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Eça de Queirós Os Maias

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Academic year: 2021

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Eça de Queirós – Os Maias

1.

Vida, obra e época

Nasceu a 1845 e morreu em 1900. Viveu entre Lisboa e Paris e a sua época caracteriza-se pelo fontismo: desenvolvimento de novas infraestruturas, de um relativo progresso económico. Porém, a nível cultural predominava o Ultrarromantismo, na figura de António Feliciano de Castilho.

Eça, juntamente com outros, surgiam com novas ideias e esta geração rebelou-se contra a ordem conrebelou-servadora e retrógrada, pondo em questão toda a cultura portuguesa.

A década de 70, do século XIX, foi uma das mais polémicas da história da literatura nacional, marcada por profundas revoluções, nomeadamente, o Realismo que vem pôr a público os grandes males sociais, determinando-lhes as causas e explicando-lhes os efeitos.

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Uma vez que Os Maias demoraram cerca de oito anos a serem escritos, permitiram estar visíveis duas correntes literárias: Realismo e o Naturalismo. No final parece distanciar-se já delas, quando elege o destino como responsável pelo desenlace trágico da família.

O realismo caracteriza-se por ser uma reação antirromânticas, interessa-se pelo contemporâneo, pela realidade e pela análise social. Por sua vez, consegue misturar-se com o naturalismo, pois este último defende que o meio em que o indivíduo está inserido, o influencia na sua educação, na sua hereditariedade e na evolução do indivíduo.

Temas do Realismo:

 representação da vida burguesa, focando aquilo que tem de mais desagradável ou negativo (usura, cobiça, corrupção, sofrimento social, vício…);

 representação da vida urbana – é na cidade que as tensões sociais, políticas e económicas da vida burguesa se agudizam;

 análise das relações e dos conflitos sociais, resultantes de grandes desníveis entre classes sociais;

 O romance é a forma privilegiada pelos realistas – narrativa de grande fôlego que melhor se coaduna com a ideologia e o tratamento dos temas do realismo.

Temas do Naturalismo:

 o alcoolismo – como deformação social/ de caracteres;

 o jogo – consequência de determinadas situações de injustiça;

 o adultério – como denúncia de certo modo de vida resultante de uma educação romântica;

 a opressão social – como resultado do conflito de interesses, denunciando as suas causas económicas, políticas e sociais;

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 a doença (loucura, por exemplo) – enquanto manifestação de taras hereditárias

2.

Título

A ação baseia-se na história de três gerações da família Maia: Afonso, Pedro e Carlos.

Tem como tela de fundo a sociedade Lisboeta, de grande parte do século XIX.

3.

Subtítulo - «Episódios da vida romântica»

Este subtítulo remete para uma descrição do estilo de vida romântico, através da crónica de costumes, da sociedade Lisboeta, particularmente, da aristocracia e da alta burguesia da década de 70 do século XIX.

A crónica de costumes concretiza-se através da construção de ambientes e da atuação de personagens-tipo, revelando-se como uma ação aberta.

Os três elementos estruturadores da intriga são:

 Os antecedentes e a evolução da família Maia;

 A intriga – relação incestuosa de Carlos e Maria Eduarda;

 A visão dos costumes quotidianos da sociedade lisboeta no final do século XIX, que serve de cenário da intriga central.

Nota: Eça terá pretendido construir uma caricatura literária da sociedade romântica de Portugal do século XIX, espelhando os seus vícios burgueses, a estagnação tecnológica e científica, o papel meramente ornamental e desinteressante da figura feminina, o atraso em relação à cultura europeia, uma educação pouco prática e alienada de uma sociedade industrial e a imitação desenquadrada de modelos e formas de estar pouco adequados ao Portugal da

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época. O subtítulo adquire uma importância fundamental e foi nele que Eça de Queirós terá cimentado os alicerces estruturais da sua intenção crítico-literária.

4.

Os espaços

a.

Espaço físico

Os espaços físicos levam-nos a concluir que são muito importantes, uma vez que nos permitem concluir o modo de vida e as características das personagens. Eis os espaços físicos:

 Santa Olávia – o solar da família, no Douro, simboliza a vida, a regeneração de dois filhos varões da família e o clima ameno, sem poluição, que aí se sente, permite a purificação de Afonso.

 Lisboa – representa a essência de Portugal. A cidade está degradada moralmente, símbolo da sua decadência. A estátua de Camões surge exatamente como uma metáfora desta Lisboa. A Lisboa de Eça de Queirós é retratada através dos «Episódios da vida romântica».

 Ramalhete – está sediado em Lisboa, no Bairro das Janelas Verdes. Este local é especial ao longo da obra, pois é aí que se desenvolvem algumas intrigas e catástrofes, nomeadamente, a tragédia da família Maia. Parece-nos que a própria casa está amaldiçoada e é a causa da tragédia. Na verdade, a casa acompanha a evolução da teia narrativa. Numa primeira fase, o Ramalhete encontra-se desabitado, abandonado e degradado. Na segunda fase, já habitado por Afonso da Maia, sofre reestruturações e renasce, simbolizando a alegria, a vida, o seu apogeu e o da família. Por fim, na terceira fase, a tragédia abate-se sobre a família, com a descoberta do incesto de Carlos com Maria Eduarda e com a morte de Afonso, avô destes. O lugar passa a ter um aspeto lúgubre, de luto, triste, remetendo para a morte, para a ruína e a destruição da família Maia.

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 Cascata - Simboliza a regeneração e a purificação (tradição judaico-cristã). A água aparece num espaço físico preciso que metaforicamente se reporta à família Maia e à sua decadência.

 Consultório de Carlos – revela o seu diletantismo e a sua predisposição para a sensualidade.

 Casa de Maria Eduarda – era propriedade da mãe de Cruges e fica na rua de São Francisco. O primeiro andar estava alugado a ela e a Castro Gomes. Carlos tenta adivinhar a sua personalidade a partir dos espaços onde ela esteve: sensualidade, erotismo, entre outros. Os espaços anteriores a Lisboa, evidenciam os seus altos e baixos na vida: o convento, uma casa de jogo, uma casa de bairro, por exemplo.

 Vila Balsac – na Graça, em Lisboa, é o retiro amoroso de João da Ega.

 Toca – nos Olivais, local onde Carlos e Maria Eduarda se relacionam amorosamente. O nome sugere algo relacionado com os animais, pois é onde se escondem e onde se envolvem sexualmente. A decoração deste espaço pressagia a desgraça.  Paços de Celas, em Coimbra - educação de Carlos e as suas

primeiras aventuras amorosas.

 Estrangeiro – era visto como aquela oportunidade de resolver as coisas:

o Afonso da Maia exila-se em Inglaterra para fugir à intolerância Miguelista;

o Pedro e Maria Monforte vão viver para Itália e Paris devido à recusa do seu casamento pelo pai de Pedro;

o Maria Eduarda, ao descobrir o seu parentesco com Carlos, vai vier para Paris;

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o Carlos da Maia vai viver para Paris depois de se ter apercebido que falhara na sua vida.

b.

