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Marlus v.c. Ferreira Hipnose Na Pratica Clinica

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Outros livros

de interesse

PSICOLOGIA, PSIQUIATRIA

E PSICANÁLISE

Alida – A Ressurreição do Self

Alvares e Taub – Usando a Cabeça: Memória Andrade – Curso de Parapsicologia 2a ed.

Andrade – Manual de Hipnose Médica e Odontológica – Texto Básico 5a ed. Assumpção – Tratado de Psiquiatria da Infância e da Adolescência Astrup – Psiquiatria Pavloviana – A Reflexologia na Prática Médica Balint – O Médico, seu Paciente e a Doença – A Afetividade como um Novo Ponto de

Contato na Relação Médico-Paciente 2a ed.

Bicalho Lana – O Livro de Estímulo à Amamentação – uma Visão Biológica, Fisiológica e Psicológico-Comportamental da Amamentação

Bonaccorsi – Disfunção Sexual Masculina – Tudo o que Você Precisa Saber Bonomi – Pré-Natal Humanizado – Gerando Crianças Felizes

Canela e Maldonado – Recursos de Relacionamento Caramelli – Manual de Neuropsiquiatria Geriátrica Carneiro – A Obesidade sob a Visão de um Psiquiatra

Cerqueira Luiz – Psiquiatria Social – Problemas Brasileiros de Saúde Mental Coelho – Avaliação Neurológica Infantil nas Ações Primárias de Saúde (2 vols.) Collucci – Por que a Gravidez não Vem – Dúvidas Reais de Casais que Enfrentam o

Drama da Infertilidade

De Ávila – Socorro, Doutor! Atrás da Barriga Tem Gente

Del Ciampo, Ricco e Nogueira – Aleitamento Materno – Passagens e Transferência Mãe-Filho

Diament e Cypel – Neurologia Infantil 3a ed.

Dorgival (Soc. Bras. Psiq. Clínica) – Esquizofrenia – Atualização em Diagnóstico e Tratamento

Escolano – Diário de uma Gestante Ey – Manual de Psiquiatria 5a ed. Fenichel – Teoria Psicanalítica das Neuroses

Figueiró e Bertuol – Depressão em Medicina Interna e em Outras Condições Médicas – Depressões Secundárias

Flehmig – Texto e Atlas do Desenvolvimento Normal e seus Desvios no Lactente – Diagnóstico do Nascimento até o 18o Mês

Fontana – Manual de Clínica em Psiquiatria

Freud – Chaves/Resumo das Obras Completas (Organização Editorial: National Clearinghouse for Mental Health Information)

Gauderer – Autismo 3a ed.

Gesell e Amatruda – Psicologia do Desenvolvimento – Do Lactente e da Criança Pequena – Bases Neuropsicológicas e Comportamentais

Graeff – Fundamentos de Psicofarmacologia

Grof – Jogo Cósmico – Exploração das Fronteiras da Consciência Humana Grunspun – Crianças e Adolescentes com Transtornos Psicológicos e do

Desenvolvimento

Grunspun – Distúrbios Neuróticos da Criança 5a ed. Grunspun – Distúrbios Psicossomáticos da Criança 2a ed. Grunspun – Distúrbios Psiquiátricos da Criança 3a ed. Grunspun – Educar para o Futuro

Hebb – Psicologia 3a ed. (2 vols.) Inaiá – Bases Psicoterápicas da Enfermagem

Inaiá – Enfermagem Psiquiátrica e de Saúde Mental na Prática Ivan Lemos – Dor Crônica – Diagnóstico, Pesquisa e Tratamento Jaspers – Psicopatologia Geral 2a ed. ( 2 vols.)

Jung – Chaves/Resumo das Obras Completas (Organização Editorial: National Clearinghouse for Mental Health Information)

Leme Lopes – O Delírio – Perspectivas e Tratamento

Lent – Cem Bilhões de Neurônios – Conceitos Fundamentais da Neurociência Levy – Semiologia Psiquiátrica

Lief – Sexualidade Humana – 750 Perguntas Respondidas por 500 Especialistas Lira Brandão – Psicofisiologia – As Bases Fisiológicas do Comportamento 2ª ed. Luz – O Médico, Essa Droga Desconhecida

Marinho – Como Amamentar o seu Bebê

Marinho – Desvendando os Mistérios da Amamentação Marlus – Hipnose na Prática Clínica

Mattos – Pediatria e Adolescência Sociais Matthes – Epilepsia 2a ed.

Mello – Hipnose – Mecanismos Neuropsicofisiológicos e suas Manifestações Clínicas

Moraes Passos – Hipnose – Aspectos Atuais

Moura Ribeiro e Gonçalves – Neurologia no Desenvolvimento da Criança Munjack – Sexologia – Orientação Diagnóstica e Princípios Gerais de Tratamento

Comportamental

Nitrini – A Neurologia que Todo Médico Deve Saber 2a ed.

Numberg – Princípios de Psicanálise – Suas Aplicações à Neurose (com Prefácio de Sigmund Freud)

Portella Nunes – Psiquiatria e Saúde Mental – Conceitos Clínicos e Terapêuticos Fundamentais

Perestrello – A Medicina da Pessoa 4a ed.

Perestrello – Psicossomática, Psicologia Médica, Psicanálise Protásio da Luz – Nem só de Ciência se Faz a Cura Ratner Kirschbaum – História da Enfermagem Psiquiátrica Reimão – Sono – Um Estudo Abrangente 2a ed.

Rodrigues – Estimulação da Criança Especial em Casa – Um Guia de Orientação para os Pais de como Estimular a Atividade Neurológica e Motora Sanvito e Manzillo – O Livro das Cefaléias

Scalco – Terapêuticas para a Depressão na Terceira Idade Seibel – Dependência de Drogas

Shader – Manual de Terapêutica Psiquiátrica 3a ed. Silva Barbosa – Cantando Bem, Falando Mal

Spoerri – Introdução à Psiquiatria – Texto Especialmente Escrito para o Estudante das Ciências da Saúde

Takatori – O Brincar no Cotidiano da Criança com Deficiência Física Taki Córdas – Saúde Mental da Mulher

Tedesco e Zugaib – Obstetrícia Psicossomática Teixeira – Manual de Enfermagem Psiquiátrica Uchoa – Psicanálise – Teoria e Prática

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São Paulo • Rio de Janeiro • Ribeirão Preto • Belo Horizonte

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ARLUS

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INICIUS

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OSTA

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ERREIRA

Neurologista, Eletroencefalografista e Neurorradiologista.

Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica.

Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia.

Membro da Sociedade de Hipnologia do Paraná

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EDITORA ATHENEU

São Paulo — Rua Jesuíno Pascoal, 30

Tels.: (11) 3331-9186 • 223-0143 • 222-4199 (R. 25, 27, 28 e 30) Fax: (11) 223-5513

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Belo Horizonte — Rua Domingos Vieira, 319 — Conj. 1.104

PLANEJAMENTO GRÁFICO — CAPA: Equipe Atheneu

FERREIRA M.V.C. Hipnose na Prática Clínica

©Direitos reservados à EDITORA ATHENEU – São Paulo, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Belo Horizonte, 2003

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Ferreira, Marlus Vinicius Costa

Hipnose na prática clínica/Marlus Vinicius Costa Ferreira. — São Paulo: Editora Atheneu, 2003.

1. Clínica médica. 2. Hipnotismo – Uso terapêutico. I. Título. CDD-610

02-5468 NLM-WM 415

Índices para catálogo sistemático:

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Nota

O autor conferiu cuidadosamente a posologia, os nomes genéricos e comerciais dos medicamentos mencionados, de modo que todo esforço foi feito para conseguir exatidão do conteúdo no momento da publicação. Como a medicina está em

constante evolução, novas pesquisas, experiências clínicas e aparecimento de novos efeitos colaterais de drogas, ampliam o conhecimento, tornando-se necessárias modificações nas condutas terapêuticas, e no tratamento com medicamentos. O editor e o autor, nem qualquer outra pessoa que esteve envolvida na preparação ou publicação deste trabalho, garantem que as informações contidas aqui sejam em todos os sentidos exatas e completas, de modo que não são responsáveis por

qualquer erro, omissão ou pelos resultados obtidos pelo uso destas informações. Os leitores são estimulados a confirmar as informações em outras fontes,

especialmente as fornecidas pelos fabricantes. As fraseologias sugestivas apresentadas e adaptadas às necessidades de cada paciente para as condições clínicas indicadas não foram submetidas a um estudo controlado randomizado.

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Dedicatória

À Eliane, minha esposa, uma usina nuclear de energia, que muito me estimulou para a conclusão deste livro.

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Agradecimentos

Sou muito grato ao professor de Psiquiatria e Neurologia, Octávio Augusto da Silveira, de Curitiba, que me deu grande oportunidade e tem sido meu verdadeiro amigo.

