Ana Reis
Psicóloga, CRP: 07/11219
Especialista em Teoria, Pesquisa e Intervenção em Luto, pelo Instituto 4 Estações/SP. Mestre e Doutoranda em Teologia, pela PUCRS.
Luto e Perdas no
Carmem R. Giongo, especialista em Psicologia Organizacional, mestre e doutora em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS, aponta*:
Vivemos um grande reality show: ‘cozinheiros correm sozinhos contra o tempo, não conseguem tempo suficiente
para refletir suas decisões, torcem – e não por mal – para que o colega fracasse’. Como diria Bauman, ‘melhor que seja
o outro eliminado e não eu’.
- “Opa, cortei o dedo, desmaiei em função do calor, tive uma crise de choro, esqueci de tudo o que sabia fazer, perdi o movimento do
braço!”
- “ Calma, a pressão é grande, talvez você não tenha estrutura para suportá-la. Aguente firme, ou senão provavelmente dirão que você
não aguentou a pressão ou não sabe ainda como fazer amigos e influenciar pessoas”.
- “Julga melhor quem estiver ávido na melhor crítica e por quê, nas melhores agressões”.
O que passa quase despercebido é que toda essa produção retrata um local de trabalho: trabalhadores, gestores, política de recursos
humanos, prêmios, remunerações e desligamentos. É o jogo de “vença o melhor”. E não é o melhor em sentido moral. Vence o inesperado, não
importando quais relações construiu, quão generoso e solidário, honesto ou ético foi.
Não é atoa que vivenciamos os maiores índices de acidente,
adoecimento e morte no trabalho de todos os tempos. A depressão se mantém entre as principais causas de afastamento do trabalho. São
tempos de refeições sem sobremesa.
Perdas nas Organizações?
Onde?
Limites financeiros
Troca de sistemas tecnológicos Mudança de diretoria
Absenteísmo
Demissões
Acidentes
Sucessões
Adaptação de executivos por realocação ( migração e imigração)
Expatriados Aposentadoria
Localização Conceitual
Crise
Momentos de vida onde a realidade demanda uma resposta para a qual o sujeito ainda não desenvolveu a necessária habilidade, não domina o repertório de respostas que dê conta do estímulo em questão.
Estado em que a pessoa é colocada diante de um obstáculo cuja a densidade do estímulo promove repentina paralisia, pois lhe é impossível transpor o obstáculo com o uso de métodos costumeiros para a resolução de problemas.
Imediata Incisiva Intensiva
Diante de um movimento de mudança, o sujeito precisa lidar com limites, com sua incompletude e naturalmente com a necessidade de um outro. Situações que provocam sensações de aniquilamento e desamparo.
Perdas
Transições ou mudanças, na realidade da vida, são consideradas perdas. No decorrer do processo de desenvolvimento, a medida em que o sujeito administra as suas perdas, sua estrutura psíquica terá que abdicar do poder da fase anterior para iniciar uma nova.
Ainda que não haja o registro na consciência destas experiências, permanecerá um registro inconsciente sujeito a associações que será acessado como base de referência sempre que novas perdas forem vividas.
Luto
Conjunto de reações frente a uma perda (rompimento) que se organizam para constituir-se num processo - SINGULAR INTER-SUBJETIVO
Não é uma condição patológica.
Implicará necessariamente num trauma: evento que causa desconforto, alterações funcionais duradouras, desorganização, mudança - transição
psicossocial Dor: Física, emocional, social, cognitiva e
religiosa. Processo cuja recuperação é gradual e prolongada/ Fases (Bolwby), Tarefas (Worden), Processos “R” (Rando), Estágios (Kübler-Ross). Modelo do processo dual
(Stroebe and Schut)
Perda de algo ou alguém significativamente importante para o indivíduo (objeto investido de afeto)
Crise Perdas
É esperado e normativo as seguintes fases a cada transição:
1 – Entorpecimento 2 – Ânsia e protesto 3 – Desesperança 4 – Recuperação e restituição J. Bowlby
Processos de
Elaboração
Stroebe & Stroebe Orientados para resolução de tarefas. Instrumental. Cognitivo. Orientados para os afetos. Aspectos Emocionais. Construção de Sentido.
