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ECLI:PT:TRL:2010: TBALM.L1.7

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ECLI:PT:TRL:2010:3763.07.9TBALM.L1.7

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRL:2010:3763.07.9TBALM.L1.7

Relator Nº do Documento

Luís Espírito Santo rl

Apenso Data do Acordão

30/11/2010

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso

Público

Meio Processual Decisão

Apelação procedente

Indicações eventuais Área Temática

Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores

(2)

Sumário:

I - Nenhuma entidade pode ser condenada sem ter sido formalmente referenciada como Ré ; sem ter sido devidamente citada para exercer os seus direitos de defesa ; sem que lhe tenha sido imputada a prática de factos susceptíveis de fundamentar a sua responsabilização; sem se encontrar representada pela entidade legalmente idónea para o exercício dos seus direitos de defesa, tratando-se duma pessoa colectiva.

II A falta de citação duma parte cuja condenação é contraditoriamente pedida na petição inicial -não pode, de maneira nenhuma, ser tratada como um mero lapso de escrita, subsumível à previsão do artº 249º, do Código Civil.

III - A intervenção da Ré administradora da insolvência, que foi demandada apenas a título pessoal nos autos com vista à sua responsabilização nos termos do artº 59º, do CIRE, não tem virtualidade para operar a sanação deste vício, nos termos do artº 196º, do Cod. Proc. Civil.

(sumário do Relator)

Decisão Integral:

Acordam os Juízes do Tribunal da Relação de Lisboa ( 7ª Secção ).

I – RELATÓRIO.

Intentou A a presente acção de despejo, ao abrigo do Decreto-Lei nº 108/2006, de 8 de Junho, contra Administrador de Insolvência –; C e B.

Essencialmente alegou que :

Por contrato escrito em Outubro de 2001 deu de arrendamento a “ L Ldª.”, um imóvel de sua propriedade, pela renda acordada no valor de € 5.985,57, sendo que o segundo e terceiro réus, se assumiram como fiadores da inquilina.

A arrendatária deixou de pagar as rendas desde Julho de 2006, devendo até à data da propositura desta acção, o montante de € 66 000,00.

O A. desconhecia que a arrendatária se havia apresentado à insolvência, pelo que notificou judicialmente a arrendatária para a denúncia do contrato, notificação judicial avulsa que foi cumprida em 17 de Abril de 2007.

A arrendatária foi declarada insolvente no dia 15 de Fevereiro de 2007.

A administradora de insolvência, apesar de ter tomado posse, não ordenou o pagamento das rendas, sendo que a lei não proíbe a resolução do contrato de arrendamento com base na falta de pagamento de rendas vencidas após a declaração de insolvência e porque o administrador de insolvência apesar das cartas que lhe foram enviadas não denunciou o contrato nem pagou as rendas, nem entregou o locado, mantendo-o encerrado e com mercadoria lá dentro, deve ser nos termos do artº 1045º do C.Civil, responsável pelo atraso na restituição do locado ao A., devendo ser condenado, a título pessoal, a indemnizar o autor desde 1 de Julho e até à data da restituição do locado livre e devoluto, que deve ser no montante mensal de € 5500,00, devendo ser decretada a resolução do contrato.

Conclui pedindo:

- que seja declarada a resolução do contrato de arrendamento;

- a condenação do administrador a despejá-lo imediatamente e a entregá-lo livre e devoluto; - a condenação solidária da Massa Insolvente e os réus fiadores no pagamento das rendas

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vencidas no montante de € 66 000,00;

- a condenação do administrador de insolvência ao pagamento de uma indemnização igual ao valor da renda mensal, por cada mês de atraso na restituição do locado, com início de 1 de Julho de 2007, data ao qual foi julgado ser um prazo razoável para a razoável e para a entrega livre e devoluta do prédio objecto da presente acção.

Contestou a Ré Administradora de Insolvência, excepcionado a falta de citação da Massa

Insolvente, a ineptidão da petição inicial, a sua ilegitimidade e a falta de fundamento da acção, já que quanto a este último não pode o administrador ser responsável pela revogação do contrato de arrendamento, nem pelo pagamento das rendas e muito menos pela indemnização.

O Réu C não contestou.