Ao professor Dr. Rubens Moura Ribeiro, de Ribeirão Preto, que me transmitiu valiosos conhecimentos sobre eletroencefalografia.

À professora de Radiologia Anne G. Osborn, da Escola de Medicina da Universidade de Utah, em Salt Lake City, que, pelo seu exemplo, entusiasmo e eficiente comunicação despertou meu interesse para publicações científicas.

Agradeço ao meu amigo Márcio Mortensen Wanderley, pelo auxílio na navegação pela Internet.

Meu reconhecimento aos pacientes anônimos que com maior ou menor capacidade hipnótica contribuíram para a criação de muitas fraseologias.

Curitiba, inverno de 2003 Marlus Vinicius Costa Ferreira

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Prefácio

Hipnose na Prática Clínica foi elaborado para auxiliar o estudante de hipnose, o

médico, o psicólogo e o odontólogo a atuarem clinicamente junto ao paciente. Minha meta foi escrever um livro razoavelmente compreensível, com capítulos de fácil memorização, sem ser exaustivo, mas que auxiliasse a execução da hipnose na prática diária.

Em várias condições clínicas explicito muitas opções de fraseologias para serem transmitidas ao paciente com o objetivo de proporcionar aos iniciantes modelos a partir dos quais eles possam desenvolver seus próprios estilos para cada condição clínica, especificamente adaptados à realidade de cada paciente. Algumas vezes, a preferência é propiciar alternativas para que o estudante faça a sua escolha. O especialista experiente cria a fraseologia a partir da história clínica e dos aspectos psicológicos de cada paciente e vai desenvolvendo-a durante a hipnose de acordo com as respostas do próprio paciente.

No Capítulo (8) sobre facilitar a hipnose, sugestionabilidade e suscetibilidade, há um enfoque com opiniões divergentes sobre a existência ou não de um estado especial denominado estado hipnótico ou estado de transe hipnótico ou condição hipnótica ou simplesmente hipnose.

Nos Capítulos relacionados à hipnose para dormir bem (22), terapia por meio da auto-hipnose (25), hipnoterapia para permanecer afastado das bebidas alcoólicas (27), e técnicas de reprogramação mental para tornar-se e permanecer esbelto (29), há instruções detalhadas para elaboração de fita gravada ou disco compacto (CD), especialmente para o paciente que está diante de você. Muitas vezes, o tratamento pela hipnose é seguido com auto-hipnose, por meio de uma fita gravada personalizada, que o paciente recebe para executá-la diariamente em sua residência. Incluo ainda, nos Capítulos (4) e (27), considerações sobre aspectos da sugestão subliminar, cujas

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palavras e frases podem ser algumas vezes acrescentadas a uma fita gravada de forma artesanal com fraseologia hipnótica. Nos Capítulos (27) e (29) apresento aspectos de como elaborar uma fita gravada com dupla voz.

Meu contato inicial com a hipnose aconteceu durante minha primeira década de vida, formalmente, quando assistia aos vários espetáculos de mágicos e ilusionistas que incluíam apresentações de hipnose nos seus programas. Aos 13 anos de idade, tínhamos nossa própria companhia, denominada Quarteto Mágico, que também incluía na apresentação números de hipnose e de mnemotecnia. Nessa época, 1958, tive a oportunidade de adquirir meu primeiro livro sobre hipnose, Hypnotism and the

power within, escrito pelo médico australiano S.J. Van Pelt, e traduzido para o

espanhol com o título VD. y el hipnotismo. Em 1961, fiz o Curso de Hipnotismo do Instituto Haim, de Porto Alegre, cujo grande mérito foi deixar-me totalmente confiante para sua prática. Em 1963, entrei para o curso médico da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná. Durante os seis anos de graduação tive a oportunidade freqüente de exercitar a hipnose objetivando minorar o

sofrimento dos pacientes ou aumentar a capacidade de aprendizado para estudantes que iriam prestar o exame vestibular. Em 1969, tive a oportunidade de aprender eletroencefalografia no Departamento de Neurologia do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, USP, o que favoreceu, posteriormente, a sua aplicação em alguns pacientes hipnotizados. Na década de 1970, durante os anos que passei no Instituto de Neurologia da Universidade de Londres, no The National Hospital Queen Square, paralelamente ao estudo da neurologia, procurei conhecer as informações sobre hipnose médica que circulavam na Inglaterra.

Os temas são apresentados de diferentes maneiras nos diversos capítulos, objetivando o mais fácil aprendizado, isto é, a assimilação de informações com raciocínio crítico para suas aplicações com sabedoria e criatividade, relacionada a outros conhecimentos, possibilitando ao hipnólogo exercer sua especialidade com eficiência. Determinados assuntos e fraseologias reaparecem mais de uma vez na seqüência dos capítulos.

A meta de Hipnose na Prática Clínica é proporcionar informações essenciais e orientar os procedimentos dos estudantes interessados pela hipnose diante dos pacientes, porém a melhor maneira para adquirir experiência no tratamento dos pacientes pela hipnose é praticando-a.

Espero que a leitura de Hipnose na Prática Clínica seja agradável, proveitosa, favoreça a criatividade, a prática e estimule a pesquisa.

Curitiba, inverno de 2003 Marlus Vinicius Costa Ferreira

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Sumário

1

Hipnose na Vida Diária, 1

2

Modelos Conceituais e Natureza da Hipnose, 7

3

Características do Paciente Hipnotizado, 47

4

Comunicação Sugestiva — Tipos de Sugestões, 65

5

Defesas, Medos e Conceitos Errados sobre a Hipnose, 115

6

Aspectos da Comunicação Hipnólogo-Paciente-Hipnólogo, 131

7

Preparação do Paciente para o Tratamento pela Hipnose, 139

8

Facilitar a Hipnose, Sugestionabilidade e Suscetibilidade, 161

9

Perguntas e Respostas Relacionadas com a Hipnose, 179

10

Efeitos Secundários Adversos e Complicações do Uso Clínico da Hipnose, 203

11

Vamos Começar a Hipnose (Ajuste a Indução Hipnótica ao Paciente), 213

12

Como Terminar a Consulta Deixando o Paciente Alerta, 253

13

Respostas Motoras, Amnésia e Hipermnésia, 261

14

Analgesia e Anestesia por Meio da Hipnose, 277

15

Dissociação, Ilusões, Alucinações e Distorção do Tempo, 305

16

Como Relembrar e Revivificar (“Regressão de Idade”), 313

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18

Reprogramação Mental para a Superaprendizagem, 343

19

Hipnose para Aumentar a Autoconfiança e a Auto-estima, 361

20

Hipnose para o Progresso Individual, 373

21

Hipnose para Vencer a Depressão, 383

22

Hipnose para Dormir, 405

23

Hipnose no Tratamento da Enurese Noturna, Gagueira, Onicofagia, Chupar os Dedos, Sudorese Excessiva no Corpo e Rosto Corado, 427

24

Eliminar Fobias, 437

25

Terapia pela Auto-hipnose, 451

26

Técnicas para Permanecer Longe do Tabagismo, 489

27

Hipnoterapia para Permanecer Afastado das Bebidas Alcoólicas, 519

28

Informações sobre Obesidade e como se Tornar e Permanecer Esbelto, 563

29

Técnicas de Reprogramação Mental para Tornar-se e Permanecer Esbelto. Como Elaborar uma Fita Gravada ou um Disco Compacto (CD), 607

30

A Hipnose nos Transtornos de Estresse Pós-traumático, 649

31

Usuário Patológico da Internet, 659

32

Ser um Vencedor em Competições, 665

33

Hipnose em Pacientes Hospitalizados, 675

34

Aspectos da Hipnose em Odontologia, 695

35

Técnicas de Psicoterapia com Hipnose (Hipnoterapia), 703

36

Anexo A – Registro das Observações sobre o Paciente, 715

37

Anexo B – Aprender a Estudar, a Fazer um Exame ou uma Prova, 721

38

Anexo C – Hipnose para Dormir, 725

39

Anexo D – Permanecer Respirando Ar Puro, 729

40

Anexo E – Permanecer Afastado de Bebidas Alcoólicas, 735

41

Anexo F – Tornar-se e Permanecer Esbelto, 739

42

Anexo G – Superando o Diabetes Melito, 749 Índice Remissivo, 757

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APÍTULO

APÍTULO

As manifestações da hipnose ocorrem na vida diária sem que a maioria das pessoas perceba. Quando assistimos a um filme no cinema ou na televisão e estamos realmente gostando, nós nos emocionamos com as ce-nas do filme. Podemos rir, chorar, ficar re-voltados ou alegres com determinadas cenas. A freqüência cardíaca pode aumentar em determinadas seqüências do filme; em ou-tras pode ocorrer sudorese nas mãos, redu-ção do ritmo respiratório. Nesses momentos em que nossa atenção está focalizada nas cenas (sugestões visuais, verbais, extraver-bais, subliminares), respondemos a elas se-gundo nossa imaginação, sese-gundo o conteú-do das próprias cenas e segunconteú-do nossas ex-periências passadas (estamos hipnotizados). Durante essas cenas nosso juízo crítico dei-xa de analisar se estão passando 24 quadri-nhos por minuto na tela, ou se a resolução da imagem é de 240, 336, 425, 724 ou até 1.000 linhas horizontais no monitor da TV de alta definição, ou se as cenas foram feitas com miniaturas dentro de um computador, ou se

outras pessoas estão conversando. Não fi-camos pensando que é apenas um conto, nós nos envolvemos com as cenas, sentimos as cenas com todos os nossos sentidos, e mui-tas vezes deixamos de ouvir ou de prestar a atenção num barulho estranho ao filme como o som da campainha da nossa residência.

