadeira Gestalt

ener-gética.

Este optimum. finalmente. tem um objetivo: é a boa e livre circulação de energia cinética. isto é, um funcionamento confortável do pensamento. a existência de associa-ções não entravadas:

"Falamos de uma tendência do organismo a manter constante a excitação cerebral tônica: mas 1,1ma tal tendência só pode ser compreensível se podemos perceber a que necessidade responde. Compreendemos a tendência para manter constante a temperatura do organismo com o sangue quente porque sabemos por experiência que esta temperatura constitui um optimum para o funciona-mento dos órgãos ...

' Em alemão no original: "Estudos sobre a histeria." (N. do T.)

(13)

de realidade, as marcas de origem perceptiva são indispensáveis ao funcionamento

do processo primário.

Esta idéia de um acesso perceptivo imediato da realidade é, ao mesmo tempo, conforme com tudo que sabemos da psicologia do recém-nascido e prefigurada em inumeráveis indicações de Freud. Nossa finalidade não é. como se diz, pôr Freud em contradição com ele próprio. Não se trata. por assim dizer. de forçá-lo retrospecti-vamente a escolher neste velho debate psicanalítico que opôe os partidários de um absurdo idealismo ou mesmo solipsismo biológico de partida e os que colocam de saída a existência de uma "relação de objeto" ou de um "amor primário de ol:!jeto". É a um outro nível, ao nível da interpretação. que colocamos a questão. Se é verdade que para Freud. cientificamente, não há dúvida de que existe de saída uma abertura perspectiva ao Aussenwelt*, qual é, então o sentido de sua absurda

dedução do princípio de realidade a partir do princípio de prazer? Absurda a nível

do indivíduo. será extrapolada à história da espécie (como parece fazer o Prqjeto

de psicologia científica) ou mesmo à história da vida (Para além do princípio do

prazer)? Ou então pode ser considerada como uma gênese transcendental, e que

quer dizer isto? Ou então trata-se de uma ficção. um mito até. e, neste caso, que ele encobre? A que campo se aplica este mito?

Antes de tentar responder, é preciso que passemos ao plano da significação

econômica do princípio do prazer.

11 - O PRINCIPIO DE CONSTÂNCIA

Freud declara explicitamente que é o fundamento do princípio de prazer. Um seria apenas a tradução do outro no plano da vivência suQjetiva.

São nos dadas numerosas formulações dele, sem que jamais s!liam. no entanto, satisfatórias. Freud anotou desde cedo que "pode-se entender por isso as mais diferentes coisas", tem-se a impressão que, para ele, o termo "constãncia" cobre uma mercadoria relativamente heteróclita. Citemos. neste sentido. duas formulações claramente exemplares de Para além do princípio de prazer:

- a tendência à "redução. à constância, à supressão da tensão de excitação interna" ... ;

- ou ainda, a tendência do aparelho psíquico "a manter tão baixa quanto possível a quantidade de excitação presente nele. ou ao menos de mantê" la constante". Existe aí uma contradição maior: a redução a zero é posta em oposição, e concebida como sinônimo de manutenção da constãncia. ou, ainda, a constãncia é

apresentada como o menor dos males na falta da redução absoluta das tensões. A contradição pode ser percebida aqui: num sistema dito homeostático, num organismo regido por uma lei de constãncia, a carga energética tanto quanto a

descarga pode. segundo as circunstãncias. ser favorável à constância (simbolizada abaixo pelo nível N) ou desfavorável a ela.

' Em alemão no original: Mundo exterior. (N. do T.)

Esta contradição fundamental pode se esclarecer por uma comparação do

pensa-mento de Breuer com

o

de Freud.

Breuer (nas suas Considerações teóricas de 1895) e Freud (no seu Prqjeto

de psicologia científica de 1895) atribuem-se mutuamente a paternidade do princípio

de constãncia. É certo que partem ambos da mesma experiência: a "ab-reação", e seu contrário, a "retenção" do afeto nos histéricos. No entanto, a perspectiva é completamente diferente.

Não esqueçamos que Breuer colaborou nos trabalhos de Hering a respeito de uma das mais importantes auto-regulações do organismo: a da respiração. A constãncia da qual fala é do mesmo tipo: trata-se de uma homeostase. Certamente não uma homeostase do organismo no seu conjunto (como o são precisamente aquelas que regulam as grandes funções vitais) mas uma homeostase de um sistema mais particular. mais especializado, a do sistema nervoso central.

~.=I ~

L "".

N.

