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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO INSTITUTO TRÊS RIOS RAYSSA BRAGA VIDI

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

INSTITUTO TRÊS RIOS

RAYSSA BRAGA VIDI

A EFETIVIDADE DAS DECISÕES JUDICIAIS E O CONTROLE DA SUA QUALIDADE: UMA NOVA ROUPAGEM DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO

PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

Três Rios 2018

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A EFETIVIDADE DAS DECISÕES JUDICIAIS E O CONTROLE DA SUA QUALIDADE: UMA NOVA ROUPAGEM DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO

PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, em curso de graduação oferecido pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, campus Instituto Três Rios.

ORIENTADOR:PROF.PÓS-DOUTORANTÔNIOPEREIRAGAIOJÚNIOR

Três Rios 2018

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il

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese, desde que citada a fonte.

______________________________ _________________ Assinatura Data

CATALOGAÇÃO NA FONTE UFRRJ/BIBLIOTECA

A efetividade das decisões judiciais e o controle da sua qualidade: uma nova roupagem dos embargos de declaração no processo civil

brasileiro. VIDI, Rayssa Braga /Rayssa Braga Vidi – 2018.

70f.

Orientador: Prof. Pós- Doutor Antônio Pereira Gaio Júnior 1. Direito Processual Civil - Monografia. 2. Embargos de Declaração -

Monografia. 3. Novas perspectivas dos Embargos de Declaração. Monografia (graduação). Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

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Rayssa Braga Vidi

A efetividade das decisões judiciais e o controle da sua qualidade: uma nova roupagem dos embargos de declaração no processo civil brasileiro

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, em curso de graduação oferecido pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, campus Instituto Três Rios.

Aprovado em: _____________________________________________________________ Banca Examinadora: ________________________________________________________ _________________________________________________________________________

(Antônio Pereira Gaio Júnior, Pós-Doutor em Direito – UFRRJ)

_________________________________________________________________________ (Júlia Gomes Pereira Maurmo, Doutora em Direito - UFRRJ)

_________________________________________________________________________ (Clariana da Silva Lima, Advogada e Membro do Grupo de Pesquisa em Direito

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, aos meus pais, ao meu orientador e ao meu namorado pelo apoio necessário para que eu conseguisse chegar até aqui.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, Senhor de todas as coisas, que nunca me desamparou ao longo dessa jornada, sempre me iluminando e dando forças para alcançar os meus objetivos.

Agradeço a minha família, que foi meu sustento durante essa caminhada, me ajudando a passar por todas as fases, nunca deixando que nada me faltasse para que pudesse chegar até aqui.

Ao meu tão querido orientador, Antônio Pereira Gaio Júnior, por me guiar nesse processo, e compartilhar seus conhecimentos e experiência ao longo de minha formação.

Ao meu namorado, Filipe, meu porto seguro, sempre paciente e que me proporcionou um amor simples, que só me traz felicidade, e me motiva a atravessar todas as situações.

Aos meus amigos fiéis que a Rural me deu, Monique e Gabriel, por estarem comigo em todos os momentos e me apararem sempre que precisei.

Por fim, aos meus anjos, Flávio, Gabriela e Graça, por mesmo de longe, estarem rezando e se fazendo presentes com suas palavras de amor.

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RESUMO

VIDI, Rayssa Braga. A efetividade das decisões judiciais e o controle da sua qualidade: uma nova roupagem dos embargos de declaração no processo civil brasileiro. 2018. 70f. Monografia (Graduação em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Três Rios, 2018.

A presente pesquisa tem como objetivo a forma como os embargos de declaração eram e ainda são aplicados, bem como sua utilização nas decisões judiciais antes do CPC de 2015 e após o seu advento. Por meio de uma análise teórica, qualitativa e de revisão bibliográfica, mostra-se como a preocupação com o processo sob a ótica da instrumentalidade, a sua efetividade, bem como a qualidade das decisões e a história dos Embargos de declaração. Mostra-se ainda a evolução desse recurso ao longo dos códigos processuais brasileiros, e seus novos aspectos no CPC de 2015, assim como a inserção de princípios constitucionais na aplicação dos embargos de delcaração.

Palavras-chave: Direito Processual Civil, Embargos de declaração, História dos Embargos de Declaração, Princípios Constitucionais no Processo Civil, Contraditório, Precedentes.

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ABSTRACT

VIDI, Rayssa Braga. A efetividade das decisões judiciais e o controle da sua qualidade: uma nova roupagem dos embargos de declaração no processo civil brasileiro. 2018. 64f. Monografia (Graduação em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Três Rios, 2018.

The present research aims at how the embargoes of the declaration were and still are applied, as well as their use in judicial decisions before and after the CPC of 2015. Through a theoretical, qualitative and bibliographical review, it is shown how the concern with the process from the point of view of instrumentality, its effectiveness, as well as the quality of the decisions and the history of the Embargoes of declaration. It also shows the evolution of this resource along the Brazilian procedural codes, and its new aspects in the CPC of 2015, as well as the insertion of constitutional principles in the application of the embargo embargoes.

Key words: Civil Procedural Law, Declaration of Conciliation, History of Declaration Embargoes, Constitutional Principles in Civil Procedure, Contradictory, Precedents.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

1. PROCESSO: INSTRUMENTALIDADE, EFETIVIDADE E QUALIDADE DAS DECISÕES ... Erro! Indicador não definido.3 1.1. Processo Como Instrumento Da Jurisdição ... Erro! Indicador não definido.3 1.2. Efetividade do Processo ... Erro! Indicador não definido.7 1.3. Qualidade das Decisões Judiciais ... Erro! Indicador não definido.9 2. HISTÓRICO DOS DESEMBARGOS DE DECLARAÇÃO ... 21

2.1. História dos Códigos de Processo Civil Brasileiros ... 21

2.2. Embargos de Declaração na História dos Códigos ... 26

2.3. Embargos de Declaração e seus novos aspectos no CPC de 2015 ... 31

3. CONTRADITÓRIO COMO DIREITO DE INFLUÊNCIA NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ... 33

3.1. Princípios Constitucionais no Direito Processual Civil Brasileiro ... 33

3.2. Contraditório e ampla defesa no CPC de 2015... 37

3.3. Do direito de influência em sede de Embargos de Declaração... ... 39

4. EFEITOS INFRINGENTES NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ... 45

4.1. Efeitos típicos e atípicos dos Embargos de Declaração ... 45

4.2.Questão de ordem pública nova em Embargos de Declaração ... 52

4.3. Caso de interposição de recurso principal antes da interposição dos Embargos de Declaração ... 52

4.4. Prequestionamento ... 54

5. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COMO CONTROLADOR DA APLICAÇÃO DE PRECEDENTES ... 57

5.1. Precedentes ... 57

5.1.1. Ratio Decidendi e Obiter Dictum ... 59

(10)

5.1.3. Dinstinguishing e Overruling ... 62 5.2. Dos Embargos de Declaração como controlador da aplicação dos precedentes .... 64 CONCLUSÃO ... 67 REFERÊNCIAS ... 69

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INTRODUÇÃO

O tema abordado nessa pesquisa é a efetividade das decisões judiciais e o controle da sua qualidade como uma nova roupagem dos embargos de declaração no processo civil brasileiro. Tem-se como escopo principal a forma como os embargos de declaração eram e ainda são aplicados, bem como sua utilização nas decisões judiciais antes do CPC de 2015 e após o seu advento.

