• Nenhum resultado encontrado

Memorias e historia : a trajetoria do curso de Odontologia da PUC Minas (1974-2001)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Memorias e historia : a trajetoria do curso de Odontologia da PUC Minas (1974-2001)"

Copied!
277
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO

TESE DE DOUTORADO

MEMÓRIAS E HISTÓRIA:

A TRAJETÓRIA DO CURSO DE ODONTOLOGIA DA PUC MINAS (1974 – 2001)

MARIA INÊS MARTINS

Orientadora: Profª Dra ÁGUEDA BERNARDETE BITTENCOURT

Este exemplar corresponde à redação final da tese defendida por Maria Inês Martins e aprovada pela Comissão Julgadora. Data: ___/___/_____ Assinatura: ______________________ Orientadora Comissão Julgadora: _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ 2002

(2)

© by Maria Inês Martins, 2002.

Catalogação na Publicação elaborada pela biblioteca da Faculdade de Educação/UNICAMP

Bibliotecária: Rosemary Passos - CRB-8ª/5751

Martins, Maria Inês.

M366r Memórias e história : a trajetória do Curso de Odontologia da PUC Minas - 1974-2001 / Maria Inês Martins. – Campinas, SP: [s.n.], 2002. Orientador : Águeda Bernardete Bittencourt.

Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação.

1. Avaliação. 2. Ensino Superior. 3. Odontologia. 4. Saúde. 5.*Projetos pedagógicos alternativos. I. Bittencourt, Águeda Bernardete. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação. III. Título .

(3)

Resumo

Analisamos, nesta pesquisa, a história do Curso de Odontologia da PUC Minas, implantado em 1974, com uma proposta alternativa de prática e ensino odontológicos, que pretendia, através de uma mudança político-pedagógica, alterar positivamente os níveis de saúde bucal, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população, sobretudo, a dos extratos mais pobres.

Procuramos compreender, no contexto sócio-econômico-político da época, os ideais dos fundadores do Curso e na historiografia da Universidade, da Arquidiocese de Belo Horizonte e da própria cidade, as razões que permitiram que o Projeto Alternativo encontrasse espaço numa Universidade Católica, em Belo Horizonte, na década de 70.

Buscamos entender, no âmbito dos projetos pedagógicos alternativos dos anos 70 e 80, o processo de construção e de (des)construção do Projeto Alternativo, identificando suas dificuldades de implantação, seus adeptos, seus opositores, seus momentos de auge e de crise, sua importância, seu reconhecimento, sua legitimidade e sua aceitação no mercado de trabalho.

Investigamos também os impactos do Sistema de Avaliação de Ensino Superior sobre as Instituições de Ensino Superior, em particular sobre o Curso em apreço, a partir de resultados inadequados obtidos pelo mesmo, em 1997, no Exame Nacional de Cursos e na Avaliação das Condições de Oferta. Embora não se possa dizer que este Sistema de Avaliação tenha sido o maior responsável pelo afastamento do Curso de sua vocação original social, que já vinha se descaracterizando desde meados dos anos 80, acabou sendo o seu golpe fatal.

Na perspectiva de adequação do Curso aos parâmetros exigidos pelo MEC uma reestruturação avassaladora se processou a partir de 1998, que produziu uma ligeira melhoria de desempenho em 1999 e 2000, mas que retornou, em 2001, ao nível insatisfatório de 1997. Nesse processo de reconstrução de uma nova identidade do Curso, examinamos, a partir dos depoimentos dos professores remanescentes, as memórias do Projeto Alternativo, presentes na atual Faculdade de Odontologia da PUC Minas.

(4)
(5)

Abstract

In this research we have analysed the history of the Dentistry Course at PUC Minas, which was set up in 1974 with a view to both an alternative practice and teaching methods. The main aim of the Course was to increase the level of healthy mouth through political and pedagogic changes, thus contributing to the improvement of the standard of the population´s quality of life, especially among the underprivileged.

By analyzing the social-economic-political context of that time, we tried to understand the ideals of the founders of the course. In addition, by examining the historic records of the University and those of the Belo Horizonte Archdiocese and of the city itself, we tried to cast some light on the reasons why this alternative project was able to carry out in the seventies at a Catholic University in Belo Horizonte.

While considering the comprehensive alternative pedagogic projects of the seventies and eighties, we were interested in learning about the process through which this alternative project was built and dismantled, identifying the difficulties met in its implementation, as well as identifying its supporters, its opponents, its climax and its most critical moment, also its importance, its recognition, its legitimacy and its acceptance in the job market.

We have also investigated the impact of the System of Evaluation of the Brazilian Higher Education on these same institutions, and in particular, on the Dentistry Course, starting from the inappropriate results obtained in 1997, both in the National Examinations of Courses and in the Evaluation of the “Offer Conditions”. Though this official Evaluation System can not be held fully responsible for the detachment of the course from its original social vocation, which had been gradually losing its identity since the mid-eighties, it was, indeed, the final blow.

Under the perspective of the Dentistry Course adaptation to meet the MEC requirements, a deep and devastating reform took place from 1998 onwards, which resulted in a slight improvement in the course performance in 1999 and 2000. However, in 2001 it went back to the same poor performance level as that of 1997. Based on this attempted reconstruction process aiming a new identity course, we have analysed the memories of this alternative project at the Dentistry College through the testimony of remaining teachers.

(6)
(7)

Dedico este trabalho ao companheiro e amigo Luciano e aos meus filhos Gustavo e Gabriel

(8)
(9)

Agradecimentos

Ao Padre Geraldo Magela Teixeira, Reitor da PUC Minas, pelo crédito e incentivo e à PUC Minas pelo apoio financeiro.

À Profª Águeda Bernardete Bittencourt, pela orientação firme e competente que demonstrou durante o desenvolvimento desta pesquisa.

Aos Professores Félix de Araújo Souza, Diretor em exercício, da Faculdade de Odontologia e Franca Jeunon, Coordenadora, em exercício, do Curso de Odontologia da PUC Minas, que possibilitaram que eu freqüentasse a Faculdade e pesquisasse, com toda liberdade, a rica história desse Curso.

Aos professores entrevistados que, com suas percepções e vivências completamente distintas e com suas personalidades absolutamente marcantes, enriqueceram e fundamentaram este trabalho de pesquisa.

À Profª Maria Auxiliadora de Oliveira, pelas tantas críticas, pelo crédito e principalmente pelo encorajamento decisivo ao meu ingresso na área de Educação.

Ao Prof. Humberto Marques Torres Neto, pela amizade e solidariedade no compartilhamento das responsabilidades do DATAPUC, permitindo que eu pudesse me dedicar a este trabalho.

(10)
(11)

“A explicação histórica não revela como a história deveria ter se processado, mas porque se processou dessa maneira, e não de outra; que o processo não é arbitrário, mas tem sua própria regularidade e racionalidade; que certos tipos de acontecimentos (políticos, econômicos, culturais) relacionaram-se, não de qualquer maneira que nos fosse agradável, mas de maneiras particulares e dentro de determinados campos de possibilidades...”

(12)
(13)

Sumário

Introdução ... 1

I – Impactos do Sistema de Avaliação de Ensino Superior sobre as IES ... 13

II – Histórico da PUC Minas e da criação de seu curso de Odontologia ... 61

III – O Projeto Alternativo de Ensino: sua construção e (des)construção ... 95

IV – Reminiscências do Projeto Alternativo na Faculdade de Odontologia ... 159

Considerações Finais ... 189

Bibliografia ... 195

(14)
(15)

Lista das principais abreviaturas e siglas

ABENO Associação Brasileira de Ensino em Odontologia ACO Avaliação das Condições de Oferta

ADPUC Associação dos Docentes da PUC Minas

AP Ação Popular

ARENA Aliança Renovadora Nacional

BID Banco Interamericano do Desenvolvimento

BM Banco Mundial

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento CEE Comissões de Especialistas de Ensino CFO Conselho Federal de Odontologia

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CROMG Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais ENC Exame Nacional de Cursos

FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FIES Financiamento ao Estudante de Ensino Superior FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

FO PUC Minas Faculdade de Odontologia da PUC Minas IES Instituições de Ensino Superior

INAMPS Instituto Nacional de Previdência Social JEC Juventude Estudantil Católica

JOC Juventude Operária Católica JUC Juventude Universitária Católica

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MBRO Movimento Brasileiro de Renovação Odontológica MDB Movimento Democrático Brasileiro

MEC Ministério da Educação OMS Organização Mundial de Saúde OPS Organização Panamericana de Saúde

PAIUB Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PT Partido dos Trabalhadores

PUC Minas Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais SUS Sistema Único de Saúde

THD Técnico em Higiene Dentária

UCMG Universidade Católica de Minas Gerais UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UFRS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UNE União Nacional dos Estudantes

UNESP Universidade Estadual Paulista UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

USAID United States Agency International Development USP Universidade de São Paulo

(16)

Introdução

As Políticas Públicas Educacionais e a Avaliação do Ensino Superior Brasileiro, no âmbito da graduação, têm sido temas intensivamente debatidos no campo educacional. Até meados dos anos 90, o interesse por essas temáticas era mais vinculado aos profissionais das áreas mencionadas. Entretanto, a partir da implantação do Sistema de Avaliação do Ensino Superior, em sintonia com os novos rumos da Política Educacional, consubstanciada, sobretudo, com a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei no 9.394/96, a discussão sobre as diretrizes e a avaliação do Ensino Superior ganhou tamanha repercussão, que ultrapassou as fronteiras da academia, envolvendo a sociedade civil, que teve nas mídias escrita e falada, espaços amplos e privilegiados.

