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LOCALIZAÇÃO
DAS
POPULAÇÕES
POBRES
NO
B
RASIL
Fernando Gaiger Silveira
Alexandre Xavier Ywata de Carvalho
Carlos Roberto Azzoni
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Fernando Gaiger Silveira
Alexandre Xavier Ywata de Carvalho Carlos Roberto Azzoni
Bernardo Campolina Antonio Ibarra
E
LOCALIZAÇÃO
DAS
POPULAÇÕES
POBRES
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA)
Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe/USP)
NEAD Debate 12 Copyright © by MDA
Projeto gráfico, capa e diagramação Caco Bisol Produção Gráfica
Revisão técnica Autores
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S587d Silveira,FernandoGaiger.
Dimensão,magnitudeelocalizaçãodaspopulaçõespobresno
Brasil/FernandoGaigerSilveira,AlexandreXavierYwatadeCarvalho,
CarlosRobertoAzzoni[etal...].–Brasília:MDA,IICA,2006.
52p.;21x28cm.(NEADDebate,12).
Váriosautores
PCT/MDA/IICAApoioàsPolíticaseàParticipaçãoSocialno
DesenvolvimentoRuralSustentável.
I.Silveira,FernandoGaiger.II.Carvalho,AlexandreXavier
Ywatade.III.MDA.IVIICA.V.Série.1.População-Brasil.2.Pobreza
–pesquisa-Brasil
CDD362.581
POBRES
NO
B
RASIL
*FernandoGaigerSilveira1
AlexandreXavierYwatadeCarvalho1
CarlosRobertoAzzoni2
BernardoCampolina3
AntonioIbarra4
Abstract
TherecentemphasisonfightingpovertyinBrazilmakesthedeterminationofthe sizeofthetargetedpopulationanimportantissue(Whatistherightpovertyline? Whatistherealsizeofthepoorpopulation?Howmuchmoneyshouldbegivento eachpoorfamily?).Theapplicationofpovertylinesbasedonnationalincome levelstendstoproduceimportantdistortionsattheregionallevel.Usingdatafrom aHouseholdExpenditureSurvey(HES)thatcoveredsomeregionsinBrazil,the paperdevelopsandappliesamethodologytodefinepovertylinesforallregions andurbanareas.Theselinesarebasedonnutritionalrequirements,thusavoiding thepurchasingpowerparityproblem,andtakeintoaccountnon-monetaryincome andin-kindconsumption,aspectsthatareveryimportantattherurallevel.The HESresultsarematchedwithCensusdata,allowingfortheestimationofruraland urbanpovertylinesforBrazilianregions.
Resumo
Aênfaserecentedostrabalhossobrepobrezatemsepreocupadoemdeterminaro tamanhodaspopulaçõespobresqueservemdesubsídioparaosprogramasdecombate àfomeeàpobreza.Sãodiversasasperguntasquetêmsidofeitas:Qualalinhade pobreza?Qualonúmerodepobres?Quantodedinheirodeveserdadoaumafamília pobreparaqueelatenhacondiçõesdesairdalinhadeindigência?Aconstruçãode linhasdepobrezabaseadasemrendanacionalproduz,emgeral,grandesdistorções
* Este trabalho foi desenvolvido na Fipe – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, com o apoio do NEAD – Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural – e do IICA – Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura.
1. Pesquisadores do IPEA. 2. Professor da FEA-USP.
DIMENSÃO, MAGNITUDE ELOCALIZAÇÃODASPOPULAÇÕES POBRESNO BRASIL
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regionais.UsandoinformaçõesdaPesquisadeOrçamentoFamiliar(POF)doIBGE, pesquisaquecobreregiõesurbanas,metropolitanaseruraisdoPaís,esteartigo desenvolveeaplicaumanovametodologiaparadefinirlinhasdepobrezapara diferentesregiões.Estaslinhassãodefinidasapartirderequerimentoscalóricos,de formaaevitaroproblemadaparidadedopoderdecompra.Alémdisso,aPOF pesquisouarendanão-monetáriaeproduçãoparaopróprioconsumo,aspectosque sãodeextremaimportânciaprincipalmentenaárearural.Porultimo,éfeitoum
A
PRESENTAÇÃO7
I
NTRODUÇÃO9
B
ASE DED
ADOS11
M
ETODOLOGIAS DE ESTIMAÇÃO DAS POPULAÇÕES RURAISINDIGENTES
(
EXTREMA POBREZA)
E POBRES13
R
ESULTADOS29
MATCHING POF
XC
ENSO35
E
SPACIALIZAÇÃO DAS POPULAÇÕES INDIGENTES E POBRES39
B
IBLIOGRAFIA49
A
NEXOESTATÍSTICADESCRITIVA DAS VARIÁVEISUTILIZADAS NO MATCHING
A
PRESENTAÇÃO
Ofortalecimentoeaampliaçãodaspolíticaspúblicasdedesenvolvimentorural têmcomoumdeseuspilaresasaçõesvoltadasaocrescimentoemmoldeseconô-micaeambientalmentesustentáveis,cominclusãoejustiçasocial.
Nessecenário,aatuaçãodoMinistériodoDesenvolvimentoAgrário(MDA), ondeaparticipaçãosocialocupalugardedestaque,buscaintegraraspolíticasde reformaagrária,reordenamentoagrário,fortalecimentodaagriculturafamiliare universalizaçãodedireitos–associadasaumaperspectivadegovernovoltadapara ocombateàpobrezarural,comageraçãodeempregoerenda–paraagarantiada segurançaalimentareamelhoriadaqualidadedevidadaspopulaçõesdocampoe dacidade.
Nesseprocesso,ocupamcentralidadeasiniciativasdepesquisadedicadasà produçãodeindicadores,àelaboraçãodemetodologiasinovadorasquepossam refletirequalificaraproduçãodediagnósticoseanálisescadavezmaisconsistentes equerevelemtodaacomplexidadedarealidadedomeiorural,enquantoqualifiquem osprocessosdeformulaçãoeimplementaçãodepolíticas.
Quandooassuntoéespecificamenteapobrezarural,asprincipaispesquisas domiciliarestendemafocalizaressetemaapartirdacoletadeinformaçõessobre osrendimentosespecificamentemonetáriosdafamília,oqueleva,emgeral,auma constataçãodasituaçãodepobrezaemfunçãodaverificaçãodosbaixosníveisde rendamonetáriadaspopulaçõesrurais.
Noentanto,emrazãodasespecificidadesdomeiorural,asinvestigaçõesque embasamessasconstataçõescarecemdeumacomplementaçãotantonoquese refereaodimensionamentodaparcelanão-monetáriadarendadasfamíliasquanto aumaaferiçãomaisconsistentedaproduçãoe,particularmente,dachamadapro-duçãoparaopróprioconsumo,asquaissãoimportantesemqualqueranáliseda realidadedomeiorural.
Otexto“Dimensão,MagnitudeeLocalizaçãodasPopulaçõesPobresnoBrasil” apresentaresultadosdeestudopropostopeloMinistériodoDesenvolvimentoAgrá-rio,pormeiodoNúcleodeEstudosAgrárioseDesenvolvimentoRuraldo(NEAD/MDA) paraaFundaçãoInstitutodePesquisasEconômicasdaUniversidadedeSãoPaulo (Fipe/USP).
