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A FEIRA INTERNACIONAL DO COOPERATIVISMO COMO OPORTUNIDADE DE INCLUSÃO SÓCIO-PRODUTIVA DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS

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Academic year: 2021

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A FEIRA INTERNACIONAL DO COOPERATIVISMO COMO OPORTUNIDADE DE INCLUSÃO SÓCIO-PRODUTIVA DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS*

Direitos Humanos e Justiça Coordenador da atividade: José Marcos FROEHLICH1

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Autores: Uilian Pavanatto RODRIGUES2; Saritha Denardi VATTATHARA3;

Priscila MANZONI4

Resumo

Através de ações articuladas entre o Núcleo de Estudos e Extensão em Desenvolvimento Territorial – NEDET/UFSM, o Projeto Esperança/Cooesperança e a Incubadora Social da UFSM, foi oportunizado às Comunidades Quilombolas de Júlio Borges (Salto Jacuí/RS) e Linha Fão (Arroio do Tigre/RS) participarem pela primeira vez da Feira Internacional do Cooperativismo (FEICOOP), em Santa Maria/RS. A edição jubilar da 25ª FEICOOP ocorreu em Julho de 2018, tendo como principais objetivos a prática e a difusão da economia solidária, sustentada pelos princípios da solidariedade, participação, autogestão, inclusão social, sustentabilidade, comércio justo e interculturalidade, proporcionando espaços de trocas de experiências e produtos entre agricultores e artesãos de todo o continente sul-americano. Destarte, o presente trabalho constitui-se como um relato de experiência, ressaltando a importância da FEICOOP na reelaboração e auto-afirmação da identidade quilombola. Contando com dois espaços de comercialização, mulheres das respectivas comunidades quilombolas expuseram, ao longo dos três dias do evento, produtos alimentícios tradicionais como amendoim, rapaduras, pés-de-moleque, paçocas, mandiocas, batatas doces e artesanatos. As comunidades foram identificadas com banners e folders que traziam, de forma sucinta, suas trajetórias históricas e seus produtos. Durante o evento também foi organizado o painel Inclusão Social e Produtiva em Comunidades

Quilombolas: experiências e desafios, que proporcionou às comunidades, entidades

parceiras e ao público em geral, espaços de manifestação e informação sobre as condições de vida e principais dificuldades na mediação para o acesso às políticas públicas. Espaços como a FEICOOP são relevantes para a afirmação da identidade quilombola, pois permitem ampliar a rede de contatos e a visibilidade de grupos subalternos, estabelecendo melhores condições para as suas lutas e reivindicações sociopolíticas.

Palavra-chave: comunidades quilombolas; inclusão produtiva; economia solidária. *Trabalho apoiado pelo CNPq

1Professor titular do Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural UFSM. 2Acadêmico de Engenharia Sanitária e Ambiental - UFSM

3Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural - UFRGS 4Acadêmica de Educação Especial - UFSM

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Introdução

O Núcleo de Estudos e Extensão em Desenvolvimento Territorial (NEDET), vinculado à Universidade Federal de Santa Maria, surgiu na esteira da política pública territorial emergente no Brasil desde inícios dos anos 2000, cujos desdobramentos mais recentes levaram à Chamada Pública CNPq/MDA/SPM-PR Nº 11/2014. Esta chamada esteve voltada para as Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES), com o intuito de implantar e consolidar, nos territórios rurais e da cidadania de todo o país, equipes multidisciplinares compostas por docentes, alunos de graduação e pós-graduação, com objetivo de assessorar, monitorar e acompanhar as instâncias de desenvolvimento territorial, especialmente os Colegiados de Desenvolvimento Territorial (CODETER) (BRASIL, MDA/SDT, 2005; 2009; 2016).

Foi neste âmbito que se estabeleceu o NEDET Centro Serra (NEDET CS) na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com equipe de docentes, TAEs, graduandos e pós-graduandos para atuação no Território Centro Serra do Rio Grande do Sul. Com a abrupta mudança política ocorrida no Brasil em 2016, acarretando a extinção da SDT e do MDA, cessou todo o apoio federal à política territorial e houve a descontinuidade da grande maioria dos NEDETs implantados no país. Para não ser extinto, o NEDET CS buscou novas estratégias no âmbito institucional e no foco de sua atuação.

