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Resumo: Autoria: Juliana Cristina Teixeira, Marco César Ribeiro Nascimento

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Academic year: 2021

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Uma defesa à Triangulação Metodológica e ao Multiparadigmatismo nas Pesquisas em contraposição a resistências enfrentadas: uma análise dos anais do Enanpad de 2009

Autoria: Juliana Cristina Teixeira, Marco César Ribeiro Nascimento

Resumo:

As Ciências Sociais têm sido palco de debates ontológicos e epistemológicos ao longo dos anos. Inserindo-se nessas discussões, o presente trabalho visa empreender uma reflexão sobre a triangulação de métodos e o multiparadigmatismo nas pesquisas sociais, mais especificamente no âmbito da Administração; reconhecendo ainda a comum resistência enfrentada por novas perspectivas por parte da comunidade científica integrante do que Kuhn (1962) define como sendo ciência normal, usualmente disposta a defender um paradigma dominante.

Para tanto, assume dois objetivos. O primeiro é refletir sobre a utilidade dessas concepções para a pesquisa. O segundo é, tendo constatado a resistência ainda significativa à combinação de métodos de diferentes bases epistemológicas, fazer um levantamento da incidência de trabalhos que utilizaram a triangulação como opção metodológica dentre os artigos que foram publicados nos anais do Enanpad (Encontro da Anpad) do ano de 2009. Secundariamente, identificar a incidência por divisões acadêmicas do evento, bem como analisar a formação ou não de parcerias para a elaboração dos trabalhos, dado que a formação de equipes pode ser uma alternativa interessante para lidar com as dificuldades concernentes à realização de uma pesquisa com a metodologia da triangulação.

Como quadro de referência, são utilizadas tanto obras seminais quanto obras recentes referentes aos conceitos de paradigmas, incomensurabilidade paradigmática, triangulação, metodologias qualitativa e quantitativa de pesquisa e o conceito de multiparadigmatismo.

Como resultados e conclusões, no âmbito teórico especificamente, verifica-se a importância da defesa da triangulação e do multiparadigmatismo como caminhos úteis para a pesquisa científica, diante da crescente complexidade dos fenômenos a serem estudados. Pois se defende uma não anarquia no que se refere à determinação das metodologias adequadas à condução de uma pesquisa. Ainda, constata-se a existência de significativas dificuldades e desafios que se assume ao conduzir uma pesquisa que utilize a triangulação de métodos. Conclui-se também, preponderantemente, a respeito da importância da adequação paradigmática e metodológica com o objeto de pesquisa e com o contexto em que este objeto se insere.

Relativamente à análise bibliométrica realizada, parte empírica da pesquisa, verificou-se que a incidência da triangulação metodológica é muito pequena comparativamente ao volume de artigos publicados nos anais do Enanpad, o que demonstra as resistências ainda existentes. Secundariamente, observou-se que a maioria dos trabalhos que utilizaram a triangulação foram realizados por meio de co-autorias, o que corrobora com considerações de que a formação de equipes pode contribuir para o enfrentamento das dificuldades ainda concernentes ao desenvolvimento de uma pesquisa que utiliza a triangulação.

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1. Introdução

Ao longo dos anos, debates ontológicos e epistemológicos têm ocorrido nas Ciências Sociais, e Reed (2007) afirma que a teoria da organização é um campo de conflitos históricos em que diferentes abordagens, filosofias e línguas lutam por reconhecimento e aceitação. Caldas e Fachin (2005) destacam, entretanto, que o funcionalismo continua a manter sua hegemonia nos estudos organizacionais, tanto no Brasil como no exterior, embora essa discrepância tenha se alterado nas últimas décadas.

O conceito de paradigma traz consigo implicações diretas para a pesquisa, seja ela de cunho qualitativo ou quantitativo, pois orienta o conteúdo científico, oferecendo-lhe uma base teórica que é considerada confiável. Assim, a escolha exclusiva por um dos paradigmas, defendida pelos adeptos da incomensurabilidade paradigmática, pode acabar por limitar a pesquisa.

A dicotomia subjetivismo/objetivismo, ou seja, dimensões tratadas como antagônicas e até excludentes, parece diminuir à medida que novos pensamentos surgem. Assim, a triangulação de métodos e de paradigmas permite o diálogo entre concepções diferentes, o que enriquece os resultados dos trabalhos das Ciências Sociais, ressaltando-se, obviamente, a importância da validade e do rigor.

Nesse sentido, o presente trabalho visa empreender uma reflexão sobre a triangulação de métodos e o multiparadigmatismo nas pesquisas sociais, mais especificamente no âmbito da Administração; reconhecendo ainda a comum resistência enfrentada por novas perspectivas por parte da comunidade científica integrante do que Kuhn (1962) define como sendo ciência normal, usualmente disposta a defender um paradigma dominante.

