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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS. Anabela Fernandes Lima

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FACULDADE DE LETRAS

Os Adventistas do Sétimo Dia em Portugal:

Práticas de saúde e bem-estar

Anabela Fernandes Lima

Tese orientada pela Prof.ª Doutora Maria de Fátima Reis e co-orientada pelo Prof. Doutor Alfredo Teixeira, especialmente elaborada para a

obtenção do grau de Mestre em História e Cultura das Religiões

2021

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2 AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus; pela realização de mais um sonho que nunca imaginei ser capaz, mas: “Tudo posso Naquele que me fortalece” Filipenses 4:13.

A realização deste trabalho só foi possível mediante o apoio e colaboração de um conjunto de pessoas as quais agradeço.

À minha família alargada; à família nuclear que se privou em inúmeras ocasiões para que eu pudesse trabalhar na dissertação; os meus amigos (vocês sabem quem são) que sempre me apoiaram ouvindo as minhas lamurias constantes, acreditaram mais do que eu que tal seria possível; e a todos os membros da IASD que colaboraram comigo, os seus dirigentes eclesiásticos, sem a vossa ajuda este projeto não seria exequível.

Por fim, mas com a mesma importância, agradeço profundamente à Prof. Drª Maria de Fátima Reis, (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) minha Orientadora, e ao Prof. Dr. Alfredo Teixeira, (Universidade Católica Portuguesa) meu Co-orientador. A vossa ajuda, o tempo que me disponibilizaram, a paciência e amabilidade, fizeram-me acreditar que chegaria ao fim deste projeto.

A todos, desejo que Deus vos abençoe grandemente a cada minuto das vossas vidas.

Sinto-me especial por vos ter na minha vida!

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3 SUMÁRIO

A presente investigação visa avaliar a influência da religião na forma dos oito remédios naturais praticados pela Igreja Adventista do Sétimo Dia. Entender de que forma os mesmos têm influência na prática da religião, por outras palavras, visa aferir em que medida a prática religiosa é transversal a todos os aspetos da vida, nomeadamente na escolha do estilo de vida.

Para o efeito, recorreu-se maioritariamente à metodologia quantitativa através de inquéritos como técnica de recolha de informação, bem como pela recolha de informação sobre dados sociodemográficos dos participantes. A metodologia quantitativa é usualmente indicada quando se pretende realizar um estudo exploratório.

A técnica escolhida para obtenção dos dados necessários à elaboração do estudo foram inquéritos semiestruturados, permitindo flexibilidade relativamente à estrutura e à duração, tendo-se desenvolvido a partir de um guião previamente construído.

No sentido de aferir a influência da religião no estilo de vida das pessoas, os participantes desta investigação professam a mesma religião, Adventista do Sétimo Dia.

Os participantes batizados vivem em locais demográficos distintos de Portugal e com características particulares que os distingue. Um grupo pertence ao interior, mais concretamente no Alentejo, o segundo grupo é constituído por inquiridos de diferentes nacionalidades que não a portuguesa, e, por fim, o último grupo é caracterizado por membros nativos.

Em resumo, os adventistas apoiam o seu estilo de vida na religião, nos preceitos e normas que lhes são inerentes.

Palavras-chave: Adventistas do Sétimo Dia, Saúde, Religião, Cura, Espiritualidade, Proselitismo

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4 ABSTRACT

The present investigation aims to evaluate the influence of religion in the form of the eight natural remedies practiced by the Seventh-day Adventist Church. It is addressed to understand how they influence the practice of religion and to assess the extent to which religious practice is transversal to all aspects of life, namely in the choice of lifestyle.

For this purpose, we used mostly the quantitative methodology through surveys as a technique for collecting information, as well as collecting information on sociodemographic data of the participants. The quantitative methodology is usually indicated when an exploratory study is to be carried out.

The technique chosen to obtain the data necessary for the preparation of the study was semi-structured surveys. It allows flexibility in terms of structure and duration., having been developed from a previously constructed script.

In order to measure the influence of religion on people's lifestyle, the participants in this investigation profess the same religion, Seventh-day Adventist. The baptized participants live in different demographic locations in Portugal and with particular characteristics that distinguish them. One group is part of the rural environment, more specifically in Alentejo, the second group is made up of respondents of different nationalities other than Portuguese, and, finally, the last group is characterized by native Portuguese members.

In summary, Adventists support their lifestyle in religion, in the precepts and norms that are inherent to them.

Keywords: Seventh-day Adventists, Health, Religion, Healing, Spirituality, Proselytism

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5 ÍNDICE

ÍNDICE DE GRÁFICOS ... 6

ABREVIATURAS ... 7

INTRODUÇÃO ... 8

1. Política e Religião em Portugal no século XIX ... 10

2. Os Adventistas do Sétimo Dia em Portugal: presença e implementação ... 20

3. Religião, espiritualidade e saúde ... 40

4. Práticas de saúde e bem-estar: Caracterização do inquérito e apresentação dos resultados ... 51

4.1. Investigação em contexto pandémico ... 51

4.2. Metodologia adotada e participantes ... 54

4.3. Instrumentos de recolha de informação ... 55

4.4. Apresentação de Resultados ... 56

4.4.1. Caracterização da amostra não probabilística ... 56

4.4.2. Categorias definidas ... 62

4.4.3. Considerações e conclusões sobre a análise de resultados ... 76

5. Proselitismo e a Igreja Adventista do Sétimo Dia ... 80

FONTES E BIBLIOGRAFIA ... 88

ANEXOS ... 96

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6 ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Distribuição dos respondentes por sexo ………..… 57