Espaço social

O espaço social é apresentado mediante os espaços onde as personagens se movimentam:

 o jantar no Hotel Central;  ida às corridas de cavalos;

 o jantar em casa dos Gouvarinhos;  o sarau do Teatro da Trindade;

outros:

a Corneta do Diabo e A Tarde;  o último passeio de Carlos e Ega.

O Jantar no hotel Central:

Entravam então no peristilo do Hotel Central—e nesse momento um coupé da Companhia, chegando a largo trote do lado da Rua do Arsenal, veio estacar à porta.

Um esplêndido preto, já grisalho, de casaca e calção, correu logo à portinhola; de dentro um rapaz muito magro, de barba muito negra, passou lhe para os braços uma deliciosa cadelinha escocesa, de pelos esguedelhados, finos como seda e cor de prata; depois, apeando se, indolente e poseur, ofereceu a mão a uma senhora alta, loira, com um meio véu muito apertado e muito escuro que realçava o esplendor da sua carnação ebúrnea. Craft e Carlos afastaram se, ela passou diante deles, com um passo soberano de deusa, maravilhosamente bem feita, deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de oiro, e um aroma no ar. Trazia um casaco colante de veludo branco de Génova, e um momento sobre as lajes do peristilo brilhou o verniz das suas botinas. O rapaz ao lado, esticado num fato de xadrezinho inglês, abria negligentemente um telegrama; o preto seguia com a cadelinha nos braços. E no silêncio a voz de Craft murmurou:

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—Très chic.

Em cima, no gabinete que o criado lhes indicou, Ega esperava, sentado no divã de marroquim, e conversando com um rapaz baixote, gordo, frisado como um noivo de província, de camélia ao peito e plastrão azul celeste. O Craft conhecia o; Ega apresentou a Carlos o sr. Dâmaso Salcede, e mandou servir vermute, por ser tarde, segundo lhe parecia, para esse requinte literário e satânico do absinto...

Fora um dia de Inverno suave e luminoso, as duas janelas estavam ainda abertas. Sobre o rio, no céu largo, a tarde morria, sem uma aragem, numa paz elísia, com nuvenzinhas muito altas, paradas, tocadas de cor de rosa; as terras, os longes da outra banda já se iam afogando num vapor aveludado, do tom de violeta; a água jazia lisa e luzidia como uma bela chapa de aço novo; e aqui e além, pelo vasto ancoradouro, grossos navios de carga, longos paquetes estrangeiros, dois couraçados ingleses, dormiam, com as mastreações imóveis, como tomados de preguiça, cedendo ao afago do clima doce...

—Vimos agora lá em baixo—disse Craft indo sentar se no divã—uma esplêndida mulher, com uma esplêndida cadelinha griffon, e servida por um esplêndido preto!

O sr. Dâmaso Salcede, que não despregava os olhos de Carlos, acudiu:

—Bem sei! Os Castro Gomes... Conheço os muito... Vim com eles de Bordéus... Uma gente muito chique que vive em Paris.

Carlos voltou-se, reparou mais nele, perguntou lhe, afável e interessando se: —O Sr. Salcede chegou agora de Bordéus?

Estas palavras pareceram deleitar Dâmaso como um favor celeste: ergueu se imediatamente, aproximou se do Maia, banhado num sorriso:

—Vim aqui há quinze dias, no Orenoque. Vim de Paris... Que eu em podendo é lá que me pilham! Esta gente conheci-a a bordo. Mas estávamos todos no Hotel de Nantes. Gente muito chique: criado de quarto, governanta inglesa para a filhita, femme de chambre, mais de vinte malas... Chique a valer! Parece incrível, uns brasileiros... Que ela na voz não tem sotaque nenhum, fala como nós. Ele sim, ele muito sotaque... Mas elegante também, Vossa Excelência não lhe pareceu?

—Vermute?—perguntou lhe o criado, oferecendo a salva.

—Sim, uma gotinha para o apetite. Vossa Excelência não toma, sr. Maia? Pois eu, assim que posso, é direitinho para Paris! Aquilo é que é terra! Isto aqui é um

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chiqueiro... Eu, em não indo lá todos os anos, acredite Vossa Excelência, até começo a andar doente. Aquele boulevarzinho, hem!... Ai, eu gozo aquilo!... E sei gozar, sei gozar, que eu conheço aquilo a palmo... Tenho até um tio em Paris. —E que tio!—exclamou Ega, aproximando se.

—Íntimo de Gambetta, governa a França... O tio do Dâmaso governa a França, menino!

Dâmaso, escarlate, estoirava de gozo.

—Ah, lá isso influência tem. Íntimo do Gambetta, tratam se por tu. Até vivem quase juntos... E não é só com o Gambetta; é com o Mac Mahon, com o Rochefort, com o outro que me esquece agora o nome, com todos os republicanos, enfim!... É tudo quanto ele queira. Vossa Excelência não o conhece? É um homem de barbas brancas... Era irmão de minha mãe, chama se Guimarães. Mas em Paris chamam lhe Mr. de Guimaran...

Eça de Queirós, Os Maias

1. Indique o assunto do texto e mostre que o seu desenvolvimento em partes lógicas corresponde à focalização sucessiva de espaços diferentes.

2. “O sr. Salcede chegou agora de Bordéus?’’ Esta pergunta de Carlos não lhe parece ter como fim o mudar o ramo à conversa? Em que medida é que este facto é abonatório da elegância de maneiras de Carlos?

3. Há aqui a introdução de duas personagens de Os Maias: Maria Eduarda e Dâmaso Salcede. Caracterize-as.

4. Com base no texto, ponha em evidência a linguagem e os recursos estilísticos mais marcantes de Eça.

Nota: O Hotel Central é o local onde se realiza um jantar oferecido por Ega, com o objetivo de homenagear Cohan, marido de Raquel sua amante. Em termos “funcionais” este jantar

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serve para permitir um primeiro contacto de Carlos com o meio social lisboeta, isto é, com o próprio Cohen, com Tomás de Alencar, Dâmaso Salcede, e outros.

É também neste momento que Carlos vê Maria Eduarda pela primeira vez, embora ele não lhe presta a devida atenção, ficando apenas com uma ideia um pouco pormenorizada da figura dela.

É neste episódio que estão representados os temas mais proeminentes da vida político – cultural lisboeta, pois é neste episódio que se falam de temas como a Literatura, Finanças e a Política.

Com este episódio da crónica de costumes, o autor demonstra a incoerência cultural do povo português e a decadência do país.

A crónica de costumes retrata uma Lisboa que se esforça para ser civilizada, mas que não resiste e acaba por mostrar a sua falta de cultura.

O “verniz” das aparências estala, quando Ega e Alencar, depois de terminarem a sua “lista” de argumentos possíveis, e partem para a agressão pessoal e física mostrando o tipo de educação das classes altas da sociedade portuguesa, que mesmo tentando parecer digna e requintada não deixa de ser uma sociedade grosseira e inculta.

Neste jantar, discute-se a Literatura e a crítica literária, em que Tomás de Alencar, opositor do realismo/naturalismo, revela incoerência condenando no presente, o que cantara no passado. Refugia-se na moral por não ter mais argumentos. Acha o realismo/naturalismo imoral. É um desfasado do seu tempo, defende a crítica literária de natureza académica. Este opõe-se a João da Ega, defensor da escola realista/naturalista. Ega exagera e defende o cientificismo na literatura. Não distingue ciência e literatura.

