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Agricultura urbana no bairro do Campeche, Florianópolis/SC

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Academic year: 2021

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Paula Carolina Favaretto Santos

Agricultura Urbana no bairro do Campeche, Florianópolis/SC.

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universi-dade Federal de Santa Catarina para a ob-tenção do Grau de Mestre em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Clécio Azevedo da Silva

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Dedicado com muito amor à minha sau-dosa avó Yonne e à minha batalhadora mãe Leonira.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por tudo que És e pelo que tem feito em minha vida! Agradeço de coração à minha família, especialmente à minhas amadas mãe,

Maria Leonira R. Favaretto, e irmã, Mariana Santos, e ao meu querido cu-nhado Luiz Fernando Santini pelo apoio emocional, intelectual e finan-ceiro, sem os quais muitas destas conquistas não poderiam ter sido

realiza-das.

À Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, pela oportunidade e honra de ser parte desta instituição de ensino tão respeitada, e por poder usufruir deste ambiente tão rico intelectualmente, e de suas instalações de

tanta importância prática.

À CAPES por generosamente e com grande compromisso ter fomentado fi-nanceiramente a presente pesquisa, ao longo dos 24 meses - período do curso de mestrado, bem como minha viagem para apresentação de artigo

em evento internacional em Barcelona-Espanha.

Ao Prof. Dr. Clécio Azevedo que com sua imensa generosidade, carisma e sabedoria sempre me estimulou a superar minhas dificuldades e

proporcio-nou um ambiente extremamente acolhedor nesta universidade. Aos professores, Prof. Dr. Nazareno Campos; Prof. Dr. Márcio Rogério; Prof.ª Dr.ª Leila Dias; Prof.ª Dr.ª Margareth Afeche; Prof. Dr. Aloysio Cam-pos, por todos os ensinamentos nas diferentes disciplinas cursadas ao longo

do mestrado, assim como pelas considerações feitas na banca de qualifica-ção aos dois primeiros.

Aos professores da UNESP de Presidente Prudente Antonio Nivaldo Hes-panhol e Rosangela HesHes-panhol, ao Prof. Dr. Carlos Castro Neves Neto, e aos professores da UFRN Celso Donizete Locatel e Francisco Fransualdo Azevedo meu especial agradecimento pela atenção recebida ao longo do

projeto em conjunto com o Lab-Rural/UFSC fomentado pela CAPES. Ao colega Mário Kabílio, por me auxiliar no início desta minha jornada na

geografia.

Ao Marquito pela sua sabedoria, generosidade e alegria contagiante. Ao Eduardo Elias da empresa Destino Certo pela prontidão em contribuir. À amiga Erika Sagae pelas diversas trocas intelectuais e parceria ao longo

deste processo e de todo pessoal do CEPAGRO.

Às colegas do Lab-Rural Daniele Gelbcke e Maria da Graça Brightwell (in memorian) pelas ótimas conversas sobre o tema.

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também.

À Comunidade Surfhouse, especialmente ao Serginho e à Kika que sempre me estimularam a alcançar meus objetivos alinhados a um propósito maior. À querida Raquel e ao querido Dr. Fábio pelo maravilhoso trabalho que em

conjunto construímos ao longo deste processo. Ao Zak e ao DJ pelas parcerias diárias.

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“A cidade não para a cidade só cresce o de cima sobe e o de baixo desce” (Trecho da música “A Cidade” de Chico Science e Nação Zumbi).

“O que uma pessoa plantar, é isso mesmo que co-lherá” (Gálatas Cap. 6. Vers. 7).

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RESUMO

A Agricultura Urbana (AU) é um fenômeno que vem ganhando destaque no Brasil e no mundo tanto nas crescentes experiências e práticas, quanto na literatura científica. Diversos benefícios das práticas agrícolas na cidade são demonstrados no início deste estudo, assim como alguns riscos, justi-ficando a relevância da temática da pesquisa. O objetivo dessa dissertação é analisar o fenômeno da AU e identificar suas tipologias presentes no bairro do Campeche, Florianópolis/SC, bem como suas perspectivas, desa-fios e limitações. Um panorama das práticas e pesquisas científicas de AU no Brasil e no mundo compreende o primeiro capítulo, bem como uma breve análise do papel de algumas instituições de fomento da AU em nível mundial. Já no segundo capítulo foram consideradas as diversas relações entre agricultura, cidade e localização a partir de referenciais teóricos clás-sicos, como a categoria de renda da terra, através de Ricardo, Von Thünem e Marx; e as teorias contemporâneas da produção do espaço, e do espaço diferencial, de Henri Lefebvre. A partir desses referenciais, e com base numa breve análise histórica sobre terras de uso comum em Florianópolis, a permanência da agricultura urbana no bairro do Campeche, diante da pressão do crescimento da cidade é analisada, e são acrescentadas ao debate questões sobre a função social da propriedade, bem como, reflexões sobre o direito à cidade. Apesar de estar fortemente pressionada pela expansão da cidade e, consequentemente, pela demanda de espaço produtivo pela construção civil e atividades tipicamente urbanas, a AU no bairro tem de-senvolvido alternativas para sua permanência. Entre as alternativas está a articulação entre a agricultura urbana e a economia solidária que é então examinada, já que em algumas experiencias de AU presentes no bairro, po-dem ocorrer trocas solidárias por meio do Banco de Tempo de Florianópo-lis (BTF), clube de trocas pautado na cooperação e coletividade. Um breve levantamento histórico sobre o desenrolar do planejamento urbano e das mobilizações sociais no bairro são apresentados e em seguida são identifi-cadas e definidas as diferentes tipologias ali presentes, a exemplo das hor-tas comunitárias em áreas públicas, horhor-tas privadas com fins comerciais, quintais produtivos etc. A experiência da horta comunitária do Parque Cul-tural do Campeche (PACUCA) é apresentada, assim como a trajetória das disputas pelo uso do espaço onde está localizada, bem como o papel da organização social nesses conflitos. Foram realizadas visitas a campo e en-trevistas com membros do Banco do Tempo de Florianópolis e nas hortas da empresa Destino Certo e do PACUCA, além da participação em reuni-ões da Rede Semear Floripa (rede municipal de articulação da AU). O papel

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lisarmos a evolução do Plano Diretor de Florianópolis. A partir das teorias do espaço diferencial de Lefebvre (análise dialética entre o espaço social e o espaço abstrato), a permanência da AU frente ao avanço da cidade pôde ser melhor compreendida. Segundo o autor, o espaço abstrato é o espaço ideal pautado na lógica capitalista, enquanto o espaço social (real) é o ter-reno fértil para geração de novas práticas nas cidades, denominadas aqui de práticas agrícolas insurgentes. Constatou-se a coexistência entre práti-cas agrícolas remanescentes (aquelas que regridem por conta do avanço da cidade) e práticas agrícolas insurgentes (aquelas que surgem a partir dos conflitos pelos usos do espaço) no bairro, em contraste com a produção capitalista do espaço urbano. As práticas agrícolas remanescentes, por sua vez, se caracterizam pela regressão progressiva da agricultura como forma de renda. e podem evoluir enquanto atividades de pousio imobiliário, con-trastam com as práticas agrícolas insurgentes, na medida em que elas têm diferentes origens e diferentes motivações. Por meio da teoria do espaço diferencial de Lefebvre, é possível então justificar a permanência das ati-vidades agrícolas urbanas (especialmente aquelas sem finalidade comer-cial) no Campeche, pois através da consolidação dos conflitos, se dá a ma-terialização dos espaços diferenciais como no caso das experiencia da horta comunitária do PACUCA, do Coletivo de Agricultura Urbana do BTF, da Rede Semear Floripa e das interações diversas entre as hortas urbanas com o BTF. Finalmente o papel do estado é reforçado no sentido de fortalecer e garantir políticas e programas de promoção e fomento à Agricultura Ur-bana visto sua grande relevância socioambiental e econômica.

Palavras-chave: Agricultura Urbana. Direito à Cidade. Espaços Diferen-ciais.

