• Nenhum resultado encontrado

ESCADARIA NOBRE DO CONVENTO DE MAFRA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ESCADARIA NOBRE DO CONVENTO DE MAFRA"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

ESCADARIA NOBRE

DO CONVENTO DE MAFRA

(2)
(3)

Não é conhecida uma única obra projectada pelo maltês Carlo Gimach (1651-1730), antes da sua vinda para Portugal. Com efeito, nenhum dos testemunhos divulgados por Ayres de Carvalho permite concluir que era conhecido como arquitecto em Malta.

Residindo em Lisboa, desde 1704, a Gimach, detentor, segundo as fontes coevas, de um “delicado engenho”, tem sido creditada a concepção de “máquinas” efémeras destinadas a algumas festas, designadamente o Arco triunfal da Nação inglesa para as celebrações do Casamento de Dom João V com Dona Mariana de Áustria, bem como um aparato para fogos de artifício, instalado no Terreiro do Paço.

O académico maltês Giovanantonio Ciantar informa que Gimach projectou os afamados coches da Embaixada do Marquês de Fontes, enviada a Roma pelo Magnânimo e que tanto eco haviam de ter na Europa da época. Gimach é ainda descrito por um seu contemporâneo como “excelente latino e maior Poeta”.

Não obstante, a sua coroa de glória havia de ser (presume-se seu) o risco de uma grande escada, primeiramente projectada para o Palácio do Conde de Vila Nova, de Portimão, afinal concretizada na Escadaria conventual de Mafra, que “muitos avaliam pela melhor peça da obra que se acha em aquele magnífico edifício”, segundo informação de Tomás Caetano de Bem.

Trata-se, de facto de uma obra-prima mundial e a tal ponto única na Europa que nem sequer figura nos reportórios tipológicos consagrados: “uma dupla escadaria de planta quadrangular, de lances que se encontram em patamares comuns e estão assentes em pilares (não em paredes) funcionando como um espelho ou palco de teatro em que as pessoas que sobem ou descem são simultaneamente motivos e espectadores do cenário arquitectónico”.

É inteiramente construída em mármore, constituída por 4 lanços de 23 degraus cada, num total de 92 degraus.

Os enormes blocos de mármore com os quais foi edificada foram içados recorrendo a máquinas inventadas por Custódio Vieira.

(4)

Escada principal do Convento

“Esta famosa escada tão admirada pela sua beleza, majestade e arquitectura, é uma das melhores peças que há no Edifício.

É composta de duas escadas, que se encontram, e confundem uma com a outra. Têm ambas o seu princípio nos lugares designados na Planta pelos números 138 […]. No meio da casa de frente do portal da Sala de espera há um espaço de 18 palmos de largo e 50 de comprido, isto é o mesmo que a casa tem de largo, no fim do qual está outro portal em linha recta com os da Sala, pelo qual se entra para a casa que está entre o dormitório e a escada. A casa em que estão está formada tem 88 palmos de comprido, isto é o mesmo que a casa tem de largo, no fim do qual está outro portal em linha recta com os da Sala, pelo qual se entra para a casa, que está entre o dormitório e a escada.

A casa em que esta está formada tem 88 palmos de comprido. Aos lados do dito espaço há-de cada parte quatro grandes Pegões, que deitando um dos outros 12 palmos e estando em linha recta dois de frente dos outros dois formam quatro ângulos a um vão quadrado que está entre eles. Estes Pegões são quadrados; e têm 4 palmos de largo em cada face, e como eles se elevam até ao tecto do 4.º

(5)