Nesta discussão entram também, Carlos e Craft, recusando simultaneamente o ultra-romantismo de Alencar e o exagero de Ega. Craft defende a arte como idealização do que de melhor há na natureza, defende a arte pela arte. O narrador concorda com ambos.

Este assunto espelha a crise financeira que o país passava nesta época (século XII). Eça descreve-o de forma irónica através de Cohen, o representante das Finanças ao afirmar que os “empréstimos em Portugal constituíam uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto”, aliás era «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo» a única ocupação dos ministérios.

Desta forma concordavam que assim o país iria “alegremente e lindamente para a bancarrota”. No entanto, Ega não aceitara baixar os braços e logo dera a solução revolucionária para o problema de finanças que o país atravessava – a invasão espanhola. A história e a política foram outros temas abordados no jantar.

Ida às corridas de cavalos

Diante deles o hipódromo elevava-se suavemente em colina, parecendo, depois da poeirada quente da calçada e das cruas reverberações da cal, mais fresco, mais vasto, com a sua relva já um pouco crestada pelo sol de junho, e

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uma ou outra papoula vermelhejando aqui e além. Uma aragem larga e repousante, chegava vagarosamente do rio.

No centro, como perdido no largo espaço verde, negrejava, no brilho do sol, um magote apertado de gente, com algumas carruagens pelo meio, donde sobressaíam tons claros de sombrinhas, o faiscar de um vidro de lanterna, ou um casaco branco de cocheiro. Para além, dos dois lados da tribuna real forrada de um baetão vermelho de mesa de repartição, erguiam-se as duas tribunas públicas, com o feitio de traves mal pregadas, como palanques de arraial. A da esquerda, vazia, por pintar, mostrava à luz as fendas do tabuado. Na da direita, besuntada por fora de azul-claro, havia uma fila de senhoras quase todas de escuro encostadas ao rebordo, outras espalhadas pelos primeiros degraus; e o resto das bancadas permanecia deserto e desconsolado, de um tom alvadio de madeira, que abafava as cores alegres dos raros vestidos de Verão. Por vezes a brisa lenta agitava no alto dos dois mastros o azul das bandeirolas. Um grande silêncio caía do céu faiscante. Em volta do recinto da tribuna, fechado por um tapume de madeira, havia mais soldados de Infantaria, com as baionetas lampejando ao sol. E no homem triste que estava à entrada, recebendo os bilhetes, metido dentro de um enorme colete branco, reteso de goma, e que lhe chegava até aos joelhos – Carlos reconheceu o servente do seu laboratório. (…)

No recinto em declive, entre a tribuna e a pista, havia só homens, a gente do Grémio, das secretarias e da casa Havanesa; a maior parte à vontade, com jaquetões claros, e de chapéu-coco; outros mais em estilo, de sobrecasaca e binóculo a tiracolo, pareciam embaraçados e quase arrependidos do seu chique. Falava-se baixo, com passos lentos pela relva, entre leves fumaraças de cigarro. Aqui e além um cavalheiro, parado, de mãos atrás das costas, pasmava languidamente para as senhoras. Ao lado de Carlos dois brasileiros queixavam-se do preço dos bilhetes, achando aquilo uma “Sensaboria de rachar”.

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Defronte a pista estava deserta, com a relva pisada, guardada por soldados: e junto à corda, do outro lado, apinhava-se o magote de gente, com as carruagens pelo meio, sem um rumor, numa pasmaceira tristonha, sob o peso do sol de Junho. Um rapazote com uma voz dolente, apregoava água fresca. Lá ao fundo o largo Tejo faiscava, todo azul, tão azul como o céu, numa pulverização fina de luz. (…)

Os outros voltaram-se. Era o Sequeira, com a face como um pimentão, entalado numa sobrecasaca curta que o fazia mais atarracado, de chapéu branco sobre o olho e grande chicote debaixo do braço. Aceitou um copo de champanhe e teve muito prazer em conhecer o Sr. Clifford…

– E o que me diz você a esta sensaboria? - exclamou ele logo, voltando-se

para Carlos.

Enquanto a si, estava contente, pulava… Aquela corrida insípida, sem cavalos, sem jóqueis, com meia dúzia de pessoas a bocejar em roda, dava-lhe a certeza que eram talvez e que o Jockey Club rebentava… E ainda bem! Via-se a gente livre de um divertimento que não estava nos hábitos do País. Corridas era para se apostar. Tinha-se apostado? Não? Então histórias!... Em Inglaterra e em França, sim! Aí eram um jogo como a roleta, ou como o monte… Até havia banqueiros, que eram bookmakers… Então já viram!”

Eça de Queirós, Os Maias (Cap. X)

1. O espaço tinha sido preparado para a ocasião. Transcreve do segundo e do terceiro parágrafos expressões que evidenciem a improvisação.

2. Descreve o vestuário das pessoas presentes, registando os contrates que se evidenciam.

3. Transcreve do texto expressões que provem o provincianismo na organização deste evento.

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4. No texto o discurso indireto livre é utilizado. Justifica, retirando um excerto.

5. Classifica a focalização do narrador neste excerto da obra.

Nota: A corrida de cavalos espelha-se no desejo de imitar o que se faz no estrangeiro e era considerado sinal de progresso. Reflete o provincianismo do acontecimento. Apreciamos de forma irónica e caricatural uma sociedade burguesa que vive de aparências. O comportamento da assistência feminina, “que nada faz de útil”. O traje escolhido pela maioria da assistência não se adequava à ocasião, daí alguns cavalheiros se sentirem embaraçados com o seu chique, e muitas senhoras trazerem “vestidos sérios de missa”, acompanhados por grandes chapéus emplumados da última moda, mas que não se adequavam nem ao evento, nem à restante toillete.

O ambiente deveria ser requintado, mas também ligeiro como compete a um acontecimento desportivo.

Critica-se ainda a falta de à-vontade das senhoras da tribuna que não falavam umas com as outras e que para não desobedecerem às regras de etiqueta. A assistência não revela qualquer entusiasmo pelo acontecimento e comparecem somente por desejar aparecer no

High Life dos jornais ou para mostrar a extravagância do vestuário. O recinto parece uma quintarola, as bancadas são improvisadas, besuntadas de tinta com palanques de arraial. O bufete fica debaixo da tribuna “sem sobrado”, sem um ornato”, onde os empregados sujos achatavam sanduíches com as mãos húmidas de cerveja. A própria tribuna real está enfeitada com um pano reles de mesa de repartição.

Críticas diretas:

às irmãs do Taveira, que são “magrinhas e loirinhas”; a viscondessa de Alvim, que é “nédia e branca”;

a condessa de Soutal, que é “desarranjada, com ar de ter lama nas saias”;

de um modo geral, a todas essas senhoras que considera, pela boca do Taveira: «um canteirinho de camélias meladas»

a toda a sociedade lisboeta, quando Carlos diz a D. Maria da Cunha: «Todos nós somos lodaçal»

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Os objetivos deste episódio são os seguintes: o contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta, incluindo o rei; uma visão panorâmica desta sociedade sobre o olhar crítico de Carlos; tentativa frustrada de igualar Lisboa às demais capitais europeias.