Para tanto, assume dois objetivos. O primeiro é refletir sobre a utilidade dessas concepções para a pesquisa. O segundo é, tendo constatado a resistência ainda significativa à combinação de métodos de diferentes bases epistemológicas, fazer um levantamento da incidência de trabalhos que utilizaram a triangulação como opção metodológica dentre os artigos que foram publicados nos anais do Enanpad (Encontro da Anpad – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração) no ano de 2009. Secundariamente, identificar a incidência por divisões acadêmicas do evento, bem como analisar a formação ou não de parcerias para a elaboração dos trabalhos, dado que a formação de equipes pode ser uma alternativa interessante para lidar com as dificuldades concernentes à realização de uma pesquisa com a metodologia da triangulação.

Como quadros de referência, são utilizadas tanto obras seminais quanto obras recentes referentes aos conceitos de paradigmas, incomensurabilidade paradigmática, triangulação, metodologias qualitativa e quantitativa de pesquisa e o conceito de multiparadigmatismo.

O artigo divide-se da seguinte forma: (1) discute-se o conceito de paradigma, para ser apresentada a seguir a idéia de incomensurabilidade paradigmática. (2) Posteriormente, apresenta-se a utilidade da triangulação, com destaque para a triangulação de métodos e o multiparadigmatismo. (3) Em seguida, ressalta-se sua importância para a tentativa de ampliar as possibilidades de resolução de complexos problemas de pesquisa ou até mesmo para o próprio enriquecimento dos resultados científicos. (4) Adiante, são apresentados os resultados obtidos por meio da análise bibliométrica empreendida entre os artigos publicados nos anais do Enanpad. (5) Por fim, são tecidas as considerações finais.

2. O conceito de paradigma na ciência

Iniciaremos a discussão apresentando o conceito de paradigma para as Ciências Sociais. Em primeiro lugar, torna-se importante esclarecer que a expressão Ciências Sociais é utilizada para diferentes áreas de conhecimento que envolvem relações de caráter humano e

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3 social, compreendidas por questões sociais, econômicas, políticas, psicológicas, culturais e educacionais (GODOY, 1995), nas quais se insere a Administração. De que se trata então o termo paradigma?

Thomas-Kuhn foi o criador do conceito de paradigma (SERVA, 1992, BASTOS FILHO, 2002) em sua obra intitulada A Estrutura das Revoluções Científicas, cujo prefácio data de 1962. Kuhn define paradigma, nesse prefácio, como sendo “as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (KUHN, 2005, p.13). O paradigma é então precedido pela visão de mundo, pelos valores e crenças que são compartilhados por uma comunidade científica, tendo como referência essas realizações científicas e esses modelos de problemas e soluções para as pesquisas, que passam a ser utilizados por algum tempo (KUHN, 1962).

Após a repercussão do conceito de paradigma por Kuhn (1962), o termo se popularizou e passou até a se tornar corriqueiro no seio de grupos de pessoas, passando a assumir também uma gama ampla de significados (BASTOS FILHO, 2000). A partir do conceito de paradigma que desenvolve, Kuhn (1962) distingue dois estágios do desenvolvimento científico com base na prática da ciência com a tutela ou não de um paradigma. O estágio de desenvolvimento não orientado por um paradigma, pré-paradigmático, e o estágio orientado por um paradigma, pós-paradigmático. Kuhn (1962) define esse último estágio como sendo a ciência normal, tamanha a importância dada ao conceito de paradigma.

Os paradigmas se tornam então elementos fundamentais para a orientação da prática científica, desempenhando a função de modelos a serem seguidos. Desse modo, os mesmos acabam por tomar uma dimensão condicionante de sucesso para os pesquisadores para o compartilhamento de generalizações simbólicas, modelos, valores e princípios de pesquisa. Assim, transformam-se em mentalidades científicas (SZCZEPANIK, 2008).

Especificamente, o paradigma orienta o conteúdo científico, oferecendo-lhe uma base teórica que é considerada confiável e que é compartilhada pela comunidade científica. Além disso, delimita a visão do cientista, gerando a realização de investigações profundas e especializadas, já que fornece tanto o que deve ser considerado como problema como também as soluções modelares de pesquisa (SZCZEPANIK, 2008).

Como o paradigma é compartilhado, a prática científica deixa de ser uma atividade individual e passa a ser coletiva (SZCZEPANIK, 2008). Pois pelo compartilhamento, o pensamento dentro de uma comunidade científica precisa ser convergente. Assim, o mesmo pode se tornar também um conjunto de regras que precisam ser incorporadas e transformadas em hábitos (SZCZEPANIK, 2008).

Especificamente no contexto dos estudos organizacionais, a discussão sobre os paradigmas foi impulsionada pelas formulações de Burrel e Morgan (1979), que classificaram a pesquisa organizacional em compartimentos estanques representados por quatro diferentes visões paradigmáticas: funcionalismo, interpretativismo, humanismo radical e estruturalismo. Os autores propõem então um esquema que se tornou clássico e foi alvo de intensas críticas e debates.

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Figura 1. Classificação de paradigmas dos estudos organizacionais Fonte: Burrel e Morgan (1979, p. 22).

Para a teoria organizacional, a concepção de paradigma envolve, assim, uma diferenciação em termos epistemológicos e ontológicos, o que se reflete, conseqüentemente, nas escolhas metodológicas, já que “a abordagem paradigmática traz à tona tanto a questão dos pressupostos epistemológicos da pesquisa quanto a da sua metodologia” (CABRAL, 2002, p. 68).

