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DELZINEIDE RIBEIRO DE MAGALHÃES

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE - UFAC

CURSO DE BACHARELADO EM HISTÓRIA

DELZINEIDE RIBEIRO DE MAGALHÃES

MATERNIDADE BÁRBARA HELIODORA: TRADIÇÃO E SABER MÉDICO EM RIO BRANCO NA DÉCADA DE 1940

RIO BRANCO-ACRE 2013

(2)

DELZINEIDE RIBEIRO DE MAGALHÃES

MATERNIDADE BÁRBARA HELIODORA: TRADIÇÃO E SABER MÉDICO EM RIO BRANCO NA DÉCADA DE 1940

Monografia apresentada ao Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em História, sob a orientação do Prof. Dr. Francisco Bento da Silva.

RIO BRANCO-ACRE 2013

(3)

MAGALHÃES, D. R., 2013.

MAGALHÃES, Delzineide Ribeiro de. Maternidade Bárbara Heliodora: tradição e saber médico em Rio Branco na década de 1940. Rio Branco, 2013. 57 f. Monografia (Graduação em História) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal do Acre, Rio Branco.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFAC

Bibliotecária:Vivyanne Ribeiro das Mercês Neves CRB-11/600

M118m Magalhães, Delzineide Ribeiro de,

1977-Maternidade Bárbara Heliodora: tradição e saber médico em Rio Branco na década de 1940 / Delzineide Ribeiro de Magalhães. – 2013.

57 f. ; 30 cm.

Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Acre, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Curso de Bacharel em História. Rio Branco, 2013.

Inclui Referências bibliográficas.

Orientadora: Prof. Dr. Francisco Bento da Silva.

1. Maternidade Bárbara Heliodora – História – Rio Branco (AC). 2. Maternidade – Memórias – Rio Branco (AC). I. Título.

CDD: 362.11098112

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MATERNIDADE BÁRBARA HELIODORA: TRADIÇÃO E SABER MÉDICO EM RIO BRANCO NA DÉCADA DE 1940

Monografia apresentada ao Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em História, sob a orientação do Prof. Dr. Francisco Bento da Silva.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Bento da Silva

ORIENTADOR

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

______________________________________________ Profª. Msc. Rosana Martins de Oliveira

MEMBRO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

________________________________________________ Prof. Armstrong Santos

MEMBRO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

________________________________________________ Prof. Msc. Vicente Gil da Silva

SUPLENTE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS Este exemplar corresponde à redação

final da monografia defendida por Delzineide Ribeiro Magalhães e aprovada pela Banca Examinadora em 19 de julho de 2013.

RIO BRANCO – ACRE 2013

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Dedicatória

Ao meu esposo Juarez, pelo companheirismo, amor e confiança. A minha filha Jamilly pelo carinho e compreensão.

A memória do meu querido pai Domingos Ribeiro de Magalhães e, a minha mãe Therezinha, que sempre me incentivou a estudar e é um exemplo de vida e família.

(6)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que sempre foi meu refúgio nos momentos difíceis. Agradeço a UFAC enquanto instituição de ensino superior.

À Coordenação e ao Departamento do curso de Filosofia e Ciências Humanas. Ao secretário da Coordenação do curso de Bacharelado em História pela sua presteza e colaboração ao longo do curso.

Ao prof. Francisco Bento da Silva pela orientação na execução deste trabalho.

A prof. Dra Maria José Bezerra pela amizade, ensinamentos e companheirismo durante minha jornada acadêmica.

Aos meus pais, por terem investido sempre na educação de seus filhos, apesar das diversas dificuldades enfrentadas.

Às minhas irmãs e irmãos pela parceria vivida no decorrer de toda a minha existência.

Aos meus companheiros e amigos do curso de História Bacharelado, em especial a Juliana, Karytha e Renata Adriana, pela amizade e ajuda impar ao longo desta jornada;

(7)

Não importa aonde você parou... Em que momento da vida você cansou... O que importa é que sempre é possível e necessário "Recomeçar". Recomeçar é dar uma chance a si mesmo... É renovar as esperanças na vida e o mais importante... Acreditar em você de novo.

(8)

SUMÁRIO

Lista de Figuras Resumo

Abstract

Introdução 12

Capítulo I- Hugo Carneiro e Guiomard Santos e a invenção da cidade moderna 16

1.1 Breve relato sobre o Governo de Hugo Carneiro (1927-1930) 16 1.2 Fins dos Anos 40: Um novo governante, uma nova proposta de modernidade

para o Acre 25

Capítulo II – Saúde Pública no Território do Acre em 1940 30

2.1 Um pouco da trajetória da história da obstetrícia 30 2.2 Mudanças no setor de saúde na cidade de Rio Branco 34

2.3 Quem era Barbara Heliodora? 35

2.4 Maternidade e Clínica das Mulheres Barbara Heliodora 36

Capítulo III – Gestantes e Parteiras na década de 1940 em Rio Branco Acre 43

3.1 A Parturiente no Ambiente Hospitalar 43 3.2 Parto domiciliar: Uma dedicação em benefício do nascimento de uma criança 46

3.2.1 Capacitação das Parteiras Tradicionais no Brasil 51

Considerações Finais 54

(9)

LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Inauguração do Pró-Matre - 1930 20

Figura 02: Vista do ―Mercado Municipal‖ de Rio Branco-Acre – 1930 21

Figura 03: Novo Quartel da Força Policial – 1930 22

Figura 04: Antigo Palácio do Governo – 1930 23

Figura 05: Edifício do Novo Palácio do Governo -1930 24

Figura 06: Simulação de um Parto no esqueleto de Bronze e Boneco Pano 31

Figura 07: Alicerces da Maternidade e Clínicas de Mulheres Bárbara Heliodora, construção

iniciada em 1946 36

Figura 08: Vista externa das obras de construção da Maternidade e Clínica de Mulheres

Bárbara Heliodora -1949 37

Figura 09: Homens trabalhando em um dos corredores da Maternidade e Clínica de Mulheres

Bárbara Heliodora -1949 38

Figura 10: Vista de um dos corredores da Maternidade e Clínicas de Mulheres Bárbara

Heliodora em construção -1949 38

Figura 11: Fachada da Maternidade e Clínica de Mulheres Bárbara Heliodora – 1949 39 Figura 12: Maternidade e Clínica de Mulheres Bárbara Heliodora, inaugurada em 07 de

setembro de 1950 40

Figura 13: Funcionários da Maternidade e Clínica de Mulheres Bárbara Heliodora, posando

(10)

RESUMO

Esta pesquisa tem como tema a Maternidade Barbara Heliodora e a relação entre tradição e saber médico. Onde será feita uma análise dos impactos causados pela construção da Maternidade e a instituição do saber técnico, confrontando com o costume de ter filhos em casa, com a ajuda das parteiras tradicionais, nos fins dos anos 40, na cidade de Rio Branco-Acre. Para uma compreensão melhor dividimos o presente trabalho em três capítulos, cada um com seus respectivos subitens: Capítulo I- Hugo Carneiro e Guiomard Santos e a invenção da cidade moderna. Capítulo II – Saúde Pública no Território do Acre em 1940. Capítulo III – Gestantes e Parteiras na década de 1940 em Rio Branco Acre. Em linhas gerais, o trabalho abordará ao longo dos três capítulos que constituem a monografia. As considerações finais compõem-se de análise resumida sobre o que foi discutido em cada um dos capítulos citados, bem como alguns apontamentos mais gerais sobre esta questão.

(11)

ABSTRACT

This research theme is Motherhood Barbara Heliodora and the relationship between tradition and medical knowledge. Where is an analysis of the impacts caused by the construction of the Maternity and the institution of technical knowledge, confronting the custom of having children at home, with the help of traditional birth attendants, in the late '40s in the city of Rio Branco, Acre. For a better understanding we divided this work into three chapters, each with their respective sub: Chapter I - Hugo Carneiro and Guiomar Santos and the invention of the modern city. Chapter II - Public Health in the Territory of Acre in 1940. Chapter III - Pregnant Women and Midwives in 1940 in Rio Branco Acre. In general, the work will address over the three chapters that constitute the monograph. The final considerations consist of summary analysis of what was discussed in each chapter cited, as well as some more general notes on this issue.

