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Relatório final. Equipe técnica: Simon Anderson (IIED), Raul Varela, Rogerio Sitole. Coordenação: Koeti Serodio (Ajuda Irlandesa)

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AVALIAÇÃO PROSPECTIVA DE COMO

ALINHAR OS O BJECTIVOS E INTERVENÇÕES

DE PROTECÇÃO SOCIAL COM OS OBJETIVOS

DE RESILIÊNCIA CLIMÁTICA PARA

BENEFICIAR OS AGREGADOS FAMILIARES

POBRES E VULNERÁVEIS AO CLIMA

RELATÓRIO FINAL

Estudo realizado em Moçambique, sob os auspícios da "Plataforma Global de

Aprendizagem da Irish Aid / Ajuda Irlandesa sobre Mudanças Climáticas e

Desenvolvimento"

Equipe técnica: Simon Anderson (IIED), Raul Varela,

Rogerio Sitole

Coordenação: Koeti Serodio (Ajuda Irlandesa)

Junho de 2016

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AVALIAÇÃO PROSPECTIVA DE COMO

ALINHAR OS OBJECTIVOS E INTERVENÇÕES

DE PROTECÇÃO SOCIAL COM OS OBJETIVOS

DE RESILIÊNCIA CLIMÁTICA PARA

BENEFICIAR OS AGREGADOS FAMILIARES

POBRES E VULNERÁVEIS AO CLIMA

Relatório final

Estudo realizado em Moçambique, sob os auspícios da “Plataforma

Global de Aprendizagem da Irish Aid / Ajuda Irlandesa sobre Mudanças

Climáti-cas e Desenvolvimento”

Equipe técnica: Simon Anderson (IIED), Raul Varela, Rogerio Sitole

Coordenação: Koeti Serodio (Ajuda Irlandesa)

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O PREFÁCIO

O Governo de Moçambique tem colocado em prática quadros legislativos e políticas de protecção social (PS) e de adaptação às alterações climáticas e sua mitigação. Este trabalho parte do pressuposto que a avaliação prosprectiva, alinhando PS com adaptação ao clima, especialmente em termos de aumento da resiliência do clima de famílias beneficiárias de PS, pode ser alcançado. Esta avaliação procurou identificar e avaliar, de uma maneira lógica e analítica, quais são as opções para alinhar os objectivos de PS com o apoio à adaptação às alterações climáticas, para o benefício das pessoas mais pobres em Moçambique. O objectivo final desta avaliação foi identificar formas de fortalecer e alinhar PS a adaptação às alterações climáticas. Este trabalho levou em consideração as novas ações estratégicas do ENSSB e as sugestões foram desenvolvidas para fortalecer as partes relevantes da nova estratégia sobre resiliência climática. Esta avaliação foi baseada em dados e evidências coletados mediante informações secundárias e análise de dados, entrevistas com informantes-chave nos níveis central e local (distrito), discussões em grupo com os técnicos e beneficiarios do programa de PS, e análise de reuniões com órgãos governamentais. O protocolo desenvolvido para esta avaliação foi discutido com o grupo de trabalho nacional de PS e com representantes do Ministério de Gênero, Criança e Acção Social (MGCAS) - a agência-chave do governo. O MGCAS designou uma pessoa como ponto focal para acompanhar a avaliação. O distrito visitado como parte da avaliação foi selecionado, com a anuência do MGCAS.

A avaliação constatou que:

• Existem significativas sobreposições e interações de pobreza e de vulnerabilidade climática. Os programas de PS são ativos em algumas áreas de alto risco climático, devido ao foco conferido a pobreza, e não aos riscos climáticos. A cobertura de PS é limitada particularmente dentro dos distritos e entre os distritos. Há evidência geográfica substancial, e bom potencial, para apoiar ligações entre provisão de PS e processos de adaptação locais.

• A gestão do risco climático não está integrada a programação de PS. Atualmente, o planejamento de adaptação local não foca nas necessidades dos mais pobres e também nãoo procura se alinhar com as provisões de PS. Há necessidade de aprimoramento de metodologias e de capacitação técnica para integrar a gestão de riscos climáticos ao fornecimento de PS e, para facilitar as ligações entre PS e adaptação climática.

• O quadro da política nacional fornece um ambiente propício para o alinhamento entre PS e adaptação às alterações climáticas. A atual coordenação interinstitucional é insuficiente em todos os níveis. Há necessidade de desenvolver a vontade política no nível mais elevado, além de melhorias nos incentivos para coordenação e alinhamento inter-institucionais.

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• O desempenho atual do sistema de PS esta limitado devido a restrições de capacidade técnica, financeira e administrativa e, da ausência de sistema chave de gerenciamento. Há necessidade de investimentos significativos no sistema de PS para aumentar o nível de benefícios proporcionados, ampliar a cobertura e melhorar o processo de seleção de prioridade de obras públicas, bem como do monitoramento dos resultados, dentre outras considerações operacionais.

A avaliação conclui que há opportunidades de aprimoramento do sistema de PS em Moçambique para que ele seja melhor adaptado aos riscos climáticos presentes e futuros. As oportunidades podem explorar a integração da gestão de riscos climáticos ao sistema de PS, bem como promover uma melhor coordenação das intervenções de PS e adaptação às alterações climáticas para beneficiar as mesmas populações, nas regiões do país onde a incidência de alta pobreza e elevados riscos climáticos coincidamEste relatório define oportunidades, nichos e abordagens de continuação dos trabalhos para o estabelecimento de ligações entre PS e adaptação às alterações climáticas.

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ÍNDICE

Abreviaturas e acrónimos...6

Sumário executivo....7

1. Introdução...10

1.1 A Protecção Social em Moçambique....10

1.2 As alterações climáticas e a eficácia da protecção social... 12

1.3 A ligação entre a protecção social e a resiliência climática...12

2. Propósito e objectivos...13

3. Metodologia utilizada...15

3.1 Consultas com instituições e especialistas relevantes...17

3.2 Base de dados interactiva...18

3.3 Coordenação com os estudos em curso com assistência do DFID, sobre o PASP (com sensibilidade ao clima) e sobre a protecção social em resposta a choques...18

4. Análise das evidencias recolhidas...20

4.1 O ambiente de políticas favoráveis para a ligação entre protecção social e resiliência climática ... 20

4.2 Dimensão geográfica....21

4.3 Dimensões técnicas e temporais...28

4.4 Dimensão interinstitucional...34

4.5 Pontos principais resultantes da análise das diferentes dimensões...38

5. Sugestões para acções a contribuir para o estabelecimento de um sistema de protecção social adaptativa ao clima...40

5.1 Sugestões de melhorias da metodologia de concepção dos PLAs para o alcance da almejada protecção social adaptativa ao clima. ...40

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5.2 Suporte sugerido para a ENSSB estabelecer um sistema de protecção social

adaptativa...42

6. Conclusões...45

6.1 Oportunidade para se criar um sistema de protecção social adaptativa ao

clima... 45

6.2 Integração de informações climáticas na prestação de protecção social...46

6.3 Ligações coerentes e eficazes para protecção social e gestão de riscos

climáticos... 47

7. Anexos...48

Anexo 1. Importantes instrumentos legais de apoio à protecção social

Anexo 2. Cronograma do estudo de caso realizado

Anexo 3. Medidas institucionais e individuais de adaptacão às Mudanças Climáticas

Anexo 4. Analise combinada dos pontos fortes, fraquezas, oportunidades e ameaças ) dos programas do INAS em relação à protecção social adaptativa

Anexo 5. Desafios e oportunidades para uma ligação efectiva entre protecção social e resiliência climática.