3. A não radicalização da incomensurabilidade paradigmática: um caminho para o diálogo entre paradigmas científicos

Kuhn (1962) também introduziu o conceito de incomensurabilidade paradigmática, conceito este contrário ao defendido no presente trabalho. Há dois diferentes momentos em que o autor trata do conceito. Primeiramente, a incomensurabilidade traduz o fato de duas teorias científicas que se sucedem serem incompatíveis em relação a pressupostos, métodos, instrumentos, critérios, domínios empíricos e ontologia (KUHN, 1962). Assim, não haveria possibilidade de comparar duas teorias diretamente, de determinar qual delas seria melhor ou teria mais capacidade de solucionar problemas ou possui maior poder explicativo (DUARTE, 2006).

Da mesma forma, Burrel e Morgan (1979), adotando o posicionamento que lhes custou especificamente a maior parte das críticas e debates no campo dos estudos organizacionais, defendiam a noção de incomensurabilidade paradigmática Os autores defendiam que a aceitação de um paradigma implicava necessariamente em desafiar as concepções dos demais. Ou seja, para os autores, os quatro paradigmas propostos em seu esquema não poderiam se conciliar nem mesmo dialogar.

Retornando à Kuhn (2000), em um segundo momento, o autor já passa a restringir a questão da incomensurabilidade paradigmática a uma dimensão relacionada à linguagem. Nesse momento, os paradigmas passam a representar focalmente modelos de linguagem, como usos diferenciados em determinados momentos. A incomensurabilidade estaria relacionada a uma questão semântica, em que haveria dificuldade de compreensão da linguagem de diferentes teorias científicas, da compreensão dos termos taxonômicos (KUHN, 2000) de cada uma. Assim, utilizando léxicos diferentes, a idéia seria a de que cientistas de diferentes teorias não se entenderiam.

Porém, a noção de incomensurabilidade não deve ser considerada de forma radical e sim, mais como uma dificuldade de comunicação do que uma impossibilidade. Pois o próprio Kuhn (2000) revela a possibilidade do diálogo entre duas teorias distintas, com léxicos diferentes, por meio do aprendizado do léxico da outra comunidade científica. Importante considerar que não se trata de uma questão de tradução de termos da outra comunidade (DUARTE, 2006), mas sim, de aprender a forma de utilização dos termos taxonômicos pela outra comunidade.

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5 Além disso, afirma-se que entender incomensurabilidade como impossibilidade de comunicação é um mal-entendido em dois sentidos. No primeiro, a mesma não pode ser vista como incomparabilidade entre teorias. Pois se duas teorias não englobam o mesmo domínio de fenômenos, não são competitivas entre si. E englobando o mesmo domínio, podem ser imediatamente comparáveis em relação às suas previsões empíricas. Além disso, é possível identificar termos taxonômicos em que o sentido foi alterado e aprender, pelo menos parcialmente, a linguagem de uma teoria a partir de outra. No segundo sentido, a noção kuhniana de incomensurabilidade não integra a noção de descontinuidade radical entre teorias, já que em uma mudança paradigmática há a reivindicação de preservação, pela comunidade científica, de realizações concretas do paradigma antecessor (HOYNINGEN-HUENE, 1993).

Desse modo, a noção kuhniana de incomensurabilidade não diz respeito a uma impossibilidade radical de comunicação entre paradigmas. Pois, na verdade, o que estaria em questão é a dificuldade de comunicação entre cientistas que não possuem o mesmo quadro de referência. Para a questão da linguagem, observa-se, pois, que a tradução não seria o caminho adequado, mas sim, o aprendizado da outra língua, mais relacionado ao bilingüismo. Já que por meio do mesmo, pode-se ter conhecimento das diferenças de aplicações de expressões em línguas diferentes. E é com base nessa idéia de incomensurabilidade como dificuldade e não como impossibilidade de comunicação, que se defende tanto a triangulação de métodos de pesquisa quanto o multiparadigmatismo.

4. A triangulação como perspectiva útil para as Ciências Sociais

Contrariamente à noção apresentada de incomensurabilidade paradigmática, e mais afim com seu próprio reconhecimento da possibilidade de diálogo entre diferentes teorias científicas, há na literatura um debate comum entre metodologias de pesquisa. Importante frisar que a metodologia é “uma disciplina instrumental a serviço da pesquisa; nela, toda questão técnica implica uma discussão teórica” (MARTINS, 2004, p. 291).

Em se tratando de metodologias de pesquisa, “o fazer ciência não segue um único modelo ou padrão de trabalho científico” (MARTINS, 2004, p.292), havendo diversidade de métodos e técnicas de investigação. Dentro dessa diversidade em termos de métodos e técnicas, há, predominantemente, o debate em torno da utilização da metodologia quantitativa ou qualitativa nas pesquisas em Ciências Sociais. Avançando nesse debate, há o método de triangulação metodológica, em que se utilizam ambas as metodologias em uma pesquisa, culminando também na combinação de elementos objetivos e subjetivos dentro da mesma pesquisa. E é sobre esses conceitos que discorreremos a seguir.