andar da quadra, havendo sempre entre uns e outros só a balaustrada e sendo tudo o mais aberto, por isso o vão quadrado forma entre eles como uma casa, cuja altura chega até por cima do tecto do 4.º andar, porque aí sobre os pegões começa a fechar a abóbada de pedra do mesmo quadrado, e se eleva sobre o terraço onde forma um Zimbório, ou clarabóia, quadrada com quatro grandes janelas que dão luz para a escada, e vão quadrado. Os mesmos Pegões, quadrado e clarabóia há também do outro lado, como fica dito. De frente de cada face exterior dos Pegões há nas paredes outros Pegões da mesma largura, mas pouco sacados fora, e na abóbada pedras da mesma largura, que atravessam de um para os outros sobre os primeiros, e últimos degraus de cada um dos lanços da escada. As duas faces interiores dos Pegões ficam fronteiros às dos outros. Cada uma das escadas sobe sempre ao redor de um dos corpos quadrados, ficando-lhe sempre os Pegões destes ao lado esquerdo, e a parede ao direito. E como além disto os Pegões ou pilastras das paredes tem nos cantos dos patamares, outras meias pilastras que lhes correspondem e junto a estas estão as ombreiras de grandes janelas que há no fim e de frente do 1.º lanço, no fim do 2.º edifício do 3.º lanço; e juntos aos ditos Pegões há outros do mesmo tamanho nas ombreiras dos portais que há em todos os andares, e por isso acontece que esta casa desde o 1.º até ao 4.º andar onde acabam as escadas tenha as paredes, pavimento e tecto de pedra, à excepção de alguns pequenos espaços nas paredes e abóbada das escadas, que formam como outros tantos painéis brancos cercados de cantaria e de Pegões optimamente lavrados. Tem a escada de largo 15 palmos.

Cada lanço dela tem nove degraus de dois palmos de largo cada um. No fim do 1.º lanço tem um patamar quadrado de 16 palmos de largo por cada lado. No topo dele de frente do 1.º lanço tem uma janela de 12 palmos de alto e 7 de largo porém na superfície interior dela forma um portal de 16 palmos de alto, e 10 de largo, o qual não tem porta e só serve para ornato. O 2.º lanço aí começa a subir encostado à outra face do corpo quadrado, e no fim dele ao lado direito e de frente do 3.º lanço está outra janela, e outro portal no 2.º patamar, ao lado esquerdo do qual começa o 3.º lanço a subir encostado à outra face do Corpo quadrado; e como a outra escada com tudo semelhante a esta tem subido do mesmo modo encostada ao outro corpo quadrado, e ambas aqui se ajuntam para darem entrada no 2.º andar da quadra, aí aparecem oito Pegões, e entre eles o mesmo espaço, que há onde principiam as escadas no andar térreo. Ao lado direito do 3.º lanço onde esta acaba, e no fim do tal espaço está um portal por onde se entra para a casa que está entre a escada e o dormitório. No lado esquerdo são os lanços de toda a escada acompanhados de soberbo balaustrada entre os Pegões, à qual se eleva à proporção que a escada sobe; e por isso entre um e outro Pegão junto aos degraus há uma pedra de quase dois palmos de largo em que os balaústres estão encaixados, e sobre eles outra do mesmo tamanho, em que eles encaixam, as quais são optimamente lavrados e lhes servem como de molduras. A superior que também se eleva juntamente com os balaústres à proporção que a escada sobe serve também de corrimão a quem sobe ou desce

(6)

por ela serve a balaustrada também de parapeito entre os Pegões e como tudo o mais entre os pegões está aberto, por isso acontece quem sobe ou desce por uma das escadas, vai sempre vendo os que sobem. Ou descem pela outra esse vão encontrar no fim de cada três lanços isto é, nos espaços onde elas se encontram e dão entrada para os diversos andares da quadra e aí mesmo subindo e descendo várias pessoas podem separar-se para quatro partes diversas, que vem a ser: subirem uns do 2.º para o 3.º andar por uma escada, e outros por outra; e descerem uns do 2.º para o primeiro andar por uma escada, e outros pela outra; e sempre se vão vendo uns aos outros. O mesmo acontece onde as escadas se ajuntam e dão entrada para o 3.º andar. Do segundo para o terceiro andar sobe a escada do mesmo modo, mas com a diferença de que a primeira escada continua a subir sobre a abóbada do 1.º lanço e esta sobre o 1.º lanço e assim para cima até se juntarem ambas no fim de outros três lanços, onde dão entrada para o 3.º andar por outro portal, que está sobre os dois andares inferiores e tem porta para a Casa, que fica entre a escada e o dormitório. Deste para o quarto andar continua a subir do mesmo modo, de sorte que os lanços de uma ficam sobre a abóbada dos que a outra tem do 2.º para o 3.º andar, e vice-versa. Chegando ambas ao 4.º andar dão entrada para ele por um portal que deita para a Casa que esta entre a escada e o dormitório. De frente do último lanço de cada uma há um portal e dentro uma casa, que tem dentro alguns degraus, que sobem até chegarem quase ao tecto e são como continuação das mesmas escadas. Cada casa destas tem uma janela, que está na parede da Clarabóia da escada. No espaço onde as escadas acabam, aparecem os oito Pegões e se elevam muito acima da abóbada, e no fim a Cantaria delas se vai estreitando até fechar no meio, onde está uma grande roldana de ferro, e nela suspenso por cadeia de ferro um lampião de quatro luzes ambos os quais dão abundante luz para ambas as escadas pela razão já dita. Nos terraços onde sobressaem as duas clarabóias, cada uma delas tem quatro grandes janelas de arco, e as cúpulas elevando-se muito acabam em pontiagudo. No espaço onde as escadas se juntam no 3.º andar há outro portal por onde se entra para a Sala de espera que está sobre a da portaria.

