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FOTOETNOGRAFIA E PRÁTICAS DE LEITURA: PERCURSOS METODOLÓGICOS

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Academic year: 2021

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XIII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

XIII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 27 de novembro a 01 de dezembro de 2017

FOTOETNOGRAFIA E PRÁTICAS DE LEITURA: PERCURSOS

METODOLÓGICOS

Luís Paulo Arena Alves

Doutorando pelo Programa de Pós Graduação em Letras-PPGL da Laureate International Universities – UniRitter. (Orientando).

luispauloarena@terra.com.br

Rejane Pivetta de Oliveira

Pós Doutora e oordenadora geral do Programa de Pós Graduação em Letras-PPGL (Mestrado e Doutorado) da Laureate International Universities – UniRitter. (Orientadora).

repivetta@uniritter.edu.br

RESUMO

A questão central deste trabalho consiste em investigar as práticas de leitura desenvolvidas com jovens na biblioteca comunitária Ilê Ará, situada em um território urbano periférico no município de Porto Alegre/RS. Trata de compreender, através da fotoetnografia, as estratégias que orientam a promoção da leitura com essa comunidade de jovens. A intencionalidade aqui, além da pesquisa prática, é a construção de uma base metodológica de inspiração etnográfica capaz de identificar esquemas interpretativos que dêem a sustentação teórica as informações que serão geradas. Essa concepção parte do pressuposto de que a investigação realizada dessa forma possibilita ao pesquisador articular permanentemente a teoria sobre o que está sendo estudado, confrontando-a com uma determinada situação, conhecida ou não, a fim de verificar como ocorrem as práticas de leitura vivenciadas pelos sujeitos envolvidos neste processo, bem como os saberes produzidos oportunizando o conhecimento dos impactos culturais das ações propostas e desenvolvidas. A perspectiva especificamente para esta pesquisa é identificar, in locu , onde as práticas acontecem, lógicas próprias de significação. Assim, essa investigação visa à descoberta de novos conceitos, novas relações, novas formas de entendimento da realidade a fim de verificar como ocorrem as práticas de leitura, quais são seus significados e efeitos para jovens frequentadores de uma biblioteca comunitária da periferia de Porto Alegre.

1. A fotoetnografia como uma possibilidade analítica: suas conexões e deslocamentos.

Ao considerar-se o cotidiano como um conjunto de atividades realizadas em sua diversidade, e o indivíduo visto como um sujeito histórico e inserido em um contexto social, torna-se importante entender como ocorre o processo de construção das visões de mundo, os estilos, as histórias, os símbolos e as expressões utilizadas por esses sujeitos que transitam em um território. Ao mesmo tempo, igualmente é necessário observar e compreender seus conceitos, saberes e significados.

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A presente investigação incorpora a técnica da fotoetnografia como possibilidade de gerar dados na pesquisa etnográfica. Neste sentido, cabe esclarecer que a proposta investigativa da fotoetnografia vincula-se ao Estudo Etnográfico, que originalmente vem da antropologia e se caracteriza por descrever os padrões culturais de um determinado grupo social e sua interação com o meio.

Estudar as culturas e a sociedade significa, para a concepção antropológica, um conjunto de técnicas usadas “(1) para coletar dados sobre os valores, os hábitos, as crenças, as práticas e os comportamentos de um grupo social” (ANDRÉ, 2012, p.27) e caracteriza-se também, como “(2) um relato escrito, resultante do emprego destas técnicas” (ANDRÉ, 2012, p.27).

A etnografia, na configuração conceitual de Geertz (2013), é uma ciência interpretativa no esforço de compreender as culturas. Para isso, e na busca de seu significado, o etnógrafo caracteriza-se, portanto, como um intérprete do sentido socialmente construído. O relato etnográfico configura-se pela sua forma holística de compreensão do fenômeno, na sua interação com os significados culturais dos sujeitos envolvidos, seja ele um indivíduo ou um grupo.

A etnografia tem, justamente, este potencial teórico-metodológico de desvelamento, de conhecimento das experiências de agir nestes contextos que unem e separam, que aproximam e distanciam em que podemos pertencer ou nos sentir excluídos, em que podemos sentir justiça ou injustiça (ROCHA, ECKERT, 2013, p. 13-14).

Para Boni e Moreschi (2007), as imagens agem como forma de expressão do comportamento cultural, uma vez que esta nos dias atuais “não pode mais estar separada do saber científico” (BONI E MORESCHI, 2007, p.139). Nessa perspectiva, a fotoetnografia é utilizada como mecanismo para compreender melhor o que o outro tem a informar. A intenção é ir além da percepção do etnólogo, através da linguagem visual como registro da percepção dos próprios sujeitos da ação.

