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LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS MEDICINAIS NA CIDADE DE SÃO JOÃO DA PONTE-MG.

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_________________________

1 Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação Botânica, Universidade Federal de Viçosa, Av. Peter Henry Rolfs s/n -

Campus Universitário - CEP: 36570 000 – email: wesleyunimontes@hotmail.com; 2 Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Montes Claros, CP 126, CEP 39401-089, Montes Claros - MG – e-mail: nath_fag@yahoo.com.br; 3 Graduada em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Montes Claros, CP 126, CEP 39401-089, Montes Claros-MG – e-mail: chirleycoutinho@yahoo.com.br; 3 Graduada em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Montes Claros, CP 126, CEP 39401-089, Montes Claros-MG – e-mail:

aninha_maiamoc@yahoo.com.br; 4 Graduanda em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Viçosa, Av. Peter Henry Rolfs s/n - Campus Universitário - CEP: 36570 000. e-mail: prímula_vc@hotmail.com; 6 Professora do Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Minas Gerais - Campus Montes Claros - MG, Avenida Universitária, 1.000 – Bairro Universitário –– CEP: 39.404-006 - email: lourdes.ufmg@gmail.com

LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS MEDICINAIS NA CIDADE DE SÃO

JOÃO DA PONTE-MG.

Wesley Alves Silva

1

,

Nathalle Cristine Alencar Fagundes

2

, Chirley Alves Coutinho

3

, Ana Cláudia

Maia Soares

4

, Prímula Viana Campos

5

, Lourdes Silva de Figueiredo

6

RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo fazer um levantamento etnobotânico das

plantas medicinais em quatro bairros na cidade de São João da Ponte - MG, entre janeiro e fevereiro

de 2009, onde foram entrevistadas 200 residências. A coleta de dados foi realizada através de

entrevistas semi-estruturadas, que resultaram no levantamento de 47 espécies de uso medicinal,

distribuídas em 27 famílias botânicas. As famílias Lamiaceae, Asteraceae, Brassicaceae, Rutaceae e

Crassulaceae foram as mais representativas. Dos entrevistados, 77% pertencem ao sexo feminino, e

23% pertencem ao sexo masculino, mostrando o predomínio das mulheres no cuidado com a saúde

da família. Este trabalho mostra que o município não perdeu a tradição de cultivar plantas

medicinais em suas residências, com isto contribui para conservação destas plantas.

Unitermos: Etnobotânica. Medicina caseira. Conhecimento popular.

ETHNOBOTANICAL SURVEY MEDICINAL PLANTS OF THE CITY OF SÃO JOÃO DA

PONTE-MG.

ABSTRACT: This study aimed to an ethnobotanical survey of medicinal plants in four

neighborhoods in the city of São João da Ponte - MG from January to February 2009 where 200

inhabitants were interviewed. The Data collection was conducted through semi-structured

interviews, which resulted in the survey of 47 medicinal species, distributed over 27 botanical

families. The families Lamiaceae, Asteraceae, Brassicaceae, Crassulaceae and Rutaceae were the

most representative. Beyond the respondents 77% were female and 23% were male showing the

predominance of women on the healthy care of their family. This work shows that the city has not

lost the tradition of cultivating medicinal plants on its houses, thus contributing to the conservation

of these plants.

Uniterms:

Etnobotany. Folk medicine. Popular knowledge.

INTRODUÇÃO

A relação entre as populações humanas e recursos vegetais que as cercam tem sido abordada

ao longo de toda a história do conhecimento científico, no entanto, o termo “etnobotânica” foi

cunhado inicialmente a pouco mais de um século, referindo-se primariamente a povos primitivos e

aborígenes (Lacerda, 2008). No Brasil, antes mesmo do seu descobrimento, os índios já possuíam

(2)

uma intensa relação com as plantas, utilizando-as para a cura de doenças e rituais religiosos, onde

tais conhecimentos eram transmitidos de geração a geração (Lorenzi & Matos, 2002).

Atualmente, a etnobotânica vem sendo conceituada como o estudo das sociedades humanas

e suas interações ecológicas, genéticas, evolutivas, simbólicas e culturais com as plantas,

contribuindo para o conhecimento de diversas espécies medicinais (Oliveira, 2007; Büttow, 2008).