A metodologia quantitativa de pesquisa leva à condução de uma investigação por meio de um plano estabelecido a priori, com a definição de hipóteses de pesquisa e de variáveis operacionalmente definidas. Conduz medições objetivas e busca a quantificação dos resultados. Preza pela precisão e por evitar distorções. Desse modo, enumera ou mede os eventos estudados e emprega instrumental estatístico para analisar dados. Há, pois, a expressão quantitativa e numérica desses dados. (GODOY, 1995, p. 58).

Por outro lado, a metodologia qualitativa de pesquisa não conduz medições nem quantificação de resultados. Ao invés disso, busca a obtenção de dados descritivos sobre os fenômenos estudados, especialmente sobre as pessoas, lugares e processos interativos. Há um contato direto do pesquisador com o fenômeno. Assim, não há uma definição de um plano específico a priori. Pois parte de planos mais amplos, que vão sendo definidos durante a pesquisa. Há a busca pela compreensão dos fenômenos estudados por meio da perspectiva de seus próprios participantes e sujeitos. Desse modo, a metodologia qualitativa rejeita a expressão quantitativa e numérica dos dados. Considera ainda que todos os dados de uma

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realidade sejam importantes e precisam ser analisados para que se compreenda o contexto do fenômeno estudado. Rejeita, assim, a redução das pessoas e do ambiente estudado a variáveis, propondo uma análise mais holística dos mesmos (GODOY, 1995).

Houve, nas pesquisas em Ciências Sociais, significativa predominância de pesquisas quantitativas em comparação com pesquisas qualitativas (DOWNEY e IRELAND, 1979; GODOY, 1995; MARTINS, 2004). A dicotomia entre subjetivo e objetivo levantada pela distinção entre pesquisa qualitativa (subjetiva) e quantitativa (objetiva) fez com que a pesquisa se aproximasse mais dos tipos quantitativos de dados. Um dos motivos apontados para tal é o medo, por parte dos pesquisadores, de conduzir uma pesquisa que parecesse não

científica (DOWNEY e IRELAND, 1979), dado o predomínio da pesquisa quantitativa e sua

maior aceitação no meio acadêmico. Além disso, a pesquisa qualitativa enfrentou bastante resistência pela indicação de possíveis limitações da mesma, relacionada a questões como o risco à neutralidade e à subjetividade do pesquisador em sua interação com o objeto estudado, questões de representatividade, e a questões de problemas técnicos na coleta e análise de dados (MARTINS, 2004). Ainda, a pesquisa qualitativa demanda maior complexidade em relação à análise de dados devido à comum variedade de material coletado, exigindo do pesquisador intenso esforço integrativo, analítico e intuitivo.

Nesse contexto de resistência, a pesquisa qualitativa, apesar de ter sido regularmente utilizada na Antropologia e Sociologia, ganhou espaço mais recentemente em áreas como a Psicologia, Educação e Administração (GODOY, 1995).

Na administração de empresas o interesse pela abordagem qualitativa começa a se delinear a partir dos anos 70, culminando com a publicação, em 1979, de um número da revista Administrative Science Quarterly, totalmente dedicado ao tema qualitative methodology (GODOY, 1995, p. 61-62).

A grande resistência enfrentada pela pesquisa qualitativa deve-se justamente ao predomínio da pesquisa quantitativa e também devido à forte influência de Durkheim em sua utilização de métodos estatísticos tanto na coleta quanto na análise de dados (GODOY, 1995). Enquanto a pesquisa qualitativa valorizava a intuição como um resultado da formação e experiência do pesquisador, na pesquisa quantitativa se buscava justamente controlar a intuição e a imaginação do mesmo, restringindo a expressão de sua subjetividade por meio de caminhos bem delimitados de pesquisa (MARTINS, 2004).

Contudo, embora haja a predominância histórica da abordagem positivista no âmbito da Administração, o estudo de Dalmoro et al (2007), que também utilizou análise bibliométrica de artigos do Enanpad, demonstra que há uma plurificação incipiente dos paradigmas dominantes nas pesquisas em Administração no Brasil, observando que em cinco das dez divisões acadêmicas dos anais analisado havia um predomínio de métodos interpretativistas em relação aos positivistas. Resta saber, portanto, se há também o crescimento da conjugação dessas duas perspectivas por meio de estudos multiparadigmáticos. 

É no início dos anos 60, segundo Godoy (1995), que se inicia a redução da tensão no debate entre pesquisa quantitativa e qualitativa, propiciando o começo de um diálogo, o que representa um amadurecimento inicial em relação à consideração de que ambas as metodologias não sejam mutuamente exclusivas ou opostas (JICK, 1979; DOWNEY e IRELAND, 1979; POPE e MAYS, 1995), apesar de poderem ser contrastadas enquanto associações de diferentes visões de realidade (NEVES, 1996). Afirma-se que as duas devem ser vistas como complementares ao invés de campos rivais, podendo ser combinadas dadas as forças e fraquezas encontradas em cada uma (JICK, 1979), contribuindo para uma melhor compreensão do fenômeno estudado (NEVES, 1996).