~7

/

É neste referencial que deve ser compreendida sua distinção entre uma energia "quiescente" ou "excitação tônica intracerebrai", e uma energia cinética circulando através do sistema. O princípio de constãncia regula, para Breuer. o nível de base da energia tônica e não, como o fará o princípio de prazer para Freud, o escoamento da energia dita livre.

A partir daí, enuncia-se assim: "Existe no organismo uma tendência a manter constante a excitação tônica intracerebral" (Studien über Hysterie)•.

Tal nível de base é concebido como um optimum. Como tal. pode ser ameaçado por diversas modificações de nível, algumas operando uma perturbação generalizada, outras mais localizada; como tal pode ser restabelecido pela descarga (ab-reação)

mas também pela carga. Trata-se, diríamos. de manter uma verdadeira Gestalt

ener-gética.

Este optimum. finalmente. tem um objetivo: é a boa e livre circulação de energia cinética. isto é, um funcionamento confortável do pensamento. a existência de associa-ções não entravadas:

"Falamos de uma tendência do organismo a manter constante a excitação cerebral tônica: mas 1,1ma tal tendência só pode ser compreensível se podemos perceber a que necessidade responde. Compreendemos a tendência para manter constante a temperatura do organismo com o sangue quente porque sabemos por experiência que esta temperatura constitui um optimum para o funciona-mento dos órgãos ...

' Em alemão no original: "Estudos sobre a histeria." (N. do T.)

(14)

Acredito que também se pode admitir que o nível de excitação tônica intrace-rebral tem um optimum. Neste nível de excitação tônica, o cérebro estaria acessível a todas as excitações externas, os reflexos têm a melhor condução, mas somente nos limites de uma atividade reflexa normal, o fundo das represen-tações é capaz de ser despertado e associado segundo esta proporção relativa recíproca entre cada uma das representações. que corresponde a uma reflexão clara."

1 nversamente. no sonho. as associações seriam defeituosas e entravadas. O sonho.

segundo Breuer. é testemunha de um estado no qual a energia não está absolutamente livre: tese diametralmente oposta à de Freud!

A metáfora que prevalece geralmente aqui é a de um circuito elétrico ou telefônico cuja modulação só é possível a partir de um certo nível de base que deve ser mantido a qualquer preço: a energia tônica tem uma prioridade absoluta sobre toda circulação possível da energia cinética.

Este resumo demasiado curto do pensamento de Breuer deveria bastar para mostrar todo o interesse de um enfoque neurofisiológico que. embora partindo das noções ditas fisicalistas da escola de Helmholtz, permaneceu muito flexível, muito próxima da experiência fisiológica. Tal enfoque pode ser considerado como não sendo rigorosamente contraditório com as descobertas ulteriores da neurofisiologia (manu-tenção de um nível de atividade pelo sistema reticular ativador. por exemplo ... ). como uma hipótese cientificamente provável e aberta.

Bernfeld, pretendendo reconstituir as primeiras etapas do pensamento freudiano, assimila-as sem discussão às de Breuer. Que diferença. no entanto (1 ). entre as hipóteses razoáveis de Breuer e a grande maquinaria que nos apresenta o Prqjeto de psicologia científica!

O Projeto de psicologia científlc.:i: só podemos dar aqui algumas referências esquemáticas:

1) Freud parte de um modelo abstrato do qual jamais saberemos fundamen-talmente se se trata do psiquismo. o sistema nervoso central ou o organismo que está em questão. Ignora-se. também. se a espécie de dedução dos diferentes modos de funcionamento que nos é apresentada se situa ao nível ontogenético, a nível filogenético ou a nível transcendental.

2) Este modelo está inteiramente constituído a partir de duas espécies de elementos de base: os "neurônios" e a "quantidade". Tudo indica no texto que estes neurônios são apenas as próprias Vorstellungen (representações). A clínica das neuroses, que impôs a distinção entre representação. por um lado. e quantum de afeto por outro. vê-se aqui diretamente transposta em: neurônios

I

quantidade.

Tudo que se passa neste sistema ou neste modelo é somente a conseqüência da posição dos neurônios (considerados em si mesmos como todos idênticos: gleichge-baut). de suas bifurcações. da diferença de condução entre estas bifurcações. Com-1 Pode-se perceber os indicias deste desacordo latente concernente ao principio de constância nas r]ifPrPntw; rPrli1{/1PC: quP rhrqararn atil nôr; rlíl "romunicação preliminar".

preende-se imediatamente como se torna possível uma interpretação em termos de memória eletrônica ou de lingüística estrutural.

