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PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA 13ª PROCURADORIA DE JUSTIÇA

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Academic year: 2021

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Proc. n.º 0009311-49.2019.8.06.0117 - Apelação

Processo n.º MP 08.2020.00243110-3

Origem: 3ª Vara Cível da Comarca de Maracanaú

Apelante: Banco Santander (Brasil) S/A

Apelado: Alvaro Matias de Sousa

Relator(a): Desembargador(a) HERÁCLITO VIEIRA DE SOUSA NETO

1ª Câmara Direito Privado

Manifestação do Ministério Público

APELAÇÃO CÍVEL. ANULATÓRIA. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. BEM IMÓVEL. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO DA PARTE DEVEDORA ACERCA DAS DATAS DE REALIZAÇÃO DOS LEILÕES DO OBJETO GARANTIDOR DA DÍVIDA. NULIDADE DO PROCEDIMENTO EXTRAJUDICIAL CONFIGURADA. PRECEDENTES. MANIFESTAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PELO CONHECIMENTO E DESPROVIMENTO DO RECURSO.

Egrégia Câmara,

Tratam os autos de Apelação Cível interposta pelo Banco Santander

(Brasil) S/A com o intuito de modificar sentença proferida pelo Juízo da 3ª Vara Cível

da Comarca de Maracanaú em sede de Ação de Anulação de Leilão Extrajudicial c/c

Pedido de Tutela Cautelar em Caráter Antecedente, proposta por Alvaro Matias de

Sousa.

Na inicial, fls. 01/12, narrou-se o seguinte:

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nome diversos empréstimos consignados feitos em seu nome, muitos dos quais o mesmo não reconhece, por este motivo o idoso acabou sem recursos que cobrissem seu sustento próprio e as parcelas do financiamento, fatos que lhe causaram grande instabilidades e trouxeram o senhor Álvaro Matias à atual situação financeira.

Relata o autor que devido a grande recessão que o Brasil atravessa, no ano de 2012 a mesmo ficou com a sua fonte de renda comprometida por conta dos empréstimos supramencionados, vindo a enfrentar sérias dificuldades em suas finanças de um modo geral, isto para não mencionar as tentativas de acordo com a instituição financeira arrolada no processo, mas nunca obteve um respaldo necessário para seu caso, com grande receio de perder seu único bem vem em busca do judiciário para tentar suspender o leilão do seu imóvel, a instituição financeira não sai no prejuízo pois é de grande interesse do autor continuar com a obrigação pactuada como também um lugar para morar.

Assim, verifica-se que o autor, atravessa momento de adversidade financeira em sua vida, mesmo assim nunca se negou a cumprir com seus compromissos, pretendendo iniciar negociações extrajudiciais a fim de purgar a mora no valor referente às parcelas em aberto a serem demonstrados através das planilhas a serem juntadas pelo banco, junto ao banco réu na esperança de não ter seu único imóvel leiloado acarretando na perda do principal bem de sua família, pelo qual lutou para conquistar durante toda a sua vida, sendo que o direito à moradia é constitucionalmente garantido à todos os cidadãos.

Ocorre que, a despeito de qualquer tentativa conciliatória, o Requerido levou o bem alienado a leilão no dias, 16/05/2019 em 1º praça e em 28/05/2019 2º praça AMBAS AS TENTATIVAS SEM LICITANTES , como pode se perceber as tentativas de leilão conforme o edital: [...]

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para que retorne o status aquo, do contrato, encontra amparo na doutrina e na ampla jurisprudência, sendo imprescindível que seja dada a procedência ao pedido de Tutela de Urgência no sentido de suspender todos os atos feitos para consolidação da matrícula do móvel junto ao cartório de registro de imóveis.

Nesse contexto, requereu a concessão da tutela antecipada,

reivindicando a suspensão dos leilões e o cancelamento do registro e da averbação do

imóvel em nome do banco réu. Ao final, pediu o julgamento procedente da pretensão

deduzida na proemial.