O jantar em casa dos Gouvarinhos

Mas nessa noite teve o regozijo de encontrar aliados. Craft não admitia também o naturalismo, a realidade feia das coisas e da sociedade estatelada nua num livro. A arte era uma idealização! Bem; então que mostrasse os tipos superiores duma humanidade aperfeiçoada, as formas mais belas do viver e do sentir... Ega, horrorizado apertava as mãos na cabeça - quando do outro lado Carlos declarou que o mais intolerável no realismo eram os seus grandes ares científicos, a sua pretensiosa estética deduzida duma filosofia alheia, e a invocação de Claude Bernard, do experimentalismo, do positivismo, de Stuart Mil e de Darwin, a propósito duma lavadeira que dorme com um carpinteiro! Assim atacado, entre dois fogos, Ega trovejou: justamente o fraco do realismo estava em ser ainda pouco científico, inventar enredos, criar dramas, abandonar-se à fantasia literária! a forma pura da arte naturalista devia ser a monografia, o estudo seco dum tipo, dum vício, duma paixão, tal qual como se se tratasse dum caso patológico, sem pitoresco e sem estilo!...

- Isso é absurdo, dizia Carlos, os carateres só se podem manifestar pela ação… - E a obra de arte, acrescentou Craft, vive apenas pela forma...

Alencar interrompeu-os, exclamando que não eram necessárias tantas filosofias. - Vocês estão gastando cera com ruins defuntos, filhos. O realismo critica-se deste modo: mão no nariz! Eu quando vejo um desses livros, enfrasco-me logo em água-de-colónia. Não discutamos o excremento.

- Sole normande? perguntou-lhe o criado, adiantando a travessa.

Ega ia fulminá-lo. Mas, vendo que o Cohen dava um sorriso enfastiado e superior a estas controvérsias de literaturas, calou-se; ocupou-se só dele, quis saber que tal ele achava aquele Si. Emilion; e, quando o viu confortavelmente servido de sole normande, lançou com grande alarde de interesse esta pergunta: - Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá... O empréstimo faz-se ou não se faz?

E acirrou a curiosidade, dizendo para os lados, que aquela questão do empréstimo era grave. Uma operação tremenda, um verdadeiro episódio histórico!...

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O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha de se realizar "absolutamente". Os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministérios era esta - "cobrar o imposto e fazer o empréstimo". E assim se havia de continuar...

Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o país ia alegremente para a "bancarrota".

- Num galopezinho muito seguro e muito a direito - disse o Cohen, sorrindo. Ah, sobre isso, ninguém tem ilusões, meu caro senhor. Nem os próprios ministros da Fazenda!... A "bancarrota" é inevitável: é como quem faz uma soma...

Ega mostrou-se impressionado. Olha que brincadeira, nem! E todos escutavam o Cohen. Ega, depois de lhe encher o cálice de novo, fincara os cotovelos na mesa para lhe beber melhor as palavras.

- A "bancarrota" é tão certa, as coisas estão tão dispostas para ela - continuava o Cohen - que seria mesmo fácil a qualquer, em dois ou três anos, fazer falir o país...

Ega gritou sofregamente pela "receita". Simplesmente isto: manter uma agitação revolucionária constante; nas vésperas de se lançarem os empréstimos haver duzentos maganões decididos que caíssem à pancada na municipal e quebrassem os candeeiros com vivas à República; telegrafar isto em letras bem gordas para os jornais de Paris, Londres e do Rio de janeiro; assustar os mercados, assustar o brasileiro, e a "bancarrota" estalava. Somente, como ele disse, isto não convinha a ninguém.

Eça de Queirós, Os Maias

1. Identifique o episódio a que pertence este excerto, inserindo-o numa das intrigas de Os Maias.

1.1. Comente a sua importância para o desenvolvimento da narrativa.

2. Diferentes visões da corrente literária "Naturalismo" são expostas neste excerto. Enuncie-as.

3. "Ega ia fulminá-lo."

3.1. Indique o alvo da fúria de Ega e os motivos que a justificam.

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4. Exponha sucintamente a situação financeira do país.

5. Comente as diferentes posturas - de Carlos e Cohen - em relação à situação económica de Portugal.

Nota: estes jantares pretendiam transmitir:  atraso intelectual do país;

 a mediocridade mental de algumas figuras da alta burguesia e da aristocracia;  a degradação dos valores sociais.

 reunir a camada dirigente do país

 radiografar a ignorância das classes dirigentes;

 o episódio evidencia especialmente a mediocridade mental de dois figurantes: o conde de Gouvarinho e Sousa Neto.

Neste jantar destacam-se O Conde Gouvarinho e Sousa Neto, bem como o adultério praticado pela Condessa de Gouvarinho, tendo estado envolvida com Carlos da Maia.

- Conde Gouvarinho – é através desta personagem que se pode verificar a grande contradição entre o ser e o parecer, pois o conde Gouvarinho é um representante da alta política e do poder instituído. O facto de se ter pessoas como ele à frente do país é também o motivo para o povo português se encontrar progressivamente decadente. Ele surge voltado para o passado, com lapsos de memória, critica as mulheres, revela falta de cultura, não termina nenhum assunto e não compreende a ironia sarcástica de Ega. - Sousa Neto – Representante da administração pública, intelectualmente muito medíocre

e não conseguia manter uma conversa à altura do seu cargo. Esta personagem vem acentuar a mediocridade mental que já fora identificada e referida no Conde Gouvarinho. Ele acompanha conversas sem interferir, desconhece o sociólogo Proudhon, defende a imitação do estrangeiro, não entra em discussões alheias, aceitando as opiniões alheias, e defende uma literatura de cordel, de folhetins.

O sarau do Teatro da Trindade - Merci...

Na sala o silêncio impressionava. Rufino, com gestos de quem traça numa tela linhas lentas e nobres, descrevia a doçura de uma aldeia, a aldeia em que ele nascera, ao pôr do sol. E o seu vozeirão velava-se, enternecido, morrendo num rumor de crepúsculo. Então Steinbroken, subtilmente, tocou no ombro do Ega. Queria saber se era esse o grande orador de que lhe tinham falado...

Ega afirmou com patriotismo que era um dos maiores oradores da Europa! - Em qual género?...

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- Género sublime, género de Demóstenes!

Steinbroken alçou as sobrancelhas com admiração, falou em finlandês ao seu secretario que entalou languidamente o monóculo: e com as claques debaixo do braço, cerrados os olhos, recolhidos como num templo, os dois enviados da Finlândia ficaram escutando, à espera do sublime.

Rufino, no entanto, com as mãos descaídas, confessava uma fragilidade de sua alma! Apesar da poesia ambiente dessa sua aldeia natal, onde a violeta em cada prado, os rouxinóis em cada balseira provavam Deus irrefutavelmente, - ele fora dilacerado pelo espinho da descrença! Sim, quantas vezes, ao cair da tarde, quando os sinos da velha torre choravam no ar a Ave-Maria e no vale cantavam as ceifeiras, ele passara junto da cruz do adro e da cruz do cemitério, atirando-lhes de lado, cruelmente, o sorriso frio de Voltaire...