Voltemos ao que concerne aos princípios:

Freud parte, no Prqjeto do princípio de inercia neurônica que se enuncia assim: "Os neurônios visam a se livrar da quantidade" (Neuronen sich des Quantitat zu entledigen trachten).

Este princípio é constantemente identificado com as seguintes noções:

- energia livre. tendendo livremente. pelas vias mais curtas, à descarga. Nenhu-ma estase de energia em um neurônio:

- processo primário:

- princípio de prazer (ou de desprazer).

"Como conhecemos com certeza uma tendência da vida psíquica a evitar o desprazer somos tentados a identificar esta tendência com a tendência primária à inércia. O desprazer coincidiria, então, com o aumento quantitativo da pressão ... O prazer seria a sensação de descarga ... "

Não se trata absolutamente de constância nesta definição do prazer.

Clinicamente, isto corresponde a quê?

Toda a experiência de Freud nesta época. experiência sobretudo no campo da histeria e do sonho, está centrada sobre a especificidade dos processos inconscientes.

Que se tomem como referência a este propósito as passagens do Projeto sobre

a

simbolização histérica nas suas relações com a simbolização normal. Entre as representações B e A. das quais uma "simboliza" a outra. há um deslocamento de energia: mas, na simbolização normal. A retém para si uma parte da carga: assim sendo. o soldado que morre pela bandeira não esqueceu ou recalcou o fato de que morre pela pátria. A simbolização histérica. ao contrário. caracteriza-se por um deslocamento completo. total. de A a B. O processo primário é dito igualmente processo vali, pleno. no sentido em que se pode dizer que existe entre as representações em causa uma passagem a "descarga aberta".

Geneticamente. o que Freud visa, então. na sua reconstituição das origens do desejo humano ou da pulsão é à experiência de satisfação como reinvestimento

plano. que vai até a alucinação, da representação ligada à primeira satisfação. É

o primeiro enunciado da tese da alucinação primitiva, que nunca será abandonada. Estranho, na sua origem. à concepção clínica do processo primário como lei do inconsciente, o princípio de constancia está. portanto. ausente da primeira

elabo-raç~o freudiana? Não, mas se o encontramos é em uma posição completamente

diferente. onde não tem nada a ver com o processo primário e a "livre" circulação do desejo inconsciente.

A noção de constância é introduzida secundariamente como uma adaptação, devido às exigências da vida. do princípio de inércia: "O sistema neurônico é forçado a abandonar a tendência originária à inércia. isto é. ao nível

=.

O. Deve decidir-se a ter uma provisão de quantidade para satisfazer às exigências da ação específica. Na maneira como o faz. aparece, no entanto. a continuação da mesma tendência.

(15)

Acredito que também se pode admitir que o nível de excitação tônica intrace-rebral tem um optimum. Neste nível de excitação tônica, o cérebro estaria acessível a todas as excitações externas, os reflexos têm a melhor condução, mas somente nos limites de uma atividade reflexa normal, o fundo das represen-tações é capaz de ser despertado e associado segundo esta proporção relativa recíproca entre cada uma das representações. que corresponde a uma reflexão clara."

1 nversamente. no sonho. as associações seriam defeituosas e entravadas. O sonho.

segundo Breuer. é testemunha de um estado no qual a energia não está absolutamente livre: tese diametralmente oposta à de Freud!

A metáfora que prevalece geralmente aqui é a de um circuito elétrico ou telefônico cuja modulação só é possível a partir de um certo nível de base que deve ser mantido a qualquer preço: a energia tônica tem uma prioridade absoluta sobre toda circulação possível da energia cinética.

Este resumo demasiado curto do pensamento de Breuer deveria bastar para mostrar todo o interesse de um enfoque neurofisiológico que. embora partindo das noções ditas fisicalistas da escola de Helmholtz, permaneceu muito flexível, muito próxima da experiência fisiológica. Tal enfoque pode ser considerado como não sendo rigorosamente contraditório com as descobertas ulteriores da neurofisiologia (manu-tenção de um nível de atividade pelo sistema reticular ativador. por exemplo ... ). como uma hipótese cientificamente provável e aberta.

Bernfeld, pretendendo reconstituir as primeiras etapas do pensamento freudiano, assimila-as sem discussão às de Breuer. Que diferença. no entanto (1 ). entre as hipóteses razoáveis de Breuer e a grande maquinaria que nos apresenta o Prqjeto de psicologia científica!