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ABSTRACT

Urban Agriculture (UA) is a phenomenon that has been highlighted in Brazil and in the world, both in the growing experiences and practices, and in the scientific literature. Several benefits of agricultural practices in the city are demonstrated at the beginning of this study, as well as some risks, justifying the relevance of the research theme. The objective of this dissertation is to analyze the UA phenomenon and identify its typologies present in the Cam-peche neighborhood, Florianópolis / SC, as well as its perspectives, chal-lenges and limitations. An overview of UA practices and scientific research in Brazil and in the world comprises the first chapter, as well as a brief anal-ysis of the role of some UA institutions worldwide. In the second chapter, the various relationships between agriculture, city and location were consid-ered from classical theoretical references, such as the income category of the land, through Ricardo, Von Thünem and Marx; and contemporary theories of space production, and differential space, by Henri Lefebvre. From these references, and based on a brief historical analysis of lands in common use in Florianópolis, the permanence of urban agriculture in the Campeche neighborhood, given the pressure of the city's growth is analyzed, and ques-tions about the social function of the property, as well as, reflecques-tions on the right to the city. Despite being strongly pressured by the expansion of the city and, consequently, by the demand for productive space by the civil con-struction and typically urban activities, the UA in the neighborhood has de-veloped alternatives for its permanence. Among the alternatives is the artic-ulation between urban agriculture and the solidarity economy that is then examined, since in some experiences of UA present in the neighborhood, joint exchanges can occur through the Time Bank of Florianópolis (BTF) in cooperation and collectivity. A brief historical survey on the development of urban planning and social mobilization in the neighborhood is presented and then the different typologies present are identified and defined, such as com-munity gardens in public areas, private gardens with commercial purposes, productive yards etc. The experience of the community garden of the Cam-peche Cultural Park (PACUCA) is presented, as well as the path of disputes over the use of the space where it is located, as well as the role of social organization in these conflicts. Field visits and interviews with members of the Time Bank of Florianópolis (BTF) and in the gardens of the company Destino Certo and of PACUCA were carried out, as well as participation in meetings of the Semear Floripa Network (municipal network of articulation

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becomes clear when analyzing the evolution of the Florianópolis Master Plan. From Lefebvre's differential space theories (dialectical analysis be-tween social space and abstract space), the permanence of UA in front of the city's advance could be better understood. According to the author, abstract space is the ideal space based on the capitalist logic, while the social space (real) is the fertile ground for the generation of new practices in the cities, denominated here of insurgent agricultural practices. There was a coexist-ence between remaining agricultural practices (those that regress due to the city's advance) and insurgent agricultural practices (those arising from con-flicts over the uses of space) in the neighborhood, in contrast to the capitalist production of space urban. The remaining agricultural practices, in turn, are characterized by the gradual regression of agriculture as a form of income and may evolve as real estate fallow activities, contrast with insurgent farm-ing practices, as they have different origins and different motivations. Through Lefebvre's theory of differential space, it is then possible to justify the permanence of urban agricultural activities (especially those with no commercial purpose) in Campeche, because through the consolidation of those conflicts, the differential spaces are materialized as in the case of ex-perience of the PACUCA community garden, the BTF Urban Agriculture Collective, the Semear Floripa Network and the various interactions between the urban gardens and the BTF. Finally, the role of the state is reinforced in the sense of strengthening and guaranteeing policies and programs for the promotion of Urban Agriculture, given its great socio-environmental and economic relevance.

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1. Horta das Corujas, Hortelões Urbanos...34

Imagem 2. Programa Câmbio Verde em Curitiba/PR...36

Imagem 3. Projeto Lavoura da SMA de Curitiba/PR...37

Imagem 4. Projeto Hortas Cariocas: Horta do CIEP de Urucânia...38

Imagem 5. Fórum Global para Inovações em Agricultura (Utreque - Ho-landa, 2018) ...58

Imagem 6. Local Garden em Vancouver-Canadá, produção indoor utili-zando a tecnologia VertiCrop™...59

Imagem 7.AU sob linhas de transmissão em São Bernardo do Campo/SP...61

Imagem 8. AU sob linhas de transmissão da Eletropaulo na Zona Leste de São Paulo/SP...62

Imagem 9. Quintal da Cova...99

Imagem 10. Antigo Campo de Aviação do Campeche...101

Imagem 11. Entrada da horta do PACUCA com placas de avisos...102

Imagem 12. Placa de avisos e regras da horta do PACUCA...103

Imagem 13. Abraço coletivo no PACUCA...104

Imagem 14. Portão de entrada da Horta da horta do PACUCA fechado com cadeado...105

Imagem 15. Rede Semear Floripa no IV Encontro Municipal de Agricultura Urbana de Florianópolis...107

Imagem 16. Mutirão na Horta do Instituto Multicultural Crystal...112

Imagem 17. Armário coletivo no Rio Tavares...112

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Algumas das hortas dos Hortelões urbanos em São Paulo...35 Figura 2. O Estado Isolado de Von Thünen. (Fonte: Waibel 1948)...49 Figura 3. Campos comunais e áreas de ocupação agrícola na Ilha de Santa Catarina no período colonial...70 Figura 4. Esquema da Agricultura Urbana e suas relações...84 Figura 5. Localização do Distrito do Campeche...90 Figura 6. A. Parcelamento das propriedades coloniais agrícolas (ocupação linear junto à SC 406). B. Esquema gráfico da organização espacial...92 Figura 7. Mapeamento preliminar das áreas de agriculturas urbana e periur-bana em Florianópolis e região...94 Figura 8. Localização do terreno do antigo campo de aviação, atual local de disputa para se tornar o PACUCA...100 Figura 9. Logo e página principal do Banco de Tempo de Florianópolis no Facebook...107 Figura 10. Mapeamento referente aos potenciais quintais produtivos de membros do Coletivo de Agricultura Urbana do Banco de Tempo de Floria-nópolis...110

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGUILA- Rede Latino-americana de Investigações em Agricultura Urbana AMOCAM- Associação dos Moradores do Campeche

AMOJAC- Associação dos Moradores do Jardim das Castanheiras ANA- Articulação nacional de Agroecologia

AUÊ- Estudos em Agricultura Urbana AUP- Agricultura Urbana e Periurbana AU- Agricultura Urbana

BTF- Banco de Tempo de Florianópolis

CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CDT- Clube de Troca

CEFURIA - Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo

CEPAGRO- Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo CNAU- Coletivo Nacional de Agricultura Urbana

COMAER - Comando da Aeronáutica

COMCAP- Autarquia de Melhoramentos da Capital ES- Economia Solidária

ESS- Economia Social Solidária

FAO- Food and Agriculture Organization of The United Nations

FBSSAN- Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutrici-onal

GEAU-Grupo de Estudos em Agricultura Urbana

GEDRA- Grupo de Estudos da Dinâmica Regional e Agropecuária IDRC- International Development Research Centre

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INUAG- International Network for Urban Agriculture

IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPTU- Imposto Predial Territorial Urbano

IPUF- Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis LABRURAL- Laboratório de Estudos do Espaço Rural MCQV – Movimento Campeche Qualidade de Vida ONG- Organização Não Governamental

PACUCA- Parque Cultural do Campeche PD - Plano Diretor

PDP - Plano Diretor Participativo

PGPSE- Programa de Apoio à Pós-Graduação e à Pesquisa Científica e Tec-nológica em Desenvolvimento Socioeconômico no Brasil

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SENAES-Secretaria Nacional de Economia Solidária SMAB- Secretaria Municipal de Abastecimento SMMA- Secretaria Municipal do Meio Ambiente

RIPESS-Réseu Intercontinental de Promotion de L’économie Sociale Solidaire

RSF- Rede Semear Floripa

RUAF- Resource Centre for Urban Agriculture & Forestry UFRN- Universidade Federal do Rio Grande do Norte UNESP-Universidade Estadual Paulista

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SUMÁRIO

Introdução...23

Capítulo 1. Agricultura Urbana em Perspectiva. 1.1 Práticas de Agricultura Urbana 1.1.1 Experiências internacionais...29

1.1.2 Experiências brasileiras...33

1.2 Pesquisas Científicas em Agricultura Urbana 1.2.1 Panorama mundial ...40

1.2.2 Perspectiva nacional...44

Capítulo 2. Agricultura, Cidade e Localização. 2.1 Agricultura e cidade no debate clássico...47

2.2 Como explicar o fenômeno da agricultura urbana no espaço capi-talista?...52

2.3 Usos agrícolas e cidade em terras de uso comum e em terras públi-cas...63

2.4 A Função social da propriedade e o direito à cidade...72

2.5 Agricultura e Economia solidária...76

2.6 A compreensão teórica da agricultura urbana...84

Capítulo 3. Estudo de Caso: Agricultura Urbana no bairro do Cam-peche Florianópolis/SC. 3.1 Breve histórico da formação do Campeche...89

3.2 Tipologias da agricultura urbana no Campeche...95

3.2.1 AU em áreas privadas...96

3.2.1.1 Empresas de AU...96

3.2.1.2 Quintais produtivos...97

3.2.2 AU em áreas públicas...100

3.3 Sujeitos e Ações...106

3.3.1 Rede Semear Floripa ...106

3.3.2 A articulação com o Banco de Tempo de Florianópolis...108

3.4 AU na perspectiva do Plano Diretor de Florianópolis...114

3.5 Os usos do espaço pela Agricultura Urbana...117

3.5.1 Práticas remanescentes...117

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Considerações Finais...125 Referências...129 ANEXO I ANEXO II ANEXO III ANEXO IV

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Introdução.