Gráfico 2: Distribuição dos respondentes por idade ……….. 58

Gráfico 3: Distribuição dos respondentes por igreja ……….. 59

Gráfico 4: Distribuição dos respondentes por nacionalidade ……… 60

Gráfico 5: Distribuição dos respondentes por profissão ……… 61

Gráfico 6: Distribuição dos respondentes por anos de batismo ………. 61

Gráfico 7: Que regime alimentar pratica?... 63

Gráfico 8: Se se abstém de alguns alimentos em particular, quais os motivos?... 64

Gráfico 9: Desde que se inseriu na comunidade ASD, que mudanças na área da saúde colocou em prática desde então?... 65

Gráfico 10: Quando aceitou a mensagem adventista, o fator da saúde foi relevante para si? Responda sim ou não e porquê ……….. 66

Gráfico 11: Antes de fazer parte da comunidade adventista participou em alguma atividade sobre a saúde proporcionada pela IASD? Se sim, esta teve algum impacto na sua visão sobre a saúde e a IASD?... 67

Gráfico 12: Depois de se associar à comunidade adventista, já convidou outros a beneficiar de alguma atividade relacionada com o campo da saúde? Em que actividade?... 68

Gráfico 13: Considera que os 8 remédios que a IASD acredita como essenciais sejam uma forma de trazer novos membros à comunidade? Considere o 1 muito pouco e o 5 bastante ……….. 69

Gráfico 14: Dos 8 remédios naturais, quais aqueles que pratica?... 70

Gráfico 15: Ordene os itens anteriores segundo a sua ordem de importância. Tenha em conta a numeração acima mencionada ……… 71

Gráfico 16: Com a atual pandemia sente que ficou limitado quanto à prática de algum dos remédios acima mencionados?... 72 Gráfico 17: Relativamente à resposta anterior, explique o porquê de se sentir

afetado pela pandemia ……….

74

Gráfico 18: Quanto à abstenção do álcool, tabaco, chá preto, carnes imundas e o café, considera como essenciais a sua abstenção para poder ser

considerado como membro da IASD?

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7 ABREVIATURAS

AIT - Associação Internacional de Temperança

APMP - Associação Portuguesa de Medicina Preventiva CEDH - Convenção Europeia dos Direitos do Homem DGS - Direção Geral de Saúde

IASD - Igreja Adventista do Sétimo Dia INE - Instituto Nacional de Estatística

NEWSTART - Nutrition, Exercise, Water, Sunshine, Temperance, Air, Rest, Trust in God

PALOP - Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estado RGPD - Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados UPASD -União Portuguesa dos Adventistas do Sétimo Dia TEDH - Tribunal Europeu dos Direitos Humanos

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8 INTRODUÇÃO

“Chegará um dia em que as nossas sociedades voltarão a conhecer horas de efervescência criadora onde aparecerão novos ideais, novas formulações que servirão, durante algum tempo, de guia à humanidade (…)

Não há nenhum evangelho que seja imortal e não existe razão alguma para acreditar que a humanidade seja incapaz de conceber um novo. No que se refere ao tema de quais serão os símbolos em que a nova fé se expressará, se se parecerão ou não com os do passado, se serão mais adequados à realidade que terão de tentar traduzir, é algo que está para lá das faculdades humanas de precisão, e que além disso, não afeta o fundo das coisas.”

Émile Durkheim, in As Formas Elementares da Vida Religiosa. São Paulo:

Martins Fontes, 2003. p.397-398

O carácter religioso sempre foi parte integrante das sociedades independentemente do seu contexto geográfico ou temporal, como se pode comprovar pela historiografia e pela antropologia. Na verdade, há que considerar a tríade História, Antropologia e a Teologia, tendo em conta que a história mobiliza as dimensões antropológica e teológica. A interação entre ambas deriva num diálogo aberto e fundamental para a compreensão da realidade em causa.

O fenómeno religioso como objeto de análise impõe uma história religiosa para alcançar uma compreensão das mentalidades, crenças, práticas e das variadas formas de organização que compõem os diversos estratos da sociedade bem como os protagonistas que atuam nessa esfera. Segundo Weber é o chamado ethos da sociedade (2007:60).

O trabalho historiográfico requer a definição de uma problemática, tendo em conta que é a partir de conhecimentos muitas vezes ainda insuficientes que se pretende alcançar a realidade concreta na sua multiplicidade e diversidade. No entanto, e apesar das limitações, a objetividade expressa o rigor possível.

É nesta dimensão que pretendemos fazer uma abordagem à realidade religiosa portuguesa a partir do século XIX até à atualidade, no quadro do surgimento da Igreja

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9 Adventista do Sétimo Dia. Esta é a comunidade religiosa que pretendemos abordar ao longo deste trabalho.

Na análise à realidade portuguesa, iremos observar os marcos históricos, religiosos e políticos e de que forma as transformações nos regimes políticos e económicos nos séculos XIX e XX tiveram uma influência muito concreta no papel desempenhado pela igreja oficial da época, a Igreja Católica Apostólica Romana.

