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AS RELAÇÕES SOCIOESPACIAIS ENTRE O URBANO E O CONSUMO: CONSERTAR O VELHO OU COMPRAR UM NOVO?

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ISBN: 978-85-99907-05-4

I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014

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AS RELAÇÕES SOCIOESPACIAIS ENTRE O URBANO E O

CONSUMO: CONSERTAR O VELHO OU COMPRAR UM NOVO?

Taís Gonçalves Neto Costa

taisgnoliveira@yahoo.com.br Ciências Socioambientais, Universidade Federal de Minas Gerais

Resumo

A sociedade moderna, seu modo de apropriação e reprodução espacial reflete hábitos e comportamentos, que por sua vez estão relacionados à própria configuração espacial em que esta sociedade está inserida. Atualmente, com um enorme contingente populacional concentrado em cidades, o mundo urbano, mais do que um espaço físico, interfere na vida das pessoas que o habitam como “um modo de vida”. Este modo de vida prega o imediatismo, o novo, o moderno, estabelecendo uma relação direta entre o urbano e o consumo, objeto central deste trabalho. A prática de se consertar um bem que apresentou algum tipo de defeito deu lugar à aquisição de novos bens, condizendo melhor com o “modo de vida” urbano. A industrialização, por sua vez, intimamente ligada ao processo de urbanização/metropolização acelera o consumo ao introduzir técnicas como a obsolescência programada, reduzindo a vida útil dos produtos, tais quais os aparelhos eletroeletrônicos. Contudo, o “modo de vida” urbano e seus padrões de consumo proporcionam consequências socioambientais cada vez maiores, sendo necessário repensá-los para que não corroborem cada vez mais na promoção da insustentabilidade urbana.

Palavras-chave: urbano; consumo; modo de vida urbano; obsolescência programada; insustentabilidade urbana.

Eixo de inscrição: Eixo 8 - Geografia Urbana Introdução

Podemos caracterizar o ambiente urbano enquanto espaço físico que se modifica através da ação social, mas também como agente de mudança do comportamento da população que o habita, ou seja, o urbano como um modo de vida.

A industrialização transformou a paisagem e propiciou o processo de urbanização/metropolização. Sposito (2000) logo afirma que “a industrialização dá o “tom” da urbanização contemporânea”. (SPOSITO, 2000, p. 9). São processos que estão intrinsecamente relacionados gerando uma dinâmica socioeconômica peculiar. O morador da cidade assume um papel de consumidor ávido embarcado pela lógica do imediatismo presente no espaço produzido socialmente, lugar do novo e do agora.

A industrialização aliada às novas tecnologias estabelecidas nos grandes centros urbanos modificou o padrão de consumo das pessoas. Se um produto

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apresenta defeito ele é iminentemente substituído por outro, novo, mais moderno e

que em muitos casos vai possuir uma vida útil menor do que o produto a que substituiu. A vida útil reduzida está relacionada não somente ao comportamento do consumidor, mas também a obsolescência programada, uma prática industrial que determina a duração de um produto. Sendo assim, o consumidor atual, em especial o que vive em ambiente urbano, não somente é incentivado a consumir, através de mídias, facilitação de acesso ao crédito, dentre outras políticas econômicas; como se vê diante de bens que duram cada vez menos e geralmente tomam a decisão de optar pela compra de um produto novo, uma vez que a prática de se consertar o que estragou está cada vez mais em desuso no espaço urbano.

Percebe-se, portanto, que há uma forma bastante representativa nas cidades de um bem se tornar obsoleto: a necessidade criada, seja pelo consumidor influenciado pelos fatores já mencionados ou pela indústria, através da obsolescência programada. Os aparelhos eletroeletrônicos são um exemplo sólido de bens que se tornam obsoletos com cada vez menos tempo de uso, seja por quaisquer dos motivos mencionados acima, sendo, portanto, uma opção viável para coleta de informações sobre hábitos e padrões de consumo populacional.

Objetivos

O objetivo deste trabalho é analisar como a configuração espacial urbano-metropolitana atrelada ao modelo econômico vigente, influencia no padrão de consumo populacional, se tornando um “modo de vida”, de forma que práticas como o conserto de bens eletroeletrônicos que apresentaram algum defeito, comprometendo seu bom funcionamento, vêm decaindo ligeiramente nos grandes centros urbanos, adotando-se então o hábito de substituir um bem “velho” por um bem novo. Pretende-se também, avaliar a percepção social sobre a prática industrial de obsolescência programada, contribuindo para o aumento do consumo em geral e especificamente sobre eletroeletrônicos, corroborando com a insustentabilidade do ambiente urbano.

Fundamentação Teórica

A urbanização e as transformações socioespaciais advindas com ela atingem escala mundial, sendo que as maiorias das pessoas, atualmente, estão concentradas nas cidades. Segundo Sposito (2000), “a cidade recebeu diretamente as consequências do rápido crescimento populacional imprimido pela Revolução Industrial, e sofreu, em nível de estruturação de seu espaço interno, muitas transformações”. (SPOSITO, 2000, p.70).