Quando estamos interessados na leitura de um determinado livro, reagimos emocio-nalmente às descrições das situações inte-ressantes sem estarmos analisando critica-mente o tamanho das letras, a ortografia, fa-lhas na impressão ou se uma letra está com a impressão mais fina do que a outra. Desse modo, limitamos a nossa atenção visual ao conteúdo do que estamos lendo e somos auto-hipnotizados. Quando estamos ouvindo com entusiasmo uma música de nossa preferên-cia, permanecemos sem analisar criticamente a afinação do cantor ou a performance da orquestra. Essencialmente, concentramos a nossa atenção no som musical, permitindo que a música entre em nossa mente e em nosso corpo, e até podemos ser

hipnotiza-Hipnose na

Vida Diária

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dos pela música, a qual pode nos fazer recor-dar de um acontecimento passado, ocorrendo uma relembrança ou mesmo revivificação.

Por outro lado, as manifestações da hip-nose apresentam-se como atos não do cons-ciente, mas sim do subconscons-ciente, como aquelas experiências que aprendemos no passado e ficaram gravadas no nosso cére-bro, e no presente instante não estão consci-entes, mas que podem ser acessadas quando necessitarmos. As manifestações da hipno-se podem também brotar das aferências ar-mazenadas no subconsciente, mesmo que tenham ido para o subconsciente aparente-mente sem a percepção e o criticismo do consciente. Quando estamos dirigindo nos-so carro de casa para o trabalho, prestamos atenção consciente ao trânsito, contudo, a direção do carro é realizada em nível sub-consciente. Nós não ficamos conscientemente engatando as marchas e pisando no freio. Assim mesmo, enquanto dirigimos o veículo prestando atenção ao trânsito, uma série de estímulos chega ao nosso cérebro sem tornar-se consciente nestornar-se exato momento e pode ser armazenada em algum lugar do encéfalo. Quando uma pessoa está aprendendo a dançar, presta atenção ao compasso musical, presta atenção na sua posição do corpo, olha para os pés para saber onde irá posicioná-los. Enfim, procura seguir o professor ou o seu par. Essa fase pode ser comparada às sugestões que o médico formula ao paciente durante o tratamento pela hipnose. Posterior-mente, quando a pessoa já sabe dançar, sim-plesmente ouve a música, deixa-a entrar pelo seu corpo e sai dançando automaticamente. Analogamente, corresponde ao tratamento bem-sucedido pela hipnose quando, por exemplo, o paciente reprogramou seu modo de alimentar-se para tornar-se e permanecer esbelto; quando, por meio da hipnose, am-pliou sua capacidade de aprender e relembrar o aprendido ou eliminou uma fobia.

Desde o nascimento vamos acumulando informações e experiências com conteúdo emocional, algumas poucas estão no nosso consciente no momento presente, mas a mai-oria está no disco rígido de nosso compu-tador mental, chamado encéfalo. Isto é, na nossa memória subconsciente que se arma-zena em vários locais no nosso encéfalo, es-pecialmente nas estruturas do hipocampo, para-hipocampo e sistema límbico ou talvez simultaneamente em vários locais e circui-tos neurais do sistema nervoso central. Al-gumas dessas experiências armazenadas no subconsciente com conteúdo emocional trau-mático para o consciente são mantidas no subconsciente pelo senso crítico de nosso consciente. Mas, mesmo do subconsciente, podem causar problemas para a nossa vida consciente. É possível que durante uma via-gem de turismo, uma paisavia-gem visualizada acesse algumas dessas experiências traumá-ticas, tornando-as conscientes, facilitando a resolução de problemas conscientes. Por meio da hipnose podemos ter acesso direcio-nado para essas experiências armazenadas no subconsciente, e podemos trazê-las para o consciente com diversas técnicas de hipno-terapia como análise de sonhos, escrita auto-mática, relembrança e revivificação. Muito embora essas experiências passadas possam não brotar exatamente do mesmo modo como aconteceram, as cargas emocionais associa-das a elas podem facilitar o tratamento.

Durante uma conferência ou uma aula, quando o aluno se interessa pela matéria e o professor é habilidoso, o aluno permanece com sua atenção tão focalizada e limitada ao assunto (hipnotizado) que os ensinamen-tos são gravados no seu subconsciente e mes-mo no seu consciente. Ao terminar a confe-rência ou a aula, o aluno sai satisfeito com os ensinamentos compreendidos, sendo ca-paz de lembrá-los durante uma prova (res-postas positivas às sugestões de ensino).

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Al-ternativamente, quando o professor é chato, fala baixinho e apenas lê os diapositivos projetados, o aluno não se interessa pela matéria e se distrai com qualquer coisa (não há focalização da atenção, nem hipnose), e, conseqüentemente, não há adequado apren-dizado. Muito provavelmente o aluno será incapaz de lembrar durante uma prova, nem para o seu proveito durante a sua vida, o que esse professor tentou transmitir.

Na vida cotidiana, uma mãe que ama seu filho, durante à noite dorme um sono pro-fundo, sem ser despertada pelo som da tele-visão, por trovões de uma tempestade, pelo bater de portas. Contudo, o choro do seu fi-lho acorda a mãe (há uma ligação emocio-nal entre as características do choro do filho e a mãe). Comparativamente, durante a hip-nose o paciente está atento às sugestões ver-bais (palavras) ou não-verver-bais do hipnólogo, deixando de se importar com o que se passa em torno.

Enquanto o presidente de uma empresa está discursando numa reunião da diretoria, algumas vezes um diretor — muito embora, aparentemente, esteja ouvindo a exposição do presidente — permanece durante todo o tempo batendo ritmicamente com a ponta do pé direito sobre o tapete, sem perceber o que está fazendo. O diretor está executando um movimento automático. O seu pé e seu mem-bro inferior direito movimentam-se automa-ticamente, como que dissociados do restan-te do corpo.

Num curso interativo de aperfeiçoamen-to destinado para funcionários já especia-lizados de uma firma, alguns deles encon-tram-se rabiscando o papel com uma caneta, embora estejam atentos ao desenvolvimen-to do curso. A mão desses funcionários apa-rentemente escreve automaticamente como se estivesse dissociada do corpo, como ocorre durante a técnica da escrita automática na hipnoterapia.

Em Brasília, durante uma reunião do pre-sidente da República com os seus ministros, convocada para criar diretrizes para aumen-tar as exportações, o presidente comunica enfaticamente ao ministro das Relações Ex-teriores que está concentrado nas palavras do chefe da nação, a necessidade de dizer a todos que o lema é exportar ou morrer. O ministro das Relações Exteriores aceita e acredita nessa idéia porque o seu objetivo também é exportar cada vez mais. Ao sair da reunião, ao ser entrevistado por uma emis-sora de televisão, comunica a imprensa a fra-se de efeito “exportar ou morrer”. O mesmo ocorre quando um paciente atento às pala-vras do hipnólogo recebe uma sugestão pós-hipnótica que está de acordo com as suas idéias. Posteriormente, o paciente cumprirá a sugestão.

O aprendizado das crianças é enorme-mente influenciado pela maneira como são ensinadas, especialmente pelos pais e tam-bém pelos educadores. Frases repetidas cons-tantemente, como “você precisa comer, coma tudo que está no seu prato”, geralmente as-sociadas às sugestões táteis e à sugestão pela atitude dos pais, ficam gravadas no subcons-ciente da criança. Na idade adulta essas idéias podem desencadear uma vontade de-senfreada pela alimentação constante, faci-litando o desenvolvimento do excesso de peso e da obesidade. Muitas das dificulda-des na vida advêm do subconsciente estar armazenando informações erradas, negativas e experiências de fracasso.

Muitas sugestões indiretas ocorrem no co-tidiano e conduzem a respostas similares às ocorridas durante a hipnose formal. Quantas vezes estamos passeando num shopping

center com o desejo de adquirir alguma peça

para o vestuário quando, passando pela frente de uma lanchonete, sentimos o odor do café (sugestão sensorial olfativa indireta) e somos levados a entrar e saborear um cafezinho.

