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Estereótipo do psicólogo em quatro grupos profissionais: um estudo preliminar

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Academic year: 2021

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-Estereótipo do psicólogo

em quatro grupos profissionais:

um estudo preliminar

1. Introdução

ANTONIO RIBEIRO DE ALMEIDA

*

1. Introdução; 2. Método; 3. Resulta-dos; 4. Discussão.

Desde que Lipprnan elaborou e definiu, em 1922, o conceito de estereótipo como sendo parte de ". '.' .11m mecanismo de simplificação para manipular o ambiente real que é sempre muito vasto, muito complexo e muito fugaz para uma aborda-gem direta ... " (6, p. 16), tem o mesmo sido objeto de centenas de pesquisas que investigam suasuWúfestações aos níveis étnico (5) ocupacional (8, 3), religioso, nacional etc. É clássica, portanto, a área de estereótipo na Psicologia social, ainda que ela apresente inúmeros problemas que estão a pedir investigações mais exten-sas, como, para citar alguns, o mecanismo de aprendizagem do estereótipo, sua funcionalidade na vida psíquica do sujeito, sua modificação, sua influência sobre o comportamento etc. Mas a relevância do estudo de estereótipo é reconhecida, como atesta Lindgren, editor do Contemporary research in social psychology, que encarregou três dos seus colaboradores a reverem a literatura no período 1926-68.

• Universidade de São Paulo.

(2)

Percebe-se, por outro lado, nesta revisão, que o estereótipo ocupacional é relativa-mente pouco estudado quando comparado com o número de artigos referentes aos estereótipos nacionais, raciais, sexuais etc. No Brasil, os estereótipos profissionais também estão à espera de quem melhor os investigue. Uma psicologia ingênua nos fala no dia-a-dia dos estereótipos que identificam o político, o militar, o médico, o advogado, o engenheiro. E o psicólogo?

Sensíveis a esta questão, Ferreira e Rodrigues (7) pesquisaram pela pnmeira vez, em nosso meio, os estereótipos atribuídos aos estudantes de psic010gia num campus universitário. Este estudo ofereceu interessantes resultados e indicou adje-tivos - tanto de conotação positiva como negativa - atribuídos aos estudantes de psicologia pelos seus colegas de campus.

Já na presente pesquisa foram estudadas, em três grupos profissionais consti-tuídos de médicos, professores e engenheiros, suas percepções sociais do psicó-logo; se quando comparadas com a percepção social que estudantes de psicologia têm do psicólogo eram iguais ou se estes tinham uma percepção social maior do que esses grupos profissionais. Por outro lado, o estudo da freqüência e percen-tagem dos adjetivos indicados pelos sujeitos permitiria verificar o reaparecimento ou não de adjetivos que já haviam sido atribuídos aos estudantes de psicologia em pesquisa anterior. O reaparecimento de alguns fundamentaria a suspeita da exis-tência do estereótipo em nosso país com relação ao psicólogo.

2. Método 2.1 Sujeitos

Participaram deste estudo 180 sujeitos, distribuídos em quatro grupos (n

=

45)'" entre médicos, engenheiros, professores e estudantes de psicologia, residentes em Ribeirão Preto, estado de São Paulo. Como grupo-controle foi selecionada uma amostra de 45 estudantes de psicologia - a partir do 2.0 ano - que forneceram a percepção social do psicólogo contra a qual foram comparadas as percepções dos outros três grupos profissionais.

2.2 Instnunnento

Para investigação do estereótipo foi aplicada a cada sujeito, no escritório ou no lar, urna lista de 138 adjetivos adjective checklist extraída de Anderson (2). Cada sujeito foi convidado, após receber instruções do aplicador, a indicar, sem ordem de preferência, numa folha de apuração, 10 adjetivos que melhor caracterizam o psicólogo. A média de percepção social de cada sujeito foi calculada usando-se o modelo simples da média. Foi mantido para cada adjetivo o índice de agrada-bilidade fornecido por Anderson (2) tendo em vista que os índices calculados por

62 A.B.P.A. 1-2/78

....

