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As marcas do sofrimento psíquico no trabalhador: reflexões acerca do capitalismo contemporâneo

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Academic year: 2021

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UNIJUI – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL

DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

CURSO DE PSICOLOGIA

NAIANA JESKE

AS MARCAS DO SOFRIMENTO PSÍQUICO NO TRABALHADOR:

REFLEXÕES ACERCA DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

Santa Rosa 2013

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UNIJUI – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL

DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

CURSO DE PSICOLOGIA

AS MARCAS DO SOFRIMENTO PSÍQUICO NO TRABALHADOR:

REFLEXÕES ACERCA DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

NAIANA JESKE

ORIENTADORA: LUCIANE GHELLER VERONESE

Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado ao curso de Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo.

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TERMO DE APROVAÇÃO NAIANA JESKE

A comissão examinadora, abaixo assinada, aprova o trabalho de conclusão de curso AS MARCAS DO SOFRIMENTO PSÍQUICO NO TRABALHADOR: REFLEXÕES

ACERCA DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

com requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI.

Trabalho de conclusão de curso definido e aprovado em: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

LUCIANE GHELLER VERONESE Psicóloga, Mestre

Professora do Departamento de Humanidades e Educação

SILVIA CRISTINA SEGATTI COLOMBO Psicóloga, Mestre

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AS MARCAS DO SOFRIMENTO PSÍQUICO NO TRABALHADOR: REFLEXÕES ACERCA DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

Naiana Jeske Orientadora: Luciane Gheller Veronese

RESUMO

As marcas do sofrimento psíquico no trabalhador é um importante tema de pesquisa da psicopatologia e da psicodinâmica do trabalho. Nessa pesquisa, apresentamos as mudanças provocadas pelas transformações que ocorreram e suas consequências. O primeiro capítulo faz uma reflexão acerca do trabalho, em que são descritas algumas mudanças provocadas pelos modos de organização do trabalho, principalmente as decorrências da flexibilização e da globalização. O segundo discute as relações possíveis entre o modo de produção capitalista e o sofrimento psíquico do trabalhador, refletindo acerca do valor simbólico no trabalho no contemporâneo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 5

CAPÍTULO I: TRAÇOS DO CAPITALISMO E SUAS MARCAS CONTEMPORÂNEAS ... 6

11 As mudanças provocadas pelos modos de organização do trabalho ... 11

1.2 A flexibilização e a globalização na era do capitalismo contemporâneo ... 19

1.3 As transformações do capitalismo e o valor simbólico do trabalho ... 24

CAPÍTULO II: A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O TRABALHADOR ... 28

2.1 O desenvolvimento do sofrimento psíquico no trabalhador ... 32

2.2 As estratégias de enfrentamento do sofrimento e o adoecer na contemporaneidade ... 35

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 44

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa busca investigar, a partir de um levantamento bibliográfico, o sofrimento psíquico e adoecimento no trabalho contemporâneo, fazendo reflexões acerca do capitalismo.

Inicialmente, trata do trabalho através de um levantamento histórico que permite perceber seus vários significados, assim como o trabalho é visto no capitalismo, do seu enraizamento até a contemporaneidade. Esse capítulo aborda as mudanças provocadas pelos modos de organização do trabalho, os quais estão relacionados ao sofrimento psíquico e adoecimento no trabalho, realizando uma reflexão sobre a flexibilização e a globalização na era do capitalismo e suas consequências para o trabalhador. Também reflete sobre as transformações do capitalismo e o declínio do valor simbólico do trabalho.

Na continuidade, versa-se sobre a organização do trabalho e suas consequências para o trabalhador, através do estudo do sofrimento psíquico no trabalhador e adoecimento, além das estratégias de enfrentamento deste sofrimento e das doenças, tais como a Síndrome de Burnout.

Por fim, expõem-se as considerações finais, a partir das questões inicialmente traçadas.

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1. TRAÇOS DO CAPITALISMO E SUAS MARCAS CONTEMPORÂNEAS

As primeiras concepções de trabalho surgem quando o homem tem a caça e a coleta como uma das principais atividades, indiferenciado do suprimento das necessidades e pertencendo aos homens. Dessa forma, pode-se dizer que o domínio do homem sobre a natureza, a descoberta do fogo, dos metais e a evolução das técnicas remetem à ideia de trabalho.

Mais adiante o artesanato e a agricultura começam a fazer parte do contexto, levando em consideração o gênero: masculino e feminino. A coleta foi substituída pela agricultura e as domesticações de pequenos animais começam mostrar a evolução: a mulher é designada aos serviços domésticos e o homem sai em busca de caça e para a coleta de frutas e raízes, originando-se a pecuária, o que requer, a partir de então, uma rotina, fazendo surgir o conceito de temporalidade.

A partir da introdução da regularidade, da rotina, da repetição de atividades, as técnicas evoluem. O homem passa a enxergar a possibilidade de produzir para além do suprimento de suas necessidades básicas, proporcionando outro nível de vivência e organização social.

Dessa forma abre-se espaço para os artesãos, para o exército e para a religião, que constituem sociedades divididas em classes, a partir de seu modo de produção, tendo como base o trabalho manual.

Aos poucos o trabalho intelectual vai ganhando espaço e sendo valorizado, e no trabalho manual percebe-se uma diferenciação e hierarquização. Acontece o surgimento das indústrias e o crescimento da economia transforma a relação entre os homens.

Suzana Albornoz (2008) aponta que o trabalho ganhou muitos significados, podendo ser compreendido como a possibilidade de realizar uma atividade que promova reconhecimento a partir da aplicação das forças humanas para atingir um objetivo, com caráter físico ou intelectual, necessário para qualquer empreendimento, passando a ser uma ocupação permanente, uma profissão.

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Contrapondo-se a essa idéia, o termo trabalho também é carregado de emoção, remetendo à dor, à tortura, ao cansaço, à aflição, à sobrecarga, pelo fato de ser uma operação humana de transformação da matéria em um produto que será consumido. Inicialmente a ideia de trabalho como tortura surge da origem da palavra que vem do latim tripalium que era um instrumento feito de ferro com três pontas, utilizado na lavoura para separar cereais a fim de rasgá-los e esfiapá-los, o que posteriormente parece ter dado origem a essa ideia de trabalho como tortura.

Entretanto, o trabalho pode ser entendido como um esforço afirmado e desejado para realizar um determinado objetivo, quando a intenção e direção do esforço estiverem esclarecidas. Também pode ser entendido como esforço, aflição, cansaço, sobrecarga.

Freud (1930) diz que o homem contemporâneo está tendo que lidar com as consequências de suas escolhas, devido à economia de suas reivindicações, o que pode vir a refletir em seu trabalho, por exemplo, pois o trabalho pode ser compreendido como suprimento de necessidades, e também como fonte sublimatória de prazer.

O trabalho como suprimento das necessidades resulta da necessidade econômica, podendo ser visto como inevitável, por ser uma necessidade material. Por sua vez o trabalho compreendido como fonte sublimatória de prazer acontece quando o trabalhador consegue modificar a organização do trabalho de acordo com suas necessidades, tornando-se o responsável pelo ritmo de trabalho. No entanto, isso não quer dizer que em algum momento esse trabalhador não venha a ter um episódio de sofrimento psíquico, mas o fato do prazer fazer parte do seu cotidiano facilita a defesa e estruturação, tanto física, quanto psíquica.

O trabalho também pode ser pensado pela via do capitalismo, como um esforço planejado e coletivo, resultante do gasto de energia física e mental, estando os trabalhadores submetidos ao capital, aos interesses dos capitalistas, ou seja, a força de trabalho nesse momento passa a ser vista como mercadoria. O trabalho contido na mercadoria é entendido como trabalho concreto que está relacionado à utilidade da mercadoria, ao seu valor e o trabalho abstrato que ocorre quando se examina uma mercadoria, e constata-se que ela não é apenas valor de uso, é também valor de troca, e para ser trocada precisa ser comprada. Compreender o trabalho pela via do capitalismo permite observar que os capitalistas investem em mão de obra barata para ter um maior retorno financeiro.