Apresenta como principal característica de estudo o contato direto com as populações tradicionais,

buscando resgatar todo o conhecimento possível sobre a relação mútua entre o homem e a flora de

uma comunidade (Rodrigues & Carvalho, 2001). Segundo Amorozo (2002), a etnobotânica busca

captar as diferentes dimensões da relação de grupos humanos com as plantas, incluindo aspectos

objetivos como o manejo do ambiente, a utilização e domesticação de plantas, e os aspectos mais

subjetivos, como a forma como as pessoas pensam e percebem o ambiente. Desta forma, muitas

comunidades possuem sistemas próprios de manejo, resultado da experiência acumulada

historicamente da sua relação com os recursos naturais, o que viabiliza a subsistência com um

prejuízo ambiental mínimo (Albuquerque & Andrade, 2002).

Nessa perspectiva, os quintais se inserem como unidades de paisagem no qual são adotados

manejos concebidos e executados de maneira harmoniosa, onde o elevado número de espécies

encontrado, aliado às interações estabelecidas com os respectivos idealizadores vem a satisfazer

necessidades econômicas, sociais e culturais específicas dos envolvidos (Kumar & Nair, 2004).

Assim, contribuem com o uso e conservação da biodiversidade, com a segurança alimentar da

família envolvida, funcionam como depositários de germoplasma, atuam no seqüestro de carbono e

são depositários de grande variedade de plantas, de espécies incomuns e de espécies utilizadas

como medicinais (Ferreira & Sablayrolles, 2009; Carniello et al., 2010; Moura & Andrade, 2007;

Lacerda, 2008).

O uso das plantas medicinais no combate às doenças ou na manutenção da saúde foi

reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1978, quando o órgão, através de

comunicados e resoluções, expressou sua posição frente à necessidade de valorizar o uso das

plantas medicinais no âmbito sanitário (Brasil, 2006a). A OMS recomenda então, aos órgãos de

saúde pública de cada país, que procedam ao levantamento das plantas utilizadas na medicina

tradicional no âmbito regional, identifique-as botanicamente e estimulem seu uso (Brasil, 2006b). A

Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, aprovada através do decreto nº 5.813, de 22

de junho de 2006, considera a utilização das plantas medicinais como uma estratégia para o

fortalecimento da agricultura familiar, geração de emprego e renda, uso sustentável da

biodiversidade brasileira, avanço tecnológico e melhoria da atenção à saúde da população brasileira

(Brasil, 2006b).

As práticas relacionadas ao uso popular de plantas medicinais são a alternativa viável que

muitas comunidades têm para o tratamento de doenças ou manutenção da saúde, além de

representarem parte significativa da cultura de um povo, difundida através das gerações (Pinto et

al., 2006; Tomazzoni et al., 2006). A coleta de informações junto às comunidades é de caráter

fundamental para resgatar e valorizar o conhecimento oriundo destas. Neste sentido, o objetivo

deste estudo foi realizar um levantamento das plantas cultivadas em quintais e utilizadas como

medicinais pela população em quatro bairros da cidade de São João da Ponte - MG a fim de

determinar como estas plantas são utilizadas, a enfermidade envolvida neste uso, além de

identificá-las botanicamente.

METODOLOGIA

Caracterização da área de estudo:

O município de São João da Ponte localiza-se na região Norte de Minas Gerais, pertencente

à macrorregião de planejamento Norte de Minas, onde se destaca o município de Montes Claros

como microrregião de influência. Com uma área de aproximadamente 1.853,9 Km² tem como

(3)

municípios limítrofes Varzelândia, Ibiracatu, Lontra, Japonvar, Patis, Montes Claros, Capitão

Enéas, Janaúba e Verdelândia. Apresenta uma população de aproximadamente 25.908 habitantes,

sendo que a maior parte se insere no setor de agropecuária, extração vegetal e pesca, onde o cultivo

de cana-de-açúcar, tomate e banana apresentam maior rendimento de área e produção. Outro que se

destaca é a criação de bovinos e galináceos. Este município pertencente à Bacia do Rio São

Francisco, tem como principais rios o Arapoim e Verde Grande (Urbanismo em Minas Gerais –

UFJF, 2011).

Procedimentos de campo

O estudo foi realizado na cidade de São João da Ponte, Norte de Minas Gerais em janeiro e

fevereiro de 2009. Para a realização deste estudo foram escolhidos quatro bairros da cidade: o bairro

das Pedras, Centro, Colinas e Denize. Nesses bairros foram escolhidas aleatoriamente 50

residências totalizando 200 em todos os bairros. Para o levantamento do uso de fitoterápicos

(plantas medicinas) foram aplicados questionários semi-estruturados contendo perguntas

relacionadas ao conhecimento e uso das plantas medicinais. As espécies foram fotografadas e

coletadas, e para cada planta amostrada foram anotadas informações relevantes para

reconhecimento das espécies, além dos dados referentes à pesquisa etnobotânica. Não foram

coletados dados socioeconômicos dos entrevistados.