(3)

-Almeida (1) foram praticamente idênticos. Logo após indicar os 10 adjetivos, o sujeito indicava as fontes que haviam auxiliado na formaçã'o da sua impressã'o do psicólogo. Idade 20-25 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51-55 56-60 Total Tabela 1

Amostra dos sujeitos indicativa da distribuiçã'o, por sexo e idade, de cada grupo proftssional

PrOÍlSSõeS

Médicos Engenheiros Professores Estudantes de psicologia MasC.j Fem. Masc.

I

Fem. Masc ..

1

Fem. Masc.

J

Fem.

9 1 10 2 5 9 3 38 14 4 17 8 3 4 3 7 6 1 3 1 5 4 3 2 3 4 1 2 1 1 1 2 2 1 39 6 43 2 23 22 3 42 3. Resultados

As médias relativas

ãs

percepções sociais do psicólogo por parte dos médicos e pro(essores revelaram, após cálculo dos dados çom o teste t de Student, quando comparadas com a média de percepçã'o social do psicólogo obtida no grupo de estudantes de psicologia, serem iguais, com aceitaçã'o da hipótese Ho para um t calculado de 1,88 para os médicos; 1,98 para os professores e um t tabelado de

1,98, P bicaudal a 0,05 com 88 graus de liberdade. Já para o grupo de engenheiros, foi aceita a hipótese HI> isto é, de que a média do grupo de estudantes de psicologia era maior do que a obtida no grupo de engenheiros. Embora todas as médias estivessem na regiã'o de favorabilidade da escala, variando de 4,35 a 4,04, pode ser verificado que a percepçã'o social do psicólogo, por parte do grupo de engenheiros, nã'o é tã'o favorável como as percepções dos médicos e professores.

(4)

Tabela 2

Resultados do Teste t de Student relativos às comparaÇões da média de percepção social do psicólogo - obtida no grupo de

estudantes de psicologia - com as médias obtidas nos grupos de médicos, professores e engenheiros

Comparações t calculado Resultados

Ho

:Xp=Xm

1,88 Aceito Ho HI

:Xp>Xm

Ho :

Xp

=

Xprof.

1,98 Aceito Ho HI :

Xp

> Xprof. Ho :

Xp

=

Xeng. 2,20 Aceito HI HI :

Xp

> Xeng.

Obs.: Para p = 0,05; t tabelado 1,98 e 88 graus de liberdade.

As tabelas 3 e 4 nos mostram, respectivamente, o percentual e a freqüência dos 10 adjetivos mais atribuídos ao psicólogo por cada grupo profissional, eos 10 adjetivos mais freqüentemente atribuídos por todos os sujeitos da nossa amostra. O adjetivo observador apareceu, em todos os grupos; sempre em primeiro lugar, seguido por outros como: equilibrado, atencioso, científico etc.

Tabela 3

Percentagem dos 10 adjetivos mais freqüentemente atribuídos ao psicólogo pelos quatro grupos profissionais

Médicos Engenheiros Adjetivos % Adjetivos % Observador 64,4 Observador 35,S Filosófico 28,8 Coerente 28,8 Objetivo 26,6 Equilibrado 28,8 Equilibrado 24,4 Estudioso 24,4 Crítico 24,4 Franco 24,4 Atencioso 24,3 Autocontrolado 22,2 Amigável 22,2 Seguro 22,2 Compreensivo 22,2 Amigável 20,0 Metódico 20,0 Honesto 20,0 Estudioso 20,0 Científico 20,0 (continua) 64 A.B.P.A. 1-2/78

..

-...

(5)

-Tabela 3 (cont.)

Professores Estudantes de psicologia

Adjetivos % Adjetivos Observador 37,7 Observador Equilibrado 24,4 Autocontrolado ConfllUlte 24,4 Crítico Objetivo 22,2 Equilibrado Coerente 22,2 Discreto Compreensivo 22,2 Atencioso Diplomático 22,2 Compreensivo Oentífico 20,0 OentÍfico Autodisciplinado 17,8 Idealista Crítico 15,0 Responsável Tabela 4

Freqüência e percentagem dos 10 adjetivos mais atribuídos ao psicólogo na nossa amostra (n