Há em ambas as escadas doze janelas do tamanho já dito, não contando as duas clarabóias, e todas elas deitam para os dois Jardins da portaria. Todos os Pegões são de pedras inteiras desde o pavimento até à abóbada superior. As pedras em que estão encaixados os balaústres, os degraus, as ombreiras dos portais e janelas e as pedras que na abóbada passam de um para outros Pegões são igualmente de pedras inteiras; e as dos pavimentos dos patamares, e largos onde as escadas se juntam, têm de comprido o mesmo que os patamares têm de largo” [FJSA, fl. 138-141].

Bibliografia

GOMES, Paulo Varela, Contribuição maltesa para o Barroco Português: a recepção das formas; escadas de malta e França; tectos e frontões de Itália; Arquitectura Portuguesa, in Portugal e a Ordem de Malta: aspectos da Europa, Lisboa, 1992, p. 319-338; idem, O

(7)

Caso de Carlo Gimach (1651-1730) e a Historiografia da arquitectura Portuguesa, in Museu, s. 4, v. 5 (1996), p. 141-156

CÁRCERES

Casa quadrada com pé direito muito baixo, que existia em todos os pavimentos. Uma laje, junto às grades de ferro das janelas, só deixava uma pequena abertura na parte superior delas, para entrada da luz.

EXPULGATÓRIOS

Dependência conventual destinada à expulgação, i. e., à desparazitagem das pulgas.

Havia um expulgatório em cada pavimento. Segundo Frei João de Santa Ana “o pavimento dela é formado de paus redondos com algum intervalo aberto entre um e outro e por baixo do pavimento assim gradado tem uma cova profunda. Nos lados da casa estão cachorros de pedra na parede que sustêm varas de pau para nelas se pendurar a roupa” [FJSA, fl. 158].

Sob a tal grade os frades espalhavam um insecticida de sua invenção, de que guardaram rigoroso sigilo, ao ponto de desconhecermos a sua fórmula.

Referências

Documentos relacionados

Como visto no capítulo III, a opção pelo regime jurídico tributário especial SIMPLES Nacional pode representar uma redução da carga tributária em alguns setores, como o setor

53 Ao tratar da heterogeneidade prevista no modelo de capacidade jurídica, no ordenamento brasileiro, identifica-se descompassos frente às legislações

Na questão do uso do solo, foi identificado um aumento na área com cobertura florestal, tanto para plantações florestais como para florestas naturais, na ordem de

Starting out from my reflection on the words cor, preto, negro and branco (colour, black, negro, white), highlighting their basic meanings and some of their

Os principais objectivos definidos foram a observação e realização dos procedimentos nas diferentes vertentes de atividade do cirurgião, aplicação correta da terminologia cirúrgica,

Tem ainda, como objetivos específicos, analisar os tipos de inteligências múltiplas e relacionar a inteligência racional e emocional; estudar a capacidade do indivíduo de

Os principais resultados obtidos pelo modelo numérico foram que a implementação da metodologia baseada no risco (Cenário C) resultou numa descida média por disjuntor, de 38% no

Por outro lado, os projectos/programas, como por exemplo, Plano Nacional de Leitura para os 1.º, 2.º e 3.º CEB; Plano de Acção para a Matemática para os 2.º e 3.º CEB; Programa