Trata-se de pesquisa na qual será aplicado o método qualitativo, sendo uma revisão bibliográfica, que possui principal objetivo de reunir ideias de diferentes fontes, para construir uma nova teoria ou uma versão diferente para um assunto já conhecido, podendo ser realizada através de referências documentadas a partir de livros, artigos publicados, documentos escritos, sejam estes impressos ou depositados em meios eletrônicos para a solução de problemas formulados1.

Para Lakatos e Marconi2, a pesquisa bibliográfica permite também, compreender que a resolução de um problema pode ser adquirida através dela, portanto, a pesquisa bibliográfica é considerada como o primeiro passo para toda a pesquisa científica.

Com base na pesquisa bibliográfica, o estudo será iniciado com um capítulo em que será abordado o processo sob a ótica da instrumentalidade, a sua efetividade, bem como a qualidade das decisões.

Serão mostrados, neste mesmo momento, o processo como instrumento da jurisdição, que tem a finalidade de solucionar conflitos da sociedade, seus objetivos e suas descrições. Será ainda no primeiro capítulo abordado acerca da efetividade do processo, sua realidade de aplicação, sua atuação para com a sociedade, do mesmo modo que serão citadas as particularidades das decisões judiciais.

Após o foco citado nos processos judiciais, suas características, funcionalidade e aplicabilidade na prática, no segundo capítulo será abordada a história dos Embargos de declaração. Será abordada, ainda, a história dos códigos de processo civil brasileiros, como

1 CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia Científica. 5 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2002. 2

LAKATOS, E.M; MARCONI, M. A. Metodologia do trabalho cientifico: procedimentos básicos, pesquisa

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os embargos de declaração evoluíram ao longo dos códigos processuais brasileiros e, também, os novos aspectos dos embargos de declaração no CPC de 2015.

Será estudado, então, os princípios constitucionais no direito processual civil brasileiro, e o contraditório e a ampla defesa no CPC de 2015, assim como direito de influência do contraditório em sede de embargos de declaração.

Serão demonstrados, então, os efeitos típicos e atípicos dos embargos de declaração, diferenciando um do outro e alinhando seus objetivos de como melhorar a qualidade das decisões, deixando-as mais claras. Nesse momento, serão analisadas jurisprudências acerca da utilização do recurso de embargos de declaração no antes do advento do Novo Código de Processo Civil.

Após este estudo dinâmico acerca dos embargos de declaração, seu histórico e seus objetivos, chega-se no ponto em que será levantado os embargos de declaração como controlador da aplicação de precedentes.

Assim, após abordados temas como recurso para a discussão e levantamento de dados sobre os embargos de declaração, concluir-se-á pela citação da importância dos precedentes como o advento novo controlador da aplicação dos precedentes judiciais.

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CAPÍTULO I PROCESSO: INSTRUMENTALIDADE, EFETIVIDADE E

QUALIDADEDASDECISÕES.

1.1 –PROCESSO COMO INSTRUMENTO DA JURISDIÇÃO

Todo conflito é causa de infelicidade pessoal, e constitui fator de desorganização e instabilidade social. A atividade jurisdicional do Estado, por essa razão, é exercida dentro da sociedade com a finalidade de solucionar tais conflitos, gerar pacificação social e consequentemente beneficiar a vida em sociedade. Nas palavras de Cintra, Dinamarco e Grinover: “O porquê representa a causa da necessidade da jurisdição e o para quê indica o principal dos escopos pelos quais ela é exercida, com vista aos resultados desejados”.3

Para tanto, o judiciário deve estar devidamente aparelhado de instrumentos capazes de promover a efetividade do processo, solucionando os conflitos e pacificando, de forma adequada, as relações interpessoais. É importante, nesse sentido, levar-se em conta que cada conflito deve ser tratado de forma específica, eis que todos eles diferem entre si. O sistema deve ser flexível, a fim de tornar-se apto a proporcionar a tutela jurisdicional efetiva e adequada a quem de direito e, ainda assim, produzir resultados legítimos perante a lei.

A flexibilidade do sistema demanda uma relativização do binômio direito-processo. Isso porque tal binômio evidencia uma afirmação da independência do direito processual, no qual se valorizou em demasiado a técnica, em detrimento do conteúdo.

O processualista, por essa razão, tem de sempre internalizar que as questões inerentes ao processo devem ser solucionadas a fim de favorecer os resultados almejados. Em outras palavras, para que seja alcançado o acesso à ordem jurídica justa, os aspectos fundamentais do direito processual devem ser colocados sempre à luz da relação jurídica material. Expõe Bedaque que: “Quanto mais consciência tiver o processualista desse

3 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

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fenômeno, maiores serão as possibilidades de construção de mecanismos aptos a alcançar os escopos do processo”.4

Trata-se, portanto, de uma conscientização do processualista de que os institutos processuais são originados a partir do direito material, servindo como instrumento para a solução do litígio e a consequente melhora na qualidade de vida. Pode-se reconhecer que, apesar de Pode-ser o processo um ramo autônomo do direito, não Pode-se pode afastar a coordenação entre esses ramos da ciência jurídica.

Cuida-se, ainda, de uma conscientização de que o mecanismo estatal apto a solucionar os conflitos está diretamente relacionado aos resultados por ele produzidos, e de que se deve levar em consideração o modo como esses resultados chegam aos consumidores desse serviço, ou seja, a forma como a justiça chega a quem é de direito, beneficiando a sociedade como um todo – eis que a resolução de um conflito gera maior felicidade e consequente harmonização da vida em sociedade.

Como bem descreve Bedaque, a importância do método de trabalho estabelecido pelo legislador a fim de viabilizar a eliminação das crises de direito material pela função jurisdicional do Estado:

Esse método corresponde ao modelo previsto em lei e informado por diversas técnicas, em tese as mais adequadas à eliminação, com segurança e celeridade, da crise de cooperação verificada no plano das relações reguladas pelo direito material. Para alcançar o resultado pretendido, portanto, esse método de trabalho deve assegurar aos interessados na solução do litígio ampla possibilidade de participação, a fim de que possam influir na convicção do juiz. Por outro lado, é necessário seja ele concluído em tempo razoável, sob pena de a tutela jurisdicional tornar-se inútil a quem faz jus a ela. Segurança e celeridade, eis as palavras-chave para explicar o método ideal de solução de controvérsias.5

Nesse ínterim, para que fosse possível se iniciar um novo método de exame dos institutos processuais, surgiu um interesse maior pelos processualistas do estudo das matrizes constitucionais no sistema processual. Esse método supralegal de análise, também denominado de direito processual constitucional, possibilitou o alargamento das estruturas e conceitos, e principalmente, a superação da separação de cada um dos ramos do direito.

4 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Direito e Processo: Influencia do Direito Material sobre o Processo. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 18

5

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Necessário ressaltar que, como uma das matrizes constitucionais, está o direito fundamental da duração razoável do processo, disposto na Constituição Federal em seu art. 5º LXXVIII. O reconhecimento de um direito subjetivo a um processo célere urge ao Poder Judiciário a adoção de medidas capazes de realizar tal objetivo.

O devido processo legal, estampado no art. 5º LIV da Constituição Federal, por sua vez se entende como um conjunto de regras e garantias indispensáveis ao exercício da jurisdição, dispondo que todo processo deve seguir procedimentos regulares previamente estabelecidos. Além disso, asseguram às partes a participação no processo, gerando pleno exercício de suas faculdades e poderes processuais. Considera-se ainda, como afirmado por Gaio Júnior, que o processo deve ser visto como uma espécie de contrapartida que o Estado oferta em razão da proibição da autotutela para resolução de lides.

