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PAINEL CRIAÇÃO CÊNICO-DRAMATÚRGICA COM IDOSOS

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Academic year: 2021

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PAINEL

CRIAÇÃO CÊNICO-DRAMATÚRGICA COM IDOSOS

Orientador: Prof. Ms. Ricardo Carvalho de Figueiredo – Doutorando em Artes Vânia Pereira Silvério – Licencianda em Teatro

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Resumo: Criação Cênico-Dramatúrgica com idosos pretende situar o leitor do trabalho teatral desenvolvido no

Projeto Educação Física para 3ª Idade, buscando sistematizar sua atuação. Tal trabalho deriva do projeto de

extensão Universitária do curso de Graduação em Teatro da Escola de Belas Artes/ UFMG intitulado Teatro e

Memória na 3ª Idade, o que norteia a investigação das memórias pessoais e coletivas como referencial criativo

para criação de roteiros dramatúrgicos. O desenvolvimento da oralidade tem contribuído sistematicamente para este trabalho bem como a contação de historias, tão recorrente junto aos idosos. Assim, as memórias são fontes de potência criativa que tem resultado em cenas de improvisações, esquetes teatrais e espetáculo, este ainda em desenvolvimento, permitindo o reconhecimento de sua própria história, agora impregnada de ficção e realocada no tempo e espaço.

PALAVRAS CHAVE: Idosos; Memória; Criação Teatral.

1 - O PRÓLOGO

Abrem-se as cortinas para os trabalhos teatrais no Projeto Educação Física para 3ª Idade1 em Setembro de 2010. Projeto existente há quase 20 anos na escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Educacional da UFMG, os idosos frequentam assiduamente as aulas de Ginástica do projeto. E assim, é lançado o desafio: formar duas turmas interessadas em desenvolver um trabalho teatral, uma ação inédita em parceria com o curso de Graduação de Teatro da UFMG.

O Projeto Teatro e Memória na 3ª Idade vêm então corroborar com um projeto

existente proporcionando ao seu público a inserção em atividades culturais, especificamente neste caso o Teatro.

As aulas acontecem uma vez na semana, sendo uma turma no horário da manhã, o recém batizado Coletivo de Teatro Os Corajosos e outra turma à tarde o Coletivo de Teatro Nós EmCena.

A proposta de trabalho é investigar as Memórias pertencentes a estes grupos e destas trabalhar sua potencia criativa. A oralidade e a assim a Contação de Histórias associa-se a

1

O Projeto Educação Física para a Terceira Idade integra o Programa Promovendo a Autonomia e

Independência do Idoso na Comunidade. Este projeto objetiva oferecer atividades físicas, recreativas, e sócio –

culturais para a população idosa e promover debates a respeito do envelhecimento. Aulas de ginástica são ofertadas nos turnos da manha e tarde, tendo atualmente 3 turmas no período da manha e 2 à tarde, em 3 dias da semana. Além das atividades de ginástica, buscando valorizar a socialização e promovendo espaços de troca de experiências são realizados passeios recreativos, comemorações de datas festivas, além de palestras mensais com temas relevantes ao grupo de idosos.

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esta rede de investigação buscando acessar o imaginário destes coletivos, ressignificando suas vivencias, compartilhando momentos e construindo roteiros dramatúrgicos.

Buscamos assim, articular realidade e ficção fazendo da historia pessoal e coletiva a base contínua da criação num grande jogo de entrelaces e confluências.

2 - ATO ÚNICO - CRIAÇÃO CÊNICO-DRAMATÚRGICA

As aulas de teatro com os idosos tem se articulado num verdadeiro espaço de construção de saberes. Oferecemos um espaço de criação e descobertas por meio do teatro e recebemos entre tantas doações, verdadeiras lições de vida, cheias de sabedoria, e a certeza de que o aprendizado e a criatividade desenvolvem-se independente de idade, sexo, gênero ou classe social. Em sala de trabalho são todos iguais e portadores de suas historias de vida e desejosos em construir novas relações de afeto e cumplicidade.

Dessa forma, as atividades são planejadas de acordo com os momentos de trabalho. No alicerce das aulas buscamos desenvolver trabalhos de alongamento corporal, de noções de espaço, de expressão corporal e de aquecimento vocal. Os jogos teatrais “ajudam a desmecanização do corpo e da mente alienados às tarefas repetitivas do dia a dia, especialmente as do trabalho e as condições econômicas, ambientais e sociais de quem os pratica” (BOAL, 2010 p. 16).