DIMENSÃO, MAGNITUDE ELOCALIZAÇÃODASPOPULAÇÕES POBRESNO BRASIL
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Dentreasprincipaisfontes,notrabalhoestãoosdadosdaPesquisadeOrça- mentoFamiliar(POF),emespecialapartirde2002/2003;ocorteamostraldoCen-soDemográfico,de2000;eaPesquisaNacionalporAmostradeDomicílios(PNAD), de1999a2003,comosdadosmaisrecentes.
Ominuciosotrabalhoapresentadofocalizaodimensionamentoeacaracteri- zaçãodosgastosdasfamíliasruraiscomosprincipaisbenseserviços;umaestima-tivadaspopulaçõesruraiscominsuficiênciaalimentar;umaavaliaçãodosgastosnão monetáriosnoorçamentofamiliarenoconsumoalimentar.
Poroutrostermos,apresentaumquadroqualificadodasdiversassituaçõesdas populaçõesrurais,aopermitirque,naconfiguraçãodepadrõesdiferenciadosde consumoededispêndiofamiliar,sejapossívelanalisaraspectoscomoproporçãode dependentesnafamília,recortedegênero,recortegeracional,deníveldeinstrução, deatividadeeconômica,deposiçãonaocupação,dentreoutros.Possibilita,sobre-tudo,identificaraconcentraçãoespacialdapobrezaedaindigência,revelandoas diferençasentrebaixosníveisderendamonetária,pobreza,insuficiênciaalimentar edesnutriçãocrônicaemdiversaslocalidadesbrasileiras.
Trata-se,semdúvida,deuminstrumentaldeanáliseinovadorequemuito acrescentaàsreflexõeseproduçõessobreessastemáticas,trazendoumaferramen-tadesumaimportânciaparaqualificareorientarosprocessosdeimplementaçãoe aperfeiçoamentodaspolíticaspúblicasvoltadasàspopulaçõesrurais,aomesmo tempoemqueajudaadesmistificarasassociaçõescomumentefeitasentremeio ruralepobreza.
Boaleitura!
AdrianaL.Lopes
AimportânciadotemadapobrezanoBrasile,maisespecificamente,daidenti- ficaçãodaspopulaçõesemsituaçãoderiscoalimentar,podesermedidapelareper-cussãoqueteveaimplantaçãodoProgramaFomeZeroeosdebatesqueesteensejou. TalprocessolevouoGovernoFederalaalteraraabordagemdaquestão,unificandoos programasdetransferênciaderendaedecombateàfomenoBolsaFamília.Emjunho último,oBolsaFamíliaatendeua11,2milhõesdefamílias,em5560municípios,to-talizandoR$682milhões.Soma-seaissoosbenefíciosconcedidospeloBolsaEscola, peloBolsaAlimentação,peloCartãoAlimentaçãoepeloAuxílioGásque,juntos,atin-giramemjunhoúltimo1,5milhõesdefamílias,comumdesembolsototaldaordem deR$25milhões.
Pode-seconsiderarqueexistemduasmaneirasdemensuraraspopulaçõesem situaçãodepobrezaextrema,ouseja,aquelaspessoasqueseencontramemsituação deinsegurançaalimentar.Emumadelasseassociaapobrezadiretamenteàfomee àdesnutrição,utilizando-seosindicadoresdeprevalênciadadesnutriçãoinfantilede desnutriçãocrônica.Taisindicadoressãocalculadoscombasenasmedidasantropo-métricasdaspopulaçõesdecriançasmenoresde5anosedeadultosmaioresde18 anos.Efetivamente,verifica-se,noprimeirocaso,oquantoaparticipaçãodecrianças combaixaestaturasuperaoqueéconsideradonormal.Nosegundo,demodosimilar, estima-seapopulaçãocomdeficiênciaenergéticacrônicacombasenaproporçãode indivíduosmagros(índicedemassacorporalinferiora18kg/m2),queempopulações emquesabidamenteinexisteoproblemadafomeestasesituaaoredorde5%.Se-gundodadosdePaesdeBarros(2000),enquantoapopulaçãoindigentenoBrasilera, em1999,daordemde14,5%,asestimativasdesubnutriçãoinfantilsituavam-seao redorde6%.Osdadosantropométricosdapopulaçãoadulta,coletadospelaPesquisa deOrçamentosFamiliares(POF)de2002-03,nãoapontaramaprevalênciadedéficits depeso–participaçõessuperioresa5%deindivíduosmagros–noPaís,salvopara asmulheres,especialmenteaquelasresidentesnomeioruralnordestino(7,2%).Em junhoúltimoforamdivulgadososdadosdaPOF2002-03referentesàantropometria dascriançaseadolescentes,comaprevalênciadedéficitdepesosegundoaidadedas criançasmenoresde5anosficandoem4,6%,comaregiãoNorte,naqualesteindi-cadoratingiu8%,destoandodorestantedoPaís.
Outraformadedimensionaraspopulaçõesindigentes,ouseja,dedeterminar omontantedefamíliascomdificuldadesdegarantiraalimentaçãocotidianaéesta-belecerovalordarendaquepermitaatenderàsnecessidadesbásicasdasfamílias, particularmenteasalimentares.Nestecaso,podemserutilizadasduasabordagens:de umlado,aquelasqueempregamcomorendasmínimasvaloresfixos,sejamparcelas
DIMENSÃO, MAGNITUDE ELOCALIZAÇÃODASPOPULAÇÕES POBRESNO BRASIL
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dosaláriomínimo–atualouvalorrealdeoutroperíodo–,sejamvalores“internacio-nalmente”definidos–comoUS$1ajustadoaopoderdecompralocaldoBanco Mundial;deoutro,asqueestimamessesvaloreslimitescombasenosdadosdocon-sumoalimentarobservado.Estaéabordagemutilizadanopresenteestudo.Ambasas abordagensdeterminamaschamadaslinhasdeindigênciaoudepobrezaque,emum segundomomento,serãocotejadascomosrecebimentosapuradosnaspesquisas domiciliares,especialmenteaquelasdemaioramplitudeterritorialetemporal.
Assim,nopresenteestudoconsideram-secomodeextremapobrezaepobreza asfamíliasqueseencontramnasseguintessituações:famíliasqueapresentamrenda inferioraonecessárioparacobrirgastosalimentares,cujadisponibilidadecalórica atendeaomínimorequerido;famíliascomrendainsuficienteparaadquirirosbens
básicosemmoradia,transporte,vestuárioe,emalgunscasos,saúdeeeducação5da
família.6
Dimensionareapontaraconcentraçãoespacialdaindigênciaedapobrezasão osprincipaisobjetivosdopresentetrabalho.Paratanto,emprega-searelaçãoentrea disponibilidadecalóricaearendaparadefiniraspopulaçõescominsuficiênciade renda,para,deumlado,cobrirosgastosalimentaresquefornecemtaldisponibilida-dee,poroutro,cobrirasnecessidadesbásicas.Tendoemcontaqueadefiniçãodas linhasdeindigênciaepobrezabemcomodaspopulaçõesnessassituaçõesérealizada combasenaPOF,cujasubenumeraçãodasrendasébemmenordoqueaquelaincor-ridaemoutrasinvestigaçõesdomiciliares,decidiu-semudaraformadeespacializara pobreza,empregando,paratanto,técnicasdeassociaçãoentrepesquisascombase emumconjuntomaisamplodeindicadoressocioeconômicosedemográficos.Ficam, ainda,pendentesosmétodosparaacompanharocomportamentodosindicadoresde pobrezaeindigência,quenãoserestrinjamaocotejamentoentreasrendasevalores atualizadosdaslinhasdeindigênciaepobreza.