A participação das partes no processo, nessa toada, acarreta em duas grandes vantagens. Como descreve Neves:

a) quanto mais ampla tiver sido a participação das partes, maiores serão as chances de obtenção de pacificação social, considerando-se que a parte derrotada que entende ter feito tudo que havia a fazer para defender seu interesse em juízo tende a se conformar mais facilmente com sua derrota; b) sendo a participação das partes ampla, o juiz terá mais elementos para valorar e proferir uma decisão de melhor qualidade.6

Outro princípio eminentemente relacionado ao desenvolvimento de um novo método processualista é o acesso à justiça. Isso porque esse princípio está diretamente ligado à justiça social e verdadeira democracia.

Ressalte-se que, tendo em mente esse princípio, o processo passa a ser um instrumento social e democrático, para além de um meio estatal de praticar justiça. Passa a ser visto como conjunto de direitos e garantias imperativos que devem ser respeitados e manter-se em sintonia plena com o Estado.

A fase instrumentalista, nesse sentido, apesar de ter alcançado níveis consideráveis de desenvolvimento no direito processual, traz consigo um aspecto técnico-dogmático que ainda continua falho em produzir justiça para os membros da sociedade. A

6

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil – volume único. 8 ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 122

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conscientização de que o processo deve ser analisado não só pelo que ele é, mas principalmente pelos resultados que produz, com relevante papel deontológico, vem gerando um reexame dos institutos processuais, a fim de sintonizá-los com a nova perspectiva metodológica.

É necessário sejam alguns institutos processuais, concebidos segundo a concepção autonomista ou conceitual da ciência processual, revistos e analisados deslocando-se o ponto de vista para um ângulo externo, e examiná-los segundo os seus resultados práticos. Assim, conferindo a eles nova feição a partir das necessidades identificadas na fase instrumentalista.

O processualista moderno tem, portanto, a importante missão de tornar o processo um meio efetivo de resolução de litígios, e não um meio visto como fonte de problemas. Nas palavras de Dinamarco:

Todo instrumento, como tal, é meio e todo meio só é tal e se legitima em função dos fins a que se destina. O raciocínio teleológico há de incluir, então, necessariamente, a fixação dos escopos do processo, ou seja, dos propósitos norteadores da sua instituição e das condutas dos agentes estatais que o utilizam.7

Importante se faz ressaltar, ainda, que tanto estudiosos quanto advogados, juízes, promotores, devem ultrapassar a barreira da técnica-dogmática, que colocou os ramos como um fim em si mesmo, para atingir um novo patamar de solução de conflitos. O processo seguirá, então, em acertado caminho, com objetivo final em proporcionar felicidade, ou menos infelicidade, às pessoas.

A técnica processual deve ser construída à luz do direito material. É necessário que se tenha a compreensão de que o processo é um instrumento para tornar aquilo que existe como um direito, apenas num campo ideológico, em uma realidade. Ignorar a realidade jurídico-material impede a correta compreensão dos institutos processuais.

O modo como a solução das controvérsias é realizado está relacionado diretamente com as relação estabelecidas pelo direito material. Exemplo disso são os institutos da ação, competência, litisconsórcio e coisa julgada, além da possibilidade de

7

DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. Apud GAIO JÚNIOR, Antonio Pereira. Tutela específica das obrigações de fazer. 4 ed. Curitiba: Juruá, 2012, p. 27-28.

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transação ou renúncia de um direito disponível, ao passo que o titular de um direito indisponível possui restrições que limitam seus poderes e faculdades em um processo.

Assim, tendo em vista que as normas processuais não tem fim em si mesmas, mas que estão a serviço das regras substanciais, não se pode aceitar um sistema processual não sintonizado com seu objeto. Afirma Bedaque, nesse sentido:

Talvez a noção mais importante do direito processual moderno seja a de instrumentalidade, no sentido de que o processo constitui instrumento para tutela do direito substancial. Está a serviço deste, para garantir sua efetividade. A consequência dessa premissa é a necessidade de adequação e adaptação do instrumento ao seu objeto. O processo é um instrumento e, como tal, deve adequar-se ao objeto com que opera. Suas regras técnicas devem ser aptas a servir ao fim a que se destinam, motivo pelo qual se pode afirmar ser relativa a autonomia do direito processual.8

1.2 –EFETIVIDADE DO PROCESSO

Em muitos casos a pacificação dos conflitos e, até mesmo, a concreta utilização de uma norma jurídica precisam da função jurisdicional do Estado, cuja atuação é desenvolvida por meio do processo. Sabendo-se que o processo é instrumento e, portanto, meio para se alcançar a concretização de um direito material, a tutela jurisdicional deverá atuar exatamente no plano das relações substanciais.

A preocupação fundamental dos estudiosos e operadores do direito deve estar voltada em especial para os resultados que ele se destina a produzir. O processo tem de buscar uma proximidade maior entre aquilo que deveria ocorrer no plano substancial – direito material como o que deveria ser – e a eficácia da tutela jurisdicional – aquilo que se torna realidade –, ou seja, deve buscar a efetividade do processo.

A relativização do binômio direito-processo constitui um fator primordial para tornar eficiente o sistema processual. Assim, o que se espera ao ingressar com uma ação é que ela seja capaz de tornar efetivo o direito almejado e, por essa razão, dotada de utilidade. Assim, como idealizado por Bedaque: “A tarefa principal do ordenamento

8

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jurídico é estabelecer uma tutela de direitos eficaz, no sentido de não apenas assegurá-los, mas também garantir sua satisfação”.9

O maior objetivo da jurisdição, e de todo sistema processual, é a pacificação social e, consequentemente, a felicidade pessoal de cada um, mediante a solução de conflitos. Assim, como o processo é instrumento e meio para alcançar a felicidade individual e social, a eficácia do sistema processual será medida em função de sua utilidade para o ordenamento jurídico material e da solução dos conflitos. Uma ciência processual conceitualmente perfeita, mas que não seja capaz de atingir os resultados almejados, não se faz eficiente e, portanto, não deve ser foco dos operadores e estudiosos do direito.

Para que a promessa constitucional de inafastabilidade da jurisdição seja concretizada – cuja ideia é de que nenhum direito agredido ou afrontado será excluído do Poder Judiciário –, torna-se essencial que haja eficácia da decisão. O art. 5º LXXVIII da Constituição, bem como o art. 4º do CPC/2015, garantem uma duração razoável do processo por meio de adoção de procedimentos mais céleres, sempre à luz dos princípios constitucionais, para que não haja chance para ofensa desses. Isso porque, a demora na prestação desse serviço pode gerar a ineficácia e, talvez, a perda do objeto.

Nessa toada, além de permitir a ampla participação, ampliar o acesso à justiça e proferir uma decisão justa, de nada adiantará se, no caso concreto, não for eficaz. Isto é, não basta ser justa, deve ser eficaz no plano real.

Insta ressaltar, nesse sentido, que há necessidade de uma tutela de urgência ampla, a fim de afastar qualquer possibilidade de perda do objeto da ação em razão do tempo necessário para que seja alcançada a tutela definitiva. Assim, afasta-se o perigo de ineficácia do processo.

Analisando pela visão do direito constitucional ao acesso a justiça, aduz Gaio Júnior:

Um processo justo, garantindo o acesso a uma justiça imparcial de forma que não somente possibilite a participação efetiva e adequada dos litigantes, mas que também permita a efetividade da tutela dos direitos,

9

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consideradas as diferentes posições sociais e as determinadas situações de direito substancial, significa não somente o acesso à justiça, mais do que isto, “acesso à ordem jurídica justa”.10

No mesmo sentido, afirma Cappelletti com relação à dimensão social do Direito e da Justiça:

A efetividade dos direitos sociais que não têm de ficar no plano das declarações meramente teóricas, senão deve, efetivamente, influir na situação econômico-social dos membros da sociedade, que exige um vasto aparato governamental de realização.11

Deve-se compreender, com isso, que a efetivação do processo como meio de acesso à ordem jurídica justa é o escopo magno do sistema processual. A consciência de que o processo não é apenas um mero instrumento técnico é indispensável, eis que se trata de um meio ético destinado a prestar serviços a sociedade e ao Estado como um todo.