Apesar de termos uma experiência profissional e formação acadêmica consolidada na área de Física, na qual concluímos a Graduação na Universidade de São Paulo, USP, em 1979 e o Mestrado, na Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, em 1989, sempre tivemos interesse pela área da Educação, particularmente, relativo ao Ensino Superior. Esse interesse foi acirrado, principalmente, pela nossa experiência, nos últimos sete anos, no desempenho de funções acadêmico-administrativas, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC Minas1, onde trabalhamos há treze anos. A docência no Curso de Engenharia, a assessoria à Pró-reitoria de Graduação, a chefia do Centro de Registros Acadêmicos e a diretoria do Setor de Processamento de Dados da Universidade, possibilitaram um contato estreito com as perspectivas e as exigências da Graduação, sentidas, sobretudo, a partir da nova Lei. Neste contexto, acabamos nos interessando e envolvendo com a Avaliação do Ensino Superior, implantada, a partir da década de 90.

Com o objetivo de adentrarmos na área de Educação, resolvemos fazer o Doutorado e escolhemos a Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, para ser o lócus dessa nova formação, por ser uma instituição de reconhecimento nacional. Na escolha do objeto a ser investigado, pretendíamos, inicialmente, trabalhar com algum tema, ligado à Engenharia, mas

1

A PUC Minas, atualmente, se posiciona entre as seis maiores Universidades, no âmbito do ensino de graduação, em termos de número de alunos, encontrando-se presente nas cidades mineiras de Arcos, Betim, Contagem e Poços de Caldas, além de possuir quatro unidades em Belo Horizonte. A Universidade possui cerca de 34 mil alunos de graduação; 1750 professores e 1000 funcionários. Oferece 45 Cursos de Graduação, 60 Cursos de Especialização, 13 Cursos de Mestrado e 5 de Doutorado. O crescimento da referida instituição acompanhou o ritmo acelerado de expansão do setor privatista de ensino superior, particularmente na última década, dobrando o número de alunos nos últimos cinco anos.

(17)

por ser a nossa área de atuação, tivemos receio da interferência de fatores institucionais e emocionais e, isso nos fez buscar outro campo, para desenvolver a pesquisa. Observávamos que a divulgação pela mídia dos Relatórios do Governo referentes aos resultados das Avaliações praticadas, ganhava a cada ano, maior repercussão e estávamos atentos aos impactos que esses resultados poderiam causar nas Instituições de Ensino Superior, IES. Particularmente, as reações da comunidade acadêmica envolvida no Curso de Odontologia da PUC Minas, perante os resultados insatisfatórios obtidos pelo mesmo na Avaliação de 1997, nos levaram a considerar que esse Curso se tornaria objeto da nossa pesquisa.

Antes de iniciarmos o trabalho, pouco conhecíamos sobre o Curso de Odontologia da PUC Minas, além das referências elogiosas que, freqüentemente, ouvíamos sobre o mesmo e do nosso reconhecimento pessoal, enquanto pacientes, quando fomos atendidos por profissionais egressos da instituição. Tínhamos consciência de que o Curso se constituía como a “menina dos olhos” da Universidade, pois se tratava de seu Curso mais disputado no âmbito do vestibular, que parecia ser capaz de fazer, com competência, a interlocução entre teoria e prática, sendo que seus egressos eram prestigiados tanto pelo mercado de trabalho, quanto pela sociedade.

Na implantação gradativa do Sistema de Avaliação do Ensino Superior, traduzido, sobretudo, pelo Exame Nacional de Cursos, ENC e pela Avaliação das Condições de Oferta, ACO, a área de Odontologia foi incorporada na segunda edição do Exame em 1997. Nessa primeira avaliação da área, a Odontologia da PUC Minas recebeu um incômodo C no Provão e também nos quesitos Titulação e Jornada de Trabalho de seu Corpo Docente. No mesmo ano o Curso foi, ainda, submetido à Avaliação das Condições de Oferta, recebendo o conceito “Condições Regulares”, em todos os itens avaliados.2

Percebemos a decepção e frustração que acometeram todos os escalões acadêmicos, tanto a Reitoria, quanto os professores, os pais, os alunos e os ex-alunos. Parecia que ninguém entendia o porquê de tão baixo e inesperado resultado que trouxe constrangimento à comunidade envolvida. Esses fatos aguçaram nosso interesse e nos conduziram as seguintes

2

O ENC, popularmente conhecido como Provão, é uma prova teórica, anual e obrigatória, aplicada desde 1996, aos formandos de cursos de graduação incorporados, gradativamente, ao Exame. Cada Curso de cada IES recebe um conceito, entre A e E, de acordo com critérios que serão discutidos no primeiro capítulo. Em relação à ACO, Comissões de Especialistas de Ensino, CEE, designadas pela Secretaria de Ensino Superior, do MEC, percorrem as instituições, desde 1997, para avaliar as “condições de oferta dos cursos”, que se dividem nos quesitos: qualificação docente, organização didático-pedagógica e instalações. Cada CEE emite um relatório técnico de cada Curso, que é encaminhado ao Conselho Nacional de Educação, CNE, que fixa um prazo para que as correções recomendadas sejam cumpridas.

(18)

indagações: Por que esse Curso, supostamente reconhecido por essa comunidade e pelo mercado de trabalho, teria sido tão mal avaliado? Que resposta seria dada pela comunidade envolvida pelo Curso? Como seriam absorvidos esses resultados e como seriam aceitos os indicadores oficiais da Avaliação?

Essas questões possibilitaram a delimitação de nosso campo de investigação, o Curso de Odontologia da PUC Minas, com o objetivo de analisar sua trajetória histórica, desde a sua fundação em 1974, investigando de um lado a sua história de criação numa Universidade Católica nos anos 70 e de outro lado a política, as estratégias, os objetivos do Sistema de Avaliação, seus impactos sobre a Instituição/Cursos, sobre a sociedade, sobre o mercado de trabalho e, especialmente no âmbito do referido Curso.

A metodologia utilizada para a realização desta pesquisa foi o Estudo de Caso, cujo objetivo consiste no esforço em descobrir as variáveis significativas em um determinado caso. Nessa estratégia, cabe ao pesquisador, o papel de observador que se coloca frente à situação, para analisa-la, em um determinado período de tempo, tendo os objetivos previamente definidos. Assim foi realizada uma investigação que lançou mão, tanto da pesquisa teórica, quanto da empírica. Nessa, foram utilizadas os seguintes instrumentos: análise documental, observação, questionários e entrevistas.

Considerando ainda os aspectos metodológicos, devemos relatar certas opções feitas. Assim, empregamos o recurso relativo às notas de rodapé na apresentação de conceitos, no detalhamento de fatos, em várias citações e nas referências alternativas, especialmente de jornais e revistas não indexadas, que enriqueceram este trabalho. Com relação aos gráficos e tabelas incorporados neste trabalho, os dados foram obtidos, na grande maioria dos casos, eletronicamente, via Internet, nos sites do Governo, no DATAPUC Processamento de Dados e na Enciclopédia (2000).3 Optamos por inserir gráficos, tabelas, fotos e figuras no corpo do texto, sempre que foi considerado imprescindível o olhar imediato sobre os mesmos. Em caso contrário, foram apresentados nos apêndices, disponibilizados na ordem em que aparecem referenciados no texto.

3

Essas fontes de dados foram pesquisadas continuamente, sendo que os gráficos e as tabelas foram elaborados por nós. Os principais sites do Governo pesquisados foram www.mec.gov.br e www.inep.gov.br. Outra fonte de dados mencionada foi o DATAPUC que é o setor da PUC Minas responsável pelos dados e informações da Universidade. A última fonte de dados, Enciclopédia (2000), é uma publicação, em CD ROM, atualizada mensalmente, via disquete, que contém toda a legislação e a jurisprudência da Educação Brasileira.

