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Casa Dos Cataventos

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Academic year: 2021

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Casa dos Cata-Ventos. Uma estratégia clínica e política na

Casa dos Cata-Ventos. Uma estratégia clínica e política na

atenção à infância.

atenção à infância.

Autoras:

Autoras:

Ana Maria Gageiro Ana Maria Gageiro Eda Estevanell Tavares Eda Estevanell Tavares

Renata Maria Conte de Almeida Renata Maria Conte de Almeida Sandra D. Torossian

Sandra D. Torossian

O que vamos apresentar aqui é a experin!ia de um pro"eto #ruto da par!eria entre a O que vamos apresentar aqui é a experin!ia de um pro"eto #ruto da par!eria entre a $niversidade %ederal do Rio Grande do Sul &'ns(tuto de )si!ologia* e o 'ns(tuto A))OA $niversidade %ederal do Rio Grande do Sul &'ns(tuto de )si!ologia* e o 'ns(tuto A))OA &'ns(tuto da Asso!ia+,o )si!anal-(!a de )orto Alegre*: a Casa dos Cata/entos. $ma &'ns(tuto da Asso!ia+,o )si!anal-(!a de )orto Alegre*: a Casa dos Cata/entos. $ma estrutura Dolto0 um lugar de 1rin!ar0 !onversar e !ontar 2ist3rias. 4ugar que a!ol2e a estrutura Dolto0 um lugar de 1rin!ar0 !onversar e !ontar 2ist3rias. 4ugar que a!ol2e a vida !omum0 uma psi!an5lise na !idade. Estamos em um territ3rio da !idade de )orto vida !omum0 uma psi!an5lise na !idade. Estamos em um territ3rio da !idade de )orto Alegreque é pr3ximo do !entro da !idade0 de duas $niversidades &$%RGS e )$CRS* Alegreque é pr3ximo do !entro da !idade0 de duas $niversidades &$%RGS e )$CRS* eem #rente a um s2opping !enter0 porém quase ninguém o v. C2amase /ila S,o eem #rente a um s2opping !enter0 porém quase ninguém o v. C2amase /ila S,o )edro0 nome oriundo da proximidade !om o 6ospital )siqui5tri!o S,o )edro. Seus )edro0 nome oriundo da proximidade !om o 6ospital )siqui5tri!o S,o )edro. Seus moradores vivem em !ondi+7es de extrema pre!ariedade so!ioe!on8mi!a e !onvivem moradores vivem em !ondi+7es de extrema pre!ariedade so!ioe!on8mi!a e !onvivem !om a ex!lus,o de todos os direitos e re!ursos aos quais tm a!esso aqueles !om a ex!lus,o de todos os direitos e re!ursos aos quais tm a!esso aqueles designados 9!idad,os. /ivem da !ata+,o e venda de lixo quea1arrota e trans1orda os designados 9!idad,os. /ivem da !ata+,o e venda de lixo quea1arrota e trans1orda os pequenos 1arra!os0 !on#undindose !om seus moradores. As !asas pre!5rias n,o tem pequenos 1arra!os0 !on#undindose !om seus moradores. As !asas pre!5rias n,o tem piso0oesgoto é a !éu a1erto0 mos!as e mau !2eiro s,o !onstantes.

piso0oesgoto é a !éu a1erto0 mos!as e mau !2eiro s,o !onstantes.

A !omunidade est5 su1me(da a muitas violn!ias: ao a1andono so!ial0 ; #or+a paralela A !omunidade est5 su1me(da a muitas violn!ias: ao a1andono so!ial0 ; #or+a paralela e perversa do tr5<!o de drogas0 ; a+,o poli!ial que se imp7e ar1itr5ria e e perversa do tr5<!o de drogas0 ; a+,o poli!ial que se imp7e ar1itr5ria e desumanamente !om adultos e !rian+as. =este am1iente in3spito0 seus moradores desumanamente !om adultos e !rian+as. =este am1iente in3spito0 seus moradores en!ontram !omo #orma de resolu+,o de seus !on>itos0 quais quer que se"am eles0 en!ontram !omo #orma de resolu+,o de seus !on>itos0 quais quer que se"am eles0 repe(+7es destas vivn!ias0 mais violn!ia.S,oterrit3rios0 espa+os 9poten!ialmente repe(+7es destas vivn!ias0 mais violn!ia.S,oterrit3rios0 espa+os 9poten!ialmente trauma(?antes pela ausn!ia e desregula+,o de meios de prote+,o aos seus trauma(?antes pela ausn!ia e desregula+,o de meios de prote+,o aos seus 2a1itantes0 !omo nos di? )aulo Endo