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Remetendo-nos à história, é possível observar que é através da constituição da sociedade feudal e de sua decomposição que se desenvolve o trabalho livre e as formas de propriedades camponesas, a retomada do comércio, o renascimento da vida urbana e a formação da burguesia comerciante. (BEAUD, 1987, p.18)

Com o enraizamento do capitalismo, observa-se um longo e complexo processo, através da formação de burguesias, tanto mercantis quanto bancárias, e ocorre a constituição dos Estados modernos, a ampliação das trocas, a dominação mundial, o desenvolvimento das técnicas de transporte e produção, novos modos de produção são colocados em prática e a emergência de novas mentalidades.

No século XVIII o capitalismo será introduzido como modo de produção, mas isso só acontece porque se tem por base a acumulação de riquezas, que se dá por duas fontes: uma é a extorsão de sobre trabalho do camponês e a outra é a sobre exploração colonial sob diversas formas: trabalho forçado, escravidão, troca desigual, taxas e impostos coloniais, etc.

Segundo Sennett (2006), desde a época de Marx, o capitalismo é instável, pois houve uma súbita ascensão, no século XIX, dando continuidade à antiga extorsão do trabalho camponês em proveito dos proprietários fundiários e do Estado, bem como a exploração capitalista do trabalho na indústria, o colapso e o movimento das fábricas, o enriquecimento e a ascensão ao poder da burguesia. Em contrapartida, os operários são deixados na miséria, as jornadas de trabalho são ampliadas, os salários são reduzidos, acontece a migração em massa dos trabalhadores em busca de melhores empregos, ou de qualquer emprego.

Para Boltanski e Chiapello (2009 p. 40), Max Weber defende a ideia de que a emergência do capitalismo instaurou uma nova relação moral entre os homens e o trabalho, onde cada um tem uma vocação independente de seu interesse e de suas qualidades, dedicando-se ao máximo. O trabalho como vocação religiosa é um ponto de apoio para os comerciantes e os empreendedores do capitalismo, encontravam “motivação psicológica” para se entregar sem descanso à tarefa, buscando o lucro máximo como sinal de sucesso no cumprimento da vocação. Os operários, por sua vez, mostravam-se trabalhadores incansáveis e convencidos de que o homem deve cumprir seu dever, não questionando a situação que lhes era oferecida. Ainda nos dirá que as pessoas precisam de poderosas razões morais para se aliar ao capitalismo.

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No inicio do século XIX, as fábricas enfrentavam a instabilidade do emprego, os trabalhadores careciam de força e proteção, as empresas eram mal estruturadas, havia um número muito expressivo de desempregados, e o índice de falência das empresas também era expressivo. Isso se resumia a um capitalismo “primitivo”.

Entretanto, no ano de 1860, surgem os sindicatos, que reivindicam melhores condições de trabalho, diminuição da carga horária, salários mais justos, entre outras questões que se estenderam por mais de cem anos, até 1970, o que provocou no capitalismo transformações em seu funcionamento.

Com isso, os assalariados beneficiaram-se, pois se criou uma legislação que aumentou as garantias dos trabalhadores. Mas, consequentemente, diminuiu-se a qualidade dos produtos, o que provocou uma baixa nos ganhos de produtividade.

Nesse período de mais de cem anos, as empresas relativamente se estabilizaram, o que assegurou a longevidade dos negócios, aumentando o número de empregados. O “segredo” foi a aplicação de modelos militares de organização. Nessas organizações, todos tinham seus lugares e cada um tinha uma função definida, caracterizando-se o processo de burocratização das empresas.

Nos dirá Richard Sennett que:

“Por mais pobre que seja o trabalhador que sabe que ocupa uma posição bem estabelecida estará menos propenso a se revoltar que aquele que não tem uma noção clara de sua posição na sociedade”. (SENNETT, 2006, p. 28)

Conforme as organizações iam aplicando o modelo militar, percebiam que surgia o lucro, pois os investidores buscavam resultados previsíveis a longo prazo e os investimentos de lucro rápido originavam problemas.

Portanto pode-se dizer que o capitalismo:

... Trata-se de repor perpetuamente em jogo o capital no circuito econômico com o objetivo de extrair lucro, ou seja, aumentar o capital que será, novamente, reinvestido, sendo esta a principal marca do capitalismo, aquilo que lhe confere a dinâmica e a força de transformação que fascinaram seus observadores, mesmo os mais hostis. (BOLTANSKI, CHIAPELLO, 2009, p. 35)

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No entanto, não se pode pensar que o capitalismo seja um amontoamento de riquezas, mas a transformação permanente do capital, de equipamentos e aquisições diversas, produzindo moeda para fazer novos investimentos. Dessa forma é conferido ao capitalismo um caráter abstrato que contribui para aumentar a acumulação.

Pelo fato do capital ser constantemente reinvestido e crescer circulando, o capitalista tem ameaçada a recuperação de sua aplicação, pois os atos de outros capitalistas podem afetá-lo, por ser uma disputa de poder de compra dos consumidores. Esse fato faz emergir uma inquietação constante, que faz com que o capitalista se autoconserve para poder continuar acumulando.

Portanto, capitalista é qualquer um que possua um excedente e o invista para extrair lucro para aumentar o excedente inicial.

O capitalismo pode ser também pensado pelo trabalho assalariado, em que uma parte da população que não possui capital, ou o possui em pequena quantidade, precisa vender sua força de trabalho, pois não possui meios de produção, dependendo, portanto, daqueles que os possuem. Teoricamente, o trabalhador é livre para se recusar a trabalhar nas condições propostas pelo capitalista, bem como o capitalista tem liberdade de não propor emprego nas condições impostas pelo trabalhador, tornando-se uma relação desigual. No entanto, o trabalhador não pode sobreviver muito tempo sem trabalho, o que distingue do trabalho forçado e da escravidão, remetendo a uma submissão voluntária.

Entretanto, o capitalismo é visto como um sistema absurdo, pois os assalariados perderam a possibilidade de levar uma vida ativa fora da subordinação e perderam também a propriedade do resultado de seu trabalho. Os capitalistas, por sua vez, estão presos a um processo infindável e insaciável, abstrato, sem pensar na satisfação de necessidades de consumo.

Portanto a acumulação capitalista requer a mobilização de um número imenso de pessoas, em que suas chances de lucros são mínimas, sendo atribuídas responsabilidades para as quais não são motivadas a empenhar-se.

Assim, é a partir da Revolução Industrial, no inicio do século XX, com a entrada em cena da escola clássica de Administração para obter aumentos de produção através de técnicas de controle sobre o trabalho e da produção em massa, que a Psicologia adentra esse cenário,

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ligada aos interesses da indústria, fazendo seleção e colocação profissional. Criou-se a “Lei da Fadiga” para determinar o limite do esforço, estabelecendo as quotas de produção dos empregados. A Psicologia tinha como prática a orientação vocacional, baseando-se em testes, estudos sobre as condições de trabalho para o aumento da produtividade.

1.1 As mudanças provocadas pelos modos de organização do trabalho

Segundo Lapis e Merlo (2007), foi na passagem do século XIX para o século XX, com a implantação do modelo taylorista/fordista como um modelo de organização do trabalho, através de rígida especialização das tarefas e da racionalização da produção, que se originou uma nova cultura do trabalho, em que se perceberam os problemas da baixa produtividade, pois existiam diversas maneiras de executar uma mesma atividade, sendo que os métodos de produção eram transmitidos oralmente ao trabalhador ou aprendidos através de observação. Enquanto os operários detivessem o conhecimento do processo de trabalho não seria possível diminuir os tempos ociosos que eram desastrosos no ponto de vista da produtividade.