Otrabalhoestáorganizadoemcincotópicos,alémdessaintrodução.Osegundo tratadabasededados,apresentandosumariamenteasprincipaiscaracterísticasda POF.Noterceirotópicosãoapresentadasasescolhasmetodológicasparaaestimação daspopulaçõesindigentesepobres,comparando-seametodologiapropostapela ComissãoMistaIPEA-CEPAL-IBGE(ouComissãodePobreza)comaaquiapresentada. CabedestacarqueassugestõesdaComissãoforam,emgrandemedida,incorporadas aopresenteestudo.Notópico4encontram-seosresultadosdasestimativasdefamílias indigentesepobresnaPOF.Nosdoisitensseguintesdiscutem-seametodologiade espacializaçãodaindigênciaepobrezae,porfim,apresentam-seosresultadosdo esforçodediscriminaçãosegundodomíniogeográfico.
5. Não considerar os gastos em saúde e educação se deve ao fato de que cabe ao Estado fornecer, aos cidadãos, educação básica e saúde gratuita – este é um direito do cidadão e obrigação do Estado.
6. Como se pode notar, os conceitos de suficiência, de mínimo requerido e necessidades básicas são comumente utilizados para determinar as situações de indigência – extrema pobreza – e pobreza. Ora, tais conceitos são, muitas vezes, subjetivos, arbitrários, histórico-culturais e políticos, indicando que tais medidas não são definitivas e tampouco absolutas.
AfontededadosdomiciliaresutilizadanopresentetrabalhoéaPesquisade OrçamentosFamiliares,comumenteconhecidaporPOF,realizadapeloIBGEentre julhode2002ejunhode2003.APOFprocuraaferiraqualidadedevidadafamília brasileira,oumelhor,operfilsocioeconômicodapopulaçãopormeiodesuasestrutu-rasorçamentáriaederecebimentos.(IBGE,2004b).
AcoletadedadosdaPOF2002-2003foifeitapormeiodeseisquestionários, cobrindo,respectivamente:a)informaçõessobreascondiçõesdodomicílio–abaste-cimentodeágua,infra-estruturasanitária,númerodecômodos,condiçãodeocupação etc.–eascaracterísticasdosindivíduos–sexo,níveldeinstrução,idade,freqüência àescola,peso,altura;b)dadosreferentesàsdespesascoletivas,ouseja,comserviços públicos,aluguéis,taxas,decoração,melhoriasereformasdodomicílio,bensdecon-sumoduráveiseserviçosdomésticos;c)cadernetadedespesacoletiva,queengloba alimentaçãoehigieneelimpeza;d)gastosindividuaiscomvestuário,saúde,educação, higienepessoal,transporteetc.;e)osrecebimentos(salariaisenão-salariais)reportados individualmente;ef)avaliaçãosubjetivadascondiçõesdevidadasfamílias.Nasinfor-maçõessobreasdespesascoletivaseindividuaishádiferentesperíodosdereferência, taiscomo7,30e90diase12meses,adependerdotipodegasto–sazonalidade, freqüência,facilidadederecordaçãoetc.Adatadereferênciadapesquisaé15deja-neirode2003,comtodososvalorescorrigidosparaessadata.
ValedestacarqueanovaPOFtambémlevantouasdespesaserecebimentos não-monetários,fatoqueenriqueceaanáliseereabrenovosrumosnodebatesobre ainsuficiênciaderendaparamensurarototaldeindigentesepobresnoBrasil.Esta informaçãoédegranderelevânciapostoqueatingeatodasascamadassociais.A produçãoprópriaeotrabalhodafamílianomeiorural,eaaçãodasredesdeproteção social,especialmentenasmédiasegrandescidades,sãoexemplosdaimportânciade seinvestigaressasdespesas.
AamostradaPOFabrangeu48.470domicílios,onderesidiam182.333pessoas, representando0,1%dototaldedomicíliosdoPaís.Seudesenhoamostralpermite análisespara70domíniosgeográficos,asaber:paraaspopulaçõestotaiseurbanas das27unidadesdafederação,asáreasruraisdascincograndesregiões,asnovere- giõesmetropolitanas–PortoAlegre,Curitiba,SãoPaulo,RiodeJaneiro,BeloHorizon-te,Salvador,Recife,FortalezaeBelém–,acidadedeGoiâniaeoDistritoFederal.
Ametodologiaaquipropostavisaestimaradimensãodaindigência(extrema pobreza)edapobrezanoBrasilcombasenaPesquisadeOrçamentoFamiliar(POF), para,posteriormente,associarosresultadosaosdadosdaAmostradoCenso2000,com oobjetivodediscriminarespacialmenteosresultados.Assim,aidéiabásicaéutilizar, emumaprimeiraetapa,modelosderegressãonão-paramétricaparaobterumaestima- tivadosvaloresdaslinhasdeindigênciaedepobrezaparadomíniosgeográficossele-cionados.Emseguida,asfamíliasque,naPOF,seencontramemsituaçãodeindigência epobrezasãocaracterizadasdemográfica,socialeeconomicamente,comvistasaveri- ficaremquemedidataiscaracterísticasestãocorrelacionadasaindigênciae/ouapo-breza.Tendosidoselecionadasasvariáveisdeterminantespormeiodeummodelologit, realiza-se,emseguida,oemparelhamentoentreaPOFeoCenso.
E
STÁGIO ATUAL DO CÁLCULO DA LINHA DE EXTREMA POBREZA–
INDIGÊNCIAOsrequerimentoscalóricosmínimos
Nametodologiadeestimaçãodepopulaçõesindigentesepobresrealiza-se,em umprimeiromomento,aseleçãodeestratospopulacionaisqueapresentemgastos alimentarescujoconteúdocalóricoatendaàsrecomendaçõesmínimas.Dentreosprin-cipaisestudossobrerequerimentoscalóricosnecessáriosaumaalimentaçãoadequada executadosnasúltimasdécadasencontram-seosrealizadospelaFAO/WHO/UNUem 1974,erevistosem1985,nosquaissãorecomendadas2.236quilocaloriasdiáriaspor pessoa.Odocumentonãoabordaaquestãodadiferençaentreresidentesemáreas rurais,urbanasnão-metropolitanasemetropolitanas,ondeatividadeslaboraisespecífi-caspoderiamdeterminardistintasnecessidadescalóricas.Alémdisso,aalimentação temumcomponenteetário,umavezquesãobastantediversasasnecessidadesde energiadeumacriança,deumadolescenteedeumidoso.Infelizmente,oestudosu-pracitadorecomendaaadoçãodeumúnicovalorparatodasasfaixasetárias.
Assimsendo,aadoçãodemedidasdeequivalêncianoprocessodeestimação delinhasdeindigênciaepobrezaéumamaneiradetrataressasdiferençasalimen-taressegundoosexoeaidade.Ademais,érelativamenteconsensualautilizaçãode umaescaladeequivalência,hajavistaoenormebenefícioquetalprocedimentotraz paraarealizaçãodeestimativassobreaextremapobreza.Seriaerrôneopensarque cadaindivíduo,independentedaidadeesexo,temasmesmasnecessidadesalimen-
taresecalóricas.Nestesentido,decidiu-seutilizaraescaladediferenciaçãodeneces-M
ETODOLOGIAS
DE
ESTIMAÇÃO
DAS
POPULAÇÕES
RURAIS
INDIGENTES
DIMENSÃO, MAGNITUDE ELOCALIZAÇÃODASPOPULAÇÕES POBRESNO BRASIL
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sidadesenergéticaspropostapelaCEPAL,naqualsãodiscriminadasoitofaixasetárias, bemcomoosexo,comohomemadultoservindodeparâmetroparaafaixaetária de18a30anos.