Teoricamente nos pautamos nos sistema dos Jogos Teatrais (Spolin games) para a criação de improvisações e para aquisição da linguagem cênica. As historias relatadas em rodas, momentos denominados de Hora de Lembrar são posteriormente improvisados cenicamente e resultam em momentos de construção e desconstrução das mesmas. A Hora de lembrar foi um recurso elaborado para proporcionar descontraídos momentos de trocas, onde as reminiscências são compartilhadas e acessadas de forma sutil e delicada. A simples lembrança do outro acessa um momento de minha infância que acessa a juventude do outro e que sucessivamente produz uma multiplicidade de relatos, de lembranças, e consequentemente, de material cênico, dramatúrgico e criativo.

Os trabalhos vocais são direcionados no sentido da projeção vocal, da articulação e do

uso consciente e saudável da voz. Ouvimos relatos de que estes trabalhos têm contribuído socialmente na comunicação com o outro e que ainda tem exorcizado traumas passados, como no caso de uma idosa que era recriminada pelo pai por falar as palavras muito bem articuladas e que “aqui no teatro eu tenho que falar assim e me sinto muito bem”. (depoimento de aluna do projeto).

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O Protocolo, utilizado como recurso avaliativo, permite que os alunos socializem suas impressões, imagens e críticas para a composição cênica e, para tanto, foi adotado o registro no Caderno da Memória onde a cada semana um novo participante registra suas impressões sobre as aulas de Teatro. Neste caderno cada integrante tem a liberdade de imprimir, da maneira que julgar mais interessante, o que as aulas de teatro têm acessado, sensibilizado, influenciado e despertado nele. Cada um a sua maneira, vai construindo sua forma de deixar marcada a história pessoal, contribuindo assim para uma elaboração coletiva na turma.

As propostas dramatúrgicas resultam da interpenetração da ficção na realidade e da realidade na ficção, partindo destas memórias. Mas de que referencia de memória estamos falando?

“Memória é a capacidade de a mente humana fixar, reter, evocar e reconhecer

impressões ou fato passados” (FERNANDES e LOUREIRO, 2009, p.56). Neste percurso

entendemos memória como o ato de lembrar. Buscamos acessar essas lembranças, reminiscências, recordações. Garantindo ao individuo a liberdade de expressão e assim a seleção pessoal do que ele esta interessado em lembrar, em contar, e da forma como ele vai expressar. Valendo ainda saber que:

“O passado lembrado nunca é linear. A narração avança e recua sobre a linha do tempo, como que transbordando a finitude espaciotemporal que é própria dos acontecimentos vividos. As lembranças abrem portas para o que veio antes e depois. (FERNANDES e LOUREIRO, 2009, p. 63).

Assim, chegam relatos de aparência verídicos e outros de cunho ficcional já impregnados de invenção. Dada essa abertura, propomos o compartilhamento da lembrança como desejarem, imbuída do real ou do imaginário. E surge daí também contos e lendas que atravessam gerações, que foi ouvido do pai e que hoje já esta sendo contando ao bisneto.

Nesta perspectiva construímos as aulas e apresentações ao público. O primeiro

trabalho desenvolvido foi um encontro com as crianças da UMEI2 Alaíde Lisboa do Projeto

Teatro e Infância3.

Este encontro intergeracional entre os idosos e as crianças pautou-se na Contação de Histórias. Assim foram resgatadas as histórias que estes ouviam dos seus pais e/ou avós e as historias que contaram aos seus filhos e/ou netos.

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Unidade Municipal de Educação Infantil de Belo Horizonte, localizada dentro do campus da UFMG.

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Teatro e Infância é um Projeto de Extensão coordenado pelo Prof. Ricardo Carvalho de Figueiredo e busca oferecer aulas e apresentações teatrais dentro do espaço escolar, para crianças de quatro anos de idade.

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No primeiro semestre de 2011 a investigação cênico-dramatúrgica buscava delineamentos para um espetáculo. Neste ponto cabe lembrar que como estamos falando de dois Coletivos, o Coletivo de Teatro Os Corajosos (manhã) e o Coletivo de Teatro Nós EmCena4 (tarde) estes processos aconteceram paralelamente em ambas às turmas. Porém, no meio do semestre o desejo de montar um esquete para as festividades juninas do projeto, nos fez repensar o foco e trabalhar em prol desta apresentação.