(12)

INTRODUÇÃO

]No período de 1946 a 1950, o Território do Acre foi governado por Guiomard Santos, que na época propunha fazer uma administração voltada para o trabalho construtivo em todos os setores administrativos do Acre, além de procurar resolver os problemas de saúde pública. Nesta época o Acre estava passando por um processo de urbanização e estava em andamento a construção de diversas obras públicas, dentre elas a Maternidade e Clínica de Mulheres Barbara Heliodora. O audacioso projeto de construção do hospital ao ser aprovado o e liberado os recursos, o engenheiro escolhido para executar a obra foi Aloysio Dantas1.

Este trabalho é resultado de uma pesquisa desenvolvida a respeito da Maternidade Barbara Heliodora, abordando a relação entre a tradição e saber médico, na época da implantação desse Hospital em Rio Branco.

A maternidade foi oficialmente inaugurada no dia 07 de setembro de 1950, com capacidade para 30 pacientes, dois berçários, sala de cirurgia e de parto. Devido às vastas proporções e os recursos modernos, na época era considerado o maior hospital especializado em maternidade do norte do país2. Dessa forma pode-se dizer que as mudanças ocorridas ao atendimento à gestante em Rio Branco seriam parte de um amplo processo de desenvolvimento urbano e medicalização da sociedade acreana.

É importante lembrar que nesta época as gestantes podiam contar com o atendimento médico no consultório pré-natal do posto puericultura3, cujo o atendimento era aos sábados das 7:00 às 9:00h e os exames médicos e laboratoriais eram gratuitos. O posto de pediatria, o de puericultura e a maternidade formariam o conjunto que assistiriam as crianças de Rio Branco, tratando de suas doenças e controlando sua alimentação, proporcionando-lhes conforto e assistência adequada ao nascer4.

Diante do exposto minha intenção é analisar os impactos causados a população a partir da construção da Maternidade Barbara Heliodora e a instituição do saber técnico, confrontando com o costume de ter filhos em casa, com a ajuda das parteiras tradicionais, nos fins dos anos de 1940, na cidade de Rio Branco-Acre. E também se a instituição do saber médico no governo de Guiomard Santos, no que se atém a prática tradicional das parteiras,

1

O Acre. Publicado em 08 de setembro de 1946. Acervo do Museu da Borracha, Rio Branco-Acre

2

Diário Oficial, 29/07/2009, nº 10.099.

3

Nota: puericultura - parto e cuidados com recém nascidos, em linguagem mais atual.

4

(13)

pode ser considerada uma estratégia ―civilizadora‖ no seu projeto de modernização da cidade de Rio Branco. Além disso, verificar o grau de aceitação das mulheres locais, a esse novo modelo de atendimento.

Como marcas cronológicas a pesquisa se inicia em 1946 a partir da construção da Maternidade e Clínica das Mulheres, e se estende até 1950, ano da inauguração do hospital.

Os passos iniciais dessa pesquisa tiveram início em abril de 2009 e o interesse por este tema é de motivação pessoal, pois me identifico com assuntos que abordam as questões culturais e sociais. As razões que me levaram a querer pesquisar sobre este assunto surgiu a partir da curiosidade em saber como se deu a implantação de um hospital especializado em atendimento às gestantes em uma época em que era comum o parto domiciliar assistido por parteiras tradicionais.

Estudar este tema possui relevância social, cultural e acadêmica. Quanto à relevância social, o trabalho abordará alguns aspectos importantes sobre as mudanças ocorridas na sociedade a partir da construção da maternidade. Vale ressaltar que de certa forma o hospital ocasionou mudanças para sociedade, dando oportunidade às gestantes a um atendimento médico formal. Além de ter gerado emprego para alguns membros da sociedade. Culturalmente acredito que esta pesquisa será importante, pois serão abordadas as mudanças ocorridas às práticas culturais locais, ao que diz respeito ao atendimento das gestantes, levando em consideração que na cidade não havia hospital, muito menos um atendimento especializado às mulheres grávidas. Quanto à relevância acadêmica considero um assunto interessante, que possibilitará aos acadêmicos que tenham interesse pelo assunto, o acesso ao conteúdo pesquisado e, a partir deste, possam elaborar novos trabalhos adotando novas abordagens sobre o objeto proposto.

Espero que este estudo venha despertar maior interesse da sociedade a conhecer um pouco mais sobre a história do Acre, tendo em vista que é um trabalho que aborda algumas mudanças ocorridas na sociedade a partir do momento que as gestantes puderam contar com atendimento médico em um hospital especializado nos fins de 1940.

Esta pesquisa se insere no campo da história social e cultural e para dar conta do tema proposto, foi necessário uma pesquisa de campo com uma base documental diversificada agregando as fontes como jornais e revistas, sobre as quais foi feita uma análise nas matérias, entrevistas e reportagens ao que se refere à construção da Maternidade.

(14)

Além dos jornais, foram feitas consultas em fotografias, e artigos para um melhor entendimento sobre o tema pesquisado.

As análises feitas nas obras Arqueologia do Saber e Microfísica do Poder de Michel Foucault, onde o autor trata a questão do discurso e do nascimento da medicina social, foram importantes para uma reflexão a respeito da intencionalidade do discurso político do governador Guiomard Santos e a implantação do hospital na cidade de Rio Branco nos fins dos anos de 1940.

O trabalho da parteira tradicional também será abordado neste trabalho, pois não há dúvida de que foram muito importantes para a vida de muitas mulheres, em todo o país. Em geral são mulheres que começaram a partejar muito jovens e aprenderam com as mais velhas ou conforme a necessidade.

Para uma abordagem a respeito dos costumes tradicionais da época, foi feita uma análise na introdução da obra A Invenção das Tradições de Eric Hobsbawm, onde o autor discute a diferença de tradição e costume.

O objeto de estudo do trabalho foi sendo delimitado ao longo dos três capítulos. No primeiro capítulo é apresentado ao leitor um pequeno resumo sobre o governo de Hugo Carneiro (1926-30) e de José Guiomard dos Santos (1946-50), proporcionando ao leitor uma ―viagem‖ ao passado para que ele possa através da leitura compreender melhor, como se deu o processo de urbanização da cidade de Rio Branco no período analisado. No decorrer deste capítulo serão apresentadas algumas mudanças que ocorreram no setor social, cultural, político e econômico na gestão desses dois governantes. Também será dado destaque às principais obras que foram construídas ou concluídas no período, em especial a Construção da Maternidade Barbara Heliodora, construída na gestão do governador Guiomard Santos.

O segundo capítulo foi escolhido para discutir a Implantação da Maternidade e Clínica das Mulheres Barbara Heliodora em Rio Branco. No entanto a discussão se inicia com um breve resumo da história da obstetrícia, para proporcionar uma visão sobre os processos de medicalização5 do corpo das parturientes.

5

Nota: Medicalização compreende: De um lado, ampliação de atos, produtos e consumo médico; de outro, interferência da medicina no cotidiano das pessoas, por meio de normas de conduta e padrões que atingem um aspecto importante de comportamentos individuais. (CORRÊA, 2001, p. 25.)

(15)

Em seguida é feita uma abordagem em torno de algumas mudanças que ocorreram nesse setor de saúde pública; logo depois é feita uma breve apresentação da personagem Barbara Heliodora homenageada pelo governador José Guiomard dos Santos, até chegar no foco principal da discussão que é a construção da Maternidade Barbara Heliodora em Rio Branco-Acre.