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Uma sugestão direta aplicada na hora certa com palavras corretas e poderosas, com tom emocional adequado ao contexto, pode fazer uma multidão mover-se imediatamen-te sem que as pessoas parem para raciocinar e optar pela melhor alternativa de compor-tamento. Isto ocorre quando num cinema durante a exibição de um filme alguém gri-ta: “Fogo! Está pegando fogo!”

Quantas vezes ao tirarmos uma roupa des-cobrimos que nos arranhamos num braço ou numa extremidade do corpo, sendo que no momento do arranhão nada sentimos (está-vamos com a atenção concentrada em ou-tras coisas), estávamos anestesiados.

Algumas vezes, quando estamos com muita vontade de comer algum alimento que apreciamos muito, como uma laranja, sim-plesmente imaginamos essa fruta e nos visualizamos descascando a laranja e colo-cando um pedaço dentro da boca. Imedia-tamente começamos a salivar, sentimos na boca o gosto de laranja e percebemos o odor desta. Essas percepções sem objeto seriam como se estivéssemos facilitando o surgi-mento de alucinações visuais, olfativas e gustativas.

Na televisão, os anúncios de produtos e serviços são cuidadosamente preparados e repetidos várias vezes para influenciar as pessoas-alvo. Muitas vezes deixam de mos-trar os aspectos técnicos e operacionais para criar um clima emocional de sucesso, rique-za e prazer que são associados à marca anun-ciada. A propaganda escolhe e associa as imagens do que está sendo anunciado com pessoas adequadas, com tom de voz adequa-do, com música de funadequa-do, e, algumas vezes incluindo sugestões subliminares, de modo a deixar o cliente em potencial com interes-se pelo produto (como que hipnotizado).

Quantas vezes uma pessoa que usa ócu-los fica procurando seus ócuócu-los em vários lugares, e depois de algum tempo percebe

que eles estão justamente no local que deve-riam estar, sobre seus olhos. A pessoa até encontrá-los apresentava uma ilusão negati-va visual e tátil, pois não percebia pela visão nem pela sensibilidade tátil os óculos.

A sensação ou sentido do tempo pode ser percebida de modo expandido ou concentra-do nos acontecimentos cotidianos. Por exem-plo, quando estamos assistindo a uma parti-da de futebol entre Coritiba e Atlético Para-naense, dois times que disputam o campeo-nato brasileiro. O primeiro está vencendo por 2 x 1 e estamos nos 42 minutos do segundo tempo. Os torcedores do Coritiba têm a sen-sação de que os três minutos finais demo-ram muito a passar, parecendo uma eterni-dade, isto é, têm sensação de tempo expan-dido. Por outro lado, os torcedores do Atlé-tico têm a sensação de que os mesmos três minutos finais passam muito rapidamente, parecendo passar num relâmpago, isto é, têm a sensação de tempo concentrado. Durante a hipnose pode-se utilizar a sensação de ex-pansão do tempo para permitir que aconte-cimentos agradáveis “demorem” para pas-sar e o paciente possa curtir esse tempo de alegria, sucesso e felicidade. A sensação de contração do tempo é empregada para fazer “passar mais depressa” os acontecimentos desagradáveis.

Durante atividades muitas vezes cotidia-nas, as pessoas podem entrar em hipnose sem que nenhuma sugestão verbal seja pronun-ciada: simplesmente dirigindo um veículo numa estrada com longas retas ou numa auto-estrada; outras vezes simplesmente assistin-do a um programa na televisão.

Nos intervalos de um trabalho ou de um estudo, uma pessoa pode perceber e ouvir nitidamente uma música que aprecia muito, sem nenhum aparente estímulo externo; ou pode ser estimulada pela imagem da capa de um CD deixado sobre a mesa, com o nome dessa música visível, a começar a escutar

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essa música. Outra pessoa, estando em casa descansando, ocasionalmente ao ver uma fo-tografia tirada de uma festa que participou durante as férias em um outro país, pode ser capaz de conseguir perceber vivamente as imagens dela na festa, dançando com deter-minada pessoa, como se tudo estivesse ocor-rendo neste momento. Uma pessoa cami-nhando na rua ao passar pele frente de uma banca que vende frutas pode sentir o gosto

da fruta de sua preferência na boca, e inclu-sive salivar.

A hipnose na vida diária ocorre mais fre-qüentemente do que imaginamos, e contribui para a compreensão de que não é necessária a indução formal para obtermos a hipnose. No consultório do profissional médico, odontólogo ou psicólogo, faz-se a indução formal da hipnose para obtê-la no momento desejado e com finalidades específicas.

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APÍTULO

APÍTULO

Modelos Conceituais e

Natureza da Hipnose

O conceito de hipnose e as tentativas para explicar o que exatamente ocorre durante a hipnose variam com o passar do tempo. Cada cultura tem usado a hipnose de uma forma ou de outra, e tem passado seus conhecimentos adiante para outras culturas. A base funda-mental da comunicação hipnótica é a suges-tão sob suas diferentes formas e diferentes aspectos. A prática do que hoje chamamos hipnose ou hipnotismo vem da mais remota antigüidade. A evidência mais primitiva da existência da hipnose foi encontrada entre os xamãs,1 que eram também referidos como “doutores bruxos”, “homens de medicina”, ou “curadores”. Os xamãs, que são quase sem-pre homens, usaram (e seus remanescentes ainda usam) muitas técnicas de visualização para curar seus pacientes ou para amaldiçoar seus inimigos. Há ainda alguns remanescen-tes xamãs na África, Lappland, Havaí, ao lon-go do Alto Amazonas na América do Sul, nos primitivos da Austrália e mesmo entre índios norte-americanos.2 Para o antropólogo Michael Harner que pratica a cura xamânica

desde 1961, e que recebeu o doutorado da Uni-versidade de Kerkeley, a palavra shaman, na língua original da tribo Tungus da Sibéria, refere-se a uma pessoa que faz a viagem para a realidade não ordinária, num estado altera-do de consciência.3 Para Mircea Eliade, xama-nismo é a técnica de êxtase.4 Os xamãs alcan-çavam o estado alterado de consciência de várias maneiras, incluindo cantos, sons pro-duzidos por tambores, movimentos do corpo, danças e plantas psicoativas.

Há 2400 a.C. sacerdotes caldeus já eram tidos como capazes de transmitir fluidos por meio de passes, que colocavam em transe os sofredores.5 O hipnotismo foi a base das ciên-cias ocultas no antigo Egito, na Grécia e na Índia. As manifestações da hipnose eram consideradas como “milagres” com que os feiticeiros, bruxos ou sacerdotes pagãos, di-zendo-se mensageiros dos deuses, empolga-vam o povo.6

No antigo Egito, que absorveu os conhe-cimentos dos Caldeus, nos chamados tem-plos do sono, os enfermos eram pacientes de

(22)

sugestões terapêuticas e passes mágicos. Um papiro dessa época (1552 a.C.), o papiro de Tebas (onde hoje se localiza a cidade de Luxor) e, portanto, com mais de 3.550 anos, conta técnicas de hipnose muito semelhantes às empregadas atualmente.7 Esse papiro, des-coberto por Ebers e traduzido em 1860 por Chabas, é o mais completo registro conheci-do da medicina egípcia, está na biblioteca da Universidade de Leipzig. Um baixo-relevo encontrado num sarcófago de Tebas mostra um sacerdote em pleno ato de indução hipnó-tica de um paciente.5 Este baixo-relevo ainda hoje pode ser visto no Museu Britânico, em Londres. Na Grécia no templo de Esculápio, o deus grego da medicina, os sacerdotes usa-vam processos semelhantes, invocando a pre-sença daquela divindade para colocar os do-entes em transe hipnótico. Na Índia, também são conhecidas manifestações do hipnotismo que chegaram aos nossos dias pelos Yogas.

No século X o persa, de origem árabe, Abu-Ali-Hussain Ben Abdallah Ibn-Sina (Avicena 980 a 1036),8 que era filósofo e médico, foi o verdadeiro precursor da refle-xologia pavloviana. Ele achava que a imagi-nação humana tinha poderes e forças, que podiam atuar não só sobre o seu próprio corpo, como também sobre o funcionamento corpo-ral de outras pessoas.8 Avicena afirmava que pela palavra, pela vontade e pela persuasão muitos padecimentos poderiam ser curados.

No seu excelente livro Aplicações

clíni-cas da sugestão e da hipnose em 1958,

William T. Heron dizia que “a hipnose é e deve ser considerada como um fenômeno psicológico natural, e o papel do hipnotista é, simplesmente, o de um instrutor ou pro-fessor que auxilia o paciente a realizar o es-tado de hipnose”9 (p.51).

A existência de muitas teorias indica que a natureza real da hipnose é desconhecida. Os modelos conceituais sobre a hipnose vão aparecendo e modificando-se com a

evolu-ção do mundo, e vão permitindo seu melhor entendimento e utilização. Na explanação dos modelos conceituais, os anos mais importan-tes no desenvolvimento de cada teoria estão seguindo o nome do autor.