Um largo frémito de emoção passou. Vozes sufocadas de gozo mal podiam: murmurar «muito bem, muito bem...»

Pois fora nesse estado, devorado pela dúvida, que Rufino ouvira um grito de horror ressoar por sobre o nosso Portugal... Que sucedera? Era a Natureza que atacava seus filhos! - E lançando os braços, como quem se debate numa catástrofe, Rufino pintou a inundação.... Aqui aluía um casal, ninho florido de amores; além, na quebrada, passava o balar choroso dos gados; mais longe as negras águas iam juntamente arrastando um botão de rosa e um berço!...

Os bravos partiram profundos e roucos de peitos que arfavam.

1. Contextualiza este excerto na obra, evidenciando como este permite desencadear o desfecho trágico.

2. Nesta passagem podemos ver as diferentes atitudes das personagens. Tendo em atenção cada uma delas, proceda à sua caracterização, bem como a crítica que está subjacente a este momento.

“sarau” – termo que sugere um público frequentador culto, porém, os espectadores frequentam estes lugares, não pela qualidade do espetáculo, mas pela importância do convívio social.

Objetivos da realização do sarau:

o ajudar as vítimas das inundações do Ribatejo;

o apresentar um tema querido da sociedade lisboeta – a Oratória;

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o criticar o ultrarromantismo que encharcava o público; o contrastar a festa com a tragédia.

A falta de educação, respeito e apreciação por parte dos espectadores da alta sociedade só demonstra o mísero desenvolvimento de Portugal na época.

Oratória 1. Oradores 1.1. Rufino:

 "vozeirão túmido, garganteado, provinciano, de vogais arrastadas em canto" - tom altissonante;

 temas da sua alocução: a caridade, o progresso, a fé, Deus, a sua aldeia, a imagem do "Anjo da Esmola";

 revela falta de originalidade:

- recorre a lugares comuns e a imagens de origem duvidosa (a imagem do «Anjo da Esmola», que estendera as suas asas benfazejas sobre os deserdados das inundações destruidoras das belas aldeias onde antes o rouxinol trinava);

- faz uso de chavões retóricos e lirismos banais em torno da caridade e da fé.  a sua retórica é oca e balofa;

 é adulador (volta-se constantemente para a zona das cadeiras reais, considera que a salvação reside no trono de Portugal: "... vir aquele pulha pôr-se ali a lamber os pés à família real...").

1.2. Alencar - poeta ultrarromântico  esguio, sombrio e pensativo;

 olhar encovado e lento;

 melancólico, solene e pomposo;

 tema proposto: a democracia (romântica);

 utiliza os habituais bordões / chavões líricos ultrarromânticos: o luar, os vastos arvoredos, o amor, os segredos;

 sustenta um excessivo lirismo carregado de conotações sociais: - "... a severa ideia social da Poesia...";

- "... uma mulher macilentae, farrapos, chora, aconchegando ao seio magro o filho que pede pão...";

- "... estes humanitarismos poéticos."; - "... daquele lirismo humanitário e sonoro.";

 o seu discurso está desfasado da realidade: "A sala permanecia muda e desconfiada.";  ataca frontalmente

outras notas:

o surge no momento em que Carlos e Maria Eduarda vivem o amor na sua plenitude, fazendo planos para o futuro

(18)

o Carlos e Ega foram ao Teatro da Trindade por obrigação social, uma vez que se destinava a ajudar as vítimas das cheias;

o As revelações do Sr. Guimarães, no final do sarau, quando Ega e Cruges passam à porta do Hotel Aliança; o Sr. Guimarães (tio de Dâmaso, o demagogo que vivia em Paris) interpela Ega, entregando-lhe o fatídico cofre de Maria Monforte que contém as revelações relativas ao parentesco entre Carlos e Maria Eduarda.

A Corneta do Diabo e A Tarde – jornais

Subitamente, com uma ideia, apalpou por sobre o bolso a carteira onde na véspera guardara a carta do Dâmaso… «Eu t’ arranjo!», murmurou ele. E abalou, desceu a Rua da Trindade, cortou pelo Loreto como uma pedra que rola, enfiou, ao fundo da Praça de Camões, num grande portão que uma lanterna alumiava. Era a redação d’ «A Tarde».

Dentro do pátio desse jornal elegante fedia. Na escadaria de pedra, sem luz, cruzou um sujeito ancatarroado que lhe disse que o Neves estava em cima no cavaco. O Neves, deputado, político, diretor d’ «A Tarde», fora, havia anos, numas férias, seu companheiro de casa no Largo do Carmo; e desde esse Verão alegre em que o Neves lhe ficara sempre devendo três moedas, os dois tratavam-se por tu.

Foi encontrá-lo numa vasta sala alumiada por bicos de gás sem globo, sentado na borda de uma mesa atulhada de jornais, com o chapéu para a nuca, discursando a alguns cavalheiros de província que o escutavam de pé, num respeito de crentes. Num vão de janela, com dois homens de idade, um rapaz esgalgado, de jaquetão de cheviote claro e uma cabeleira crespa que parecia erguida numa rajada de vento, bracejava como um moinho na crista de um monte. E, abancando, outro sujeito já calvo rascunhava laboriosamente uma tira de papel.

Ao ver o Ega (um íntimo do Gouvarinho) ali na redação, naquela noite de intriga, Neves cravou nele os olhos tão curiosos, tão inquietos, que o Ega apressou-se a dizer:

– Nada de política, negócio particular… Não te interrompas. Depois falaremos.

(19)

O outro findou a injúria que estava lançando ao José Bento, «essa grande besta que fora meter no bico da amiga do Sousa e Sá, o par do Reino» – e na sua impaciência saltou da mesa, travou do braço do Ega, arrastando-o para um canto:

– Então que é?

– É isto, em quatro palavras. O Carlos da Maia foi ofendido aí por um sujeito muito conhecido. Nada de interessante. Um parágrafo imundo na «Corneta do Diabo», por uma questão de cavalos… O Maia pediu-lhe explicações. O outro deu-as, chatas, medonhas, numa carta que quero que vocês publiquem.

A curiosidade do Neves flamejou: – Quem é?

– O Dâmaso.

O Neves recuou de assombro:

– O Dâmaso!? Ora essa! Isso é extraordinário! Ainda esta tarde jantei com ele! Que diz a carta?

– Tudo. Pede perdão, declara que estava bêbado, que é de profissão um bêbado…

O Neves agitou as mãos com indignação:

– E tu querias que eu publicasse isso, homem? O Dâmaso, nosso amigo político!... E que não fosse, não é questão de partido, é de decência! Eu faço lá isso!... Se fosse uma ata de duelo, uma coisa honrosa, explicações dignas… Mas uma carta em que um homem se declara bêbado! Tu estás a mangar!

Ega, já furioso, franzia a testa. Mas o Neves, com todo o sangue na face, teve ainda uma revolta àquela ideia de o Dâmaso se declarar bêbado!