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Na medida em que a sociedade produz o espaço, o espaço reflete os hábitos e

práticas sociais, criando um “modo de vida”. Lefebvre (1991), salienta que “ não é apenas a sociedade que se torna o lugar da reprodução, mas o próprio espaço”. No espaço urbano este modo de vida está centrado na produção e no consumo. Segundo Ortigoza (2010):

A sociedade de consumo tem sua base no modo de vida urbano e está apoiada num sistema capitalista produtor de mercadorias. O espetáculo, o efêmero, a moda e a obsolescência impõem novas e consecutivas necessidades. Vivemos um tempo em que a produção de mercadorias não só visa atender à demanda, mas também criar a necessidade. (ORTIGOZA, 2010, p. 22).

O consumo em meio urbano está ligado também à obsolescência programada, prática industrial comum nos dias de hoje que reduz a vida últil dos bens de consumo. Vega (2012) reflete sobre o consumo sem escalas e a obsolescência programada relacionando-os:

“[...] o comportamento consumista potencializado na sociedade atual, tem sido aproveitado mediante a implementação de estratégias associadas à obsolescência programada, de maneira que produtos e serviços tornam-se altamente perecíveis enquanto funcionalmente possam ter maior vida útil.(VEGA, 2012, p. 56, tradução minha).

Propor soluções para o consumo no mundo urbano é uma tarefa árdua, pois influencia no modo de vida pessoal e em toda a estrutura organizacional em que a sociedade se contextualiza. No entanto, em busca de um espaço mais sustentável, Brakel (1999) propõe que “é necessário termos a habilidade de buscar o equilíbrio entre o que é ecologicamente necessário, socialmente desejável e politicamente atingível”. (BRAKEL, 1999).

Metodologia

Como um mecanismo de apurar os hábitos da população urbana em relação ao procedimento que adotam sobre aparelhos eletroeletrônicos, serão aplicados questionários semi-estruturados na região metropolitana de Belo Horizonte, no mês de abril deste ano, com a maior diversidade possível de pessoas em relação à idade, escolaridade e renda familiar mensal, abordando aspectos sobre a atitude adotada quanto a aparelhos que apresentam defeito, opinião sobre vida últil de aparelhos eletroeletrônicos na atualidade e há vinte ou trinta anos atrás e um tópico especial sobre os telefones celulares, aparelhos que atualmente são muito utilizados e descartados com facilidade, especialmente mediante a ascensão de novas tecnologias que tornam o aparelho obsoleto rapidamente. Ao final do questionário, será

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perguntado sobre a disposição pessoal de se pagar um valor mais caro por um

aparelho considerado social e ambientalmente justo, considerando fatores como não exploração desenfreada do meio ambiente e da mão de obra humana, e qual porcentagem essa pessoa estaria disposta a pagar a mais, esta última questão, sendo indicadora da relação pessoal com a sustentabilidade do espaço urbano.

Resultados Esperados

Presume-se que os dados apurados através da aplicação dos questionários apresente resultados que corroborem com a afirmação de que existe um “modo de vida urbano” e que ele está diretamente relacionado ao padrão de consumo populacional, sendo este padrão insustentável do ponto de vista socioambiental. Há uma expectativa de que algumas pessoas tendam a omitir ou não responder condizentemente com suas atitudes cotidianas, tendo em vista que serão expostas a questões que indagam sobre comportamentos “não sustentáveis”. Entretanto e justamente por este fato, espera-se que as pessoas submetidas ao questionário possam refletir seu próprio padrão de consumo, avaliando e repensando suas necessidades e buscando se orientar sobre hábitos que contribuam com a sustentabilidade do lugar onde vivem.

Considerações Finais

Essa lógica predominante no mundo hoje acelera o processo de degradação ambiental quando, ou também, não utiliza da exploração sem proporções de mão de obra humana. O “modo de vida” urbano que alia necessidades criadas pelo consumidor e práticas industriais como a de obsolescência programada, é um fator alarmante, uma vez que a maioria da população se encontra distribuída em grandes cidades. Poucos consomem a maioria, e as desigualdades se acentuam, aumentando a dificuldade de se alcançar uma equidade socioambiental.

Referências Bibliográficas

BRAKEL, M. V. Os desafios das políticas de consumo sustentável. Cadernos de Debate Projeto Brasil Sustentável Democrático, n.2. Rio de Janeiro, FASE, 1999. LEFÈBVREVE, H. A vida cotidiana no mundo moderno. São Paulo: Ática, 1991. ORTIGOZA, S. A. G.. Da produção ao consumo: dinâmicas urbanas para um mercado mundial. In: Silvia Ap Guarnieri Ortigoza;Ana Teresa Caceres Cortez. (Org.). Da produção ao consumo: Impactos Sócio-Ambientais no Espaço Urbano. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010, v. , p. 1-20.

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SPOSITO, M. E. B. Capitalismo e Urbanização. In Repensando a Geografia. 10ª Ed.

São Paulo, Contexto, 2000.

VEGA, O. A. Efectos Colaterales de la obsolescencia tecnológica. Revista Facultad de Ingeniería, UPTC, Enero-Junio de 2012, Vol. 21, No. 32, pp.55-62.

Referências

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