(19)

Esta pesquisa pode ser subdividida em três momentos de desenvolvimento. No primeiro, procuramos analisar por um lado, a trajetória do Curso de Odontologia da PUC Minas e por outro, os impactos do Sistema de Avaliação do Ensino Superior no âmbito do Departamento de Odontologia. Na segunda fase, exploramos questões da etapa anterior, e, ainda, analisamos o Projeto Alternativo implantado no Departamento, em 1974, procurando analisar sua importância, seu reconhecimento e sua legitimidade. Na terceira fase da pesquisa, passamos a analisar os desdobramentos e as memórias do Projeto Alternativo.

Na primeira fase do trabalho, à medida que, pesquisávamos sobre o Curso, passamos a conhecer sua peculiar história de criação e sua importância na história da PUC Minas. Como a história da Universidade encontra-se imbricada à história e ao papel da Arquidiocese de Belo Horizonte no desenvolvimento da capital mineira, procuramos identificar na historiografia da cidade elementos que permitissem reconstruir a trajetória da Instituição foco da pesquisa e do Curso em apreço.

É importante mencionar as dificuldades encontradas na análise documental. A documentação disponível na Universidade sobre a sua própria história e, especialmente, sobre o Curso de Odontologia é insuficiente, além de se encontrar de forma dispersa e desarticulada. Pesquisamos documentos oficiais, existentes nos arquivos da Secretaria Geral da PUC Minas, e que se traduzem em Portarias, Resoluções e Relatórios de Atividades. Na Biblioteca Central da Universidade, recorremos ao Setor de Memória, recém criado, e tivemos acesso a documentos, ainda, não catalogados. No Departamento de Odontologia, pesquisamos seu arquivo, composto de cerca de vinte e cinco caixas-arquivo, que contém documentos variados, muitos deles, também, não catalogados.

A respeito da história da Igreja em Minas, particularmente em Belo Horizonte, fizemos pesquisa no Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, no Centro de Cultura de Belo Horizonte, na Hemeroteca Pública do Estado de Minas Gerais, no Centro de Documentação e Informação da Cúria de Belo Horizonte, no Setor de Documentação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais e na Gerência de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura.

Em termos do Curso de Odontologia da PUC Minas, da profissão de odontólogo e do mercado de trabalho em Odontologia investigamos, em Belo Horizonte, nas bibliotecas da PUC Minas, da Faculdade de Odontologia da UFMG e do Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais, CROMG. Ademais, analisamos as publicações da Associação Brasileira de

(20)

Ensino em Odontologia, ABENO e do Conselho Federal de Odontologia, CFO e, ainda, as informações virtuais, via Internet, nos sites destas entidades e os do próprio MEC. Em São Paulo, pesquisamos na Biblioteca da Faculdade de Odontologia da USP e nos arquivos, em microfilme, dos jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, das bibliotecas Municipal de São Paulo e do Centro Cultural de São Paulo.4

Em relação aos artigos jornalísticos, publicados pela imprensa mineira durante boa parte do século XX, deve-se esclarecer que os mesmos foram escritos com a permissão da Igreja, pois a imprensa local, na época, pertencia à Arquidiocese de Belo Horizonte. No estudo desses documentos adotamos as posições de Le Goff:

“O documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de força que aí detinham o poder.” (Le Goff, 1994, p. 545)

“...um documento nunca é o simples resultado de uma situação histórica dada. Ele é o produto orientado de uma situação. O que então é preciso

analisar são as condições nas quais tal documento foi produzido e não

só de que ambiente sai ou de que é que literalmente nos fala ... Não existe, não dispomos de uma espécie de documento em bruto...Tudo é orientado e há métodos científicos de desmontagem que põem em relevo a sua orientação.” (Le Goff, 1982, p. 86, 87, grifo nosso)

Ao historicizar a trajetória da PUC Minas, lançamos mão de uma publicação da instituição, editada em 1987 que se propunha a contemplar a trajetória da mesma desde a origem, em 1958 até o seu jubileu de prata, em 1983. Percebe-se, entretanto, que o documento apresenta a história da instituição, de uma forma ufanista e apologética.5 Ferro evidencia a importância de se remontar o passado:

“Controlar o passado ajuda a dominar o presente, a legitimar ascendentes e contestações. Ora, são os poderes estabelecidos – Estados, igrejas, partidos políticos ou interesses privados – que possuem

4

Os sites pesquisados foram www.abeno.org.br, www.cfo.org.br, www.cromg.org.br, além dos sites do MEC, mencionados anteriormente.

5

Essa publicação, intitulada “História da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, desde a sua origem ao seu jubileu de prata”, foi organizada por Valentim Cuadrado, a pedido da Universidade, por ocasião da comemoração de seus 25 anos de existência, em 1983, e se trata de uma das poucas referências sobre a história da Universidade. O organizador e também autor da maioria dos artigos da revista atribuiu o atraso de quatro anos na publicação da mesma, à interminável revisão de nomes, que deveriam ser agraciados por razões, eminentemente, políticas. (informação verbal)

(21)

e financiam mass media ou aparelhos de reprodução, livros escolares ou bandas desenhadas, filmes ou emissões de televisão. Cada vez mais eles outorgam a todos, sem exceção, um passado uniforme.” (Ferro, 1981, p. 15)

O teórico referenciado explica que, através dos tempos, e das culturas, a história emerge de vários focos que difundem, cada qual, um discurso diferente em suas formas, em suas normas, em suas necessidades. A história institucional, se peculiariza por exprimir ou legitimar uma política, uma ideologia, um regime, que se apóiam num sistema de fontes hierarquizadas, como explicita Ferro:

“Ao serviço de Cristo ou do sultão, da República ou de uma Igreja, quando não de um partido, a história institucional depende da história em vias de se fazer. Tal como a realidade, ela evolui, por conseguinte, mudando constantemente o seu sistema de referências, sofrendo todas as metamorfoses, acomodando-se a todas as escritas.” (Ferro, 1981, p. 269)

Segundo esse autor, pode existir, no entanto, uma contra-história institucional, paralelamente, à história dos vencedores: Igreja, nação, partido ou Estado. Essa contra-história, não se beneficiando dos mesmos meios de divulgação, somente pode sobreviver, por um certo tempo, na forma oral ou escrita. Embora as entrevistas realizadas em nossa pesquisa não se constituíssem, propriamente, como “história oral”, levamos em consideração sua importância, como foco de observação adicional à história institucional, valorizando os aportes de Ferreira e Amado, que nos ajudaram nas entrevistas realizadas.

“Na história oral, existe a geração de documentos (entrevistas) que possuem uma característica singular: são resultado do diálogo entre entrevistador e entrevistado, entre sujeito e objeto de estudo; isso leva o historiador a afastar-se de interpretações fundadas numa rígida separação entre sujeito/objeto de pesquisa, e a buscar caminhos alternativos de interpretação.” (Ferreira & Amado, 1996, p. 19)

Retomando à escassa documentação disponível sobre o Curso de Odontologia da PUC Minas, verificamos que sobre a história do Departamento, existem poucas publicações, de divulgação restrita, produzidas na primeira metade dos anos 80, em grande parte pelos mentores do Projeto, que procuraram registrar a experiência vivenciada pelo Departamento.

(22)

Identificamos, ainda, quatro Dissertações de Mestrado que tiveram, como objeto, o Curso de Odontologia, e que enfocaram aspectos diferenciados. Essas monografias foram elaboradas, a partir dos anos 90, e defendidas nos âmbitos dos Mestrados em Educação, da UFMG e da PUC Minas. Em todas essas Dissertações foram realizadas entrevistas com diferentes sujeitos, tais como, professores, alunos, funcionários, empregadores e pacientes, dependendo dos objetivos do estudo em questão.6

A primeira Dissertação, intitulada “Saúde bucal, uma necessidade socialmente construída”, apresentada em 1993, e elaborada por Evanilde Martins, enfatiza a necessidade de conscientização sobre a importância da Saúde Bucal e a construção desse novo saber, pelos usuários de uma das Clínicas Extramuros, a Clínica São Geraldo, integrante do Curso de Odontologia da PUC Minas. Essa clínica foi instalada no final dos anos 70, numa antiga Igreja da região leste, na periferia de Belo Horizonte e visava o atendimento, pelos alunos do Curso, da comunidade carente da região. Foram entrevistados vários sujeitos, tanto professores, alunos, funcionários quanto os próprios pacientes.