P

RINCIPAIS

M

ODELOS

C

ONCEITUAIS

S

OBREA

H

IPNOSEEASUA

N

ATUREZA

1. Tratamento pelo ímã (Paracelso) 2. Magnetismo animal (Franz A. Mesmer) 3. Sonambulismo artificial (Armand M. J. de Chastenet, Marquês de Puységur) 4. Sono lúcido (José C. de Faria) 5. Hipnotismo (James Braid)

6. Sugestionabilidade aumentada (Esco-la de Nancy)

7. Escola da Reflexologia (Ivan P. Pav-lov e sua escola)

8. Comportamento dirigido (Robert W. White)

9. Fenômeno psicossomático (Lewis R. Wolberg)

10. Superconcentração da mente (Sydney J. Van Pelt)

11. Exclusão psíquica relativa (Raphael H. Rhodes)

12. Desempenho de um papel (Theodore R. Sarbin e William C. Coe)

13. Estado emocional intensificado (Ga-lina Solovey e Anatol Milechnin) 14. Regressão atávica (Ainslie Meares) 15. Psicoplasia acrescentada pela

concen-tração total da mente (Marcelo Lerner) 16. Teoria da neodissociação (Ernest R.

Hilgard)

17. Teoria do controle dissociado (Ken-neth S. Bowers)

18. Estado particular da mente (John Hartland)

19. Estado de consentimento (David L. Scott)

(23)

20. Regressão psicológica topográfica (Michael R. Nash)

21. Estado alterado de consciência (Char-les T. Tart e Erika Fromm)

22. Comportamento cognitivo (Theodore X. Barber)

23. Modelo sociocognitivo (Nicholas P. Spanos)

24. Hipnose como obediência e crença (Graham F. Wagstaff)

25. Teoria do aprendizado social (Irving Kirsch)

26. Modelo social-psicobiológico (Éva I. Bányai)

27. Relaxamento hipnótico (William E. Edmonston Jr.)

28. Sistema de comunicação influencia-da (Michael D. Yapko)

29. Abordagem interativa centrada no pa-ciente (Milton H. Erickson)

30. Modelo integrado de hipnose (Steven J. Lynn e Judith W. Rhue)

31. Perspectiva do ecossistema aplicada à hipnose (David P. Fourie)

32. Hipnose como compromisso cogniti-vo motivado (Peter W. Sheehan) 33. Paradigma multidimensional

(Theo-dore X. Barber)

T

RATAMENTO

P

ELO

Í

(P

ARACELSO

1529)

Philippe Bombast von Hohenheim (Para-celso) era médico e filósofo suíço, viveu de 1493 a 1541, e considerava que todos os se-res humanos estavam sobre a ação do influ-xo sideromagnético dos astros.5 Para ele, considerado o pai da medicina hermética, o corpo humano se comportava como um ver-dadeiro ímã, que podia atrair o fluxo dos astros e absorvê-lo, bem como assimilar ou eliminar os elementos terrestres. O pólo norte do corpo humano corresponderia aos pés e o pólo sul aos genitais. Ele empregava

mine-rais magnéticos para o tratamento das doen-ças e relatava várias curas. Em virtude das suas idéias Paracelso foi perseguido, tendo que ir de uma cidade para a outra.

M

AGNETISMO

A

NIMAL

(F

RANZ

A.

M

ESMER

— 1776, 1779)

Franciscus Antonius Mesmer, conhecido como Franz Anton Mesmer nasceu em 23 de maio de 1734 em Iznang, junto ao lago Constança, pertencente à Áustria, que em 1805, por meio de um tratado, passou a fazer parte do território alemão.5, 8 Mesmer fez es-tudos de filosofia, teologia e, em 1759, estu-dou jurisprudência. Depois fez o curso de medicina na universidade de Viena, forman-do-se com 32 anos de idade em 1766, com a apresentação da tese Dissertatio

Physico-Medica de Planetarum Influxu (Dissertação

Físico-médica sobre a Influência dos Plane-tas). Sua tese considerava que um “fluido su-til” unia todos os corpos do universo, fazendo com que uns atuassem sobre os outros. Os astros, principalmente o sol e a lua, exerciam influência sobre os homens. O fluido emana-do pelos astros teria a capacidade de ser cap-tado e armazenado nos metais especiais, e pela sua analogia com as propriedades do ímã, foi chamado de magnetismo animal. O padre je-suíta Maximillian Hehl (1720-1792), interes-sado em magnetismo, e astrônomo real para a corte da Áustria, tomou conhecimento da tese de Mesmer e fez alguns ímãs nas formas dos órgãos, que estavam destinados a curar.10 O padre Hehl ou Hell como muitos grifam (que em alemão significa luz), conta isso ao seu amigo Mesmer, que pede ao padre para con-feccionar alguns ímãs e começa a fazer expe-riências conseguindo bons resultados. Inici-almente Mesmer usou placas imantadas condensadoras e condutoras de “fluido mag-nético” para a cura de pessoas. Mais tarde,

(24)

Mesmer chegou à conclusão de que as pla-cas imantadas eram um intermediário inútil, porque o corpo humano sendo um depósito natural do “fluido” seria o agente por exce-lência atuando sobre outros corpos. Em 1777 tratou uma jovem de 18 anos de idade cha-mada Maria Thereza Paradis, pianista preco-ce, que havia subitamente perdido a visão des-de os três anos des-de idades-de, e já havia consultado eminentes médicos da época. Mesmer, consi-derando a necessidade de um rapport ade-quado, transferiu-a para a sua própria clínica. Com o tratamento a paciente começou a en-xergar, e Mesmer afirmou que ia levá-la para a Imperatriz (que era madrinha da paciente) a fim de demonstrar a cura. Contudo, isso des-pertou a indignação da conservadora socie-dade médica vienense, que procurou os pais da paciente afirmando não acreditar que ela estava enxergando, e que se isso fosse verda-deiro ela perderia a pensão que recebia por ser excelente pianista cega. Se voltasse a ver seria simplesmente mais uma pianista. Desse modo, convenceram os pais da paciente a entrar na clínica de Mesmer para retirá-la, à força. Como resultado desse episódio Maria Thereza teve uma recaída, perdeu novamen-te a visão e Mesmer foi convidado a encerrar sua prática médica ou deixar Viena. Mesmer foi para Paris e, em fevereiro de 1778, insta-lou o consultório na Place Vendôme e lá idea-lizou um aparelho denominado “Baquet” (tina). O “Baquet” era uma caixa de madeira circu-lar, cheia de limalha de ferro. Sobre a limalha estavam garrafas com água “magnetizada”, que se comunicavam entre si. Do interior da caixa saíam hastes de ferro móveis as quais os doentes aplicavam sobre a parte doente do corpo. Ao redor desse aparelho reuniam-se ao mesmo tempo 130 pessoas na penumbra e com fundo musical de órgão. Nessas condi-ções ideais de sugestão indireta, os doentes eram acometidos de “convulsões terapêuti-cas”. Na época de Mesmer os ímãs eram

con-siderados um mistério, e muitos acreditavam que eles tinham grande poder. As pessoas da época acreditavam nos ímãs e estavam con-vencidas de que eles podiam produzir curas; logo resultados eram esperados e resultados eram produzidos. Mesmer publicou nova tese em 1779, Mémoire sur la découvert du

magnétisme animal, modificando alguns

con-ceitos sobre o magnetismo animal. Agora, Mesmer reconhecia no corpo humano proprie-dades semelhantes às do ímã, tendo também dois pólos opostos, e “a ação do fluido” ou magnetismo animal, entre uns e outros cor-pos animados e inanimados, sem a interven-ção de intermediários. O “fluido”, muito em-bora fosse universal, não existiria em igual intensidade em todos os corpos, e naqueles em que estivesse mal distribuído ou ausente, ocorreriam as doenças. A função do magneti-zador era fornecer o “fluido” necessário ao órgão afetado, favorecendo o equilíbrio mais harmônico do organismo. Em 1781 Mesmer considerou a importância da relação entre o magnetizador e o paciente, dizendo que o magnetismo “devia em primeiro lugar ser transmitido pelos sentimentos”.11 Em 1784 seus adversários persuadiram o rei Luís XVI a nomear uma comissão constituída por cin-co membros da Academia de Ciências, qua-tro membros da Faculdade de Medicina e cin-co membros da Sociedade Real de Medicina da França, para analisar os trabalhos de Mesmer. Essa comissão concluiu unanime-mente que as curas eram decorrentes da ima-ginação e da imitação. A comissão concluiu que a imaginação sem magnetização produ-zia as convulsões, e que o magnetismo sem imaginação nada produzia.12,13 Como a ima-ginação não era aceita pelos estudos científi-cos da época, o magnetismo foi considerado sem valor para ser comentado ou uma fraude produzida por um charlatão. Um dos partici-pantes da comissão, o eminente botânico Antoine Laurent de Jussieu, escreveu que os

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efeitos positivos do magnetismo não haviam sido considerados e achou que a estimulação da imaginação poderia ser terapêutica.14 Um colega de Mesmer chamado Charles d’Eslon reagiu contra o relatório da comissão afirmando que a imaginação desempenha o maior papel nos efeitos do mesmerismo, e que as forças da imaginação poderiam ser um agente real responsável pela eficácia do magnetismo ani-mal.15 Com o resultado da comissão, a popu-laridade de Mesmer caiu bastante e ele partiu para a Inglaterra, depois para a Alemanha, voltando a Paris em 1801. Em 1803 foi para Frauenfeld perto do lago Constança na Suíça. Em 5 de março de 1815 ele morre em Meersburg na Suíça.