O Terceiro capítulo foi reservado para tratar de assuntos relacionados ao atendimento médico e o atendimento tradicional ao parto. Neste capítulo foi apresentado o comportamento de algumas gestantes diante da nova proposta de assistência ao parto, o atendimento hospitalar. Em seguida, as discussões giram em torno do atendimento das parteiras tradicionais, procurando apresentar, o modo de vida dessas mulheres e a maneira como elas adquiriram seus conhecimentos na ―arte de partejar‖. No decorrer deste capítulo procurei abordar de maneira clara o saber médico/técnico, como também o saber das parteiras tradicionais. Dois métodos de atendimento, cada um com sabedoria diferenciada, mas com o mesmo objetivo que era assistir à mulher gestante.

(16)

CAPITULO I

- Hugo Carneiro e Guiomard Santos e a invenção da cidade moderna

1.1 Breve relato sobre o Governo de Hugo Carneiro (1927-1930)

Neste primeiro capítulo o foco será apresentar um breve quadro do processo de urbanização da cidade de Rio Branco. O ponto de partida escolhido foi a administração do governador Hugo Carneiro, iniciada em 1927. Esse governador tinha como proposta transformar a cidade de Rio Branco em uma cidade moderna, para que servisse como referência de modernidade para as demais cidades do Território do Acre6.

Hugo Carneiro era paraense, formado em direito e engenharia, foi nomeado governador do Território do Acre, pelo presidente da República, Washington Luís, através de decreto datado de 13 de abril de 1927. Tendo sua efetiva posse como governador em 15 de junho do mesmo ano. Destaco ainda que antes de vir para o Acre ele foi prefeito da cidade de Manaus no período de 1925 a 19267.

De acordo com SOUZA (2002), quando Hugo Carneiro assumiu o governo do Território do Acre a estrutura física da cidade de Rio Branco era até então composta predominantemente por construções em madeira e mais de 98% da cidade não dispunha de rede de esgotos8. Esse modelo de cidade não agradava ao então governador, que ―condenava‖ até mesmo os hábitos da população9.

Considerando como principal problema do Acre a questão de higiene10, uma das primeiras medidas do governador foi desenvolver uma campanha de isolamento dos hansenianos, que circulavam livremente pelas ruas da cidade. Não havendo na época hospital especializado para o tratamento da hanseníase, a ordem foi para que os doentes fossem assistidos e isolados em seus domicílios, para que se tivesse um ―controle‖ do contágio desta doença. Meses depois foi providenciada a construção de um leprosário para internação e

6

SOUZA, Sérgio Roberto Gomes de. Fábulas da modernidade no Acre: A Utopia modernista de Hugo Carneiro na década de 1920. Dissertação de mestrado em História/UFPE, 2003, p. 23

7

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_prefeitos_de_Manaus, acessado em 17/11/2012.

8

SOUZA op. cit, p. 55

9

SOUZA op. cit. p. 25

10

TERRITÓRIO DO ACRE. Relatório de Governo elaborado por Hugo Ribeiro Carneiro (1928/1929) e enviado ao ministro de Justiça e Negócios Interiores Augusto Vianna de Castello. 1930. p. 52

(17)

tratamento dos hansenianos11. Desta forma podemos entender essa atitude do governador Hugo Carneiro como uma prática higienista e de ―limpeza‖ da cidade de Rio Branco.

Procurando suprir a necessidade de atendimento médico nas cidades do Território, o governador não mediu esforços para instalar hospitais para assistir à população carente da capital e de alguns municípios como foi o caso de Xapuri, Tarauacá e Sena Madureira, entre outros. Em Cruzeiro do Sul, Hugo Carneiro já encontrou funcionando o Hospital Santa Casa, que recebia auxílio do governo anualmente. Porém a assistência hospitalar foi melhor desenvolvida na capital do Território, após o Hospital Augusto Monteiro ser transformado em

Santa Casa do Acre. Vale ressaltar que o prédio desse hospital passou por uma reforma, em

especial a sala de operações que recebeu um novo instrumental cirúrgico. E nesta instituição foi concentrada grande atividade de todos os funcionários da Diretoria de Hygiene12. Depois de pronta a Santa Casa de Misericórdia passou a atender enfermos da capital e de suas adjacências, como também doentes dos países Peru e Bolívia que vinham na época em busca de atendimento médico13.

Hugo Carneiro, não dispunha de muitos recursos para investir na saúde pública, mas através da iniciativa particular, conseguiu arrecadar recursos suficientes para criar a Liga de Defesa Sanitária, que apoiou a construção do leprosário de Rio Branco, instalou a maternidade Pro-Matre Acreana e o pavilhão de isolamento de tuberculosos14. Manter isolados os portadores de doenças contagiosas o mais longe possível do centro da cidade era algo que interessava tanto ao governador quanto a elite local.

Vale ressaltar que todas essas transformações que aconteceram em Rio Branco não foram casos isolados. Cidades como Rio de Janeiro, Belém, Manaus e outras cidades brasileiras já tinham passado por esse processo de ―modernização‖.

Tomemos como exemplo a cidade de Manaus que de acordo a com a autora de Ilusão

do Fausto15 teve seu primeiro grande surto de modernização a partir dos anos 1890. Nesta

época a cidade não estava preparada para assumir suas funções de capital mundial da borracha ou centro exportador e importador ligado ao comércio internacional. Longe de parecer com uma cidade moderna, Manaus apresentava um cenário urbano composto por ruas estreitas e

11

Idem, p.53

12

ACRE, Governo do Território, p. 56.

13

Idem. p. 57.

14

Idem. p. 56.

15

DIAS, Edinea Mascarenhas. A Ilusão do Fausto: Manaus 1890-1920. 2ª edição – Manaus: Editora Valer, 2007, pp. 27/28.

(18)

sem pavimentação adequada, trapiches de madeira, iluminação deficiente, falta de rede de esgotos além de prédios públicos em ruínas ou fora dos padrões arquitetônicos que a ―modernidade exigia‖. Com a nova função a capital do Amazonas não poderia mais continuar fora dos padrões de uma cidade moderna, Manaus deveria ser atraente para quem a visitava para tratar de negócios ou para quem desejasse fixar residência16. Então transformar a cidade de Manaus em uma cidade moderna conforme a exigência econômica e social tornou-se o grande objetivo de seus administradores.

Segundo DIAS (2007), as reformas que aconteceram em Manaus foram de diversas naturezas, desde demolições dos antigos prédios da Província que foram substituídos por outros edifícios que passaram a ser atestado da modernidade, construções de hotéis, lojas, cinemas dentre outros17. Nesta nova cidade em que Manaus estava se transformando, em seu cenário moderno não cabia mais a presença das lavadeiras que exerciam suas atividades às margens dos igarapés, a lavagem de animais, a canoa como meio de transportes urbano, além dos desocupados que transitavam pela cidade e que passavam a incomodar ou ameaçar a ordem com suas presenças, para esses segmentos foram estabelecidas estratégias em uma política de separação e isolamento desses em bairros distantes longe das vistas públicas18. A moderna cidade de Manaus atendia particularmente aos interesses da burguesia local e da elite ―tradicional, vinculadas às atividades administrativas e burocráticas‖.19

No Acre, Hugo Carneiro usou perfeitamente a medicina como aliada para seu projeto de modernização da capital. O investimento na saúde pública não era feita por acaso, ao mesmo tempo em que o governador disponibilizava o hospital para o atendimento da população, ele colocava em prática a seu projeto de ―higienização‖ do espaço urbano ao retirar de circulação os portadores de doenças contagiosas, que passaram a ser internados no leprosário ou no pavilhão de isolamento de tuberculosos.

Segundo Márcio Antônio Moreira Galvão20, no Brasil a medicina passa a ser vista como um apoio científico indispensável ao exercício de poder do Estado, a partir do século XIX, onde o ―Médico Político‖ fará o possível para garantir o bem físico e moral da sociedade, procurando impedir e dificultar o aparecimento de doenças. Neste período é dever

16 Idem. p. 34 17 Idem. p. 41 18 Idem. p 50 19

DAOU, Ana Maria. A belle époque amazônica, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000, p. 36

20

GALVÃO, Márcio Antônio Moreira. Origem das políticas de saúde publica no Brasil: do Brasil Colônia a 1930. Disponível: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/origem_politicas_saude_publica_brasil.pdf, p.12.