Precisava-se buscar métodos de execução que fossem objetivos, uniformes, prescritos pela gerência. O objetivo desse modelo de organização era racionalizar a organização do trabalho, precisando buscar normas, procedimentos. Era possível eliminar os movimentos desnecessários, lentos e ineficientes, para encontrar o melhor e o mais rápido modo. No entanto, esses métodos e técnicas não eram elaborados pelos trabalhadores, mas era sugestão deles que deveria haver melhores ideias para aprimorar o processo produtivo.

Cada tarefa passou a corresponder a um posto de trabalho, que deveria ser ocupado por um trabalhador especifico: aquele que demonstrasse a melhor qualificação para aquele posto. Foram aprimoradas as formas de recrutamento, sendo a seleção criteriosa, dando-se incentivos salariais para a elevação da produtividade. Instauraram-se estímulos ao desempenho individual, como prêmios por produção e salários, modelando a subjetividade do trabalhador, o qual assimilava a vontade de aumentar a produtividade, organizando sua percepção para esse aumento. O que acontecia é que eram desenvolvidas no trabalhador atitudes automáticas.

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Sampaio (1998) aponta que se deu a criação de uma corrente chamada Relações Humanas, o que gerou reação na escola clássica da Administração, pois se acredita que os fatores humanos influenciavam a produção. A Psicologia continuou seus estudos, e no ano de 1925, publicou pesquisas sobre motivação, comunicação e comportamento de grupo. O pós- guerra proporcionou à Psicologia, além de fazer seleção, classificação de pessoal, realizar avaliação de desempenho, condições de trabalho, treinamento, liderança.

O autor nos dirá que a Psicologia Industrial atua nos postos de trabalho e não se envolve com a estrutura das organizações. No entanto, esse modelo entra em crise e as técnicas tornam-se ineficazes.

Surge a Psicologia Organizacional, que não estuda mais só os postos de trabalho, mas contribui na discussão das estruturas da organização, passando a ser supervalorizada, o que consequentemente levou alguns autores a criticá-la, pois acreditavam que se buscava apenas a eficácia, o desempenho, produtividade e rendimento em curto prazo.

Portanto, esse autor nos permite compreender que a Psicologia Industrial e a Psicologia Organizacional não romperam com suas origens. O que aconteceu foi uma ampliação do objeto de estudo.

Surge a Psicologia do Trabalho, que busca a compreensão do trabalho humano, dando lugar à discussão de temas que até então eram proibidos. A Psicanálise serve de auxilio e o psicólogo não é um empregado das empresas, mas um consultor ou assessor que busca a promoção da saúde e o bem-estar das pessoas na empresa. Agora não se busca mais somente a lucratividade e a produtividade, o importante são os aspectos relativos à saúde do trabalhador.

Após conhecer o significado, o surgimento e a evolução do trabalho, passamos a compreender a entrada da Psicologia nas empresas como um meio de escutar as pessoas nas organizações, e percebemos que a Psicologia trabalha em conjunto com a Administração, a Sociologia, a Ergonomia, entre outras áreas que, juntas, buscam a promoção da saúde do trabalhador.

A partir de agora buscamos tomar conhecimento do modo de produção que rege atualmente o capitalismo, bem como seu surgimento, desenvolvimento e evolução até os dias

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de hoje, o que acaba afetando o desenvolvimento psíquico do trabalhador, e trazendo consequências psíquicas e físicas.

Com a introdução do taylorismo, as tarefas são pré-definidas. Cada tarefa era descrita nos seus mínimos detalhes. O taylorismo dificulta a construção da identidade no trabalho, ocorrendo a desapropriação do saber, inibindo qualquer iniciativa de organização e adaptação ao trabalho, por exigir uma adaptação a uma atividade intelectual e cognitiva não almejada pelo taylorismo. A possibilidade de intervenção de alguma maneira para preencher espaços não previstos pela gerência e o reconhecimento pelo trabalhador da contribuição individual à manutenção da qualidade e da produtividade são essenciais para a saúde mental.

Por ser rígido, o taylorismo faz com que se dêem modificações de conduta no ambiente dentro e fora do trabalho, sofrimento psíquico e doenças físicas e psíquicas. Pode-se pensar que acontecem dois tipos de sofrimento nesse modo de trabalho: a monotonia e o medo. Pensar a monotonia é compreender que nesse modo de trabalho a burocracia está presente, bem como os movimentos repetitivos tornando-se um trabalho cansativo. O medo surge do desgaste mental, as relações entre colegas podem desestruturar-se, produzindo inúmeros sintomas entre os trabalhadores.

Para Sennett (2006), na década de 1930 a Grande Depressão deixou marcas, como o amontoado de trabalhadores mortos em frente aos portões das fábricas, após longa espera para trabalhar. Nessa época havia mais trabalhadores do que vagas a serem preenchidas, pois as máquinas surgiram com a intenção de substituir o trabalhador assalariado, e o crescimento populacional era visível. Esses trabalhadores acreditavam que seus filhos teriam uma educação e uma capacitação diferenciada para que os jovens fossem sempre necessários e permanecessem empregados.

Como consequência disto, os trabalhadores se deparam com a questão da inutilidade e muitos buscam qualificar-se para não ficarem sem chance de trabalhar. Os padrões de alfabetização melhoram, o sonho de possuir um diploma de ensino superior era possível. Mas havia um porém nessa melhora do nível educacional: havia uma grande quantidade de jovens formados, mas sem emprego.

Pode-se pensar que primeiramente o capitalismo estava associado à figura do burguês, as formas do capitalismo eram essencialmente familiares, os empregados conheciam pessoalmente os seus patrões, tudo estava associado à família. Posteriormente, o capitalismo

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se organizou na figura central do diretor assalariado e dos executivos, sendo o elemento central do capitalismo a burocratização e tendo trabalhadores cada vez mais qualificados. Possivelmente, mais adiante, o capitalismo será “globalizado”, colocando em prática novas tecnologias que poderão auxiliar no aumento da produtividade e lucratividade das empresas.

No entanto, nos anos 70, acontecerá a “crise do trabalho”, ocorrendo operação tartaruga, boicotes, sabotagens, o que afetará os trabalhadores, provocando a “degradação da qualidade do trabalho”, mas causando, simultaneamente, a “melhoria da qualidade dos trabalhadores”, com o aumento do nível educacional ocorrendo juntamente com o desenvolvimento da taylorização, provocando a “recusa ao trabalho”, pois as aspirações se elevam, e provocam a divisão do trabalho.

A divisão do trabalho acontece porque, a partir do momento que muitos trabalhadores buscam qualificar-se, é preciso uma divisão para conhecer o mais qualificado e o menos qualificado, o que possivelmente afetará o salário de cada trabalhador.

Essa situação da “crise do trabalho”, a qual resultou na “degradação da qualidade do trabalho”, fez com que as empresas buscassem melhorar as garantias dos trabalhadores e as fontes de motivação, resultando em uma melhoria das remunerações, que devido à inflação, era uma prática que favorecia a empresa.

Desse modo, a desorganização da produção, a ruptura das rotinas de trabalho, o questionamento das formas disciplinares em vigor, como horários fixos, mensuração do desempenho, supervisão, respeito à hierarquia, a autoridade dos mais velhos, resultou em consequências de caráter emocional, a partir de brigas pessoais com chefe, envolvendo situações que até então não eram julgadas como problemáticas, mas que passam a exigir respostas rápidas, nas quais os representantes das empresas e dos sindicatos entravam em acordo, mas que nem sempre agradava a todos.

Durante o século XX, os sindicatos buscaram se estabilizar e garantir a posição dos trabalhadores. Os operários estavam mobilizados contra as ameaças das quais eram alvo, pois as empresas buscavam se reestruturar e se modernizar.

O que aconteceu é que os trabalhadores estavam mobilizados e através das greves demonstram isso. As empresas, em contrapartida, vendo essa situação, se modernizam, e isso leva a um crescimento das mesmas e à concentração maior do capital.

