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RECREIO ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE OS JOVENS ATRAVÉS DAS SUAS IMAGENS NO COTIDIANO

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Academic year: 2021

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RECREIO ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE OS JOVENS ATRAVÉS

DAS SUAS IMAGENS NO COTIDIANO

Martha Valente Domingues dos Santos

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,marthavds09@gmail.com

INTRODUÇÃO

Toda pesquisa só tem começo depois do fim. Dizendo melhor, é impossível saber quando e onde começa um processo de reflexão. Porém, uma vez terminado, é possível ressignificar o que veio antes e tentar ver indícios no que ainda não era e que passou a ser. (AMORIM, 2004)

A ideia desta pesquisa é convidar o leitor para que, através da leitura de cada tópico, de cada capítulo, possa transitar pelo espaço-tempo do recreio escolar, circulando por cada espaço que o compõe, conhecendo os jovens alunos, analisando suas práticas culturais e observando a formação de sua identidade juvenil.

Fui normalista e o anseio de trabalhar com a educação habita o meu ser desde que me entendo por gente. Era uma criança cujos interesses voltavam-se sempre mais para brincadeiras de inteligência e raciocínio; por ser medrosa, poucas vezes me atrevia a aventuras mais arriscadas. Minha diversão preferida sempre foi o cinema e o teatro, mas, pelo dinheiro mais escasso, tais programas não podiam tornar-se uma prática cotidiana. Daí as brincadeiras ficarem, quase sempre, dentro de casa, em meio a folhas, bonecas e o quadro de giz. Do ingresso na carreira do magistério para cá já se vão 22 anos... Mas parece que ontem... O frio na barriga a cada novo que se inicia é o mesmo, a ansiedade em ver cada rostinho novo e antigo também... Nesse tempo, sempre me dediquei à educação básica, trabalhando em diferentes escolas particulares e pública. Em algumas delas, me era exigido que, em alguns dias da semana, acompanhasse a turma durante o recreio. Apesar de contrariar as leis trabalhistas e não julgar correto,

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acabava por cumprir a determinação e posso assegurar que muito aprendi nesse espaço-tempo.

Larrosa (2002) coloca que “a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece ou que toca”; é muito intrínseco ao ser humano. Dessa forma, muito do que será pesquisado vem de encontro às perguntas que tenho me feito ao longo dessas pouco mais de duas décadas de experiência.

Diante de tantas situações que perpassam esse recreio escolar, surgem algumas inquietações, que irão permear os rumos dessa pesquisa e se configurarão nas questões de estudo dessa:

* Que práticas culturais são visíveis no espaço-tempo do recreio escolar?

* Como as identidades juvenis vão sendo formadas, a partir dessas práticas pedagógicas, nesse espaço-tempo?

* De que maneira os jovens negociam, entre si e com os adultos, seus processos de pertencimento e fortalecimento no recreio escolar?

* Quais e como as situações de conflito e consenso se apresentam durante o recreio

escolar?

A resposta a essas indagações pode representar mais que uma conclusão de pesquisa, mas um posicionamento político-filosófico sobre a juventude e a cultura. O objetivo geral da presente pesquisa é analisar, partindo do estudo das imagens, de que

maneira as práticas culturais que ocorrem no espaço-tempo do recreio escolar contribuem para a produção e o fortalecimento das identidades juvenis. Para alcançar esse objetivo maior, lançarei mão de outros objetivos específicos, tais como identificar as práticas culturais visíveis no recreio escolar; caracterizar as identidades juvenis que vão se formando nesse espaço-tempo; avaliar a maneira pela qual os jovens negociam seus processos de pertencimento e fortalecimento no recreio escolar e distinguir situações de consenso e de conflito nesse espaço-tempo.

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METODOLOGIA

O referencial teórico da pesquisa caminhará por quatro vertentes: a concepção de recreio escolar e a ideia de período de socialização, os estudos culturais da juventude, a pedagogia da imagem e os estudos nos/dos/com os cotidianos (que serão, ainda, o aporte metodológico desta pesquisa).

O recreio escolar tem por objetivo aprimorar o relacionamento entre as crianças, a cultura geral, o espírito de equipe, a socialização e a melhoria da disciplina. A ideia de recreação teve sua origem na pré-história, quando o homem primitivo divertia-se em festas na temporada de caça, na habitação de um novo local (eram nômades). Hoje em dia, a recreação é regulamentada pela Lei Complementar n.836/97, pela Resolução Sem.49/98 e pela Instrução Conjunta CENP/COGSP/CEI de 13/02/1998, definindo o recreio como o intervalo para descanso dos professores e alunos.

A convivência entre os jovens durante esse “tempo livre” é um bom termômetro para medir o clima da escola, como um todo. É apresentado um cenário de alunos explorando diversos microespaços, que podem revelar muito daqueles estudantes que ali estão. Delalande (2001), apesar de tratar em seu livro especificamente sobre o recreio infantil, discute o pátio como uma microssociedade, um local de formação de grupos, para além da desordem e da lógica. A autora buscava compreender o processo de formação dos pares, seu funcionamento e sua ligação à situação de jogo. A constituição de grupos, sem a interferência de adultos, nos permite uma análise sobre a sociabilidade.

Numa construção identitária, essa pesquisa buscará uma análise específica da formação e do fortalecimento da identidade juvenil. Canclini (2005), afirma que a sociedade define o jovem moderno como alguém de “futuro incerto ou que não sabe construí-lo”. Coloca que há pouco lugar nela para esse jovem, pois mostra-se incapacitada de rejuvenescer, de escutar aqueles que poderiam mudá-la. Canevacci (2005) destaca que o olhar adulto só vê uniformidade, diferentemente do olhar jovem, que “dilata diferenças vitais, pequenas minúcias apaixonantes, identidades micrológicas”.