S

ONAMBULISMO

A

RTIFICIAL

(M

ARQUÊS DE

P

UYSÉGUR

— 1784)

Um discípulo de Mesmer chamado Mar-quês Puységur (Armand Marie Jacques de Chastenet) tratando separadamente um pa-ciente de 23 anos de idade de nome Victor Race, em 1784, observou que ao invés de o mesmo apresentar convulsões como ocorria com os pacientes de Mesmer, ele dormia tran-qüilamente e durante esse sono podia falar, responder ordens, e após ser acordado não lembrava de nada.5,8 Então denominou esse estado de sonambulismo artificial por analogia ao sonambulismo do sono fisiológico. O Mar-quês de Puységur também enfatizou a idéia de que os fenômenos do magnetismo ocorri-am mais provavelmente em certas condições, que ele denominou “rapport exclusivo” entre o hipnotista e a pessoa hipnotizada.

S

ONO

L

ÚCIDO

(J

OSÉ

C

USTÓDIODE

F

ARIA

— 1813)

Um sacerdote português de nome José Custódio de Faria (1756-1819), nascido em

Condolim de Bardez (Goa), Índia Portugue-sa, chegou em Paris por volta de 1813, e con-siderava que não podia haver influência de um “fluido” nas experiências do Marquês de Puységur. Para o abade Faria era a vontade do paciente que conduzia ao que chamava de “sono lúcido”.16 Faria foi o primeiro a afirmar que a vontade receptiva do paciente e o rapport entre o paciente e o magnetizador determinavam a formação do processo de cura.6

Em 1826, Simon Mialle publicou um livro relacionando grande variedade de desordens orgânicas e mentais, em ordem alfabética, nas quais o magnetismo animal havia sido em-pregado com êxito, e apresentando uma refe-rência à nomenclatura baseada no prefixo

hypn- que dá origem às palavras hipnose e

hipnotismo.17 Essa terminologia já existia nos dicionários franceses.

H

IPNOTISMO

(J

AMES

B

RAID

— 1843)

Com James Braid (1795-1860), nascido em Fifeshire na Escócia, adepto do ocultis-mo, médico oftalmologista e cirurgião de Manchester, Inglaterra, apareceram os pri-meiros conceitos científicos sobre o hipno-tismo. Braid estava inclinado a juntar-se àqueles que consideravam o magnetismo animal como sendo um sistema de coopera-ção secreta ilegal e prejudicial ou uma ilu-são, ou de imaginação exaltada, simpatia ou imitação.18 Ele foi assistir pela primeira vez às demonstrações de Lafontaine no dia 13 de novembro de 1841 e saiu com a mesma impressão que entrou. Contudo, assistiu a uma segunda demonstração seis dias depois e o fato de o indivíduo não poder abrir as pálpebras lhe chamou a atenção.18 Braid achou que aí estava a causa do fenômeno, e ao voltar para casa fez experiências com a sua esposa, um amigo e um criado.8,10,17,18

(26)

Pediu para que olhassem fixamente um de-terminado ponto brilhante até que seus olhos se entregassem extenuados ao repouso. A partir desse momento teve em suas mãos essas pessoas “magnetizadas”. As primeiras conclusões de James Braid foram: (a) o fenô-meno do mesmerismo era puramente subje-tivo e não dependia de qualquer poder má-gico, de nenhuma influência astral, de qual-quer fluido mineral ou animal, nem sequal-quer de qualquer influência da pessoa do opera-dor; (b) esses fenômenos deviam-se exclu-sivamente à natureza física, mecânica e fun-cional, produzindo alterações nos órgãos dos sentidos, especialmente na visão, levando a um esgotamento do centro visual pela esti-mulação continuada e monótona; (c) intro-duziu o método de indução da fixação do olhar, que ainda hoje pode ser utilizado, com ou sem modificações.

Em 1843 Braid publica Neurypnology or

the rationale of nervous sleep no qual

apa-rece a primeira terminologia sobre o hipno-tismo.18 Ele achava que o fenômeno era de-vido a um tipo de sono nervoso e por isto aplicou a palavra “Hipnose”. Muito embora com James Braid a palavra hipnotismo te-nha ficado consagrada, foi o francês Etienne Felix d’Henin de Cuvillers,19 que aplicou 20 anos antes o prefixo hypn- para uma varie-dade de palavras descritivas do processo de Mesmer.

Mais tarde, Braid percebeu que a indução da hipnose dependia da contribuição pessoal do paciente, da sua concentração mental numa idéia ou numa vontade, ou seja, de-pendia do domínio de sua atenção. E ainda Braid afirmava que uma vez obtida a hipno-se poder-hipno-se-ia facilmente plantar idéias e vontades no cérebro do paciente. A anestesia obtida sob hipnose era devida a uma inibi-ção de uma parte do cérebro do paciente. Braid também achava que existiam acentua-das diferenças no grau suscetibilidade de

diferentes indivíduos à influência hipnótica, muitos tornando-se rápida e intensamente afetados e outros lenta e discretamente afe-tados. Em 1847 descobriu que os fenômenos do hipnotismo, como catalepsia, anestesia e amnésia e poderiam ser produzidos sem a necessidade de a pessoa dormir.

Em abril de 1843 outro médico escocês, John Elliotson, professor de cirurgia da Uni-versidade de Londres, criou o primeiro jor-nal para artigos de mesmerismo (hipnose) e fisiologia cerebral denominado Zoist,5,8,10 publicado trimestralmente até 31 de dezem-bro de 1855.

Em 1891 a Associação Médica Britânica designou uma comissão para investigar a na-tureza do fenômeno hipnótico, seu valor como agente terapêutico e suas indicações. O relatório da comissão foi apresentado em 1892, destacando: (a) estavam convencidos dos fenômenos hipnóticos; (b) o termo, hip-notismo, não traduz bem a natureza do fenô-meno, já que este é diferente do sono fisio-lógico; (c) a hipnose é um eficaz agente terapêutico no alívio de dores, no tratamen-to da embriaguez e na possibilidade de rea-lização de atos cirúrgicos; (d) a hipnose deve ser usada exclusivamente por médicos para fins terapêuticos, somente em pacientes do sexo masculino e quando em mulheres, ape-nas na presença de familiares ou de pessoas do mesmo sexo; (e) condena veementemen-te quaisquer exibições recreativas, popula-res e teatrais de hipnotismo.

S

UGESTIONABILIDADE

A

UMENTADA

(E

SCOLADE

N

ANCY

— 1854-1890)

(A

MBROISE

A. L

IÉBEAULTE

H

IPPOLYTE

B

ERNHEIM

)

Os conceitos a seguir expostos foram de-senvolvidos pela escola de Nancy, pelo gru-po liderado pelo médico rural Ambroise

(27)

Auguste Liébeault (1823-1904), que utilizava a fixação do olhar associada à sugestão ver-bal, e pelo neurologista, professor da Univer-sidade de Nancy, Hippolyte Bernheim (1840-1919). O primeiro livro científico sobre hipno-se, De la sugestion et de ses applications a

la therapeutique20 foi escrito por Bernheim, em 1886. A sugestionabilidade segundo Bernheim é a aptidão do cérebro de receber ou evocar idéias e sua tendência a realizá-las ou transformá-las em atos. Toda a idéia sugerida tende a se transformar em ato, ou, dito fisiologicamente, todo neurônio acionado por uma idéia transmite impulsos para as fi-bras nervosas eferentes, as quais conduzem os impulsos para os órgãos que devem efetuar o ato. Denominou-se isso lei do ideodinamis-mo. Bernheim também afirmou que qualquer fenômeno hipnótico poderia ser produzido pela sugestão em vigília. Na época dessa teoria, Bramwell considerava cinco os pontos princi-pais:21 (1) Nada diferencia o sono natural do sono artificial. (2) Os fenômenos hipnóticos são análogos à maioria dos atos normais auto-máticos, involuntários e inconscientes. (3) Uma idéia tem tendência a gerar uma realidade. (4) Na hipnose a tendência de aceitar as suges-tões é algumas vezes aumentada pela ação própria da sugestão. (5) O resultado da su-gestão na hipnose é análogo ao resultado da sugestão no estado normal.