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7 E é com base nessa afirmação que se contextualiza o conceito de triangulação, no que se refere à metodologia de pesquisa. A triangulação pode ser definida como a utilização de múltiplos métodos para a investigação de um mesmo fenômeno (JICK, 1979; MATHISON, 1988; MORSE, 1991; BLAIKIE, 1991; DUFFY, 2007) em pesquisa. Implica, portanto, na combinação de metodologias e na utilização de diferentes teorias, dados e/ou investigações (DUFFY, 2007). Faz-se, na literatura, referência também a outras denominações de triangulação com sentido semelhante, como validação convergente ou multimétodo (JICK, 1979). O termo triangulação tem origem militar relacionado à utilização de múltiplos pontos de visão para a localização de objetos, sendo que, da mesma forma, pesquisadores podem melhorar seus julgamentos por meio da coleta de diferentes tipos de informações (JICK, 1979). Geralmente, a triangulação envolve a combinação de pelo menos dois métodos, sendo um quantitativo e outro qualitativo (MORSE, 1991).

Em geral, as discussões sobre a combinação de ambos os métodos geram em torno da utilização de surveys com estudos de caso (JICK, 1979; BLAIKIE, 1991) ou de entrevistas combinadas com observação participante (BLAIKIE, 1991). Morse (1991) define dois tipos possíveis de triangulação. A simultânea e a seqüencial. A triangulação simultânea compreende a utilização dos métodos qualitativos e quantitativos ao mesmo tempo. A autora ressalta que, assim, há limitada interação entre os métodos durante a coleta de dados. Porém, ambos se complementam quanto aos resultados. Sugere a triangulação seqüencial, aquela em que um método segue o outro e que há possibilidade de planejar o método seqüencial conforme a adequação dos dados obtidos com o método anterior, para complementá-los. Com a combinação de métodos, a triangulação torna a pesquisa mais “forte e reduz os problemas de adoção exclusiva” (NEVES, 1996, p.2) de alguns métodos. A triangulação pode, nesse sentido, controlar vieses de pesquisa por meio dos métodos quantitativos e compreender melhor a perspectiva dos sujeitos dos fenômenos estudados por meio dos métodos qualitativos (DUFFY, 2007).

O método tem sido aceito cientificamente devido a vários benefícios que pode propiciar para uma investigação. Dentre esses benefícios, destacam-se a possibilidade de uma compreensão mais abrangente dos fenômenos estudados (SOUZA e ZIONI, 2003), a garantia de uma maior validade dos dados e resultados ou maior confiança do pesquisador nos mesmos (JICK, 1979; MATHISON, 1988; SOUZA e ZIONI, 2003; DUFFY, 2007) e uma inserção mais profunda do mesmo no contexto pesquisado (SOUZA e ZIONI, 2003). Além disso, a triangulação propicia aos investigadores oportunidades importantes, incentivando a imaginação e a criação de novos métodos de pesquisa e novas formas de compreender problemas. A triangulação pode, desse modo, enriquecer as explicações dos problemas de pesquisa (JICK, 1979).

Contudo, é importante destacar que a triangulação não é um método de fácil condução, tendo vários desafios a serem enfrentados para que, de fato, gere os benefícios citados. Talvez por isso também enfrente certa resistência por parte da comunidade científica, havendo correntes ainda não adeptas. Dentre os desafios enfrentados, está a dificuldade de se analisar dados de natureza diversa, integrando aqueles que são de natureza numérica com os de natureza descritiva e textual (MORSE, 1991). Há também a dúvida quanto à convergência ou não dos resultados de dados que foram coletados de maneira diversa (JICK, 1979), já que são pontuais as diferenças entre as metodologias qualitativa e quantitativa, como já foi abordado no presente ensaio. Assim, o esforço para concluir os resultados e integrá-los de modo que sejam convergentes é intensificado ao se utilizar o método de triangulação em uma pesquisa. Porém, como já foi observado, tal esforço pode ser recompensador, e a triangulação, quando utilizada apropriadamente, pode produzir resultados muito valiosos (DUFFY, 2007). Mesmo se houver divergência quanto aos resultados da pesquisa, a mesma pode “se transformar em uma oportunidade para enriquecer a explicação” (JICK, 1979, p.607) do fenômeno estudado.

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Além disso, ela tem sido utilizada como método para enfrentar a complexidade cada vez maior dos fenômenos estudados e, diante de tal complexidade, é natural que haja maior necessidade de aprofundamento. E, inclusive, maior dificuldade de condução de pesquisas para lidar com questões complexas.

5. Além da triangulação de métodos: o multiparadigmatismo e seus benefícios

Quando se discute triangulação de métodos, a questão paradigmática está necessariamente envolvida, pois o método precisa ser adequado com a corrente paradigmática que se adota. Como o paradigma está relacionado ao modo como uma comunidade científica vê o mundo (DUARTE, 2006), possui suas próprias correntes ontológicas e epistemológicas. Assim, quando se fala em triangulação de métodos, há também o envolvimento de diferentes paradigmas científicos em uma mesma pesquisa.