As identificações foram realizadas com auxilio de literatura especializada com material

bibliográfico apropriado como livros e trabalhos científicos, comparações com as exsicatas

existentes em herbários e por consulta a especialistas. As indicações terapêuticas, as afecções e

patologias foram listadas de acordo com o relato dos informantes. Para a classificação das espécies

em famílias utilizou-se o sistema do Angiosperm Phylogegeny Group III. A nomenclatura das

espécies e respectivas abreviações dos autores foram seguidas a partir das informações disponíveis

no site do Missouri Botanical Garden (www.mobot.org).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram levantadas 47 espécies botânicas, distribuídas em 27 famílias, sendo as mais citadas:

Lamiaceae (9 espécies – 19,14%),

Asteraceae (6 espécies – 14,04%), Rutaceae (3 espécies –

6,38%), Crassulaceae, Brassicaceae e Apiaceae (2 espécies cada – 4,25%) (Tabela 1). As outras

famílias tiveram freqüência de citação de uso igual a uma espécie.

A predominância de Lamiaceae e Asteraceae é comum nos trabalhos etnobotânicos e

etnofarmacológicos (Marodin & Baptista, 2001; Almassy Jr, 2004; Pinto et al., 2006). A família

Lamiaceae caracteriza-se quimicamente, em especial, pela presença de óleos essenciais,

triterpenóidas e iridóides; Asteraceae, pelos óleos essenciais, poliacetilenos e lactonas

sesquiterpênicas (Cronquist, 1981).

Tabela 1: Listagem das plantas indicadas pelos entrevistados do município de São João da Ponte,

com espécie, nome popular, indicações, parte usada, e preparo.

FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME

POPULAR USO

PARTE

UTILIZADA PREPARO

Amaranthaceae Alternanthera brasiliana

(L.) O. Kuntze Terramicina Gripe Folha Chá

Apiaceae

Pimpinella anisum L. Erva Doce

Calmante, cólica, gripe e dor de

barriga

Folha Chá

Petroselinum crispum

(Mill.) Nyman ex A.W. Hill

Salsa Ciclo menstrual Raiz Chá

(4)

Continuação Tabela 1.

FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME

POPULAR USO

PARTE

UTILIZADA PREPARO

Asteraceae Baccharis trimera (Less.)

DC. Carqueja Diabete Folha Chá

Asteraceae

Bidens pilosa L. Picão Inflação, estômago e

falta de apetite Planta inteira

Banho, chá xarope e suco

Mikania glomerata

Spreng Guaco

Tosse, gripe e

antiinflamatório Planta inteira Chá e xarope

Artemisia absinthium L. Losna Estômago e má

digestão Folha Chá

Ageratum conyzoides L. Mentrasto Infecção Folha Chá

Gymnanthemum amygdalinum (Del)Sch.

Bip. Ex Walp.

Boldo Estômago, fígado e

má digestão Folha Chá e maceração Boraginaceae Cordia verbenacea DC. Maria Preta Dor Folha Banho

Brassicaceae

Nasturtium officinale R.

Br. Agrião Gripe e coração Partes aéreas

In natura, chá e xarope

Coronopus didymus (L.)

Smith Mastruz

Verme, estômago,

inflamação e dor Folha Maceração Burseraceae Commiphora myrrha (T.

Nees) Engl. Mirra Gripe e calmante Folha Chá Caprifoliaceae Sambucus nigra L. Sabugueiro Sarampo, dor de

cabeça e disenteria Folha e flor Chá Caricaceae Carica papaya L. Mamão Gripe, estômago e

dor de barriga Semente In natura Costaceae Costus spicatus (Jacq) Cana da índia Gripe, rins e sinusite Flores e folha Chá

Crassulaceae

Cotyledon orbiculata L. Bálsamo Antiinflamatório,

cicatrizante Folha In natura

Kalanchoe brasiliensis

Camb. Saião

Gripe, gastrite e

úlcera Folha Xarope

Fabaceae Cassia occidentalis L. Fedegoso Colesterol Folha, planta e

semente Chá e torrada Juglandaceae Juglans regia L. Nogueira Rins, gripe e tosse Folha Chá

Lamiaceae

Rosmarinus officinalis L. Alecrim

Gripe, pressão alta, dor de garganta e

coração.