Também interessa saber como o protestantismo ganhou espaço e preponderância no país através das mutações acima mencionadas.

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10 1. Política e Religião em Portugal no século XIX

Em primeiro lugar, há que fazer referência à forma como o iluminismo veio desencadear processos revolucionários tanto europeus como americanos no final do século XVIII. É neste clima de alguma ebulição que no século XIX se desenvolvem reações que irão ficar na história com projeção de conceitos, como: liberdade, cidadania, igualdade ou ainda a tolerância. Diversos intelectuais do século XVIII, através do seu pensamento, tiveram influência nas novas formas políticas que surgiram no século seguinte. Algumas das novas ideologias que acabariam por ser implementadas, têm como fundamento o pensamento destes intelectuais. Hume, Locke, Rousseau, entre outros, despoletaram as bases profundas para um enraizamento político liberal nas sociedades europeias. Este liberalismo político veio traduzir-se na legislação decretada posteriormente por diversos países.

Portugal, inspirado nas declarações de direitos resultantes da Revolução Francesa, bem como da Constituição Espanhola Liberal de Cádiz, expressou esses ideais na Revolução Liberal de 1820, firmados na proclamação da Constituição de 1822, a primeira do país, de curta vigência, sucedida pela Carta Constitucional de 1826, estes dois documentos vieram impulsionar e estruturar o liberalismo, como nova ordem política e social1. Esta Constituição efetiva o princípio inovador da soberania nacional, ou seja, o poder político reside na nação. Nação composta pelos indivíduos, pelos cidadãos eleitores, sendo o voto o meio para delegar o poder político. Esta forma também consagra as liberdades, as garantias fundamentais, em que se torna possível a execução de diversas formas de liberdade, tais como, de expressão, de associação, sigilo, entre muitas outras.

Por fim, referir que confirma também o princípio de Montesquieu, que é o de separação de poderes entre a Corte e a nação2.

A Revolução de 1820 valorizou o papel da igreja Católica na altura. Apesar do país atravessar uma onda de conceitos liberais sob diversas formas, o objetivo era atingir o progresso político, social, económico e cultural. Tal não impediu, portanto, que esse liberalismo valorizasse o lugar da religiosidade, tanto na sua componente pública,

1 Verificar os estudos de Zília Osório de Castro: Constitucionalismo Vintista: antecedentes e pressupostos.

Lisboa: Centro de História da Cultura da Universidade de Lisboa, 1986; e Cultura e ideias do liberalismo.

Lusitania Sacra. 12 (2000) 17-35.

2 Montesquieu, Do espírito das leis. São Paulo: Saraiva, 2000, p.167-68.

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11 legitimando o poder, como no seu elemento privado, enquanto forma de liberdade individual de cada cidadão3.

A Monarquia Constitucional assente na tradição religiosa como força política e social, acabou por resultar em conflitos públicos e atritos que se prolongou ao século seguinte, XX.

A Constituição de 18224, impelida por uma essência democratizante e num âmbito inovador, que incluiu uma componente religiosa e espiritual, declara como objetivo primordial a «liberdade, segurança, e propriedade de todos os Portugueses»5. Salientar ainda que a Constituição tem como carácter base, fundamentos religiosos, sendo que o texto é proclamado «Em Nome da Santíssima e Indivisível Trindade».

O texto constitucional revela-se ousado em determinados princípios: a igualdade de qualquer cidadão português perante a lei6, a soberania indivisível da Nação7, e a divisão dos poderes legislativo, executivo e judicial8.

Nesta linha de pensamento a Constituição vem permitir o princípio da livre expressão do pensamento no contexto religioso. Como tal, articula ideais como «um dos mais preciosos direitos do homem», sendo que, cada português pudesse, ««[...] sem dependência de censura prévia, manifestar suas opiniões em qualquer matéria [...]»9 . No entanto, no artigo 25.º afirmava que «A Religião da Nação Portuguesa é a Católica Apostólica Romana. Permite-se, contudo aos estrangeiros o exercício particular de respetivos cultos»10.

Ora, nesta medida, subentendia-se que todos os portugueses eram efetivamente católicos. Qualquer indivíduo que professasse uma religião contrária ao catolicismo, estaria a professar uma religião estrangeira. Considerava-se que apenas os cidadãos que não eram portugueses poderiam exercer outro tipo de culto que não o católico. Todo o ato religioso, bem como qualquer forma religiosa só seria válida e aceite se viesse da religião do Estado; a Igreja Católica Apostólica Romana.

3 Cf. António Matos Ferreira – Desarticulação do Antigo Regime e Guerra Civil. In História Religiosa de Portugal, vol. 3, p. 21-35.

4 Promulgada a 23 de setembro e em vigor até à Vila-Francada (julho de 1823) e com uma reposição temporária entre 10 de setembro de 1836 e 4 de abril de 1838.

5Cf. Artigo 1.º da Constituição de 1822. In As constituições portuguesas de 1822 ao texto atual da constituição. Introdução de Jorge Miranda. Lisboa: Livraria Petrony, 1992, 3ª edição, p. 29.