Nesta etapa, os contos e lendas desta época do ano vieram à tona e resultou nas esquetes Em tempos de contos e piadas... Quem será os ladrões de goiaba? do Nós EmCena, dramaturgia construída de contos e piadas levadas pelos integrantes. Já Os Corajosos apresentaram O Sonho de Belinha, dramaturgia que também se pautou dos relatos do grupo, mas que foi escrita por Ieda Machado, uma integrante da turma. As imagens abaixo mostram estas apresentações:

Foto de Ramon Loyola

Em tempo de contos e piadas... Quem será os ladrões de goiaba? – Coletivo de Teatro Nós EmCena – Apresentado dia 04/07/11 na festa junina do Projeto Educação Física para 3ª Idade.

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Os nomes dos Coletivos foram escolhidos democraticamente pelas turmas. Todas as sugestões de nomes partiram dos integrantes. Após a escolha as turmas se encontraram e uma turma apadrinhou a outra batizando-a em nome do Teatro.

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Foto de Ramon Loyola

O Sonho de Belinha – Coletivo de Teatro Os Corajosos - Apresentado dia 04/07/11 na festa junina do Projeto Educação Física para 3ª Idade.

Com o início do 2º semestre voltamos à investigação anteriormente iniciada para construção de um espetáculo baseados nas memórias coletadas em sala, relatadas no Caderno da Memória ou entregues em manuscrito. Num contínuo jogo de relatos e improvisação, de sub-grupos que construíam uma narrativa única do entrelace de suas histórias, e de músicas e proposições de cena e situações. Assim, estamos em fase de montagem de dois espetáculos, um em cada turma, que ainda não possuem nome definido.

A dramaturgia do Nós EmCena gira em torno das histórias de pescadores, onde pescadores amigos saem para o mar em uma jangada e começam a pescar suas lembranças impregnadas de uma boa dose de imaginação. Já Os Corajosos brincam com a descontração do parque de diversões, das paqueras e flertes e das línguas inventadas para marcar encontros escondidos dos pais. Ambos com estréia prevista para Novembro de 2011.

Dessa forma, estes grupos de idosos vão se encontrando e reencontrando dentro do teatro e com suas próprias vidas, ao se permitirem criar, recriar e assim reinventar sua própria história.

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3 - DO DESFECHO

A criação cênico-dramatúrgica com idosos tem se mostrado um rico espaço de desenvolvimento da oralidade, de conhecimento e reconhecimento dos sujeitos, de conhecimento histórico-social, de potência criativa e expressão teatral.

Foi perceptível como que a cada novo encontro os sujeitos foram se sentindo mais a vontade para se expressarem, criando um espaço de cumplicidade, pautado no respeito e na descontração.

Academicamente este Projeto Universitário tem garantido à discente experiência profissional em atividade extracurricular inserindo-a no exercício da docência e da criação teatral, pois sendo professora de teatro, exercita-se na construção da dramaturgia e da direção teatral.

O trabalho com as duas turmas vem salientar a importância da escuta para cada coletivo, sendo que embora a proposta de criação fosse à mesma para ambas, o desenvolvimento em cada turma toma rumos absolutamente diferentes, pois a individualidade de cada coletivo, impregnada pela individualidade de cada sujeito, torna o trabalho único e indissociável.

A cada novo encontro ensinamos e aprendemos, compartilhamos, buscamos através do teatro expressar nossas formas de ver e se situar no mundo, imergindo em fértil campo de criação.

Assim, que as cortinas não se fechem para estes idosos que buscam a cada novo dia em suas vidas fazer um espetáculo único, com a certeza de que os aplausos serão apenas mais um motivo para caminhar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. RJ: Civilização Brasileira, 1998.

COMERCIO, Serviço Social do. A Terceira Idade: Estudos sobre Envelhecimento. Revista. FERNANDES, Maria das Graças Melo e LOUREIRO, Lara de Sá Neves. Memória e história oral: a arte de recriar o passado de idosos. Vol. 20. SESC SP, nº 45 – Junho de 2009.

KOUDELA, Ingrid. Jogos Teatrais. SP: Perspectiva, 1984.

SPOLIN, Viola. Improvisação para o Teatro. SP: Perspectiva, 2005.

VENANCIO, Beatriz Pinto. Pequenos espetáculos da Memória: registro cênico-dramatúrgico de uma trupe de mulheres idosas. São Paulo: Aderaldo & Rothschild, 2008.

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