A agricultura urbana (AU) é um fenômeno que está crescendo em evidência e vem chamando a atenção de pesquisadores de todo o mundo. A literatura recente cita diversas vantagens para a cidade e para os cida-dãos, a partir das atividades que envolvem a agricultura urbana (COVAR-RUBIAS, 2011; MOREIRA, 2008; SANTANDREU & LOVO, 2007; VISSOTO & MARCELINO, 2007; OTTMANN, 2010; LEAL, 2015; AQUINO & ASSIS, 2007; SPERANDIO et al., 2015; VAN VEENHUI-ZEN, René; DANSO, George, 2007) etc.

Alguns benefícios citados na literatura são: a melhoria da segu-rança alimentar (incrementando não apenas a quantidade, mas também a qualidade dos alimentos consumidos na cidade, já que diversas hortas ur-banas podem utilizar adubos orgânicos provenientes de sua compostagem local); redução na quantidade de resíduos orgânicos enviados para os ater-ros sanitários; a utilização produtiva e o manejo adequado de terrenos oci-osos também podem interessar à gestão urbana por oporem-se à prática do “pousio imobiliário” e ao depósito irregular de lixo (ROESE, 2003).

Corroborando as prerrogativas das práticas de AU, o relatório da FAO “Profitability and sustainability of urban and periurban agricul-ture” de 2007, enumera algumas das suas potenciais contribuições econô-micos, sociais e ambientais, tais como:

Segurança alimentar e nutricional urbana: a produção de alimentos na cidade é frequentemente uma resposta dos pobres urbanos ao acesso inadequado e irregular aos alimentos e à falta de poder de compra (...); Desenvolvimento econômico local: além da renda das vendas de excedentes os agregados familiares agrícolas poupam nos gastos das famílias cultivando os seus próprios alimentos, o que pode ser substancial, uma vez que as pessoas pobres geralmente gastam uma parte considerável dos seus rendimentos (50-70%) em alimentos (...); Impactos Sociais: A AU pode funcionar como uma importante estratégia para a redução da pobreza e para a integração social de grupos desfavorecidos, com o objetivo de integrá-los à rede urbana, além de proporcioná-los um meio de subsistência decente e prevenir problemas sociais como as drogas e a criminalidade (...) proporcionar atividades recreativas e educativas além de

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incrementar a paisagem e a biodiversidade e aprimorar a autogestão das comunidades; Contribuições para a gestão ambiental urbana: A AU pode contribuir para a redução de resíduos nas cidades e seus problemas associados, transformando os resíduos urbanos em recursos produtivos (...) produção de composto orgânico, vermicultura, irrigação com águas residuais, a AU também podem impactar positivamente o microclima urbano (quebras de vento, redução de poeira, sombra) e a manutenção da biodiversidade, podem reduzir a pegada ecológica da cidade produzindo alimentos próximos aos consumidores, reduzindo o uso de energia para transporte, embalagens e a necessidade de resfriamento, entre outros (VAN VEENHUIZEN, René; DANSO, Ge-orge, 2007, tradução nossa).

São também mencionados nesse relatório, no entanto, alguns riscos à saúde (humana e ambiental) associados às práticas de agricultura ur-bana, entre eles a contaminação humana e das culturas de alimento cau-sadas por águas poluídas (metais pesados, agrotóxicos, organismos pato-gênicos, etc.), além da possibilidade de contaminação das águas subterrâ-neas, de assoreamento, e até da redução de vegetação original (VAN VE-ENHUIZEN, René; DANSO, George, 2007).

Mesmo com os possíveis riscos associados a essa prática, de acordo com Domene e Saurí, “os aspectos positivosda horticultura não só se aplicam aos seus praticantes, mas também ao público em geral e ao meio ambiente”, (DOMENE & SAURÍ 2007, p. 289 tradução nossa), po-dendo ser a AU considerada um serviço ambiental, ao que corroboram Antonelli e Lamberti:

Nas áreas urbanas os impactos positivos da agricul-tura podem ser integrados ao desenvolvimento da cidade, onde a produção é associada a outras áreas de interesse para a comunidade: a proteção do am-biente, o envolvimento de grupos marginalizados, a promoção da cultura local e o fornecimento de atividades de lazer e educativas (ANTONELLI E LAMBERTI, 2011 apud LEAL, 2015 ).

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Do ponto de vista teórico, a agricultura urbana é uma categoria que se mantém em processo de construção, à sombra do debate sobre as no-ções de espaço urbano, periurbano e rural e suas relano-ções.

Aparentemente, as práticas agrícolas usufruem de uma vantagem de proximidade em relação aos consumidores, porém, os produtores en-frentam a barreira dos altos preços dos terrenos urbanos (seja para com-pra, seja para arrendamento), ou ainda, a instabilidade da manutenção das áreas agrícolas frente à enorme concorrência (geralmente de atividades mais lucrativas) de uso daquele determinado espaço. Apesar do crescente interesse em explorá-la como forma de melhorar as condições da vida das pessoas na cidade, a agricultura urbana é colocada em prova diante desses dilemas.

A dificuldade, portanto, da agricultura urbana sobreviver frente às disputas multisetoriais presentes nas cidades e como ela enfrenta essas disputas é o problema central dessa pesquisa.

Considerando a crescente relevância desta temática, nas discussões teóricas e nas práticas urbanas, e os benefícios socias, ambientais e econô-micos a elas associados, justifica-se um olhar mais apurado para suas par-ticularidades, e, portanto, a escolha por esse tema de pesquisa. Contribuir para o debate geográfico, especialmente em relação às dinâmicas e confi-gurações do espaço urbano e de novos processos relacionados à agricul-tura na cidade é a motivação fundamental deste estudo.

A escolha pelo bairro do Campeche se deu pela vasta manifestação do fenômeno da agricultura urbana, que se destaca no município.

Cada experiência de agricultura urbana, por sua vez, envolve ques-tões políticas, econômicas, sociais e ambientais específicas de cada loca-lidade, demonstrando a complexidade de análise dessas práticas por conta das suas diversas relações.

Essa pesquisa discute especificamente os dilemas em relação à per-manência da agricultura no bairro do Campeche, situado no sul da Ilha de Santa Catarina, município de Florianópolis - capital do estado de Santa Catarina. O objetivo geral dessa dissertação é identificar as tipologias e analisar o fenômeno da AU no bairro do Campeche, bem como suas pers-pectivas, desafios e limitações. Os objetivos específicos são realizar um panorama das práticas e pesquisas científicas de AU no mundo e analisar, a partir de revisão bibliográfica, as relações entre agricultura, cidade e localização, presentes tanto nos debates clássicos quanto contemporâ-neos.

A metodologia utilizada na elaboração e execução dessa disserta-ção deu-se de diversas formas, entre elas: pesquisa bibliográfica; partici-pação em eventos, palestras, congressos (nacionais e internacionais) e

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grupos de trabalho sobre a temática; contato direto com a realidade por meio de visitas a campo (Horta do PACUCA, horta da empresa Destino Certo, e voluntariados em mutirões de planejamento e execução de hor-tas; Entrevistas com Adriana Klin, do Banco de Tempo de Florianópolis, com Eduardo Elias, proprietário da empresa Destino Certo; com Alencar Deck Vigano, atual presidente da Associação dos Moradores do Campe-che (AMOCAM); e entrevista com Karina Signori, representante da horta comunitária do Instituto Multicultural Crystal. Mapeamento e em locais que realizam agricultura urbana e periurbana (conteúdo este especial-mente requerido e utilizado pelo Projeto da CAPES -edital 042/2014 - Desenvolvimento Socioeconômico no Brasil (PGPSE), intitulado “Políti-cas Públi“Políti-cas, Mercados Institucionais, Agricultura Urbana e Periurbana”, que teve grande proveito na elaboração da presente pesquisa; Participação na Rede Semear Floripa, enquanto aluna da pós graduação em Geografia da UFSC; participação no Banco de Tempo de Florianópolis (BTF) en-quanto membro cadastrada e também comparte do Coletivo de Agricul-tura Urbana do BTF.