2a1itantes0 !omo nos di? )aulo Endo@@. Ali0 eles n,o . Ali0 eles n,o apenas est,o mais expostapenas est,o mais expostos do queos do que

moradores de outros lo!ais da !idade0 !omo tm que estar sempre alertas0 e muitas moradores de outros lo!ais da !idade0 !omo tm que estar sempre alertas0 e muitas ve?es angus(ados0#rente ; violn!ia que pode irromper inesperadamente a qualquer ve?es angus(ados0#rente ; violn!ia que pode irromper inesperadamente a qualquer momento0 trauma(!amente.

momento0 trauma(!amente.

A violn!ia sempre presente0 a!a1a assim permeando todas as rela+7es e se A violn!ia sempre presente0 a!a1a assim permeando todas as rela+7es e se reprodu?indo nas rela+7es das !rian+as entre si e !om os da Casa.

reprodu?indo nas rela+7es das !rian+as entre si e !om os da Casa. Sa1emos0

Sa1emos0 !omo alerta!omo alerta enilton e?erra09que ini!ia(vas !omo o nosso pro"eto tem seusenilton e?erra09que ini!ia(vas !omo o nosso pro"eto tem seus limites #rente ; !omplexidade de pro1lemas de ordem estrutural que pre!isam ser limites #rente ; !omplexidade de pro1lemas de ordem estrutural que pre!isam ser en#rentados para que os su"eitos que 2a1itam esses espa+os saiam da ex!lus,o em que en#rentados para que os su"eitos que 2a1itam esses espa+os saiam da ex!lus,o em que se en!ontram e par(l2em de #orma mais ampla dos re!ursos &so!iais0 e!on8mi!os0 se en!ontram e par(l2em de #orma mais ampla dos re!ursos &so!iais0 e!on8mi!os0

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pol-(!os e !ulturais* indispens5veis ; amplia+,o de sua norma(vidade so!ial e de sua plena !idadania.B =,o des!on2e!emos o ris!o presente0 em ini!ia(vas !omo a nossa0

de psi!ologi?ar0 ou de se in!orporar a um 9dis!urso !ompetente0 té!ni!o0 quest7es e pro1lemas que s,o de ordem existen!ial0 pol-(!a ou s3!ioe!on8mi!a. Mas0 essas quest7es n,o nos impedem de pretender0 !om nossa proposta de tra1al2o0 !riar um disposi(vo do qual0 !rian+as e adultos possam se u(li?ar para ampliar suas !2an!es de viver de modo mais aut8nomo0 !ria(vo e sa(s#at3rio poss-vel. 65 nesse pro"eto a  "un+,o de e#eitos !l-ni!os e pol-(!os sem que isso se"a uma 1andeira da Casa.

O tra1al2o que reali?amos se situa nas 1ordas da interven+,o !l-ni!a0 so!ial e edu!a(va sem se tratar propriamente de nen2uma delas0 mas !ertamente0 1ali?ado pela psi!an5lise. =,o se trata de uma interven+,o propriamente edu!a(va0 apesar dela poder estar presente0 uma ve? que !onsideramos que os !uidados possuem uma #un+,o orientadora e indi!a(va0 ou se"a0 podem ter valor de ins!ri+,o e papel na sade ps-qui!a dos pequenos. =,o se trata tampou!o de um tra1al2o de interven+,o so!ial0 apesar da aposta reali?ada nos e#eitos que a produ+,o de su"eitos mais aut8nomos0 menos !on#ormados e silen!iados pela dor0 dese"antes0 en<m0 possam vir a ter0 ao assumirem responsa1ilidades na vida so!ial.

=,o é apli!a+,o de um método0 mas !onstru+,o de um espa+o onde se"a poss-vel o 1rin!ar e o !onversar0 re!ursos de sim1oli?a+,o e ela1ora+,o in#an(s.

A Casa éum disposi(vo !l-ni!o e possui uma temporalidade par(!ular0 que !omo reitera e?erra é ensaio0 experimenta+,o0 lugar de reinven+,o0 da renova+,o da es!uta e do ol2ar.