A presente discussão pretende, pois, chegar ao conceito de multiparadigmatismo, defendendo o mesmo como uma alternativa útil para a prática científica, assim como se defende neste trabalho a triangulação de métodos. A idéia de multiparadigmatismo refere-se à crença na possibilidade de conversa entre os paradigmas e da realização de pesquisas científicas que se baseiem em mais de um paradigma. Como há a já citada inter-relação entre método e paradigma, e há também várias possibilidades de combinação de métodos em pesquisas, a combinação paradigmática não se torna uma idéia tão “absurda”. Remetendo à própria afirmação por Kuhn (2000) de que há sim uma possibilidade de conversa entre paradigmas, ainda que difícil, o multiparadigmatismo parece também remeter aos mesmos benefícios que a triangulação de métodos pode oferecer.

Ao defender a utilização apenas de um paradigma em determinada área de conhecimento é necessário atentar para o fato de que, nesse sentido, “a teoria [...] e a pesquisa [...] são construídas sobre uma rede de suposições tidas como certas” (MORGAN, 2005). Dada a complexidade crescente dos fenômenos a serem investigados por cientistas sociais, bem como a complexidade dos homens como seres sociais, que são o foco de pesquisa desses cientistas, rejeitar paradigmas e acreditar que os mesmos não possam conversar entre si pode fazer com que se deixe de lado grande parte das possibilidades de se enxergar um fenômeno social.

Por meio da metatriangulação na construção de teorias (LEWIS e GRIMES, 2005), as abordagens multiparadigmáticas podem auxiliar justamente na compreensão de “fenômenos particularmente complexos e paradoxais ao ajudarem os teóricos a utilizar perspectivas distintas” (LEWIS e GRIMES, 2005, p.72). Por meio do diálogo entre distintos paradigmas em um processo de desenvolvimento científico, sugerir-se-ia um crescimento em termos de reflexividade e riqueza do campo científico. Ainda, a possibilidade de se desvendar “caminhos metateóricos pouco explorados e promissores para além do funcionalismo dominante, especialmente os referenciais críticos e interpretativos” (CALDAS, 2005b). Isto porque, assim como houve um predomínio da pesquisa quantitativa nas Ciências Sociais, há também um predomínio do paradigma funcionalista nas Ciências, aprisionando e limitando o desenvolvimento do campo científico (BURREL e MORGAN, 1979).

Machado-da-Silva et al (1990), por exemplo, são autores que se preocupam com o predomínio do paradigma funcionalista no Brasil, indicando a necessidade de maior diversidade paradigmática. Santana e Gomes (2007), refletindo sobre as perspectivas futuras da pesquisa organizacional, indicam o caminho de uma contra-hegemonia de paradigmas contrários à objetividade do funcionalismo, bem como a própria articulação entre os subcampos do conhecimento.

Reforçando ainda mais o posicionamento aqui adotado, especificamente para o âmbito da Administração, Ottoboni (2009, p. 01), discutindo a diversidade paradigmática desta

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9 disciplina, ao tentar responder a questão: “para que a Administração se consolide como ciência, como esta diversidade deveria ser tratada?”, chega à conclusão de que:

[...] na Administração, diferentemente das ciências naturais, não há a substituição de um paradigma por outro; ela é multidisciplinar e como tal comporta a presença de múltiplos paradigmas. O avanço da Administração como ciência depende da sua habilidade em encontrar seu próprio caminho epistemológico. Esta evolução só será possível quando pesquisadores acreditarem na perspectiva multiparadigmática. (OTTOBONI, 2009, p.01).

Contudo, trazendo para o contexto da prática científica, observa-se que ainda são significativos os desafios enfrentados na condução de uma pesquisa com triangulação metodológica e abordagem multiparadigmática. O que é facilmente passível de compreensão, dado que a noção de multiparadigmatismo rompe com concepções dominantes de pesquisa, não só com a predominância do paradigma funcionalista, mas com a própria concepção de incomensurabilidade paradigmática.

Torna-se necessário, ademais, tanto na defesa pelos potenciais benefícios do multiparadigmatismo como na defesa pela triangulação, considerar a importância da adequação dos métodos ou paradigma com o objeto e o objetivo da pesquisa, pois as especificidades da mesma é que determinarão a viabilidade ou até mesmo a possibilidade de se aproveitar as vantagens de se conjugar diferentes perspectivas para a análise de um fenômeno social. Contrariamente às resistências ainda existentes ao posicionamento que se adota no presente artigo, e corroborando com o que se defende, Feyerabend (2003), cuja obra teve sua primeira edição em 1987, já defendia a anarquia ou liberdade ao se fazer pesquisa, concluindo que “o único princípio que não inibe o progresso é: tudo vale” (FEYERABEND, 2003, p.43).

Cabral (2002) também defende que se torna inviável a determinação de uma supremacia de uma estratégia de pesquisa, seja qual for, o que contribui para o reconhecimento da importância da conversação nas Ciências Sociais. Desse modo, mantendo uma adequação com o que se pretende analisar, abre-se um espaço para a criatividade dos pesquisadores, já que os fatos sociais por eles estudados podem ser significativamente complexos para que se limitem os caminhos possíveis para sua compreensão.