1.3 –QUALIDADE DAS DECISÕES JUDICIAIS

O processo, entendido como um instrumento pelo qual a jurisdição se opera, deve promover, além das suas atividades de conhecimento da matéria, uma forma de satisfazer o direito material reconhecido em sentença dentro de um processo de cognição, capaz de gerar um título executivo judicial. É desempenhado, com isso, o verdadeiro objetivo do processo: tornar as pessoas mais felizes, ou menos infelizes.

A missão de proferir uma decisão com justiça, efetividade e qualidade, constitui em uma interpretação mais justa diante de variedade de possibilidades, aplicando as leis sempre à luz dos princípios constitucionais de justiça e dos direitos fundamentais.

Como asseverado por Cintra, Grinover e Dinamarco:

Todo processo deve dar a quem tem um direito tudo aquilo e precisamente aquilo que ele tem direito de obter. Essa máxima de nobre linguagem doutrinária constitui verdadeiro slogan dos modernos movimentos em prol da efetividade do processo e deve servir de alerta

10 GAIO JÚNIOR, Antonio Pereira. Tutela específica das obrigações de fazer. 4 ed. Curitiba: Juruá, 2012, p. 32.

11

CAPPELLETTI, Mauro. Processo, Ideologias e Sociedade. Apud GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira.

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contra tomadas de posição que tornem acanhadas ou mesmo inúteis as medidas judiciais, deixando resíduos de injustiça.12

Assim, pode-se verificar que a relação entre efetividade do processo e o verdadeiro acesso à ordem jurídica justa está diretamente ligado com a qualidade das decisões e a capacidade de cada uma delas tonar o direito visto apenas em plano substancial em algo concreto. A qualidade das decisões torna o processo efetivo e, portanto, útil à solução dos conflitos. Torna-se instrumento de pacificação social, trazendo maior felicidade ou, pelo menos, menor infelicidade.

Havendo a necessidade de um controle da qualidade do conteúdo das decisões judiciais, bem como da sua efetividade, coube ao legislador distinguir os Embargos de Declaração como o recurso cabível para a dirimição de eventuais controvérsias ou obscuridades contando, inclusive, com capacidade infringente, ou seja, com potencial modificador das decisões proferidas pelo julgador.

Os Embargos de Declaração aparecem como uma espécie de recurso que tem por finalidade a integração da sentença, por meio do saneamento dos vícios de obscuridade, contradição, omissão ou erro material nela contidos. Sua função, portanto, é complementar ou esclarecer a decisão do magistrado.

12

CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

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CAPÍTULO 2 – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO E SUA HISTORICIDADE 2.1 –HISTÓRIA DOS CÓDIGOS DE PROCESSO CIVIL BRASILEIROS

Conforme muito bem exposto por Gaio Júnior13 “A história do Direito é o meio pelo qual se lapidam e igualmente se refinam as instituições jurídicas, contribuindo também para o aperfeiçoamento do homem”.

Faz-se necessário, assim, analisar a evolução dos códigos processuais brasileiros dentro de um panorama histórico, a fim de poder-se estudar acerca dos pontos específicos de cada código.

Inicialmente, esclareça-se que antes da independência brasileira frente a Portugal, a lei em vigor que tratava de todo direito vigente como ius proprium, assim como acerca do processo, eram as Ordenações Filipinas. Travava-se de um ordenamento único em vigor no território metropolitano e colonial da monarquia portuguesa.

Essas foram assim denominadas porque são codificações portuguesas promulgadas pelo Rei Felipe I (em 1603), tendo sido precedidas pelas Ordenações Manuelinas (1521) e pelas Afonsinas (1456), estavam em vigor.

As fontes principais dessas ordenações eram o direito romano e o direito canônico, além das leis gerais elaboradas desde o reinado de Afonso II, de concordatas celebradas entre reis de Portugal e autoridades eclesiásticas, das Sete Partidas de Castela, de antigos costumes nacionais e de foros locais.

Apesar da conquista da independência do Brasil em 1822, o direito brasileiro não rejeitou em sua totalidade a legislação lusitana. Pelo contrário, o direito processual civil, por longo período de sua história, teve suas normas estabelecidas pelas Ordenações Filipinas, além de algumas leis extravagantes posteriores. Esclareça-se que a continuidade das ordenações foi assegurada pelo decreto de 20 de outubro de 1823 em tudo que não contrariasse a soberania nacional e o regime brasileiro.

Dominado pelo princípio dispositivo, o processo civil era disciplinado pelo Livro III das Ordenações Filipinas. O procedimento, nesse sentido, poderia apenas se

13

GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira. Instituições de Direito Processual Civil. 3 ed. Revista e atualizada. Salvador: JusPodivm, 2017, p. 47.

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apresentar de forma escrita, além de só poder ser movimentado por impulso das partes, em fases rigidamente distintas.

Entre 1831 e 1840, em que se mantinha o período da Regência, o legislador somente conseguiu levar a termo um Código de Processo Criminal em 1832. Foi possível, entretanto, expressar em um “Título Único” – espécie de anexo do código de processo criminal – disposições provisórias que tratavam exclusivamente de matéria processual civil.

Denominada “disposição provisória acerca da administração da justiça civil” a seção contava com apenas vinte e sete artigos, que simplificaram o procedimento, suprimiram formalidades excessivas e inúteis, excluindo recursos desnecessários. Tratou o título, em especial, acerca de algumas disposições como a citação do réu ausente, réplica, tréplica e embargos antes da sentença e inquirição de testemunhas.

Em outras palavras, o Título Único do Código de Processo Criminal criou melhores condições para a consecução das finalidades do processo civil, que tornou possível estabelecer bases para um futuro Código de Processo Civil.

Em 1850 foi criado pelo Governo Imperial o Código Comercial. Junto fez-se necessária a criação de uma norma processual capaz de regular suas atividades. Criou-se, assim, o Regulamente 737, de 25 de novembro de 1850, destinado, nos termos do art. 27 do Título Único que contemplava o Código do Comércio, a “determinar a ordem do juízo no processo comercial”.

Durante esse período, as causa civis continuaram a ser reguladas pelas Ordenações e suas alterações. Sendo inúmeras as leis modificativas das Ordenações, o Governo, encarregou o Cons. Antonio Joaquim Ribas de reuni-las em um conjunto que contivesse toda a legislação relativa ao processo civil, dando cumprimento à lei n. 2.033, de 20 de setembro de 1871.

A denominada Consolidação das Leis do Processo Civil, elaborada por Ribas, passou a ter força de lei em virtude da resolução imperial de 28 de dezembro de 1876. Cons. Ribas, por sua vez, não apenas compilou as disposições processuais então vigentes,

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como também as reescreveu tal como sua interpretação, invocando autoridades de textos romanos, em lugar de regras legais constantes das Ordenações ou leis extravagantes.

Como bem asseverado por Liebman14, mantinha-se substancialmente inalterada a estrutura fundamental do processo presente nas Ordenações, embora suas regras passassem a ser formuladas com grande clareza, em breves e precisas disposições, conforme a técnica legislativa moderna.