Na segunda Dissertação, denominada “Formação profissional de cirurgiões-dentistas egressos de dois cursos superiores de orientações distintas”, defendida em 1995, por Simone Lucas, a autora procura descobrir, de que maneira, a formação diferenciada, proporcionada pelas duas Escolas de Odontologia de Belo Horizonte (UFMG e PUC Minas) influenciou na atuação dos profissionais delas egressos. Neste trabalho foram analisadas as interferências da origem social e do processo de escolarização na prática profissional dos odontólogos. Foram entrevistados, três professores fundadores do Curso de Odontologia da PUC Minas e “empregadores” da área odontológica, tanto do setor público quanto do privado.

Nas terceira e quarta Dissertações, defendidas em 2000 e 2001, intituladas “Da odontologia ao oficio de ensinar: formação de professores na Faculdade de Odontologia da PUC Minas” e “Trajetórias profissionais: a interface entre a profissão docente e a profissão odontológica” defendidas, respectivamente, por Margaret Fernandes e Wanderley Felippe tratam da formação acadêmica do profissional em Odontologia. A questão central do primeiro

6

Os textos dos fundadores [Modelo... (1982), Mendes & Marcos (1984), Mendes (1985), Ferreira (1985) e Meira (1985)] foram financiados pela Finaciadora de Estudos e Projetos, FINEP e publicados pela própria Universidade e voltarão a ser discutidos ao analisarmos o processo de construção do Projeto Alternativo de prática e ensino odontológicos, adotado pelo Departamento de Odontologia. As dissertações relacionadas ao departamento apresentadas na UFMG [Martins (1993) e Lucas (1995)] e na PUC Minas [Fernandes (2000) e Felippe (2001)] são de autoria de três professores egressos do Curso no início dos anos 80, dois deles atualmente professores da Católica e um deles da Federal. O quarto autor é professor da PUC, oriundo da área de Psicologia.

(23)

trabalho foi a de investigar como o cirurgião dentista se torna professor de Odontologia. O segundo trabalho procura analisar as relações na interface entre ser professor e ser odontólogo. Em ambas as investigações foram entrevistados professores da Faculdade de Odontologia, da PUC Minas.

Devemos explicitar que, após o Exame de Qualificação, realizado no início de 2001, procedemos a um certo redimensionamento, do objeto de pesquisa, que antes se encontrava mais centrado nos impactos do Sistema de Avaliação do Ensino Superior, sobre o Curso. De início, considerávamos que os resultados obtidos pelo Curso nas avaliações de 1997 teriam sido as principais causas do desmantelamento do Modelo Inovado de Ensino Odontológico, proposto pelo Departamento a partir de 1974 e as reações e os desdobramentos decorrentes desses resultados pareciam confirmar nossas hipóteses. Entretanto, ao investigarmos a história do Curso fomos percebendo que o Modelo Inovado teve seu auge no início da década de 80 e, que na metade da mesma década, já enfrentava sérias dificuldades que acabaram promovendo o processo de descaracterização de sua proposta original. Passamos então a privilegiar a análise daquele Projeto Alternativo, sem deixar, entretanto, de acompanhar o debate que se travava, sobretudo, na mídia impressa, em torno do Sistema de Avaliação.

A motivação por esse novo enfoque – Projeto Alternativo – nos levou a formular uma série de questões: o Modelo Inovado teria realmente sido importante e teria conseguido legitimidade e reconhecimento? Diante de quem? Ou, aquele Projeto Alternativo não teria passado de uma utopia de um grupo de pioneiros? Essas indagações careciam de investigação e passaram a orientar a segunda etapa do trabalho.7

Nesse segundo momento, partimos mais uma vez da pesquisa documental, enriquecida com conversas informais estabelecidas com professores que tinham participado, acreditando ou não, no Projeto Alternativo. Apesar dos dados insuficientes, identificamos um período, no início dos anos 80, em que o Curso teria sido bastante mencionado nos jornais paulistas, por ocasião do Congresso Brasileiro de Odontologia e no decorrer da Campanha da Fraternidade, de 1981. Essa constatação nos levou a pesquisar nos arquivos dos dois principais jornais paulistas, nos quais, de fato, encontramos referências ao Curso de Odontologia. Paralelamente,

7

No convívio com os pro fessores da área de Saúde, particularmente durante a pesquisa documental, entre 1998 e 2000, quando o Departamento de Odontologia localizava-se no prédio do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde, da PUC Minas, observamos que existe, nessa área, um grupo extremamente conservador, para o qual, a experimentação do Modelo Inovado em Odontologia, teria prejudicado e desqualificando a área de Saúde da Universidade. Chegamos a ouvir que a experiência vivenciada pelo Departamento de Odontologia da PUC Minas não teria passado de um grande blefe.

(24)

contando com a colaboração de professores da PUC, tivemos acesso a fontes, ainda não pesquisadas, entre as quais destacamos o Projeto de Estruturação do Departamento de Odontologia, concluído em 1974, e uma fita magnética de vídeo, gravada em 1986, em formato antigo, que foi convertido no sistema VHS padrão. Essa fita foi gravada durante um Seminário, organizado pelo Departamento, no qual foram debatidos, os Projetos Alternativos em Odontologia, empreendidos pela PUC Minas e pela PUC de Campinas. Esse evento contou com a participação do educador Paulo Freire.8

Com o aprofundamento de nossas pesquisas e com os aportes, advindos do Exame de Qualificação, pudemos analisar a experiência do Departamento na perspectiva dos Projetos Pedagógicos Alternativos das décadas de 70 e 80. Essa releitura da história do Curso nos conduziu ao terceiro momento da investigação, que se traduziu nas seguintes questões: De que maneira aquela experiência havia se dissipado? A Faculdade de Odontologia da PUC Minas, criada em 2000, com uma nova estrutura físico-acadêmico-administrativa, com o corpo docente renovado e melhor qualificado e com a Pós-graduação Stricto Sensu implantada, conservaria marcas do referido Projeto Alternativo? Quais seriam? Nesse momento voltamos a campo buscando a finalização da pesquisa, focando os desdobramentos e as reminiscências do Projeto Alternativo, fazendo uso de questionários e entrevistas.

As entrevistas realizadas nesta pesquisa foram, propositadamente, deixadas para a etapa final do trabalho, pois sentíamos, a necessidade de compreender melhor o problema da investigação, antes de ir para o campo. Chegamos a ter uma certa resistência de início, que nos fez levantar a possibilidade de não incorpora-las como fontes de pesquisa. Contudo, gradativamente, sentimos a necessidade de realiza-las e isso se deu após três anos de pesquisa teórica e documental.

A elaboração dos instrumentos da entrevista foi precedida por estudos de obras pertinentes, especialmente, analisamos “Usos e abusos da História Oral” de Ferreira & Amado (1996) e “Investigação qualitativa em Educação”, de Bogdan & Biklen (1994). Consideramos

8

O Projeto de Estruturação do Departamento de Odontologia (Projeto... 1974), que chamaremos de Projeto Original, foi localizado e gentilmente cedido, pelo Prof. Félix de Araújo Souza, Diretor em exercício, da Faculdade de Odontologia da PUC Minas. Trata-se do documento encaminhado à Fundação Kellogg, em 1974, que viria a garantir parte dos recursos necessários à implantação do Modelo Inovado. Voltaremos a considerar a importância do Projeto e da Fundação americana, particularmente, no terceiro capítulo. Em relação à fita citada, uma cópia já convertida, foi fornecida pelo Prof. Eugênio Batista Leite, atualmente Coordenador do Curso de Ciências Biológicas da PUC Minas, que participou do Projeto Alternativo, como técnico áudio-visual e posteriormente como aluno do próprio Curso. Dessa fita, foram extraídos depoimentos, referenciados como Takito (1986), do então Diretor da Faculdade de Odontologia da PUC de Campinas, Prof. Hiroumi Takito.

(25)

que o conhecimento e o convívio adquiridos sobre nosso objeto de estudo, durante os anos precedentes bem como o aporte dessas obras tenham sido de fundamental importância na elaboração, na execução, na transcrição e na categorização das novas fontes da pesquisa.9

Entrevistamos nove professores da Faculdade de Odontologia, que representam cerca da metade do corpo docente remanescente do Projeto Alternativo, que tiveram um envolvimento significativo com o mesmo. Entre os entrevistados, três deles participaram do Projeto apenas, como professores e os outros seis vivenciaram aquela experiência, inicialmente, como alunos e, posteriormente, como professores com diferentes níveis de engajamento. Para a escolha desses professores, optou-se pelo ano de ingresso do entrevistado como docente no Curso, visando obter depoimentos de professores que teriam vivenciado o Projeto em diferentes fases do mesmo. Observamos também nessa escolha, a indicação, advinda dos próprios professores do Departamento.