– Isso não pode ser! É absurdo! Aí há história… Deixa ver a carta.

E, mal relanceara os olhos ao papel, à larga assinatura floreada, rompeu num alarido:

– Isto não é o Dâmaso nem é letra do Dâmaso!... Salcede! Quem diabo é Salcede? Nunca foi o meu Dâmaso!

(20)

O outro atirou os braços ao ar:

– O meu é o Guedes, homem, o Dâmaso Guedes! Não há outro! Que diabo, quando se diz o Dâmaso é o Guedes!...

Respirou com alívio:

– Irra, que me assustaste! Olha agora neste momento, com estas coisas de Ministério, uma carta dessas escrita pelo Guedes… Se é o Salcede, bem, acabou-se! Espera lá… Não é um gordalhufo, um janota que tem uma propriedade em Sintra? Isso! Um maganão que nos entalou na eleição passada, fez gastar ao Silvério mais de trezentos mil réis… Perfeitamente, às ordens… Ó Parreirinha, olhe aqui o sr. Ega. Tem aí uma carta para sair amanhã, na primeira página, tipo largo…

O sr. Parreirinha lembrou o artigo do sr. Vieira da Costa sobre a reforma das pautas.

– Vai depois! – gritou o Neves. – As questões de honra antes de tudo! 1. Identifique o episódio transcrito e localize-o na ação da obra.

2. Qual a crítica subjacente a este excerto?

3. Caracteriza a personagem Neves e estabelece um paralelo com Palma

Cavalão.

4. Qual é a figura de estilo presente nesta passagem? Qual é a sua função

no que se prende com a representação social? « […] discursando a alguns

cavalheiros de província que o escutavam de pé, num respeito de crentes.»

 Estes episódios pretendem criticar a decadência do jornalismo português que se apresentava corrupto e desprovido de ética. Esta é mais uma metáfora que pretende criticar o estado do país: corrupto, cheio de intrigas e compadrios políticos.  Palma Cavalão, o imoral, pertence ao primeiro jornal e Neves, o diretor, pertence ao segundo.

o A Corneta do Diabo: publica um artigo contra Carlos, mediante dinheiro; publica folhetinzinhos de baixo nível.

(21)

o A Tarde: recusa publicar a carta de retratação de Dâmaso porque o confunde com um seu correligionário político; desfeito o engano, serve-se da mesma carta como meio de vingança contra o inimigo político; só publica artigos ou textos dos seus correligionários políticos

O último passeio de Carlos e Ega

Passeio a cavalo no Bois; almoço no Bignon; uma volta pelo boulevard; uma hora no club com os jornais; um bocado de florete na sala de armas; à noite a Comédie Française ou uma soirée; Trouvile no verão, alguns tiros às lebres no inverno; e através do ano as mulheres, as corridas, certo interesse pela ciência, o bric-à-brac, e uma pouca de blague. Nada mais inofensivo, mais nulo, e mais agradável.

- E aqui tens tu uma existência d'e omem! Em dez anos não me tem sucedido nada, a não ser quando se me quebrou o fáeton na estrada de Saint-Cloud..: Vim no Fígaro.

Ega ergueu-se, atirou um gesto desolado: - Falhámos a vida, menino!

- Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: «vou ser assim, porque a beleza está em ser assim». E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. Às vezes melhor, mas sempre diferente.

Ega concordou, com um suspiro mudo, começando a calçar as luvas.

O quarto escurecia no crepúsculo frio e melancólico de inverno. Carlos pôs também o chapéu: e desceram pelas escadas forradas de veludo cor de cereja, onde ainda pendia, com um ar baço de ferrugem, a panóplia de velhas armas. Depois na rua Carlos parou, deu um longo olhar ao sombrio casarão, que naquela primeira penumbra tomava um aspeto mais carregado de residência eclesiástica, com as suas paredes severas, a sua fila de janelinhas fechadas, as

(22)

grades dos postigos térreos cheias de treva, mudo, para sempre desabitado, cobrindo-se já de tons de ruína.

Uma comoção passou-lhe pela alma, murmurou, travando do braço do Ega:

- É curioso! Só vivi dois anos nesta casa, e é nela que me parece estar metida a minha vida inteira!

Ega não se admirava. Só ali no Ramalhete ele vivera realmente daquilo que dá sabor e relevo à vida - a paixão.

- Muitas outras coisas dão valor à vida... Isso é uma velha ideia de romântico, meu Ega!

- E que somos nós? exclamou Ega. Que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de latim?

[…]

Já avistavam o Aterro, a sua longa fila de luzes. De repente Carlos teve um largo gesto de contrariedade:

- Que ferro! E eu que vinha desde Paris com este apetite! Esqueci-me de mandar fazer hoje para o jantar um grande prato de paio com ervilhas.

E agora já era tarde, lembrou Ega. Então Carlos, até aí esquecido em memórias do passado e sínteses da existência, pareceu ter inesperadamente consciência da noite que caíra, dos candeeiros acesos. A um bico de gás tirou o relógio. Eram seis e um quarto!

- Oh, diabo!... E eu que disse ao Vilaça e aos rapazes para estarem no Bragança pontualmente às seis! Não aparecer por aí uma tipoia!...

- Espera! exclamou Ega. Lá vem um «americano», ainda o apanhamos. - Ainda o apanhamos!

Os dois amigos lançaram o passo, largamente. E Carlos, que arrojara o charuto, ia dizendo na aragem fina e fria que lhes cortava a face:

(23)

- Que raiva ter esquecido o paiozinho! Enfim, acabou-se. Ao menos assentamos a teoria definitiva da existência. Com efeito, não vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para coisa alguma...

Ega, ao lado, ajuntava, ofegante, atirando as pernas magras:

- Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder...

A lanterna vermelha do «americano», ao longe, no escuro, parara. E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço:

- Ainda o apanhamos! - Ainda o apanhamos!

De novo a lanterna deslizou, e fugiu. Então, para apanhar o «americano», os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que subia.

1. Integre estes excertos na estrutura da obra.

2. Caracterize as personagens, justificando com excertos do texto. 3. Evidencie a linguagem queirosiana aqui presente.

4. Os espaços têm uma forte importância na crítica feita nesta obra. Evidencie a crítica aqui apresentada.

 Este último episódio ocorre dez anos após a partida de Carlos para a viagem à volta do mundo e a sua consequente instalação em Paris.

Espaços visitados:

 Estátua de Camões – perdida e envolvida numa atmosfera de estagnação, evoca um passado glorioso (anterior a 1580), despertando sentimentos de nostalgia e tristeza pela grandiosidade perdida;

 A Avenida – as obras de renovação estão lentas, anunciando o esforço em vão do progresso;

(24)

 Parte antiga da cidade – dominam aspetos ligados ao Portugal absolutista (anterior a 1820); autenticidade nacional, destruída pelo presente afrancesado e decadente;

 Parte nova da cidade – domina o presente (tempo da Regeneração, a partir de 1851), marcado pela decadência, o fracasso da regeneração, a destruição. Imitações erradas de modelos culturais alheios (caso do francesismo);

 Ramalhete – solitário e amortalhado, reforçando o fim e a ruína da família Maia.