Tabela 1
Tabela de Consumo Energético – CEPAL
Faixaetária Masculino Feminino
Abaixode1ano 0.269 0.249 de1a3anos 0.494 0.461 de4a6anos 0.640 0.577 de7a9anos 0.736 0.650 de10a13anos 0.812 0.717 de14a17anos 0.974 0.762 de18a30anos 1.000 0.721 de31a60anos 1.001 0.739 Maisde60anos 0.843 0.678
Fonte:Rocha(2001).
Atabelaacimatemservidocomoreferênciaparaalgunsestudos.Contudo,cabe salientarquenãosetratadeumaescaladeequivalência“strictosensu”,masdaforma comoascaloriasconsumidassediferenciaramporfaixaetáriaesexo.Autilizaçãode umaescaladeequivalência,qualquerqueelaseja,temcomoefeitoprincipaloau-mentodototaldecaloriaspercapita eaconseqüentediminuiçãodogrupodereferên- cia,oqueresultaemlinhasdeindigênciamaisbaixas.Outropontoquemerecedes-taquenousodeescalasdeequivalênciaéqueelassereferemapenasaoscomponentes alimentares,ouseja,apenasàslinhasdeindigência.Nocasodaslinhasdepobreza,tal escalanãodeveserutilizadaporquenãoexistemrazõesparaseacreditarqueadife-renciaçãonadistribuiçãodasoutrasdespesassigaestemesmoraciocínio.
Oprincipaldeterminantenaconstruçãodelinhasdeindigênciabaseadaem requerimentosenergéticosestánacomposiçãodacestadealimentosparaatingirtais necessidades.Pode-seoptarporconstruirlinhasutilizandotodos osalimentosadqui-ridospelasfamíliasnogrupodereferênciaoupelaconstruçãodecestasdealimentos. Oprimeiroprocedimentopareceomaisrecomendávelporregistraroquerealmente foiadquirido,enquantoqueosegundoenvolveriaaquestãodecritériosaserem adotadosparacomporumacestaqualquer.Oargumentocontrárioàutilizaçãode todososprodutosregistradosnasPOFsderivadadificuldadedeatualizaçãodeseus valoresaolongodotempo.Averdadeéqueaatualizaçãodosvalorespormeiodo INPC-AlimentaçãoparaaslinhasdeindigênciaedoINPC-Geralparaasdepobreza parecenãoprovocargrandesdistorções,adespeitodamudançadehábitosdecon-sumodapopulaçãobrasileira.
lorias/diaporpessoa),ajustandoasquantidadesdosprodutosdemaiorrepresentati-vidadenaPOF.Concretamente,emumprimeiromomento,selecionam-seosprodutos commaiorrepresentatividadenogastoenadisponibilidadeenergética,equeatendam aessanecessidadeenergéticamínima.Emumasegundaetapa,excluem-seosalimen-tos“querepresentamumaingestãoinferioraumacaloriapordia”,ajustando-se,por fim,asquantidadesdemodoagarantiraingestãocalóricarecomendadaemconso- nânciacomodomíniogeográfico.Esteprocedimentoparacomporuma“cestaajus-tada”temcomoprincipalfundamento“obteracestaalimentardemenorcustoeque permitaoatendimentodessasnecessidades”(energéticasmédiasdecadaáreade análise)(ROCHA,2003,p.54).7Logo,este“ajustamento”fazcomque,partindodeum
númeromenordeprodutos,sejamalteradasasquantidadesparaqueasfamíliasatin-jamototaldecaloriasrecomendadas,tendo,noentanto,comopropósitocentral construirumacestamaisbarata,conformesugereaprópriapesquisadora.Valesubli-nharqueaoescolherosprodutosqueiráconsumir,afamíliaestámaximizandouma função-objetivoqueexpressaoseuconjuntodepreferênciasdeconsumo,consideran-do-searestriçãoorçamentária.Noentanto,oajusteparaumacestadevalormais baixo,deformaaatingiranecessidadecaloriasnecessárias,somentefariasentido casoafunção-objetivo“ingestãocalórica”coincidissecomaquelabaseadanosistema depreferências.Umaconseqüênciaimediataéqueseestariaassumindo,implicita-mente,quetodasasfamílias(oupelomenosasmaispobres)deveriamteromesmo sistemadepreferências.Portanto,ametodologiabaseadanoajustedacestadevalor mínimonãoparecefazersentidodopontodevistademaximizaçãodeutilidade.
ATabela2apresentaasrecomendaçõescalóricasmínimas(emKcal/diaper capita )apontadaspelaCEPAL(1996)easelaboradasporTâniaLustosa(1999).Perce-be-sequeosvaloresestimadosporLustosasãosempreinferioresaosdasCEPAL, salvonocasodoSulRural.Porémasdiferençassãodepequenamonta.Nãoobstante isto,decidiu-seempregarasrecomendaçõesdaCEPAL,porsuatradiçãonessaárea deestudoepelofatodeaadoçãodapropostadeLustosaimplicaremmenorespopu-laçõesindigentesepobres.
Oempregodequintosmóveis
Qualogrupopopulacionalqueatingeoconsumocalóricoadequadocomome-norgastoalimentar?Arespostaaessaperguntadefineovalordalinhadeindigência. Umadasmaneirasdeseestimarosgrupospopulacionaisparacadacontextoéutilizar ametodologiadequintosmóveis.Aadoçãodestametodologiaprocuraequacionar algumasdificuldadesdecorrentesdoformatodaPOF.Estapesquisainvestigaosgastos alimentaresnoeforadodomicíliopormeiodoacompanhamentoparipassu dasdes- pesasduranteumasemana.Istoéfeitoparaevitarqueocorramvazamentosdeinfor-mações,ouseja,dosgastosalimentaresque,porseremrecorrentes,sãodedifícil
DIMENSÃO, MAGNITUDE ELOCALIZAÇÃODASPOPULAÇÕES POBRESNO BRASIL 16 coletaquandoseempregammétodosrecordatórios.Aosecoletarosgastosalimenta-resnoperíododeumasemana,osdadosindividuais–porfamília/domicílio–não serãorepresentativosdoconsumoedadespesaalimentar,dadoquenãosãocontabi- lizadososestoques,nemsãoconsideradasasparticularidadesdogastoefetuadona- quelasemanaemfunçãodaépoca(mêseano)emqueadespesaérealizada.Ode- senhoamostraldapesquisaéefetuadodemaneiraafazercomquesejamcontraba- lançadasasdiferençasdeaquisiçãoalimentarentrefamíliassemelhantes,istoé,situ-adasnosmesmosestratosgeográficoederenda.Ditodeoutromodo,sãocoletadas informaçõestantodefamíliasquenadacompraramnoperíododereferência–oque nãosignificaqueseuscomponentesnãosealimentaram–comodeoutrasfamílias querealizaramcomprasparamaisdeumasemana.Cabesublinhar,ademais,que comoapesquisasedesenvolveaolongodeumano,asazonalidadedoconsumode determinadositensalimentaresétambémcontemplada.Assim,ficaevidentequenão sepodetratarcadafamíliaseparadamente,poisainvestigaçãodasaquisiçõesalimen-taresestárelacionadaaumclusterdefamíliassemelhantestantogeograficamente comoporníveisderenda.
