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Uma Reflexão Sobre um Modelo de Gestão A quebra de um paradigma

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Academic year: 2021

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Uma Reflexão Sobre um Modelo de Gestão A quebra de um paradigma

A visão do mundo e o sistema de valores que estão na base de nossa cultura, além de dirigirem as nossa vidas pessoais, eles determinam a maneira como fizemos a gestão das organizações no exercício de nossas profissões.

Dado a falta de qualidade dos profissionais e que consequentemente geram a ineficiência que existe hoje em grande parte das organizações, é necessário examinar com mais profundidade a nossa prática, encontrar o que causa as disfunções e mudar se for possível.

Uma das coisas mais difíceis de acontecer é a mudança dos nossos valores que determinam como agimos em todas as coisas e em todos os momentos de nossas vidas. Para a mudança deve haver o autoquestionamento, e ele requer uma abertura mental muito grande para que outros valores, que não sejam somente os semelhantes aos nossos, adentrem na nossa mente e os confrontem de maneira aberta e sem censura. Este confronto, entre os nossos valores e os diferentes, permite analisar e confrontar resultados de ganhos e perdas, do que fazemos e do que podemos fazer diferente, permitindo ver o nosso mundo diferente daquele que estamos vendo.

Nós vemos o mundo através dos nosso modelos mentais, que são representações que usamos para dar sentido ao nosso mundo. Estes modelos, ao serem usados, determinam a qualidade e o rumo de nossas vidas. Eles implicam em lucros e perdas até mesmo de vida e de morte.

Estes modelos mentais surgem em nossas vidas através de um processo de aprendizagem durante nossas vidas e permanecem por meio de reforços constantes. Eles funcionam constantemente processando e filtrando informações que recebemos do meio em que vivemos e diante disso nós agimos, é neste agir que surgem os lucro e as perdas. Nós vemos o que pensamos e nós criamos a nossa realidade.

Como componente central de nossa percepção e pensamento, os nossos modelos mentais surgem frequentemente em discussões de tomada de decisão, aprendizado organizacional e no pensamento criativo. Os modelos mentais dão contorno a nossa maneira de ver o mundo, eles ajudam a discernir os ruídos que vem de fora, em contra partida, eles limitam a nossa habilidade de ver a verdadeira situação em que estamos metidos. Eles fazem parte constante de nossas vidas e podem ser de grande ajuda ou podem nos prejudicar.

Que modelos mentais, hoje, criam a realidade de um grande número de organizações? Eu acredito ser os modelos cartesiano e o reducionismo, que nos mostra as organizações em partes como se fossem independentes. Estes modelos nos dão uma deficiência de percepção quando olhamos o mundo e fizemos a gestão das organizações.

Esta deficiência, segundo Capra, nos faz ver todas as coisas dissociadas, a natureza, os seres vivos, o homem, as organizações e tem como origem a escola eleática grega, a filosofia de René Descartes, Galileu, Copérnico, Kepler, as organizações militares e a Igreja Católica como instituições.

Até o século XVI e XVII, pela filosofia aristotélica, o universo era orgânico, vivo e espiritual, a matéria continha a natureza essencial de todas as coisas como

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potencialidade e por meio da forma se tornava real e efetiva. Era um processo de desenvolvimento, um impulso em direção a auto-realização plena.

Após o século XVII, pelas descobertas da física, astronomia e matemática da chamada revolução cientifica, de Copérnico, Galileu, Descartes, Newton, a noção de um universo orgânico, vivo e espiritual foi substituída pela noção de máquina. A máquina do mundo passou ser a metáfora dominante da era moderna.

Galileu Galilei expulsou a qualidade da ciência, restringindo-a ao estudo dos fenômenos que podiam ser medidos e quantificados. O Filósofo René Descartes Criou o método do pensamento analítico, que consiste em quebrar fenômenos complexos em pedaços a fim de compreender o comportamento do todo a partir das propriedades das partes. Ele tinha a concepção da natureza dividida em dois domínios independentes e separados – o da mente e o da matéria. O universo material, segundo ele, incluindo os organismos vivos, era uma máquina, e poderia, ser entendido completamente analisando-o em termos de suas menores partes. Estes conceitos criados por Galileu e Descartes transformaram o mundo numa máquina perfeita governada por leis matemáticas e exatas. Então surge Isaac Newton complementado essas idéias com a mecânica Newtoniana, foi a realização que coroou a ciência no século XX.

Ainda, existe a influência das organizações militares e da Igreja Católica nos nossos modelos mentais para fazer a gestão das organizações, como o princípio da unidade de comando, centralização do comando, o conceito de hierarquia de autoridade, o principio de direção etc.

Assim, o universo e os organismos vivos, dentre eles nós humanos é claro, passaram a ser vistos como máquinas. Passamos a nos preocupar com a autoridade, o autoritarismo, com o reducionismo e com a especialização. E como consequência passamos a ter um pensamento individualista e fechado em nós mesmos, não considerando as relações que as pessoas, as atividades, os atos e fatos possuem entre si nas organizações e na sociedade. Como consequência deste novo modelo mental, tivemos e temos ainda, na gestão das organizações, um alto grau de entropia e ineficiência organizacional e um caos social.

A oposição forte ao paradigma cartesiano e mecanicista surgiu no fins do século XVIII e no século XIX. William Blake, poeta e pintor místico influenciou sobre o romantismo inglês no final do século XVIII e XIX. Era critico de Newton.