Contestação, às fls. 82/106, alegando a inteira observância ao rito

previsto na Lei n. 9.514/97 no caso subjacente, no que a parte adversa requereu o

julgamento de improcedência dos pedidos inicialmente formulados.

Réplica, às fls. 188/192, insurgindo-se em face dos argumentos

trazidos pela parte promovida, e advogando, notadamente, a ausência de efetiva

notificação pessoal dos fiduciantes na comunicação cartorária e telegramas da hasta

pública.

Instadas a especificarem eventuais provas a serem produzidas frente à

matéria fixada como controvertida pelo órgão judicante, as partes nada opuseram,

limitando-se a requerer o julgamento imediato da lide (fls. 195/197).

Sentença, às fls. 198/204, proferida nos seguintes termos:

"Pelo exposto, julgo parcialmente procedentes os pedidos autorais, o que faço com a única finalidade de declarar nulo o leilão cujo termo foi afivelado aos fólios 181/184, por ausência de notificação pessoal prévia. Extingo, pois, o presente feito, com a apreciação de seu mérito, nos termos do art. 487, I, do Código de Processo Civil."

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Apelação do banco promovido, às fls. 238/259, conduto pelo qual

repisa a regularidade do procedimento extrajudicial observado na demanda, decorrente

do inadimplemento contratual de plena ciência da parte contratante, não havendo se

falar em erro ou ilegalidades.

Argui, ainda, que realizou as notificações que a Lei determina,

inexistindo, assim, se cogitar de nulidade, de modo que o procedimento executório

extrajudicial deve permanecer hígido.

Pontua, ademais, que seria desnecessária a intimação do devedor em

relação aos leilões realizados após a averbação da consolidação da propriedade do

imóvel na respectiva matrícula do bem.

Contrarrazões, às fls. 323/328, nas quais se pede o improvimento do

apelo em testilha.

Autos remetidos e distribuídos em segunda instância. Empós, vieram

com vista ao Ministério Público.

É o relatório.

Segue a manifestação.

Postos que foram os fatos do processo, o Ministério Público se

pronuncia pela tempestividade de todos os feitos, logo pelo seu recebimento, haja vista

que, no tocante à matéria processual, o feito correu regularmente, não tendo sido

observada nenhuma falha geradora de nulidade.

Quanto à admissibilidade do recurso interposto, entende-se não haver

óbice para acolhimento do petitório de fls. 287/288, na medida em que as normas

fundamentais do processo civil e princípios como o da cooperação e primazia da

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resolução do mérito o autorizam e o recomendam.

Em relação ao mérito, vê-se, nos limites das dimensões do efeito

devolutivo recursal, que a sentença a quo restou prolatada em sintonia com as provas

carreadas aos autos e a melhor doutrina e jurisprudência sobre o assunto em debate.

Com efeito, tem-se em análise contrato de financiamento firmado entre

as partes para aquisição de bem imóvel, o qual foi dado em garantia ao credor

fiduciário, consoante instrumento de composição anexado às fls. 141/166. A avença,

portanto, rege-se, em especial, pelas disposições da Lei n. 9.514/97.

Nos termos do art. 22, da legislação supra, sabe-se que a alienação

fiduciária é o negócio jurídico pelo qual o devedor, ou fiduciante, com o escopo de

garantia, contrata a transferência ao credor, ou fiduciário, da propriedade resolúvel de

coisa imóvel.

Em específico à constituição da mora em contratos tais, diz a referida

norma:

Art. 26. Vencida e não paga, no todo ou em parte, a dívida e constituído em mora o fiduciante, consolidar-se-á, nos termos deste artigo, a propriedade do imóvel em nome do fiduciário.

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, o fiduciante, ou seu representante legal ou procurador regularmente constituído, será intimado, a requerimento do fiduciário, pelo oficial do competente Registro de Imóveis, a satisfazer, no prazo de quinze dias, a prestação vencida e as que se vencerem até a data do pagamento, os juros convencionais, as penalidades e os demais encargos contratuais, os encargos legais, inclusive tributos, as contribuições condominiais imputáveis ao imóvel, além das despesas de cobrança

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e de intimação.