Em 1890, com a proclamação da República, as normas do Regulamento 737 foram estendidas para o processo civil mediante o Decreto n. 763, de 19 de setembro do mesmo ano. Ficaram excluídos, entretanto, os processos especiais como: as ações de execução e hipotecárias, as ações de honorários de médicos e farmacêuticos, as ações possessórias, as ações fiscais, as ações de despejo de casas, as ações de reforma dos autos, entre outras. Além dessas ações, restaram excluídos os procedimentos de jurisdição chamada graciosa, hoje conhecida como jurisdição voluntária.

Com a Constituição de 1891 consagrou-se a adoção do controle de constitucionalidade das leis pelos órgãos, o que gerou importante inovação na época. Por outro lado, advinda de uma Constituinte Republicana, prevaleceu-se na CF de 1891 a ideia de se atribuir às antigas províncias, alçadas à categoria de Estados-membros da Federação, a competência para legislar sobre direito processual.

Consagrou-se, assim, a divisão do poder de legislar sobre o direito processual, entre a União Federal e os Estados. Nesse sentido, era a previsão contida no art. 34, n. 23, combinado com o art. 65, n. 2, da Constituição de 24 de fevereiro de 1891.

Durante o período de vigência da Constituição de 1891, foi elaborada, de um lado, a legislação federal de processo; e de outro lado, iniciaram-se aos poucos os trabalhos de preparação dos Códigos de Processo Civil e Criminal estaduais.

Entretanto, os Códigos estaduais mantiveram, em suas linhas gerais e em sua estrutura, o Regulamento 737, que serviu não somente de modelo, mas de fonte dos seus

14 LIEBMAN, Enrico Tullio. Instituti del diritto comune nel processo civile brasiliano. Apud RAATZ, Igor; SANTANNA, Gustavo da Silva. Elementos da História do Processo Civil Brasileiro: do Código de 1939 ao

Código de 1973. 2012, p. 6. Disponível em:

https://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_ gaucho/revista_justica_e_historia/issn_1677-065x/v9n17n18/ELEMENTOS.pdf. Acesso em: 03/Abr/2018.

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dispositivos. Por assim dizer, os códigos estaduais se ativeram, em sua maioria, ao figurino federal.

Alvo de críticas, a divisão da normatização do processo civil criou dificuldade para o controle jurisdicional e acabou por contribuir para o desenvolvimento do direito processual. Nas palavras de Gaio Júnior15:

Em virtude de ser constituído, anteriormente, por uma coleção de práxis, fórmulas e máximas, cheias de minúcias rituais e técnicas, o processo acabava se tornando uma arma nas mãos de litigantes de má-fé, pois permitia que situações ilegítimas fossem proteladas, não sendo possível alcançar seu objetivo que deveria ser a entrega da prestação jurisdicional por meio da aplicação da lei. Dessa forma, a concepção “dualística” do processo imperava como se fosse um instrumento de luta entre particulares.

Outro fator que contribuiu para o desenvolvimento do direito processual foi a publicação do Código Civil de 1916. Apesar de ter sido um código que rezava acerca do direito material, trouxe consigo diversas regras processuais.

Isso porque, tendo em vista a ausência de normatização processual específica, houve a necessidade de resguardar determinados institutos e obter uniformização dos meios de realização do correspondente direito frente à diversidade de normas processuais estaduais. Foi o caso, por exemplo, das normas que determinavam o tipo de ação cabível.

A questão da diversidade de códigos processuais estaduais e federal existentes no Brasil só foi solucionada com o advento da Constituição Federal de 1934. Concentrou-se, com a nova CF, novamente na União a competência para legislar exclusivamente em matéria do processo, mantendo-se essa regra nas Constituições subsequentes. Os Códigos estaduais, por outro lado, permaneceram em vigor até o advento das novas leis processuais nacionais. Tornou-se então necessária a preparação de novos Códigos de Processo Civil e Penal. Para este fim, o Governo constituiu comissões de juristas encarregados dessa tarefa.

O texto aprovado foi promulgado como Código de Processo Civil pelo Decreto-Lei n. 1.608, de 18 de setembro de 1939, publicado no Diário Oficial, de 13 de outubro de 1939, entrando em vigor apenas no dia 1º. de março de 1940 pelo Decreto-Lei n, 1965 de 16 de janeiro do referido ano.

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Em razão da diversidade de códigos, os erros se tornaram inevitáveis e fizeram com que a população perdesse confiança na justiça e na lei. O novo código promulgado em 1939 acabou por renovar os próprios fundamentos teleológicos do processo. Sua promulgação tornou-se, assim, uma grande conquista social.

A mudança da concepção do processo tornou-se elemento para mudança também do papel do juiz. Substituiu-se o sistema tradicional do processo, de concepção privatista, pelo sistema considerado moderno, em que predominava a concepção publicística.

Assim, ao passo que o processo deixava de ser considerado como uma atividade de simples interesse particular, o papel do juiz no processo também era modificado, para que assim fosse considerado como um instituto de direito público. Passou, portanto, o juiz a, de fato, dar direção ao processo, deixando de estar apenas limitado a zelar pela observância das regras formais por parte dos litigantes, para de fato influir, direcionando e requerendo provas, isto é, agindo como parte imparcial do processo.

As tendências publicísticas adotadas não permitiam que o juiz apenas fiscalizasse o processo. A boa administração da justiça e o prevalecimento da verdade em juízo passaram a ser interesse primordial do Estado.

Em outras palavras, após ser provocado em juízo pela parte interessada, teria o juiz o papel de dirigir o processo, impedindo demoras, fraudes e artifícios proteladores e de má-fé, ordenando a produção das provas que julgar convenientes, armado de todos os poderes que o habilitem a proferir sentença justa. Isso porque o processo não poderia mais ser considerado como propriedade das partes.

No entanto, os movimentos do juiz deveriam ser limitados pelo pedido, eis que as partes permaneceram livres quanto à configuração do objetivo litigioso e a determinação das suas reivindicações.

Havia, entretanto, críticas acerca do grande arbítrio concedido ao magistrado na apreciação das provas. Entretanto, a lei não dava carta branca para o juiz fazer o que lhe aprouvesse. Ao contrário, procurava-se delimitar sua discricionariedade, impondo-lhe o dever de não prejudicar, no exercício do seu arbítrio, a defesa dos interessados.

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Em 1973 nascia um novo Código de Processo Civil, que teve origem no anteprojeto apresentado em 1964 pelo então Ministro da Justiça Alfredo Buzaid. O novo código era centrado na ideia de que o processo deveria manter a técnica e a neutralidade científica.

Em direção contrária ao Código de 1939 – que apostava no caráter público e social do processo –, o Código Processual de 1973 prezava pela indiferença social que bem se amoldava aos valores liberais, perspectiva própria de um projeto histórico de neutralidade social. Nas palavras de Raatz e Santanna16:

Apesar de o Código de 1973 ter mantido o processo oral, a ênfase já não era mais no acento dos poderes do juiz, o que não era de se estranhar, pois, ao lado da supressão da vitaliciedade, inamovibilidade ou estabilidade dos juízes, o papel do Poder Judiciário também passava a ser secundário, ficando toda a ênfase no Executivo.

O Código de Processo Civil de 1973 não abandonou por completo as concepções de publicísticas e sociais do processo, uma vez que ainda era um Código pautado na busca pela conciliação entre inovação e conservação. Entretanto, inseriu o processo civil brasileiro no processualismo, com a elaboração de princípios e categorias dotadas de intrínseca validade conceitual, como a jurisdição, a ação, a coisa julgada, dentre outras.