Goethe, poeta e filósofo alemão “admirava a ordem móvel da natureza” e concebia a forma como um padrão de relações dentro de um todo organizado. Segundo ele, “cada criatura é apenas uma gradação padronizada de um grande todo harmonioso”. Esta concepção de Goethe traduz o pensamento sistêmico contemporâneo.

Immanuel Kant, um dos maiores filósofos modernos discutiu a natureza dos organismos vivos. Diz ele que “os organismos, ao contrário das máquinas, são totalidades auto-reprodutoras e auto-organizadoras”. Segundo ele, “Numa máquina, as partes existem uma para outra, no sentido de suportar a outra no âmbito de um todo funcional”. Num organismo, as partes existem por meio de cada outra, no sentido de reproduzirem uma outra. Neste sentido Kant escreveu “Devemos pensar em cada parte como um órgão que produz as outras partes ( de modo que cada uma, reciprocamente, produz a outra) devido a isso, o organismo será um ser organizado como auto-organizador”. Diante disso, não podemos considerar uma organização como sendo uma máquina, as pessoas não são peças

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para suportarem as outras na funcionalidade. A organização é um organismo onde as pessoas lhe dão a vida através da vida das pessoas.

No inicio do século XX, os biólogos organísmicos, que se opunham ao mecanicismo, abordaram o problema da forma biológica com um novo entusiasmo, elaborando e aprimorando muitas das idéias básicas de Aristóteles, Goethe, Kant, entre outros. Algumas das principais características que hoje denominamos de pensamento sistêmico surgiram de suas reflexões.

O Bioquímico Lawrence Henderson foi o primeiro a usar o termo “sistema” para significar tanto organismos vivos como sistemas sociais. Deste momento em diante, um sistema passou a significar “um todo integrado cujas propriedades essenciais surges das relações entre suas partes” e Pensamento sistêmico “a compreensão de um fenômeno dentro de um contexto de um todo maior”. A palavra sistema, deriva do grego “synhistanai” que significa “colocar junto”. Entender as coisas sistemicamente significa “coloca-las dentro de um contexto, estabelecer a natureza de suas relações”.

As idéias dos filósofos e biólogos organísmicos foram percursoras de um novo modo de pensar em termos de conexidade, de relações e de contexto, o pensamento sistêmico. A visão sistêmica identifica as propriedades essenciais de uma organização como propriedades do todo, que nenhuma das partes possui. Elas surgem das interação e das relações entre as partes. Estas propriedades são destruídas quando o sistema é separado em elementos isolados. Embora possamos identificar as partes individualmente em qualquer sistema, essas partes não são isoladas, e a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes. Isso vem contradizer a essência da teoria mecanicista.

Atualmente na maioria das organizações existe uma estrutura desagregada e loteadas onde os profissionais responsáveis pelas diversas áreas fazem a sua gestão sem considerar as outros no processo empresarial. Tomam decisões que prejudicam as outras áreas e se justificam pela intensão de fazer melhor pela sua área. Agem como senhores feudais defendendo os seus domínios, acreditando que se fizerem o melhor para eles, ignorando os outros, estão no caminho certo. O modelo de gestão é cego, não consegue identificar as outras áreas enquanto partes do todo e a organização enquanto organização. Mostra a sua ignorância da complexidade que é cada área e na organização como um todo e esta ignorância existe por ter uma visão cartesiana, pequena e restrita do que é uma organização

Na literatura de administração encontramos conteúdos que afirmam que existe conflito de interesses entre as áreas, finanças com produção, vendas com finanças, onde cada uma tem interesses antagônicos pelas mais diversas situações e uma delas é com os níveis dos mais diversos tipos de estoques. Se olharmos os objetivos de uma organização, vemos que não existe conflito entre áreas, todas devem operar inter-relacionadas de acordo com estes objetivos. Os conflitos existem entre as pessoas que fazem a gestão das diversas áreas onde, os objetivos individuais suplantam os objetivos organizacionais ocasionando disfunções organizacionais e prejuízo para todos.

Considerando que as organizações são organismos vivos, a abordagem sistêmica, para o bem de todos, pode suplantar o modelo mecanicista tão comum no exercício da gestão delas.

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A visão sistêmica das organizações representa uma mudança profunda no modelo de gestão. É a quebra de um paradigma centenário que pode ajudar entender e a manejar a complexidade de inúmeras situações ou problemas enfrentados pelas organizações, possibilitando os profissionais terem mais cooperação, mais eficiência e desenvolvimento e dando uma melhor qualidade de vida para as pessoas.

A gestão sistêmica elimina o individualismo e cria um trabalho de responsabilidades e de relacionamento colaborativo entre os profissionais de todas as áreas funcionais da organização. Elimina o autoritarismo, a autoridade e a coordenação é de qualquer um que está no sistema e é baseada no conhecimento e na realização das atividades. O próprio sistema, em andamento, necessita de que todos estejam inter-relacionados e executem as suas atividades de uma maneira colaborativa e eficiente para evitar a sua entropia. Quando há isolamento ou ineficiência de uma das partes todo o sistema fica prejudicado, perdendo energia, levando-o à degradação, à desintegração e na pior das situações, se não for corrigido, ao desaparecimento. É o que acontece com a visão cartesiana de gestão.

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Referências

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