(19)

do o médico zelar pela saúde da população21. Diante do exposto podemos perceber que essa presença do ―médico político‖ é uma forma de inserção do poder público no espaço privado.

A luta contra a febre amarela foi o ponto determinante para que a medicina social se desenvolvesse no Brasil. O Rio de Janeiro até 1900 teve sua população atingida pelo surto de febre amarela, esse período foi marcado pelo fracasso da medicina que não conseguiu controlar o problema, dando ao Brasil a fama de uma das áreas mais insalubres dos trópicos.22

De acordo com Foucault, ainda no século XVIII o bem-estar físico da população em geral é visto como um dos objetivos essenciais do poder político23. No entanto, o hospital do século XVIII, resumia-se em uma instituição de assistência aos pobres, além de ser um local de separação e exclusão. Pode-se dizer que nesta época a função maior do hospital era o isolamento e não o tratamento do doente, tendo em vista que a presença dos médicos nos hospitais ocorria de forma irregular e eram chamados para atender os mais doentes entre os doentes. Segundo o autor, o pobre na condição de pobre necessita de atendimento médico, mas quando portador de uma doença de possível contágio passa a ser considerado um ser perigoso. E é nesse momento que o hospital se faz necessário para o recolhimento do doente e ainda proteger os outros do perigo de contágio que ele oferece.

Voltando a discussão a região amazônica, podemos perceber que o processo de modernização de Rio Branco e Manaus são bastante semelhantes, desde o cenário urbano em precárias condições até os objetivos dos administradores em transformar a cidade atraente e moderna a exemplo das cidades da Europa, especificamente Paris.

Segundo SOUZA (2002), a constituição da nova cidade simbolizava o fortalecimento do poder do governador Hugo Carneiro, que queria ser identificado como um administrador com referenciais modernos24. Porém as mudanças na estética da cidade de Rio Branco, de certa forma, modificaram o modo de vida da população da capital que passou a receber constantes visitas do poder público em suas residências e prédios comerciais, que ditava os procedimentos básicos de higiene que deveriam ser adotados sob a pena de multa caso o proprietário não cumprisse com o que estava normatizado em lei. As construções deveriam garantir a higiene e circulação do ar para evitar a ―proliferação de doenças‖ 25

. 21 Idem p. 13 22 Idem p.21 23

FOUCAULT, M. ―O nascimento do Hospital‖, pp. 63-64. In FOUCAULT, M. Microfisica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

24

SOUZA, op. cit. p. 52

(20)

Outra questão que merece destaque é a tentativa do Poder Público em padronizar o atendimento médico à população. Atitude que não conseguiu por fim aos métodos tradicionais de tratamentos médicos, sepultamentos e nascimentos. 26

Em 15 de junho de 1928 foi inaugurada em Rio Branco a maternidade Pró-Matre, instituição destinada a atender mulheres gestantes da capital.

Em uma época em que a cidade estava passando por inúmeras transformações, a criação da maternidade de certa forma ofereceria as gestantes um parto mais ―civilizado‖ e ―digno de uma cidade moderna‖.

Figura 01: Inauguração do Pró-Matre / Fonte: Relatório de Hugo Carneiro 1930.

Apesar da existência da maternidade, ainda assim a população não deixou de recorrer aos atendimentos tradicionais como os serviços das parteiras, que realizavam partos sem a devida ―especialização‖. Essa procura pelos atendimentos tradicionais servia para justificar o movimento bastante reduzido no ―Pro-Matre‖ 27

.

A cidade de Rio Branco aos poucos foi ganhando um novo cenário. As construções dos novos prédios públicos em alvenaria deveriam servir como referência de modernidade para a população. Dentre as novas construções destacavam-se o Mercado Municipal, o

26

Idem p. 106

27

(21)

Quartel da Força Policial e o Palácio Rio Branco. A Construção do Mercado Novo destacava-se entre as casas de madeira, a maioria coberta de palha, que predominavam no cenário da região central da cidade de Rio Branco no ano de 192828.

Figura 02: Vista do ―Mercado Municipal‖ de Rio Branco-Acre / Fonte: Relatório de Hugo Carneiro 1930.

O edifício tinha doze amplos compartimentos, com água encanada e todo iluminado com luz elétrica e completo serviço de esgoto, inaugurado em 15 de junho de 1929. Depois de inaugurado o Mercado Municipal trouxe certo desenvolvimento à pequena lavoura de frutas, verduras, cereais e ao comércio de aves, estimulando a criação nas proximidades da capital.29 O novo edifício além de ser um local para comercialização de alimentos servia também como representação do espaço da assepsia, características dos padrões de higiene estabelecidos pela modernidade.30

Seguindo os mesmos preceitos de modernidade, de forma simultânea com o Mercado Municipal foi construído o Novo Quartel da Força Policial. Para Hugo Carneiro a construção do novo Quartel, era algo inadiável, levando em consideração o estado lastimável em que se encontrava o antigo edifício31.

28 Idem. p. 61 29

ACRE, Governo do Território p. 70.

30

SOUZA, op. cit. p. 63.

31

(22)

De acordo com Souza (2002), ―a construção de um novo prédio para servir como sede da força policial, deveria constituir-se em uma ação capaz de causar impacto na população, estabelecendo uma relação entre os moradores de Rio Branco e a instituição policial, marcada pelo respeito e o temor‖ 32. O pavilhão construído em dois andares ocupava

uma área de 600m², medindo 40m de frente e 15m de fundos, avaliado em mil contos satisfazia ás necessidades mais urgentes da Força Policial33.

Figura 03: Novo Quartel da Força Policial / Fonte: Relatório de Hugo Carneiro 1930.

A construção foi feita sem auxilio de verbas extraordinárias, com economia da própria corporação. Inaugurado e anexado ao patrimônio nacional em 15 de Novembro de 1929, o pavilhão marcou o início da futura Villa Militar da capital acreana34.

Seguindo o ritmo das ―construções‖ modernas foi dado início à construção do Palácio do Governo que substituiria a antiga sede construída em madeira. O Palácio do Governo construído em 1908, nos padrões arquitetônicos da época, situado no alto da praça Tavares Lyra,35 já não se enquadrava ao novo cenário da cidade de Rio Branco. O antigo

32

SOUZA, op. cit. p. 64

33

ACRE, Governo do Território p. 71

34

ACRE, Governo do Território, 1930.

35

VIANA, Ana Paula Bousquet. Palácio Rio Branco: o palácio que virou museu. 2011. Dissertação (mestrado) – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. 2011. p. 28-29

(23)

modelo arquitetônico e o mau estado de conservação do edifício certamente contribuíram para que o governador chegasse à conclusão de que o local não tinha mais condições de continuar sendo a Sede do Administrador do Acre. Além disso era notória a tentativa de associação entre a edificação e o governante.

Um trecho recolhido do relatório do governador Hugo Carneiro ao ministro da Justiça e Negócios Interiores, Augusto Vianna do Castello, revela o estado precário de conservação em que se encontrava o palácio do governo:

No Acre, dizia o 1° vice-governador, então em exercício, tudo está por fazer: esta casa (referia-se. ao palácio do governo), reflecte o lastimável estado em que se encontra todo o Territorio. Dura verdade! ―Effectivamente, o velho barracão de madeira, o desconfortável pardieiro, ameaçadora ruina, desguarnecido de forro, com o telheiro mal seguro, cumieira carcomida pela acção demolidora do tempo e do abandono, portas remendadas, vidraças partidas, paredes, internas e externas, de taboas apodrecidas e desalinhadas, soalho sem fixidez, tudo a abalar na imminencia de desabamento; imprestável mobiliaria, bancas quebradas, cadeiras furadas, estantes partidas, machinas de escrever inutilizadas, quadros sem molduras e já quasi sem cores; tudo isso espelhava ao vivo, realmente a situação material de todo o Território!36

Figura 04: Antigo Palácio do Governo / Fonte: Relatório de Hugo Carneiro 1930.