Crítica:

 Sensação de total imobilismo da sociedade portuguesa;  Provincianismo da sociedade lisboeta;

 Aceitação do fracasso e do desencanto por parte dos dois amigos – os vencidos da vida;

 A falta de fôlego nacional para acabar os grandes empreendimentos começados;

 Imitação dos estrangeiros:

 Decadência dos valores genuínos

a.

Espaço psicológico

O espaço psicológico é interno à personagem e vai-se acentuando à medida que a intriga se aproxima do seu desenlace. Aqui inserem-se sonhos, imaginação, memória, emoções e reflexões.

 Carlos da Maia parece esvaziado de profundidade psicológica:

o Sonho de Carlos no qual evoca a figura de Maria Eduarda; o Nova evocação de Maria Eduarda em Sintra;

o Reflexões de Carlos sobre o parentesco que o liga a Maria Eduarda;

(25)

o Visão do Ramalhete e do avô, após o incesto;

o Contemplação de Afonso da Maia, morto, no jardim.

 Afonso da Maia sofre e acaba por morrer, tal é a sua densidade psicológica.

 Ega:

o Reflexões e inquietações após a descoberta da identidade de Maria Eduarda.

5.

A ação

A ação é fechada. Baseia-se na história de três gerações da família Maia, tendo como pano de fundo a sociedade lisboeta de grande parte do século XIX.

É fechada porque sabemos o final das personagens: Pedro suicida-se; Maria Monforte e Afonso morrem, Maria Eduarda e Carlos separam-se levando a uma espécie de morte psicológica e na perda da capacidade para amar.

Intriga principal:

 Amores de Maria Eduarda e Carlos da Maia;  Consumação do incesto;

 Guimarães entrega a Ega um cofre, contendo uma declaração de Maria Monforte;  Revelações de Ega e Vilaça;

 Revelações de Vilaça a Carlos;

 Revelações de Carlos ao avô, Afonso da Maia;  Incesto consciente de Carlos;

 Encontro de Carlos com Afonso;  Morte de Afonso;

(26)

 Partida de Maria Eduarda para Paris;

 Viagem de Carlos e Ega por Londres, América do Norte e Japão. o O caráter trágico da intriga principal:

 Os amantes são irmãos;

 mesmo sabendo a verdade, Carlos continua a manter o incesto com Maria Eduarda, embora esse envolvimento dê depois lugar ao nojo físico;

 Afonso morre pois não consegue aceitar esta tragédia;

 Ega conta a verdade a Maria Eduarda, que parte com Rosa para Paris;  Carlos parte em viagem pelo mundo;

 O meio, a educação e a hereditariedade não são condicionantes deste final trágico, o que afasta esta obra do naturalismo, no final:

 as personagens principais são de classe social elevada;  a temática do incesto – origina a destruição das personagens;  a importância atribuída ao Destino (enquanto força de

destruição);

 a presença de Presságios e símbolos de natureza trágica.

Intriga secundária:

a. Amores de Pedro e Maria Monforte; b. Casamento de Pedro e Maria;

c. Viagem de lua-de-mel por Itália e França;

d. Nascimento de dois filhos: Maria Eduarda e Carlos;

e. Fuga de Maria Monforte com Tancredo, levando Maria Eduarda e deixando Carlos com Pedro;

(27)

6.

O Narrador

O narrador é omnisciente, pois sabe tudo o que se passa dentro e fora das personagens, e heterodiegético, pois não participa na ação. A sua voz é crítica e irónica.

Ele opta por observar tudo o que acontece e destaca uma focalização interna, colocando na voz de Carlos e Maria Eduarda, algumas situações, para emitir juízos de valor. Na voz de João da Ega e de Carlos, ele faz uma análise e uma avaliação da sociedade lisboeta.

Assim:

Focalização omnisciente

Perspetiva do narrador  A reconstrução do Ramalhete;  A figura de Afonso da Maia;  Os estudos de Carlos em Coimbra;  O retrato de Ega;

 O retrato de Eusebiozinho;  O retrato de Dâmaso. Focalização interna

Perspetiva de Vilaça  Educação de Carlos.

Perspetiva de Carlos  Maria Eduarda, à entrada do Hote Central e na rua;

 Os episódios da crónica de costumes, à exceção do jornal A Tarde e do Sarau do Teatro da Trindade;

 A cidade de Lisboa e a sua sociedade, dez anos após o desenlace.

Perspetiva de Ega  O episódio dos jornais;  O Ramalhete fechado;

 A sua própria consciência, em momentos já indicados no espaço psicológico.

A perspetiva com que são narrados os acontecimentos condiciona a quantidade e a qualidade da informação.

(28)

A sua linguagem foi inovadora para a época, pelo impressionismo das descrições e pelo realismo dos diálogos. São características da sua escrita:

 personificação;  adjetivação;  comparação;  metáfora;  hipálage;  ironia;  sinestesia;  advérbio;  diminutivo;  empréstimos;  neologismos;

 discurso indireto livre;  gerúndio.

8.

Simbologia do romance

Podemos identificar Portugal como a grande personagem oculta do romance, segundo Jacinto do prado Coelho, em Ao Contrário de Penélope, pois este já não tem remédio e é impossível de salvar. Vejam-se as personagens e a sua simbologia, que representa esta metáfora:

 Caetano é o símbolo do absolutismo e dos seus valores retrógrados;  Afonso é a figura emblemática do Liberalismo Romântico, chegando

a sofrer o exílio da pátria;

 Pedro representa a Regeneração e o Ultrarromantismo;

 Carlos defende a Geração de 70 e é o símbolo dos vencidos da Vida.

9.

Os vencidos da vida

 Designa-se um grupo informal formado por algumas das personalidades intelectuais de maior relevo da vida cultural

(29)

portuguesa das últimas três décadas do século XIX, com fortes ligações à chamada Geração de 70;

 A denominação decorre da recusa dos membros do grupo às suas aspirações de juventude;

 Diletantismo e mundanismo; desalento e frustração, que eram reflexo da época;

 O grupo reunia-se para jantares e convívios semanais no Café Tavares, no Hotel Bragança ou nas casas dos seus membros, tendo-se mantido ativo entre 1887 e 1894;

 Eça de Queirós pertenceu a este grupo;

 Carlos e Ega parecem pertencer também a este grupo. Um grupo que não reconheceu a vida, mas falhou redondamente perante ela.

10.

As personagens

As personagens podem ser planas ou redondas. As personagens da crónica de costumes são, de um modo geral, personagens planas, personagens-tipo que representam grupos, classes sociais ou mentalidades, movimentando-se em determinados ambientes.

Assim, as personagens-tipo, planas:

 Eusebiozinho representa a educação retrógrada portuguesa;  Alencar, o poeta, representa o Ultrarromantismo;

 Conde de Gouvarinho, ministro e par do Reino, representa o poder político incompetente;

 Sousa Neto, deputado, representa a Administração pública;

Palma «Cavalão», o diretor do jornal A Corneta do Diabo, o jornalismo corrupto;

 Dâmaso Salcede, «chique a valer», é representante do novo-riquismo e a súmula de vícios de Lisboa da segunda metade do século XIX;

(30)

Steinbroken, ministro da Finlândia, «c’est grave», a diplomacia inútil;  Cohen, o banqueiro, as altas finanças;

 Craft, a formação britânica.