6 Cf. Art. 9.º da Constituição de 1822. In As Constituições portuguesas, p. 31.

7 Cf. Art. 26.º da Constituição de 1822. In As Constituições portuguesas, p. 36.

8 Cf. Art. 30.º da Constituição de 1822. In As Constituições portuguesas, p. 37.

9 Art. 7.º da Constituição de 1822. In As constituições portuguesas, p. 30.

10 As Constituições Portuguesas, p. 35.

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12 A Carta Constitucional baseia-se desde o seu início num princípio distinto, o poder não se centra na soberania nacional, mas no rei. É o rei quem outorga a Constituição, sobre ele reside o poder de qualquer decisão. Esta Carta Constitucional mantém a separação de poderes, há um poder legislativo, executivo e judicial, mas a novidade irá residir no poder moderador. Este poder consiste na intervenção do rei para nomear ou demitir governos. É o rei quem tem praticamente o poder absoluto no que concerne à questão política da nação. Esta Carta terá uma curta duração, uma vez que em 1828 D.

Miguel usurpa o poder e restaura a monarquia absoluta. Entre 1828 e 1834 há uma Guerra Civil entre os liberais e os miguelistas. Esta Guerra Civil finda com a Convenção de Évoramonte e vitória dos liberais. Há uma restauração da Carta Constitucional, será a segunda vigência da Carta Constitucional que também terá um breve período de execução, de 1834 a 1836, quando surge a Revolução de Setembro entre os liberais radicais e os liberais conservadores. Entra em vigência a Constituição de 1822, também por um curto período. A Carta Constitucional de 1842 é reposta, mantendo-se em vigor até à implantação da República11.

A Carta Constitucional desempenhou um papel preponderante enquanto garante da ordem e da legitimidade. Esta, delineada pela divina graça na definição de um Estado confessional, propunha-se garantir as liberdades acima mencionadas aos cidadãos portugueses. Sublinhar que no artigo 6.º, «A Religião Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Reino. Todas as outras Religiões serão permitidas aos Estrangeiros com seu culto doméstico, ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de Templo»12. É bastante visível uma certa imposição por parte do Estado, bem como da própria igreja católica, em que todos os cidadãos portugueses professem esta denominação religiosa no sentido que esta mesma religião é definitivamente a religião do Estado português13. É evidente, que sob este panorama, qualquer indivíduo que professe uma denominação religiosa diferente seria categoricamente marginalizado.

A atitude do Estado português no século XIX em relação às denominações fora do contexto do catolicismo, é a de as manter num universo paralelo e não integradas no sistema religioso nacional.

11 Essa manutenção foi integrada na sobreposição de quatro Atos Adicionais datados de: 1852, 1885, 1895- 1896 e 1907.

12 As constituições portuguesas, p. 105.

13 Todavia, a questão da cidadania e da pertença à nação intrinca-se com as disposições do artigo 7º, nomeadamente com a integração na definição de cidadãos portugueses dos «Estrangeiros naturalizados, qualquer que seja a sua Religião». (As constituições portuguesas, p. 105).

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13 Salientar ainda que a Carta apresenta uma disparidade e uma falta de coerência nos modos como fala de direitos do cidadão e ao mesmo tempo pode discriminar segundo a sua identidade religiosa. Tal facto é visível no artigo 145.º da Lei fundamental,

«Ninguém pode ser perseguido por motivos de Religião, uma vez que respeite a do Estado, e não ofenda a Moral Pública»14.

Portugal, ao longo da sua história, foi sempre vanguarda no que diz respeito a relações e acordos com outros países através de casamentos monárquicos, mas não só.

País por excelência na área da navegação, criou laços além-fronteiras mediante os acordos comerciais efetuados com diversos países. A Grã-Bretanha foi efetivamente um país com relações próximas com Portugal.

Em 1842, no reinado de D. Maria II de Portugal e a rainha D. Vitória da Grã- Bretanha, foi assinado um Tratado que permitia uma relação comercial mais estreita entre os dois países. Recordar que neste ano, a Carta Constitucional tinha sido reposta em Portugal e que, portanto, vigoravam os estatutos inerentes à mesma.

O Tratado de Comércio e Navegação assinado a 3 de julho, em Lisboa, pelas monarcas, apelava a uma interação e uma articulação de direitos e privilégios entre ambos os países.

No entanto, e é bom sublinhar, que estes dois países professam religiões divergentes, o que de certa forma acabaria por tomar proporções inesperadas.

Portugal é um país que na sua génese professa a religião católica ao passo que, a Grã-Bretanha está vinculada ao protestantismo. É nesta dimensão que ambos os países se confrontam nos diferentes dogmas religiosos, esperando que o outro o aceite como tal, na sua diferença. Na realidade, é neste estranhamento confessional que há um despertar no olhar o outro, na diferença e no que isso pode de certa forma influenciar modos de ser e de estar. É neste âmbito que Portugal toma determinadas atitudes que, à partida, irão influenciar a relação estabelecida entre os dois países.

O Tratado Comercial dispunha de artigos que promoviam a relação, bem como, uma compreensão face às diferenças religiosas, consignava aos súbditos de cada uma das partes o «[...] livre uso e exercício da sua religião, sem por forma alguma serem inquietados pelas suas opiniões religiosas [...]»15. Referente ao artigo 145.º da Carta

14 As constituições portuguesas, p. 136.

15José Ferreira Borges de Castro – Nova collecção de tratados, convenções, contratos e atos públicos celebrados entre a Corôa de Portugal e as mais potências compiladas por ordem do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Tomo I (1840-1862). Lisboa: Imprensa Nacional, 1890, p. 15.