Sãotambémadotadosalgunspressupostosrelacionadosaessasparticularidades
dapesquisa.Oprimeiroéodequeasrecomendaçõescalóricassãoatingidasviaali-Tabela 2
Recomendações Calóricas por Domínio Geográfico (emKcals/diapercapita)
Domíniogeográfico CEPAL(1996) Lustosa(1999)
RegiãometropolitanaBelém 2.191 2.160 Norteurbananão-metropolitana 2.191 2.125 Norterural 2.258 2.125 RegiãometropolitanaFortaleza 2.200 2.098 RegiãometropolitanaRecife 2.200 2.126 RegiãometropolitanaSalvador 2.200 2.127 Nordesteurbananão-metropolitana 2.200 2.169 Nordesterural 2.207 2.142 RegiãometropolitanaRiodeJaneiro 2.288 2.233 RiodeJaneirourbananão-metropolitana 2.288 2.246 RiodeJaneirorural 2.318 2.309 RegiãometropolitanaSãoPaulo 2.288 2.233 SãoPaulourbananão-metropolitana 2.288 2.246 SãoPaulorural 2.318 2.309 RegiãometropolitanaBeloHorizonte 2.288 2.233 MG+ESurbananão-metropolitana 2.288 2.246 MG+ESrural 2.318 2.309 RegiãometropolitanaCuritiba 2.313 2.282 RegiãometropolitanaPortoAlegre 2.313 2.284 Sulurbananão-metropolitana 2.313 2.287 Sulrural 2.400 2.408 DistritoFederal 2.259 2.198 Centro-Oesteurbananão-metropolitana 2.259 2.220 Centro-Oesterural 2.328 2.229
mentosadquiridos,monetariamenteounão,nasemanadereferência,poisnãose investigaquaisprodutosforamefetivamenteconsumidos.Osegundopressupostoé queasfamíliascompramoquevãoconsumir,mesmoquenãosejanaquelasemana emespecial.Poder-se-iaargumentarqueoconsumoefetivopoderiaserpesquisado, masistoimplicariautilizarumoutroquestionárioespecífico,onerandoaindamaisa pesquisaesujeitandoosentrevistadosaprocessosextremamenteexaustivos,oque poderiaelevaroriscodeinformaçõesinconsistentes.
Tendoemvistaaslimitaçõesparasetrabalharosdadosalimentaresdemodo individual,oumelhor,porfamílias,umadassoluçõesempregadaséametodologiade quintosmóveis,comaordenaçãodasfamíliassegundosugestãodaComissãoMista IPEA-Cepal-IBGE.Efetivamente,oprimeiroquintomóvelécompostodasfamílias entreos0%eos20%maispobresnadistribuiçãoderenda,enquantoosegundo quintoenglobaasfamíliasde1%a21%,eassimsucessivamenteatéperfazerum totalde81quintosmóveis.Esteprocedimentometodológicogaranteque,numdeter-minadogrupo,existam,simulaneamente,famíliasquenãoadquiriramalimentosna semanadereferênciaefamíliasquecompraramalimentosparaalémdareferidase-mana.Ospassosatualmenteadotadosparaocálculodalinhadepobrezapodemser assimresumidos:
1.ConstruçãodeumabasededadoscomtodasasfamíliasnaPOF.Nessabase, constamasseguintescolunas,paracadafamíliai :númerodepessoasnafa-mília,emequivalentesadultos(ni);totaldarendafamiliar(ri );totaldoconsu-mocalórico(ci)dafamília;dispêndiototaldafamíliacomalimentação(di); númerototaldepessoasnafamília(mi).
2.Apartirdabasedadosacima,calcula-searendafamiliarpercapita(ri/mi)e oconsumocalóricoporequivalenteadulto(ci/ni).
3.Ordenam-seasfamíliaspelarendapercapitaedividem-setodasasfamílias em100grupos,comidênticonúmerodefamíliasemcadagrupo.
4.Paracadaumdesses100grupos(100centésimos),calcula-seamédiado consumocalóricoporequivalenteadultoparaasfamíliasdentrodogrupo, assimcomoarendafamiliarmédiadogrupo.
5.Monta-seumgráficocomessas100médiasdeconsumocalóricoporequiva-lenteadulto,contraas100rendasmédiasdecadagrupoderendascrescentes. 6.Édeseesperarqueessegráficodoconsumopercapita médionãosejacres-centecomas100rendas,oquenãogaranteamonotonicidadedacurva.Uma soluçãoparaissoéfazerumamédiamóvelcom20grupos(dos100)emcada janela.Comisto,obtém-seumasuavizaçãodalinhadeconsumocalóricopor equivalenteadultoversusrendapercapita .Estasuavizaçãoé,então,aestima-tivadográfico(oucurva)consumocalóricoversusrenda.
DIMENSÃO, MAGNITUDE ELOCALIZAÇÃODASPOPULAÇÕES POBRESNO BRASIL
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subscritokparaoconsumocalóricoeparaarendadecorteCkeRk ,defor-maaexplicitaradependênciadessesvalorescomocontextogeográfico específicok.
8.Finalmente,comoúltimoestágionaaferiçãodeindigênciaepobreza,calcula-seovalordamédiaDk,dedespesadifamiliarpercapitacomalimentação, correspondenteàsfamíliascomrendapercapitaemtornodarendadecorte
Rk.Estevalorpodeserentãoconsideradocomoumvalordecortederenda
percapitaaserusadonadefiniçãodepobresouindigentes.
9.Resta,porfim,ajustarasrendasdasdiferentespesquisasparacontemplaros ganhosnãomonetários,ocustodamoradiaprópriaeasubdeclaraçãodos rendimentosafimdecotejarcomosvaloresdefinidoscomolinhasdeindi-gênciaepobreza(Dk).
Valeobservarquesedispõededoisvaloresdecorteparaarendafamíliaper capita,equepodemserutilizadoscomolinhasderendaparadefinirindigênciae pobreza.Aprimeiradefinição,maisafeitaaoconceitodeindigência,éutilizaralinha decorteDk,específicadocontextogeográficok(videpasso(8),acima).Portanto,de acordocomessadefinição,todasasfamíliasquepossuíremrendapercapitaabaixo deDkestariamnogrupodeindigentes.EstaéadefiniçãopropostapelaComissãode PobrezaparaalinhadeindigêncianoBrasil,cabendo,então,paramensuraraspopu-laçõesemsituaçãodeindigênciacotejá-lascomarendadasinvestigaçõesdomiciliares demaioramplitudetemporal–PNADeespacial–AmostradoCenso.Nestecasosão feitosdiversosajustesnasrendasapuradasnessaspesquisas,afimdecontemplaros ganhosnãomonetários,ocustodemoradiaprópriaeassubdeclaraçõesderendimen-tos.Emtermosconceituais,essadefiniçãodepobrezautilizandoovalorDkparaa rendapercapitadecortecorrespondeàsfamíliasque,mesmogastandotodaasua rendanaaquisiçãodebensalimentares,aindaassimnãoconseguiriamconsumira quantidademínimadecaloriasdiárias.