Anexo 6. Lista de instituições com funções relevantes para ligações de protecção social e adaptação ao clima.

Anexo 7. Interligação da CNSA com as Comissões de Trabalho de Protecção Social

Anexo 8. Proposta de procedimentos para montagem de uma coordenação em rede para a protecção social adaptativa

Anexo 9. Maiores detalhes sobre as possibilidades de apoio às acções estratégicas da ENSSB em relação à gestão de riscos climáticos.

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ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS

ANE Administração Nacional de Estradas

CCSSSB Conselho Coordenador do Subsistema da Segurança Social Básica DPA Direcções Provinciais de Agricultura

ENSSB Estratégia Nacional de Segurança Social Básica HIV Vírus da imunodeficiência humana

IDS Inquérito Demográfico e de Saúde, 2011 INAS Instituto Nacional de Acção Social

INGC Instituto Nacional de Gestão das Calamidades IOF Inquérito ao Orçamento Familiar, 2008/2009 M&A Monitoramento e avaliação

MGCAS Ministério do Género, Criança e Acção Social

MITADER Ministério de Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural MT Metical

ODS Objectivos de Desenvolvimento Sustentável ONG Organização não-governamental

PASD Programa de Apoio Social Directo PASP Programa de Acção Social Produtiva PIB Produto interno bruto

PMT Proxymeanstest (teste indirecto de recursos) PRONAE Programa Nacional de Alimentação Escolar PS Protecção social

PSSB Programa de Subsídio Social Básico

RMAS Repartição da Mulher e Acção Social (SDSMAS) SDAEServiços Distritais de Actividades Económicas

SDPI Serviços Distritais de Planeamento e Infraestrutura SDS MASServiços Distritais de Saúde, Mulher e Acção Social

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SUMÁRIO EXECUTIVO

A avaliação teve como pressuposto explorar, de forma analítica e sistemática, as opções de alinhamento entre a provisão da protecção social e adaptação a mudanças climáticas, com o objectivo de beneficiar as pessoas mais pobres em Moçambique. O primeiro passo desta avaliação foi analizar os fundamentos (lógica e necessidade) favoráveis a realização de tal alinhamento. Nesta fase, fez-se as análises da sobreposição geográfica entre as áreas de incidência de pobreza e as áreas de riscos climáticos. Posteriormente, identificou-se a natureza dos riscos climáticos que afetam as condições de vida dos mais pobres, avaliando até que ponto o grau de riscos climáticos são comuns (covariante) entre grupos sócio-económicos. Este trabalho considera as evidências encontradas em fontes secundárias sobre a importância dos efeitos climáticos como factores de deslocações de um ponto para outro (migrações) dos pobres em Mocambique. Esta analise resultou nas justificativas e indicações sobre a necessidade de conectar-se o sistema de protecção social à adaptação climática. Um exemplo desta conexão seria a apuração do número de pobres a viver nas áreas de riscos climáticos elevados.

O segundo passo foi explorou até que ponto a provisão dos programas actuais de protecção social estão a lidar com a vulnerabilidade climática e como os processos de adaptação climática estão a contemplar as necessidades dos mais pobres. Para tanto, foi feita uma análise da cobertura geográfica dos programas de protecção social nas áreas de riscos climáticos, avaliando a capacidade dos programas de protecção social de integrar e conectar gestão de riscos climáticos, especialmente com processos de adaptação climática. A pesquisa também analisou se os planos locais de adaptação climáticos priorizam as áreas de elevada incidência e pobreza e se tais planos tomam em conta as necessidades dos mais pobres. Nesta fase, também foram examinados aspectos relevantes da coordenação interinstitucional e capacidade técnica das instituições para assegurarem a conexão entre os dois aspectos – protecção social e alterações climáticas

A terceira fase identificou opções para ligar a provisão da protecção social às iniciativas de suporte á adaptação a mudanças climáticas. Para tanto, foram identificadas lições aprendidas de experiências do passado (nacional e estrangeiras) em simultâneo com as análises das evidências da primeira e da segunda fase, visando identificar as opções para realizar as interligações. Isso culminou com a selecção das melhores e mais consistentes opções para materializar a ligação da protecção social com a adaptação a mudanças climáticas.

Para a elaboração deste trabalho, foram feitas consultas regulares com as partes interessadas, com diálogos sobre o projeto, o processo e os resultados. As partes interessadas consultadas incluem agências governamentais (MGCAS, INAS, INGC, MITADER), parceiros de desenvolvimento (SP Forcing Group), e grupos da sociedade civil. O MGCAS nomeou um ponto focal para a avaliação. Os principais resultados a partir da análise de evidências sobre as dimensões geográficas, técnicas e institucionais foram:

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Dimensão geográfica

• Sobreposição significativa da pobreza e da vulnerabilidade climática;

• Sobreposição significativa de insegurança alimentar e vulnerabilidade climática; • Programas de Protecҫão Social presentes em áreas de alto risco climático; • Cobertura limitada – dentro e entre distritos;

• Bom potencial para vincular protecção social e adaptação local.

Dimensões técnicas e temporais

• Gestão de riscos climáticos não está integrada em programas de protecção social; • Planos de adaptação locais não priorizam os mais pobres;

• Necessidade de desenvolvimento de uma melhor metodologia e capacitação técnica na gestão de riscos climáticos.

Dimensão interinstitucional

• Ambiente de políticas favoráveis;

• Coordenação interinstitucional insuficiente a diferentes níveis, • Necessidade de melhores incentivos para a coordenação;

• Reforço da descentralização e coordenação ao nível sub-nacional.

O estudo conclui que existe a oportunidade para criar-se um sistema de protecção social adaptativa ao clima. As oportunidades incluem a integração (‘mainstreaming’) de assuntos climáticos no sistema existente, e a sobreposição coordenada dos processos da adaptação climática e protecção social. As acções em direcção a um sistema de protecção social adaptativa incluem: integrar a questão de resiliência do clima na revisão dos programas de segurança social básica; integrar informações climáticas quando da prestação de protecção social; e criar ligações coerentes e eficazes entre protecção social e gestão de riscos climáticos.

O estudo também identificou, através da análise de evidências, formas para

fortalecer a ENSSB para integração de resiliência climática, incluindo:

• Avaliar a vulnerabilidade climática como um critério de elegibilidade tendo em conta a igualdade de género.

• Avaliar a viabilidade de inovar e fortalecer acções do PS (ex: incremento de transferências durante os períodos de alto risco climático ou de emergência).

• Ligar a selecção de obras públicas com as estratégias de adaptação locais, os planos locais de adaptação (PLAs) e os Planos de Desenvolvimento Distritais (PDDs), por exemplo.