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14 Constitucional, o Tratado Comercial esclarece e reforça o seu sentido, decretando que os fiéis poderão «[...] reunir-se para objetos de culto publico e para celebrarem os ritos da sua religião nas suas próprias moradas ou em capellas, ou logares para esse fim destinados, sem que agora, nem para o futuro, soffram o menor embaraço ou interrupção qualquer[...]»16.

Este Tratado é absolutamente indispensável para ambos os países. O Tratado vai ditar de que forma é que as comunidades protestantes se podem articular em Portugal no período entre 1852 e 1911. Tem como base dois fundamentos necessários, o primeiro tem que ver com a liberdade religiosa que é concedida aos cristãos reformados, tendo em conta que estamos a falar de um país nomeadamente de tradição e de predominância protestante. O segundo aspeto é o de permitir que os protestantes usem este documento como meio de defesa aos seus direitos e liberdade religiosa como cidadãos britânicos em terras lusas. Inclusive, este documento foi utilizado por diferentes personalidades da época. Uma individualidade que pretendemos destacar é, Henry Maxwell Wright17. Henry Wright foi acusado diversas vezes pelas autoridades portuguesas de ofensas contra a religião estatal. No entanto, se a Carta Constitucional refutava licitamente acusações contra Wright, o Tratado vinha desfazer essas mesmas acusações apoiando-se nas clausulas que defendiam os direitos que lhe eram inerentes. Prova disso, foi em 1887, em que os britânicos, em defesa de Wright, refutaram os artigos que mostravam os seus direitos «specified in articles 17 and 18 of the Treaty»18, durante o decorrer do processo.

É interessante notar as discrepâncias existentes e contraditórias entre dois documentos que serviriam tanto para acusar como para defender o réu no que se referia em termos de ações religiosas.

O primeiro Código Penal é aprovado em Portugal a 10 de dezembro de 1852, no reinado de D. Maria II e durante a ditadura do Duque de Saldanha. O Código Penal surge

16 José Ferreira Borges de Castro – Nova collecção de tratados, p. 15. No artigo 1.º do Tratado acrescentava- se ainda que eram autorizadas a edificação e manutenção das capelas e lugares de culto dentro dos domínios dos respetivos súbditos, sendo que a única limitação a essa construção seria a impossibilidade desses lugares terem sinos ou torres de sinos.

17 Henry Maxwell Wright (1849-1931), cidadão luso-britânico (nascido em Portugal, filho de pais ingleses) destacou-se como missionário evangélico de influência anglicana e hinólogo. Desempenhou funções não apenas nos Açores, mas também na Madeira, no Porto, em Lisboa e nas Bermudas. Foi um dos fundadores da União Cristã da Mocidade Portuguesa do Porto (1905) e foi também um dos membros da Comissão Executiva do norte, eleita na sequência da Primeira Assembleia Nacional da Aliança Evangélica Portuguesa (1925). Cf. em: A influência britânica no protestantismo português de Fernando Peixoto, Anales de História Contemporânea, 2001.

18 Arquivo Histórico Diplomático – MNE. Documentação guardada no depósito do Palácio velho.

Reclamações inglesas (1854-1901) – Processo Henry Maxwell Wright.

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15 na medida em que há uma necessidade extrema de sistematizar e unificar as leis existentes no país, isto porque o país vê-se emaranhado pela diversidade de fontes de direitos e normas.

1. Henry Maxwell Wright (1849-1931) – Cidadão luso-britânico e missionário evangélico de influência anglicana. Desempenhou funções nos Açores, na Madeira, no Porto, em Lisboa e nas Bermudas. (Biblioteca Nacional de Portugal)19

Com a passagem dos sucessivos governos liberais, o Estado português considerava premente uma organização da sociedade que, passaria necessariamente por uma

19 http://www.hymntime.com/tch/bio/w/r/i/g/wright_hm.htm .

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16 ordenação legislativa20. Não sendo o único país a exercer esta nova forma de criação legislativa, a par com outros países europeus, Portugal lançou-se de igual modo para uma reestruturação na área jurídica. É assim que surge o Código Penal de 1852.

O código Penal é baseado em códigos estrangeiros, nomeadamente: o Código francês de 1810, o Código brasileiro de 1831 e o espanhol de 1848. Salientar que o Código português continha quatrocentos e oitenta e nove artigos21 e que se baseavam em três princípios fundamentais: o «nullum crimen sin lege», a proibição da interpretação extensiva e da analogia e a limitação do poder arbitrário dos juízes. A jurisdição sobre o culto público estava antes de mais alicerçada nos artigos do Código consignados no Título I do Livro II e que tratavam «Dos crimes contra a religião do reino, e dos cometidos por abuso de funções religiosas».

A inclusão, na primeira parte do livro do Código Penal dos crimes contra a religião do país parece, essencialmente, constituir um reforço do entendimento do Estado confessional como uma osmose da nacionalidade e de uma religiosidade católica.

Procurando estabelecer uma hierarquização dos crimes ali sistematizados, dos menos graves aos mais graves, de acordo com as penas previstas, a falta de respeito pela religião católica, apostólica e romana é o primeiro dos crimes integrados no capítulo I da listagem dos delitos22.