Tal linha ideológica encontrava-se prevalecente na Europa na primeira metade do século XX, principalmente na Itália. Isso porque, estando entre as duas grandes guerras, houve na Europa um grande fechamento cultural e ideológico aos problemas sociais da justiça. Tal não foi diferente com o processo civil, caracterizando um retrocesso no progresso social e civil. E seguiu o Brasil nesse mesmo sentindo, retrocedendo aos avanços alcançados sociais alcançados com o Código Processual anterior.

2.2 – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA HISTÓRIA DOS CÓDIGOS

A partir dessa análise, passa-se para o estudo de como os embargos de

16 RAATZ, Igor; SANTANNA, Gustavo da Silva. Elementos da História do Processo Civil Brasileiro: do

Código de 1939 ao Código de 1973. 2012, p. 16. Disponível em:

https://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_ gaucho/revista_justica_e_historia/issn_1677-065x/v9n17n18/ELEMENTOS.pdf. Acesso em: 03/Abr/2018.

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declaração se desenvolveram ao longo dos códigos processuais brasileiros.

Havendo a necessidade de um controle da qualidade do conteúdo das decisões judiciais, bem como da sua efetividade, coube ao legislador distinguir os Embargos de Declaração como o recurso cabível para a dirimição de eventuais controvérsias ou obscuridades.

Nessa esteira, faz-se importante ressaltar, inicialmente, o princípio da congruência. Trata-se de princípio que exige do órgão julgador o respeito aos limites do pedido de ambas as partes para que possa decidir de forma congruente, ou seja, sem avançar em conteúdos desconhecidos do processo.

Existem, nessa toada, as formas de sentença que não respeitam o referido princípio, a saber: extra petita – quando a decisão prolatada está fora, e de natureza distinta, do que foi pedido pelas partes –, ultra petita – quando a decisão vai além do pedido pelas partes, mas de mesma natureza do pedido – e citra petita – quando o julgador não julga todos os pedidos das partes.

Em uma decisão citra petita, o juiz não se manifesta sobre todo o requerido pelas partes. Ocorre, nesses casos, uma omissão do julgador, que poderá ocorrer sobre pedido, ou sobre argumento de defesa disposto em razões ou contrarrazões.

Com esse entendimento, tem-se a ideia proposta pelos embargos de declaração, como um meio de sanar os vícios de uma decisão ou ato judicial citra petita, obscuro, contraditório ou com erro material. Tal recurso está presente em nosso ordenamento desde a inserção do Direito português em nossa história.

Foram, assim, regulados pelas Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas. Conforme dispunha o artigo 6º, do Título LXVI, do Livro III das Ordenações Filipinas:

Porém se o Julgador der alguma sentença diffinitiva, que tenha em si algumas palavras escuras e intrincadas, bem a poderá declarar; por que outorgado he per Direito ao Julgador que possa declarar e interpretar qualquer sentença per elle dada, ainda que seja diffinitiva, se duvidosa for.

Em 1832, criou-se o Código de Processo Criminal que contava como uma seção final visando regular também, em certa parte, o processo civil. Denominado “Título

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Único”, a seção estabeleceu em seu art. 14 que os embargos de declaração não poderiam ser interpostos antes da sentença definitiva. Assim, estabelece:

Art. 14. Ficam revogadas as Leis, que permittiam ás partes replicas, e treplicas e embargos antes da sentença final, excepto aquelles, que nas causas summarias servem de contestação da acção. Os aggravos de petição, e instrumentos ficam reduzidos a aggravos do auto do processo: delles conhece o Juiz de Direito, sendo interpostos do Juiz Municipal, e a Relação, sendo do Juiz de Direito.

Após o advento do regulamento 737, em razão da necessidade de um Código que regulasse as relações comerciais, os embargos tiveram natureza jurídica relacionada a apenas uma petição simples, em vez de um recurso propriamente dito. Senão vejamos:

Art. 641. Os embargos de declaração só terão logar, quando houver na sentença alguma obscuridade, ambiguidade, ou contradicção, ou quando se tiver omittido algum ponto sobre que de haver condemnação.

Art. 642. Em qualquer destes casos requererá a parte por simples petição que se declare a sentença, ou se expresse o ponto omittido de condemnação.

Com o advento do Código de Processo Civil de 1939, passaram esses embargos a ser posicionados na parte recursal. Presente no Livro "Dos Recursos", os embargos de declaração era utilizado contra acórdão que fosse obscuro, omisso ou contraditório. O art. 839 do referido código dispunha que apenas poderiam ser interpostos os embargos de nulidade, infringentes e de declaração sobre sentenças de primeira instância proferidas em ações de valor igual ou inferior a duas vezes o salário mínimo vigente nas capitais respectivas dos Territórios e Estados.

Apesar de já disposto no código de 1939 no rol de recursos, o referido Codex expunha que os embargos deveriam ser interpostos por simples petição dirigida ao relator – em se tratando de acórdão – no prazo de 48 horas. Assim expressa o diploma processual:

Art. 862. Os embargos declaratórios serão opostos em petição dirigida ao relator, dentro de quarenta e oito (48) horas, contadas da publicação do acórdão no órgão oficial.

A petição indicará o ponto obscuro, omisso ou contraditório cuja declaração se imponha.

§ 1º Será desde logo indeferida, por despacho irrecorrível, a petição que não indicar o ponto que deva ser declarado.

(29)

§ 2º O relator, independentemente de qualquer formalidade, apresentará os embargos em mesa para julgamento, na primeira sessão seguinte, fazendo o relatório e dando o seu voto.

§ 3º Vencido o relator, outro será designado pelo presidente da Câmara para lavrar o acórdão.

§ 4º Se os embargos forem providos, a nova decisão se limitará, a corrigir a obscuridade, omissão ou contradição.

§ 5º Os embargos declaratórios suspendem os prazos para outros recursos, salvo se manifestamente protelatórios e assim declarados na, decisão que os rejeitar. (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 8.570, de 1946).

Ressalte-se que, como visto, até 1945 os embargos de declaração não poderiam interromper os prazos para os demais recursos. Tal visão foi modificada no com o advento do Decreto-Lei nº 8.570, de 1946 que trouxe a possibilidade de suspensão dos prazos para os outros recursos, em todos os casos, exclusos apenas os embargos manifestamente protelatórios e assim declarados na decisão que os rejeitar.

Além disso, verifica-se que, por via dos embargos de declaração, conforme explicado por Rezende Filho “só é lícito ao juiz declarar a sentença já proferida, não podendo portanto, modificar em ponto algum a mesma sentença.”17.

O Código de Processo Civil de 1973, por sua vez, adotou duas posições quanto aos embargos de declaração: estabeleceu no artigo 464 e seguintes, que os embargos cabiam contra sentença que contivesse obscuridade, dúvida, contradição ou omissão, e que deveriam ser interpostos em 48 horas contadas da publicação da sentença; estabeleceu-se, de outra feita, no artigo 535 seguintes, que os embargos de declaração poderiam ser interpostos contra acórdão que também contivesse obscuridade, dúvida, contradição ou omissão; todavia, o prazo para sua interposição era de cinco dias.

Com o advento da Lei n. 8.950/94, os embargos de declaração em primeiro grau de jurisdição foram unificados com os de segundo grau, no artigo 535, e são cabíveis

17

REZENDE FILHO, Gabriel José Rodrigues de. Curso de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva. 1960.

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quando houver, na sentença ou acórdão, obscuridade, contradição ou omissão, devendo ser interpostos no prazo, também único, de cinco dias18.