Para Samain (SAMAIN, apud ACHUTTI, 2004), a antropologia visual desdobra-se em dois níveis para a compreensão da realidade, sendo ela a escrita e a imagem, cada qual contribuindo com a sua especificidade. Ou seja, abre-se a possibilidade, através da imagem, para a materialização do que não foi dito em palavras. Para Achutti (2004), torna-se importante “(...) o uso da fotografia nos trabalhos antropológicos quando destacar o enriquecimento que ela pode trazer à descrição muito particular de um dado (...)” (2004, p. 83).

É importante mencionar que o estudo aqui proposto caracteriza-se por ser “(...) um processo dialético na construção do conhecimento no qual a ação da pessoa que participa da pesquisa é fundamental” (TRIVIÑOS, 2001, p.138), ou seja, é um encontro “(...) direto,

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real, empático, democrático e científico com os seres humanos para conhecer seus interesses e suas verdades, para entendê-los em suas existências, com problemas e soluções que se apresentam” (TRIVIÑOS, 2001, p.138). Pressupõe, ainda, a utilização de determinas técnicas ou instrumentos, que podem ser caracterizados como “(...) uma adaptação da etnografia à educação (...)” (ANDRÉ, 2012, p.28).

Nessa perspectiva, torna-se importante operar o nosso olhar na desnaturalização do conjunto de fenômenos e, para isso, é fundamental analisar suas manifestações e dinâmicas, com vistas a aprofundar a compreensão do sistema de significados desse grupo social. Sobre o olhar, Tiburi (2017) afirma que existe uma diferença entre “ver” e “olhar”, uma distinção semântica que se torna importante em nossos sofisticados jogos de linguagem. Segundo a autora, nossa cultura visual é vasta e rica, entretanto, estamos submetidos a um mundo de imagens, que muitas vezes não é entendido, e, por isso, podemos dizer que vemos e não vemos, olhamos e não olhamos. O olhar mostra que não é fácil ver e que é preciso ver, ainda que pareça impossível, pois no olhar para o objeto é que se recupera a síntese e a possibilidade de reconstruí-lo. Nessa lógica, o olhar vai além da redução dos objetos a significados simples e imediatos, mas busca compreender, na sua essência e complexidade, a percepção e o papel que a leitura desempenha na construção da identidade desses jovens, das suas sociabilidades e dos seus pertencimentos, a partir do seu ponto de vista.

Nessa direção, Petit (2013) argumenta, ainda, que a leitura colabora no processo de construção do imaginário para sonhar e vislumbrar outras possibilidades, a decifrar sua experiência própria e inclusive a de resistir aos processos de marginalização “e a pensar nesses tempos em que o pensamento se faz raro” (2008, p.19). Em outras palavras, é importante se ter presente que, no processo de construção da identidade juvenil, a leitura não os tornará necessariamente leitores mais virtuosos e preocupados com os outros, mas contribuirá para a formação do pensamento como um campo de possibilidade para resistir aos processos de marginalização, violência ou extermínio, uma vez que leva a pensar em outras alternativas e a encontrar uma mobilidade para que esses jovens elaborem uma subjetividade como forma de buscar o conhecimento e, assim, a autonomia como um passo fundamental para se chegar à cidadania.

A violência é um fenômeno complexo, ambíguo, multifacetado e relacionado aos códigos sociais, jurídicos e políticos das épocas e dos lugares onde se manifesta. (BASTOS, MALACARNE, ESTRADA, SCHROEDER, 2014, p.05).

Petit (2013) afirma ainda que não se deve ser ingênuo (grifo nosso), pensar que a leitura irá recuperar as desigualdades sociais historicamente impostas e acabar, de modo imediato, com a violência a que se está submetido. No entanto, a leitura busca despertar o

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espírito crítico como chave para a cidadania, ou seja, “ler não isola do mundo, ler introduz no mundo de forma diferente” (PETIT, 2013, p 43).

Partindo destas premissas teóricas, essa dimensão da leitura insere-se como ação cultural que busca, na expressão e na criatividade, promover a emancipação desses jovens, e estabelece uma interação entre esses e o mundo cultural que os rodeiam. Atua como instrumento para compartilhar o saber através de experiências culturais diversificadas e vivenciadas em seu cotidiano, tendo presente a perspectiva de minimizar os limites culturais que, muitas vezes, são subjetivos e impostos por uma sociedade colonialista1.