Efetivamente, são delimitadas faltas de gravidade havendo uma escala progressiva das mesmas. Referir que estas infrações ou transgressões são sempre consideradas contra a religião do Estado, isto é, a Igreja católica. Estes atos poderiam ser palavras cometidas, ditas ou escritas, injúrias públicas aos dogmas e ritos da Igreja, a tentativa de propagação de doutrinas contrárias às existentes, a celebração de atos públicos de um culto não-

20 Nesse sentido afirmavam os redactores do Código de 1852: «É pois manifesta, a todos os respeitos, a utilidade de um Codigo penal portuguez, que vá de prompto substituir a antiga Legislação criminal, dispersa e cruenta; acabar de uma vez com o illimitado arbítrio que necessariamente resulta não menos na confusão que da nimia severidade das leis; abrir uma nova época de moralidade e justiça; e levantar mais um padrão de gloria no Reinado de Vossa Magestade.» (Código Penal approvado por decreto de 10 de Dezembro de 1852. Lisboa: Imprensa Nacional, 1853, p. VI).

21 Formalmente, o Código foi dividido em dois livros: as «Disposições Gerais», aborda as questões dos crimes em geral, dos criminosos e das penas e seus efeitos; e «Dos crimes em especial», onde é descrito o tipo de crimes e se especifica o tipo de penas aplicar a cada um deles. Relativamente à aplicabilidade do Código, a mesma estendia-se a cidadãos portugueses como também a quaisquer estrangeiros residentes em territórios portugueses; aos portugueses que, fora desses territórios, cometessem algum crime contra a segurança interior ou exterior do Estado; e a todos os indivíduos que cometessem crimes a bordo de um navio português no mar alto. Esta abrangência permitiu então que de certo modo se alargasse o espectro de influência das autoridades portuguesas sobre as práticas religiosas de cidadãos estrangeiros em Portugal e de portugueses residentes no estrangeiro, o que não deixou de produzir resultados.

22 Cf. Art. 130º, §2.º do Código Penal de 1852. In Código Penal approvado por decreto de 10 de Dezembro de 1852, p. 36-37.

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17 católico, e quaisquer atividades prosélitas ou tentativas de conversão para «religião diferente, ou seita reprovada pela Igreja»23. Como punição para quem cometesse tal desfaçatez, corria o risco de incorrer numa pena de prisão que ia de um mês a três anos, incluindo pagamento de uma multa24. Relativamente aos estrangeiros, a pena aplicada era a expulsão do país25. Entre os artigos que foram mencionados, muitos outros além destes foram elaborados, tendo sempre como base infrações contra a Igreja do Estado português, Igreja Católica Romana. Leva-nos então a concluir que esta lei penal condicionava à escolha de outras denominações religiosas, o indivíduo era obrigado a escolher a religião católica para não incorrer em represálias, multas ou penas de prisão.

No século XIX, e em virtude do Tratado Comercial assinado entre Portugal e a Grã-Bretanha, o Protestantismo começa a ganhar destaque com a chegada de cidadãos ingleses26. Apesar do paradoxo entre as leis nacionais e as do Tratado Comercial, o protestantismo começa a ramificar-se e a ter a sua solidez no país. O Código Penal português foi revisto e deu entrada um novo Código em 1886. No entanto, as leis pouco tinham sido alteradas, apenas o facto da aplicação das penas terem atenuado.

Todavia, passados trinta e quatro anos depois do primeiro Código Penal, as comunidades protestantes continuavam a ser uma minoria no país.

De 1886 até 1911 a legislação às restrições da liberdade religiosa manteve-se até à separação entre o Estado e a Igreja. Relativamente a este Código Penal, ele irá estar em vigor até 1982, tendo havido algumas reformulações e ajustes.

23 Cf. Artigo 130.º (1.º, 2.º e 3.º) do Código Penal de 1852. In Código Penal approvado por decreto de 10 de dezembro de 1852, p. 36.

24 Em relação à pena de prisão correccional esclarece-se no artigo 38.º: «A prisão correcional terá logar em cadêa, ou estabelecimento público destinado para este fim. Não obriga a trabalho, e não póde exceder a tres annos.» (Código Penal approvado por decreto de 10 de dezembro de 1852, p. 15-16.) Em relação à multa, explicita-se no artigo 41.º: «O condenado em multa é obrigado a pagar para o estado uma quantia proporcional ao seu rendimento, até tres annos, arbitrada na sentença, de modo que, por dia, não seja menor que cem réis, nem exceda os dois mil réis, salvo nos casos em que a Lei taxar quantias determinadas.»

(Código Penal approvado por decreto de 10 de dezembro de 1852, p. 16).

25 A pena de expulsão do reino temporária integra-se no grupo das penas maiores (artigo 29.º), juntamente com: a pena de morte; a de trabalhos públicos; a de prisão maior com trabalho, ou simples; a de degredo; e a da perda dos direitos políticos. Esclarece-se no artigo 36.º: «Pela pena de expulsão do reino, é o criminoso obrigado a sair do território portuguez com inhibição de nelle tornar a entrar. Esta pena pode ser por toda a vida, ou temporária, desde três até quinze annos.» (Código Penal approvado por decreto de 10 de dezembro de 1852, p. 15).