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Com o passar do tempo, houve o enfraquecimento dos sindicatos, pois sua presença se reduziu nas empresas, o que levou à redução dos seguidores, pelo fato dos sindicatos não estarem bem implantados, não permitindo a solução de problemas referentes ao trabalho. Consequentemente, os direitos dos trabalhadores eram desrespeitados, resultando na reestruturação do capitalismo, ou seja, os deslocamentos do capitalismo enfraqueceram os sindicatos.

Os sindicatos estavam inseguros em relação ao interesse que os novos métodos de gestão das relações humanas despertavam nos trabalhadores, não sabendo que posição tomar, gerando um processo de politização, com o qual os afiliados não concordavam.

As empresas, por sua vez, buscaram novos métodos de gestão das relações humanas, o que diminuiu os conflitos e evitou os sindicatos, surpreendendo os sindicatos que ora concordavam com algumas ideias, e ora discordavam.

Como vimos, as empresas buscaram se reestruturar e se modernizar. Mas surgiram as dificuldades de gestão, pelo fato das empresas terem crescido bastante (empresa grande requer burocracia para dar conta de seu crescimento). Por isso, recorreu-se à literatura de gestão empresarial, encontrando-se novos métodos de obter lucros, recomendações para que a empresa se torne competitiva, justificações do modo como o lucro é obtido.

Essa literatura busca mostrar que o modo prescrito pode ser atraente, interessante, bem como a preocupação em relação à motivação dos executivos e a maneira de engajá-los. Em suma, a gestão empresarial busca dar sentido ao sistema assalariado e ao espírito do capitalismo.

A partir da década de 1970, o taylorismo entra em crise, e surge o modelo de organização do trabalho chamado toyotismo, em referência à Toyota, no Japão, que foi a primeira empresa a utilizar esse modelo de organização do trabalho. Nesse modelo de organização do trabalho as operações são diversificadas e o trabalhador se envolve com os objetivos da empresa. As empresas buscaram superar a rigidez, buscaram-se novas linhas de produtos, a produção se deslocou para regiões onde as organizações sindicais fossem menos organizadas e os salários mais baixos. Esse modelo de organização do trabalho tinha como objetivo elevar a produtividade, reduzir custos e promover um controle da qualidade. Surgem métodos como o sistema de sugestões, os círculos de controle da qualidade e os programas de qualidade total, que envolviam fornecedores e subcontratados na luta pela qualidade.

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Esse novo modelo de organização do trabalho proporcionou trabalhadores mais escolarizados, com raciocínio lógico, capacidade de se relacionar com colegas, capacidade de operar equipamentos diversos e complexos, capacidade de realizar diversas operações, motivado para o trabalho, engajados com os objetivos da empresa.

Na verdade, o que muda de um modelo de organização para outro é que o trabalhador deve se concentrar em uma tarefa com várias operações. O trabalhador aumenta a tensão nervosa, muscular e intelectual, ou seja, a intensidade do trabalho se elevou. As formas rígidas de controle do taylorismo foram transformadas em lideranças motivadoras e o grupo exerce pressão sobre os indivíduos. Os grupos criam reações psíquicas de auto-controle como introjeção dos valores da empresa, estímulo ao orgulho profissional, “rivalidade” psicológica que visa esconder a oposição de interesse entre trabalhadores e gerência.

Até então as empresas buscam cada dia mais melhorar seus produtos para consequentemente atrair o consumidor e aumentar a produtividade. Mas isso requer trabalhadores qualificados, agilidade de execução das tarefas, o que levou as empresas, na década de 1970, a buscar uma forma de tornar isso possível. A forma encontrada foi a gestão empresarial em rede, que está associada à comunicação, à complexidade e à desordem.

A gestão empresarial em rede foi uma das formas encontradas que mais se adequou ao atual capitalismo, pelo fato de permitir uma organização mais flexível e adaptável, mas, em contrapartida, não consegue coordenar recursos necessários para um trabalho que vai além de um determinado tamanho e complexidade de organização.

Segundo Manuel Castells quando nos referimos à globalização, estamos nos referindo à sociedade em rede, pois ela difunde-se por todo o mundo, mas não inclui todas as pessoas. Ele nos dirá que a sociedade em rede é:

... Uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de comunicação e informação fundamentadas na microeletrônica e em redes digitais de computadores que geram, processam e distribuem informação a partir de conhecimento acumulado nos nós dessas redes. (CASTELLS, CARDOSO, 2005, p. 20)

Verificou-se que a gestão empresarial em rede em alguns países fez com que as taxas de crescimento de produtividade se tornem ainda maiores, pois ocorreu a transformação da estrutura produtiva pelo fato da geração e difusão de novas tecnologias, e pela transformação

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do trabalho. Com o crescimento do trabalho qualificado, é possível sustentar a competitividade em longo prazo.

Apesar de proporcionar inovação, competitividade, lucro, as empresas precisam saber lidar com a instabilidade global do mercado de trabalho, a necessidade de flexibilidade do emprego, mobilidade do trabalho e a constante requalificação.

E uma das formas que as empresas encontram para isso é o prolongamento da jornada de trabalho (que sempre esbarra no limite fisiológico do ser humano e no limite político da luta pelos diretos dos trabalhadores). Como estratégia, as empresas investem em automação (tecnologia), o que dispensa parte da mão de obra humana e torna o trabalho mais produtivo, resultando em um número altíssimo de desemprego.

Por esses motivos a ideia de carreira profissional estável entrou em declínio pelo fato das relações entre capital e trabalho se tornarem individualizadas. Porém, isso não quer dizer que os contratos a longo prazo e os empregos estáveis tenham desaparecido, ou seja, é uma estabilidade construída dentro da flexibilidade.

Segundo Manuel Castells, as mudanças tecnológicas provocaram transformações no mercado de trabalho, em que alguns trabalhadores foram demitidos e algumas ocupações extinguidas. Em contrapartida, são criadas novas ocupações, o que cria empregos, e mais trabalhadores são reempregados, exceto os mais velhos.

Atualmente as empresas tendem a limitar o trabalho em longo prazo. Por isso, subcontratam, empregam temporariamente. Dessa forma, os trabalhadores endurecem o seu poder de negociação, através de negociação coletiva e sindicalização, o que torna o trabalho rotinizado.

Para trabalhar nas empresas em rede é preciso adaptação da força de trabalho às novas condições de inovação e produtividade, sendo que muitas vezes a empresa manipula para obter vantagens.

Na sociedade em rede o sindicato não desaparece, mas, dependendo de suas estratégias, torna-se foco de resistência à mudança tecnológica ou torna-se ator de inovação no novo significado do trabalho, num sistema de produção baseado na flexibilidade, na autonomia e na criatividade.

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A saúde, o poder e a geração de conhecimento estão dependentes da capacidade de organizar a sociedade para captar os benefícios do novo sistema tecnológico. Existe um potencial destrutivo da Era Industrial, e as maravilhas da revolução tecnológica auxiliam o processo auto-destrutivo.

Muitos autores trazem a ideia de que as novas tecnologias destroem empregos, a internet isola, sofremos com o excesso de informação, a info-exclusão aumenta a exclusão social, nossas vidas são aceleradas pela tecnologia. Enfim, pensando sob esse ponto de vista, a tecnologia é tida como a vilã da história. Mas é preciso ter a consciência de que a tecnologia também auxiliou em alguns aspectos.

Os trabalhadores compreendem que o que conquistaram até então não é suficiente, não desfrutando do que tem, a realização plena torna-se um modo de vida.

Atualmente vemos que muitos desempregados receberam a educação e a capacitação desejada, mas o trabalho que esses desempregados buscam migrou para outros lugares, em que a mão de obra especializada é mais barata, consequentemente se requer capacitações diferenciadas.

Verifica-se que o capitalismo vai em busca de mão de obra barata, deixando de lado os países que costumam pagar um alto salário. Acontece uma seleção cultural, surgindo o capitalismo em países em que trabalhadores são qualificados, mas não são super preparados.