Com base nessa multiplicidade, aproximar-se da compreensão das bibliotecas comunitárias, em territórios periféricos, possibilita evidenciar as práticas de leitura desenvolvidas nesses espaços. Cabe dizer, então, que a possibilidade da imagem ser lida pode ser considerada como um princípio metodológico do trabalho de campo. Isso, por sua vez, demonstra a relevância do registro fotográfico para a pesquisa etnográfica que permitirá que se visualize, crie e recrie histórias, tendo na fotoetnografia uma fonte metodológica de pesquisa e análise importante no campo educacional.

2. A caracterização do espaço da biblioteca

É importante esclarecer que o foco central está em analisar as práticas de leitura desenvolvidas com jovens que frequentam a biblioteca comunitária, localizada em uma comunidade urbana periférica, no município de Porto Alegre/RS. Para a caracterização da Biblioteca Comunitária que faz parte da investigação, tomou-se como base de análise os espaços legalmente identificados2 na capital (Porto Alegre/RS). O pensar destes espaços partiu dos seguintes critérios: a) a Biblioteca Comunitária estar sediada no município de Porto Alegre; b) ser um espaço inserido na comunidade; c) ser de livre acesso; d) ter atividades de incentivo à leitura; e) abrir o espaço da biblioteca para atividades culturais. Na composição deste Estudo de inspiração etnográfica, foram identificadas, ao total, nove (09) Bibliotecas Comunitárias3 que desenvolvem ações no município de Porto Alegre. Destas,

1 A definição do termo colonialismo pode ser compreendida nas palavras de Casanova (1995), quando o autor

define que a noção de colonialismo não apenas a noção de dependência, mas também de exploração. O conceito designa também uma dita situação mediatizada por uma interdependência política que é formalmente identificada, mas que na sua realidade prática, mantém as mesmas características coloniais de exploração.

2

Estes espaços foram identificados a partir do Projeto Redes de leitura. Informações consultadas em

http://cirandar.org.br/

3

Estas Bibliotecas Comunitárias foram identificadas: Biblioteca Comunitária Nova Chocolatão – Comunidade Nova Chocolatão; Biblioteca Comunitária Ilê Ará – Instituto Leonardo Murialdo – Comunidade Morro da Cruz; Biblioteca Comunitária Arvoredo – Comunidade Vila Mapa; Biblioteca Comunitária Arquipélago – Comunidade das Ilhas; Biblioteca Comunitária Visão Periférica – Comunidade das Laranjeiras; Bibliotecas Comunitárias localizadas em outros espaços que não periféricos: Biblioteca Comunitária Ceprimoteca – Comunidade Santa

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cinco (05) estão localizadas em regiões periféricas. Deste campo de análise, foi delimitada, como recorte investigativo, a primeira biblioteca comunitária que faz parte do projeto Redes de Leitura em Porto Alegre, sendo ela, a Biblioteca Comunitária Ilê Ará, vinculada à Organização Não Governamental - Instituto Leonardo Murialdo - ILEM.

Maria Gorete; Biblioteca Comunitária do Cristal – Comunidade Cristal; Biblioteca Comunitária Jardim Ipiranga – Associação de Moradores do Jardim Ipiranga. Informações consultadas em http://cirandar.org.br/ .

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Figura 01: Foto panorâmica de localização da Biblioteca Comunitária – 2016.

Fonte: Registro fotográfico dos autores.

Figura 02: Imagem da entrada - Biblioteca Comunitária - Ilê Ará – 2016.

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Esta biblioteca caracteriza-se, então, como um micro espaço individual de análise. Parte-se do princípio que, dentre as diferentes possibilidades investigativas, “A etnografia estuda os aspectos culturais de uma determinada realidade” (TRIVIÑOS, 2001, p.134). Isso significa, em outras palavras, a importância de compreender os diferentes sentidos que compõem este espaço educativo e comunitário em que a biblioteca se insere.

Para Alves-Mazzotti (2001) as pesquisas de inspiração etnográfica geram um volume significativo de informações que necessitam ser compreendido na sua integralidade, o que só pode ser feito por meio de um processo contínuo em que identifica as categorias, suas dimensões, significados e relações. “Neste sentido, a pesquisa etnográfica não pode se limitar a descrição de situações, ambientes, pessoas ou à reprodução de suas falas e de seus depoimentos” (ANDRÉ, 2012, p.45). É fundamental ter presente que o “(...) investigador deve, pois, ultrapassar seus métodos e valores, admitindo outras lógicas de entender, conceber e recriar o mundo” (ANDRÉ, 2012, p.45).