26 Definição histórica: «Como atitude religiosa no interior do cristianismo, o protestantismo teve origem no questionamento dos canais sacramentais e litúrgicos administrados por uma hierarquia sacerdotal como meios únicos ou privilegiados de comunicação dos fiéis com Deus e acesso à Graça e à Salvação». O surgimento da designação de «protestante», em 1529, na recusa de príncipes e cidades alemãs aceitarem o edito imperial de Worms que perseguia em Martinho Lutero (1483-1546) dá-lhe um duplo sentido de oposição (à cultura religiosa dominante) e afirmação (da espiritualização da fé como caminho de salvação).

(Dicionário de História Religiosa de Portugal, p. 75).

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18 É precisamente dentro deste contexto que surgem os primeiros missionários adventistas a Portugal. Em 1887, Ellen White, a profetisa da Igreja Adventista afirmava:

«Grande obra é confiada aos que apresentam a verdade na Europa. Há a Itália, a Espanha e Portugal, depois de tantos séculos de escuridão, franqueados à Palavra de Deus – abertos à receção da última mensagem de advertência ao mundo27.

2. Página de rosto da obra Affirmações catholicas contra os erros d’um apostata, de D.

Luiz Maria da Silva Ramos, publicada em 1889. A obra pretendia colocar em oposição clara o protestantismo e o catolicismo romano, entendidos, respetivamente, como erro e verdade. (Biblioteca Nacional de Portugal).

27 Ellen G. White, Review and Herald, 6 de Dezembro, 1887, p.1.

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19 O obreiro Stephen N. Haskell (1833-1922) foi o primeiro adventista a pisar solo português em 21 de julho de 1889. Da sua visita, relata: «Os portugueses são notados pela sua polidez. É concedida a todos a maior liberdade, de todas as partes, para expressarem os seus sentimentos nos jornais e em discursos públicos, tanto sobre assuntos políticos como sobre temas religiosos (…). Os ingleses têm residências em quase todos os locais desejáveis do globo. Isto cria um sentimento que é favorável, também abre portas para o avanço de diferentes ideias sobre religião, bem, como sobre outros tópicos»28.

Posteriormente, a 26 de setembro de 1904, desembarcam em Lisboa Clarence Emerson Renfro, Mary Haskell, sua esposa, e Charles Allen, com seis meses de idade, filho do casal. Naturais de Iowa, Estados Unidos da América, este casal tinha como destino fazer evangelismo em Espanha, mas um cabograma da Conferência Geral, desvia os planos e direciona-os para Portugal. O casal chega a bordo no S. S. Madalena, a Lisboa, vindos de Londres29.

Referir que, nesta altura a Sociedade Bíblica em Portugal já existia, tendo em conta que, a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira já tinha enviado em 1864, W. P.

Tiddy, para abrir uma agência em Lisboa. Vinte e seis anos mais tarde, Robert Moreton é subgerente da Sociedade Bíblica de Portugal e Renfro e Robert tornam-se grandes amigos. Esta é a primeira ligação da Igreja Adventista em Portugal com a Sociedade Bíblica Portuguesa, sendo uma das atuais denominações presentes e colaboradas na mesma30.

Ao início, a vida do casal não foi fácil, pois atravessaram dificuldades económicas e tiveram que dominar uma língua que não a sua. Estes foram alguns dos entraves que tiveram de enfrentar. Contudo, o casal começou a ver frutos do seu esforço, e a 21 de setembro de 1906, surgem os primeiros batismos na praia de Carcavelos31.

Depois de lançada a semente, na hora de colher os frutos constatou-se a necessidade de uma sala de culto. Assim, em 1906 abrem-se as portas da primeira sala de culto em Lisboa, na Rua de S. Bernardo à Estrela, nº 120, sob a direção do Pr. Renfro32.

A imprensa nacional não ficou alheia ao sucedido e, em 28 de março, de 1907, o jornal O Século, publica na primeira página e com continuação na página seguinte, um

28 Ler acerca desta viagem o capítulo “Scouting for missions”, Review and Herald, 24 de Setembro de 1889, p.602.

29 Ernesto Ferreira, Arautos de Boas Novas – 1904-2004 Centenário da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Portugal. Publicadora Servir, SA. 2008.

30 Ibidem p. 52.

31 Ibidem p. 57.

32 Ibidem p. 63.

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20 extenso artigo intitulado “Uma Nova Religião em Lisboa - o que é a igreja Adventista do Sétimo Dia – Deve Guardar-se o Sábado – Cristo vai chegar sobre as Nuvens do Céu”. O artigo é ilustrado com uma foto do Pr. Rentfro, onde transmitia uma mensagem muito positiva do povo Adventista e das suas doutrinas33.

No número de 15 de abril, o semanário Ilustração Portuguesa publicou também com várias fotos, um artigo intitulado “Nova Religião em Portugal – A Igreja Adventista”34. A Igreja Adventista desde então, não parou a sua expansão. Em 1906, Ernesto Schwantes iniciara a sua atividade no Porto, em 1910 chega a Portugal o pastor Paul Meyer. Um ano antes, Clarence Rentfro substituirá Ernesto Schwantes (regressado ao Brasil) na região do Porto. As cidades de Portalegre, Tomar e Coimbra conhecem a mensagem adventista. Em 1914 havia 20 membros adventistas no Porto e 41 em Lisboa.