Asegundadefinição,maispróximadoconceitodepobreza,consideraovalor
vadas.Supõe-sequeissoocorraemrazãodeamaiorsegmentaçãodoconsumoali- mentar,amaiorparticipaçãodaalimentaçãoextradomiciliareaexpressivaimportân- ciadasredespúblicaseprivadasdeassistênciasocialdificultaremacaptaçãodaefe-tivadisponibilidadecalórica.
Oconsumoforadodomicílio
APOFconsegueregistrarrazoavelmentebemascategoriasdealimentosque sãocompradasparaconsumonodomicílio,paraosquaisseatribui,comoemprego dastabelasdeconversão,ovalorcalórico.Nocasodaparceladaalimentaçãorealiza-daforadodomicílio,nãoseinvestigaacomposiçãoalimentardasrefeições,ouseja, queprodutoseemquequantidadessãoconsumidos.Assim,umadasdificuldades encontradasnaestimaçãodascurvasdeconsumocalóricoporequivalenteadulto
versusrendafamiliarpercapita énãoseterumaidéiaprecisadototaldecaloriascon- sumidasforadaresidência.Adicionalmente,comobemapontaaTabela3,aalimen-taçãoforadecasatemumaimportânciasignificativa,chegandoarepresentar,em média,1/3dosgastosalimentaresnosmaiorescentrosurbanosdoPaís.ComoaPOF
Tabela 3
Gasto Alimentar fora da Residência por Domínio Geográfico
Domíniogeográfico Participaçãodosgastosalimentares Participaçãodosgastoscomalimentaçãofora narendafamiliar domicílionototaldosgastosalimentares
Brasil 17% 24% Belém 22% 23% Norteurbano 22% 22% Norterural 33% 9% Fortaleza 17% 22% Recife 20% 22% Salvador 18% 31% Nordesteurbano 23% 20% Nordesterural 41% 12% BeloHorizonte 13% 30% MG+ES+RJurbano 17% 25% MG+ES+RJrural 28% 15% RiodeJaneiro 14% 33% SãoPaulo 12% 31% SãoPaulourbano 15% 22% SãoPaulorural 18% 19% Curitiba 13% 32% PortoAlegre 13% 28% Sulurbano 15% 23% Sulrural 26% 14% DistritoFederal 10% 38% Centro-Oesteurbano 15% 22% Centro-Oesterural 26% 12%
DIMENSÃO, MAGNITUDE ELOCALIZAÇÃODASPOPULAÇÕES POBRESNO BRASIL
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registraovalortotalemdinheirogastopelafamílianasrefeiçõesconsumidasforade casa,épossívelestimaroconsumocalóricoforadodomicíliocombasenovalorda caloriaconsumidadomesticamente.Empregaram-se,nopresentetrabalho,duashi-pótesesdeimputaçãodadisponibilidadecalóricacomaalimentaçãoforadecasa:a primeiraconsideraqueacaloriaadquiridaforadodomicíliorepresentaodobrodo valormonetáriodacaloriadentrododomicílio,nasuposiçãodequeoscustoseas margensdelucrodosetordealimentaçãoforadecasaimplicampreçosporcalorias superioresàquelesobservadosnodomicílio;asegundatratacomoidênticososcustos monetáriosdascaloriasdentroefora.Acredita-sequeovalorrealdessarelação(calo-riaforaversuscalorianaresidência)devevariardeacordocomocontextogeográfico, masnãodeveficarforadointervaloentre1e2.
EstimaçãodepobresnaPNADeCenso
Estimadososvaloresdaslinhasdeindigênciaedepobreza,combasenosdados deconsumoalimentardaPOF,opróximopassoconsisteemobterestimativasdiscri-minadasgeograficamenteeaolongodotempodaspopulaçõesindigentesepobres. TendoemvistaqueaPOFnãocontacomumadiscriminaçãoespacialampla,etem suarealizaçãorestritatemporalmente,emprega-secomumenteaPNADparaoacom-panhamentodapobrezaaolongodotempo,edoCenso,nocasodaespacialização daindigênciaedapobreza.Comoacaptaçãodarendaédiferenteemcadaumadas distintaspesquisas,torna-senecessáriocompatibilizareajustarasrendas.Deumlado, naPNADenoCensonãosãoconsiderados,efetivamente,osrecebimentosnão-mo-netários,dentreosquaismerecemdestaqueovalordahabitaçãodosimóveispróprios e/oucedidoseaproduçãoparaautoconsumo.Deoutrolado,tem-seconsciênciaque asinvestigaçõesdomiciliaresincorrememsubdeclaraçãodosrendimentos,particu-larmentenosestratossuperioresderenda.Faz-seentãonecessáriotratarasrendas apuradasnessasinvestigações,tantonosentidodeconsideraroaluguelestimado quantoasrendasnão-monetáriaseassubdeclaraçõesderenda.
Nocasodoaluguelestimado,existemduasalternativasdetratamentonorefe- renteàsPNADS:aprimeiraconsisteemdescontaroalugueldarendadaquelasfamí- liasqueefetivamentepagamaluguel,ou,alternativamente,acresceroaluguelestima-doàsrendasdasfamíliasproprietáriasoucessionárias.Oargumentosubjacenteao primeiroprocedimentoéodeseaproximar,aomáximo,darendadisponível,ouseja, dosrendimentosqueasfamíliasdispõemparaconsumir.Talprocedimentoé,entre-tanto,poucorecomendávelpelasdificuldadesquetêmasPNADsdecaptaroutros rendimentosprovenientesdonão-trabalho,alémdassubdeclarações,8oqueconstitui
umobstáculoparaatarefadeseobterarendadisponível.9
8. A CEPAL realiza um procedimento de “ajuste”, para os dois décimos de renda mais elevada, das rendas das PNADs com as Contas Nacionais, usando como pressuposto o fato de que a subdeclaração ocorre apenas nos estratos mais altos. Este procedimento foi adotado quando da divulgação das estimativas da Comissão IPEA-CEPAL-IBGE, mas sua repercussão não foi muito grande pelo fato de considerar apenas os 20% mais ricos, entre os quais o grupo de referência para estimação das linhas de indigência e de pobreza, e que estes nunca se encontrariam.
N
OVA METODOLOGIA PROPOSTA PARA O CÁLCULO DAS LINHAS DE INDIGÊNCIA E POBREZAApesardametodologiaatualmenteaplicada,conformedescritoacima,serintui-tivaedesimplesutilização,algumascríticaspodemserapontadas:
1.Nãopermiteocálculodeintervalosdeconfiançaparaasestimativas.
2.Aescolhade100gruposderenda(100centésimos)éarbitrária,assimcomo onúmero20paraamédiamóveldeconsumo.Defato,éprovávelquealte-raçõesnessesnúmerosresultememvaloresbemdistintosparaonúmerode indigenteseparaasconclusõesgerais.
3.Mesmocom20gruposderendanamédiamóvel,istoaindanãogarante monotonicidadenacurvadeconsumoporequivalenteadultoversusrenda
percapita,oqueapontaparaafragilidadedasestimativasobtidas.Dadaa grandevariabilidadenasmediçõesdeconsumocalórico,podeocorrerquea curvaestimadadeacordocomamédiamóvelde20centésimosapresente trechoscrescentesetrechosdecrescentes,oquecontrariariaasuposiçãode quemaiorrendaimplicamaiorconsumocalórico.
4.Essametodologianãoseenquadracomoumestimadorestatísticoapartirde técnicasderegressãopadrões.