Perplexidade
Lembranças recorrentes
Não querer falar do assunto Vontade de cuidar dos familiares Ansiedade e inquietação Sensação de desamparo
Culpa
Ciúmes
Falta de atenção e concentraçãoRaiva
Insegurança
DeslocamentoTristeza
Saudade
DesorganizaçãoConfusão
Medo
Sonhos, pesadelos Sede, desejo de reencontro e de voltar ao passado.Alívio
Dor física
Distúrbios de sono/apetite Ideação suicidaCrises de fé
Sensação de morte social.Alegria pelas
mudanças
Fadiga
Auto-crítica Senso crítico acirrado Carência afetiva Rigidez como tentativa de controle RedescobertasPara que as transições tenham um resultado favorável, parece necessário que a pessoa suporte essas oscilações de emoção. Ela só conseguirá aceitar e reconhecer, gradualmente, que as mudanças são na verdade duradouras e que sua vida deve ser reconstruída novamente, se lhe for possível tolerar o abatimento, a busca mais ou menos consciente acerca do passado, o exame aparentemente interminável de como e porque as mudanças ocorreram, e a raiva em relação a qualquer pessoa que possa ter sido responsável, sem poupar nem mesmo a si.
Dessa maneira, parece possível registrar perfeitamente que seus antigos padrões de comportamento tornaram-se limitantes e têm, portanto, de ser modificados.
_______
Ruptura;
Dúvida, temor e rejeição; Resiliência;
Construção de sentido e suporte familiar e social.
Perda de papéis profissionais e produtividade, perda do papel de provedor, temor pela falta de afeto ou reconhecimento, provável redução de rendimentos, perda do status e da rede social relacionada ao trabalho.
Sensações de morte social e familiar. Noções íntegras sobre o que é viver.
Temor pelo futuro oscila com sentimentos mais positivos de constatação pelo aprendido e o direito agora autorizado pelas experiências da vida para Ser e dizer de Si na liberdade da sabedoria conquistada.
Sucessões
Heranças e legados ao transmitirem-se sofrem transformações. A apropriação desse legado por quem o recebe varia, pode contribuir ou não na construção de uma nova identidade.
Somos fruto da qualidade daquilo que recebemos.
O trabalho de transformação do recebido gera as novas criações via apropriação do herdado, acrescido do contexto atual.
O trabalho mínimo de transformação fará predominar uma repetição que com o tempo poderá tornar-se a destruição do recebido e o empobrecimento do novo.
Sucessões são transições onde gritam as transmissões psíquicas entre submissão ou apropriação, nas quais o patrimônio recebido poderá ser amplamente revisitado e transformado ou destituído de valor.
A abertura para a transformação está tanto naquele que oferta seu conhecimento, valores, patrimônio, quanto naqueles que o recebem. O movimento de transformação ocorrerá via reconhecimento do passado e admiração por ambos para as inovações.
A complexidade do processo de sucessão envolve a transmissão psíquica entre gerações na imprescindível exigência de reconhecer o valor do passado nas possibilidades do futuro. Transmissão como processo aberto de movimento contínuo que resgata o já vivido ao mesmo tempo em que autoriza o surgimento do novo. Sem negar a singularidade dos envolvidos implica num amor pelo passado enquanto apaixonamento pelo futuro.
“Aquilo que herdaste dos teus pais conquista-o para fazê-lo teu”. Goethe. 1º É o tempo de receber.
2º É o de sair das consequências. 3º O de apropriar-se.
INFORMAÇÕES E CONTATOS
Av. Júlio de Castilhos, 2845 95.010-005 São Pelegrino
Caxias do Sul / RS
E-mail: luspe@luspe.com.br Website: www.luspe.com.br