• Aumentar a cobertura do Programa de Acҫão Social Produtiva (PASP) em relação aos riscos

Climáticos - dimensões geográficas e temporais.

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o alinhamento entre a prestação de protecção social, a adaptação às alterações climáticas e as sinergias para os mais pobres e vulneráveis ao clima. O estudo aponta que a principal oportunidade de alcançar sinergias entre a protecção social e adaptação às alterações climáticas é através de obras públicas. As prioridades para obras públicas podem ser identificadas por meio de processos de planejamento de adaptação locais. Estas obras públicas prioritárias podem ser tanto para recuperação e reconstrução posteriores à ocorrência de um evento climático bem como para a prevenção dos riscos climáticos. O estudo indica que as obras públicas apoiados pela protecção social devem ser geridos pelas autoridades locais, com a presença de beneficiários de protecção social quando da entrega das obras públicas.

O estudo também aponta a necessidade de se desenvolver um sistema de monitoramento e avaliação combinados para averiguar se a ligação entre protecção social e adaptação às alterações climáticas está a cumprir os objectivos de protecção social adaptativa. Este sistema elaborará os indicadores de desempenho para a adaptação climática e para a proteção social. Tal sistema deverá reportar-se a um organismo representativo comum, como por exemplo, MGCAS, INAS ou MITADER.

A Nova Estratégia Nacional de Segurança Social Básica (2016-2024) reconhece que mudanças climáticas representam uma ameaça para pobres e põe em perigo a eficiência e eficácia da protecçao social.

• “Será reforçado o papel do PASP na prevenção e na resposta às calamidades, na base de acordos com o INGC. Uma forte prioridade será dada à orientação de projectos de trabalhos públicos para a protecção ambiental e a promoção da adaptação às mudanças climáticas, com o fim de reforçar a resiliência das comunidades.”

A Estratégia Nacional de Adaptação a Mudanças Climáticas (2013-2015) reconhece a protecção social como a via para lidar com vulnerabilidade climática.

• “Os efeitos … das mudanças climáticas tenham consequências desiguais e mais acentuadas nos grupos mais vulneráveis, nomeadamente mulheres, crianças, pessoas idosas, pessoas com deficiência, deslocados climáticos e doentes crónicos…os programas temporários de transferências monetárias em áreas que sofrem de desastres naturais podem contribuir a reduzir a vulnerabilidade aos choques climáticos.”

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1. INTRODUÇÃO

1.1 A Protecção Social em Moçambique

Apesar de ainda não ter atingido níveis elevados de eficiência e eficácia, a Protecção Social em Moçambique evoluiu substancialmente de forma positiva, refletindo um compromisso efectivo do Governo para com a sociedade e especialmente para com os grupos mais vulneráveis. Existe evidencia que acções governamentais de protecção social existiam antes da independência do País, tendo-se evoluído de forma contínua, alcançando presentemente seu auge e reflectindo o comprometimento institucional para com as classes mais desfavorecidas.

Ao longo dos anos, tem-se verificado um esforço na criação de ambiente favorável para a implementação de políticas de protecção social. Este esforço pode ser ilustrado com a criação e manutenção dos Ministérios sucessivos de Coordenação Social (1999) e da Mulher e Acção Social (2005), que buscam assegurar inclusão social, protecção do direito individual, promoção social e empoderamento da mulher.

O actual Ministério do Género, Crianças e Acção Social elaborou seu Plano Estratégico (2011-2015), que econtra-se em revisão no momento, baseando-se em quatro pilares essenciais: (i) Mulher e Gênero; ii) Acção Social; iii) Suporte Institucional; iv) Áreas Temáticas Transversais-Transversal - HIV/SIDA e violência doméstica. Para além disso, vários decretos e instrumentos tem sido desenvolvidos para proporcionar um ambiente adequado para fortalecer o desempenho de políticas e regulamentos relacionados à protecção social (Vide anexo 1)

A Lei mãe (Constituição da República), nos seus artigos 35, 88, 89, 91 e 95, reconhece o direito de todo cidadão a educação, saúde e habitação, sem quaisquer discriminações, e estabelece ainda a protecção de idosos e pessoas incapacitadas. Em relação a esta última parte, a lei nº4/2007 escrutina os objectivos pretendidos com a Protecção Social: i) aliviar, em função das condições económicas do país, as condições de vida das populações a viver em situação de pobreza absoluta; ii) garantir subsistência para as pessoas incapacitadas de trabalhar e condições de subsistência suplementares aos sobreviventes em caso da morte do chefe da família. Nessa perspectiva, o Governo de Moçambique estabeleceu três níveis de protecção social: Protecção Social Básica (não contributiva); Segurança Social Compulsiva (contributiva); Segurança Social Complementar. A Protecção Social desenvolveu-se com Decreto nº 85/2009, um instrumento normativo do Subsistema de Segurança Social Básica, que enfatiza e visa garantir assistência a: pessoas a viver em situação de pobreza absoluta; crianças em situação difícil; idosos expostos a condições de pobreza absoluta; pessoas com limitações físicas e em situação de pobreza absoluta; e pessoas com doenças crónicas degenerativas.

O ENSSB I e II foram elaborados para implementação de acções visando cumprir com a assistência aos grupos acima mencionados, estabelecendo linhas mestras e dispositivos de acções a serem implementadas através de quatro programas:

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• Programa de Apoio Social Directo (PASD) – providenciando assistência em espécie ou pagamento de serviços para fazer face a situações de choques que agravam a vulnerabilidade do individuo, podendo ser um apoio pontual (distribuição de meios de compensação, vestuário, apoio alimentar, pagamento de transporte e outros) ou um apoio prolongado (através de uma combinação de benefícios em espécie com uma componente monetária).

• Programa de Subsídio Social Básico (PSSB) - que consiste na prestação de assistência, através de transferência de valores monetários com uma periodicidade mensal, aos agregados familiares sem nenhum membro com capacidade para trabalho;

• Programa de Serviço Social de Acção Social (PSSAS) – para acolhimento e assistência em Unidades Sociais e na comunidade de pessoas vulneráveis vivendo em situação de pobreza que perderam a sua família, foram abandonadas ou marginalizadas. • Programa de Acção Social Productiva (PASP) – visando promover actividades

favoráveis á inclusão sócio-económica das populações mais vulneráveis com capacidade física para trabalharem, através de trabalhos públicos com o uso de mão-de-obra intensiva e do apoio ao desenvolvimento de iniciativas geradoras de rendimentos. Esses programas são liderado pelo MGCAS e executados pelo INAS, com assistência de parceiros, vêm sendo implementados ao nível nacional e direcionados especificamente a beneficiários com determinadas características visando mitigar, recuperar e prevenir a degradação das suas formas de vida. Contudo, num ambiente complexo do país com uma disparidade exacerbada em termos geográficos e elevada incidência de pobreza, a execução desses programas pode ser melhorada. Isso é particularmente verdade se se tomar em conta os efeitos recorrentes de desastres naturais, tornando o país um dos mais vulneráveis na região austral. Desta forma, a integração de mudanças e adaptação climáticas com o sistema de protecção social seja um dos desafios contemporâneos no país.