Por volta de 1875 o neurologista Jean Martin Charcot (1825-1935), que tratava pa-cientes histéricos no hospital dela Salpêtrière em Paris, deduzia que a hipnose era uma manifestação histérica. E, ainda, que a hip-nose era obtida essencialmente por meios físicos, dando mínimo ou nenhum valor à sugestão. É óbvio que foram dois enormes erros desse famoso neurologista, que, segun-do a história, nunca teria hipnotizasegun-do nin-guém porque seus pacientes histéricos eram preparados pelos seus assistentes. É de au-toria de Charcot, em 1878, a teoria de três

estágios hipnóticos, sempre relacionados com os pacientes com transtorno de conversão:6 (1) Catalepsia, produzida pela fixação do olhar do paciente num foco luminoso forte, ou pela súbita produção de um som como o de um gongo ou diapasão. Na catalepsia, havia rigidez nos membros que permaneci-am na posição colocada pelo médico. Os olhos estavam abertos. (2) Letargia, obtida pelo fechamento dos olhos do paciente ou pelo apagamento do foco luminoso. Na le-targia havia surdez, mudez e hiperexcitação neuromuscular. (3) Sonambulismo, obtido pela simples pressão ou fricção no alto da cabeça. A hiperexcitabilidade tornava-se cutânea. Segundo Schnek22 os estádios des-critos por Charcot não são inerentes à hip-nose, nem há métodos específicos pelos quais possam ser produzidos.

As observações da escola de Nancy, reu-nidas por Nicolas, incluem:23

1. Jamais observaram os três estados, le-targia, catalepsia e sonambulismo. A hipno-se é a mesma quer com pacientes histéricos quer com outros pacientes. As três fases mencionadas não existem nem mesmo com pacientes histéricos.

2. A histeria não é um bom terreno para estudar o hipnotismo. Muitos dos sintomas “histeriformes” (chamados hoje de conver-são ou dissociativos), de origem emotiva ou resultantes de auto-sugestão, misturam-se aos fenômenos hipnóticos e para um obser-vador inexperiente é difícil de separar.

3. O estado hipnótico não é uma neurose. Os fenômenos que ocorrem na hipnose são naturais e psicológicos, podendo ser obtidos em muitas pessoas durante o sono natural.

4. Todos os procedimentos de hipnotiza-ção se resumem na sugestão, e a sugestão é a chave de todos os fenômenos hipnóticos.

A escola de Paris ou tão-somente chama-da Escola chama-da Salpêtrière, chama-da qual faziam parte nomes como Babinski, Binet, Fere, Jean Janet,

(28)

Richet, Gilles de la Tourete, com relação à hip-nose jamais prosperou. Durante o II Congres-so Internacional de Psicologia realizado em Paris, Sidgwick, o presidente na seção de aber-tura, reconhecia publicamente a vitória da es-cola de Nancy.24 A Escola de Nancy expan-diu-se e ficou mais fortalecida com nomes como Emil Coué (1857-1926), um farmacêu-tico que se tornou célebre com seu método de auto-sugestão consciente,25 e sua célebre frase “A cada dia, sob todos os aspectos, vou cada vez melhor”. Para Coué não é a sugestão que o hipnotizador faz que realiza alguma coisa, é a sugestão que é aceita pela mente da pessoa.

Bernheim numa palestra proferida na Universidade de Nancy em 12 de dezembro de 1906 descreve três estágios mais impor-tantes na história da hipnose até então. O primeiro estágio, magnetismo animal elabo-rado por Mesmer; o segundo, sono hipnóti-co ou hipnotismo devido a Braid; o terceiro, a teoria da sugestionalidade de Liebeault.

E

SCOLADA

R

EFLEXOLOGIA

(I

VAN

P.

P

AVLOVESUA

E

SCOLA

— 1901,1904)

A doutrina da inibição e excitação cortical para Ivan Petrovich Pavlov (1849-1935) rege a atividade nervosa superior dos animais e dos seres humanos e foi baseada em estudos de neurofisiologia com cães. Ele começou a trabalhar com os reflexos condicionados26 em 1901. As teorias de Pavlov sobre o hip-notismo originaram-se de seus experimen-tos com cães publicado no trabalho Sobre a

fisiologia no estado hipnótico do cão. Em

1904 Pavlov usou pela primeira vez os ter-mos reflexos incondicionados e reflexos con-dicionados.27 O reflexo incondicionado é uma ligação nervosa permanente, entre um excitante determinado, imutável e uma ação bem definida do organismo. É um reflexo inato, estável, imutável, característico da

es-pécie, que alguns estudiosos denominam ins-tintos. Os reflexos condicionados são adqui-ridos, temporários, ocasionais e constituem uma característica do indivíduo, não da es-pécie. Para o aparecimento do reflexo con-dicionado é necessário que o excitante indi-ferente preceda sempre o estímulo absoluto, que haja coexistência de tempo entre os agen-tes absoluto e o indiferente, que a ação seja reforçada, e no momento do estabelecimen-to do reflexo condicionado não haja nenhum outro estímulo indiferente. Os reflexos con-dicionados são responsáveis pela adaptação do indivíduo ao seu meio ambiente.

Os estímulos podem ser exteroceptivos, isto é, originados no meio ambiente (som, luz, cheiro, pressão etc.), ou interoceptivos quan-do originaquan-dos dentro quan-do próprio organismo. Os estímulos são recebidos pelos receptores. Pavlov introduz o conceito de analisador para significar o conjunto formado pelo receptor, vias aferentes e conexões centrais. Ele consi-derava que a atividade nervosa superior ba-seava-se em dois sistemas de sinalização: (1) O primeiro sistema representado pelos refle-xos condicionados. São os sinais que con-dicionam respostas absolutas. (2) O segundo sistema representado pelos conceitos conti-dos nas palavras. A palavra contém um estí-mulo sonoro (primeiro sistema de sinalização) e um conteúdo de idéias e imagens (segundo sistema de sinalização). Nos seres humanos, os reflexos condicionados podem ser estabe-lecidos a partir de um som, como também a partir do conteúdo (mensagem) da palavra. Nós podemos considerar não somente o con-teúdo da palavra como representando o se-gundo sistema de sinalização, mas também estímulos táteis, térmicos, dolorosos, olfati-vos, gustatiolfati-vos, cinestésicos, labirínticos, interoceptivos, independentemente da respos-ta condicionada da sensação tátil, da sensa-ção de calor ou de frio, da sensasensa-ção dolorosa etc., podem transportar um conteúdo (mensa-gem) específico para cada indivíduo. O

(29)

me-canismo do sono fisiológico para a escola pavloviana é devido à inibição cortical, que se propaga para centros do sono localizados mais profundamente. O sono fisiológico se-ria produzido pela soma de estímulos débeis, monótonos, atuando durante um certo perío-do de tempo, produzinperío-do sobrecarga perío-dos pro-cessos (e vias) inibitórios levando ao espa-lhamento da inibição. Poderia também ser produzido por estímulos extremamente for-tes, que ocasionariam uma inibição cortical pela sobrecarga dos processos (e vias) ex-citatórios. Pavlov, já na sua época, presumia que os processos de excitação e de inibição dependessem de substâncias químicas dife-rentes (os neurotransmissores de hoje). As diferentes funções do córtex cerebral são ca-racterizadas por diferentes graus de excita-ção e inibiexcita-ção em várias áreas, formando o que Pavlov denominou mosaico cerebral.

O que ocorreria durante a hipnose segundo os conceitos da escola pavloviana? Há um foco excitatório inicial no córtex cerebral, que pode estar relacionado com as áreas: auditiva, visu-al, tátil ou cinestésica, dependendo dos estímu-los usados. Com predominância de estímuestímu-los auditivos, e pedindo ao paciente para que abra e feche os olhos para produção de fadiga dos músculos palpebrais, o arco reflexo condicio-nado seria assim formado: Os analisadores au-ditivos → a área cortical auditiva → zona motora oculopalpebral subcortical → músculos palpebrais. O estímulo indiferente a condicio-nar é, no caso, a palavra; o estímulo incondi-cionado é, no caso, o exercício muscular. En-tão a palavra débil, monótona, repetida produz a formação de um foco de excitação no córtex cerebral e a simultaneidade do estímulo indi-ferente e do absoluto estabelece o primeiro arco reflexo temporário no cérebro.26 O foco inicial é reforçado pela repetição. O foco inicial espa-lha essa excitação para todo o córtex cerebral. Essa excitação provoca uma onda inibitória re-flexa de todos os pontos dirigida ao foco

inici-al de excitação, tentando bloqueá-lo por meio de uma zona envolvente inibitória ativa. Essa inibição agora se espalha para todo o córtex. O foco auditivo irradia a inibição pelo fenômeno da indução negativa, quanto mais excitado seja ele, maior a intensidade da inibição que dele parte. Contudo, continua em estado vígil pela excitação constante (estimulação com as pala-vras). Com a estimulação auditiva, agora o paciente está preparado para receber a sinali-zação para resposta oculopalpebral desejada, isto é, a fadiga. Ao afirmarmos que as pálpe-bras estão cansadas, pesadas etc. seus olhos fecham-se. Pelo foco auditivo o paciente ouve as nossas palavras e estabelece-se um novo pon-to de inibição cortical (centro da percepção sen-sorial da visão). Como o analisador visual tam-bém foi cercado pelo segundo sistema de sina-lização (o conteúdo da palavra, a imagem), cria-se, em torno do centro sensorial da visão, um segundo foco de inibição. Deste foco também se espalha a onda inibitória que, independen-temente da onda inibitória auditiva, tende a es-palhar-se pelo córtex cerebral. Agora são dois focos de inibição que se espalham pelo córtex. O hipnólogo deve multiplicar os focos de ini-bição, e isso pode ser feito pela utilização de estímulos variados. Contudo, o paciente per-manece ligado ao hipnólogo pelo foco auditi-vo que agora vamos denominar foco vígil, que permite a maior parte da comunicação do hipnólogo com o paciente.