Folha e planta

inteira Chá

Ocimum gratissimum L. Alfavaca Calmante e Gripe Folha Chá

Lavandula officinalis

Chaix & Kitt Alfazema

Pressão alta, gripe, inflamação e calmante Folha e caule Chá Mentha sp. Hortelã Gripe, resfriado, calmante, febre e inflamação e dor de cabeça Folha e planta inteira Chá

Ocimum gratissimum L. Manjericão Gripe Partes aéreas In natura e chá

Mentha pulegium L. Poejo Gripe e pressão alta Folha Chá

Salvia officinalis L. Sálvia Gripe Folha Chá

Mentha spicata L. Vick Gripe e resfriado Folha Chá Lauraceae Persea americana Mill. Abacate Gripe Folha e fruto Chá

Liliaceae Aloe Vera L. Babosa

Cabelo, queimadura, hemorróida e combate ao câncer Folha In natura, maceração e pomada

Continua

(5)

Continuação Tabela 1.

Malpighiaceae Malpighia punicifolia L. Acerola Gripe Folha e fruto Chá e In natura Malvaceae Gossypium sp. Algodão Catapora, hemorragia

e tosse Folha

Chá e aplicação local

FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME

POPULAR USO

PARTE

UTILIZADA PREPARO

Moraceae Morus nigra L. Amora-preta Menopausa e

reumatismo Folha Chá

Myrtaceae Psidium guajava L. Goiaba Cicatrizante Folha Chá

Plantaginaceae Plantago lanceolata

Hook. Transagem Infecção, estômago, gripe, dor de garganta, inflamação no útero e bexiga Folha Chá e suco

Phyllanthaceae Phyllanthus niruri L. Quebra-Pedra Inflamação e pedra

nos rins Folha Chá

Poaceae Cymbopogon citratus

Stapf. Capim Santo

Gripe, febre, pressão alta, calmante e

resfriado

Folha Chá

Punicaceae Punica granatum L. Romã

Infecção, dor no estômago, dor de

garganta e gripe

Casca Chá

Rutaceae

Ruta graveolens L. Arruda Pressão alta, gripe e

conjuntivite Folha Chá

Citrus sinensis L. Laranja

Dor de cabeça, inflamação de garganta e febre

Folha Decocção

Citrus limonum L. Limão Gripe e dor de

garganta Fruto Chá

Scrophulariaceae Scoparia dulcis L. Vassourinha Infecção e

inflamação Planta inteira Xarope Simaroubaceae Quassia amara L. Quina Diabete Folha Chá

Verbenaceae Lippia alba (Mill.) N.E.

Brown Erva Cidreira

Calmante, gripe, tosse, resfriado, pressão alta e febre

Folha e planta

inteira Chá Vitaceae Cissus verticillata (L)

Nicholson & C.E. Jarvis

Insulina

Vegetal Diabete Folha Chá

Zingiberaceae

Zingiber officinale L. Gengibre Gripe Folha e raiz Chá

Alpinia zerumbet (Pers.)

B.L. Burtt Noz-moscada

Calmante, cólica

renal e pressão alta Folha In natura

A maioria dos entrevistados (77%) era do sexo feminino e 23% do sexo masculino. Segundo

Borba e Macedo (2006) a mulher domina o conhecimento das plantas que crescem próximo a casa,

conhecem mais os recursos vegetais relacionados a problemas domésticos, enquanto os homens

conhecem mais as plantas do mato. As mulheres geralmente são as responsáveis pelos cuidados

com a saúde da família, o que as torna conhecedoras dos aspectos medicinais das espécies

cultivadas em seus quintais (Badke et al., 2011).

A maioria das pessoas apresentava idade entre 28 e 78 anos. Durante a entrevista é comum

encontrar pessoas com idade acima de 60 anos (58%), mostrando que este conhecimento é limitado

aos mais velhos e sendo o fator mais vulnerável a perda dos conhecimentos tradicionais sobre o uso

e cultivo de plantas medicinais, culminando com a aculturação, em razão da falha no repasse destas

informações aos mais jovens, como também observado por Rodrigues e Carvalho (2001). Pokhrel et

al., (2003) concluíram em seu estudo que os idosos possuem maior familiaridade com as plantas

medicinais e seus usos e o conhecimento não tem sido transmitidos à geração seguinte, por isso os

jovens muitas vezes desconhecem o assunto.

(6)

Dentre as residências entrevistadas, 45 não cultivam plantas medicinais, sendo 17

residências no bairro Pedras, no Centro 14 residências, 11 no bairro Colinas e apenas três no bairro

Denize (Figura 1). Nos resultados obtidos observa-se que a porcentagem total de residências que

não tem o hábito de cultivar estas plantas medicinais chegou a 22,5%, o que pode ser justificado

pela facilidade e praticidade na aquisição dos medicamentos industrializados, possível descrença no

tratamento com plantas medicinais, ou mesmo pela falha na transmissão nos conhecimentos acerca

do cultivo e utilização destas plantas no tratamento das enfermidades, como observado também por

Rodrigues e Carvalho (2001), nas comunidades da região do Alto Rio Grande.