Para isso, é importante sair do particular e chegar ao geral, levando-se em conta as considerações que resultam das diferentes realidades sociais, numa perspectiva histórica a fim de que se possa compreender os significados culturais, ou seja, as intencionalidades nesta estrutura não estão (grifo nosso) em buscar uma reprodução real dos fatos através da observação, ou sua mera descrição. Está sim na compreensão dos fenômenos, pelas situações vivenciadas, observadas, e pelas atitudes espontâneas e cotidianas do grupo investigado. Estes elementos refinou uma aproximação mais precisa do objeto em estudo e, consequentemente, proporcionou uma análise mais consistente.

Isso, acima de tudo, “exige do pesquisador um esforço imenso para minimizar os riscos de omissão ou da revelação dos dados distorcidos por parte do grupo investigado” (MARTINS, 2008, p.53). Neste aspecto, o pesquisador tem de estar atento e ter uma “(...) sensibilidade para atuar no trabalho de campo, para ouvir observar e para reconhecer os momentos mais adequados para perguntar, dialogar (...)” (MARTINS, 2008, p.53), e compreender os sujeitos no seu ambiente para que o real significado seja reconhecido, tendo a narrativa visual como uma ferramenta importante neste processo.

3. O registro fotoetnográfico como proposta de instrumento analítico das práticas de leitura

A partir das questões iniciais observadas ao longo deste ensaio, cabe aqui apresentar a fotoetnografia como um instrumento de pesquisa importante para as investigações antropológicas. Ou seja, o estudo insere-se como uma possibilidade de compreender as práticas de leitura através do registro visual. A imagem, gerada pela

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fotografia, busca narrar visualmente4 o percurso do que acontece no cotidiano da Biblioteca Comunitária com os jovens inseridos e participantes das atividades5.

Nesse sentido, pode-se dizer que, através da observação e das diferentes sensações e sentimentos gerados, poderá se ter uma representação do ponto de vista dos sujeitos pela técnica do registro das informações visuais - “uma fotografia é a materialização de um olhar, é o discurso de um olhar” (ACHUTTI, 2004, p. 111).

Para Boni e Moreschi (2007), as imagens agem como forma de expressão do comportamento cultural, uma vez que “a imagem hoje não pode mais estar separada do saber científico” (BONI E MORESCHI, 2007, p.139). Nessa perspectiva, a fotografia etnográfica é utilizada como mecanismo para compreender melhor o que o outro tem a informar. A intenção é, através da linguagem visual, registrar a percepção dos participantes pela fotografia.

Os caminhos investigativos tomam como base as orientações de Bauer e Gaskellel (2002) que apontam as imagens como uma das alternativas para compreender as diferentes representações do cotidiano. A proposta de estabelecer estes instrumentos e técnicas de pesquisa busca superar as críticas a que, muitas vezes, o estudo etnográfico é submetido; sobretudo, no que diz respeito à confiabilidade dos dados, uma vez que apenas um observador registra as informações (MOREIRA e CALEFFE, 2008).

A perspectiva, especificamente, deste artigo aponta para a utilização de outras lógicas de significação, a fim de alcançar as evidências por caminhos ainda não transitados. Esta concepção parte do pressuposto de que a investigação realizada desta forma possibilita ao pesquisador articular permanentemente a teoria sobre o que está sendo estudado, confrontando-a com uma determinada situação, conhecida ou não. Torna-se fundamental ressaltar que a pesquisa etnográfica “deve ir muito além de tentar reconstruir as ações e interações dos atores sociais, segundo seus pontos de vista, suas categorias de pensamento, sua lógica” (ANDRÉ, 2012, p.45) deverá compreender os aspectos aparentes, simbólicos e subjetivos do comportamento destes sujeitos e as interações que estabelecem no seu cotidiano.

Para Bourdieu (1990), é importante apreender essa realidade social a partir dos sujeitos que nela vivenciam, o que ele denomina de espaço social. “Para mudar o mundo é preciso mudar as maneiras de fazer o mundo, isto é, a visão de mundo e as operações práticas pelas quais os grupos são produzidos ou reproduzidos” (BOURDIEU, 1990, p. 166), ou seja, é nessa complexidade que o cotidiano se constrói.

4

Ao falarmos de narração visual ou, mais especificamente do potencial narrativo das imagens fotográficas, é porque se pode ter em vista a definição mais ampla possível daquilo que se poderia chamar de narração (ACHUTTI, 2004, p. 83).

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Como resultado final desta etapa de pesquisa, pretende-se organizar uma exposição fotográfica com as imagens geradas a partir do registro fotoetnográfico realizado pelos jovens participantes do estudo.