Tendo em vista tal desafio, surge a razão de se estar a explorar janelas de oportunidade para promover tal sistema de integração, com a designação de Protecção Social Adaptativa. Este sistema tem por objectivos expandir o conceito da planificação e programação da assistência aos grupos vulneráveis, enfatizando a preparação, mitigação e adaptação, que promoverá uma maior resiliencia a mudança climática dos grupos sociais frágeis, especialmente os mais pobres.

Nessa perspectiva foi realizada, no período de janeiro a junho de 2016, uma pesquisa sob os auspicios da Embaixada da Irlanda com execução do IIED e sob a coordenação do MGCAS, ao nível nacional e distrital. A pesquisa utilizou informações cruzadas de várias fontes relevantes sobre mudanças climáticas e protecção social que foram calibradas pelo trabalho de campo e ancoradas em várias experiências internacionais. A pesquisa também realizou uma análise consistente da viabilidade, desafios e vias coerentes para se promover a interligação da protecção social com mudanças climáticas, doravante designada como protecção social adaptativa. Tal designação representa uma verdadeira simbiose entre as duas vertentes, fortalecendo as intervenções a favor de grupos sociais vulneráveis seja em termos de diagnósticos, planejamento, implementação, monitoramento e avaliação.

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1.2 As alterações climáticas e a eficácia da protecção social

A eficácia do sistema de protecção social poderá ser completamente minada pelos efeitos negativos das alterações climáticas. Para evitar que os ganhos obtidos através da protecção social sejam perdidos com o aumento da vulnerabilidade climática dos beneficiários de protecção social e de suas economias locais, há a necessidade de se desenhar e implementar programas e medidas que reduzam of efeitos negativos da mudança climática, Isto evitará que os retornos sobre os investimentos de proteção social e o seu valor face aos recursos investidos sejam comprometidos Por isto, é necessário que os programas de protecção social sejam sensíveis/tomem em consideração às questões climáticas. Existem, portanto, opções para alinhar a provisão de protecção social com intervenções que aumentem a resiliência climática. Tais opções incluem identificação de formas para que agregados familiares incluídos na linha de pobreza ou próximos a tal linha ou expostos a pobreza elevada, encontrem meios de subsistência resilientes ao clima nas economias locais. Tais economias podem ser alavancadas por investimentos em bens públicos locais, por exemplo.

As alterações climáticas irão também exacerbar os factores responsáveis pela pobreza de forma desigual, como por exemplo, relactivamente a questões de gênero. É importante compreender que as mulheres que lideram agregados familiares são geralmente as mais vulneráveis aos efeitos negativos das mudanças climáticas. As mulheres e as raparigas são confrontadas com desigualdades múltiplas que impedem o desenvolvimento de suas capacidades para gerirem e recuperarem-se dos choques climáticos. Por exemplo, as mulheres, se comparadas com os homens, têm rendimentos baixos, menos activos produtivos, maior responsabilidade em relação a dependentes, menor acesso à educação e aos meios de subsistência resilientes ao clima. O bem-estar das mulheres e dos seus dependentes está sob grave ameaça, pois espera-se o agravamento dos impactos climáticos negativos, especialmente sobre esse grupo social.

1.3 A ligação entre a protecção social e a resiliência climática A ligação entre

a protecção social e a resiliência climática visa aumentar a resiliência ao clima

das famílias vulneráveis e pobres, reforçando a sua capacidade em absorver e/

ou transferir os riscos climáticos.

As acções para alinhar a provisão de protecção social com intervenções que aumentem a resiliência climática – “protecção social adaptativa” pode recorrer a duas abordagens – ‘’integração” e “graduação em cascata”:

• Integração - uso de informações sobre o clima na provisão de protecção social, por exemplo. critério de vulnerabilidade climática na selecção de beneficiários.

• Graduação em cascata – a provisão de protecção social em paralelo com as intervenções para a resiliência climática de forma evolutiva (graduação) para os mesmos beneficiários.

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Para estabelecer um sistema de ‘’protecção social adaptativa’’ é necessário:

• Que os programas de protecção social tenham uma estrutura forte em termos de capacidade e um sistema compreensivo de entrega;

• Um sistema apropriado e confiável de fluxo de informação, que permita: (1) uma análise sobre o processo para determinar a resposta necessária aos eventos/choques, (2) preparação adequada e influencia no processo de tomada de decisão;

• A existência de financiamento para os instrumentos e recursos;

• A existência de interligação e coordenação interinstitucional e capacidade técnica ao nível nacional e local.

2. PROPÓSITO E OBJECTIVOS

Através do diálogo com o Governo de Moçambique, e o preconizado no eixo 1 da nova Estratégia Nacional de Segurança Social Básica para o período 2016-2024, o estudo aponta para oportunidades para se investigar e adotar formas de protecção social, como uma medida-chave de política social fundamental para a erradicação da pobreza, integrando as mudanças climáticas que afectarão as famílias mais vulneráveis em Moçambique.

A Ajuda Irlandesa (Irish Aid) tem estado a apoiar o Governo de Moçambique nesta área de protecção social a nível programático e pretende contribuir para a identificação de maneiras de realizar em Moçambique o alinhamento entre a protecção social e a resiliência climática.

Como contributo para a avaliação de sinergias entre a protecção social e as intervenções de resiliência climática, a Ajuda Irlandesa realizou este estudo de caso prospectivo sob os auspícios de sua Plataforma Global de Aprendizagem para mudanças climáticas e desenvolvimento. O presente estudo identifica as sinergias possíveis entre a provisão de protecção social e o apoio à resiliência climática, avaliando como aumentar a capacidade de resiliência climática dos grupos-alvo, que são os mais pobres e mais vulneráveis.

Os resultados deste trabalho irão também orientar o enfoque da Ajuda Irlandesa na sua próxima estratégia de cooperação nacional (2017-2021) e ajudar na organização da implementação da sua nova política global de cooperação na área de protecção social.

O objectivo deste estudo de caso é analisar e fazer recomendações sobre os nichos, abordagens e modalidades que podem ser considerados no alinhamento da provisão de protecção social com intervenções de resiliência climática.

O estudo de caso debruçou-se sobre:

• Entendimento das avaliações da vulnerabilidade climática em Moçambique e os impactos do clima sobre a pobreza;

• Critérios para abordar a vulnerabilidade climática em Moçambique de acordo com a situação contextual de suas diferentes regiões;

• Identificação de acções de adaptação climática que podem ser implementadas através da integração no sistema de protecção social;

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• Formas de respostas do sistema de protecção social aos mais vulneráveis a eventos climáticos extremos de mudança climática;

• Opções para alinhar a provisão de protecção social com o apoio para o fortalecimento da resiliência climática das comunidades e economias locais onde as famílias beneficiárias de protecção social estão localizadas.

Os seguintes temas foram abordados por meio deste estudo de caso:

• A forma como as mudanças climáticas estão a afectar a vulnerabilidade da população mais pobre.