O A. desistiu do pedido contra a ré, B, desistência homologada por sentença, transitada em julgado.

Procedeu-se ao saneamento dos autos conforme fls. 179 a 186. Realizou-se audiência final.

Foi proferida sentença que julgou a presente acção parcialmente procedente, decidindo-se absolver a Ré, Administradora de Insolvência –do pedido; declarar resolvido o contrato de arrendamento celebrado entre o A. e “ Ldª.”, relativo ao prédio urbano; condenar a Massa Falida “L, Ldª”, a entregar o prédio supra descrito, ao autor, livre de pessoas e bens; condenar solidariamente a Massa Falida “L, Ldª” e o R. C a pagar ao autor a quantia sessenta e seis mil euros (€ 66.000,00) ( cfr. fls. 256 a 265 ).

Apresentaram o A. e a Ré Massa Insolvente “ L “, recurso desta decisão ( sendo o segundo subordinado ), que foram admitidos como de apelação ( cfr. fls. 273 e 297 ).

Juntas as competentes alegações, a fls. 280 a 290, formulou o apelante A as seguintes conclusões :

1ª – O nº 5 do artº 108º do CIRE, D.L 35/2004, de 18 de Março apenas impõe como restrição à resolução do contrato de arrendamento pelo locador, que este fixe ao Administrador da Insolvência um prazo razoável;

2ª – Não estabelece para a resolução qualquer outra forma especial;

3ª – E sendo o D.L. 35/2004 (CIRE) muito anterior à Lei 6/2006 – NRAU e não estabelecendo aquele que a resolução do contrato de arrendamento efectuado nos termos do nº 5, do artº 108º seja feita por notificação judicial avulsa ou mediante contacto pessoal de advogado ou solicitador de execução, a aplicação do nº 7, do artº 9º do NRAU aos casos supra referidos teriam de constar expressamente do NRAU, já que o CIRE é muito anterior;

4ª – Sucede porém, que nem o NRAU altera ou revoga a disposição especial contida no nº 5 do artº 108 do CIRE, nem mesmo o Decreto-Lei nº 200/2004 de 18 de Agosto ou o D.L. Nº 282/2007 de 7 de Agosto, que introduziram alterações ao DL nº 35/2004, nada referem quanto à forma de

resolução do contrato de arrendamento no âmbito do processo de Insolvência;

5ª – Assim sendo, a resolução prevista no nº 5 do artº 108, do CIRE, não obedece a forma especial, bastando para o efeito que a declaração chegue ao destinatário e este tome dela conhecimento, como no caso em apreço se verificou;

6ª – Ao não contestar a resolução do contrato de arrendamento com efeitos a partir do dia 30 de Junho de 2007, ao não fazer a entrega do locado e ao continuar a não pagar as rendas vencidas, a Administradora da Insolvência responde, nos termos do artº 59 do CIRE pelos danos causados ao recorrente;

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Insolvência assumiu as obrigações contidas no CIRE, designadamente as do artº 55 e as contidas na Lei nº 32/2004, de 22 de Julho – Estatuto da Administradora da Insolvência;

8ª – E, no âmbito dessas funções sabia que a renda do locado já não era paga desde a que se venceu em Julho de 2006 e ao não fazer a entrega do mesmo em 1 de Julho de 2007, sabia que causava sérios prejuízos ao recorrente, uma vez que em sede de reclamação de créditos apenas podia reclamar rendas vencidas e não pagas até à prolação da Sentença que decretou a

Insolvência.

9ª – E, conforme despacho de destituição, a Administradora de Insolvência também não cumpriu com qualquer outro dos deveres que lhe estavam acometidos por lei e estatuto;

10ª – O locado foi entregue ao recorrente no dia 22 de Janeiro de 2010, não por iniciativa da recorrida ou de qualquer Administrador de Insolvência entretanto nomeado após destituição da recorrida, mas no prosseguimento de execução para entrega de coisa certa, porque senão ainda estaria à ordem da Administradora, entretanto nomeada;