O Projeto de psicologia científlc.:i: só podemos dar aqui algumas referências esquemáticas:

1) Freud parte de um modelo abstrato do qual jamais saberemos fundamen-talmente se se trata do psiquismo. o sistema nervoso central ou o organismo que está em questão. Ignora-se. também. se a espécie de dedução dos diferentes modos de funcionamento que nos é apresentada se situa ao nível ontogenético, a nível filogenético ou a nível transcendental.

2) Este modelo está inteiramente constituído a partir de duas espécies de elementos de base: os "neurônios" e a "quantidade". Tudo indica no texto que estes neurônios são apenas as próprias Vorstellungen (representações). A clínica das neuroses, que impôs a distinção entre representação. por um lado. e quantum de afeto por outro. vê-se aqui diretamente transposta em: neurônios

I

quantidade.

Tudo que se passa neste sistema ou neste modelo é somente a conseqüência da posição dos neurônios (considerados em si mesmos como todos idênticos: gleichge-baut). de suas bifurcações. da diferença de condução entre estas bifurcações. Com-1 Pode-se perceber os indicias deste desacordo latente concernente ao principio de constância nas r]ifPrPntw; rPrli1{/1PC: quP rhrqararn atil nôr; rlíl "romunicação preliminar".

preende-se imediatamente como se torna possível uma interpretação em termos de memória eletrônica ou de lingüística estrutural.

Voltemos ao que concerne aos princípios:

Freud parte, no Prqjeto do princípio de inercia neurônica que se enuncia assim: "Os neurônios visam a se livrar da quantidade" (Neuronen sich des Quantitat zu entledigen trachten).

Este princípio é constantemente identificado com as seguintes noções:

- energia livre. tendendo livremente. pelas vias mais curtas, à descarga. Nenhu-ma estase de energia em um neurônio:

- processo primário:

- princípio de prazer (ou de desprazer).

"Como conhecemos com certeza uma tendência da vida psíquica a evitar o desprazer somos tentados a identificar esta tendência com a tendência primária à inércia. O desprazer coincidiria, então, com o aumento quantitativo da pressão ... O prazer seria a sensação de descarga ... "

Não se trata absolutamente de constância nesta definição do prazer.

Clinicamente, isto corresponde a quê?

Toda a experiência de Freud nesta época. experiência sobretudo no campo da histeria e do sonho, está centrada sobre a especificidade dos processos inconscientes.

Que se tomem como referência a este propósito as passagens do Projeto sobre

a

simbolização histérica nas suas relações com a simbolização normal. Entre as representações B e A. das quais uma "simboliza" a outra. há um deslocamento de energia: mas, na simbolização normal. A retém para si uma parte da carga: assim sendo. o soldado que morre pela bandeira não esqueceu ou recalcou o fato de que morre pela pátria. A simbolização histérica. ao contrário. caracteriza-se por um deslocamento completo. total. de A a B. O processo primário é dito igualmente processo vali, pleno. no sentido em que se pode dizer que existe entre as representações em causa uma passagem a "descarga aberta".

Geneticamente. o que Freud visa, então. na sua reconstituição das origens do desejo humano ou da pulsão é à experiência de satisfação como reinvestimento

plano. que vai até a alucinação, da representação ligada à primeira satisfação. É

o primeiro enunciado da tese da alucinação primitiva, que nunca será abandonada. Estranho, na sua origem. à concepção clínica do processo primário como lei do inconsciente, o princípio de constancia está. portanto. ausente da primeira

elabo-raç~o freudiana? Não, mas se o encontramos é em uma posição completamente

diferente. onde não tem nada a ver com o processo primário e a "livre" circulação do desejo inconsciente.

A noção de constância é introduzida secundariamente como uma adaptação, devido às exigências da vida. do princípio de inércia: "O sistema neurônico é forçado a abandonar a tendência originária à inércia. isto é. ao nível

=.

O. Deve decidir-se a ter uma provisão de quantidade para satisfazer às exigências da ação específica. Na maneira como o faz. aparece, no entanto. a continuação da mesma tendência.

(16)

modificada em esforço para manter ao menos tão baixa quanto possível a quantidade, e a defender -se contra os aumentos. isto é. a mantê-la constante."

A lei de constância. mesmo se não foi colocada explicitamente como princípio.

corresponde muito exatamente à energia ligada e ao processo secundário.

Esta lei de constância aparece em dois contextos. A nível de uma dedução biológica, a respeito da qual voltaremos a falar. da "função secundária" no seio do organismo ou do sistema nervoso central. A nível específico da psicanálise. isto

é. a nível das representações.

O problema é saber. neste segundo contexto. o que vem entravar, moderar. regular a circulação livre que constitui o desejo inconsciente ou. é a mesma coisa. a ficção da satisfação alucinatória do desejo: surge aí a intervenção do Ego.