• As maneiras como os programas actuais de PS respondem às necessidades daquelas pessoas vulneráveis ao clima.

• As maneiras como as iniciativas de adaptação e resiliência climática abrangem e respondem às necessidades dos mais pobres.

• Aspectos de coordenação interinstitucional para fortalecer as ligações entre a provisão de PS e o apoio à resiliência climática.

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• Formas de respostas do sistema de protecção social aos mais vulneráveis a eventos climáticos extremos de mudança climática;

• Opções para alinhar a provisão de protecção social com o apoio para o fortalecimento da resiliência climática das comunidades e economias locais onde as famílias beneficiárias de protecção social estão localizadas.

Os seguintes temas foram abordados por meio deste estudo de caso:

• A forma como as mudanças climáticas estão a afectar a vulnerabilidade da população mais pobre.

• As maneiras como os programas actuais de PS respondem às necessidades daquelas pessoas vulneráveis ao clima.

• As maneiras como as iniciativas de adaptação e resiliência climática abrangem e respondem às necessidades dos mais pobres.

• Aspectos de coordenação interinstitucional para fortalecer as ligações entre a provisão de PS e o apoio à resiliência climática.

Figura 1: Modelo lógico da avaliação

Esta avaliação teve como pressuposto explorar de forma analítica e sistemática as opções da provisão de protecção social e suporte a adaptação climática em benefício dos mais pobres em Moçambique. O primeiro passo foi analisar os fundamentos (lógica e necessidade) favoráveis a tal ligação. Nesta fase, procedeu-se com as análises da sobreposição geográfica entre a incidência de ambos, pobreza e riscos climáticos. Posteriormente, o estudo avaliou a natureza dos riscos climáticos sobre as condições de vida dos mais pobres e, até que ponto, o grau de riscos climáticos são comuns (covariante) entre grupos sócio-económicos. O estudo analisou as evidências de fontes secundárias sobre a importância dos efeitos climáticos como factores de migração dos pobres e apontou a necessidade de conectar a protecção social à adaptação climática (identificando, por exemplo, número de pobres a viver nas áreas de riscos climáticos elevados).

O segundo passo explorou até que ponto a provisão dos programas actuais de protecção social estão a lidar com a vulnerabilidade climática, e como os processos de adaptação climática estão a contemplar a necessidade dos mais pobres. Para tanto, foram feitas análise da cobertura geográfica dos programas de protecção social nas áreas de riscos climáticos, avaliação da capacidade dos programas de protecção social em ntegrar gestão de riscos climáticos e sua ligação com o processo de adaptação climática.

A pesquisa também avaliou até que ponto os planos locais de adaptação climáticos priorizam as áreas de elevada incidência de pobreza e tomam em conta as necessidades dos mais pobres. Nesta fase, também foram examinados aspectos relevantes de coordenação interinstitucional e de capacidade técnicas das instituições para assegurar a ligação entre PS e adaptação climática. A terceira fase identificou as opções para ligar a provisão da protecção social às iniciativas de suporte á adaptação climática, com análise de experiencias e lições aprendidas. O estudo então selecionou as melhores e mais consistentes opções para materializar a ligação da protecção social com a adaptação a mudanças climáticas.

3. METODOLOGIA UTILIZADA

O quadro analítico usado para avaliar as ligações entre protecção social e intervenções para a resiliência climática foi o seguinte:

• Dimensão geográfica: Distribuição da pobreza e dos riscos climáticos; Cobertura de programas de protecção social e dos riscos climáticos.

• Dimensões técnicas e temporais: Sistema de entrega de programas de protecção social; Sistema de gestão de riscos climáticos; Capacidade técnica.

• Dimensão interinstitucional: O ambiente de políticas; Coordenação interinstitucional a diferentes níveis.

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AS ACTIVIDADES DE PESQUISA FORAM

Nível nacional a local:

• Informação secundária e análise documental da convergência entre a nova estratégia ENSSB e a Estratégia Nacional de Adaptação e Mitigação às Mudanças Climáticas; • Análise das correlações entre os aspectos disponíveis de vulnerabilidade do clima e

mapeamento da pobreza;

• Avaliação da arquitectura interinstitucional dos órgãos do governo e da administração pública aos níveis nacional, provincial, distrital e local - que abrange MGCAS, MITADER, INGC, outros ministérios e também órgãos distritais e administração provincial relevantes para a protecção social e resiliência climática, de modo a: - Facilitar a compreensão e identificar possíveis pontos de entrada e vias de

implementação;

- Avaliar o fluxo de recursos para o nível local.

• Comparação de prioridades desenvolvidas através dos PLAs, obras públicas apoiadas pelo INAS, e outros processos de planificação local;

• Análise de dados de monitoramento comunitário pela plataforma de PS para: - Compreender a importância relativa dos efeitos climáticos;

- Analisar a convergência com a vulnerabilidade climática pelo INGC e avaliações de risco e resultados dos PLAs.

CASOS A NÍVEL LOCAL:

• Continuidade dos estudos nos distritos-piloto do PMA/INAS para avaliar os resultados e as lições aprenndidas;

• Avaliação do alinhamento da provisão da SP e do processo dos PLAs • - Os mais vulneráveis se beneficiam, são reconhecidos e participam? • - Como as vozes das mulheres são ouvidas?

• Avaliar como a provisão da SP apoia estratégias adaptativas endógenas a nível local, por exemplo, questões de migração, elegibilidade e igualdade de gênero.

Neste estudo, importante observar que a escolha dos distritos para o trabalho a nível local foi feita em consulta com MGCAS. Os distritos escolhidos incluem amostras de distritos propensos a secas, inundações e ciclones, em diferentes províncias, e com programas de protecção social ativos.

O estudo de caso foi realizado pelo IIED sob a supervisão da Ajuda Irlandesa, em estreita colaboração com o Governo de Moçambique (MGCAS) e em coordenação com a iniciativa apoiada pelo DFID sobre protecção social e mudanças climáticas. Como mencionado acima, os distritos escolhidos para o trabalho a nível local foram seleccionados em consulta com o MGCAS.

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Importante observar que para a elaboração deste estudo foram realizadas consultas regulares com as partes interessadas, incluindo discussões sobre o projeto, processo e resultados. As partes interessadas consultadas incluem agências governamentais (MGCAS, INAS, INGC, MITADER), parceiros de desenvolvimento (SP Forcing Group), e grupos da sociedade civil. Um ponto focal para a avaliação foi nomeado pelo MGCAS.

O CRONOGRAMA DO ESTUDO DE CASO ENCONTRA-SE NO ANEXO 2.

3.1 Consultas com instituições e especialistas relevantes

A metodologia de elaboração do presente estudo incluiu consultas com relevantes instituições e especialistas para: informar sobre os pressupostos da pesquisa e fundamentos para a promoção de protecção adaptativa; apresentar a metodologia utilizada e as tendências preliminares; apresentar o banco de dados elaborado durante o trabalho e explorar a sua futura utilidade; compartilhar a proposta do funcionamento da coordenação na base de rede que difere da mera coordenação institucional.