§ 2º O contrato definirá o prazo de carência após o qual será expedida a intimação.

§ 3º A intimação far-se-á pessoalmente ao fiduciante, ou ao seu

representante legal ou ao procurador regularmente constituído, podendo ser promovida, por solicitação do oficial do Registro de Imóveis, por oficial de Registro de Títulos e Documentos da comarca da situação do imóvel ou do domicílio de quem deva recebê-la, ou pelo correio, com aviso de recebimento.

§ 3o-A. Quando, por duas vezes, o oficial de registro de imóveis ou de

registro de títulos e documentos ou o serventuário por eles credenciado houver procurado o intimando em seu domicílio ou residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita motivada de ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, retornará ao imóvel, a fim de efetuar a intimação, na hora que designar, aplicando-se subsidiariamente o disposto nos arts. 252, 253 e 254 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de

Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017) [...]

§ 4o  Quando o fiduciante, ou seu cessionário, ou seu representante

legal ou procurador encontrar-se em local ignorado, incerto ou inacessível, o fato será certificado pelo serventuário encarregado da

diligência e informado ao oficial de Registro de Imóveis, que, à vista da certidão, promoverá a intimação por edital publicado durante 3 (três)

dias, pelo menos, em um dos jornais de maior circulação local ou noutro de comarca de fácil acesso, se no local não houver imprensa

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publicação do edital. (Redação dada pela Lei nº 13.043, de 2014)

§ 5º Purgada a mora no Registro de Imóveis, convalescerá o contrato de alienação fiduciária.

[...]

§ 7o Decorrido o prazo de que trata o § 1o sem a purgação da mora, o

oficial do competente Registro de Imóveis, certificando esse fato, promoverá a averbação, na matrícula do imóvel, da consolidação da propriedade em nome do fiduciário, à vista da prova do pagamento por este, do imposto de transmissão inter vivos e, se for o caso, do laudêmio. (Redação dada pela Lei nº 10.931, de 2004) (g.n)

In casu, o acervo probatório arregimentado indica que, buscada a

notificação extrajudicial pessoal dos devedores pelo Oficio Cartorário, na data de

21.08.2018, foi informado que os mesmos mudaram de endereço, se encontrando em

local inserto e não sabido (fl. 167).

Nesse panorama, editais de notificação foram expedidos e publicados

em jornais de grande circulação (fls. 168/169/170; 176/178). Ou seja, a mora,

confessada, aliás, pelos fiduciantes, restou devidamente constituída em relação aos

devedores inadimplentes e, como não purgada no prazo estipulado, conduziu à

consolidação da propriedade do bem garantidor em favor do credor fiduciário.

Sucede que, o mesmo não ocorreu em referência à notificação acerca

das datas dos leilões do bem dado em garantia. Isso porque não foi observada a

imperiosa e efetiva intimação do devedor sobre a data de realização da hasta, ainda

que realizada através de edital específico a esse fim, consentâneo previsto no art. 27, §

2º-A, da Lei n. 9.514/97, e entendimento jurisprudencial consolidado, confira-se:

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DE EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL CUMULADA COM CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. LEI Nº 9.514/1997. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE

COISA IMÓVEL. LEILÃO EXTRAJUDICIAL. DEVEDOR FIDUCIANTE. NOTIFICAÇÃO PESSOAL. NECESSIDADE. 1. A teor do que dispõe o

art. 39 da Lei nº 9.514/97, aplicam-se as disposições dos arts. 29 a 41 do Decreto-Lei nº 70/1966 às operações de financiamento imobiliário em geral a que se refere a Lei nº 9.514/1997. 2. A jurisprudência do

Superior Tribunal de Justiça se encontra consolidada no sentido da necessidade de intimação pessoal do devedor acerca da data da realização do leilão extrajudicial, entendimento que se aplica aos contratos regidos pela Lei nº 9.514/1997. 3. Agravo interno não

provido. (STJ; AgInt-REsp 1718272; Proc. 2018/0005403-9; SP; Terceira Turma; Rel. Min. Ricardo Villas Boas Cueva; Julg. 22/10/2018; DJE 26/10/2018; Pág. 1537)

...