%ran+oise Dolto pensava a Maison /erte !omo um espa+o de transi+,o entre a #am-lia e a es!ola. )ensamos a Casa dos Cata/entos assim0 mas tam1ém !omo um lugar que promove o desli?amento da violn!ia ;s palavras0 onde um Outro violento0 sem lei0 pode dar lugar a uma outra vers,o do Outro0 so!ial0 sustentada pelos plantonistas. =esta perspe!(va0 e?erraa<rma que 9toda !l-ni!a é so!ial e toda pol-(!a di? respeito ; vida su1"e(va de !ada indiv-duo. A singularidade s3 pode surgir e ser experimentada no !ampo das rela+7es !om os demais su"eitos0 !ampo de suas rela+7es so!iais. Estas0 por sua ve?0 s3 gan2am signi<!a+,o0 s3 se reprodu?em ou se modi<!am pela apreens,o que os su"eitos #a?em delas.F

Sa1emos que o sintoma !l-ni!o se #a? na interse!+,o de !omo o su"eito resolve o seu #antasma !om o dis!urso so!ial. O sintoma é !ertamente singular0 mas n,o é individual. Singular porque se trata da maneira !omo ele equa!iona essa !om1ina+,o0 mas o sintoma é ao mesmo tempo !ole(vo e individual.Ou0 nas palavras de 4a!an:9Os so#rimentos da neurose e da psi!ose s,o0 para n3s0 a es!ola das paix7es da alma0 assim

BEERRA HR0 enilton . )re#5!io: 9Te!endo a rede. 'n Te!endo a rede: tra"et3rias da

sade mental em S,o )aulo. S. )aulo: Ca1ral $niversit5ria0 p. @I0 @JJJ.

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!omo o <el da 1alan+a psi!anal-(!a0 quando !al!ulamos a in!lina+,o de sua amea+a em !omunidades inteiras0 d5nos o -ndi!e do amorte!imento das paix7es da polis. &p.@F*

)ropomos0 ainda0 uma re>ex,o so1re a dimens,o de uma temporalidade que introdu? a possi1ilidade da in!lus,o e do re!on2e!imento através de um ato !l-ni!o e pol-(!o de apostaKsuposi+,o de existn!ia de um su"eito de dese"o0 de um narrador. $m lugar em que tam1ém é poss-vel pensar o !on!eito de testemunha. Temos o1servado o quanto o

espa+oKtempo dos plant7es desdo1ra uma dimens,o temporal que permite que alguém ali queira ser0 in!luirse0 pelo 1rin!ar e pela palavra e0 se poss-vel0 ela1orar traumas.

en"amin*0 o1serva que os so1reviventes0 na Segunda Guerra0 voltavam mudos das trin!2eiras porque aquilo que viven!iaram n,o podia mais ser assimilado por palavras. Em 9O =arrador ele es1o+a a ideiadeuma narra+,o nas ru-nas da narra(va0 uma transmiss,o entre !a!os de uma tradi+,o em migal2as. )ara Gagne1in0 tal proposi+,o nas!e de uma in"un+,o é(!a e pol-(!a: 9n,o deixar o passado !air no esque!imento. Esse narrador seria a <gura do trapeiro0 do !atador de su!ata e de lixo0 esta personagem das grandes !idades modernas que re!ol2e os !a!os0 os restos0 os detritos0 movido pela po1re?a0 !ertamente0 mas tam1ém pelo dese"o de n,o deixar nada se perderL. Esse narrador su!ateiro n,o tem por alvo re!ol2er grandes #eitos.

Deve muito mais apan2ar tudo aquilo que é deixado de lado !omo algo que n,o tem signi<!a+,o. O que s,o esses elementos de so1ra do dis!urso 2ist3ri!o A resposta de en"amin é dupla: em primeiro lugar é o so#rimento indi?-velN em segundo lugar0 aquilo que n,o tem nome0 o an8nimo0 aquilo que n,o deixa nen2um rastro.

Somos n3s0 plantonistas0 tam1ém narradores0 re!ol2endo os !a!os0 os detritos0 o lixo para que nada se per!a dessa violn!ia e ex!lus,oTra1al2amos nesta !omunidade 25 quase L anos. Aprendemos0 !om o tempo0 a !ontextuali?ar algumas 1rin!adeiras das !rian+as0 ou mesmo a ausn!ia delas. Em meados do segundo semestre de B@F0 vivemos duas tardes em1lem5(!as.