Tais consultas foram feitas em duas vertentes: a primeira, com especialistas de renome internacional na área de protecção social e de mudanças climáticas, exercendo a profissão em Moçambique; e a segunda, com instituições para testar o banco de dados gerado como parte da pesquisa e conhecder as acções em curso relativas a protecçoão social e a adaptação climática. No primeiro caso, foram entrevistados quatro especialistas (dois professores de renome da Faculdade de Eduardo Mondlane que realizam estudos relevantes sobre mudanças climáticas) e dois afectos a Agência Nacional de Segurança Alimentar (ANSA) que participam de várias acções relacionadas à protecção social, incluindo a avaliação da ENSSB-I e a elaboração da ENSSB-II.

No segundo caso, foram entrevistados um total de 25 pessoas pertencentes aos quadros de instituições do Governo, ONGs e Sociedade Civil, com destaque para INAS, MITADER, Plataforma da Sociedade Civil, PMA e FAO.

As sessões de trabalho se dividiram em três momentos: O primeiro, consistiu na contextualização da pesquisa, metodologia de análises e resultados preliminares. Importante observar que a receptividade dos temas da pesquisa foi unânime, confirmando a necessidade de de facto se adoptar a protecção social adaptativa e a adequação do procedimento utilizado. O segundo, sustentou a discussão da necessidade de reforço da coordenação. O modelo de coordenação interinstitucional ou coordenação em rede foi apresentado e discutido, com discussões sobre as várias perspectivas, vantagens e desvantagens em adoptar de um dos modelos.

Por último, foi feita a apresentação do banco de dados procedida de uma explicação sobre sua origem e fontes de informação, ilustração da sua estructura e de seu funcionamento interactivo com multiusos. Este exercício permitiu medir a perceção sobre as lacunas no acesso a

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informação; a apreciação sobre a estructura; a utilidade e robustez analítica do banco de dados; os desafios inerentes á sua socialização e adopção. Importante observar que notas de ambas as actividades foram elaboradas, captando as informações relevantes, incluindo identificação das recomendações em geral e dos procedimentos necessários para a adopção do banco de dados e sua descentralização. Foi também reconhecida pelos participantes a pertinência do banco de dados para planificação, desenho de programas, advocacia, mobilização de recursos e monitoramento e avaliação.

Uma segunda ronda de consultas foi realizada para auscultar Ministérios chaves para a adopção de Iniciativas de Protecção Social Adaptativas e completar a calibragem final dos resultados e recomendações em alinhamento com as expectativas do Governo. Neste sentido, reuniões técnicas tiveram lugar com equipas multidisciplinares do MGCAS, do INGC e do MITADER. Em todos casos, foram feitas apresentações das principais constactações e recomendações vis-à-vis a desafios para sua materialização, principalmente no contexto da revisão actual e reorganização de programas em curso nesses ministérios; ajustes nos manuais de operações ou na revisão dos procedimentos para a elaboração dos planos locais de adaptação (PLA). Em função do exercício, a equipa conseguiu obter contributos adicionais que levaram a uma revisão final mais profunda do relatório e sua subsequente submissão.

3.2 Base de dados interativa

Como parte do processo de avaliação de dados provenientes de diferentes fontes, a informação foi reunida num banco de dados interativo com informações a nível distrital. Tais informações incluem dados sobre população, níveis de pobreza, riscos climáticos, segurança alimentar e o estado da planificação da adaptação climática. Os dados foram usados para avaliar correlações com parâmetros para derivar cruzamentos que podem ser apresentados como mapas. Importante observar que o banco de dados é de código aberto e está disponível para as partes interessadas usarem-no em suas análises e processos de planificação.

3.3 Coordenação com os estudos em curso com assistência do DFID,

sobre o PASP (com sensibilidade ao clima) e sobre a protecção social em

resposta a choques

Foi acordado com o MGCAS que os estudos da Ajuda Irlandesa e DFID seriam coordenados de modo a assegurar a sua complementaridade e reduzir os custos de transacção para as principais partes interessadas. A tabela abaixo resume o âmbito e a forma como os três estudos foram coordenados.

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Tabela 1. Coordenação dos três estudos

Doador/ estudo Objetivos Produtos

DFID/OPM

Fortalecer a base de evidências a respeito de quando e como os sistemas de PS podem melhor dimensionar-se em resposta a choques e, como resultado: minimizar os impactos de choques negativos; reduzir a necessidade de respostas humanitárias separadas.

Melhorar a compreensão dos factores favoráveis e barreiras. Fornecer recomendações ao nível do país. Desenvolver orientações práticas para a concepção e implementação de sistemas de protecção social sensíveis ao choque.

Relatório do status do sistema de SP, e opções para sua extrapolação ou scale-up.

Orientação prática/ kit de ferramentas direcionados as audiências de

protecção humanitária e de protecção social.

DFID ODI/OPM

Avaliar as oportunidades e desafios de programas de PS em Moçambique, no contexto da elevada exposição e vulnerabilidade a, e decorrentes de, choques relacionados com o tempo, e a médio e longo prazo das alterações climáticas.

Avaliar o PSAP atual.

Identificar os passos necessários para desenvolver um PASP sensível as mudanças climáticas, eficaz e inclusivo Identificar as reformas necessárias para a política de PS e instituições para um PSAP mais sensível ao clima. Avaliar acções e intervenções de mudança climática e PS viáveis que possam ser implementados como parte da agenda de PS e clima. Avaliar a viabilidade de uma intervenção do DFID para apoiar um PASP sensível ao clima ou de outras áreas recomendadas de actividade.

Relatório doscomponentes básicos de um caso de negócios que fundamen-tam as opções para implementação.

Ajuda Irlandesa/IIED Avaliação prospectiva de como alinhar a protecção social e os objetivos de resiliência climática e intervenções para beneficiar famílias pobres vulneráveis ao clima.

Compreender a avaliação da

vulnerabilidade e do impacto climático sobre a pobreza. Desenvolver critérios para alcançar a vulnerabilidade climática nas diferentes regiões. Identificar ações de adaptação que podem ser implementadas através de sua integração no sistema de protecção social.

Maneiras como o sistema de PS pode alcançar os mais vulneráveis a mudanças climáticas.

Identificar opções para alinhar PS e clima.

Relatório do estudo de caso estabelecendo:

As opções que existem para abordar a vulnerabilidade climática das famílias-alvo do programa de proteção social; e como nichos, abordagens e modalidades podem ser testados numa base-piloto para avaliar as linhas mestras para o alinhado da protecção social e de intervenções de resiliência climática, visando contemplar, com foco a questão de género, as famílias pobres vulneráveis ao clima.

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4. ANÁLISE DAS EVIDENCIAS RECOLHIDAS

4.1 O ambiente de políticas favoráveis para a ligação entre protecção social e

resiliência climática

Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), a população moçambicana é estimada actualmente em cerca de 24 milhões de habitantes. Deste número, cerca de 55% vivem abaixo da linha da pobreza¹.

Moçambique é particularmente vulnerável às mudanças climáticas, sendo considerado o quinto país mais vulnerável do mundo¹. Esta situação tem um grande impacto em sua segurança alimentar, tomando em consideração que cerca de 70% da população depende da agricultura para a sua subsistência.