Há vantagens e desvantagens implicadas enquanto pesquisadora observadora no processo de percepção da realidade, formulação do ob-jeto de pesquisa, e análise das informações. O aumento da subjetividade inerente à observação participante, pode ser uma de suas desvantagens, já que, a experiência dessas situações “pode proporcionar maiores angús-tias no pesquisador, comparativamente às outras metodologias de pes-quisa, uma vez que a interação face a face continuada acarreta, em tese, maiores dificuldades e obstáculos comportamentais” (SERVA, M., & JAIME JÚNIOR, P. 1995, p. 69). O envolvimento pessoal do pesquisador no objeto de pesquisa, no sentido de superar tais obstáculos, deve vir acompanhado de um alto senso crítico, conforme Serva & Jaime Júnior, ao indicarem que:

Uma metodologia que minimiza a filtragem do in-formante, transfere praticamente toda a responsabi-lidade para a: interpretação do pesquisador. O que equivale ao investimento na subjetividade. Tal in-vestimento pode e deve ser atentamente refletido, constantemente confrontado pelo próprio investi-gador por meio da busca das condições de validade (...) dos dados e de suas interpretações. Não se trata de iludir-se com uma possibilidade de objetivar o subjetivo, e sim de estar sempre consciente das consequências que poderão advir do envolvimento pessoal do pesquisador com os indivíduos

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observados (SERVA, M., & JAIME JÚNIOR, P. 1995, p.79).

Por outro lado, o pesquisador ao manter os princípios éticos neces-sários a qualquer pesquisa, e tendo por base uma sólida formação teórica, um olhar detalhista e imparcial (para enxergar além da realidade evi-dente), pode obter algumas vantagens à sua pesquisa por meio da obser-vação participante, conforme corroboram Serva & Jaime Júnior, ao afir-marem que:

Nesse tipo de pesquisa, as possibilidades de ampli-ação da compreensão dos processos organizacio-nais são promissoras, uma vez que se pode ter o acesso direto aos dados, às situações, pode-se sur-preender os membros das organizações em plena ação. O grau de acessibilidade aos fatos é inegavel-mente o maior dentre todas as metodologias quali-tativas. Mesmo não esquecendo que a presença do observador obviamente provoca mudanças na con-figuração do grupo estudado (SERVA, M., & JAIME JÚNIOR, P. 1995, p.79).

Portanto, buscou-se na presente pesquisa, manter o olhar crítico apurado enquanto pesquisadora imparcial, no intuito de enxergar e anali-sar, por diferentes perspectivas, a realidade existente e, a partir daí, ser capaz de responder as questões centrais desse estudo.

O presente estudo se divide em três capítulos, o primeiro, traz um breve panorama global e nacional, tanto das experiências práticas, quanto das pesquisas científicas em agricultura urbana.

O segundo capítulo faz uma breve revisão bibliográfica sobre o debate clássico das relações entre agricultura e sua localização, trata tam-bém da categoria da renda da terra, dos conflitos de uso da terra no espaço urbano capitalista e de suas relações com a agricultura. O direito à cidade atrelado à função social da propriedade, assim como uma breve análise do conceito de capital social e da economia solidária e possibilidades de articulação com a agricultura urbana, finalizam o segundo capítulo.

O terceiro e último capítulo dessa dissertação se inicia com um breve histórico da formação do distrito do Campeche, e então busca de-terminar as tipologias de agricultura urbana ali presentes. As práticas ali realizadas, tanto em áreas públicas, quanto em áreas privadas (tais como quintais produtivos, empresas de AU) são apresentadas. A Rede Semear Floripa é elucidada, enquanto uma rede de articulação entre diversos agentes públicos, privados e da sociedade civil, bem como suas ações

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mais relevantes no assunto. Em seguida, outro coletivo é apresentado, o Banco de Tempo de Florianópolis, e suas possibilidades de correlação com as práticas de agricultura urbana no município. Para finalizar, o úl-timo item trata das práticas agrícolas remanescentes e insurgentes presen-tes no bairro, e como suas contradições podem conformar os chamados espaços diferenciais.

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CAPÍTULO 1. AGRICULTURA URBANA EM PERSPECTIVA 1.1 Práticas de Agricultura Urbana

1.1.1 Experiências internacionais

As práticas da agricultura e do pastoreio acompanham, desde a re-volução neolítica, o desenvolvimento e a expansão das civilizações, e his-toricamente são condicionadas às mais variadas conjunturas. Os inicial-mente denominados “nômades” e “sedentários” se diferenciavam pelos tipos de culturas e modo de produção, mas também mantinham certa sim-biose principalmente em situações nas quais havia grande resistência das comunidades locais aos colonizadores, a exemplo de algumas tribos afri-canas face à colonização romana1. A complexidade de práticas agrícolas na antiguidade já era notável, por exemplo, em regiões africanas, como ilustra o professor de história antiga, Julio Cesar Magalhães de Oliveira:

Inúmeros vestígios de assentamentos, sistemas de irrigação e cemitérios foram encontrados nos vales do esc-Sciatti, el-Agial e Berguig, e as evidências paleobotânicas do cultivo de cereais, como trigo e cevada, podem ser associadas à implantação, já no século IX a.C., de vilarejos fortificados nas colinas. A partir do século IV a.C. os assentamentos come-çam também a ser implantados na terra plana dos oásis, onde a aglomeração de Garama (Germa) co-meçaria a se desenvolver como uma importante ci-dade, o centro da confederação dos garamantes na época romana, em torno da qual a rede de foggaras (ou canais de irrigação subterrâneos) é tão densa que, se os canais fossem unidos, atingiriam os 2000 km de extensão! (MAGALHÃES, 2015 p.35). Entretanto, ao longo do desenvolvimento humano a “associação entre nomadismo e barbárie continuaria a ser utilizada para ressaltar a

1 MAGALHÃES, Julio Cesar. Nômades e Sedentários, Pastores e Agricultores na

África do Norte Antiga: Das perspectivas colonial e independantista à Arqueologia Contemporânea. Revista de Estudos Filosóficos e Históricos da Antiguidade, n. 28, 2015. Disponível em https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/cpa/arti-cle/view/1769 , Acesso 29/10/2018.

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missão civilizadora da colonização agrícola levada a cabo pelos conquis-tadores do passado e do presente” (MAGALHÃES, 2015 p.30). As difi-culdades das condições geográficas, de transporte, de técnicas, entre ou-tras, por sua vez, são tão antigas quanto o próprio desenvolvimento e ex-pansão das cidades.

Existem as mais variadas experiências, remotas e atuais, de práti-cas agrícolas dentro e ao redor das cidades. Em Cuba, por exemplo, a agricultura é praticada nas cidades, sem o uso de agrotóxicos, desde o embargo econômico norte-americano, iniciado na década de 1960 que im-pediu a entrada dos agrotóxicos no país. Desde essa década, e com o fim do suporte externo da URSS, a agricultura urbana de base agroecológica tem servido à política de segurança alimentar e nutricional dos cubanos (DE AQUINO, 2007).

Vale destacar, nesse contexto temporal, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimentoque aconteceu em 1972 em Estocolmo, na Suécia, a qual reuniu diversos chefes de es-tado para tratarem de assuntos relativos ao desenvolvimento econômico e sua relação com a degradação ambiental. A partir dessas discussões inici-adas em Estocolmo, o Relatório Brundtland (intitulado Nosso Futuro Co-mum),elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desen-volvimentoem 1987, tratou pela primeira vez do conceito de Desenvolvi-mento Sustentável, aquele que busca atrelar ao desenvolviDesenvolvi-mento econô-mico/social um uso razoável dos recursos da terra. A agricultura permeia todas essas questões (sociais, ambientais e econômicas) sendo importante analisá-la também com base nesse conceito.

Nas sociedades europeias e asiáticas ex-socialistas, por sua vez, a AU também se desenvolveu de maneira muito importante. Considerada como uma atividade agrícola significativa nas sociedades inglesa e norte-americana, ela entra em declínio principalmente nas antigas sociedades europeias reduzindo suas atividades às camadas desfavorecidas social-mente. (BOUKHAREVA, 2007).