Os embargos de declaração visavam, nesse sentido, apenas obter do juiz que esclarecesse obscuridades, suprisse omissões ou eliminasse as contradições da sentença que proferiu. Por tal, havia a discussão doutrinária acerca de sua natureza jurídica. Isso porque, por se tratar de um recurso que visava apenas a correção de erros materiais da decisão, sem influir em modificação substancial da sentença, parcela da doutrina discutia não constituírem os embargos de declaração tecnicamente um recurso.

Nos arts. 463, II, 464 e 465, o legislador revela a sua convicção de que os embargos de declaração são um recurso. Os arts. 535-538 do CPC/73 estabeleceu acerca dos embargos de declaração contra decisões de juízos coletivos.

Muito embora estejam os embargos de declaração previstos há tempos no rol de recursos dos códigos, a sua análise e estudo demonstram que havia pontos controvertidos quanto à sua natureza jurídica. Isso porque até o advento do CPC de 2015, os embargos de declaração não tinham caráter modificativo da decisão, além de não comportarem a possibilidade de contraditório e a inexistência de devolução a instância superior.

Sobre a sua possibilidade de ser interposto sobre sentença ou apenas sobre acórdãos – tese ainda discutida quando da vigência do código processual de 1973 –, descreveu Pontes de Miranda19 que excluí-los quanto a sentença de primeira instância e afirmar que somente cabe nos casos de instância superior, seria criar às partes o estado de necessidade, por certo contra a ética, de terem de atribuir a sentença conteúdo desfavorável para delas recorrerem ou terem de admitir que se recorra com a condicional.

De todo modo, dispunha o CPC de 1973 que até o momento de ter publicado em audiência, é retirável a sentença. A expressão retirada é aí mais adequada do que a outra, revogação. Se a sentença é lançada nos autos sem depender de publicação em

18 FERNANDES, Monica Tonetto. Dos Embargos De Declaração. Disponível em: http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista5/5rev11.htm. Acesso em: 03/Abr/18.

19

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audiência, é retirável enquanto o escrivão não a junta aos autos ou não lança o recebimento dos autos.

Ademais, deveria o embargante afirmar, bem como demonstrar que a sentença como está não satisfaz as exigências da prestação jurisdicional, pois não se sabe ao certo de que consta.

Com o advento do Novo Código de Processo Civil em 2015, as questões antes discutidas doutrinariamente foram solucionadas, em sua maioria, pelo próprio texto normativo.

2.3 –EMBARGOS DE DECLARAÇÃO E SEUS NOVOS ASPECTOS NO CPC DE 2015

O Código de Processo Civil de 2015, por sua vez, trouxe novas diretrizes para o referido recurso, como: a possibilidade de interposição dos embargos de declaração em qualquer decisão seja ela interlocutória, sentença ou simples despacho; a possibilidade de utilização como prequestionamento para os recursos de tribunais superiores – matéria antes sumulada, agora expressa no código processual; a capacidade infringente do recurso; e a necessidade de abertura de prazo para manifestação da parte contrária, em respeito ao princípio do contraditório, ante a possível modificação substancial da decisão.

Como forma de resolução das controvérsias de uma decisão citra petita, contraditória, obscura, com erro material, ou omissa em pontos descritos pelo art. 489 §1º do CPC, os Embargos de Declaração entram justamente para provocar o juízo a quo a analisar detidamente o processo, de modo a dirimir todas e quaisquer questões suscitadas nos autos. Evitam-se, assim, eventuais manobras protelatórias e, acima de tudo, omissões ou obscuridades que possam causar danos às justas pretensões das partes litigantes e, consequentemente, à finalidade maior do Processo, a saber: a pacificação social.

O legislador elucidou, no caput do art. 1022 do novo Codex, que o recurso de Embargos de Declaração agora será cabível sobre qualquer decisão judicial, fato antes apenas discutido em sede doutrinária, agora firmado pelo novo Código de Processo Civil.

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partes e o juiz. Nas palavras de Gaio Júnior20, possibilitará: “a rápida correção de erros, omissões e contrariedades, frutos, na maior parte das vezes, do excesso de trabalho a que são submetidos os julgadores no sistema jurisdicional pátrio”.

Ressalte-se, noutro giro, que notória é a preocupação demasiada do legislador em garantir a duração razoável do procedimento. Tal questão se delineia nitidamente por meio da inadmissibilidade do respectivo recurso quando o mesmo já tiver sido utilizado pelo recorrente em outras ocasiões, com fins meramente protelatórios.

Outro ponto que merece destaque é preocupação em demasiado do legislador com a efetividade do processo. Ao se verificar que podendo haver omissão acerca do conteúdo disposto nos autos – não apreciando os autos em sua totalidade, ou ainda, deixando o julgador de analisar questões relevantes, como a existência de precedentes invocados pelas partes –, o legislador dispôs acerca da possibilidade de aplicação de efeitos infringentes para os embargos de declaração. Por essa razão, possibilitou-se a abertura de contraditório em sede de embargos de declaração, assunto a ser dirimido a frente.

Importante se faz mencionar que, como nas palavras de Teresa Arruda Alvim Wambier:

Hoje, parece poder-se sustentar sem sombra de dúvida que os embargos de declaração têm raízes constitucionais. Prestam-se a garantir o direito que tem o jurisdicionado a ver seus conflitos (lato sensu) apreciados pelo Poder Judiciário. As tendências contemporaneamente predominantes só permitiriam entender que este direito estaria realmente satisfeito sendo efetivamente garantida ao jurisdicionado a prestação jurisdicional feita por meio de decisões claras, completas e coerentes interna corporis.” (…) É relevante compreender-se o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional em conjunto com uma série de outros princípios que, engrenados, dão sentido à garantia do devido processo legal.21 (Embargos de declaração e omissão do juiz, São Paulo: RT, 2014, p. 17-19).

20

GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira. Instituições de Direito Processual Civil. 3 ed. Revista e atualizada. Salvador: JusPodivm, 2017, p. 536.

21

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Embargos de declaração e omissão do juiz, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 17-19.

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CAPÍTULO 3 – CONTRADITÓRIO COMO DIREITO DE INFLUÊNCIA NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

3.1 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO

A Constituição Federal de 1988 positivou matéria de vital importância para o direito processual ao incorporar o princípio do devido processo legal, em seu art. 5º, inciso LIV: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.

Derivado de interpretação do direito anglo-saxônico, e remontando à Magna Charta Libertatum de 1215, o “Due Process of Law” pode ser entendido como um conjunto de garantias constitucionais que protegem o indivíduo. Relacionam-se tais garantias com o direito de liberdade – em um âmbito material de proteção –, de forma a assegurar a paridade de condições frente a provocação da tutela jurisdicional, bem como a coerência na aplicação do exercício da jurisdição e a plenitude de defesa, garantindo às partes o exercício pleno de suas faculdades e poderes processuais.

Nas palavras de Antônio Pereira Gaio Júnior22:

Pressupõe-se que tal princípio repousa em um procedimento regular, previamente estabelecido, com atos sem vícios insanáveis ou insupríveis, contraditório com real igualdade de “armas” e tratamento, juiz natural, investido na forma da lei, coerente, competente e imparcial, sendo de advertir-se que nele não se pode falar quando meramente formal ou em relação àquele que, pela sua demora, permite o sacrifício do direito do autor, considerando que o processo deve ser visto como uma espécie de contrapartida que o Estado oferece aos cidadãos diante da proibição da autotutela.