5.Paraamostrasmenores,oestimadorpodenãofuncionareanãomonotoni-cidadedarelaçãoconsumocalóricoporequivalenteadultoversusrendaper capitapodeficaraindamaisevidente.
6.Pornãosetratar,nitidamente,deumametodologiadesenvolvidaviamodelos deregressão,elanãopermiteautilizaçãodetestesdehipóteses,intervalosde confiançaeerrospadrãoquelevamemcontaodesenhoamostraldaPOF. 7.Finalmente,utilizam-semédiasmóveiscom20centésimosparatodosos
contextosgeográficos,indistintamente.Comisso,nãoselevaemcontaa disponibilidadedistintadeinformaçãoespecíficadecadacontexto,nema variabilidadedemediçãodoconsumocalórico.Defato,nocontextogeográ-ficodoNordesteRural,porexemplo,onúmerodefamíliasamostradasébem maiordoqueonúmerodefamíliasemcadaregiãometropolitana.Portanto, onúmerodeobservaçõesparaaestimaçãodosmodelosestatísticosvariade contextoparacontexto.
Diantedasrestriçõesdescritasacimanaabordagematualparacálculodalinha deindigência,propõe-se,aseguir,umametodologiabaseadaemmodelosderegressão não-paramétrica,oumodelosderegressãosemiparamétricaparaafunçãodoconsu-mocalóricoversusarendapercapita.
Estimaçãonão-paramétricadacurvaconsumo-renda
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arendapercapita.Otermoregressãosemiparamétricadeve-seaofatodeseutilizar expansõesaparentementeparamétricasparaaproximarformasfuncionaisdesconhe-cidas.10
Apesardeasestimaçõesfeitasnestetrabalhoteremsidorealizadasporcon-textogeográfico,naexposiçãoapresentadaaseguirsuprime-seosubscritok ,corres-pondenteaocontextok,parasimplificaranotação.
Aidéiadaestimaçãonão-paramétricanesteprojetoconsisteemestimaruma funçãodotipo:
ci/ni=g(ri/mi)+εi, (1)
emque,conformeapresentadoacima,ciéoconsumototaldafamília,riéarenda totaldafamília,niéonúmerodepessoas,emequivalenteadultos,emiéonúmero totaldeindivíduosnafamília.Oquocienteri/micorrespondeàrendafamiliar perca-pita,enquantoci/nirepresentaoconsumocalóricoporequivalenteadulto.Oíndicei correspondeàfamílianabasededados,eotermo
ε
iéumavariávelaleatória,com médiazeroevariânciadesconhecida.Afunçãog(ri/mi)possuiformafuncionaldesconhecidaedeveráserestimadaa partirdosdados.Paraestimá-la,emprega-seumaestimaçãosemiparamétrica,utili-zandoumaexpansãodefunçõesbase(basisfunctions).Estaexpansãobaseia-sena aproximaçãodacurvadesconhecidag(ri/mi)utilizandoaformaparamétricaflexível:
L l=1
˜
g(ri/mi)=
∑
bixui(ri/mi), (2)emqueui(ri/mi)
sãoasfunções-base,comformafuncionalconhecida.Aformafun-cionalem(2)englobaumasériedemodeloscomumenteencontradosnaliteraturade
datamining,dentreosquaisencontram-se,porexemplo,regressõesderedesneurais eregressõesdewavelets(videHastie,TibshiranieFriedman,2001).Nestetrabalho utiliza-seumaexpansãodotipoB-splinesdeordemq.Devidoaofatodeasfunçõesde baseui(x)nasexpansõesdeB-splinesdependeremdeq,escreve-seexplicitamenteui,q
(x).Assume-sequeavariávelexplicativa(independente)xvarianointervalo[xmin,xmax]11.
Considere-seumvetordewpontos(x1,x2,...,xw)dividindoointervalo[xmin,xmax],onde
xmin<x1<x2<...<xw<xmax.AidéiadaexpansãodeB-splines éajustarumpoli-nômiodegrau(q-1)emcadaintervalodefinidoporpontosconsecutivos(pontosno conjuntoxmin,x1,x2,...,xw,xmax).Emgeral,utiliza-seq=3ou4,demodoafazercom queospolinômiosutilizadospossuamgrau2ou3,respectivamente.
Considereagoraovetordenósxmin,...xmin,x1,x2,...,xw,xmax,...,xmax,emque osvaloresxminexmaxnosextremossãorepetidosumnúmeroq
devezes.Parafacili-10. Modelos de regressão não-paramétrica são aqueles nos quais a forma funcional da função resposta não é conhecida e tem de ser estimada a partir dos dados. Em muitos casos, essa estimação é feita por meio de expansões polinomiais de funções-base (basis functions) e o problema não-paramétrico se transforma em um problema de estimar um modelo paramétrico, em que as
transformações nas variáveis explicativas são apropriadamente construídas. Neste caso, o modelo de regressão não-paramétrica pode ser denominado modelo de regressão semiparamétrica. Para mais detalhes, ver Hastie, Tibshirani e Friedman (2001).
taradiscussãoaseguir,escreve-seovetor(xmin,...xmin,x1,x2,...,xw,xmax,...,xmax)na forma(t1,t2,...,tw+2q).Portanto,t1=xmin,...,tq=xmin.Apartirdovetordenós(t1,
t2,...,tw+2q)edaordemq,asfunçõesbaseui,q(x)
podemserconstruídasrecursiva-mente,comosegue
ul,1(x)=
{
1,0,tcasocontráriol<x<tl+1 , (3) u1,p(x)=
x– tl
tl+p–1– tlul,p–1(x)+
tl+p– x
tl+p– tl+1ul+1,p–1(x),parap=2,...,q. (4)
Observe-sequenodenominadordosegundotermonaexpressão(4)apareceo valortl+p.Portanto,emB-splinesdeordemqonúmerototaldefunçõesbaseseráigual
aonúmerodenósmenosovalorq.Ouseja,onúmeroLdefunções-baseédadopor
L=w+q,easfunções-baseserãou1,q(x),...,uL,q(x).
Pode-seentãoreescreveraexpres-são(2),especificamenteparaaexpansãodeB-splines,como:
g(ri/mi)=
∑
bixul,q(ri/mi). (5)L l=1
˜
Ograudeflexibilidadedaformafuncionalem(5)éreguladopelonúmeroLde funções-base.Estenúmeroestádiretamenterelacionadoaonúmerodepontosdivisórios
w,bemcomoàordemq.QuantomaioronúmeroL,maioraflexibilidadedaexpansão semiparamétrica.Umavezfixadoonúmerodefunções-baseLparaestimarafunção desconhecidag(ri/mi),aestimaçãodosparâmetrosbl,l=0,1,2,...,Lpodeserefetuada viaestimadoresparamétricostradicionais.Podemserutilizados,porexemplo,estima- doresdemínimosquadradosordinários,oualgumestimadordotipomínimosquadra- dosponderados,comcorreçãoparaheteroscedasticidade,ouparaapresençadeobser-vaçõesdiscrepantes(outliers).Observe-seagoraqueoproblemadeajustedacurvag(ri /mi)consistenaestimaçãodomodeloderegressão(linearnosparâmetros):
(ci/ni) –
∑
bixul,q(ri/mi)+εi. (6)L l=1
AescolhadonúmeroLdefunçõesbasepodeserefetuadautilizando-sealgum critériodeseleçãodemodelos,comoporexemplo,oAICouoBIC12(regrasdeescolha
in-sample),ouseutilizandoalgumaregradevalidaçãocruzada(cross-validation),que correspondearegrasdeescolhaout-of-sample.Taisprocedimentostêmporobjetivo evitarumsobreajuste(overfitting)domodelosemiparamétrico.Defato,quandose
aumentaonúmerodefunções-baseindefinidamente,obtém-seummodelocomajus-
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teperfeitodentrodaamostra,mascomumpoderpreditivoquestionávelparaobser-vaçõesforadamassadedados.Poroutrolado,paraumnúmeroL muitobaixo,obtém-seumabaixaflexibilidadedaexpansãodefunções-base,incorrendo-setambémna perdadepoderpreditivodomodelo.Osdiversoscritériosdeseleçãodemodelosau-xiliamnaescolhadonúmeroLdeformaamaximizararelaçãodecompromisso entreflexibilidadedomodeloenúmeroexcessivodeparâmetrosdesconhecidos.13Para
maisdetalhesemescolhasdograudeflexibilizaçãoemmodelossemi-paramétricos enãoparamétricos,verHastie,TibshiranieFriedman(2001).