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=uma delas0 nen2uma 1rin!adeira se montava. Todos os 1rinquedos #oram sendo espal2ados pelo p5(o e destru-dos !om muita violn!ia. As interven+7es n,o sur(am qualquer e#eito. $m menino de F anos passou a tarde enterrando 1one!as al2eio ao !aos do p5(o. Todos os tra1al2adores da Casa0 que se aproximavam0 n,o !onseguiam produ?ir qualquer desli?amento naquilo que se repe(a ; exaust,o. Puase ao <nal0 uma tra1al2adora se aproxima !om um !amin2,o e prop7e a ele uma nova 1rin!adeira: #a?erem um !arregamento de terra para a !asa do primo que 1rin!ava um pou!o distante. Ele a!eita e !onsegue0 assim0 sair do intermin5vel e angus(ante enterro. 'mportante di?er que muitas das nossas interven+7es !om as !rian+as pequenas se d,o sem um adulto !uidador0 pois elas s,o tra?idas ; !asa por seus irm,os um pou!o maiores. A 2ist3ria das !rian+as e do pr3prio territ3rio v,o sendo !onstru-das a posteriori nas reuni7es de equipe0 onde !osturamos #ragmentos de relatos e repensamos as interven+7es e o di5logo !om a rede de prote+,o ; in#Qn!ia.

Duas ou trs semanas ap3s esta tarde0 en!ontramos toda a vila em e#erves!n!ia. Crian+as e mul2eres #alavam movidas pelo desespero. =inguém dormira aquela noite e em tantas outras. A pol-!ia vin2a entrando violentamente nas !asas durante as madrugadas e implementava um !lima de terror em toda a vila. $m rapa?0 usu5rio de !ra! 2avia sido espan!ado pela rigada Militar0 no meio da vila0 durante toda a madrugada. Seus gritos a!ordaram a todos. O medo impediu qualquer a+,o. %oi espan!ado quase ; morte e ainda estava sem so!orro médi!o.O pedido das mul2eres0 quando !2egamos ; Casa0 era de que lig5ssemos para o servi+o muni!ipal de am1ulQn!ias pois talve?0 n3s da universidade0 ser-amos atendidos. )or ser um territ3rio !ontrolado pelo tr5<!o0 os servi+os do Estado est,o pra(!amente ausentes e os pedidos de a"uda n,o s,o atendidos.  digno de nota que a ni!a pessoa que teve !oragem de (r5lo da rua e !olo!5lo dentro de !asa0 dando a1rigo ao espan!ado0 #oi um su"eito psi!3(!o.

As !rian+as #alaram de suas vivn!ias nos l(mos tempos0 !ontaram as 2ist3rias de terror vividas por elas0 seus #amiliares e vi?in2os durante as madrugadas. Ap3s romperem o siln!io provo!ado pelo medo e tam1ém pelo a!ordo velado do pr3prio territ3rio0 elas pedem para 1rin!ar. Come+am a se #antasiar0 linda e !oloridamente. A primeira 1rin!adeira que montam é 9Seu lo1o est5 /ou passear no 1osque enquanto seu lo1o n,o vem.Correm pelo p5(o #ugindo do lo1o mau. %reud "5 nos apontava que as !rian+as 1rin!am a(vamente !om as situa+7es vividas passivamente. Ap3s nos !ontarem do 2orror0 podem ent,o #ugir do lo1o mau. Em seguida0 montam uma terreira de $m1anda. As !rian+as !riam #antasias de pais e m,es de santo e pedem que uma tra1al2adora vista uma saia e entre na 1rin!adeira para 9aprender !omo se #a?. O !onvite n,o era para 1rin!ar !om eles: dan+ar ou !antar0 apenas ver0 aprender. As !rian+as passaram a tarde in!orporando orix5s0 rodando as saias0 !antando e a tra1al2adoraali sentada o1servando0 testemun2ando todos os seus movimentos0 sua sa1edoria !om os orix5s0 pretos vel2os e !iganas. Es!utando seus !antos e pedidos de prote+,o0 sustentando um tempoKespa+o sim13li!o diverso do vivido nas noites de terror na vila.