Corolários do devido processo legal, os princípios do contraditório e da ampla defesa encontram-se dispostos na Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso LV: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

Frisa-se que a Constituição Federal impõe o contraditório e a ampla defesa em um só dispositivo, e que deverão tais princípios ser observados em qualquer processo, seja ele judicial ou administrativo, e a todos os acusados e litigantes, com todos os meios e

22

GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira. Instituições de Direito Processual Civil. 3 ed. Revista e atualizada. Salvador: JusPodivm, 2017, p. 131.

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recursos inerentes as suas teses – possibilidade de alegar, de provar, de controlar a racionalidade da decisão e de recorrer.

Como bem explicado por Marinoni, Arenhart e Mitidiero23:

Por ampla defesa deve-se entender o conteúdo de defesa necessário para que o réu possa se opor ao pedido de tutela jurisdicional do direito (ao pedido de sentença de procedência) e à utilização de meio executivo inadequado ou excessivamente gravoso.

O contraditório, por sua vez, como também anotado por Marinoni, Arenhart e Mitidiero24 é a expressão técnico-jurídica do princípio da participação. A participação das partes garante, nesse sentido, a legitimidade do poder. Em outras palavras, para que, em um Estado Democrático de Direito, um poder possa ser considerado legítimo, é necessária a participação das partes.

Nesse sentido, visando manter a paridade de condições, o princípio do contraditório guarda estreita relação com o princípio da igualdade, cedendo instrumentos capazes de manter a isonomia. Trata-se, portanto, de garantia constitucional que assegura ao réu ampla oportunidade de defesa contrapondo-se à tese exposta pelo autor. Como bem assevera Nery Junior25:

O princípio do contraditório, além de se constituir fundamentalmente em manifestação do princípio do estado de direito, tem íntima ligação com o da igualdade das partes e do direito de ação, pois o texto constitucional, ao garantir aos litigantes o contraditório e a ampla defesa, quer significar que tanto o direito de ação quanto o direito de defesa são manifestações do princípio do contraditório.

O princípio do contraditório, ainda, relaciona-se com uma garantia fundamental à organização da justiça, o princípio da audiência bilateral. Como explicam Cintra, Grinover e Dinamarco26 a doutrina moderna considera que a bilateralidade da ação é inerente mesmo à própria noção de processo. Assim, o princípio traz o entendimento de que a bilateralidade da ação gera a bilateralidade do processo.

23 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Curso de Processo Civil

–Volume 1. 3 ed. Revista e atualizada. São Paulo: Thomson Reuters Revista dos Tribunais, 2016, p. 359.

24 Ibidem, p. 360.

25 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do Processo na Constituição Federal. 12 ed. Revista e atualizada. São Paulo: Thomson Reuters Revista dos Tribunais, 2016, p. 243-244.

26

CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

(35)

Por meio de provocação da tutela jurisdicional do Estado, ingressará o demandante com uma ação. Entretanto, como em todo processo contencioso há ao menos duas partes, a relação processual invocada somente se tornará completa com o chamamento do demandado ao juízo.

O juiz, nesse sentido, deverá manter-se entre as partes. Por sua vez, por força do princípio e dever de imparcialidade, terá o magistrado que assegurar sua equidistância entre elas. Apenas dessa forma será possível ouvir as partes, dando possibilidade de expor suas razões, e influir no seu convencimento como julgador. Nas palavras de Cintra, Grinover e Dinamarco27:

Somente pela soma da parcialidade das provas (uma representando a tese e a outra, a antítese) o juiz pode corporificar a síntese, em um processo dialético. Por isso foi dito que as partes, em relação ao juiz, não têm papel de antagonistas, mas sim de “colaboradores necessários” – cada um dos seus contendores age no processo tendo em vista o próprio interesse, mas a ação combinada dos dois serve à justiça na eliminação do conflito que os envolve.

Nessa toada, para que as partes tenham de fato papel de colaboradores necessários do processo, o princípio do contraditório agirá no processo, também, como impulsionador do direito de influir. Por esse aspecto, o denominado “direito de influência”, traz ao juiz não somente o dever de velar pelo contraditório entre as partes, mas também e, necessariamente, submeter-se a ele. Segundo afirma Nery Junior28:

Em razão da incidência da garantia constitucional do contraditório, é defeso ao julgador encurtar, diminuir (verkürzt) o direito de o litigante exteriorizar a sua manifestação nos autos do processo. Em outras palavras, não se pode economizar, minimizar a participação do litigante no processo, porque isso contraria o comando emergente da norma comentada. O órgão julgador deve dar a mais ampla possibilidade de o litigante manifestar-se no processo. Significa, ainda, poder acompanhar e participar da colheita da prova, de modo a poder, in continenti, fazer a contraprova, por exemplo, reperguntando para a testemunha.

A doutrina vem, há muito, enfatizando, nesse sentido, que o direito de defesa não se resume a simples manifestação do demandado ao processo. O contraditório dispõe ao demandado/réu o direito de ver seus argumentos considerados na elaboração da decisão.

27

CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO. 2014. Op. cit, p. 74. 28

(36)

Conforme explicado por Mendes e Branco29, em relação ao direito constitucional comparado:

Não é outra a avaliação do tema no direito constitucional comparado. Apreciando o chamando “Anspruch auf rechtliches Gehör” (pretensão à tutela jurídica) no direito alemão, assinala a Corte Constitucional que essa pretensão envolve não só o direito de manifestação e o direito de informação sobre o objeto do processo, mas também o direito de ver os seus argumentos contemplados pelo órgão incumbido de julgar.

Pode-se afirmar, portanto, que a garantia estampada no art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal de 1988, consagra direitos como: o direito de informação do processo, bem como dos atos praticados pelo órgão e seus elementos; o direito de manifestação no processo, assegurando a defesa do demandado sobre os elementos fáticos e jurídicos por meio de sustentação oral ou escrita e produção de provas; e o direito de ver seus argumentos considerados exigindo do julgador a análise de todos os argumentos – tese/antítese –, com isenção de ânimo, a fim de alcançar a melhor e mais justa decisão para o caso concreto.

Segundo Andolina e Vignera, conforme exposto por Gaio Júnior e Mello30, em sua obra:

O contraditório é consequência do princípio político da participação democrática e pressupõe: a) audiência bilateral: adequada e tempestiva notificação do ajuizamento da causa e de todos os atos processuais através de comunicações preferencialmente reais, bem como ampla possibilidade de impugnar e contrariar os atos dos demais sujeitos, de modo que nenhuma questão seja decidida sem essa prévia audiência das partes; b) direito de apresentar alegações, propor e produzir provas, participar da produção das provas requeridas pelo adversário ou determinadas de ofício pelo juiz e exigir a adoção de todas as providências que possam ter utilidade na defesa dos seus interesses, de acordo com as circunstâncias da causa e as imposições do direito material; c) congruidade dos prazos: os prazos para a prática dos atos processuais, apesar da brevidade, devem ser suficientes, de acordo com as circunstâncias do caso concreto, para a prática de cada ato da parte com efetivo proveito para a sua defesa; d) contraditório eficaz é sempre prévio, anterior a qualquer decisão, devendo a sua postergação ser excepcional e fundamentada na convicção firme da existência do direito do requerente e na cuidadosa ponderação dos interesses em jogo e dos

29 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 6 ed. Revista e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 494.

30 ANDOLINA, Italo; VIGNERA, Giuseppe. Il modello constituzionale Del processo civile italiano. Ed. G. Giappichelli: Torino, 1988, p. 109-110, apud GAIOR JÚNIOR, Antônio Pereira; MELLO, Cleyson de Moraes. Novo Código de Processo Civil Comentado. Belo Horizonte: Del Rey, 2016, p. 12.

Referências

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