Os três entrevistados, que participaram do Projeto apenas como docentes, se formaram pela UFMG, na década de 60, dois deles foram colegas de turma e integraram o grupo de fundadores do Curso. O conjunto de professores, composto pelos egressos do Curso, que o concluíram entre 1978 a 1984, foi dividido em dois grupos de quatro e dois professores, respectivamente. A primeira geração de professores, formados entre 1978 e 1981 vivenciou, como estudante, a construção e a implantação do Modelo Inovado de Ensino enquanto a segunda geração de professores, formados em 1983 e 1984, experimentou, como discente, momentos áureos intercalados por períodos de crise do Projeto Alternativo.10

As entrevistas transcorreram, de forma serena, com exceção de uma delas, em que houve um constrangimento manifestado, de início, pelo entrevistado, talvez em função da presença, ainda que consentida, do gravador. Entretanto, no decorrer da entrevista, sua naturalidade foi sendo recuperada tendo prestado depoimentos consistentes e emocionados, sobre a sua experiência no Departamento desde a implantação do Projeto Alternativo. O constrangimento inicial acabou interferindo, pois nos atrapalhamos no manuseio do dispositivo e acabamos “perdendo” cerca de trinta minutos da gravação. Este incidente justifica a menor presença no texto de depoimentos advindos do Professor 1.

Exatamente pelo fato de termos optado pela realização das entrevistas na última etapa da pesquisa, tivemos que reestruturar todo o trabalho, em função dos dados coletados pelos

9 O questionário aplicado, a caracterização do perfil do corpo docente entrevistado e o roteiro geral da entrevista

encontram-se disponíveis no apêndice 8.

10

(26)

depoimentos dos entrevistados, que por vezes reforçaram pontos de vistas anteriores e por outras, exigiram completas reformulações no texto, anteriormente, elaborado.

Este trabalho foi dividido em quatro capítulos, que mantém entre si, grande interlocução. No primeiro capítulo, denominado “Impactos do Sistema de Avaliação de Ensino Superior sobre as Instituições de Ensino Superior” procuramos analisar o Sistema de Avaliação de Ensino Superior e seus impactos sobre as IES, desde a sua implantação, em 1996. Procedemos, também, a exposição da reestruturação acadêmico-administrativa, implementada no Curso de Odontologia da PUC Minas, a partir da divulgação dos resultados inadequados obtidos em 1997 e acompanhamos a evolução do desempenho do Curso nas Avaliações dos anos subseqüentes. As reações e as alianças no interior da comunidade acadêmica foram analisadas tomando por base as idéias e conceitos dos sociólogos Norbert Elias e Pierre Bourdieu.11 Abordamos finalmente, neste capítulo as manchetes e as discussões divulgadas pelos meios de comunicação de massa, particularmente a mídia impressa, referentes ao Sistema de Avaliação do Ensino Superior, com destaque especial para o Provão. Enfatizamos as críticas feitas ao referido sistema, bem como os ajustes procedidos pelo Ministério da Educação, no decorrer dos últimos seis anos.

No segundo capítulo, intitulado “Histórico da PUC Minas e da criação de seu Curso de Odontologia”, apresentamos a história da PUC Minas que se encontra imbricada à história da Igreja no século XX e, em particular, à história da Arquidiocese de Belo Horizonte que se confunde com a história da própria capital mineira, fundada no início do período republicano. Procuramos contextualizar nossa apresentação, enfocando o desenvolvimento econômico e sócio-político do país e do estado, bem como os “conflitos” ocorridos na relação Igreja-Estado, de abrangência local e nacional. Explicitamos e analisamos o momento de criação da Proposta Inovadora do Curso de Odontologia, no âmbito de uma Pontifícia Universidade Católica, em Belo Horizonte, nos anos 70, em pleno período de arbítrio.

No terceiro capítulo, denominado “O Projeto Alternativo de Ensino: sua construção e (des)construção” procuramos, a partir do desenvolvimento da prática médico-odontológica, identificar os valores, as concepções e os modelos que nortearam a elaboração da nova proposta de Curso. Buscamos compreender o processo de construção, implantação e consolidação do Modelo Inovado, no contexto dos projetos político-pedagógicos alternativos

11

As obras destes autores utilizadas neste capítulo foram Boudieu (1978b, 1996, 1998a, 1998c, 1999) e Elias (1994a, 1995).

(27)

dos anos 70 e 80. Analisamos ainda, a importância, o reconhecimento e a legitimação do Projeto na área de Saúde. Finalmente, apresentamos o processo de descaracterização do Projeto Alternativo, a partir da saída dos fundadores em meados da década de 80. Procuramos ainda, neste capítulo, identificar as diferentes formas de gestão do Departamento, ao longo de sua história, tomando Max Weber, como referência.12

No quarto capítulo, intitulado “Reminiscências do Projeto Alternativo”, procuramos, após uma breve apresentação da Faculdade de Odontologia da PUC Minas, encontrar elos entre o passado e o presente, buscando as memórias do Projeto Alternativo, ainda existentes na Faculdade. O aporte principal constitui-se nos depoimentos de professores remanescentes do Projeto, coletados através das entrevistas. Tratamos, então, de entender as relações, entre o passado e o presente, através dos aspectos que durante a pesquisa, afloraram como significativos. Nem todos os temas foram abordados em todas as entrevistas, com exceção da identificação das reminiscências que foi, propositadamente, colocada para todos os professores.

12

As obras do autor pesquisadas neste capítulo foram Weber (1979, 1989, 1996) e sobre o autor foi Freund (1980) além do estudo feito por Castro (1994).

(28)

I – Impactos do Sistema de Avaliação de Ensino Superior sobre as IES

Antes de analisarmos o Sistema de Avaliação de Ensino Superior e seus impactos sobre as Instituições de Ensino Superior, particularmente sobre o Curso de Odontologia da PUC Minas, faremos uma breve revisão sobre a temática da Avaliação. Embora sejam muitas as formas de posicionar e definir a Avaliação, podemos considera-la, de um modo geral, como sendo um processo de julgamento baseado em informações que conduz à tomada de decisões. A qualidade dos indicadores de desempenho, das variáveis e dos instrumentos de coleta de informações é fundamental para a qualidade técnica do processo de avaliação.1

Uma das várias maneiras de categorizar a Avaliação Educacional é através da escolha do momento de sua realização, que pode ser no início, durante ou no final do processo que se pretende analisar, assumindo em cada caso, respectivamente o nome de Diagnóstica, Formativa ou Somativa. A Avaliação Diagnóstica ocorre no início do processo com o objetivo de subsidiar o planejamento das ações; a Avaliação Formativa é aplicada uma ou várias vezes, durante o processo que se pretende avaliar a fim de permitir o acompanhamento e o redirecionamento do mesmo e a Avaliação Somativa, se realiza ao final do processo, visando a construção de julgamentos e a tomada de decisões. Destacamos que essas três categorias de Avaliação não são excludentes e tornam-se mais abrangentes quando são consideradas no conjunto, o que nem sempre tem sido feito pelo Governo, conforme veremos.

Outra forma clássica de classificação da Avaliação é feita segundo a natureza do que se pretende avaliar, assumindo em cada caso o nome de Avaliação de Produto, Processo ou Institucional. A Avaliação de Produto pretende verificar se os resultados foram alcançados, o que significa mensurar se o valor agregado do processo ensino-aprendizagem foi adequado; a Avaliação de Processo é um instrumento de controle de qualidade, que possibilita a intervenção ao longo do processo, objetivando resultados satisfatórios e a Avaliação Institucional pretende analisar um escopo maior e pode ser aplicada no âmbito de um Curso ou de um Departamento, de um Instituto ou de uma Universidade.

1 Entre os autores consagrados na fundamentação teórica sobre Avaliação citamos Bloom, Tyler, Scriven,

Gardner, Anderson, Ball e Murphy. Em relação aos textos de revisão teórica sobre o assunto mais utilizados na presente pesquisa, destacamos Afonso (2000), Firme (1994) e Avaliação: tema para reflexão. Folha Dirigida, Rio de Janeiro, 28 ago. 2001.