Observe-sequeaestimaçãodafunçãog(ri,ni)podeserefetuadadiretamentenos microdados,apartirdaPOF.Portanto,nãohánecessidadedeumagrupamentoprévio dessesdadosemcentésimos,porexemplo,conformeefetuadonametodologiaatual-mentevigenteparaocálculodalinhadepobreza(videseçãoanterior).Poroutrolado, aescolhadograudeflexibilidadedosestimadoresdafunçãog(·)utilizandooscritérios maisrobustosdescritosacimapossibilitaumadiminuiçãonograudearbitrariedade empregadonaescolhadonúmerodecentésimosnasmédiasmóveisdametodologia atual.Alémdisso,escolhendo-seformasevaloresLdiversosparadiferentescontextos geográficos,podem-seobterexpansõessemiparamétricasmaisapropriadasparaas particularidadesdoconjuntodeinformaçõesdisponívelemcadaregião.
Imposiçãodemonotonicidadenarelaçãoconsumo-renda
Paraarelaçãoentreconsumocalóricoporequivalenteadultoerendapercapita, umahipóteseplausíveléqueafunçãog(ri/mi)sejamonotonicamentecrescenteemri/mi. Nestecaso,aexpansãodefunções-baseutilizadadeveserescolhidadeformaagarantir essamonotonicidade,conformediscutidoemCheneConley(2001)eemLeitenstorfer eTutz(2005ae2005b).ParagarantirmonotonicidadenaexpansãodeB-splinesem(6) bastaimpor,nosparâmetrosaseremestimados,arestriçãob1<b2<...<bL.
Osmétodosdeestimaçãotradicionais,dotipomínimosquadradosordinários, nãoincorporamdiretamenteasrestriçõesnosparâmetrosb1,b2,...,bLparagarantir monotonicidade.Paracontornaresteproblemautilizou-seummecanismodeestima-çãoviamétododemínimosquadradosponderadosrestrito.Utilizandoessaabordagem foipossívelacomodartambém,demaneirasimples,ospesosdadosadiferentesob-servaçõesnaamostradaPOF,devidoaodesenhoamostralespecífico.Alémdisso, escolhendo-seiterativamenteospesosépossívelincorporarotratamentodeobserva-çõesdiscrepantes(outliers).Umpassoimportantenesteprocedimentodeestimação paragarantirmonotonicidade(impostaviarestriçãob1<b2<...<bL)foiautilização
demétodosdemaximizaçãoquadrática,comrestriçõeslineares,utilizandoosalgo-ritmosdescritosemWinston(2003)ouHilliereLieberman(2002).
Oestimadordemínimosquadradosponderadorestrito,conformediscutido acima,forneceestimativaspontuaisparaosparâmetrosb1,b2,...,bL.Apartirdesses valoresedasformasfuncionaisconhecidasparaasfunções-baseépossívelconstruir
estimadorespontuaisparaovalordeconsumocalóricomédioci/ni,porequivalente adulto,correspondenteaumdeterminadovalorderendapercapitari/mi.Variando-se continuamenteosvaloresderi/miépossívelobter-seaestimativagˆ(ri/mi)dacurva
g(ri/mi)deconsumocalóricoporequivalenteadultoversusrendapercapita.
Umavezescolhidaeestimadaaformafuncionaldeg(ri/mi),opróximopassoé determinarosvaloresdecortederendapercapitari/miparaosdiferentescontextos geográficos.Estaetapaéfeitadeformaanálogaaoqueestádiscutidonopasso(7)da metodologiaatualmenteempregadaparaaestimaçãodalinhadepobrezacoma metodologiaatual(Seção3.1).Ainformaçãoprincipalaquiéonúmerodecaloriasde corte,porequivalenteadulto.SejaCessevalormínimodecaloriasporequivalente adulto.14Ovalorderendapercapitadecorteédadopelopontodeinterseçãoentrea
curvaestimadagˆ(ri/mi)earetahorizontalpassandopelovalorci/ni=C.Portanto,a
rendapercapitadecorterˆcorteésimplesmenteasoluçãodaexpressãogˆ ˆ(rcorte)=C.A
partirdaestimativarˆcorte,pode-seutilizaroprocedimentodescritomaisadiante,em
quesereplicaramasregressõessemiparamétricasparaestudararelaçãoentregasto alimentarpercapitaerendapercapita.Chega-seassim,combasenessascurvas,ao gastodecortegˆcorte,correspondentearˆcorte
,gastoestequedefiniráaslinhasdeindi- gênciaedepobrezaparaasdiversasáreasgeográficasnoBrasil,determinando,con-seqüentemente,onúmerodefamíliasindigentesepobres,ouseja,asfamíliascom rendapercapitainferioraogastodecortegˆcorte.Alémdisso,épossíveldeterminar
especificamentequaisfamílias,naamostradisponível(essaamostraserá,naverdade, extraídaapartirdefiltrosnosmicrodadosdaPOF),encontram-seabaixodessaslinhas. Estainformaçãoseráparticularmenteimportanteaosetrabalharcomosalgoritmos dematchingparalocalizarospobresnosmunicípiosbrasileiros.
Umavantagemnautilizaçãodeumaestimaçãonão-paramétrica,ousemipara-métrica,paraafunçãog(ri/mi) éapossibilidadedeseestabelecerintervalosdecon-fiança,lançandomão,porexemplo,deestimadoresbootstrap(vide,porexemplo, DavisoneHinkley,1997,Hall,1992),ouaproximaçõesdeprimeiraordem(vide,por exemplo,Lehmann,1999).Comisto,épossívelestabelecerintervalosdeconfiança paraaestimativadarendapercapitadecorterˆcortebemcomoestabelecerintervalos
paraaestimativadonúmerodeindigentes.Umaalternativacomputacionalmente menosdemandantedoqueobootstrapéutilizarintervalosdeconfiançaparaamédia g(ri/mi)
ˆ deconsumocalóricoporequivalenteadultoversusrendapercapita,usando estimadoresbaseadosemmétodosdeestimaçãoviamínimosquadradostradicionais (videDrapereSmith,1998).
Combasenessametodologiaforamestimadasascurvasdeconsumocalórico porequivalenteadultoversusrendapercapita paraosvinteedoiscontextosgeográ-ficos,assumindo-sequeovalordacaloriaforadecasaéigualouéduasvezesovalor dacaloriadentrodaresidência.Comoilustração,sãoapresentados,naFigura1,os