Para a escola pavloviana a hipnose está associada a uma inibição da atividade refle-xa condicionada, que se espalha através do córtex cerebral, muda a interação dos siste-mas de sinalização, inibindo o segundo sis-tema de sinalização. Esta inibição diminui o controle do segundo sistema de sinalização sobre o primeiro. Isso facilita a memória de evocação para fatos do passado e para ima-gens visuais. Essa inibição do córtex propor-ciona um aumento da excitação de focos es-timulados pela sugestão.26

(30)

Existem objeções à teoria de Pavlov sobre a hipnose. A teoria afirma que a hipnose seria uma inibição difusa cortical com a presença de um ponto vígil. Na realidade, transmitindo sugestões sensoriais verbais, extraverbais, não-verbais, sugestões táteis, sugestões de imagens visuais, forçosamente haveria mais de um ponto vígil. Segundo menciona Lerner, um indiví-duo desperto fazendo uma complicada conta matemática ou pronunciando uma conferên-cia, dificilmente teria um estado difuso cu-mulativo de inibição cortical, senão mais pro-vavelmente predomínio de processos de ex-citação cerebral.28 Como explicar que o mes-mo indivíduo em hipnose profunda seja ca-paz de fazer uma operação matemática com-plicada ou ministrar uma conferência (proces-sos que exigem elevada excitação cortical), tendo um estado de inibição difusa cumulati-va cortical, com a presercumulati-vação de um ponto vigente, e logo acorde com absoluta amné-sia? Haveria necessidade de aceitar que tudo foi possível apenas por meio do ponto vígil, apesar de toda a inibição cortical?

C

OMPORTAMENTO

D

IRIGIDO

(R

OBERT

W.

W

HITE

— 1941)

A teoria do comportamento dirigido29 (goal-directed-behavior) foi exposta por White em 1941. Define o comportamento hip-nótico como um esforço dirigido, cujo obje-tivo principal é levar a pessoa hipnotizada a comportar-se do modo como é continuamen-te definido pelo operador e encontinuamen-tendido por ela mesma. A conduta apresentada pelo paciente hipnotizado nada mais é do que um esforço dirigido pelo mesmo, com a finalidade de com-portar-se conforme ele julga que deva atuar um indivíduo hipnotizado. Este autor acredita-va que as respostas hipnóticas envolviam um estado alterado de consciência, mas o que de-terminava as respostas eram as expectativas

implícitas do indivíduo, guiadas pelo esforço de apresentar a eles mesmos o que eles acre-ditavam que o hipnólogo estava esperando. As respostas hipnóticas são muito complexas para serem consideradas como resultado automá-tico das sugestões. O comportamento hipnó-tico era motivado, objetivo-dirigido, relaciona-do com a interpretação da sugestão pelo pró-prio indivíduo e interpessoal.

F

ENÔMENO

P

SICOSSOMÁTICO

(L

EWIS

R.

W

OLBERG

— 1948)

Wolberg acha que o transe não pode ser explicado quer em bases psicológicas, quer em bases fisiológicas exclusivas.30 O transe é uma reação psicossomática complexa que abrange tanto elementos psicológicos como fisiológicos. Fisiologicamente há um proces-so inibitório que parece estender-se aos cen-tros corticais resultando numa diminuição da sensação de realidade, alterações na cons-ciência das sensações, das imagens e do corpo, e também uma liberação das ações motoras. Psicologicamente cada pessoa é individual para experimentar as experiências hipnóticas internas. Essa experiência inter-na pode depender da comunicação do hip-nólogo com a pessoa e vice-versa, do signi-ficado simbólico da experiência hipnótica para a pessoa durante a indução do transe.

S

UPERCONCENTRAÇÃODA

M

ENTE

(S

YDNEY

J. V

AN

P

ELT

— 1949)

Para este especialista em hipnose médi-ca, nascido na Austrália, que exerceu a me-dicina em Londres, a hipnose seria uma su-perconcentração da mente31 (1949). No es-tado comum a mente se ocupa com muitas impressões diferentes de modo que o seu poder fica disperso. Durante a hipnose a

(31)

mente concentra-se num grau muito mais elevado do que no estado comum. Van Pelt introduz a terminologia, “unidade de poder mental”, sem defini-la. No estado comum, somente poucas “unidades de poder mental” estão afetadas pela sugestão e, portanto, o efei-to é fraco. Durante a hipnose as “unidades de poder mental” são concentradas e todas afe-tadas pela sugestão, portanto o efeito é forte. Após a hipnose as “unidades de poder men-tal” dispersas agora estão carregadas de uma dose de sugestão. A capacidade da hipnose reside no paciente, o hipnólogo possui so-mente o conhecimento técnico para manipu-lá-lo. Contudo, o próprio S. J. Van Pelt em 1956 afirma que “aún cuando ningún doctor,

psiquíatra u hombre de ciencia de alguna importancia en el mundo arriesgaría hoy día su reputación negando la existencia del hip-notismo y la realidad de sus fenómenos, nadie puede decir exactamente qué es”10 (p. 33).*

E

XCLUSÃO

P

SÍQUICA

R

ELATIVA

(R

APHAEL

H. R

HODES

— 1950)

Cada indivíduo possui duas mentes: a men-te subjetiva e a menmen-te objetiva.32 A mente objetiva é capaz de raciocínio tanto indutivo (dadas as diversas particularidades, chega-se a uma generalização) como dedutivo (dada uma generalização, chega-se às particulari-dades); embora seja impossível considerar qualquer coisa como uma “particularidade” ou uma “generalização”, porque cada gene-ralização pode ser considerada com uma particularidade sob certas circunstâncias. Contudo, isso não invalida os processos

in-dutivos e dein-dutivos. A mente objetiva con-trola os sentidos: audição, visão, gustação, tato, cinestesia e olfato. A mente subjetiva só é capaz de raciocinar dedutivamente. A mente subjetiva controla a memória. Em cada indivíduo essas duas mentes estão em esta-do de equilíbrio mútuo, como se fossem os dois extremos de uma balança. O predomí-nio da atividade de uma delas exclui relativa e concomitantemente os processos da outra. Quando uma mente se evidencia, a outra re-trocede. Como a mente subjetiva raciocina apenas dedutivamente, ela aceita como ver-dadeira qualquer generalização que lhe seja apresentada, porque sendo incapaz do racio-cínio indutivo, não tem como contestar a ge-neralização. O modo de combater uma gene-ralização é chegar a uma genegene-ralização con-trária com base em particularidades obser-vadas, mas isso implica o processo indutivo. Quando uma das mentes predomina, reduz em grau concomitante a outra mente e, por isso, o nome de exclusão psíquica relativa.

Rhodes propôs que essa é a mais ampla explicação para todos os fenômenos psico-lógicos manifestados por indivíduos quan-do em vigília, em sono ou em hipnose.32 Na vigília a mente objetiva predomina e a pes-soa é capaz de raciocínio indutivo e deduti-vo, enquanto a mente subjetiva com menor predomínio apresenta-se ainda suficiente-mente ativa para as funções de memória. Durante o sono predomina a mente subjeti-va e há redução da mente objetisubjeti-va. Durante a hipnose o hipnólogo induz a mente objetiva do paciente a retroceder, deixando predominar a mente subjetiva. A mente sub-jetiva predomina, mas diferentemente do sono, aqui ela predomina de certo modo orientada pela comunicação do hipnólogo com o paciente, quer seja verbal, extra-verbal ou não-extra-verbal. Na auto-hipnose, a mente subjetiva é orientada pela mente ob-jetiva do próprio indivíduo.

* “Ainda que nenhum médico, psiquiatra, homem de ciência de alguma importância no mundo, arriscasse hoje em dia sua reputação, negando a existência do hipnotismo e a realidade dos seus fenômenos, ninguém pode dizer exatamente o que é”. (Tradução do autor.)

Referências

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