Em diversos países latinoamericanos, a exemplo do México, Ar-gentina e Chile surgiram movimentos de agricultura urbana a partir da década de 1980, em reação a contextos de crise que geraram aumento dos preços dos alimentos, redução dos salários, entre outros problemas que afetaram o acesso aos alimentos (DE AQUINO, 2007). Louiza Boukha-reva, por sua vez, aponta que em diversos países do hemisfério sul sua origem se deu graças à modernização da agricultura acarretando um grande êxodo rural a partir da década de 1940, mas especialmente nas décadas de 1960 e 1970 (BOUKHAREVA, 2007).

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Na Alemanha, conforme Angela Bernadete Lima (2015), os cha-mados Kleingärten (ou pequenas hortas), surgidos no século XIX em meio à industrialização, são espaços de cultivo regulamentados no inte-rior das cidades, geralmente são arrendados e adquiriram importância em grandes cidades como Berlim e Leipzig ao possibilitarem uma associação entre produção alimentar, lazer e recreação por meio de atividades ligadas a educação ambiental e preservação.

Segundo Lima (2015), no período pós I e II Guerra Mundial na Alemanha, a existência dos Kleingärten permitiu que os habitantes das cidades tivessem um meio adicional de subsistência, Berlin chegou a con-tar com 200 mil parcelas de Kleingärten (pós II Guerra Mundial).Ainda hoje, os Kleingärten, além de tornarem as cidades mais atraentes, contri-buem significativamente para torná-las menos opressivas ao arborizar áreas densamente construídas e altamente artificiais, tais espaços, por-tanto, não se configuram somente como uma adição valiosa à vegetação urbana, mas também ao espaço cultural para muitas pessoas (LIMA, 2015).

Diversas organizações não-governamentais internacionais também tratam dessa questão como por exemplo a “Food and Agriculture Orga-nization of The United Nations (FAO)”, organização intergovernamental criada em 1945, possui 194 nações membro e atua na questão da segu-rança alimentar em mais de 130 países. A “City Farmer” é outro exemplo de organização sem fins lucrativos de Vancouver - Canadá que reúne em seu site, desde 1994, diversas informações sobre cultivo de alimentos na cidade, métodos de compostagem, e diversos exemplos de práticas de agricultura urbana ao redor do mundo, entre outras informações úteis aos que realizam essas práticas.

Existem diversas experiências nos Estados Unidos voltadas princi-palmente aos planos de agricultura urbana, conselhos de política alimentar e elaboração de mapas de possíveis locais para fazendas urbanas. A cidade de Oakland na Califórnia, por exemplo, vêm atuali-zando continuamente seus regulamentos de zoneamento relacionados à agricultura urbana2. Cada vez mais, diversas outras cidades dos Estados Unidos estão aprovando emendas aos seus regulamentos de zoneamento, com a finalidade de permitir o cultivo de alimentos locais e, em alguns

2Planejamento e Zoneamento da Cidade de Oakland, Califórnia. Urban Agriculture

Citywide Update. Disponível em < http://www2.oaklandnet.com/govern-ment/o/PBN/OurOrganization/PlanningZoning/OAK029859#WhatsNew>. Acesso em 30/01/2019.

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casos, permitem também a venda de produtos excedentes nos mercados locais3.

O Resource Centres on Urban Agriculture and Food SecurityRUAF juntamente com a OXFAM Italia implementaram em conjunto, em 2015, o “Projeto de Agricultura Urbana e Periurbana de Gaza (G-UPA)” com financiamento da Agência Suíça de Desenvolvimento e Cooperação, previsto para 4 anos. O projeto tem ajudado pequenos produtores urbanos a estabelecerem microempresas e exportarem seus produtos locais. Uma Plataforma para desenvolver políticas e programas de Agricultura Urbana em toda a Faixa de Gaza está prevista no projeto4. Esse tipo de projeto, pode trazer alguns benefícios para as comunidades que atendem, mas também podem ser analisados por seu interesse capitalista no setor.

No continente africano, na cidade de Kampala – Uganda, a coope-rativa agrícola Camp Green, criada pela ativista Harriet Nakabaale, ins-truiu mais de 10 mil moradores da cidade a compostarem os resíduos orgânicos, cultivarem seus próprios alimentos, e em como obterem melhores rendimentos a partir de pequenas áreas urbanas. O jornal local A New Vision, reconheceu Nakabaale como a mulher do ano em 2012, pela sua dedicação excepcional na garantia da segurança alimentar dessa comunidade5.

Segundo Isabel Maria Madaleno, importante pesquisadora portu-guesa na área de AU, no continente africano a agricultura urbana consti-tui-se em um importante complemento de renda e “relevante fonte de pro-teínas e vitaminas, que enriquecem a dieta diária de parcela não despre-zável da classe média” (MADALENO, p. 2, 2002).

Diversos movimentos geridos e executados por mulheres estão transformando diferentes cidades, e fortalecendo a cooperação entre mu-lheres ao redor do mundo, tais como o “FarmHer”6, o “The Female

3The North American Urban Agriculture Experience. Disponível em <

http://blogs.worldbank.org/sustainablecities/the-north-american-urban-agricul-ture-experience> Acesso em 30/01/2019.

4 G-UPA. Disponível em <

https://www.ruaf.org/projects/market-oriented-urban-agriculture-gaza> Acesso em 30/01/2019.

5New Vision’s women achievers start food security consortium. Disponível em

<https://www.newvision.co.ug/new_vision/news/1315499/vision-women-achie-vers-start-food-security-consortium > Acesso em 30/01/2019.

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Farmer Project”7, o “Women Food and Agriculture Network - WFAN”8, os quais visam o empoderamento feminino (tanto individual quanto cole-tivo), a troca de informações, e a ajuda mútua.

A agricultura urbana cumpre, dessa forma, diferentes papéis nas mais variadas situações e experiências internacionais.

1.1.2 Experiências brasileiras

No Brasil diversas experiências de AU estão se disseminando, A ONG “Cidades sem Fome”9 atua em São Paulo/SP desde 2004, desenvol-vendo projetos de agricultura orgânica em áreas urbanas e rurais, no in-tuito de promover a autossuficiência financeira e de gestão, e de criar oportunidades de trabalho para pessoas em vulnerabilidade social, seu pú-blico-alvo. A partir de 2009 as ações e projetos dessa ONG começou a se expandir para outras regiões do país.

O coletivo “Hortelões Urbanos”, é um grupo criado em 2011 no intuito de reunir pessoas interessadas em trocar experiências pessoais so-bre plantio orgânico doméstico de alimentos, e criação de hortas comuni-tárias ao longo da cidade, a exemplo da Horta das Corujas10 (Imagem 1), uma horta comunitária situada no bairro Vila Beatriz, próxima ao alto de Pinheiros, bairro nobre da cidade. O coletivo dos hortelões atualmente é composto por mais de 82.502 membros e, por conta desse movimento, diversas outras hortas foram impulsionadas na cidade de São Paulo/SP, nos mais variados bairros (Figura 1)11.

O Movimento dos Hortelões Urbanos, por sua vez, já está presente em diversos estados brasileiros realizando e promovendo hortas nos mes-mos moldes das experiências apresentadas em São Paulo/SP.

7 Female Farmer Project. Disponível em http://www.femalefarmerproject.org/

Acesso em: 30/01/2019.

8 WFAN. Disponível em < http://www.wfan.org/about/> Acesso em: 30/01/2019. 9 Cidades sem Fome. Disponível em<https://cidadessemfome.org/pt-br/> Acesso

25/03/2018.

10 Horta das Corujas: Disponível em< https://hortadascorujas.wordpress.com/>

Acesso 26/03/2018

11 Hortelões Urbanos. Localização das Hortas. Fonte:

https://www.face- book.com/notes/hortel%C3%B5es-urbanos/as-hortas-e-os-horteloes-onde-es-tao/475572129178440/. Acesso 25/03/2018.

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Em Curitiba/PR há uma parceria entre a SMAB (Secretaria Muni-cipal de Abastecimento) e a SMMA (Secretaria MuniMuni-cipal do Meio Am-biente) que originou o Programa “Câmbio Verde” (Imagem 2), o qual desde 1991 articula os catadores de materiais recicláveis aos produtores de alimentos, promovendo entre eles a troca dos recicláveis pelos alimen-tos da agricultura urbana e periurbana (SANTANDREU, 2007).