(24)

No segundo aniversário da posse de Hugo Carneiro em 15 de junho de 1929, foi lançada a pedra fundamental de construção do Palácio Rio Branco, lugar que serviria como sede da administração geral do Acre e também a residência oficial do governador.

Inspirado na arquitetura grega, o edifício foi inaugurado ainda com as obras inacabadas em 15 de junho de 1930. Porém a construção do prédio continuou e no governo de Guiomard Santos o palácio foi totalmente inaugurado37.

Figura 05: Edifício do Novo Palácio do Governo / Fonte: Relatório de Hugo Carneiro 1930.

Podemos perceber que no fim da década de 20 a cidade de Rio Branco passou por diversas transformações para se adequar aos padrões de modernidade impostas pelo governador Hugo Carneiro, seguindo uma tendência mais ampla. Construções de edifícios modernos e mudanças nos hábitos da população faziam parte de sua estratégia para inserir a comunidade acreana na modernidade que estava acontecendo nas demais cidades do país.38 Nos fins dos anos 40, Rio Branco novamente passou a ser submetida a novas propostas de modernidade, desta vez a cidade teve que se adequar ao que governador Guiomard Santos considerava sinônimo de modernidade. As propostas de modernidade elaboradas nas gestões anteriores para a cidade de Rio Branco, de alguma forma passam a ser relidas ou soterradas por Guiomard Santos.

37

VIANA, op. cit. p. 28

38

(25)

1.2 Fins dos anos 40: Um novo governante, uma nova proposta de modernidade para o Acre.

No ano de 1946, o então Presidente Eurico Gaspar Dutra, nomeou José Guiomard dos Santos para ser Governador Delegado da União no Território do Acre39. Nascido no dia 23 de março de 1907 em Perdigão- MG, José Guiomard Santos era formado em engenharia militar e com especialização em geodésica e astronomia. Na sua carreira militar recebeu diversas condecorações em função dos seus bons serviços militares. E no período de 1940 a 1943 antes de vir para o Acre foi governador do Território Federal de Ponta Porã40. Além de ter sido integrante do Partido Social Democrático (PSD), na qual foi um liberal conservador que defendia a educação formal e política do povo acreano.41.

No Território do Acre no dia 25 de abril de 1946, Guiomard Santos proferiu seu discurso de posse, cheio de ideias inovadoras, deixando transparecer a sua intenção de fazer reformas no Acre, especificamente na cidade de Rio Branco, no campo social, cultural, político e econômico42. Um trecho retirado do discurso de Guiomard Santos demonstra que ele não estava satisfeito com a situação em que o Acre se encontrava. Em seu governo, ele acreditava que o Acre deixaria de ser motivo de descrédito e passaria à condição de terra rica e feliz digna de ser seguida como exemplo.

[...] Dia virá em que o Acre, que ora serve de exemplo de descrédito, figurando na imprensa carioca e na Constituinte, como motivo para a supressão dos Territórios; dia virá em que o Acre será terra feliz e rico, capaz de servir de exemplo aos seus irmãos mais novos – Ponta Porã, Iguassu, Guaporé, Amapá, e sim engenheiro – soldado [...].43 (O Acre, 23 de maio de 1946, p.1).

De acordo com Bezerra (2002), Guiomard Santos encontrou a cidade de Rio Branco com muitos problemas a serem resolvidos. A capital não dispunha de uma infraestrutura básica, como água, luz, escolas, hospitais, transportes e outros44. Foi diante do quadro em que

39

BARBOSA SOBRINHO, Maria Evanilde. Creio no Acre e nos Acreanos: O Ideário da Modernidade Presente no Governo Guiomard Santos (1946-1950). Dissertação de Mestrado em Letras/UFAC. 2010. p. 26

40

Idem p. 26

41

BEZERRA, Maria Jose. Invenções do Acre: De Território a Estado – Um Olhar Social. Tese de doutorado São Paulo: USP, 2005, p. 141.

42

Idem, p. 135

43

Idem, p. 136

44

BEZERRA, Maria Jose. A invenção da cidade: a modernização de Rio Branco na Gestão do Governo Guiomard dos Santos (1946-50). Dissertação (Mestrado em História do Brasil), Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2002 – p. 52

(26)

o governador encontrou a cidade, que ele começou a traçar o seu projeto de modernização45. A população não contava com um sistema público ágil, portanto era necessário que se construísse ou desse continuidade às obras públicas básicas para dar apoio à prestação de serviços públicos à população urbana46.

O sistema de saúde pública em Rio Branco deixava muito a desejar devido a carência de pessoal médico para suprir às necessidades da população. Por falta de um atendimento hospitalar eficiente, a prática da medicina caseira até os anos 1940 ainda era muito comum junto à população de Rio Branco, principalmente para as pessoas que residiam nas colônias e seringais.47

Segundo Bezerra (2002), para dar um melhor suporte ao atendimento médico junto à população, o governador Guiomard Santos realizou algumas pequenas reformas no Departamento de Saúde da capital, até que se concluíssem as obras do edifício do referido departamento. 48 A população da capital ainda sofria com doenças como: malária, beri-beri, lepra, tuberculose e outras49. Para os portadores da hanseníase foi criado um setor de isolamento na colônia Souza Araújo localizada, na zona rural de Rio Branco50. Quanto à tuberculose devido ao alto índice de contágio da população acreana, o governador realizou diversas campanhas através do Serviço de Profilaxia da Tuberculose, órgão ligado ao Departamento de Saúde para combater a doença. No entanto, devido ao número reduzido de técnicos e médicos, dificultava o desenvolvimento das práticas preventivas e curativas para combater a doença. Para as pessoas que estavam em fase de contágio da doença existia o dispensário na capital, onde foi criado um pavilhão de isolamento para que fosse feito o tratamento destes doentes.51

A mortalidade infantil também recebeu atenção especial por parte do governador, que providenciou a construção da Maternidade e Clínica de Mulheres Barbara Heliodora, para atender as gestantes da capital que ainda não contavam com um sistema de atendimento médico especializado para gestantes. Na época a prática cultural das gestantes terem seus filhos em casa com a ajuda de uma parteira tradicional era muito comum, no entanto apesar da

45 Idem, p. 42 46 Idem, p.208 47 Idem, p. 185 48 Idem, p. 210 49 Idem, p. 209 50 Idem, p. 210 51 Idem, p. 211

(27)

grande experiência das parteiras tradicionais, a mortalidade das gestantes e dos bebês era bastante significativa52.

Quanto à questão de higiene, o governador procurou estabelecer novos hábitos a população, todos os manipuladores ou comerciantes de gêneros alimentícios passaram a ser obrigados a realizar exames de saúde periódicos de abreugrafia53 e dermatológicos, nos quais eram disponibilizadas cadernetas sanitárias54.

Para que fosse possível Guiomard Santos realizar todas as reformas em Rio Branco, em seu discurso também procurou ganhar a confiança dos acreanos, mesmo recém chegado já dizia acreditar plenamente na população. ―E, finalmente, faço questão de dizer-vos – creio no Acre e nos acreanos. Confiai, pois, em mim, como eu já confio plenamente em vós‖. Essas palavras do governador Guiomard Santos para o povo, provavelmente fazia parte de seu plano para ganhar apoio da população e por em prática suas ideias de desenvolvimento da capital.

Guiomard dos Santos aos poucos foi fazendo as transformações em Rio Branco, conforme o que ele acreditava ser mais adequado com a sua concepção do urbano. O governador em sua gestão realizou o maior número de obras, se comparado ao número de obras realizadas pelas gestões dos governantes anteriores, e para as construções oficiais adotou a alvenaria55 que ―simbolizava‖ uma obra moderna e ―definitiva‖.