11ª – A inobservância dos deveres que assumiu ao aceitar a nomeação como Administradora de Insolvência, designadamente os contidos no artigo 108º do CIRE, no que à denúncia ou resolução do contrato de arrendamento diz respeito e que eram de sua exclusiva competência, causaram um prejuízo de pelo menos 170 500,00€ ( cento e setenta mil e quinhentos euros) ao recorrente; 12ª – Diz o nº 3 do artº 108º do CIRE, que mesmo que a Administradora de Insolvência, ora recorrida tivesse optado, pela denúncia nos termos do nº 1 cabia-lhe pagar as rendas até efectiva entrega. Ora,

13ª – Ao não denunciar o contrato de arrendamento, ao não entregar o locado após notificação da resolução operada nos termos do nº 5, do artº 108º do CIRE e ao não pagar qualquer renda, constituem actos de violação gravosa dos deveres que lhe incumbiam e nos termos do nº 1 do artº 59º do CIRE a Administradora da Insolvência, ora recorrida, responde por esses danos causados ao recorrente.

Juntas as competentes alegações, a fls. 301 a 310, formulou a apelante Massa Insolvente “ L “ as seguintes conclusões :

1) Não tendo o Tribunal “a quo”, quer em sede de Despacho Saneador, quer no âmbito da

Sentença, conhecido a matéria de excepção invocada pela 1ª R., circunscrita à falta de citação da Massa Insolvente e à contradição entre o pedido e a causa de pedir, conduz a que se verifique o vício de falta de fundamentação, que o Tribunal está obrigado a conhecer, por força do artº 208º da CRP e 158º do CPC, sob pena de, caso contrário, ser causa de nulidade da sentença, nos termos da alínea b)- do nº 1 do artº 668º do CPC;

2) E não tendo resolvido as excepções atrás referidas, o Tribunal “ a quo” violou ainda o nº 2 doa rtº 660º do CPC;

3) Em face dos elementos dos autos, não se mostrando identificada a Massa Insolvente no cabeçalho da acção, não podia, como é óbvio ter sido citada para a acção;

4) Para além disso, em face da matéria articulada pelo A. verifica-se contradição entre o pedido e causa de pedir, já que em parte alguma do petitório se invoca o nome da Massa Insolvente, ainda que venha, nas conclusões da acção, a ser objecto do pedido de condenação, à revelia do disposto na al. a) do nº 1 do artº. 467º e do artº 664º do CPC

5) A sentença ora posta em crise, ao condenar a Massa Insolvente, solidariamente com o fiador no pagamento das rendas vencidas e não pagas mostra-se, também, nula, nos termos do disposto no art.º 668.º do CPC e desenquadrada do disposto nos artºs. 51º, 128º e 178º do CIRE.

(5)

diferente do que decidiu, pelo que deve o presente recurso ser julgado procedente, revogando-se a decisão recorrida.

Não houve resposta a qualquer dos recursos. II – FACTOS PROVADOS.

Encontra-se provado nos autos que :

1) Por contrato reduzido a escrito em 4 de Outubro de 2001, o Autor deu de arrendamento a “L, Ldª”, com inicio em 1 de Janeiro de 2002, e pelo prazo de um ano, renovável, o prédio urbano– alínea A) da matéria de facto assente;

2) A renda acordada foi de € 5.985,57 (cinco mil, novecentos e oitenta e cinco euros e cinquenta e sete cêntimos) mensais, a pagar no primeiro dia útil do mês anterior aquele que disser respeito, nos escritórios do Autor – cfr. cláusula IV do contrato de arrendamento – alínea B) da matéria de facto assente.

3) No contrato de arrendamento referido em 1., actuaram como fiadores o 2º réu, e B e nos termos da clausula X do contrato de arrendamento, obrigou-se o 2º réu ao integral cumprimento do mesmo e ao pagamento das rendas, tanto no prazo da sua vigência, como nas suas revogações e

alterações – Alínea C) da matéria de facto assente;

4) A renda inicialmente paga sofreu os aumentos estabelecidos na lei, sendo que em Março de 2006 era de € 6.591,24 (seis mil, quinhentos e noventa e um euros e vinte e quatro cêntimos) – Alínea D) da matéria de facto assente.