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Figura 1. Algumas das hortas dos hortelões urbanos em São Paulo

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Nesse projeto, a cada 4 kg de material reciclável entregue e/ou a cada 2L de óleo usado entregues, recebem 1kg de alimento. Em Curitiba há também o “Programa de Agricultura Urbana” da Secretaria Municipal do Abastecimento, vencedor do prêmio C40 Cities Awards em 2016, na categoria Cidades Sustentáveis; o qual promove, entre outros, os Projetos “Nosso Quintal” e “Lavoura”. O primeiro trabalha o cultivo de hortas em pequenos espaços, como escolas, asilos, creches e outras instituições. So-mente nas escolas, 5,1 mil alunos participam do projeto. No total, 14,6 mil pessoas são beneficiadas com a produção. No projeto Lavoura (Ima-gem 3), são 799 hortas comunitárias cultivadas em vazios urbanos por 800 famílias.

Além da produção de alimentos saudáveis, a prática também serve como atividade de ocupação e auxílio no tratamento de doenças para

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pessoas da terceira idade, beneficiando cerca de 3,3 mil pessoas12 .Se-gundo o secretário municipal de Agricultura e Abastecimento Luiz Gusi a Prefeitura de Curitiba mantém o Programa Hortas Comunitárias desde 1986 e atualmente apoiam 24 áreas cultivadas por produtores urbanos, que beneficiam 872 famílias e se espalham por 428 mil metros quadrados sob linhões de energia, terrenos públicos e áreas da iniciativa privada13

No Rio de Janeiro/RJ há o projeto “Hortas Cariocas” (Imagem 4) da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, o qual utiliza áreas públicas

12Informações obtidas a partir do site da Prefeitura Municipal de Curitiba.

Dispo-nível em <http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/programa-de-agricultura-urbana-de-curitiba-e-finalista-em-premiacao-internacional/40399>. Acesso em 20/06/2018.

13Fonte:

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próximas às comunidades carentes e escolas ou em terrenos sob linhas de transmissão de energia, para realizar hortas comunitárias. Produzem ver-duras, hortaliças e frutos com a utilização de técnicas orgânicas e apro-veitamento da mão-de-obra local em sistema de mutirão.

Outra ação que envolve o tema agricultura urbana no Rio de Janeiro é o projeto da Favela Orgânica14. O projeto nasceu a partir da iniciativa da em-preendedora social Regina Tchelly, nas comunidades Babilônia e Chapéu Mangueira, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Os principais objetivos do projeto são: transformar a relação das pessoas com os alimentos; traba-lhar com a comunidade a complexa relação da alimentação com a saúde humana e do meio ambiente; minimizar o desperdício de alimentos com receitas que incentivam a utilização quase completa dos alimentos; divul-gar e promover a compostagem dos resíduos orgânicos, bem como incen-tivar a produção local de alimentos e, finalmente, melhorar a qualidade de

14 Projeto Favela Orgânica. Disponível em < http://favelaorganica.com.br/pt/>

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vida da comunidade. Diversas oficinas e palestras já foram, e são ministra-das, pela empreendedora em diversos estados do Brasil, bem como em ou-tros países como França, Itália e Uruguai.

Os alimentos produzidos são destinados para escolas do município da cidade do Rio de Janeiro, creches municipais e para famílias carentes indicadas pela Associação de Moradores, e também são vendidos para ge-rar renda adicional para manter a própria horta15.

Em Belo Horizonte/MG o projeto “Da semente à mesa”16, promo-vido e coordenado globalmente pela RUAF Foundation, e localmente por diversas instituições, realizou em 2012 um trabalho de orientação e capa-citação de grupos de agricultores urbanos para a produção agroecológica, a comercialização e gestão compartilhada de negócios. O Projeto teve grande sucesso na complementação da renda dos agricultores envolvidos, extrapolando sua função inicial de servir apenas como alternativa de se-gurança alimentar e atividade de lazer.

O Portal da Agricultura Urbana e Periurbana17 reúne diversas in-formações sobre leis, decretos, cursos, projetos e iniciativas de agricultura urbana em nível nacional, no intuito de articular e disseminar o conheci-mento em relação a estas práticas.

O Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) e o Fundo Socio-ambiental Caixa, também apoiam projetos na área de gestão de resíduos, incluindo a compostagem, e lançaram conjuntamente no dia 12/09/2017, o Edital nº 01/2017. O objetivo desse edital foi selecionar projetos inte-grados de segregação na fonte e reciclagem de resíduos sólidos orgânicos em municípios ou consórcios públicos intermunicipais, que atuem na ges-tão de resíduos sólidos.

O Ministério do Desenvolvimento Social lançou recentemente o Programa Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana (Portaria nº 467, de 7 de fevereiro de 2018)18, tendo como principal objetivo contribuir no aprimoramento da segurança alimentar e da produção agrícola agroeco-lógica tanto comunitária como doméstica nas cidades e em seu entorno.

15Hortas Cariocas disponível em

http://www.rio.rj.gov.br/web/smac/hortas-cario-cas, Acesso em 12/06/2018.

16Da Semente à Mesa – Jardins Produtivos: Cidades Cultivando para o Futuro – A

Experiência de Belo Horizonte. Disponível em < http://agriculturaur-bana.org.br/textos/CARTILHA_AUP_Belo_Horizonte.pdf > Acesso em 05/09/2016.

17Portal da Agricultura Urbana e Periurbana. Disponível em <

http://www.agricul-turaurbana.org.br/ > Acesso em 6/09/2016.

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Sensibilizar governos municipais e estaduais para desenvolverem suas próprias políticas de agricultura urbana também está entre as metas do ministério.

A criação do Programa Municipal de Agricultura Urbana de Flori-anópolis (Decreto nº17.688, de 05 de junho de 2017) vem ao encontro do programa nacional, na medida em que promove as práticas agroecológi-cas e sustentáveis em diversos âmbitos. Entre eles estão: a gestão dos re-síduos orgânicos por meio de compostagem e vermicompostagem; a pro-dução de mudas e sementes; o aumento da biodiversidade; a certificação da produção orgânica; o uso sustentável dos recursos naturais (como o aproveitamento de água da chuva, produção de energia solar, uso de ma-teriais reciclados, etc.), a consolidação de parcerias interinstitucionais com gestão compartilhada envolvendo diversos órgãos da administração municipal é outro ponto de destaque deste decreto.

Grande parte dos esforços empregados na elaboração e aprovação tanto dessa política, como de outras voltadas à agroecologia em Florianó-polis/SC, vem do vereador Marcos José de Abreu, o Marquito, que em outubro de 2016 foi o segundo vereador mais votado da cidade, com 5.448 votos e possui uma longa trajetória pautada no fortalecimento da agroe-cologia, desde a agricultura tradicional de engenhos, até as agriculturas urbanas, e de outras atividades do setor primário da economia.

Tanto no Brasil como no mundo o fortalecimento de políticas pú-blicas e instituições que defendem os reais interesses socioambientais é essencial para que a agricultura urbana seja uma realidade. Diversas ins-tituições que fomentam grandes projetos ambientais e sociais muitas ve-zes podem estar atreladas a interesses camuflados em uma causa, mas que em última instância buscam satisfazer interesses capitalistas.

1.2 Pesquisas Científicas em Agricultura Urbana 1.2.1 Panorama mundial

A Agricultura Urbana tem cada vez mais se legitimado através das pesquisas científicas ao redor do globo, especialmente no que diz respeito à questão espacial e ao desenvolvimento das cidades.

A coordenadoria do grupo de estudos em agricultura urbana da Universidade Federal de Minas Gerais (AUÊ!)19 identifica diferentes

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focos das pesquisas internacionais sobre agricultura urbana a partir de au-tores como Smit; Ratta; Nasr; 1996; Mougeot, 2005; Redwood, 2009; Ha-milton et al., 2013; Mok et al., 2013, elucidando uma grande articulação entre essas pesquisas e sua incorporação nas políticas e programas inter-nacionais de acordo com as particularidades e contextos de desenvolvi-mento de cada país (ALMEIDA, 2005).

O Centro Internacional de Pesquisa para o Desenvolvimento (IDRC)20, sediado no Canadá, financia pesquisas em países emergentes no intuito de promover o crescimento e reduzir a pobreza nessas regiões. Já a ONG “Ruaf Foundation” (RUAF)21 é um centro de especiali-zação sobre agricultura urbana sustentável e sistemas alimentares, desde 1999 atua em parceria com cidades, institutos de pesquisa e ONGs que possuam histórico em agricultura urbana ou em soluções de sistemas ali-mentares urbanos promovendo geração e divulgação de conhecimento, assessoria técnica, pesquisa, design de políticas e planejamento de ações para os sistemas alimentares urbanos.