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A 1rin!adeira de $m1anda teve para as !rian+as um e#eito de apa?iguamento. Seus pedidos #oram es!utados por alguém. Até as pessoas na rua0 pararam para ol2ar a linda 1rin!adeira que !onstru-ram. Toda a equipe esteve !om eles es!utando o 2orror e depois0 sustentando um Outro espa+o. Testemun2amos os relatos e tam1ém a potn!ia !ria(va destas !rian+as. Puando o su"eito é es!utado0 é poss-vel des!ansar0 apa?iguar a angs(a vivida desde a noite anterior. E #oi assim que as !rian+as a!a1aram a 1rin!adeira e seguiram para suas !asas 1em antes do <m da tarde. O tempo l3gi!o esta1ele!eu o <m do nosso tra1al2o naquele dia.

Retomando o !on!eito de testemunha  em Gagne1in0 ela nos di? que n,o se trata

daquele que viu !om seus pr3prios ol2os. Testemun2a tam1ém seria aquele que n,o vai em1ora0 que !onsegue ouvir a narra+,o insuport5vel do outro0 porque somente a transmiss,o sim13li!a0 assumida apesar e por !ausa do so#rimento indi?-vel0 somente essa retomada re>exiva do que #oi vivido pode a"udar a n,o repe(lo mas a ousar es1o+ar uma outra 2ist3ria0 a inventar o presente.

Miriam De1ieux Rosa !onsidera que 25 uma espe!i<!idade na es!uta destes su"eitos permanentemente expostos ; violn!ia e ; ex!lus,o. Ela di?: 9 pre!iso levar em !onta que a ex!lus,o do a!esso aos 1ens0 a ex!lus,o dos modos de go?o deste momento da !ultura tem !omo !onseqn!ia no su"eito um e#eito de resto.  importante n,o !on#undir esse lugar de resto na estrutura so!ial !om uma su1"e(va+,o da #alta0 que promove o dese"o. A iden(<!a+,o do su"eito a este lugar de resto0 de de"eto0 é um dos #atores que di<!ulta o seu posi!ionamento na trama de sa1er e que vai !ara!teri?ar o seu dis!urso0 mar!ado0 por ve?es0 pelo silen!iamento.

Tra?emos aqui0 através do son2o de )rimo 4evi 0 o 2orror da ausn!ia da es!uta. )rimo 4evi no !ampo de Aus!2Uit?0 des!o1re um son2o re!orrente em quase todos os seus !ompan2eiros e nele mesmo. Son2a !om a volta para !asa0 !om a #eli!idade intensa de !ontar aos pr3ximos o 2orror "5 passado e ainda vivo e0 de repente0 per!e1e !om desespero que ninguém o es!uta0 que os ouvintes se levantam e v,o em1ora0 indi#erentes. )rimo 4evi pergunta: 9)or que o so#rimento de !ada dia se tradu?0 !onstantemente0 em nossos son2os0 na !ena sempre repe(da da narra+,o que os outros n,o es!utam. &p I*

Gagne1in !onsidera tam1ém o personagem que levanta e vai em1ora0 na indi#eren+a. 65 uma es!ol2a a- que é pre!iso !onsiderar. =,o temos que pedir des!ulpas quando0 por sorte0 n,o somos os 2erdeiros diretos de um massa!reN e se0 ademais0 n,o somos privados da palavra0 mas0 ao !ontr5rio0 se podemos #a?er do exer!-!io da palavra um dos !ampos de nossa a(vidade0 ent,o nossa tare#a !onsis(ria0 talve?0 muito mais em resta1ele!er o espa+o sim13li!o onde se possa ar(!ular um ter!eiro V aquele que n,o #a? parte do !-r!ulo in#ernal do torturador e torturado0 do assassino e assassinado0

ROSA0 Miriam De1ieux. 9$ma es!uta psi!anal-(!a das vidas se!as 'n Textura. Revista

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aquilo que0 ins!revendo um poss-vel al2ures #ora do par morW#ero algo?v-(ma0 d5 novamente um sen(do 2umano ao mundo.

A aposta do pro"etoKprograma que estamos desenvolvendo é a de ser esse ter!eiro que permite0 pela sua presen+a e seu dese"o de manuten+,o do espa+o e da es!uta0 a1rir 1re!2as no tempo0 #restas no tempo. O tempo #a? o sen(do se a1rir.  pre!iso instaurar um tempo para #alar das invas7es0 das violn!ias.