5) Autora e arrendatária, devido às dificuldades económicas desta, acordaram reduzir a renda que vinha sendo paga, para € 5.500,00 (cinco mil e quinhentos euros) mensais a partir da que se venceu no dia 1 de Abril de 2006 – alínea E) da matéria de facto assente.

6) Por decisão de 15.02.2007, L, Ldª, foi declarada insolvente – Alínea F) da matéria de facto assente.

7) Em 2 de Março de 2007 o Autor requereu a notificação judicial avulsa da arrendatária e fiadores, alegando o decurso do prazo de mais de três meses sobre a data em que a requerida omitiu o primeiro pagamento devido, pelo que alegando tornar-se inexigível ao requerente a manutenção do contrato de arrendamento, declarava por essa via, resolvido o contrato de arrendamento. O

segundo réu e a terceira ré foram notificados na sequência do requerido pelo autor, em 16 e 17 de Abril de 2007, respectivamente – artigo 3º da Base Instrutória.

8) A autora teve conhecimento que a arrendatária se havia apresentado à insolvência em 13 de Novembro de 2006 –artigo 4º da Base Instrutória

9) Em 23 de Maio de 2007, o Autor, através do seu mandatário, enviou uma carta registada com aviso de recepção à primeira ré, na qualidade de Administradora de Insolvência de L, Ldª,

notificando-o para a resolução do contrato de arrendamento, com efeitos a partir de 30 de Junho de 2007[1], data em que requeria que o locado fosse entregue livre e devoluto, conforme consta do doc. de fls. 38-39, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido – artigo 5º da Base Instrutória. III – QUESTÕES JURÍDICAS ESSENCIAIS.

São as seguintes as questões jurídicas que importa dilucidar :

1 - Apelação da Ré. Da falta de citação da Massa Insolvente. Nulidade do processado. 2 - Não conhecimento da apelação apresentada pelo A..

Passemos à sua análise :

(6)

Alega a apelante que :

Não tendo o Tribunal a quo, quer em sede de Despacho Saneador, quer no âmbito da Sentença, conhecido a matéria de excepção invocada pela 1ª R., circunscrita à falta de citação da Massa Insolvente e à contradição entre o pedido e a causa de pedir, conduz a que se verifique o vício de falta de fundamentação, que o Tribunal está obrigado a conhecer, por força do artº 208º da CRP e 158º do CPC, sob pena de, caso contrário, ser causa de nulidade da sentença, nos termos da alínea b)- do nº 1 do artº 668º do CPC e E não tendo resolvido as excepções atrás referidas, o Tribunal “ a quo” violou ainda o nº 2 doa rtº 660º do CPC;

Em face dos elementos dos autos, não se mostrando identificada a Massa Insolvente no cabeçalho da acção, não podia, como é óbvio ter sido citada para a acção;

Para além disso, em face da matéria articulada pelo A. verifica-se contradição entre o pedido e causa de pedir, já que em parte alguma do petitório se invoca o nome da Massa Insolvente, ainda que venha, nas conclusões da acção, a ser objecto do pedido de condenação, à revelia do disposto na al. a) do nº 1 do artº. 467º e do artº 664º do CPC

A sentença ora posta em crise, ao condenar a Massa Insolvente, solidariamente com o fiador no pagamento das rendas vencidas e não pagas mostra-se, também, nula, nos termos do disposto no art.º 668.º do CPC e desenquadrada do disposto nos artºs. 51º, 128º e 178º do CIRE.

Vejamos :

A presente acção foi formalmente interposta contra Administradora de Insolvência – ( a título

pessoal, atendendo à alegada violação dos seus deveres funcionais e por referência ao artº 59º, do CIRE ) ; C e B ( na qualidade de fiadores da arrendatária ).

Considerando o elenco de Réus apresentado pelo A. na sua petição, não é concretamente

demandada nesta acção de despejo a arrendatária do imóvel, ou seja, a Massa Insolvente das “ L, Lda. “, representada pela respectiva administradora da insolvência.