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Dessa forma, investigar os processos e os saberes das práticas de leitura pela técnica da fotoetnografia significa desvendar, no contexto, os elementos de uma ação política, porque não se pode pensar no desenvolvimento cultural como um processo abstrato, descontextualizado e desvinculado da trama social. A relação que se estrutura não é singular, ou seja, é necessário entender as múltiplas dimensões para perceber o sentido da proposta de intervenção: se esta se volta à reprodução do sistema ou se é motivadora, protagonista, que busca resgatar as possibilidades culturais e práticas de leituras criativas e emancipatórias dos jovens enquanto sujeitos sociais de direitos.

Cabe ainda dizer que a utilização da fotoetnografia, como princípio metodológico, é uma proposta que busca ir além do observável, pois “O que este tipo de pesquisa visa é a descoberta de novos conceitos, novas relações, novas formas de entendimento da realidade” (ANDRÉ, 2012, p.30).

Essa investigação6 está na etapa intermediária de ajustes, em vias de qualificação, para posterior ida a campo e o estabelecimento dos registros fotográficos. O objetivo de apresentar este trabalho está em trazer estas questões para o debate acadêmico, a fim de problematizar a fotoetnografia como um instrumento importante de análise e de possibilidade para compreender, frente às evidências, os processos e as práticas de leitura vivenciadas pelos sujeitos envolvidos neste processo. Consequentemente, serão aprofundados os saberes produzidos neste espaço territorial, oportunizando o conhecimento dos impactos culturais da leitura a partir da fotografia, de suas transversalidades e de seus significados e efeitos para jovens frequentadores da biblioteca comunitária.

Referências

ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson. Fotoetnografia da biblioteca jardim. Porto Alegre: Editora da UFRGS/ Tomo Editorial, 2004.

ALVES-MAZOTTI, Alda Judith. Relevância e aplicabilidade da pesquisa em educação. Cadernos de pesquisa, nº 113, p. 39-50, jun 2001. Disponível em {http://www.scielo.br/pdf/cp/n113/a02n113.pdf} Acesso em: 10 jun. 2016.

ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Etnografia da prática escolar. 18. ed. Campinas, SP: Papirus, 2012.

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Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O Projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de ética no ano de 2017, sob o parecer: 2.228.789.

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BASTOS, Carmem Célia Barradas Correia; MALACARNE, Vilmar; ESTRADA, Adrian Alvarez; SCHROEDER, Tânia Maria Rechia. Apresentação. In. Violência e educação: em busca de novos olhares. MALACARNE, Vilma; ESTRADA, Adrian Alvarez; BASTOS, Carmen Célia Barradas Correia (Orgs). 01º.ed. Curitiba, PR: CRV, 2014.

BAUER, W. Martin; AARTS, Bas A construção do corpus: um princípio para a coleta de dados qualitativos. In. Pesquisa qualitativa, com texto, imagem e som: um manual prático. BAUER, W. Martin; GASKELL, George (Orgs). Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2002. BONI, Paulo César; MORESCHI, Bruna Maria. Fotografia: a importância da fotografia para o resgate etnográfico. In. Doc On-Line, Dezembro de 2007. Disponível em: {www.doc.ubi.pt.pp} Acesso em: 11 dez. 2016.

BOURDIEU, Pierre; CHARTIER, Roger. A leitura: uma prática cultural. In. CHARTIER, Roger. Praticas de leitura. 5º. ed. São Paulo: Estação da liberdade, 2011.

CASANOVA, Pablo Gonzales. O colonialismo global e a democracia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1995.

GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. 13. Ed, Petrópolis: Vozes, 2013.

MARTINS, Gilberto de Andrade. Estudo de Caso: Uma estratégia de pesquisa. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2008.

MOREIRA, Herivelto; CALEFFE, Luiz Gonzaga. Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador. 2º.ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.

PETIT, Michèle. Leituras: do espaço íntimo ao espaço público. São Paulo: Editora 34, 2013. ROCHA, Ana Luiza Carvalho da; ECKERT, Cornélia. Apresentação. In. Etnografia de rua: Estudos de antropologia urbana. Porto Alegre, Editora da UFRGS, 2013.

TIBURI, Marcia. Aprender a pensar é descobrir o olhar. Disponível em {http://www.marciatiburi.com.br/textos/quadro_aprender.htm}. Acesso em: 15 abr. 2017. TRIVIÑOS, Augusto N. Silva. Bases teórico-metodológicas da pesquisa em Sociais: ideias gerais para a elaboração de um projeto de pesquisa. In. Cadernos de pesquisa Titter dos Reis. Vol. 04, Porto Alegre: Riter dos Reis, 2001.

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