=ossa aposta é na es!uta psi!anal-(!a. =a sua potn!ia de produ?ir e#eitos estruturantes e organi?adores.

Ao se lidar !om situa+7es de tanta violn!ia 25 o enorme ris!o de ser tomado nos dis!ursos vi(mi?antes0 !ulpa1ili?antes ou que pretendem a<rmar a verdade de<ni(va so1re o que é a violn!ia0o !rime0 a dor e tudo que0 en<m0 a!a1a #e!2ando os !amin2os para a es!uta. O ris!o0 segundo Endo0 é em ve? do testemun2o se ter5 apenas um 9dis!urso a#errado a si mesmo0 inseguro da pr3pria verdade #r5gil que vei!ula0 ela tam1ém imersa na dvida e que0 por isso0 tende a se pro!lamar repe((vamente e ; exaust,o0 tornando irris3ria V e n,o essen!ial0 !omo no testemun2o V a presen+a do interlo!utor. 

 no testemun2o0a par(r do en!ontro mediado pela es!uta que pode 2aver !ompromisso e responsa1ilidade so1re o que se di? e se es!uta. En!ontro que para que 2a"a uma es!uta &!omo de<ne a psi!an5lise* é mediado por um 9prin!-pio de ignorQn!ia 0 assim de<nido por Endo0 X tanto de quem es!uta !omo de quem #ala para

o ainda n,o sa1ido surgir.

Pue este n,o sa1ido possa sair da !ondi+,o de o1"etode"eto que a so!iedade o !olo!a para que a #altaaser n,o signi<queuma amea+a0 mas !omo en!ontro !om o qual pode se produ?ir o novo.I

=ossa interven+,o0 !onsiste na aposta no valor su1versivo da palavra0podendo (rar estes su"eitos do emude!imento e da violn!ia N es!utando !rian+as e adoles!entes !omo su"eitos0 podendo l2es o#ere!er outras vias de ela1orar suas dores0 inquieta+7es e maneiras 2a1ituais de reagir0 n,o pre!isando <!ar presos a uma repe(+,o0 mas iden(<!ando outras vers7es0 outras !enas poss-veis0 outros enredos.

E=DO0 )aulo Cesar. 9 A violn!ia no !ora+,o da !idade. S,o )aulo0 Es!uta0 B0

p.B.

XIbid. ). B.

IROSA0 Miriam De1ieux. 9$ma es!uta psi!anal-(!a das vidas se!as 'n Textura. Revista

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)ropomos um am1iente que possa !umprir sua #un+,o0 !on#orme nos ensina Yinni!ot: a!ol2imento e provis,o0 lei e re!on2e!imento

As !rian+as e adoles!entes que !ir!ulam pela Casa tem vo? nas de!is7es: par(!ipam da ela1ora+,o e entendimento das regras e de !onvivn!ia. Sustentamos um lugar que pro!ure n,o en!errar a possi1ilidade de di5logo preservando a lei da Casa: ninguém pode ser ma!2u!ado ou agredido.

Seguimos a m5xima de %ran+oise Dolto na Maison /ert: n,o #alamos de !rian+as0 #alamos !om !rian+asZ

i1liogra<a:

EERRA HR0 enilton . )re#5!io: 9Te!endo a rede. 'n Te!endo a rede: tra"et3rias da sade mental em S,o )aulo. S. )aulo: Ca1ral $niversit5ria0 p. @I0 @JJJ.

CARDOSO0 $1ira"ara Cardoso de. 9A per(nn!ia p1li!a do ato psi!anal-(!o. Curi(1a0 Huru50 B@F.

E=DO0 )aulo Cesar. 9 A violn!ia no !ora+,o da !idade. S,o )aulo0 Es!uta0 B. GAG=E'=0 Heanne Marie. 4em1rar0 es!rever0 esque!er. S,o )aulo0 Ed FL0 B.

4ACA=0 Ha!ques. 9 O est5dio do espel2o !omo #ormador do eu. 'n: Es!ritos. Rio de Haneiro0 a2ar0 @JJI.

4E/'0 )rimo. 9 isto um 2omem. Rio de Haneiro0 Ro!!o0 @JII.

ROSA0 Miriam De1ieux. 9$ma es!uta psi!anal-(!a das vidas se!as 'n Textura. Revista de )si!an5lise0 n. B0 $S)0 S,o )aulo0 BB.

Referências

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