Assim, as personagens modeladas, são Carlos, Ega e Afonso, pois possuem uma densidade psicológica e um conflito interior complexos. Embora seja um romance de família, não é esta enquanto unidade coletiva que ocupa o papel central. A obra está construída em função de Carlos. A partir do capítulo III, o narrador volta a sua atenção sistematicamente para Carlos, o que nos leva a concluir que as referências às gerações de Afonso e de Pedro foram feitas para explicar a existência de Carlos em Lisboa.

11.

A educação

Os noivos tinham chegado de uma pitoresca e perigosa viagem, e Carlos parecia descontente de sua mulher; comportara-se de uma maneira atroz; quando ele ia governando a mala-posta, ela quisera empoleirar-se ao pé dele na almofada... Ora senhoras não viajam na almofada.

– E ele atirou-me ao chão, titi!

– Não é verdade! Demais a mais é mentirosa! Foi como quando chegámos à estalagem... Ela quis-se deitar, e eu não quis... A gente, quando se apeia de viagem, a primeira coisa que faz é tratar do gado... E os cavalos vinham a escorrer...

A voz de D. Ana interrompeu, muito severa:

– Está bom, está bom, basta de tolices! Já cavalaram bastante. Senta-te aí ao pé da senhora viscondessa, Teresa... Olha essa travessa do cabelo... Que despropósito!

Sempre detestara ver a sobrinha, uma menina delicada de dez anos, a brincar assim com o Carlinhos. Aquele belo e impetuoso rapaz, sem doutrina e sem propósito, aterrava-a: e pela sua imaginação de solteirona passavam sem cessar ideias, suspeitas de ultrajes, que ele poderia fazer à menina. Em casa, ao agasalhá-la antes de vir para Santa Olávia, recomendava-lhe com força que não fosse com o Carlos para os recantos escuros, que o não deixasse mexer-lhe nos vestidos!... A menina, que tinha

(31)

os olhos muito langorosos, dizia: «Sim, titi.» Mas, apenas na quinta, gostava de abraçar o seu maridinho. Se eram casados, porque não haviam de fazer nené, ou ter uma loja e ganharem a sua vida aos beijinhos? Mas o violento rapaz só queria guerras, quatro cadeiras lançadas a galope, viagens a terras de nomes bárbaros que o Brown lhe ensinava. Ela, despeitada, vendo o seu coração mal compreendido, chamava-lhe arrieiro; ele ameaçava boxá-la à inglesa: – e separavam-se sempre arrenegados.

Mas quando ela se acomodou ao lado da viscondessa, gravezinha e com as mãos no regaço – Carlos veio logo estirar-se ao pé dela, meio deitado para as costas do canapé, bamboleando as pernas.

– Vamos, filho, tem maneiras – rosnou-lhe muito seca D. Ana. – Estou cansado, governei quatro cavalos – replicou ele, insolente e sem a olhar.

De repente, porém, de um salto, precipitou-se sobre o Eusebiozinho. Queria-o levar à África, a cQueria-ombater Queria-os selvagens: e puxava-Queria-o já pelQueria-o seu belQueria-o plaid de cavaleiro da Escócia quando a mamã acudiu aterrada:

– Não, com o Eusebiozinho não, filho! Não tem saúde para essas cavaladas... Carlinhos, olhe que eu chamo o avô!

Mas o Eusebiozinho, a um repelão mais forte, rolara no chão, soltando gritos medonhos. Foi um alvoroço, um levantamento. A mãe trémula, agachada junto dele, punha-o de pé, sobre as perninhas moles, limpando-lhe as grossas lágrimas, já com o lenço, já com beijos, quase a chorar também. O delegado, consternado, apanhara o boné escocês, e cofiava melancolicamente a bela pena de galo. E a viscondessa apertava às mãos ambas o enorme seio, como se as palpitações a sufocassem.

O Eusebiozinho foi então preciosamente colocado ao lado da titi; e a severa senhora, com um fulgor de cólera na face magra, apertando o leque fechado como uma arma, preparava-se a repelir o Carlinhos, que, de mãos atrás das costas e aos pulos em roda do canapé, ria, arreganhando para o Eusebiozinho um lábio feroz. Mas nesse momento davam nove horas, e a desempenada figura do Brown apareceu à porta.

(32)

Apenas o avistou, Carlos correu a refugiar-se por detrás da viscondessa, gritando:

– Ainda é muito cedo, Brown, hoje é festa, não me vou deitar! Então Afonso da Maia, que se não movera aos uivos lancinantes do Silveirinha, disse de dentro, da mesa do voltarete, com severidade:

– Carlos, tenha a bondade de marchar já para a cama. Eça de Queirós, Os Maias

1. Integre este excerto na estrutura global da obra a que pertence. 2. Ponha em evidência o contraste que existe entre Carlos e Eusebiozinho. 3. Comente a reação da mãe à queda de Eusebiozinho.

4. Afonso «não se movera aos uivos lancinantes do Silveirinha» que Carlos deitara ao chão. Acha essa atitude correta? Justifique.

5. Comente, a partir de exemplos representativos, a expressividade da linguagem do texto tendo em vista a corrente literária em que se insere e as características de estilo do autor.

 Pedro da Maia:

o é a cópia da sua mãe: é melancólico, abúlico e fraco;

o educação portuguesa: que agrava os fatores psicossomáticos; tem base religiosa; é punitiva; assenta na aprendizagem do latim; não tem contato com a natureza, o que o leva a ser débil e incapaz de resistir às dificuldades vindas do exterior;

o é rapidamente atraído por Maria Monforte devido ao seu excesso de sentimentalismo;

o casa contra a vontade do seu pai e quando ela o abandona, ele suicida-se;

(33)

o o seu destino foi condicionado por fatores naturalistas: hereditariedade, meio e educação.

 Carlos:

o Educação inglesa: privilégio do contato com a natureza, exercício físico intenso, aprendizagem de línguas vivas, desprezo pela cartilha, adquirindo valores de trabalho e um conhecimento experimental que o levam a abraçar um curso de medicina e projetos de investigação;

o Desprezo dos aspetos religiosos; o Boa saúde e inteligência;

o Ligava-se emocionalmente com Maria Eduarda devido ao destino; o Carlos fracassou, não pela sua educação, mas apesar dela (pai era covarde, fraco, egoísta, fútil; a mãe era boémia). Foi a sociedade (parasitária, ociosa, fútil, sem estímulos) que o conduziu ao fracasso, pela ausência de motivações e pela paixão romântica que o seduziu. Porém, em Os Maias, a razão principal para este fracasso foi mesmo o Destino.

 Maria Eduarda:

o Educação diferente de Carlos.  Eusebiozinho:

o Tem a mesma educação que Pedro;

o É “um molengão e tristonho”, arrastado para uma vida de corrupção para um casamento infeliz e para uma decadência física e moral.

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