Zygmunt Baumman, na década de 1980, observa que a Fundação Joseph Rowntree apresenta em seu relatório uma pesquisa em que se constatou que havia um número expressivo de jovens em depressão devido ao desemprego, pois eram excluídos das possibilidades de melhorar seu nível educacional.

Mas esse não é o único sintoma que afeta os jovens, eles sofrem com outros sintomas que as gerações anteriores não sofreram, não são necessariamente mais sofrimentos, nem sofrimentos mais agudos, dolorosos, mas são sofrimentos bem diferentes, são jovens que se encontram irritados, perturbados, aflitos.

A maioria desses jovens são recém-saídos da escola, entrando sem experiência no mercado de trabalho, que está preocupado em aumentar os lucros, cortar custos com mão de obra, desfazer-se dos ativos, quando deveria criar novos empregos. Entretanto, indica-se aos jovens que sejam mais flexíveis e menos seletivos, não esperando demais de seus empregos.

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Esses jovens, ao perderem seus empregos, seus projetos, estão despidos de sua dignidade como trabalhadores por não poder contar com o Estado que os trata como restos, dejetos, fazendo com que sintam-se inúteis. São jovens que precisam saber lidar com a ideia de que muitas vezes um diploma de curso superior não garanta a estabilidade no emprego, que eles tanto desejam, ainda que isso seja privilégio de poucos.

São jovens que têm uma grande probabilidade de sofrer (não que as gerações anteriores não tivessem sofrido, mas cada geração precisa saber lidar com o seu sofrimento) sendo que essa atual geração, mais conhecida por Geração X, precisa saber lidar com o sofrimento, que a faz sentir-se rejeitada, deixada de lado. Ela precisa saber lidar com um sentimento de confusão, desorientação, perplexidade. Parece-nos que esta geração está com dificuldades de gerenciar crises.

Os problemas dessa geração mudaram em comparação aos problemas da geração anterior, pois os problemas da geração de hoje estão relacionados com os objetivos e não com os meios. Não se busca mais meios para atingir fins definidos de modo claro e segurá-los com firmeza e utilizá-los com habilidade para obter um bom efeito. O problema agora é a indefinição dos fins que se dissolvem mais depressa, o que não requer compromisso e dedicação.

1.2 A flexibilização e a globalização na era do capitalismo contemporâneo

Por sua vez, as empresas buscaram uma nova estratégia: a flexibilidade, que tem origem no século XV. Esse termo designa a capacidade de ceder, ou seja, o comportamento humano deve se adaptar às circunstâncias. (SENNETT, 2009, p. 51)

A flexibilidade busca atacar as formas rígidas de burocracia e os males da rotina cega, em que os trabalhadores devem ser ágeis, estar abertos a mudanças de curto prazo, assumir riscos continuamente, não depender tanto de leis e procedimentos formais, e, consequentemente, conseguir exercer várias atividades. Ainda é preciso que esses trabalhadores se relacionem com um grande número de pessoas, estando interligados todos em uma rede, que trabalhem todos juntos para que o lucro surja em curto prazo.

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Sennett (2009) dirá que a flexibilidade do trabalho humano está produzindo nova estrutura de poder baseada na reinvenção descontínua de instituições. Também acontece a especialização flexível da produção e a concentração do poder sem centralização.

A reinvenção descontínua das instituições é uma forma de adaptação à mudança permanente, sendo necessários alguns requisitos da organização, como os manuais de negócios que retratam o comportamento flexível, exigindo desejo de mudança, colocando em prática técnicas rápidas, tomadas de decisão, alta tecnologia, rapidez nas comunicações e deixar que as demandas do mercado externo determinem a estrutura da empresa.

A especialização flexível da produção acontece porque as empresas que buscam permanecer no mercado precisam constantemente inovar, o que faz com que seja preciso o uso da tecnologia, o que requer agilidade. Esse é um sistema de produção incorporado ao sistema de produção em massa estabelecido por Ford1. Tem como finalidade a variação dos produtos para atender a demanda de produção.

A concentração sem centralização é uma promessa de que a descentralização do poder garanta às pessoas controle de suas atividades, mas o que se percebe é que o poder continua no nível gerencial e o controle se estabelece através de metas. É uma técnica utilizada para grupos de trabalho, empresas com filiais e agências que impõe metas, e é dada ao grupo a liberdade de encontrar a melhor maneira para atingi-las. As metas impostas estão além do alcance e são controladas por mapas e planilhas de acompanhamento.

A organização do tempo de trabalho, chamada de flexitempo, em que as empresas que o adotam têm o tempo individualizado. No entanto o flexitempo parece dar liberdade ao trabalhador que pode trabalhar baseando-se em um tempo mais flexível, o que lhe parece dar mais liberdade. Mas eis aqui um grande equívoco, pois o trabalhador acaba ficando preso em um sistema que o obriga a cumprir metas, o que o coloca sob pressão, sendo esse um dos fatores prejudiciais a sua saúde física, bem como sua saúde psíquica.

Richard Sennett, em sua obra “A Corrosão do Caráter”, traz a ideia da flexibilidade que se contrapõe à ideia de rigidez do fordismo. O sujeito precisa lidar com a sensação de

1 Foi um importe engenheiro americano, que em sua juventude era o responsável pela manutenção dos

motores dos tratores da fazenda de seu pai, desenvolvendo interesse pela engenharia automobilística. Considerado o primeiro a implantar um sistema de produção em série, percebeu que era mais rápido e barato produzir de forma padronizada. (http://www.suapesquisa.com/biografias/henry_ford.htm)

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fracasso, constante incerteza, rápidas mudanças, o que pode vir a corroer o seu caráter, afetar sua família e suas perspectivas de vida.

Dirá Sennett que o caráter flexível traz consequências como negação das formas rígidas da burocracia, alteração dos significados do trabalho, consequentemente provocará sentimentos de ansiedade o que leva a incerteza do sujeito em relação ao seu cotidiano e ao seu futuro.

Entretanto, o capitalismo, em sua forma atual, segundo Sennett, afeta o caráter pessoal dos indivíduos, pois não oferece condições de construção de uma vida sustentada na experiência. As relações de trabalho e afinidade não se processam em longo prazo para o trabalhador, diferentemente do trabalhador da época fordista que, apesar da burocracia e da rotina, conseguia construir uma historia de vida baseada no uso disciplinado do tempo.

Sennett dirá que, para que aconteça a flexibilização do tempo, é preciso que aconteça a flexibilização do caráter, o que caracteriza a ausência de apego temporal em longo prazo e tolerância com a fragmentação. Traz ainda a idéia de que o trabalho flexível leva a degradação dos trabalhadores, pois se dá a introdução de novas tecnologias, podendo tornar o trabalho fácil, superficial e ilegível.

Para Sennett, a flexibilidade do tempo faz com que os trabalhadores aceitem correr riscos, e isso representa ter consciência que correr riscos é poder a qualquer momento se deparar com o fracasso. É visível que o fracasso pode deixar os trabalhadores mais depressivos.

O autor deixa claro o fato de que o trabalho flexível tentou dar fim a burocracia e a rotina, mas o que acabou ocorrendo foi a precarização das relações de trabalho, o que provocou o afastamento do padrão de qualidade.

As relações entre as pessoas no trabalho são superficiais e descartáveis, afrouxando os laços de lealdade, confiança e compromisso mútuos, por causa das experiências de curto prazo. Em consequência disso, as empresas podem acabar tornando as pessoas descartáveis.

Os capitalistas que vivem na desordem da economia têm receio de que aconteça a organização e o ressurgimento dos sindicatos, pois é possível pensar que os sindicatos não desapareceram, somente sofreram mudanças.