6. Confirmando a resistência: a incidência da triangulação metodológica nos artigos publicados nos anais do Enanpad nos anos de 2006 a 2009

Como se pode observar, a resistência à triangulação metodológica é compreensível visto que “um dado paradigma constitui um universo conceitual compartilhado por uma comunidade que sabe piamente como o mundo é” (BASTOS FILHO, 2000, p. 1300). Desse modo, é difícil o processo de fazer com que uma comunidade se abra para outras perspectivas diferentes do quadro conceitual a que está habituada.

Contudo, a emergência de objetos e fenômenos de estudo cada vez mais complexos faz com que a necessidade de abertura para novos caminhos de se fazer pesquisa seja intensificada. Surgem

Novos tempos, novos problemas, novas modalidades de pesquisa. A busca de novos caminhos não exime o pesquisador de trilhar as rotas tradicionais da pesquisa, tampouco o autoriza a descartá-las. Ao contrário, ela pressupõe a sua superação pela adoção de uma postura científica diferenciada, mais crítica, mais reflexiva, menos intransigente (CABRAL, 2002, p. 71).

Dessa forma, contribui-se para uma minimização dos efeitos da predominância no campo científico de determinados paradigmas ao longo dos tempos. Porém, a análise dos anais do Enanpad do ano de 2009 demonstram como ainda são pouco significativos os

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estudos que utilizam a triangulação metodológica. Ou seja, ainda que haja, por exemplo, uma grande abertura aos estudos qualitativos, se contrapondo à histórica hegemonia dos estudos de cunho positivista, não há ainda uma significativa exploração da combinação de métodos para a análise dos fenômenos estudados. Os dados não permitem generalizações, contudo, sendo o evento o mais expressivo no campo de pesquisa em Administração, os resultados podem revelar importantes tendências no que se refere a opções metodológicas e paradigmáticas.

A análise das metodologias empregadas pelos trabalhos levou aos seguintes resultados:

ENANPAD 2009 Artigos publicados Artigos - Triangulação Incidência

ADI - Administração da Informação 50 6 12%

APS - Administração Pública e Gestão Social 113 13 12%

EOR - Estudos Organizacionais 130 8 6%

ENEPQ - 2009 4 0 0%

EPQ - Ens. e Pesq.em Adm. e Contabilidade 72 2 3%

CON - Contabilidade 66 4 6%

ESO - Estratégia em Organizações 131 7 5%

FIN- Finanças 55 1 2%

GCT - Gestão de Ciência, Tecnologia e Inovação 45 1 2%

GOL - Gestão de Operações e Logística 38 1 3%

GPR - Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho 88 3 3%

MKT - Marketing 88 7 8%

TOTAL 880 53 6%

Figura 2. Incidência de artigos que utilizaram a Triangulação metodológica nos anais do Enanpad de 2009 Fonte: elaborado pelos autores com base nos anais do Enanpad.

Observa-se que, dentre um total de 880 artigos publicados, apenas 53, ou seja, 6%, utilizaram a triangulação metodológica. Tendo sido considerados apenas os trabalhos que transitavam entre mais de uma vertente epistemológica como decorrência de suas opções metodológicas (não foram considerados trabalhos que utilizaram apenas triangulação de dados, por exemplo).

Percebe-se ainda que a maior incidência percentual de triangulação está nas divisões de Administração da Informação e Administração Pública e Gestão Social, que aparecem empatadas. Em seguida, a divisão de Marketing, percentualmente, é a que mais utiliza a triangulação. Contudo, tais percentuais são ainda muito pouco expressivos, como se pode observar.

Pode-se considerar também, como prováveis causas para a baixa incidência, não só a resistência comum a novas opções paradigmáticas, como também as próprias dificuldades que são inerentes à condução de uma pesquisa multiparadigmática. Tais dificuldades se concentram desde a escolha dos temas de pesquisa até a avaliação dos resultados e criação das teorias, passando pelas dificuldades de coleta e análise de dados (LEWIS e GRIMES, 2005). Uma possibilidade para um melhor enfrentamento dessas dificuldades pode residir no trabalho em equipe, que favoreceria a análise sob diferentes pontos de vista, que se adequaria à exigência do tratamento de dados de diferente natureza. Observou-se, dentre os artigos que utilizaram a triangulação metodológica, que a maioria faz uso exatamente do trabalho em equipe, o que possivelmente possa ter favorecido a análise dos resultados, oriundos de diferentes perspectivas paradigmáticas.

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11 ENANPAD 2009 Artigos - Triangulação Artigos em Parceria Incidência

ADI - Administração da Informação 6 6 100%

APS - Administração Pública e Gestão Social 13 10 77%

EOR - Estudos Organizacionais 8 6 75%

EPQ - Ens. e Pesq.em Adm. e Contabilidade 2 2 100%

CON - Contabilidade 4 2 50%

ESO - Estratégia em Organizações 7 4 57%

FIN- Finanças 1 1 100%

GCT - Gestão de Ciência, Tecnologia e

Inovação 1 1 100%

GOL - Gestão de Operações e Logística 1 1 100%

GPR - Gestão de Pessoas e Relações de

Trabalho 3 3 100%

MKT - Marketing 7 7 100%

TOTAL 53 43 81%

Figura 3. Incidência de artigos que utilizaram a Triangulação metodológica nos anais do Enanpad de 2009 Fonte: elaborado pelos autores com base nos anais do Enanpad.