Neste contexto, o NEDET- UFSM buscou trabalhar alternativas para manutenção da assessoria ao CODETER, dialogando com atores territoriais, como o Consórcio Intermunicipal do Vale do Jacuí (CI-JACUÍ) e prefeituras municipais, porém, nenhuma destas estratégias deu resultados satisfatórios. O caminho posterior foi buscar suporte em editais internos da UFSM voltados à extensão universitária, especialmente do Fundo de Incentivo à Extensão (FIEX). Formulou-se o Programa de Extensão em Desenvolvimento Territorial do Território Centro Serra (PREDETER CS) e se submeteu proposta ao edital FIEX 2017, a fim de tentar manter algumas ações do NEDET no território Centro Serra. O Programa foi contemplado, recebendo 2 bolsas de iniciação à extensão (IEX) para estudantes de graduação por 8 meses e cerca de 6 mil reais para verba de custeio da universidade. Com estes parcos recursos, as ações no território reduziram-se significativamente, mas se mantiveram minimamente presentes (FROEHLICH et al., 2019). No início de 2017, a Incubadora Social (IS) da UFSM abriu inscrição para incubação de coletivos em situação de vulnerabilidade social e em processo de organização solidária, visando à geração de trabalho e renda amparados na sustentabilidade socioambiental. A manutenção da presença no território possibilitou que se apresentasse

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duas propostas de incubação baseadas em infraestruturas adquiridas através de editais PROINFs com a participação das comunidades quilombolas no CODETER CS, sendo uma proposta da Comunidade Quilombola Linha Fão (Arroio do Tigre/RS) e outra da Associação Comunitária Remanescentes de Quilombo Júlio Borges (Salto do Jacuí/RS).

A proposta da Associação Quilombola Linha Fão baseia-se em duas estufas recebidas via Programa de Apoio à Infraestrutura dos Territórios Rurais (PROINF), objetivando capacitação e produção de hortaliças agroecológicas em ambientes protegidos e estruturação de redes de comercialização, como feiras e mercados institucionais (PNAE e PAA). Já a proposta da Associação Comunitária Remanescentes de Quilombo Júlio Borges objetiva promover a qualificação da estrutura produtiva dedicada aos cultivos tradicionais, panificados e artesanatos, constituindo uma cooperativa de comercialização de produtos quilombolas, a fim de viabilizar a participação da Associação em redes de economia solidária e mercados institucionais. Acolhidas ambas as propostas, o NEDET assumiu o compromisso, junto a Incubadora Social, de operacionalizar as atividades necessárias ao cumprimento dos planos de trabalho propostos. O maior desafio tem consistido na superação dos problemas de ordem produtiva e logística, considerando que são comunidades rurais distantes de centros urbanos5, sem experiências de comercialização e

historicamente invisibilizadas.

Nesse sentido, o NEDET e a IS vem buscando oportunizar inserções em experiências de redes de produção e comercialização para esses grupos incubados, com o objetivo de dar suporte à inclusão produtiva e contribuir na autoafirmação da identidade quilombola. Um desses momentos foi a participação das comunidades na edição jubilar da 25ª Feira Internacional do Cooperativismo (FEICOOP), ocorrida em julho de 2018, em Santa Maria/RS, ação articulada juntamente com o Projeto Esperança/Coesperança, a IS-UFSM, a Emater e a Cáritas, cujo relato se apresenta neste trabalho.

Metodologia

O Território Centro Serra caracteriza-se por ser uma região predominantemente rural, com identidade produtiva na agricultura familiar e presença marcante de jovens e mulheres trabalhadoras rurais, assentados da reforma agrária e comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas. Dentre essas comunidades, o NEDET acompanha a Comunidade Quilombola de Linha Fão e a Comunidade Remanescente de Quilombos de Júlio Borges. A primeira, localiza-se a cerca de 30 km do centro urbano de Arroio do Tigre, em

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uma área de aproximadamente 5 hectares que abriga 15 famílias. O local, que fica às margens do Arroio do Caixões, é bastante íngreme, possui solo raso e pedregoso, sendo praticamente inviável a prática de agricultura convencional. A maior parte dos moradores trabalha como diarista em lavouras de tabaco, ganhando cerca de R$100,00 por dia na temporada de safra que vai de outubro a fevereiro. Na própria comunidade as atividades se concentram na produção de artesanato e pequenas hortas onde mantêm ervas medicinais, árvores frutíferas e hortaliças.

Por sua vez, a Comunidade Remanescente de Quilombos de Júlio Borges está situada a 22 km do centro urbano de Salto do Jacuí. Compõem a comunidade cerca de 36 famílias que convivem em um espaço de aproximadamente 211 hectares, titularizado em 2014. No quilombo são produzidas diversas culturas agrícolas de subsistência como milho, mandioca, amendoim, batata-doce e feijão. Assim como a comunidade de Linha Fão, a comunidade de Júlio Borges busca ampliar e qualificar a produção de cultivos tradicionais e artesanatos. Nesse sentido, as experiências em redes de comercialização são estratégicas para a consolidação de ações de inclusão produtiva.

Nesse intuito, a partir de março de 2018, o NEDET iniciou diálogos e articulações com seus parceiros para viabilizar e planejar a participação das comunidades quilombolas na 25º FEICOOP em Santa Maria. A feira, que acontece anualmente, tem como principal objetivo o exercício da economia solidária, sustentada pelos princípios da solidariedade, participação, autogestão, inclusão social, sustentabilidade, comércio justo e interculturalidade.