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Richard Sennett, citando Leslie Sklair, aponta que o capitalismo atualmente pode ser pensado pela via da globalização, onde esta se limitou a expandir as multinacionais no século XX, bem como outros fatos materiais que ocorreram, como a ascensão de imensas cidades interligadas numa economia global própria, inovações tecnológicas, na comunicação, nos transportes. A corporação global tem investidores em todas as partes do mundo, tendo uma estrutura complexa.

O termo globalização surgiu na década de 1980, através da imprensa financeira internacional. Consequentemente, muitos autores associaram o termo globalização a novas tecnologias na área da comunicação, para interligar pessoas por meio dos computadores, o que permitiu acelerar a circulação de informações e de fluxos financeiros.

O processo de globalização surgiu para atender ao capitalismo e aos países desenvolvidos, para que pudessem buscar novos mercados, visando o consumo interno que estava saturado.

A globalização é a fase mais avançada do capitalismo, que pelo fato de inovar nas telecomunicações, no transporte, afeta o mercado de trabalho, pois as novas tecnologias vêm com o intuito de substituir o trabalhador assalariado. Mas essa substituição não se consolida totalmente, porque as indústrias ainda precisam do trabalhador assalariado, assim o mesmo precisa encontrar formas de sobreviver no mundo globalizado.

Para Milton Santos (2001), a globalização permite a introdução de identidades culturais diversas, sobrepondo os indivíduos. Mas a globalização, infelizmente, segundo o autor, traz efeitos excludentes e perversos, principalmente nas áreas pobres do mundo, assim como a globalização econômica gera conflitos, o que se tenta dissimular com a competitividade.

A globalização trouxe crescimento, evolução, aplicação de novas tecnologias que favoreceram o aumento do lucro para as empresas, consolidando o capitalismo. No entanto, para os trabalhadores a globalização não apresenta tantas vantagens como para o capitalismo. Mas, para Milton Santos, a globalização é reversível, pois ela pode ser usada para o bem da humanidade. Mas infelizmente ao que tudo indica e o autor apresenta a globalização é imposta pela tirania do dinheiro e da informação, o que leva à uma competição desigual, determinando a escassez e a pobreza para os excluídos.

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Milton Santos nos dirá que:

... Essas técnicas da informação são apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando assim os processos de criação de desigualdades. É desse modo que a periferia do sistema capitalista acaba se tornando ainda mais periférica, seja porque não dispõe totalmente de novos meios de produção, seja porque escapa a possibilidade de controle. (SANTOS, 2001, p. 39)

O mercado impõe regras, o dinheiro acaba se tornando violento, bem como a informação também se torna violenta, o que gera competições que parecem guerras, pois como nos diz Milton Santos, a concorrência atual não é mais como a velha concorrência, uma vez que elimina a compaixão.

O dinheiro modela o espaço escolhido pelo capitalismo, fazendo fluir as atividades, sendo por isso perceptível que a atual globalização cada vez mais exclua e torna a situação precária. É preciso uma nova globalização que valorize o homem no mundo do dinheiro.

Portanto, segundo Giddens, (1990) citado por Nilen (2012, p.9), tendo em vista o “âmbito social e cultural, desde a esfera pública até a privada, a intensificação da globalização, os novos movimentos sociais surgidos a partir da década de 1970 e a emergência de um capitalismo de consumo”, mudaram as “relações sociais” em diferentes perspectivas. As relações de trabalho passaram a se intensificar porque o desejo dos capitalistas passou a prevalecer em todo o mundo, criando uma grande maioria de trabalhadores intensificando a presença das diferentes classes sociais. A sociedade passou a ser formada por pessoas que passaram a concentrar muito capital e muita renda de um lado, e de outro com pessoas convivendo na extrema pobreza.

O processo de globalização traz muitas consequências para a saúde do trabalhador, pelo fato das mulheres ocuparem a maioria dos cargos terceirizados, trabalharem em empregos de tempo parcial, trabalho temporário, trabalho informal, trabalho precário e vulnerável. O processo de intensificação do trabalho sucedido pela emergência de novos modelos produtivos, trouxe a expansão da LER (Lesão por Esforço Repetitivo), que acomete principalmente as mulheres, bem como problemas de saúde mental. As transformações provocadas exigem tanto das mulheres como dos homens a implicação nos processos de gestão interna da empresa. Portanto, atualmente ocorre uma precarização da mão de obra.

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1.3 As transformações do capitalismo e o valor simbólico do trabalho

Por mais que o capitalismo tenha passado por transformações, suas principais características permaneceram com o passar do tempo, em que o trabalhador assalariado precisa adaptar-se às modificações provocadas pelo capitalismo, como as novas explorações de sua força de trabalho, a flexibilização, o trabalho em rede, sem poder contar muito com os sindicatos, que estão enfraquecidos pela má implantação que se deu no decorrer do tempo.

Portanto, é possível compreender que desde o enraizamento do capitalismo a sociedade se modificou e essa modificação fez com que os capitalistas se preocupassem somente com o lucro, deixando de lado os trabalhadores que perderam sua dignidade, tendo que vender sua força de trabalho para sobreviver, tendo que conviver com a ideia do desemprego que significa inutilidade, pois o mercado de trabalho globalizado requer cada vez mais qualificação e se o trabalhador não buscar essa qualificação terá que conviver com a ideia do desemprego.

As empresas, por sua vez, precisaram buscar novas formas de permanência no atual mercado competitivo, que busca quantidade e preço, e se não se adequarem ao mundo globalizado, provavelmente serão extintas, o que representa mais desemprego e aumento nas estatísticas da sociedade capitalista. A geração de hoje precisa saber conviver com o sofrimento, pois o Estado não lhe oferece condições suficientes pra que se possam manter dignos, e para que não sintam-se rejeitados, nem vistos como restos.

Verifica-se que a introdução de novas tecnologias pode ser um dos fatores propulsores das Lesões por Esforço Repetitivo (LER)2, pois a introdução destas não diminuiu o ritmo de trabalho, mas ocasionaram a sua intensificação.

O capitalismo traz consequências psíquicas para o trabalhador, pois o trabalho pode ser visto como espaço de realização humana, ou como sendo um lugar em que o sujeito se constitui como lugar de reconhecimento, pelo fato de que é através do trabalho que o homem submete a sua atividade para ingressar em um projeto que fará parte de sua vida. Mas, por outro lado, o trabalho também pode ser visto do lugar de desmerecimento, sendo que o trabalho está ligado ao capitalismo e o trabalhador assalariado foi relativamente perdendo a capacidade de começar a produção e de conferir finalidade a ele, sua participação está se

2

No Brasil, a primeira referência oficial a esse grupo de afecções do sistema músculo-esquelético foi feita pela Previdência Social, com a terminologia tenossinovite do digitador, através da portaria n° 4.062, de 06/08/87. (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ler_dort.pdf)

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tornando limitada. Desde a Revolução Industrial, em que se deu a introdução das máquinas e das ferramentas, o trabalhador passou a perder o espaço que lhe restava.

A singularidade do trabalhador parece ser deixada de lado, pois o capitalismo busca agilidade e lucro. Verifica-se que o trabalhador produz uma mercadoria na qual tem dificuldades em depositar sua singularidade, pois no caso da indústria que produz produtos em série padronizados, a ação do trabalhador parece estar fragmentada pelo fato de que ele não participa de todo o processo de produção. É por isso que grande parte dos produtos que encontramos no mercado são padronizados, uniformizados, e não há nesses produtos a singularidade do trabalhador que o produziu.

Compreende-se que o capitalismo torna supérfluo o trabalhador, que precisa conviver com a ameaça do desemprego, pois as empresas argumentam que é preciso reduzir os custos e diminuir o peso do “fator humano” na folha de pagamento, ou seja, menos custos e mais lucros o que remete à exploração que se deu no inicio do capitalismo.