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. LEI N. 9.514/97. IMÓVEL ADJUDICADO

EM LEILÃO. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR. NULIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. 1. "A exemplo do que ocorre nos procedimentos regidos pelo Decreto-Lei nº 70/66 e pelo Decreto-Lei nº 911/69, a validade da intimação por edital para fins de purgação da mora no procedimento de alienação fiduciária de coisa imóvel, regrado pela Lei nº 9.514/97, pressupõe o esgotamento de todas as possibilidades de localização do devedor" (RESP 1367179/SE, Rel.

Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/06/2014, DJe 16/06/2014). 2. Caso concreto em que o próprio contrato firmado entre as partes indicava o endereço residencial do recorrido, que foi ignorado para fins de intimação pessoal. 3. Rever as premissas fixadas pelas instâncias ordinárias no sentido de que não há comprovação nos autos de que o ora recorrido encontrava-se em local

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incerto e não sabido e de que houve falha em sua notificação pessoal porquanto não foi realizada no endereço constante no contrato firmado entre as partes, demandaria revolvimento de fatos e provas, o que é vedado pelo enunciado da Súmula nº 7 do STJ. 4. Recurso Especial não provido. (STJ; REsp 1547130; Proc. 2015/0194019-2; RN; Rel. Min. Luis Felipe Salomão; Julg. 07/05/2018; DJE 07/06/2018; Pág. 4679) (d.n)

Com efeito, bem se vê que, no caso em exame, a notificação dos

devedores sobre as datas de leilão foi tentada por meio do envio do telegrama

acostado à fl. 175, expediente que, contudo, não logrou ser entregue pela ECT,

conforme consignado à fl. 180.

Aliás, nem mesmo a mensagem remetida via aplicativo Whatsapp

indica ter sido efetivamente lida pelos destinatários, consoante se extrai do registro de

tele apresentado à fl. 179 dos autos.

Por fim, importa ressaltar que o fato de se ter operado a consolidação

da propriedade do imóvel em nome do credor não impede seja realizada a purgação da

mora, motivo pelo qual se revela imprescindível a intimação pessoal do devedor acerca

da realização da hasta pública, ainda que levada a efeito através da publicação de

edital, se o caso assim exigir, veja-se:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO

ESPECIAL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. BEM

IMÓVEL. LEILÃO EXTRAJUDICIAL. NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR FIDUCIÁRIO. PRECEDENTES. AGRAVO

IMPROVIDO. 1. O entendimento desta Corte é de que é cabível a

purgação da mora mesmo após a consolidação da propriedade do imóvel em nome do credor fiduciário. Nesse contexto, é imprescindível a intimação pessoal do devedor acerca da realização do leilão extrajudicial. 2. A dispensa da intimação

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pessoal só é cabível quando frustradas as tentativas de realização deste ato, admitindo-se, a partir deste contexto, a notificação por edital. Precedentes. 3. Agravo interno improvido. (STJ; AgInt-AREsp

1344987; Proc. 2018/0205154-1; SP; Terceira Turma; Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze; Julg. 03/12/2018; DJE 06/12/2018; Pág. 3246)

Dessarte, à míngua de demonstração satisfatória sobre a intimação dos

devedores por parte da instituição promovida, o que lhe competia, nos termos do art.

373, II, do CPC, não há como não se reconhecer a configuração do vício de forma no

procedimento extrajudicial versado, a reclamar, nesse ponto, sua declaração de

nulidade, tal como observado pelo Juízo a quo.

Isto Posto, com arrimo nos fundamentos acima coligidos, manifesta-se

este Órgão Ministerial pelo conhecimento e desprovimento do presente recurso de

Apelação, de maneira a manter incólume a decisão guerreada.

É a manifestação.

Luz Eduardo dos Santos

Procurador de Justiça

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