Entre os moradores que utilizam as plantas medicinais, as justificativas para tal utilização

estão principalmente na tradição familiar, na crença de que os fitoterápicos produzidos naturalmente

são mais eficientes que os medicamentos industrializados, ou mesmo por questões financeiras.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Centro

Colinas

Denize

Pedras

d

e

res

id

ên

cias

Bairro

Figura 1: Quantidade de residências que não apresentam plantas medicinais no município de São

João da Ponte - MG.

O bairro Centro apresentou a maior riqueza de plantas medicinais (31 espécies), seguida do

bairro Denize (29), Colinas (26) e bairro das Pedras (19) (Figura 2). A maior diversidade de

espécies no bairro Centro pode estar relacionada ao maior contato dos moradores deste local com a

população da zona rural, que freqüenta essa área da cidade. Em contraste, o mesmo apresentou um

elevado número de residências que não tinham plantas medicinais. O bairro Denize foi o segundo

com maior quantidade de espécie e praticamente em todas as residências visitadas foi registrado o

cultivo e a utilização de plantas medicinais.

As plantas mais citadas para fins medicinais foram: Cymbopogon citratus (Steud.) Stapf.

(Capim santo) citadas 83 vezes, Lippia alba (Mill.) N.E. (Erva cidreira) 65 vezes, Mentha sp

(Hortelã) e Mentha pulegium L. (Poejo) 52 vezes cada (Figura 3). Em estudo realizado por Lima et

al., (2007) a erva cidreira e o poejo apareceram também como as mais freqüentes.

(7)

0 5 10 15 20 25 30 35

Centro

Colinas

Denize

Pedras

d

e

es

p

éc

ies

Bairro

Figura 2: Quantidade de espécies de plantas medicinais por bairros no município de São João da

Ponte - MG.

Figura 3: Registro fotográfico das duas espécies mais representativas no município de

São João da

Ponte - MG. A) Cymbopogon citratus (Steud.) Stapf. (Capim santo) e B) Lippia alba (Mill.) N.E.

Brown. (Erva cidreira).

Os moradores de São João da Ponte - MG utilizam as mais diversas partes dos vegetais nas

preparações dos medicamentos e levando-se em conta a relação parte utilizada/planta por espécie,

têm-se os seguintes resultados por ordem de indicação: folhas - 38 indicações (69,10%), seguida por

planta inteira (6 – 10,9%), fruto (3 – 5,45 %), flor, semente e parte aérea (2 cada– 3,63%), caule e

casca (1 cada – 1,83%) (Tabela 1). (Pinto et al., 2006) também cita a predominância das folhas

como a parte da planta mais utilizada nos preparos medicinais.

Quanto ao modo de preparo, o chá (por infusão ou cozimento) obteve 84 % das indicações

(Tabela 1). Diversos autores citam a predominância do chá como modo de preparo em trabalhos

etnobotânicos (Rezende & Cocco, 2002; Pasa et al., 2005; Maioli-Azevedo & Fonseca-Kruel,

2007). Quanto ao uso, observou-se que as afecções para as quais mais se utilizam os fitoterápicos

são gripe, infecção, e como calmante (Tabela 1). Contudo, uma mesma planta pode ser utilizada no

tratamento de diversas afecções.

Os nomes populares das plantas, bem como as indicações terapêuticas relatadas estão

listados como descritos pelos entrevistados, sem correções (veja tabela 1). A grande variedade de

(8)

representantes botânicos distribuídos em várias famílias demonstra que a população apresenta uma

grande diversificação no cultivo e uso de plantas medicinais em seus quintais.

CONCLUSÃO

Com o presente trabalho pode-se concluir que a população de São João da Ponte cultiva em

quintais e utiliza as plantas medicinais no tratamento de doenças ou na manutenção da saúde. O

cultivo de utilização das plantas medicinais é predominantemente dominado pelas mulheres, e

constituem uma alternativa de baixo custo quando comparada aos medicamentos convencionais,

além de se apresentar como um importante meio na conservação das espécies cultivadas e do

conhecimento transmitido através das gerações, conhecimento este que já se encontra em risco de

desaparecer.

Neste sentido, trabalhos de resgate do conhecimento tradicional são de grande valia, uma

vez que permitem o registro de informações não só acerca das relações que permeiam homens e

plantas, mas de espécies promissoras para pesquisas farmacológicas posteriores.

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