Em contrapartida, o desemprego é contrabalançado por outros fatores, como a criação de novas empresas, oferta de novos produtos e a busca por mais mão de obra, portanto a tendência é que não se tenha um emprego permanente por muito mais tempo e a mudança de emprego de tempos em tempos seja inevitável. Alguns autores acreditam que isso seja algo positivo, pois não se tem mais um lugar fixo, mas pensando de outra forma, o sujeito terá que conviver com o horror de nunca saber ao certo se terá ou não um emprego. Dessa forma, o sujeito precisa se reinventar de tempos em tempos.

Ocorre a criação de novos empregos em um ritmo veloz e ao mesmo tempo se dá a sua extinção. Esses desempregados já não são mais um excedente, mas algo inscrito, dando-se uma nova divisão da classe operária, os que têm emprego e os que não têm emprego.

Pelo fato das empresas buscarem a flexibilização do trabalho, os trabalhadores, a produção, os produtos, os mercados e os padrões de consumo resultam em um crescimento do desemprego que surge por causa da introdução de inovações tecnológicas que poupam mão de obra, disseminando formas precárias de relações do trabalho, como contratos por tempo parcial, contratos temporários e subcontratações. Dessa forma, podemos pensar e nos questionar se isso não estaria contribuindo para a criação de novas subjetividades.

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Esse novo modelo de organização do trabalho fez com que os trabalhadores precisassem estar dispostos a colaborar para não se verem desempregados, o que consequentemente faz com que o desgaste físico e psicológico seja ainda maior, apesar de serem banalizados e encarados como normais para o trabalhador. Esse modelo, infelizmente, não baniu o aparecimento de patologias que afetam o trabalhador, na verdade houve uma intensificação que é prejudicial ao trabalhador que tem sua subjetividade esquecida, deixada de lado, pois o que importa para o capitalista é o lucro, e não o bem estar do trabalhador.

Pelo fato dos avanços tecnológicos mudarem os hábitos da sociedade e as relações de trabalho, os trabalhadores acabam excluídos desse processo, o que requer um reaproveitamento para poderem acompanhar o ritmo do mercado que aumenta suas exigências. Sendo ainda que a robotização diminuiu o número de trabalhadores com atividades operacionais. Jerusalinsky (2000) dirá que a máquina substituiu a força de trabalho.

A divisão do trabalho se aprofundou, o antigo trabalhador dito completo e o artesão precisaram aprender a comandar máquinas para poder produzir.

Jerusalinsky (2000) traz a idéia de que é perceptível que, no atual modo de produção que estamos inseridos, o capitalismo, grande parte do saber está depositado no objeto, ficando o trabalhador muitas vezes sem chance de depositar o seu saber, ou seja, o valor do homem parece estar no objeto. Portanto, é perceptível que o discurso econômico esteja preocupado apenas com a economia, que ela esteja bem, não dando importância aos sujeitos nela implicados. Nesse caso, conseqüentemente, “o sujeito fica numa total dependência para estabelecer seu valor simbólico, seja por possuir o objeto, seja por fabricá-lo, dominá-lo assim encontra seu valor” (Jerusalinsky, 2000). Pode-se pensar que o sujeito acaba se tornando um instrumento de produção do objeto, desloca-se de sua posição subjetiva.

A Revolução Industrial fez surgir impactos no século XVIII, bem como esses impactos continuam acontecendo até o século XX. No entanto, o que percebemos é a revolução da microeletrônica, que está modificando a comunicação, a maneira de comprar, de viajar, enfim, está provocando transformações.

Portanto, é perceptível que o trabalho ganha um significado conforme cada cultura, e seu valor simbólico dá-se a partir do imaginário construído pelo social conforme a época. O trabalho é uma das principais formas de representação do sujeito no discurso social.

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Neste cenário verifica-se que com o passar do tempo surge a psicopatologia do trabalho que estuda não só as patologias do trabalho, mas também as condições que as empresas oferecem aos trabalhadores, pois as empresas começaram a perceber questões de caráter emocional que surgiam nos conflitos e por isso foi preciso buscar maneiras de compreender a subjetividade do trabalhador, que até então não era relevante para as empresas no contexto capitalista, pelo fato que o trabalho pode provocar sofrimento psíquico no trabalhador ou pode ser fonte de prazer.

Portanto, através do que foi exposto até o momento é perceptível que o capitalismo, assim que surgiu, começou a provocar mudanças na sociedade, pois todo e qualquer capitalista visa somente o lucro em curto prazo, e o trabalhador assalariado precisou vender sua força de trabalho para sobreviver, bem como precisou, com o passar do tempo, buscar formas de manter-se trabalhando, necessitando buscar qualificação. As empresas, por sua vez precisaram modernizar-se, e reestruturar-se, para não sucumbirem às mudanças que o capitalismo provocou. Precisaram buscar formas de se manter num mercado que cada vez mais se torna competitivo para atender os consumidores.

É nesse cenário que o próximo capitulo trata do sofrimento psíquico no trabalho, o qual pode desenvolver patologias prejudiciais a saúde do trabalhador.

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2. A ORGANIZAÇAO DO TRABALHO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O TRABALHADOR

O trabalho deve ser para o homem uma das formas de exploração do conhecimento, conforme o adquire, mas desde suas primeiras noções, o trabalho não é visto como algo satisfatório, sendo visto como uma pressão para poder sobreviver. No entanto, é preciso compreender que se o sujeito consegue colocar seu saber sobre o objeto produzido, isso poderá gerar satisfação, o que é extremamente importante para o não adoecimento desse sujeito trabalhador. Mas, caso esse trabalhador não conseguir colocar seu saber sobre o objeto produzido, pelo fato do capitalismo requerer produtos uniformizados e padronizados, a baixo custo, para o aumento da produtividade e conseqüentemente da lucratividade, essa situação poderá gerar sofrimento, o que poderá surtir em um adoecimento.

Veremos que alguns fatores, como a organização do trabalho, podem levar ao adoecimento do trabalhador, caso ela seja rígida, como é apresentado no modelo de organização do trabalho por Taylor. Outro fator que pode levar ao adoecimento é o sofrimento que, ao se tornar patogênico, pode ser prejudicial a saúde psíquica do trabalhador.

Entretanto, conforme Laudares (2006), na fase pré-capitalista, o artesanato era a fonte de trabalho, as relações de trabalho eram verticalizadas e o artesão dominava todo o processo de produção, do planejamento à comercialização do produto. As relações de trabalho eram patriarcais e o artesão treinava seus ajudantes.

Com o surgimento da industrialização no século XIX, ocorre um movimento de urbanização, êxodo rural, consequentemente surgem as cidades, as fábricas são o espaço de trabalho do homem, surgindo uma nova sociedade industrial e capitalista. Em consequência, ocorrem mudanças e novas formas de produção, criam-se políticas.

A partir do momento que as máquinas surgem na indústria com o intuito de substituir o trabalho humano para o aumento da produtividade, que conseqüentemente aumentará o lucro, fazendo com que o trabalhador aos poucos perca seu lugar, não conseguindo identificar-se como sujeito trabalhador provido do saber, é preciso estar ciente de que as

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condições a que os trabalhadores estão submetidos são prejudiciais a sua saúde tanto física quanto psíquica.

Todo esse processo requer a criação de uma infra-estrutura para que a convivência seja possível. Portanto criam-se moradias, é preciso transporte, disponibilização de serviços de saúde, criação de espaços para desfazer a aglomeração de trabalhadores após a jornada de trabalho. É de responsabilidade do capital gerir o processo de trabalho, bem como tratar da questão da venda da força de trabalho do trabalhador. Fora do espaço fabril é preciso criar de instituições responsáveis pela regulação do convívio social, intermediando capital e trabalho através do Estado, são instituídas as relações de trabalho.