Observa-se, portanto, que do total de artigos que utilizaram a triangulação, 81% foram realizados em co-autoria, sendo uma pequena minoria de autoria individual. Na maioria das divisões, como se pode perceber, há formação de equipe de trabalho em 100% dos artigos de triangulação, o que pode revelar uma tendência desse tipo de estudo. O que pode ocorrer não só por questões referentes ao momento de análise de resultados de natureza divergentes, como também por próprias condições de viabilidade na realização das pesquisas, já que a coleta e o tratamento dos dados tende, então, a envolver um maior volume de informações.

7. Considerações Finais

A defesa aqui pela triangulação de métodos e pelo multiparadigmatismo não pretende ser uma discussão a favor dos mesmos em detrimento de outras formas de se conduzir uma pesquisa. Defende-se um fazer científico mais reflexivo, que possa ser propiciado por meio dessas duas formas de pesquisa para lidar com a complexidade dos fenômenos sociais. Porém, acima de tudo, defende-se a adequação do método com o tema, objeto e objetivo de pesquisa. Desse modo, para cada caso, a alternativa mais adequada deve ser a escolhida, seja ela uma pesquisa qualitativa, quantitativa ou com triangulação. Downey e Ireland (1979) afirmam que não se pode determinar se uma metodologia e/ou paradigma são ou não adequados até que se conheça o problema específico de pesquisa (DOWNEY e IRELAND, 1979).

Atenta-se também para a consciência de que o presente trabalho, bem como os que defendem e/ou traduzem a prática efetiva da triangulação e do multiparadigmatismo são alvos comuns de críticas devido a já discutida resistência da comunidade científica. Kuhn (1962) contribui, nesse sentido, afirmando que há uma disposição dessa comunidade em defender um paradigma adotado ainda que a custos consideráveis. Assim, qualquer novidade surgida dentro do campo científico passa a ser considerada uma subversão (BASTOS FILHO, 2000) e enfrenta duras resistências.

Como resultados e conclusões, no âmbito teórico especificamente, verifica-se a importância da defesa da triangulação e do multiparadigmatismo como caminhos úteis para a pesquisa científica, diante da crescente complexidade dos fenômenos a serem estudados. Pois se defende uma não anarquia no que se refere à determinação das metodologias adequadas à condução de uma pesquisa. Ainda, constata-se a existência de significativas dificuldades e

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desafios que se assume ao conduzir uma pesquisa que utilize a triangulação de métodos. Conclui-se também, preponderantemente, a respeito da importância da adequação paradigmática e metodológica com o objeto de pesquisa e com o contexto em que este objeto se insere.

Relativamente à análise bibliométrica realizada, parte empírica da pesquisa, verificou-se que a incidência da triangulação metodológica é muito pequena comparativamente ao volume de artigos publicados nos anais do Enanpad, o que demonstra as resistências ainda existentes. Secundariamente, observou-se que a maioria dos trabalhos que utilizaram a triangulação foram realizados por meio de co-autorias, o que corrobora com considerações de que a formação de equipes pode contribuir para o enfrentamento das dificuldades ainda concernentes ao desenvolvimento de uma pesquisa que utiliza a triangulação.

Como limitações do presente estudo, no que se refere à análise bibliométrica, seu foco de análise exclusivo em duas frentes: a verificação da incidência da triangulação e da formação ou não de parcerias para a condução das pesquisas. Deixa-se como sugestão para futuros estudos, e até mesmo utilizando-se o próprio banco de dados gerados no presente trabalho, uma análise mais aprofundada de alguns aspectos dos artigos identificados, envolvendo, por exemplo, um levantamento das metodologias de análise e métodos de coleta de dados utilizados, bem como possíveis indicações de benefícios e dificuldades advindos da opção metodológica em questão.

Porém, tal fato não retira do trabalho sua significância, no que se refere à identificação, principalmente por divisões acadêmicas, da incidência do uso da triangulação no significativo volume de dados representados pelos artigos publicados no Enanpad. Além ainda de uma potencial contribuição ao levantamento de reflexões e debates sobre a questão no âmbito específico da Administração.

Por fim, reforça-se o posicionamento do presente artigo, ao reconhecer a importância da triangulação de métodos e do multiparadigmatismo para a tentativa de ampliar as possibilidades de resolução de complexos problemas de pesquisa ou até mesmo para o próprio enriquecimento dos resultados científicos. Estar aberto a novas concepções é importante dada a própria limitação do conhecimento científico, que, “por mais bem elaborado que possa parecer, [...] sempre será insuficiente, precário e impreciso em face do real” (SERVA, 1992, p.35). O diálogo entre paradigmas pode contribuir, nesse sentido, para a tentativa de minimização de distorções entre a teoria e a realidade que esta pretende investigar e retratar.

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