Haveria aqui toda uma série de erros a serem dissipados: o Entwurf* é um

grande texto. o grande texto sobre o Ego: o Ego é tomado aí como instância no

sentido que reencontrará em Para introduzir o narcisismo. e depois na segunda

tópica.

Como defini-lo? É agente de inibição, freio. lastro. Através daquilo que Freud chama de processo de investimento lateral (Nebenbesetzung) introduz o processo

secundário sem ser ele mesmo este processo secundário.

A definição mais compacta que Freud dá é a seguinte: "Uma rede de neurônios investidos e cujas comunicações recíprocas permitem a passagem facilitada da energia"

(Ein Netz. besetzer. gegeneinander gut gebahnter Neuronen).

É. portanto, uma rede de neurônios ou de representações no interior da qual

a circulação de energia é quase livre. mas que mantém em relação ao exterior

uma diferença de nível correspondendo a um investimento libidinal constante. Interpretemos: é uma espécie de Gestalt possuindo uma estabilidade que age

pela sua densidade sobre as representações vizinhas. as quais. sem ela. estariam submetidas ao processo primário.

Salientemos ainda sua relação com a realidade: O Ego age exatamente para

inibir a alucinação. e. neste sentido. temos aí o primeiro modelo. em Freud. e talvez o único que jamais tenha desenvolvido. de uma "prova de realidade". Mas esta instãncia age por tudo ou nada, e não por aproximações sucessivas. Ela inibe um excesso de realidade que traz a alucinação. Isto não ocorre por função de uma

relação de privilégio imediato do Ego com a realidade: a instância do Ego não se articula com ela. como se tivesse. para além de um primeiro contato ingênuo com o real. um contato mais verdadeiro permitindo retificar o primeiro. Topicamente, aliás. no modelo do Prqjeto de psicologia científico. ela absolutamente não se confunde com o sistema percepção-consciência que é o único articulado sobre a realidade

( 1 ).

' Em alemão no original: Prqjeto. (N. do T.)

1 - A instância do Ego tem certamente uma relação com a percepção, mas uma relação mais complexa do que se fosse simplesmente o mediador ou o instrumento da percepção.

16

Concluamos a propósito do Entwurf, mas nossa conclusão poderia ser verificada

em toda a obra e na .experiência psicanalítica:

- Os princípios da psicanálise são princípios que regulam a circulação. ao longo das cadeias e das bifurcações associativas. de um certo quantum dito "afeto". São princípios que foram descobertos e só são válidos a nível das representações,

no campo próprio onde se movimenta a psicanálise. Não poderiam ser definidos tal qual princípios aparentemente similares que têm referência na ordem vital sem que a maior confusão se introduza na psicanálise.

Inversamente. não poderiam ser transpostos tais e quais na ordem vital sem grave dano para a biologia.

- Estes princípios correspondem a duplas de oposição constante no pensamento psicanalítico, duplas que poderíamos ordenar segundo duas colunas:

Processo secundário Energia livre Bindung (ligação) Ego Processo primário Energia ligada

Entbindung (descarga. desencadeamento)

Des!lio

Os termos princípio de constáncia e princípio de prazer são difíceis de situar, em razão das próprias hesitações de Freud. Numa terminologia coerente seria preciso colocar o princípio de constáncia na coluna esquerda, mas sabemos que toda a ambigüidade de Freud vem do fato de ter. às vezes. situado a constãncia do lado da tendência a zero.

Proponho, portanto. termos historicamente menos pesados a fim de situar. em nossas duas colunas. os princípios:

A nível econômico:

Pnncípio de nível constante Princípio de descarga

A nível descritivo:

Princípio de ligação Princípio do des!lio ou do gozo

Como no alto de uma penosa escada, uma tarefa considerável se oferece a nós então: problemas a colocar com Freud, problemas a propósito de Freud. isto é. interpretando-o, problemas. enfim. para além de Freud.

Mencionarei somente três questões: o biologismo paradoxal de Freud, a segunda teoria das pulsões. a significação da ligação (Bindung).

1) O biologismo paradoxal de Freud

O absurdo enigmático do biologismo de Freud torna-se nítido em comparação com o neurobiologismo de Breuer. este tão verossímil.

Breuer parte de um organismo viável cujas relações com o exterior são reguladas por homeostases. Freud parte da ficção de um organismo em princípio não viável. fechado ao exterior. tendendo por si mesmo à morte. Por um gesto mágico impensável deveriam emergir deste "organismo" mecanismos secundários de regulação.

Referências

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