(29)

Nesta pesquisa centramos nossa atenção no Curso de Odontologia da PUC Minas que foi criado em 1974 e, desde a época de sua fundação vinha sendo bastante concorrido em termos de demanda nos concursos vestibulares, caracterizando-se por seu comprometimento com a qualidade de ensino, e, procurando formar profissionais clínicos gerais competentes que se tornaram muito requisitados pelo mercado de trabalho. Em 1997, a área de Odontologia foi avaliada pela primeira vez, pelo Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior Brasileiro, nos itens Exame Nacional de Cursos, Exame Nacional de Cursos, popularmente conhecido como Provão, bem como na Titulação e Dedicação do Corpo Docente. Conforme mencionamos na Introdução deste trabalho, o Curso da PUC Minas obteve o conceito C em todos os quesitos avaliados e esse resultado inesperado, amplamente divulgado na mídia, desencadeou uma reestruturação no Curso que redirecionou a trajetória do mesmo.

Embora o resultado dessa Avaliação não possa ser considerado como único fator determinante na notória diminuição da demanda para o Curso no Processo Seletivo, seus efeitos são perceptíveis.2 Mantendo, desde a sua fundação, uma relação candidato/vaga, em média, superior a trinta, acabou por constituir-se, quase todos os anos, durante mais de duas décadas, como sendo o Curso mais concorrido da PUC Minas. Constatamos, entretanto, que nos últimos cinco anos houve uma queda expressiva, superior a 75%, no número de interessados pelo Curso, conforme é possível verificar no gráfico 1, a seguir.

Relação Candidato/Vaga, entre 1994 e 2001

0 10 20 30 40 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Ano Relação Candidato/Vaga

Gráfico 1: Relação Candidato/Vaga, para o Curso de Odontologia, entre 1994 e 2001

2 A diminuição de demanda foi também observada no Processo Seletivo para o curso de Odontologia da UFMG.

A relação candidato/vaga que na década de 90 mantivera -se no patamar de pelo menos trinta candidatos por vaga, passa a vinte e quatro e dezenove nos anos de 2000 e 2001, respectivamente.

(30)

Apesar do número de vagas para Odontologia, em Belo Horizonte, ter sido mantido ao longo da última década, um fator que decididamente colaborou para a redução da relação candidato/vaga para os Cursos de Odontologia no país, parece ter sido o crescimento no mesmo período, do número de vagas, particularmente na rede privada de ensino e a conseqüente inflação de profissionais no mercado de trabalho. O número de Cursos de Odontologia triplicou no Brasil, nas últimas décadas, com uma oferta de cerca de doze mil vagas anuais, em quase cento e trinta cursos, enquanto que há cinco anos formavam-se em torno de oito mil profissionais/ano. Isso se reflete diretamente na razão “dentista/número de habitantes”, que apresenta atualmente valor médio de 1/1000 para o Brasil, 1/730 para a região Sudeste e 1/320 para Belo Horizonte, sendo que a Organização Mundial de Saúde, preconiza como ideal a razão 1/1500. A Odontologia enfrenta situação semelhante a da Medicina que atualmente oferece cerca de 9000 vagas, em uma centena de cursos, mais da metade na região Sudeste. Sobre a razão “médico/número de habitantes”, a Medicina apresenta 1/700 para o Brasil enquanto a Organização Mundial de Saúde recomenda 1/1000. Para as duas áreas existe um excedente profissional de pelo menos 30% em relação aos valores sugeridos pela organização internacional.3

As saídas encontradas pelo Colegiado de Curso, bem como a reação da comunidade envolvida após a divulgação do resultado da Avaliação, serão discutidas, a partir do Sistema de Avaliação de Ensino Superior, que no âmbito da Graduação, compõe-se dos instrumentos: o Exame Nacional de Cursos, a Avaliação das Condições de Oferta, o Programa de Avaliação das Universidades Brasileiras, conhecido como PAIUB e Censo de Educação Superior.4

3 A UFMG e a PUC Minas praticamente mantiveram suas ofertas de vagas nos últimos 25 anos e apenas a partir

do segundo semestre de 2001, ocorre um acréscimo de 60 vagas semestrais oferecidas pelo Centro Universitário Newton de Paiva. Esses dados estatísticos foram extraídos de Araújo e outros (1999), Jeunon e Santiago (1999), MARCOS, B. Ensino Odontológico: novos cursos, mais profissionais e menos demanda da população. Jornal do

CROMG, Belo Horizonte, ano 19, n. 107, p. 8-9, jan./fev. 2000; Odontologia enfrenta mudanças no ensino e no

mercado de trabalho. Jornal do CROMG, Belo Horizonte, ano 20, n. 114, p 8-9, mar. 2001.

4 O PAIUB, um programa que surgiu nas universidades públicas, no início dos anos 90, foi incorporado e

parcialmente financiado pelo MEC a partir de 1993, quando ocorreu a adesão de grande parte das universidades brasileiras. O Programa foi praticamente abafado diante da gigantesca campanha de comunicação articulada pelo próprio MEC, a partir de meados da década, particularmente em torno do Provão. O Censo da Educação Superior faz parte do Censo Educacional, realizado anualmente, desde 1996, junto às Instituições de Ensino Superior, para fins de coleta de dados e informações estatísticas do Sistema de Educação Superior. Na Avaliação das Condições de Oferta, os itens considerados são qualificação docente, instalações e organização didático-pedagógica. A “qualificação docente” considera: titulação, regime de trabalho, produção científica, experiência profissional acadêmica e não acadêmica, relação professor/aluno, plano de cargos e salários, qualificação e regime de trabalho do Coordenador. A “organização didático-pedagógica” avalia: concepção e execução do currículo, estrutura curricular, bibliografia, pesquisa e produção cientifica, estágios desenvolvidos ou propiciados pelo curso e atividades permanentes de extensão; As “instalações” consideram: bibliotecas, laboratórios, oficinas, salas de

(31)

Detalhamos, a seguir, os critérios e conceitos dos principais instrumentos de Avaliação, a saber: o Exame Nacional de Cursos e a Avaliação das Condições de Oferta.

Instrumento Início Critérios/Conceitos

1996 12% A, 18% B, 40% C, 18% D, 12% E ENC 2001 A: Nota do Curso ≥ M+δ B: M+δ>Nota Curso ≥M+0,5δ C: M+0,5δ>Nota Curso>M-0,5δ D: M-0,5δ≥Nota do Curso>M-δ E: Nota do Curso ≤ M-δ ACO 1997

CMB (condições muito boas)=70% de conceitos A CB (condições boas)=70% de conceitos A e B CR (condições regulares)=70% de conceitos A, B e C

CI (cond. insuficientes)=menos de 70% de conceitos A, B e C.

Tabela 1: Critérios e Conceitos adotados no ENC e na ACO, ao longo do tempo.

δ=desvio padrão (medida da dispersão em torno da média) da distribuição das notas dos cursos Fonte: http://www.mec.gov.br

Esse empenho em traçar o perfil e estabelecer o controle do Ensino Superior no país está respaldado pela base legal discriminada na tabela 2. O Exame Nacional de Cursos surge, em 1996, por força da Lei nº 9131/95 que foi regulamentada, em conjunto com a Avaliação das Condições de Oferta, através do Decreto nº 2026/96. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB, Lei nº 9394/96, foi aprovada e sancionada no atual Governo, após um processo complexo e polêmico, que durou oito anos. Segundo Cury:

“A lei registra, de modo especial, as vozes dominantes que lhe deram vida. Mas registra também vozes recessivas, abafadas umas e silenciadas outras, todas imbricadas no complexo processo de sua tramitação. Por isso a leitura da LDB não pode prescindir desta

aula e outros equipamentos indispensáveis à execução do currículo. A meta é que a Avaliação das Condições de Oferta seja anual, mas desde a sua implantação, cada curso só foi avaliado uma única vez.

( )

(

)

Cursos dos Média n N M 1 n n N N n n 1 i n 1 2 n 1 i 2 i = = −       − = δ

(32)

polifonia presente na lei, polifonia nem sempre muito afinada, polifonia dissonante.” (Cury, 1997, p.4) 5

Base Legal Data Sobre o Sistema de Avaliação de Ensino Superior

Lei nº 9.1316 24/11/1995 Estabelece a realização de avaliações periódicas das IES e dos cursos de graduação.

Decreto nº 2.026 10/10/1996 Estabelece procedimentos para o processo de avaliação dos cursos e das IES.

Lei nº 9.394 20/12/1996

Incumbe a União de avaliar os cursos e as IES e torna obrigatório, através de seu artigo 46, o reconhecimento periódico dos cursos de graduação, subsidiado por um processo prévio de avaliação externa.