O governador Guiomard dos Santos parecia estar certo dos seus objetivos para a cidade de Rio Branco, a população parecia satisfeita com seu desempenho como governante. Ao menos era o que o jornal O Acre tentava divulgar em suas reportagens. ―Bendizem os acreanos a escolha do presidente Eurico Dutra‖; ―Dois anos de Trabalho Honesto e de realizações felizes viveu o Território sob a operosa administração do Major Guiomard Santos‖56

A reportagem do jornal O Acre de 25 de abril de 1948, fazia um balanço do desempenho administrativo do governador Guiomard Santos em seus dois anos de administração. De acordo com o jornal, foram dois anos de trabalho produtivo, de paz e de segurança para a família acreana.

52

Idem, p.212

53

Abreugrafia é o nome dado no Brasil a um método rápido e barato de tirar pequenas chapas radiográficas dos pulmões, para facilitar o diagnostico da tuberculose, doença mortal. Acesso disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Abreugrafia

54

BEZERRA, 2002, op. cit. p. 212

55

Idem p. 58

(28)

No dia 05 de setembro de 1948, o jornal O Acre divulgou uma lista das Obras públicas realizadas no período de dois anos do governo divididas em: 57

Quadro-1 Fonte: O Acre. Publicado em 05/07/1948. Acervo do Museu da Borracha

A quantidade de obras realizadas em um período relativamente curto, de certa forma pode justificar a satisfação do povo acreano ao que se refere à administração de Guiomard Santos.

De acordo com Barbosa Sobrinho (2010), os novos prédios que passam a ser construídos a partir de 1946, são totalmente diferentes dos que já haviam sido construídos na capital principalmente ao que se refere à obra de conclusão do Palácio Rio Branco. As modernas construções criavam na população a ideia de que o governador tinha trazido o progresso para o Acre.58

Além do Palácio Rio Branco, a construção da Catedral Nossa Senhora de Nazaré, foi uma obra que se caracterizou pela grandiosidade e estética. A construção desta obra de alguma forma representava a proximidade entre o governador e a igreja católica.59

Segundo Bezerra, (2002):

Este fato se explica não só pelo fato de Guiomard Santos ser Católico praticante, mas também, devido ao poder que Igreja exercia junto à população de Rio Branco em decorrência da evangelização, com ênfase na disseminação dos sacramentos – batismo, crisma, casamento, da educação, dos momentos de congraçamento que promovia com as procissões, quermesses, bazares e festas religiosas onde o sagrado e o profano interagiam e da relação ambivalente da Igreja com as práticas culturais populares, dentre estas o Daime.60

57

O Acre. Publicado em 05 de setembro de 1948. Museu da Borracha/Acre.

58

BARBOSA SOBRINHO, op. cit. p. 38.

59

BEZERRA, 2002, op. cit. p. 58

60

BEZERRA, 2002, op. cit. p. 59

Situação das Obras Quantidade

Terminadas 8

Iniciadas e Terminadas 46

Em acabamento 16

Em construção 27

(29)

Dentre as obras realizadas em Rio Branco na gestão de Guiomard Santos, merecem serem ressaltadas as construções na área de educação. Vale lembrar que foram construídas cerca de cerca de 67 unidades em todo o Território Acreano61. Dentre elas a escola Menino Jesus destinada à educação infantil, que foi inaugurada na Rua Marechal Deodoro no dia 19 de novembro de 1949.62

De acordo com Bezerra (2005) ―A modernidade, na concepção de Guiomard Santos, era algo que ele unia, que valorizava o novo, o progresso, mas sem negar as tradições culturais e histórias das múltiplas etnias que habitavam a cidade de Rio Branco‖63

.

Apesar de muitas das obras não terem sido projetadas pelo governador Guiomard Santos. Porém devido à conclusão das obras inacabadas das gestões anteriores, a população transferia para o governador os méritos pelas obras e ações governamentais realizadas64.

O jornal ―O Acre‖ publicava todos os trabalhos executados pelo governador Guiomard dos Santos.

Segundo Barbosa Sobrinho (2010):

O jornal O Acre, periódico de circulação semanal, órgão de divulgação do governo do Território do Acre, [...] constituía em uma espécie de ―diário oficial‖ do governo territorial, sendo nele publicadas não apenas matérias relativas aos atos e fatos da administração territorial como o principalmente dando a ler aquilo que se admitia como fundamental na perspectiva modernizadora que o governo Guiomar dos Santos imprimia a administração territorial.65

Os noticiários em sua maioria eram compostos por fotografias das obras em andamento ou em fase de conclusão, além das solenidades políticas, ou eventos sociais66. A maternidade e Clinica das Mulheres Barbara Heliodora que será discutida no segundo capítulo desta monografia, é um exemplo das obras que tiveram um acompanhamento fotográfico bastante significativo, pois foram divulgadas diversas fotos no jornal em diferentes fases da construção do hospital.

61

Idem, p. 61

62

BEZERRA, op. cit., 2002, p. 73.

63

BEZERRA, 2005, op. cit., p. 136

64

BARBOSA SOBRINHO, op. cit. p. 44

65

Idem, p. 23

(30)

CAPITULO II – Saúde pública no Território do Acre em 1940

2.1 Um pouco da trajetória da história da obstetrícia

Em meados de 1750 o parto passa ser objeto de interesse da ciência, dando início à história da obstetrícia. Quando os médicos cirurgiões passaram a se interessar pelo parto, a obstetrícia não era definida como uma especialidade médica. Somente nos fins do século XIX, que a obstetrícia enfim, foi convertida em prática médica especializada. A partir de então a gestante que antes contava apenas com a generosidade e a experiência da parteira tradicional, ganha maior atenção por parte dos médicos67.

De acordo com MARTINS (2005)68, nas primeiras décadas do século XIX as ciências biológicas tiveram sua contribuição para que houvesse uma transformação na prática e no ensino da medicina. Especialmente na França nos laboratórios de anatomofisiologia69 ou nas salas de autopsia, o corpo humano passa a ser um cenário de novas descobertas para os médicos e cientistas, que através dos estudos em cadáveres passaram a ter um maior entendimento do desenvolvimento fetal e do parto. A partir deste momento a área da obstetrícia passou a ser ocupada por médicos destinados a fazerem mudanças significativas neste campo da medicina, desde a reestruturação do ensino até a criação das maternidades na segunda metade do século XIX.

A oficialização do ensino da obstetrícia na França ocorreu no período napoleônico e até o final do século XIX, com a criação da Cadeira de Partos, Doenças das Mulheres Paridas e das Crianças Recém-Nascidas. Países como a Inglaterra, os Estados Unidos e Alemanha tomaram como exemplo o ensino da obstetrícia francesa e adotaram instituições de ensino nos hospitais que mais tarde se tornaram referência nas especialidades de ginecologia e obstetrícia. O modelo de ensino ministrado pela Cadeira de Partos nas faculdades francesas foram copiados em outros países como Brasil e Portugal.70

67

BARRETO, Maria Renilda Nery. A ciência do parto nos manuais portugueses da obstetrícia. Consulta disponível em http://www.ieg.ufsc.br/admin/downloads/artigos/02112009-123317barreto.pdf.p. 219.

68 MARTINS, Ana Paula Vosne. A ciência dos partos: visões do corpo feminino na constituição da

obstetrícia científica no século XIX. Revista Estudos Feministas [en línea] 2005, p. 652. Consulta Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=38114358011> ISSN 0104-026X

69

Nota: anatomofisiologia tem como objeto de estudo o conhecimento integrado da extrutura e fisiologia do aparelho locomotor e do seu sistema de regulação, o sistema nervoso.