A partir da criação dos modelos de organização e gestão do trabalho, podemos pensar as bases técnicas e as tecnologias de organização, ou seja, a máquina, a energia, os mecanismos produtivos e os modos de organizar, controlar e gerenciar a força de trabalho. É possível fazer uma comparação tecnológica e percebermos a evolução do capitalismo quando surgiu a máquina a vapor, de fabricação artesanal. Em seguida surge a eletromecânica, com o uso dos motores elétricos à combustão, e atualmente temos máquinas eletrônicas e informatizadas. Paralelo a isso, o capitalismo busca comprar a força de trabalho, o que o leva a ser considerado responsável pela inserção e organização no processo produtivo, criando as relações de classe entre trabalho e capital.

Portanto, no capitalismo as relações de trabalho são movidas pela cooperação do trabalhador, com responsabilidade de progresso, o que cria uma divisão social em classe entre capital e trabalho. No fordismo o que interessa para o capitalismo é a crescente produtividade e a vitória em relação à competitividade. Acontecem dessa forma as relações de trabalho com a admissão da organização de trabalhadores em sindicatos.

No toyotismo o que interessa é a diminuição da livre organização através do sindicato de empresa, havendo reivindicações do trabalhador em relação ao crescimento e desenvolvimento da empresa.

O fordismo reduziu a responsabilidade do trabalhador, através da disciplina da força de trabalho. Em contrapartida, o novo modo de organização do trabalho que é baseado na produção flexível, no controle de qualidade, faz aumentar a responsabilidade do trabalhador, sem ganhos reais, apesar de uma maior adesão, engajamento e envolvimento aos princípios capitalistas.

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O capitalismo impõe diversas reestruturações que diminuem o emprego regular, ocorre o crescimento do trabalho em tempo parcial, temporário e subcontratado. A acumulação flexível faz com que as relações de trabalho enfraqueçam, pois o capital é menos industrial e mais financeiro. Acontece a diminuição das aplicações no parque industrial, pelo fato dos recursos serem direcionados para o mercado de capitais, o que enfraquece as economias nacionais, pois as aplicações financeiras são feitas onde há maior lucro para obter uma maior acumulação.

Surge uma nova concepção de empregabilidade, ou seja, o trabalhador é responsável pela descoberta e permanência do seu emprego ou ocupação no mercado de trabalho. O capitalismo busca garantir o mínimo da força de trabalho essencial à produção, que está cada vez mais tecnológica, informatizada e robotizada para garantir um exército de reserva para uma possível manutenção da regularidade da produção. Busca-se a redução do número de trabalhadores, mas a produtividade deve aumentar e é do Estado a responsabilidade de qualificação supérflua ao processo de trabalho.

Conforme nos traz Laudares (2006), citando Kuenzer (2002), o capitalismo quer que o Estado seja o responsável pela divulgação da nova concepção de mundo determinada pela acumulação flexível, reivindicando ainda ao Estado atenção com a educação básica, onde a repetição, a memorização, a aprendizagem sejam substituídas pelo domínio das habilidades comunicativas, pelo raciocínio lógico, capacidade de diferenciar, de criar, de se comprometer, de trabalhar com a informação, de construir soluções originais, de duvidar e de não se satisfazer para poder se educar continuamente.

No fordismo, o Estado de Bem-Estar Social proporcionou um emprego pleno e o Estado assumiu a função de intermediário entre capital e trabalho. Atualmente as políticas públicas não atendem mais só o trabalhador, que precisa sozinho encontrar um lugar na divisão social e técnica do trabalho, apoiando-se em sua formação e qualificação. As relações de trabalho estão frágeis, há precarização de políticas publicas por causa do endividamento do Estado, e da corrupção. Portanto, se não há qualificação da mão de obra e inserção do país na economia global, as relações de trabalho enfraquecem dentro dessa disputa globalizada.

A partir do século XX surgem os primeiros estudos com maior aprofundamento sobre a relação de trabalho e os processos psíquicos envolvidos no modo de organização do trabalho taylorista, que tem como objetivo principal racionalizar o trabalho.

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Dejours (1987) aponta que o taylorismo trouxe prejuízos a saúde física e psíquica do trabalhador, em consequência do aumento da jornada de trabalho, ritmo acelerado de produção, cansaço físico, automação, não participação no processo produtivo, entre outros fatores.

Portanto, a organização do trabalho exerce sobre o homem uma ação especifica, trazendo impactos para o aparelho psíquico. Em determinado momento surgirá um sofrimento que pode ser um choque de uma história individual, com projetos que são ignorados pela organização do trabalho. (DEJOURS, 1987)

Mendes (1995), citando Wisner (1994), dirá que a organização do trabalho interfere na percepção positiva ou negativa do trabalhador sobre seu trabalho, pois cada indivíduo reage de forma diferente frente às dificuldades das situações de trabalho, pelo fato de que a pessoa apresenta necessidade de prazer e a organização do trabalho visa o automatismo e uma adaptação do trabalhador a um determinado modelo.

Mendes (1995), citando Freud (1930), observa que o homem estará em busca da ausência do sofrimento e desprazer tendendo a uma intensa experiência de prazer. Estando o prazer relacionado à satisfação de necessidades, que conforme nos dirá Dejours (1994), o prazer do trabalhador resulta da descarga de energia psíquica que a tarefa autoriza.

Na década de 1970 a psicopatologia do trabalho vai estudar a interface homem e organização do trabalho, sendo que a organização do trabalho se caracteriza pela rigidez, constituindo um sistema de imposições e restrições técnicas que é o que é proposto pelo taylorismo fordismo e, por sua vez, o funcionamento psíquico se caracteriza pela liberdade de expressão dos desejos inconscientes do trabalhador.

Mendes (1995) citando Dejours (1994) afirma que:

... As condições de trabalho prejudicam a saúde do corpo do trabalhador, enquanto a organização do trabalho atua no nível do funcionamento psíquico. A divisão de tarefas e o modo operatório evocam o sentido e o interesse do trabalho para o sujeito, e a divisão de homens mobiliza os investimentos afetivos, a solidariedade e a confiança. (MENDES, 1995)

Para Dejours (1987), é conforme a categoria profissional que se define um modelo especifico de organização do trabalho, podendo conter ou não elementos facilitadores para a saúde mental do trabalhador.

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Portanto Mendes (1995), citando Dejours (1990), dirá que a organização do trabalho resulta das relações intersubjetivas e sociais dos trabalhadores com as organizações. Ou seja, a organização do trabalho pode ser diferente em várias empresas que desenvolvam a mesma atividade, podendo variar de um local para o outro, até mesmo dentro de uma mesma empresa.

A organização do trabalho é variável, processual e dinâmica, pressupondo uma relação intersubjetiva e social, quando as definições técnicas são insuficientes para a realidade produtiva, pois sempre precisará de reajustes e reinterpretações feitas pelos trabalhadores.

É perceptível que o trabalho não é lugar só de sofrimento ou só de prazer, se dá conforme a dinâmica interna das situações e da organização do trabalho, dependendo das condutas e ações dos trabalhadores.

2.1 O desenvolvimento do sofrimento psíquico no trabalhador

Verificamos que o modelo contemporâneo de organização do trabalho ainda possui algumas características do taylorismo, sendo um modelo de organização conhecido e aplicado na indústria e posteriormente em outras instituições.

A partir da Revolução Industrial houve a evolução das tecnologias que tinha como função propor conforto ao homem, mas percebe-se que o que aconteceu foi que o trabalho físico se tornou mais leve, porém psicologicamente se tornou um trabalho árduo, pesado e fonte de repetição e competição.

Como conseqüência a busca pela sobrevivência faz com que as empresas independentemente de seu tamanho já não garantam mais a sobrevivência do trabalhador no mercado de trabalho.

Começam ocorrer dessa forma transformações organizacionais entendidas como perigo para os trabalhadores, originando-se o sofrimento psíquico, bem como a revolução técnica é outro fator de ameaça. Portanto as vivências de sofrimento estão associadas à divisão e padronização de tarefas, pouca ou nenhuma utilização do potencial técnico e da criatividade, rigidez hierárquica, o que leva ao excesso de burocracia, centralização das

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