Tabela 2: Base legal do Sistema de Avaliação de Ensino Superior. Fonte: http://www.inep.gov.br

Essa legislação dos anos 90 insere-se no contexto da Reforma do Estado brasileiro que pretende modernizar e racionalizar as atividades estatais, tendo como pressuposto ideológico básico o mercado. Essa reforma posiciona os direitos sociais, como a educação e a saúde no setor de serviços, percebendo a Universidade como uma prestadora de serviços, introduzindo na mesma o vocabulário neoliberal da “qualidade”, “avaliação” e “flexibilização”, palavras de ordem, oriundas da organização do trabalho, do modelo japonês toyotista, das décadas anteriores7. Acerca desse aspecto Chauí nos alerta que:

“Adaptando-se às exigências do mercado, a universidade alterou seus currículos, programas e atividades para garantir a inserção profissional dos estudantes no mercado de trabalho... Regida por contratos de gestão, avaliada por índices de produtividade, calculada para ser flexível, a universidade operacional está estruturada por estratégias e programas de eficácia organizacional e, portanto, pela particularidade e instabilidade dos meios e dos objetivos.”8

5

O texto completo da Lei encontra-se em: BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. DOU, Brasília, 23 dez. 1996. Para detalhes do processo de discussão dessa Lei, indicamos além de Cury (1997), Neves (1995), Saviani (1997) e Demo (1997).

6 Essa lei, além de criar o Exame Nacional de Cursos, extingue o Conselho Federal de Educação e cria o

Conselho Nacional de Educação.

7

O toyotismo, formulado por Ohno, engenheiro da Toyota, difundido no Ocidente a partir dos anos 70, parte do princípio de que, numa conjuntura de crise e de baixos índices de crescimento, o que mais importa é a possibilidade de atender a uma mudança contínua no produto e nos processos, em função das novas necessidades do mercado. O modelo pressupõe um trabalhador mais autônomo, com boa formação geral, capaz de adaptar-se rapidamente a novas demandas de aprendizado. Nesse mo delo, o controle é transferido do âmbito da gerência para o dos trabalhadores de tal forma que aqueles que não aderirem ao espírito do modelo, ficam isolados e marginalizados pelos companheiros de trabalho. Ver: Oliveira (1997) e Uhle (2001).

8

(33)

A Nova LDB, como ficou conhecida, oferece, por um lado, ampla autonomia, possibilitando, como corolário, um processo de flexibilização didática, pedagógica, científica e administrativa, mas em contrapartida, aumenta as exigências e torna mais severos os parâmetros para a avaliação da qualidade de ensino nas instituições. Essa Lei sugere uma reforma no Ensino Superior, por vezes intitulada de “autonomia avaliada” ou “autonomia contratualizada”, estruturada nos eixos da avaliação e da autonomia, que se encontram interligados. Vários aspectos da autonomia das Instituições de Ensino Superior, atrelados aos resultados do Exame Nacional de Cursos e da Avaliação das Condições de Oferta (tabela 3), demonstram que a Avaliação passa a assumir uma forma de gerenciamento e controle dessas Instituições.

Base legal Artigo Estabelece/Recomenda

Portaria 2.175 27/11/1997 4º

Concessão de expansão de vagas, sem consulta ao MEC, para cursos avaliados com A ou B, no ENC, por 2 anos consecutivos.

Portaria 755

11/05/1999 1º

Abertura de processo de renovação de reconhecimento, para cursos avaliados com conceito D ou E, em 3* avaliações consecutivas do ENC ou com CI em 2 aspectos ou mais da ACO.

*Bastam 2 conceitos ruins para os cursos de Letras e Matemática. Parecer 784

11/08/1999

Renovação automática de reconhecimento, por 5 anos, para cursos avaliados com conceitos A e B, em 3 avaliações consecutivas do ENC e que não tenham recebido nenhum CI na ACO.

Parecer 1.070 23/11/1999

Renovação automática de reconhecimento, por 5 anos, para cursos avaliados com conceitos A ou B, no ENC imediatamente anterior ao pedido de renovação.

Portaria 1.466 12/07/2001 3º

Autorização de cursos fora da sede, por universidades, que possuírem pelo menos um programa de pós-graduação stricto

sensu, avaliado positivamente pela Capes (conceito ≥ 3), pelo menos 50% de conceitos A, B e C no último ENC e CMB, CB e CR na ACO.

Portaria 1.465 12/07/2001 7º

Recredenciamento automático, por 5 anos, de universidades e centros universitários que possuírem pelo menos um programa de pós-graduação stricto sensu, avaliado positivamente pela Capes (conceito ≥ 3), com pelo menos 50% de conceitos A e B nos 3 últimos ENC e conceitos CMB e CB na ACO.9

9

As demais instituições, com prazo de credenciamento vencido na data da publicação da portaria, como era o caso da PUC Minas, tiveram até o dia 12/10/2001 para apresentarem pedido de recredenciamento, que após concedido, deverá ser refeito até 180 dias antes do vencimento. Universidades e Centros Universitários com avaliações negativas terão até um ano para sanear suas deficiências, sob pena de serem reclassificadas ou até mesmo descredenciadas.

(34)

Base legal Artigo Estabelece/Recomenda Portaria 92 18/01/2001 Lei 10.260 12/07/2001 7º

Poderá habilitar-se ao FIES*, o estudante brasileiro regularmente matriculado em curso superior não gratuito e com avaliação positiva** nos processos conduzidos pelo MEC.

*FIES = Financiamento ao estudante do Ensino Superior

** Considera-se curso com avaliação positiva, aquele que não tenha obtido conceitos D ou E em três avaliações consecutivas do ENC, nem tenha obtido CI em dois ou mais aspectos da ACO.

Suspensão de reconhecimento* para cursos avaliados com conceitos D e E nas três ultimas avaliações do ENC e conceito CI na dimensão “corpo docente” da ACO mais recente.

*O MEC dará um prazo de um ano para que as deficiências sejam corrigidas, durante o qual o Processo Seletivo deverá ser suspenso. Se as deficiências não forem sanadas o Curso será desativado.

Portaria 1.985 12/09/2001

Suspensão temporária de suas prerrogativas para abertura de novos cursos superiores e ampliação de vagas nos ursos existentes para Universidades e Centros Universitários que tenham obtido D e E em três avaliações consecutivas do ENC e um conceito CI na dimensão “corpo docente” em, pelo menos, 50% de seus cursos de graduação.

Portaria 2.402

09/11/2001 1º/2º

Concessão de expansão de vagas em até 50%, para os cursos* das IES que tenham sido autorizados ou reconhecidos com conceitos globais CMB, CB, A ou B, que não tenham obtido nenhum D ou E no ENC e nenhum CI na ACO.

* Não se aplica à Medicina, Odontologia e Psicologia, que devem ouvir ao Conselho Nacional de Saúde.

Tabela 3: Atrelamento da autonomia das IES com o resultado do ENC e da ACO. Fontes: http://www.inep.gov.br e Enciclopédia (2000).

Percebe -se ainda, particularmente no caso das Universidades Públicas, uma redução da autonomia universitária de sentido sócio-político, à gestão de receitas e despesas, de acordo com contratos, em que, o Estado estabelece metas e indicadores de desempenho, que determinam ou não a renovação dos mesmos. A fim de cumprir suas metas, as universidades têm autonomia para a captação de recursos junto à iniciativa privada. Essas Universidades passaram por reajustes orçamentários, através de rearticulações administrativas, transformando-se de Instituições Sociais em Organizações, cuja autonomia depende de seu sucesso e sua eficácia, medidos em termos da gestão de recursos e estratégias de desempenho, cuja articulação com as demais se dá por meio da competição. Assiste-se, de fato, a partir dos anos 90, a um desmonte programado e intencional de todo um sistema de saberes, vinculado

(35)

prioritariamente às Instituições Públicas, destacando-se a ideologia da privatização como temática preferencial da imprensa.10

Chega-se a exaltar, particularmente na mídia impressa, a flexibilidade, a amplitude do leque de Cursos, a oferta de Cursos de curta duração, a sintonia com o Mercado e a ausência de greves como atrativos da rede particular de Ensino Superior. De fato, o setor privado, alerta às flutuações do Mercado, tem lançado Cursos em áreas que pretendem suprir a demanda por novidades. Ao mesmo tempo em que o Ensino Público é exaurido de recursos, a expansão da rede privada é apoiada e subsidiada pelo poder público, sem qualquer mecanismo de controle social, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, que liberou, nos últimos dois anos 750 milhões de reais para o setor, da concessão de 160 mil benefícios do Financiamento ao Estudante de Ensino Superior, que cobre até 70% do valor das mensalidades, com taxa de 9% ao ano e da isenção de impostos.11 Com relação a essa isenção, Cunha, nos adverte que:

“A acumulação de capital do Ensino Superior foi feita com um enorme incentivo fiscal. Desde a Constituição de 1937, essas instituições são isentas de impostos sobre o patrimônio, a renda e os serviços.... Quando se vê uma grande instituição que nasceu de um cursinho como a Unip, ou de um pequeno ginásio como a Gama Filho, no Rio, que em algumas décadas se transformaram nesses impérios, a gente pensa que a acumulação de capital foi só pelo pagamento na boca do caixa pelos estudantes. No entanto, também foi importante a imunidade fiscal.”12

Com relação à distribuição de recursos para o Ensino Superior, verificamos também o atrelamento entre a avaliação e a autonomia das Instituições de Ensino Superior, quando o MEC anuncia, em 1999, a utilização do resultado das avaliações das Instituições Federais para a alocação de recursos de manutenção e investimento, significando que resultados inadequados teriam reflexo negativo direto no caixa das instituições. Este critério de distribuição de recursos para as Instituições Públicas foi questionado, principalmente a partir do ano 2000, quando assistimos à distribuição de recursos para instituições privadas, provenientes do BNDES, destinados a corrigir problemas de infraestrutura, justamente para as

10

Para detalhes ver: Cury (1997), Catani (1998), Chauí (1999) e Romano (2000).