=

180 Ss)

Adjetivos f % Observador 103 57,2 Equilibrado 49 27,0 Atencioso 35 19,0 OentÍfico 33 18,3 Autocontrolado 32 17,7 Crítico 30 16,6 Coerente 23 12,7 Objetivo 22 12,2 Estudioso 20 11,1 Amigável 19 10,5 % 91,1 48,8 42,2 31,1 31,1 31,1 26,6 24,4 24,4 22,2

Finalmente, a tabela 5 indica as fontes responsáveis pela formação de impressão do psicólogo. Uma análise dos dad"os revela que, no total, a expe-riência com os próprios psicólogos responde em 41,7% pela formação da im-pressão, contra 24,2% atribuídos aos jornais e revistas e 24,9% às informações de outras pessoas.

(6)

Tabela 5

Percentagem das fontes indicadas pelos sujeitos como responsáveis pela formação de impressão do psicólogo

FOn;

~

Médico Engenheiro Professor

Jornais e revistas 24,4% 19,3% 29,0%

Tv 2,4% 7,2% 11,3%

Rádio 2,4% 1,2%

Outras pessoas 25,6% 26,5% 22,6%

Experiência com pSicólogos 45,2% 44,6% 35,5%

Outras 1,2% 1,6%

Total 100,0% 100,0% 100,0%

4. Discussão

A clara e substantiva conclusão que se pode retirar deste estudo é que existe, em nosso meio, um estereótipo do psicólogo onde o adjetivo observador exerce .um papel de centralidade seguido por outros como: equilibrado, atencioso, científico, autocontrolado etc. Todos os adjetivos que tiveram uma ocorrência significante na amostra apresentaram uma conotação positiva embora - e justamente no grupo de engenheiros - o psicólogo fosse apontado, com uma freqüência baixa, como charlatão. Suspeita-se também que o adjetivo "ftlo-sófico" indicado em segundo lugar pelo grupo dos médicos possa ter uma conotação algo depreciativa. Os médicos têm suficiente cultura para distin-guirem um ftlósofo de um psicólogo. A atribuição do traço de ftlosófico ao psicólogo só poderia ser completamente esclarecida no contexto de uma outra pesquisa que estudasse os diversos significados que uma palavra ganha em nossa língua. É provável que o termo ftlosófico tenha Sido usado no sentido pejorativo, isto é, e como registra o Novo Dicionário Aurélio, como ''um in-divíduo esquisito, excêntrico", ou como aquele que "vive com a cabeça nas

nuvens". .

Mas uma comparação que pode ser feita entre os 10 adjetivos mais fre-qüentemente citados na presente pesquisa com os 13 mais apontados em Fer-reira e Rodrigues (1967) mostra que o estereótipo do psicólogo parece caminhar para o sentido positivo da escala.

66 A.B.P.A. 1-2/18

...

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Referências bibliográficas

1. Almeida, A. R. Validação de uma lista de adjetivos. Ribeirão Preto, São Paulo, 1977. ... niimeogr.

-2. Anderson, N. Likableness ratings of 555 personality-trait words. Joumal of Personality and Social hychology. v. 9, n. 3, p. 272-79, 1968.

3. Feldman, Jack M. Stimulus characteristics and subject prejudice as determinants of stereotype attribution. Joumal of Personality and Social Psychology, v. 21, n. 3, p. 333-40,

1972.

4. Ferreira, M. H. & Rodrigues, A. Estereótipos em relação a alunos de psicologia num campus universitário. Arquivos Brasileiros de hicotécnica. Rio de Janeiro, FGV, v. 2, p. 8-21,

1968. .

5. Katz, D. & Braly, K. W. Racial stereotypes of 100 college students. Journal of Ab-normal and Social hychology, v. 28, p. 280-90, 1933.

6. . Racial prejudice and racial stereotypes. Journal of Abnormal and Social hychology. v. 30, p. 175-93,1935.

7. Lippmann, W. Public opinion. N ew Y ork, Harcourt Brace, 1922

8. Secord, P. F.; Bevan, W. W. Jr. & Dukes, W. F. Occupational and physiognomic stereo-types in the perception of photographs. Journal of Abnormal and Social Psychology, v.37, p. 261-70, 1953.

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