Devido às limitações de transporte e acomodação, foi deliberado pela participação de representantes de cada comunidade para divulgação e comercialização dos produtos de todos os interessados em expor no evento. Assim, 4 mulheres foram indicadas, 2 de cada comunidade. Durante os três dias de evento, 12 a 15 de julho, as mesmas estiveram hospedadas na cidade de Santa Maria-RS, custeadas pela IS-UFSM. Os demais integrantes das comunidades quilombolas puderam participar da feira através de excursão organizada para o último dia do evento. Todos os custos supracitados foram aportados pelo Projeto Esperança/Esperança e pela IS-UFSM. Em paralelo à exposição na Feira também foi organizado pelo NEDET um painel denominado Inclusão Social e Produtiva em

Comunidades Quilombolas: experiências e desafios, a fim de proporcionar às comunidades

quilombolas, entidades parceiras e ao público geral, um espaço de manifestações e informações sobre as condições de vida e principais dificuldades na mediação para o acesso às políticas públicas para estas comunidades.

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Desenvolvimento e processos avaliativos

Ao longo dos 3 dias do evento, foram comercializados produtos tradicionais in

natura como mandioca, amendoim, batata doce, frutas, sementes e ervas medicinais,

condimentos, além de rapaduras, paçocas e bolos produzidos na própria comunidade. Os alimentos apresentaram excelente receptividade, tanto pelo seu aspecto diferenciado quanto pelo seu sabor peculiar e preço acessível. Houve destaque também para o artesanato retratado em palha de milho, cascas de árvores e sementes, materiais recicláveis e retalhos, que compunham cestas, colares, porta-canetas, ornamentos, vestimentas e tapetes. As comunidades foram identificadas com banners e folders que traziam, de forma sucinta, suas trajetórias históricas e a relação com os produtos apresentados, a exemplo da batata-doce e da mandioca utilizadas como principal fonte de carboidratos nos quilombos por serem plantas rústicas, de fácil cultivo e alto valor nutritivo.

Figura 1 - À esquerda, destaque para os produtos artesanais e à direita, momento de comercialização na 25ª FEICOOP.

Fonte: Arquivo NEDET-UFSM

Por meio da participação das duas comunidades na 25º FEICOOP buscou-se garantir um espaço não só de comercialização, mas também, de visibilidade da cultura quilombola. Por meio da exposição dos produtos alimentícios e artesanais e da divulgação gráfica, puderam-se compartilhar informações, fotos e conversas com mais de 300 mil frequentadores, ao longo dos três dias de evento. A relação com os visitantes da feira também foi muito importante, pois por meio deste contato houve muitas trocas de informações, constituindo-se em um intercâmbio valioso que vai além das trocas materiais.

Considerando que o processo de formação de redes de comercialização está vinculado com outras redes de natureza sociopolítica, a ação buscou mediar discussões e debates juntos às comunidades quilombolas sobre as lutas do movimento negro no Brasil,

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culminando no Painel Inclusão Social e Produtiva em Comunidades Quilombolas:

experiências e desafios, evento vinculado a programação da 25ª FEICOOP.

Conforme relataram posteriormente as feirantes quilombolas, a representação das comunidades no evento promoveu e ampliou a visibilidade de seu trabalho e de seus saberes. Além disso, classificaram como muito oportuna a possibilidade de realizar trocas com outros produtores num ambiente de economia solidária, conhecendo novos processos e produtos que vão sendo agregados e adaptados à realidade quilombola.

Durante todos os dias da Feira, atuaram alunos, servidores e professores vinculados ao NEDET e à IS que auxiliaram na exposição dos produtos, divulgação do trabalho desenvolvido e nos registros fotográficos. A experiência fomentou um rico espaço de formação de recursos humanos, produção de conhecimentos e extensionismo.

Considerações Finais

Viabilizar a participação em eventos como a FEICOOP são ações importantes para a reelaboração das identidades quilombolas, pois contribuem com a autoestima e coesão desses grupos à medida que proporcionam espaços de intercâmbios comerciais e culturais amparados nas práticas da economia solidária. Também são relevantes para a afirmação da identidade quilombola, pois permitem ampliar a rede de contatos e a visibilidade destes grupos subalternos, estabelecendo melhores condições para as suas lutas e reivindicações sociopolíticas.

Referências

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT). Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável: guia para o planejamento. Brasília: MDA/SDT, 2005. 63 p. Disponível em: <http://sge.mda.gov.br/bibli/documentos/tree/doc_220-28-11-2012-12-04-356539.pdf>. Acesso em: 22 set. 2016.

________.________.________. Plano territorial de desenvolvimento rural sustentável do Território Centro Serra. Brasília: SDT/MDA, 2009. 73 p. Disponível em: <www.sit.mda.gov.br/download/ptdrs/ptdrs_qua_territorio148.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2016.

FROEHLICH, J. M.; FACCO, H. S.; VIEIRA, L. M. S. D.; ZARNOTT, A. V.; HUBNER, J.. Do NEDET à incubação: trajetória das ações de extensão universitária no âmbito da abordagem territorial do desenvolvimento. Conexão UEPG, v. 15, n. 2, p. 135-141, Mai-ago 2019.

Referências

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