70

(31)

No Brasil do século XIX, foi formalizada a educação profissional das parteiras, junto às escolas médicas, que controlaram sua formação até meados do século XX. Em 1832, as Academias Médico – Cirúrgicas da Bahia e do Rio de Janeiro, foram transformadas em Faculdades de Medicina dando origem ao primeiro documento legal sobre o ensino de parteiras. Até então todo o exercício dessa profissão era realizados pelos médicos não especialistas.71

No entanto pode-se dizer que o ensino oferecido por essas faculdades não eram satisfatórios, pois as aulas se resumiam em ensinamentos teóricos como era o caso da Faculdade de Medicina da Bahia, que não dispunha de clínica de partos para a realização das aulas práticas.72

Figura 06: Simulação de um Parto no esqueleto de Bronze e Boneco de Pano Fonte: Memorial da Maternidade Climério de Oliveira apud Amaral (2005)p. 2473

71

SENA, Chalana Duarte de. et al. Avanços e Retrocessos da Enfermagem Obstetrícia no Brasil. p. 526. Acesso disponível em http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/reufsm/article/view/3365

72

BARRETO, Maria Renilda Nery. Assistência ao nascimento na Bahia oitocentista. História, Ciências, Saúde –Manguinhos, Rio de Janeiro, v.15, n.4, out.-dez. 2008, p.909. Acesso disponível em http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v15n4/02.pdf

73 AMARAL, Marivaldo Cruz do. Da comadre para o doutor: A maternidade Climério de Oliveira e a Nova

Medicina da Mulher na Bahia Republicana (1910-1927). Dissertação de Mestrado em História. 2005. Universidade Federal da Bahia. p. 24

(32)

Os estudantes tinham aulas simuladas no manequim, e era através de um esqueleto de bronze e um boneco de pano que até o início do século XX os estudantes aprendiam a realizar partos, dentre outros procedimentos ginecológicos e obstétricos.74

Os médicos depois de formados iam exercer a profissão sem nunca ter feito uma aula prática75. Diante desse quadro fica evidente a necessidade de se implantar uma clínica para proporcionar a esses estudantes a oportunidade de examinar uma gestante nas diversas fases da gestação para um melhor aprendizado.

Em 1876 na Santa Casa de Misericórdia da Bahia, foi criada uma enfermaria especial de partos e moléstia de mulheres no Hospital São Cristovão, que era administrado pela Irmandade (DANTAS, 1876, p.4-5 apud BARRETO, 2008, p. 908).76 Essa enfermaria foi criada após algumas solicitações por parte dos professores para que houvesse um espaço reservado às gestantes em diferentes períodos de gravidez, especialmente nos últimos meses de gestação para que os estudantes do curso de partos e medicina pudessem ter a oportunidade de examinar a mulher nos diferentes estágios de gestação e assim praticar a auscultação obstetrícia. (FARIA, 1860, p.11-12 apud BARRETO, 2008, p.908)77

No entanto, a criação dessa enfermaria de partos foi vista como insatisfatória e atrasada no final do século XIX pelos médicos baianos, que desejavam a construção de uma maternidade com instalações adequadas e destinadas especialmente atendimento a gestante e puérperas (grávidas em trabalho de parto), afastadas dos pacientes que estavam internados no hospital com alguma enfermidade e também com possibilidades de separar as paridas das grávidas ou puérperas com algum tipo de infecção, o que seria impossível no Hospital São Cristovão. Os médicos queriam que a maternidade fosse de preferência distante das

aglomerações urbanas em terrenos ensolarados e com salas amplas e arejadas78. Somente no

início do século XX, foi fundada a Maternidade Climério de Oliveira, inaugurada em 1910 na Bahia.79

De acordo com Amaral80 até o início do século XX, a população baiana não era a favor do atendimento hospitalar, isso porque muitos não consideravam decente que uma 74 Idem, p. 24 75 Idem, p. 23 76

BARRETO, op. cit., p. 909.

77 Idem, p. 908 78 Idem, p. 908 79 Idem p. 908 80

AMARAL, Marivaldo Cruz do. Mulheres, imprensa e higienização: a medicalização do parto na Bahia (1910-1927). História, Ciências, Saúde –Manguinhos, Rio de Janeiro, v.15, n.4, out.-dez. 2008, p.927-944

(33)

mulher fosse examinada por um médico, ter filhos em uma maternidade também era algo visto como uma situação vergonhosa, além de indicar um sinal de miséria que podia ostentar uma família. Portanto reprimi-lo era a melhor maneira de evitar o mal. Aquelas mulheres que tinham condições de pagar, em geral preferiam o atendimento por parteiras de confiança ou médicos da família que faziam o atendimento obstetrício ginecológico em suas residências ou em clínicas especializadas que já eram percebidas nas últimas décadas do século XIX. Neste contexto, a Maternidade Climério de Oliveira foi criada para atender aquelas mulheres que não tinham nenhum poder aquisitivo, viviam abandonadas e em situação de completa miséria, sem nenhuma condição de ter um atendimento sequer por parteiras. Era somente essa classe de mulheres que procuravam o atendimento da maternidade pública, através de um trabalho de convencimento por parte dos profissionais de saúde de que o hospital era mais seguro e adequado para a gestante ter seu filho.

O atendimento público aos poucos foi ganhando a confiança da população baiana. De acordo com Maria Lucia Mott (apud AMARAL) somente a partir de 1930 é que as mulheres de camadas mais favorecidas e intermediarias começaram timidamente a frequentar Maternidades.81

Segundo Martins (2005):

A divulgação da imagem do médico protetor da mulher foi de grande importância para a legitimação do obstetra e para a aceitação das mulheres em dar à luz no hospital. Com a sofisticação dos exames de diagnóstico no século XX, a segurança dos procedimentos cirúrgicos e a pregação da puericultura divulgada através dos meios de comunicação de massa, os obstetras conseguiram ter controle não só do parto, mas também do período gestacional com o desenvolvimento do conceito de puericultura intra-uterina.82 [...]. A existência de um espaço onde as mulheres fossem bem atendidas, recebidas nos consultórios médicos, encaminhadas para salas de parto modernas e bem equipadas, sendo assistidas por parteiras bem informadas, certamente foi bem recebida pelas mulheres [...] A mortalidade feminina foi reduzida significativamente com a anti-sepsia e o uso de novos medicamentos e técnicas que evitaram a infecção puerperal. Este era um dado que também não devia passar despercebido pelas mulheres. (apud AMARAL, 2005. p.142-.43)83

Na citação acima fica evidente que havia insegurança e resistência por parte da gestante em procurar atendimento médico. E que o trabalho dos profissionais de saúde em

81

AMARAL, op. cit p. 74

82 MARTINS, op. cit., p. 605. 83

(34)

divulgar a imagem do médico como protetor da mulher foi crucial para que as gestantes aos poucos fossem se sentindo seguras para procurar o atendimento hospitalar.

2.2 - Mudanças no setor de saúde na cidade de Rio Branco

Nos anos de 1940, para Guiomard Santos instituir um programa básico de assistência à saúde era fundamental a invenção de cidade. O governador Guiomard Santos idealizava Rio Branco como uma cidade moderna e saudável, onde o serviço público fosse ágil e eficaz.

De acordo com Bezerra (2002):

No imaginário de Guiomard Santos para Rio Branco ser cidade necessitava possuir um serviço público ágil, eficiente e capaz de atender as demandas da população urbana. Sua visão de cidade era de um espaço dotado dos progressos obtidos nos campos da ciência, da tecnologia e da cultura. Plasmar Rio Branco, significava instituir um novo modo de vida para os seus habitantes condizentes com a civilidade. 84

Em 1949 o governador declarou no Relatório de Atividades do Território Federal do

Acre que a saúde era direito do cidadão e dever do Estado85. Porém devido o Acre se tratar de

um lugar distante em relação às áreas mais desenvolvidas do país, alguns limites precisavam ser ultrapassados, bem como a importação de pessoal qualificado no setor médico.86

Guiomard Santos apesar das dificuldades da época e os poucos recursos financeiros destinados a implantação de melhorias no campo da saúde pública, mesmo assim executou algumas reformas no sistema de saúde, procurando realizar atividades essenciais ao atendimento de boa parte da população de Rio Branco, principalmente, mulheres, crianças e portadores de doenças infecto-contagiosas.

Em meio a tantas mudanças a parturiente de Rio Branco ganhou uma atenção especial por parte do poder público, e foi beneficiada com a construção de um hospital exclusivo para o atendimento das gestantes. Em dezembro de 1945, o então governador do Território do Acre, o Major José Guiomard dos Santos, anunciou a liberação de verbas para o projeto de construção da Maternidade e Clínica das Mulheres, sob a responsabilidade do

84

BEZERRA, 2002, p. 208

85

ESTE, Maria das Graças Mangueira. et al. Heróis que Salvam. Fatos e Memórias Sobre a Medicina no Acre nos Séculos XIX e XX, p. 26-27.