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No decorrer da pesquisa, pretendo enveredar por um estudo gravado e fotografado do material, que me dará maior liberdade para continuar a problematização, a coleta, organização e análise dos dados, conforme defende Zago (2003). Tanto a utilização da máquina fotográfica quanto do gravador serão fundamentais, sendo utilizados mediante um pacto de confiança entre pesquisadora e alunos. Segundo Achutti (2004), os pesquisadores começaram a fazer uso da fotografia, assim como os viajantes utilizavam os desenhos como forma de registro. Esse recurso mostra-se “um excelente auxiliar para o bloco de notas, um meio que permite definir a organização do espaço, um elemento extremamente importante para a coleta de dados próprios à cultura material”. Corroborando Berino (2013), “cada ambiente é repleto de sinais de nossa existência” e as fotografias a serem tiradas desse recreio serão provas que esses sinais existem naquele espaço-tempo, além de serem uma forma de eternizá-los.

O método a ser utilizado para o desenvolvimento da pesquisa será o das pesquisas nos/dos/com os cotidianos. Um primeiro aspecto a se destacar reside no fato de considerarmos como sujeitos das pesquisas com o cotidiano todos aqueles que, de forma visível ou não, deixam suas marcas no cotidiano, ou seja, alunos, professores, pais, seguranças, serventes e todos os outros que vivem o universo escolar. A primeira questão que se coloca de frente é a conceituação desse cotidiano.

Os estudos do cotidiano buscam atingir dimensões da realidade impossíveis de serem capturadas pelos modelos sociais tradicionais. Dessa forma, as pesquisas nos/dos/com os cotidianos vêm se desenvolvendo paralelamente ao desenvolvimento da própria metodologia de efetivação desse modo de pesquisar (VICTORIO, 2007). Cada vez mais, nos parece primordial ir ao cotidiano, àquilo que acontece, ao que pensam as pessoas para se repensar as políticas sociais (inclusive, com relação à juventude). Portanto, tem se tornado necessário desenvolver novas formas de pesquisa que suplantem os modelos dominantes de pesquisa, como os estudos desenvolvidos por Nilda Alves (2000).

Em um primeiro momento e como coleta de dados secundários, irá considerar a pesquisa bibliográfica, com leitura de livros, revistas, material da internet, no que concerne às quatro vertentes: a concepção de recreio escolar e a ideia de período de

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socialização, os estudos culturais da juventude, a pedagogia da imagem e os estudos nos/dos/com os cotidianos.

Em um segundo momento e como coleta de dados primários, tirarei fotografias desse recreio escolar, que busquem retratar especificidades da formação da identidade juvenil. Também será utilizada dentro desse período de pesquisas, a técnica da observação direta dos alunos nesse espaço-tempo, através de um diário de campo e de conversas (entrevistas não-estruturadas) com os alunos e demais integrantes desse cotidiano escolar.

A partir daí, será feita uma análise dos dados, para posterior formulação da conclusão e de possíveis recomendações.

A pesquisa realizar-se-á no Colégio Pedro II, campus Engenho Novo II, situado à rua Barão do Bom Retiro, 726, no bairro do Engenho Novo, Rio de Janeiro. O Colégio Pedro II é uma autarquia federal, que representa a única escola federal de ensino básico no país.

A população em estudo será composta por alunos do ensino fundamental II e do ensino médio do Colégio Pedro II, Campus Engenho Novo II, Rio de Janeiro. Não há como diferenciar a amostra dessa população, uma vez que todos os alunos, das diferentes turmas, séries e segmentos, coabitam o mesmo espaço, sem qualquer tipo de separação pré-determinada entre eles. As separações que acontecem se dão de forma espontânea, a partir dos gostos e necessidades dos próprios alunos.

REFERÊNCIAS

ABRANTES, Pedro. Os sentidos da escola: Identidades juvenis e Dinâmicas de escolaridade. Oeiras, Portugal: Celta Editora, 2003.

ALVES, Nilda. Espaço e tempo de ensinar e aprender. In: Candau, Vera Maria (Org.). Linguagens, espaços e tempos no ensinar e aprender, Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE). Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

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BERINO, Aristóteles de Paula; FILHO, Aldo Victório; SOARES, Conceição Silva (Orgs.). A fartura das juventudes: Tramas entre Educação, Mídia e Arte. Rio de Janeiro: NAU, 2013.

______. Ensino e Pedagogia da Imagem. Seropédica: EDUR, 2013.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3. ed. – Brasília: A Secretaria, 2001.

_____. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3. ed. – Brasília: A Secretaria, 1993.

______. Lei Complementar n. 8637. Recreação. 1997.

CANCLINI, Nestor Garcia. Diferentes, desiguais e desconectados – Mapas da interculturalidade. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005.

CANEVACCI, Massimo. Culturas extremas – Mutações juvenis nos corpos das metrópoles. Tradução de Alba Olmi. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

CARVALHO, Marília Pinto de; CRUZ, Tânia Mara. Jogos de gênero: o recreio numa escola de ensino fundamental. Cad. Pagu, n.26, Campinas Jan./Jun 2006.

DELALANDE, Julie. La cour de la récréation. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2001.

HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. Educação & Realidade, v.22, jul/dez 1997.

______. Quem precisa de identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade

e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.

______. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz T. da Silva e Guacira Louro. 7ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos – O declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 4 ed., 2006.

VICTORIO Filho, A. Pesquisar o cotidiano é criar metodologias. In Dossiê cotidiano

Referências

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