A Rede Latinoamericana de Investigações em Agricultura Urbana (AGUILA) criada em 1997 é um bom exemplo de organização a partir da necessidade de diversos países latinos de promover políticas, tecnologias e métodos para aprimorar a produtividade, a acessibilidade e a sustenta-bilidade dos sistemas de produção nas áreas urbanas.

A Rede Internacional de Agricultura Urbana, “International Network for Urban Agriculture” (INUAG)22, instituição norte-americana de caridade pública promove um prêmio (monetário) anual aos agriculto-res urbanos selecionados entre produtoagriculto-res do mundo todo, esta premiação é realizada através da contribuição voluntária de seus apoiadores que bus-cam incentivar tais práticas.

A Universidade Autônoma Metropolitana do México (UAM) se-diou em 2017 o “III Encontro Latino-americano de Agricultura Urbana e Periurbana (AUP)”, que teve o intuito de reconhecer o escopo da agricul-tura urbana e periurbana nos países da América Latina nas áreas de ino-vação tecnológica na produção, políticas públicas, pesquisa e educação.

Conforme elucidado anteriormente, diversos são os cientistas ao redor do mundo que vêm desenvolvendo pesquisas, direta ou indireta-mente, relacionadas com a Agricultura Urbana, falaremos um pouco mais sobre alguns destes pesquisadores e seus estudos.

20IDRC, 2018. 21RUAF, 2018. 22INUAG, 2018.

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Matei Georgescu é professor de ciências geográficas e planeja-mento urbano na Universidade Estadual do Arizona/EUA, e coautor do estudo denominado “Uma Estimativa Geoespacial de Serviços Ecossistê-micos Globais da Agricultura Urbana” 23 junto com outros pesquisadores do Estado do Arizona, da empresa Google, da Universidade Tsinghua da China, da Universidade da Califórnia, Berkeley e da Universidade do Ha-vaí. Tal estudo realiza estimativas dos benefícios dos serviços ecossistê-micos que a agricultura urbana proporcionaria nas cidades caso suas áreas verdes disponíveis fossem utilizadas para esse fim. O estudo indica ainda que a AU pode contribuir com uma parcela da produção global de alimen-tos, mas além disso representa diversos benefícios adicionais às cidades, além dos impactos sociais.

Robert Costanza, é professor de políticas públicas na Crawford School - Universidade Nacional da Austrália, e cofundador da Sociedade Internacional para Economia Ecológica, pesquisa o urbanismo sustentá-vel e as relações econômicas entre os seres humanos e o meio ambiente. Sabina Shaikh é diretora do Programa sobre o Meio Ambiente Glo-bal da Universidade de Chicago/EUA, pesquisadora do ambiente urbano e de economia política ambiental especialmente sobre o capital natural24. Dickson D. Despommier é professor emérito de microbiologia e saúde pública na Universidade de Columbia e possui livro publicado so-bre a agricultura vertical25.

Há também o Vertical Farm Institute26, um centro de pesquisas

lo-calizado em Viena na Áustria, onde realizam estudos de viabilidade para a agricultura vertical em diferentes zonas climáticas, no sentido de otimi-zarem as práticas agrícolas verticais urbanas tornando-as sustentáveis em questões como energia e insumos.

O “Centro Johns Hopkins para um Futuro Habitável”, da Universidade de Johns Hopkins localizada em Baltimore/EUA, trabalha

23CLINTON, Nicholas et al. A Global Geospatial Ecosystem Services Estimate of

Urban Agriculture. Earth's Future, v. 6, n. 1, p. 40-60, 2018.

24 Capital Natural pode ser entendido como a valoração monetária dos bens e

ser-viços ambientais, através de preços de mercado. Para entender mais sobre o tema sugere-se a leitura do artigo: LIMA, Gilberto Tadeu. Naturalizando o capital, capi-talizando a natureza: o conceito de capital natural no desenvolvimento sustentável.

Texto para Discussão do Instituto de Economia da UNICAMP, 1999.

25DESPOMMIER, Dickson. The vertical farm: feeding the world in the 21st

cen-tury. Macmillan, 2010.

26Vertical Farm Institute. Fonte: http://www.verticalfarminstitute.org/. Acesso

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com estudantes, educadores, pesquisadores, formuladores de políticas, organizações de advogados e organizações da sociedade civil para construir um sistema alimentar mais saudável, equitativo e resiliente. Está engajado em vários empreendimentos relacionados à agricultura urbana, incluindo pesquisa, criação de relatórios e formulação de políticas e legislação sobre o tema27

A “Rede Italiana de Pesquisa em Agricultura urbana e periurbana e planejamento”28 reúne diversos estudiosos no sentido de desenvolverem

e estimularem o debate sobre sistemas agroalimentares em áreas urbanas e metropolitanas; as trocas e discussões com instituições de pesquisa es-trangeiras; grupos de trabalhos para editais de programas de ações sobre o tema; e apoio aos tomadores de decisões.

A escola italiana “Scuola diffusa della Terra Emilio Sereni”29 ou “Terra!” é uma associação ambiental comprometida desde 2008 a nível local, nacional e internacional em projetos e campanhas sobre questões ambientais e agricultura ecológica. Terra! trabalha em rede com associa-ções, comitês e organizações da sociedade civil na promoção das hortas urbanas, inclusive através de concursos públicos e regulamentos que ga-rantam o acesso à terra para os jovens e promovam a aplicação de técnicas agrícolas sustentáveis

Existe, portanto, uma vasta gama de pesquisas internacionais nas mais variadas áreas as quais a agricultura urbana transpassa pela sua in-terdisciplinaridade.

27 The Johns Hopkins Center for a Livable Future. Disponível em

https://www.jhsph.edu/research/centers-and-institutes/johns-hopkins-center-for-a-livable-future/projects/urban-agriculture/index.html Acesso em 30/01/2019.

28 “Rete Ricercatori AU Agricoltura Urbana e periurbana e della pianificazione

alimentare” Disponível em < https://agriregionieuropa.univpm.it/it/groups/rete-ri-cercatori-au-agricoltura-urbana-e-periurbana-e-della-pianificazione-alimentare> Acesso em 30/01/2019.

29 Scuola diffusa della Terra Emilio Sereni. Disponível

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1.2.2 Perspectiva nacional

As pesquisas científicas voltadas diretamente para este tema ainda são incipientes no Brasil, pois conforme Daniela Adil Oliveira de Almeida “a ausência de uma literatura consolidada ou de uma tradição de pesquisa sobre agricultura urbana nos estudos urbanos no Brasil (...) sinaliza uma lacuna na produção de conhecimento sobre as práticas agrícolas urbanas no país”(Almeida 2015, p. 419). Entretanto, podemos encontrar diversos grupos de pesquisa e autores que vêm trabalhando para modificar tal rea-lidade brasileira.

Em maio de 2007 grupos de pesquisadores, organizações não-governamentais e movimentos sociais de diversas regiões do país, se re-uniram em Brasília/DF e formularam o documento “Panorama da Agri-cultura Urbana e Periurbana no Brasil e Diretrizes Políticas para sua Pro-moção: Identificação e Caracterização de iniciativas de AUP em Regiões Metropolitanas Brasileiras”, o qual coletivamente, entre outras diretrizes, apontam que:

Essas atividades devem pautar-se pelo respeito aos saberes e conhecimentos locais, pela promoção da equidade de gênero através do uso de tecnologias apropriadas e processos participativos promovendo a gestão urbana social e ambiental das cidades, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população urbana e para a sustentabilidade das cidades (SANTANDREU; LOVO 2007, p. 10). Na Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG há o grupo de estudos em agricultura urbana do Instituto de Geociências (AUÊ!) o qual, reúne pesquisadores da universidade e outras instituições de pesquisa, aproximando a temática da agricultura urbana a diferentes campos de in-vestigação dentre eles: planejamento urbano, agroecologia, conflitos so-cioambientais, organização popular, segurança alimentar, economia po-pular e solidária.

O Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Ce-pagro) foi fundado em 1990 por pequenos agricultores e técnicos interes-sados na formação de redes produtivas locais rurais. Em 1996, foram re-conhecidos como Entidade de Utilidade Pública pelo Governo do Estado de Santa Catarina (Lei nº 10.212/96), e pelo Município de Florianópolis (Lei4846/96).