Porém, aquando da formulação do pedido, o A. pede que se decrete a resolução do contrato de arrendamento relativo ao prédio que identifica e, de forma surpreendente, concluiu pela

condenação solidária da “ Massa Insolvente e os Réus Fiadores a pagarem ao A. as rendas vencidas e não pagas no valor de € 66.000,00 ( sessenta e seis mil euros ) “, pedindo a condenação da Administradora a “ despejá-lo imediatamente e a entregá-lo livre e devoluto “. Citada a Administradora de Insolvência, veio esta, na sua contestação, suscitar precisamente a falta de citação da Massa Insolvente ( respectivos artsº 1º a 13º ).

Apresentou o A. resposta, pugnando pela inexistência da apontada nulidade.

Aquando do saneamento dos autos, rigorosamente nada foi dito a este propósito, ocupando-se o Tribunal apenas e só da apreciação das excepções da ineptidão da petição inicial e de

ilegitimidade, igualmente suscitadas pela Ré Administradora da Insolvência ( cfr. fls. 179 a 183 ). Assim sendo,

Constitui irrefutável evidência que a presente acção de despejo não foi formalmente intentada contra a arrendatária, a Massa Insolvente das “ L, Lda. “, representada pela pessoa legalmente idónea.

Insiste-se que,

No cabeçalho da petição apenas constam como RR. Administrador de Insolvência – ( demandada a título pessoal ) ; C e B ( enquanto fiadores da aqui ausente locatária ).

Por outro lado,

Ao longo do seu articulado não existe uma única referência à responsabilidade contratual da Massa Insolvente das “ L, Lda. “.

(7)

Com efeito,

Os artsº 1º a 8º, da petição inicial, reportam-se às vicissitudes relacionadas com a falta de pagamento de rendas no contrato de arrendamento firmado com “ L, Lda. “.

Os artsº 9º a 17º, da petição inicial incidem sobre a responsabilidade, a título pessoal, do Administrador da Insolvência, contra o qual é dirigido pedido de condenação.

Os artsº 18º a 22º, da petição inicial, encerram conclusões jurídicas, sem se aludir sequer minimamente à responsabilidade da Massa Insolvente das “ L, Lda. “.

Neste contexto e sequência,

Cumpre reconhecer que não foi nunca efectivada a citação da Massa Insolvente das “ L, Lda. “, não se podendo confundir a citação realizada na pessoa da Administradora de Insolvência –, que foi demandada a título pessoal, tendo por base o preceituado no artº 59º, do CIRE, com a sua ( omitida ) citação enquanto representante da Massa Falida das “ L, Lda. “.

Registe-se, ainda, que

na arguição de nulidade que suscitou a fls. 133 a 134, ainda na fase processual dos articulados, a 1ª Ré identifica-se como “ A Administradora de Insolvência, , que foi da massa insolvente da sociedade L “, o que inculca a ideia de que, na pendência dos autos, terá perdido inclusivamente quaisquer poderes representativos em relação à dita Massa Insolvente.

Confirmando este facto, o próprio A., no seu requerimento de despejo imediato, apresentado em 30 de Abril de 2008 ( cfr. fls. 120 a 121 ), refere que : “ …o Administrador da Insolvência, que

actualmente é o…., por destituição da …,… “.

O que significará que, antes do saneamento do processo já a Massa Insolvente das “ L, Lda. “ não seria sequer representada pela Ré ….

Daqui resulta que durante parte substancial do processo - mormente na fase de saneamento e da ulterior discussão e julgamento - a contenda prosseguiu sem que a Massa Insolvente das “ L, Lda. “ - para além de nunca haver sido devidamente citada -, tivesse nos autos algum representante legalmente habilitado a exercer os seus elementares direitos de defesa.

Trata-se dum flagrante e insuprível violação dos direitos de defesa e dos basilares princípios do contraditório e da igualdade entre as partes.

Em suma,

nenhuma entidade pode ser condenada

sem ter sido formalmente referenciada como Ré ;

sem ter sido devidamente citada para exercer os seus direitos de defesa ;

sem que lhe tenha sido imputada a prática de factos susceptíveis de fundamentar a sua responsabilização ;

sem se encontrar representada pela entidade legalmente idónea para o exercício dos seus direitos de defesa, tratando-se duma pessoa colectiva.