Os objectivos de Desenvolvimento Sustentáveis recentemente aprovados pelos países membros das Nações Unidas, incluindo Moçambique, prevê reduzir, até o ano de 2030, em cerca de metade, o número de pessoas que vivem na condição de pobreza, bem como implementar um sistema apropriado de protecção social que atinja um número considerável de pessoas pobres e vulneráveis aos eventos climáticos extremos. Por outro lado, na Declaração de Malabo, todos os países membros da União Africana comprometeram-se em reduzir a vulnerabilidade dos meios de subsistência da população através da integração da resiliência climática e gestão de risco nas políticas, estratégias e planos de investimento.

Tendo em conta estes compromissos internacionais, ao nível nacional, o governo adoptou no seu Plano Quinquenal de Governação (PQG 2015-2019) para promover: o empoderamento das comunidades vulneráveis e das lideranças locais sobre as medidas de adaptação aos riscos climáticos (seca, cheias, ciclones e sismos); fortalecer a coordenação multi-sectorial para a implantação a todos os níveis das medidas adequadas para prevenção e mitigação de calamidades naturais e; assegurar a assistência e integração social das pessoas em situação de pobreza e de vulnerabilidade.

Como forma de materializar esta premissa por parte do governo, o País já conta com a Lei de Protecção Social³ que tem como um dos seus objectivos atenuar as situações de pobreza absoluta das populações; a Estratégia Nacional de Adaptação as Mudanças Climáticas 2013-2025 com a finalidade de estabelecer as directrizes de acção para aumentar a resiliência das comunidades aos riscos climáticos. Recentemente foi aprovada a segunda Estratégia de Segurança Social Básica (ESSB 2016-2024) que reconhece as mudanças climáticas como uma das principais causas de vulnerabilidade da população, e preconiza, entre várias acções, o reforço do nível de resiliência das camadas mais pobres e vulneráveis através da promoção da melhoria da qualidade e da expansão das transferências sociais.

O plano de implementação da Estratégia Nacional de Adaptação e Mitigação de Mudanças Climáticas (ENAMMC 2013‐2025) determina que o país deve envidar esforços, visando reduzir riscos climáticos ao nível local, desenvolvendo para isso instrumentos e intervenções práticas, _____________________________________

¹MPD, 2010

2Estratégia nacional das MC 3Lei n.º 4/2007 de 7 de Fevereiro

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alinhadas à estratégia nacional, que permitam o desenvolvimento a médio e longo prazos da capacidade adaptativa das comunidades locais. É no âmbito da operacionalização desta directriz da ENAMMC que o então Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MICOA, atual MITADER) iniciou, em parceria com os governos provinciais, distritais e actores de cooperação, um processo de desenvolvimento de Planos Locais de Adaptação (PLA). Nestes planos, os distritos e as comunidades elaboram sua visão de desenvolvimento em um contexto de mudanças climáticas e delineiam as intervenções necessárias para alcançar esta visão de desenvolvimento. Os PLAs são considerados um instrumento de apoio aos Planos Estratégicos de Desenvolvimento Distrital (PEDD) e com duração limitada. Espera‐se que, aquando da revisão dos PEDDs, a visão e as estratégias dos PLAs sejam integradas nos novos PEDDs e sejam elaborados os PLAs como instrumento de apoio à planificação.

4.2 Dimensão geográfica

A iniciativa de promover a Protecção Social Adaptativa ganhará força somente se conseguir demonstrar- se, de forma clara e inequívoca, a interligação entre mudanças climáticas e os factores relevantes à protecção social e, nesse caso, a pobreza e a insegurança alimentar. Nessa perspectiva, pretende-se demonstrar nesta secção, a necessidade de se considerar a interdependência desses factores e, subsequentemente, identificar os distritos mais críticos. Este exercício foi realizado de forma sequencial, visando persuadir os diferentes intervenientes através do reconhecimento das diversas oportunidades de estabelecer sinergias e, ao mesmo tempo, fortalecer o desenho, a implementação e o monitoramento dos programas. Os dados sobre mudanças climáticas provem da FEWS-NET; os da INSAN do SETSAN; os dados sobre a pobreza, do MPD; os da população, do INE e os dados sobre programas de protecção social, do INAS.

Boxe: Nota explicativa sobre os dados da pobreza

Continua a exisitir um grande desafio referente aos dados actualizados e desagregados ao nível distrital e subdistrital em relação a pobreza. Essa informação constitui peça fundamental para análises integradas, visando melhorar a planificação e o monitoramento e avaliação (M&A) como preconizado na ENSSB. Para o presente estudo, foram utilizados os únicos dados existentes de referência ao nível do Distrito provenientes da publicação Mapeamento da Pobreza em Moçambique (MPD, 2012). Esses dados

foram usados com o propósito duplo de se completar as análises integradas e demonstrar a utilidade e urgência em passar-se a obter informações sobre a pobreza ao nível distrital e subdistrital.

Os dados da província que foram utilizados não são os mais recentes e escondem as descripâncias distritais. Por essas razões, as informações sobre a pobreza devem ser tratadas com cautela.

RISCOS CLIMÁTICOS E A POBREZA (INCIDÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO)

As correlações simples entre os níveis de pobreza (incidência, gravidade e severidade) e os riscos climáticos (secas, inundações e ciclones) a nível distrital são apresentados na tabela 2 abaixo. A tabela 2 mostra uma correlação positiva entre o risco de seca e a pobreza no que concerne a incidência, profundidade e severidade. O mesmo se verifica em relação aos ciclones. Contudo, em relação ao risco de cheias, a correlação com a pobreza é negativa.

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Tabela 2. Correlações entre a pobreza incidência, profundidade e severidade e riscos de secas, inundações e ciclones. Risco de secas Risco de cheias Risco de ciclones Pobreza incidencia 0.07 - 0.13 0.09 Pobreza profundidade 0.11 - 0.04 0.07 Pobreza severidade 0.12 - 0.00 0.06

A tabela 3 ilustra a fragilidade dos distritos em relação a mudanças climáticas. A tabela foi estruturada por regiões, sendo possível ver-se o peso/importância de cada um dos eventos e as suas respectivas combinações e predominância nos distritos. Nota-se que um total de 88 distritos estão expostos a algum tipo de risco climático a um nível elevado ou muito elevado, dos quais, 34 no Sul, 32 no Norte e 23 no Centro. O ciclone é o evento com mais peso (35 casos) e a seca ocorre em 14 distritos, mas quando somado aos distritos sob efeitos de seca + cheias e secas + ciclone totalizam em 37 casos o que demonstra que este fenômeno (a seca) é de capital importância

Tabela 3. Ilustração da exposição de Riscos Climáticos por Distrito

Fonte de dados: INE 2015 e FEWS-NET 2010

Em relação à incidência da pobreza, depara-se que dos 88 distritos considerados como sendo de exposição aos riscos climáticos (muito elevada e elevada), 38 e 25 respectivamente, ou seja, cerca de 71% apresentam um nível muito alto e alto de incidência da pobreza. Isso é prova inequívoca de que uma intervenção coerente não pode ignorar a forte interligação entre esses dois fenômenos (mudanças climáticas e pobreza), sob pena de haver distorções e redução do impacto das intervenções.