86

(35)

engenheiro Aloysio Dantas. A ideia da construção da maternidade certamente era uma proposta inovadora para a capital do Acre. Levando em consideração que primeira maternidade de Rio Branco, a ―Pro-Matre‖ foi construída como setor anexo do Hospital Augusto Monteiro ainda na gestão do governador Hugo Carneiro.87 Porém como já foi dito no primeiro capítulo desta monografia, o movimento da maternidade ―Pró- Matre‖ era bastante reduzido.

O hospital foi inaugurado oficialmente em 1950, com a denominação de Maternidade e Clínica das Mulheres Barbara Heliodora. O nome dado ao hospital teria sido uma homenagem do governador José Guiomard dos Santos a uma personagem da Inconfidência Mineira e a sua própria mãe que também se chamava Barbara.88

2.3 Quem era Barbara Heliodora?

Barbara Heliodora Guilhermina da Silva era escritora e nasceu por volta dos fins do ano de 1758, na cidade de São João Del Rei. Era filha do Dr. José da Silveira e Souza e de D. Maria Josefa Bueno da Cunha. Integrante de uma ilustre família paulista que apregoava valores morais, éticos e culturais, casou-se por portaria do bispo de Mariana em 22 de dezembro de 1781, com o então escritor árcade Alvarenga Peixoto, quando sua filha mais velha já estava com três anos de idade. Alvarenga Peixoto teve uma atuação bastante significativa na Inconfidência Mineira como um dos principais lideres, que conspiravam especialmente em Vila Rica e na Vila de São José, época em que foram discutidos os aspectos político-administrativos do novo estado que sonhavam estabelecer em Minas Gerais.89

De acordo com os autores Pereira e Batista (2012), Barbara Heliodora impressionou ao enfrentar o sistema social vigente:

Juntamente com Alvarenga Peixoto, lutou em prol dos anseios da Inconfidência Mineira e, por causa disso, foi considerada musa dessa revolução; escreveu dois poemas intitulados ―Conselho de Bárbara Heliodora a seus filhos‖ e ―Soneto‖, onde encontramos um acentuado discurso materno, nem por isso não racional. O caráter transgressor de sua obra e sua participação em um conflito sócio-político de grande escala política e social, no Brasil, repercutiram diretamente na vida particular dessa escritora, fazendo-a ter momentos críticos e de instabilidade extrema: a luta contra o governo de então abalou época, não era adequada para ―mulheres de família‖ a levou a ser tachada de louca no fim de sua vida. 90

87

Revista Maternidade Bárbara Heliodora – 50 anos, p. 05, Acre.

88

Idem, p. 08

89

Informações retiradas da Revista Maternidade Bárbara Heliodora – 50 anos, p. 08

90

PEREIRA, Deyvid de Oliveira; BATISTA, Edilene Ribeiro.A Temática da “família” nos textos de Bárbara Heliodora e Odelfonsa Laura César. Anais do XIV Seminário Nacional Mulher e Literatura / V Seminário

(36)

Podemos perceber que Barbara Heliodora era uma mulher a frente do seu tempo, capaz de lutar pelos seus ideais, sendo capaz de impressionar o sistema vigente com suas atitudes. É importante ressaltar que essa mulher que foi apresentada como contestadora que lutou contra o governo da época, agora tem seu nome utilizado para legitimar o próprio sistema, assim como no período de Guiomard dos Santos.

2.4 Maternidade e Clínica das Mulheres Barbara Heliodora

O governador Guiomard Santos estava sempre de ―olho‖ no futuro, e queria um hospital estruturado para suportar o crescimento da população da capital acreana.91 E em 1946 foi dado início à construção da Maternidade e Clínica das Mulheres Barbara Heliodora sob a responsabilidade do engenheiro Aloysio Dantas.

Os Alicerces da Maternidade e Clínicas de Mulheres Bárbara Heliodora, foram erguidos em cima de um morro, para que ficasse longe do contato com os esgotos da cidade.

Figura 07: Alicerces da Maternidade e Clínicas de Mulheres Bárbara Heliodora, construção iniciada em 1946. Fonte: Relatório fotográfico de obras terminadas no governo de Guiomard Santos (1946-1948). Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM

Internacional Mulher e Literatura.Disponível em: http://www.telunb.com.br/mulhereliteratura/anais/wp-ontent/uploads/2012/01/deyvid_oliveira.pdf

91

(37)

De acordo com seu José Rodrigues Vasconcelos (seu Deca), que nasceu em Rio Branco em 24 de maio de 1925 e que acompanhou as mais variadas transformações da cidade. O engenheiro responsável pela obra disse: ―Coronel Fontenele, a maternidade é um Hospital, ela tem que ficar em cima de um morro, mais ou menos, por causa dos esgotos‖.92

Levando em consideração o depoimento do seu Deca, podemos perceber que a cidade de Rio Branco na época da construção da maternidade, ainda não contava com uma rede de esgoto adequada. O que nos leva a crer que muita coisa ainda precisava ser feita em Rio Branco, para que ela se tornasse a cidade moderna idealizada por Guiomard Santos.

Figura 08: Vista externa das obras de construção da Maternidade e Clínica de Mulheres Bárbara Heliodora. Data: 1949.Fonte: Filme Território Federal do Acre. Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM

A oposição (PTB) discordava da construção da maternidade Barbara Heliodora, primeiro por considerar uma obra ―exagerada‖, tendo em vista que nasciam em média de 02 a 03 crianças por dia na cidade de Rio Branco e por que estava sendo construída em uma área muito afastada.93

92

Brava Gente acreana: reimpressão, --Brasília: Senado Federal, Gabinete do Senador Geraldo Mesquita Júnior, 2009. V. I 260p. 1. Biografia, coletânea, Acre, 2. Entrevista, coletânea, Acre pp. 120-124.

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Figura 09: Homens trabalhando em um dos corredores da Maternidade e Clínica de Mulheres Bárbara Heliodora. Data: 1949.Fonte: Filme Território Federal do Acre /Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM

Figura 10: Vista de um dos corredores da Maternidade e Clínicas de Mulheres Bárbara Heliodora em construção. Data: 1949.Fonte: Filme Território Federal do Acre. Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural – FEM

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Após a conclusão da obra do hospital, próximo ao final do seu governo, Guiomard dos Santos fez questão de colocar a placa inaugural da maternidade Barbara Heliodora em 15 de outubro de 1949, a inauguração de uma das maiores obras executadas em seu governo, fazia com que ele encerrasse com chave de ouro, o período governamental do Território do Acre.94

Figura 11: Fachada da Maternidade e Clínica de Mulheres Bárbara Heliodora. Data: 1949. Fonte: Filme Território Federal do Acre / Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM

A inauguração oficial da maternidade só aconteceu em 07 de setembro de 1950, pelo coronel Raimundo Pinheiro Filho, que assumiu o governo do Território do Acre, devido ao afastamento de José Guiomard dos Santos para concorrer à Câmara Federal. A grandiosa solenidade de inauguração foi comemorada com festa para toda a sociedade da capital acreana. O Major Guiomard dos Santos devido ao seu afastamento, não compareceu à solenidade, mas sua esposa Lídia Santos estava lá para representá-lo.95

A Maternidade e Clínica das Mulheres Barbara Heliodora, foi inaugurada com instalações apropriadas para atender 30 gestantes, possuindo também boxes de isolamento. O edifício da maternidade ainda seria composto por dois berçários, gabinete de admissão de gestantes, sala de operação com gabinetes de esterilização e assepsia, quartos para enfermeira e enfermeiro, sala de partos, apartamento para particular, gabinetes de higiene pré-natal, sala

94 Revista Maternidade Bárbara Heliodora – 50 anos, pp. 05-06 95

Referências

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