11 ‘Currículo de qualidade’ e ‘Para quem tem pressa’. O Dia, Rio de Janeiro, 09 nov. 2001; Cresce a oferta de

cursos nas instituições brasileiras. Folha Online, São Paulo, 19 nov. 2001.

12

Luiz Antonio Cunha em entrevista à revista Caros Amigos: Era uma vez um rei chamado D. joão VI... Caros

(36)

Instituições que teriam feito investimentos insuficientes nesse item. A PUC Minas também se beneficia, conforme veremos, dessa liberação de recursos. Sobre esse assunto, enquanto o Ministério argumenta que, investimentos na construção de prédios e compra de equipamentos, contribuiriam para a necessária expansão do Ensino Superior, os baixos resultados, obtidos na Avaliação pelas Instituições de Ensino Superior particulares, estariam demonstrando que o Brasil investe verba pública em escolas de má qualidade.13

O Sistema de Avaliação do Ensino Superior, dada a sua função de gerenciamento e controle, pretende cobrir ainda nesta década, todo o Ensino Superior. As áreas incluídas na Avaliação, a partir de 1996, são apresentadas, em seguida, na tabela 4. Em média, têm sido acrescentadas ao Exame, quatro áreas por ano, com um aumento anual de 37% no número de inscritos, com a presença de 92% dos mesmos.

Ano Áreas incluídas no Sistema de Avaliação Nº de Áreas Nº de Inscritos % Pré- sença % Branco

1996 Administração, Direito, Engenharia Civil 3 59.343 94 12 1997 Engenharia Química, Medicina Veterinária,

Odontologia 6 94.296 91 2

1998 Jornalismo, Engenharia Elétrica, Letras,

Matemática 10 142.107 89 2

1999 Medicina, Economia, Engenharia Mecânica 13 173.641 92 1 2000 Agronomia, Biologia, Física, Psicologia,

Química 18 213.590 93 1

2001 Farmácia, Pedagogia 20 278.668 94 2

2002 Arquitetura e Urbanismo, Ciências Contábeis, Enfermagem e Obstetrícia, História 24 2003 Computação, Fonoaudiologia, Geografia,

Serviço Social e Terapia Ocupacional 29

Tabela 4: Áreas incluídas no Sistema de Avaliação, a partir de 1996. Fonte: http://www.inep.gov.br.

13

Segundo Romano (1999), quando o Ministro foi questionado sobre os 300 milhões de dólares que seriam emprestados às universidades privadas, ele teria dito que não se tratava de dinheiro publico mas sim do BNDES! Sobre essa questão, indicamos Romano (1999); MEC mudará forma de distribuição de recursos. O Estado de

São Paulo, São Paulo, 20 jun. 1999; MEC prioriza verbas para curso reprovado. Folha de São Paulo, São Paulo,

(37)

A inclusão mais polêmica até o momento foi a da Medicina, prevista desde 1996, que deveria ter sido o primeiro Curso da área de Saúde, a participar do Exame. A entrada da Medicina no Provão foi negociada com o MEC, durante três anos, com resistência do Conselho Federal de Medicina, que defende a avaliação feita pela Comissão Interinstitucional de Avaliação do Ensino Médico, Cinaem. Essa Comissão surgiu como um contraponto a um “exame da ordem” e desde 1991, foram construídas e aplicadas quatro fases de trabalho, visando a transformação do Ensino Médico, através de um diagnóstico aprofundado e global. Mesmo sendo voluntária, essa Avaliação tem envolvido a quase totalidade dos cursos de Medicina do país e segue desde 1999, como sendo paralela ao Exame Nacional de Cursos.14 Além desta, várias alternativas de avaliação têm sido propostas, por Conselhos e Associações, em substituição ou complementação ao Sistema de Avaliação proposto pelo Governo.15

Com relação à Avaliação do Corpo Docente, a Comissão de Especialistas de Ensino, por ocasião da Avaliação das Condições de Oferta dos Cursos faz uma análise que, conforme mencionamos, considera a titulação, o regime de trabalho, a produção científica, a experiência profissional acadêmica e não acadêmica, a relação professor/aluno, o plano de cargos e salários e a qualificação e o regime de trabalho do Coordenador do Curso. Independentemente dessa Avaliação mais detalhada, as Instituições de Ensino Superior enviam anualmente ao MEC, desde 1996, por ocasião da inscrição dos alunos no Exame Nacional de Cursos, o cadastro dos professores em exercício e recebem conceitos de Titulação e Jornada de Trabalho, de acordo com os critérios descritos na tabela 5.

14

Sustentada em teóricos como Boaventura de Sousa Santos e Gilles Deleuze e na Teoria da Ação Social de Carlos Mattos, a Cinaem utiliza instrumentos variados. Na avaliação discente, por exemplo, o objetivo da Comissão é estabelecer uma curva evolutiva, muito mais do que medir um desempenho estanque, em determinado momento do Curso, que só serve a um ranqueamento. Dessa forma é possível saber o quanto de conhecimento a escola transmitiu ao estudante. Ver: Provão de 1999 incluirá medicina, economia e engenharia mecânica. O Estado de São Paulo, São Paulo, 27 jun. 1998; Em medicina, a receita é mais eficaz. Caros

Amigos, ed. especial ensino superior, n. 9, nov. 2001; Provão: avaliação imperfeita do ensino médico. A Tarde,

Salvador, 21 dez. 2001.

15

OAB estuda adotar nota em seu exame. Folha de São Paulo, São Paulo, 29 maio 1999; Novos cursos já adotam avaliação alternativa. Folha de São Paulo, São Paulo, 12 jun. 1999; Universidades particulares terão exame igual ao provão. O Estado de São Paulo, São Paulo, 24 jun. 1999; OAB pretende criar ranking de cursos de direito. O Estado de São Paulo, São Paulo, 06 out. 1999; Reitores têm modelo para avaliar ensino superior. O

Estado de São Paulo, São Paulo, 11 abr. 2000, Conselho de Psicologia é contra o Provão. Folha de São Paulo,

São Paulo, 07 jun. 2000; Selo ´OAB recomenda`. Hoje em dia, Belo Horizonte, 03 fev. 2001; Conselhos querem aprimorar formação. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 04 fev. 2001.

Referências

Documentos relacionados

nesta nossa modesta obra O sonho e os sonhos analisa- mos o sono e sua importância para o corpo e sobretudo para a alma que, nas horas de repouso da matéria, liberta-se parcialmente

utilizada, pois no trabalho de Diacenco (2010) foi utilizada a Teoria da Deformação Cisalhante de Alta Order (HSDT) e, neste trabalho utilizou-se a Teoria da

A tendência manteve-se, tanto entre as estirpes provenientes da comunidade, isoladas de produtos biológicos de doentes da Consulta Externa, como entre estirpes encontradas

Os principais objectivos definidos foram a observação e realização dos procedimentos nas diferentes vertentes de atividade do cirurgião, aplicação correta da terminologia cirúrgica,

4 Este processo foi discutido de maneira mais detalhada no subtópico 4.2.2... o desvio estequiométrico de lítio provoca mudanças na intensidade, assim como, um pequeno deslocamento

segunda guerra, que ficou marcada pela exigência de um posicionamento político e social diante de dois contextos: a permanência de regimes totalitários, no mundo, e o

La asociación público-privada regida por la Ley n ° 11.079 / 2004 es una modalidad contractual revestida de reglas propias y que puede adoptar dos ropajes de

Estes autores citam que algumas ideias que apareceram no passado e inclusive propostas atualmente no Brasil, como a de que o sistema de capitalização é sempre mais