Na tabela 4, ilustra-se a predominância de elevada incidência dos distritos sujeitos a ciclones (18 e 9 respectivamente). Nesses mesmos distritos, o número da população tende a ser maior por

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serem zonas de maior densidade populacional, com maior prevalência na parte costeira. Também, a importância do mesmo fenómeno nos distritos expostos a secas (4 e 6) e nos distritos sob a combinação de seca com outros eventos climáticos (secas e ciclones; secas e cheias) surgem com vários distritos expostos a elevada incidência de pobreza.

Tabela 4: Inter-relação dos Efeitos das Mudanças Climáticas (Elevadas) e Incidência da Pobreza

Fonte de Dados: FEWS-NET 2010 e MPD 1996-97 E 2002-2003

A tabela 5 e os mapas abaixo ilustram a distribuição dos pobres apenas dentro dos distritos considerados com uma incidência da pobreza muito alta (=/> 74%) e alta (62 a < 74%).

Tabela 5. Estimativa do Número de Pobres nos Distritos Altamente Expostos a Riscos e com Elevada Incidência da Pobreza

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Mapa 1. Probreza e os riscos climáticos combinados Mapa 2. Probreza e riscos de secas

De acordo com a tabela 5, depara-se que o número de pobres dentro dos distritos com maior incidência da pobreza concentra-se nos distritos sob efeitos de ciclones, seguidos dos distritos sob a combinação de seca e ciclone e seca. A tabela 5 ilustra os demais casos e as respectivas populações.

As análises acima deixam bem patentes alguns dos desafios a serem considerados no exercício da ligação entre a adaptação climática e a protecção social, nomeadamente:

• As análises dos efeitos múltiplos de mais do que um evento climático no distrito (por exemplo secas e cheias) podem trazer um maior entendimento da problemática e, consequentemente, uma melhor escolha das alternativas de mitigação e adaptação e de esquemas de planificação e monitoramento;

• A consideração das tendências por região e por tipo ou combinação de efeitos climáticos trará maior assertividade;

• Tendo em conta essas informações sobre as variações dos efeitos climáticos alinhados com o índice da pobreza e o número de pobres, os PS estarão em condições de melhor aperfeiçoar o processo de priorização dos beneficiários;

• A desagregação dos tipos de efeitos climáticos e as respectivas combinações favorecerão melhor os PS a acometer recursos nos locais mais susceptíveis a eventos climáticos e a tomar em conta a população, o índice e os números de pobres.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E INSEGURANÇA ALIMENTAR

À semelhança do que se fez em relação à pobreza, também se recorreu ao banco de dados para ilustrar a situação de InSAN nas suas três dimensões: Disponibilidade, Acesso e Utilização.

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A tabela 6 ilustra a situação. Nota-se que 68 distritos estão expostos a InSAN (Disponibilidade) 10 a InSAN (Acesso) e 79 a InSAN (Utilização). A tabela 6 também ilustra as respectivas populações e os demais casos por tipo de eventos climáticos. Contudo, destaca-se o número de distritos afectados por ciclones e secas que também estão sujeitos a InSAN. Mais uma vez, mostra-se que os distritos sob efeitos de mostra-seca quando somado aos distritos sob efeitos de mostra-seca e ciclone e seca e cheias são os que apresentam maior número de casos com InSAN (disponibilidade). Enquanto isso, os distritos sob efeitos de ciclone, sozinhos, ilustram maior número de InSAN quer da disponibilidade e quer da utilização.

Tabela 6: Situação de InSAN (Elevada e Muito Elevada) nos Distritos de Elevada Exposição aos Riscos Climáticos

Fonte de dados: INE 2015 e FEWS-NET 2010 e SETSAN 2008

Distribuição dos Programas de Protecção Social entre Distritos com Elevados Riscos Climáticos e Incidência da Pobreza

O propósito das análises abaixo é o de ver se há efectivamente alguma ligação entre os locais onde os programas do INAS foram implementados e os aspectos de mudanças climáticas, pobreza e insegurança alimentar e, subsequentemente, saber até que ponto os distritos considerados mais críticos têm feito parte do programa.

INCIDÊNCIA DOS PROGRAMAS DE 2013 A 2015

A tabela 7 ilustra os números de distritos cobertos por cada um dos programas e os respectivos números de beneficiários. Nota-se que, realmente, existem variações consideráveis entre os programas de ano para ano, destacando-se, no entanto a cobertura geográfica do PSSB e PASD, mas com uma cobertura limitadíssima do PSSA. O PASP teve uma redução substancial de 2014 para 2015, o que deve ser reflexo da exiguidade de fundos e a redução das actividades do PMA em relação a este programa.

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Tabela 7: Evolução dos Programas de Protecção Social (2013 a 2015) por Região

Fonte: Relatório do INAS 2013, 2014, 2015

PROGRAMAS E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

A tabela 8 ilustra a existência de pré-condições para reforçar as mudanças climáticas nos programas de protecção social sem grandes sobrecargas adicionais. Efectivamente, isolou-se os distritos expostos a riscos climáticos (elevados e muito elevados). Nota-se que o PASD e PSSB, pelo facto de estarem a operar em todos distritos, acabaram por estarem presentes a 100% nos distritos com elevado riscos a mudanças climáticas entre 2013 a 2015. O PASP, no entanto, teve a sua maior concentração nos distritos expostos a seca, ciclones e cheias e seca e ciclone em 2013 e 2014, mas com uma redução substancial em 2015.

Tabela 8: Interligação dos Programas de Protecção Social e Mudanças Climáticas

Fontes: Relatório do INAS e INGC/FEWS-Net

A Figura 2 mostra a cobertura do PSAP relacionados a riscos climáticos e incidência de pobreza. Os mapas mostram que PSAP está operando em algumas das áreas de maior risco climático e pobreza elevada.

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Figura 2. Mapas de distribuição PSAP relacionadas com a pobreza, e da seca e do risco de inundação a nível distrital.

PROGRAMAS, POBREZA E INSAN

A protecção social, pela sua natureza, visa priorizar acções para assistir a vulnerabilidade das populações nas suas dimensões múltiplas. Desta forma, a pobreza e a insegurança alimentar devem estar no centro, como peças-chave para desenhar programas, definir a incidência geográfica e priorizar a assistência aos mais pobres. Nessa perspetiva, investigou-se também a compatibilidade dos programas com os distritos mais críticos. Isso significa seleccionar os distritos que simultaneamente são expostos a riscos (elevados e muito elevados) de efeitos climáticos; elevado e muito elevado riscos de InSAN e; com maior incidência da pobreza (acima de 64%) e verificar, até que ponto, os programas de PS estão presentes nesses distritos.

A tabela 9 ilustra a situação e nota-se que efectivamente a robustez da cobertura geográfica é uma realidade prevalecendo, no entanto o factor limitante da cobertura dos beneficiários dentro de cada distrito.

Referências

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