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O Cepagro atua em rede, parcerias e convênios, umas das parce-rias é com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desenvol-vendo conjuntamente ações e trabalhos diretamente com seus professores e estudantes. Também integra diferentes espaços públicos como comitês, fóruns, redes, etc. todos voltados aos temas da agroecologia, agricultura urbana, compostagem, etc. buscando a interlocução com diferentes esfe-ras dos governos e sociedade civil, buscando favorecer a criação e a im-plementação de políticas públicas voltadas aos interesses da agricultura familiar e das comunidades urbanas30.

Um dos projetos mais conhecidos e replicado nacional e internaci-onalmente realizado por meio do Cepagro é o projeto “Revolução dos Baldinhos” que tem como foco a gestão comunitária e local dos resíduos orgânicos atrelada à prática da agricultura no meio urbano.

Em outubro de 2015 realizou-se o I ENAU, “Encontro Nacional de Agricultura Urbana” na Universidade Estadual do Rio de Janeiro/RJ, este evento foi organizado conjuntamente pelo Coletivo Nacional de Agricultura Urbana (CNAU), pela Articulação nacional de Agroecologia (ANA) e pelo Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN) e gerou uma Carta Política31 na qual reivindicam que os princípios da função social da propriedade e do direito humano à alimentação adequada, que constam da Constituição Brasileira de 1988, sejam cumpridos.

Na Universidade Federal de Santa Catarina/ UFSC há o Labora-tório de Estudos do Espaço Rural (Lab-Rural) o qual promove pesquisas relacionadas às questões espaciais rurais e urbanas. O Lab-Rural sediou em 2015 o VIII Encontro Nacional de Grupos de Pesquisa (ENGRUP) com o tema “Agricultura, desenvolvimento regional e transformações so-cioespaciais”. Atualmente o Laboratório de Estudos do Espaço Rural da Universidade Federal de Santa Catarina (Lab-Rural/UFSC) realiza em parceria com o Grupo de Estudos Dinâmica Regional e Agropecuária (GEDRA) da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Presidente Prudente e com o Laboratório de Estudos Rurais, Tecnologia Social e Ino-vação (LABAGRARIUS), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Projeto “Políticas Públicas, Mercados Institucionais, Agricultura Urbana e Periurbana” fomentado pelo Programa de Apoio à

30Disponível em <: https://cepagroagroecologia.wordpress.com/historico/>.

Acesso em 07/08/2018.

31Carta Política disponível em

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Pós-Graduação e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Desenvolvi-mento Socioeconômico no Brasil (PGPSE/CAPES), o qual mapeia e ana-lisa as diversas agriculturas urbanas e periurbanas presentes em cada uma dessas regiões, o qual a presente pesquisa está vinculada.

Em setembro de 2017, a Universidade Federal de Uberlândia-MG sediou o “XII Encontro Nacional da Sociedade Brasileira de Econo-mia Ecológica” o qual debateu sobre diversos temas que se relacionam com a agricultura urbana, a exemplo do pagamento por serviços ambien-tais (PSA).

O Grupo de Estudos em Agricultura Urbana (GEAU) do Insti-tuto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IE-USP) lan-çou em abril de 2018 a cartilha "Agricultura Urbana - Guia de Boas Prá-ticas" com apoio da União das Hortas Comunitárias de São Paulo, FMUSP, Fundação Faculdade de Medicina e Fapesp, tal cartilha pre-tende colaborar com grupos comunitários na criação e gerenciamento de hortas urbanas seguras, bem-sucedidas e sustentáveis32.

Em setembro de 2018 aconteceu na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre/RS, a “Terceira Conferência Internacional: Agricultura e Alimentação em uma Sociedade Urbani-zada”, a qual reuniu diversos pesquisadores e instituições nacionais e in-ternacionais no intuito de discutir e analisar os desafios da agricultura e da alimentação em face das atuais mudanças demográficas, climáticas e nutricionais.

32Agricultura Urbana - Guia de Boas Práticas. Disponível em

<http://www.iea.usp.br/pesquisa/grupos-de-estudo/grupo-de-estudos-de-agricultu-raurbana/publicacoes/cartilhasiteiea.pdf/view> Acesso em 20/06/2018.

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CAPÍTULO 2. AGRICULTURA, CIDADE E LOCALIZAÇÃO 2.1 Agricultura e cidade no debate clássico

O conceito da propriedade privada é central para iniciarmos a aná-lise de como se dá o domínio da terra para uma determinada produção, e para entendermos as dinâmicas que envolvem o monopólio de exclusivi-dade de acesso e controle de uma parcela de terra. Para Jean Jacques Ro-usseau, um dos grandes iluministas do séc. XVIII, a propriedade privada de terras teria sua origem a partir da vontade humana de querer-se domi-nar uns sobre os outros:

O primeiro que, tendo cercado um terreno, se lem-brou de dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas bas-tantes simples para o acreditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guer-ras, assassínios, misérias e horrores não teria pou-pado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos, tivesse gritado aos seus semelhantes: “Livrai-vos de escutar esse im-postor; estareis perdidos se esquecerdes que os fru-tos são de todos, e a terra de ninguém!” (ROUS-SEAU apud HENKES, 2008, p.3)

O uso da terra urbana é disputado por diversas atividades, o que determina geralmente seu alto valor e consequentemente conflitos de in-teresse por estas áreas. Conforme afirma Ignácio Rangel, “o preço da terra está no centro da problemática agrária brasileira, tanto em sua versão ru-ral, como na urbana” (RANGEL, I. 2004, p. 161).

O espaço urbano conforme Roberto Lobato Corrêa (1989) pode ser apreendido através de diferentes perspectivas: seja como um conjunto complexo de usos da terra, justapostos entre si; ou de relações espaciais de natureza social, tais como transações econômicas-financeiras o que gera na perspectiva do autor um espaço fragmentado e articulado; ou ainda em sua dimensão enquanto reflexo da sociedade, já que tal divisão articulada é a própria expressão espacial dos processos sociais (passados e presentes); também enquanto um condicionante da sociedade e final-mente como um conjunto de símbolos e campo de lutas.

Adriano Botelho (2007), em seus estudos sobre a produção do es-paço e a acumulação do capital nas cidades aponta que:

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A crescente inserção do espaço urbano nas estraté-gias de acumulação do capital tem efeitos profun-dos na sua produção e configuração, e como, por sua vez, estrutura as desigualdades socioespaciais. Ou seja, na medida em que a cidade se torna um grande negócio para o capital, as leis de mercado passam a ditar as regras do ordenamento da confi-guração socioespacial urbana, com efeitos devasta-dores para a boa parte de sua população (BOTE-LHO, A. p. 16-17, 2007).

A partir destas colocações buscaremos entender qual o “lugar” da agricultura urbana frente aos processos mencionados tendo em vista suas diferentes características e possibilidades.

As relações entre a distância dos locais de produção e os pontos de comércio são determinantes para os mercados de alimentos e são estuda-das desde longa data por estudiosos estuda-das economias políticas tais como Von Thünen e Marx, que em seus estudos abordam as vantagens nos ren-dimentos da produção agrícola por conta da sua proximidade de localiza-ção aos mercados, denominada “renda diferencial”.

A categoria “Renda da Terra” é imprescindível para o entendi-mento da dinâmica de uso e ocupação do solo no capitalismo e, conforme afirma Sérgio Aparecido Nabarro “a terra entra como componente funda-mental para o entendimento da modernização e da reprodução social ca-pitalista” (NABARRO, 2010).

Adam Smith, pai do liberalismo econômico, definiu - de maneira aqui simplificada - a categoria “Renda da Terra” como “o preço pago pelo uso da terra ao seu proprietário” (SMITH, 1996 p. 187).

David Ricardo, economista político britânico, por sua vez, refle-tindo nesta consideração, propôs que a renda da terra se constituiria como:

A remuneração conferida ao proprietário fundiário pela utilização da capacidade originária e peculiar da terra. Se o proprietário fundiário gasta capital em sua própria terra, ou se o capital de um arrenda-tário anterior permanece na terra ao final desse ar-rendamento, pode obter o que de fato se chama uma renda maior; contudo, uma parcela desta renda evi-dentemente é paga pela utilização do capital. A ou-tra é paga unicamente pela utilização da capacidade original da terra (RICARDO, D. p. 203, 1978).

Referências

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