Referiu-se, a este propósito, na decisão recorrida :

“Pelas rendas vencidas e não pagas até ao momento, é responsável a Massa Insolvente. Ora, a Massa Insolvente não consta como parte nos autos, no cabeçalho da petição inicial, mas apenas o Administrador da Insolvência. Contudo, a circunstância de ter sido deduzido um pedido de

condenação solidária da Massa Insolvente e um outro pedido, distinto contra o Administrador de Insolvência, e por responsabilidade pessoal deste e não da Massa Insolvente, leva-nos a concluir que a não alusão expressa à Massa Insolvente se deveu a mero lapso e nesse sentido tem de ser considerado.

(8)

Pelo exposto, deve a Massa Insolvente ser condenada e solidariamente com o réu C, a título de rendas vencidas e não pagas, no montante de 66.000,00.

Ante a decretada a resolução do contrato de arrendamento é manifesto que não existe fundamento para que o locado mantenha-se na posse da Massa Insolvente, razão pela qual, é também de proceder o pedido de condenação do Administrador da Insolvência no pedido de entrega do imóvel livre e devoluto, e do Administrador, porque é este que tem poderes de administração e de guarda de todos os bens que estão na posse da Massa Insolvente. “.

Não podemos sufragar de modo algum, pelos motivos expostos, a perspectiva perfilhada pelo juiz a quo.

A falta de citação duma parte - cuja condenação é contraditoriamente pedida na petição inicial - não pode, de maneira nenhuma, ser tratada como um mero lapso de escrita, subsumível à previsão do artº 249º, do Código Civil.

A intervenção da Ré, que foi demandada a título pessoal nos autos, não tem virtualidade para operar a sanação deste vício, nos termos do artº 196º, do Cod. Proc. Civil.

Logo,

A falta de citação da Ré acarreta inexoravelmente a nulidade de todo o processado, nos termos dos artsº 195º, alínea a), e 194º, do Código de Processo Civil, salvando-se apenas a petição inicial. O que se declara.

De notar, ainda, que encontrando-nos num âmbito dum processo especial previsto Decreto-lei nº 108/2006, de 8 de Junho, em que se encontram reforçados o princípio do inquisitório no domínio processual e os poderes de direcção do juiz[2], o qual, nos termos do respectivo artº 4º deverá “ adoptar a tramitação processual adequada às especificidades da causa e adaptar o conteúdo e a forma dos actos processuais ao fim a atingir ( alínea ) ) “, afigura-se-nos absolutamente curial - com vista a evitar futuras ( e sempre indesejáveis ) anulações do processado - que o A. seja convidado a apresentar, no prazo a fixar pelo juiz a quo, nova petição em que claramente :

1º - Faça figurar como Ré a Massa Insolvente das “ L, Lda. “ ;

2º - Identifique a pessoa do respectivo representante legal, que deverá ser citado nessa estrita qualidade.

3º - Distinga inequivocamente os factos que, constituindo a causa de pedir, se refiram à responsabilidade da Massa Insolvente das “ L“ daqueles que, realizados pela anterior Administradora da Insolvência, conduzem à sua eventual responsabilização pessoal.

4º - Concretize o seu pedido, de forma clara e rigorosamente, em consonância com as rectificações indicadas supra.

2 - Não conhecimento da apelação apresentada pelo A..

Face à declaração de nulidade do processado a partir da, fica prejudicado o conhecimento da apelação interposta pelo A..

IV - DECISÃO :

Pelo exposto, acordam os Juízes desta Relação em julgar procedente a apelação apresentada pela Massa Insolvente das “ L, Lda. “ e, em consequência, declarar nulo todo o processado a partir da petição inicial ; considerar prejudicado o conhecimento da apelação apresentada pelo A..

Custas pela parte vencida a final. Lisboa, 30 de Novembro de 2010.

(9)

Luís Espírito Santo Gouveia Barros Maria João Areias

---[1] E não “ 30.07.2007 “ conforme por manifesto lapso de escrita consta dos “ Factos Assentes “. [2] Consta do respectivo preâmbulo : “ Este regime confere ao juiz um papel determinante, aprofundando a concepção sobre a actuação do magistrado judicial no processo civil declarativo enquanto responsável pela direcção do processo e, como tal, pela sua agilização. Mitiga-se o formalismo processual civil, dirigindo o juiz para uma visão crítica das regras.”.

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