O pastor Rentfro, assumiu em 1917 uma nova missão no Brasil. Deixou Portugal, juntamente com a família a 17 de março de 1917 e permaneceu no Brasil até 1924. À sua partida, havia 85 adventistas no nosso país. Clarence Rentfro faleceu em 1951 aos 74 anos de idade depois de um acidente de viação. A esposa Mary Haskell viveu até aos 97 anos de idade, vindo a falecer em 197235.

2. Os Adventistas do Sétimo Dia em Portugal: presença e implementação

A Igreja Adventista do Sétimo Dia teve a sua origem no reavivamento espiritual que se verificou em vários países da Europa e sobretudo na América do Norte durante a primeira metade do século XIX. O despertar espiritual deveu-se sobretudo ao estudo das profecias cronológicas nos livros de Daniel e Apocalipse36.

É, no entanto, nos Estados Unidos da América, que estes estudos terão um impacto profundo. Segundo um estudo profético das duas mil e trezentas tardes e manhã, referente ao livro bíblico de Daniel, que os levam a crer que a segunda vinda de Cristo estaria para breve. Guilherme Miller, em 1818, membro da Igreja Baptista, ao estudar a profecia chegou à conclusão de que a volta de Cristo seria entre 1843 e 1844. Inicialmente, Miller

33 Ibidem p. 103.

34 Ibidem p. 108.

35 Ibidem p.121-22.

36 As informações aqui apresentadas sobre o despertamento no estudo das profecias cronológicas encontram-se amplamente desenvolvidas por: E. L. Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers.

Washington, D.C.: Review and Herald Publ. Assn., vol. I, 1950; vol. II, 1946; vol. III, 1948; vol. IV. 1954.

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21 fez anunciar o que tinha estudado a um pequeno grupo de amigos, mas à medida que ia lendo, a sua mensagem era divulgada com mais intensidade e fervor a outras pessoas. A sua convicção chegou a milhares de pessoas, que também certas da profecia da volta de Cristo seria para breve, aceitaram a mesma. Um extenso grupo renunciou aos seus bens terrenos e aguardaram pelo momento que esperavam. A verdade, porém, é que, apesar de todas as expectativas, com o termo primeiramente fixado em 31 de março de 1844, data essa que se estendia até 22 de outubro do mesmo ano, não ocorreu a tão ansiosamente esperada segunda vinda de Cristo37.

Após o terrível desapontamento do não regresso de Jesus, o grupo millerita desfez- se dando lugar a três grupos, com características definidas. De um desses três grupos, surgem então os pioneiros da futura denominação, Adventistas do Sétimo Dia.

Uma das pioneiras e um marco relevante nesta denominação é uma jovem de nome Ellen White38. Após o desapontamento e ainda a decorrer o ano de 1844, em

37 O dia 10 de Tishri de 1844, segundo o calendário judaico, foi estabelecida por Samuel Snow, ex- ministro congregacionalista, que na altura se tornou muito popular. Lemos a este propósito na SDAE pela voz de Samuel Snow: «Começando com um artigo escrito em 16 de fevereiro de 1843, ele realçou o décimo dia do sétimo mês judaico, Tishri, o dia judaico da expiação, como sendo o verdadeiro fim da data profética dos 2300 anos. Mais tarde estabeleceu o dia específico como sendo 22 de outubro de 1844, que nosso calendário equivale ao décimo dia do sétimo mês daquele ano segundo o velho calendário judaico».

38 Helen Harmon, nasceu a 26 de novembro de 1827 numa pequena quinta de Gorham, no estado do Maine.

Aos 8 anos de idade um acidente na escola, durante o qual uma colega a atinge com uma pedra no nariz, quase a leva à morte e impede-a de seguir uma escolaridade normal. As sequelas desse acidente vão repercutir-se na sua saúde que será sempre frágil.

A família de mais sete irmãos frequentava a igreja metodista, até que em 1840, a aceitação das ideias de William Miller, levou-os a serem expulsos dessa igreja.

Em dezembro de 1844, ela teve uma visão sobre o futuro da igreja Adventista. Aceite por uns, contestada por outros, ela continuou a partilhar com quem a queria ouvir o conteúdo das suas visões.

Ao longo da sua vida teve mais de duas mil visões, a maioria das quais registou em livros e em artigos.

Tónica dominante da sua vida, foi sempre de dar o primeiro lugar à Bíblia como regra de fé e norma de conduta para todos os crentes. Lutou nos seus escritos contra o fanatismo e o excesso de zelo religioso.

Nunca se considerou a si mesma como profetiza, mas sim como mensageira.

Casou em 30 de agosto de 1846 com Tiago White e partilhou com ele uma vida de privações e de lutas, enquanto a igreja adventista ia tomando forma. Dedicou-se a escrever sobre vários temas e no momento da sua morte em 1915, tinha escrito cerca de 45.000 páginas dactilografadas, ou seja, um total de 60 volumes, 4500 artigos revistas e mais de um milhar de cartas. A sua influência na igreja Adventista manifestou-se sobretudo no encorajamento da organização da igreja, nos conselhos de saúde, em especial na abstinência do tabaco e do álcool, nas recomendações duma vida equilibrada, enfatizando o aspeto preventivo da saúde e o cuidado com a alimentação. Foi com base nos seus conselhos que uma clínica foi aberta em Battle Creek em 1866. Lutou também pela promoção da educação. Sob a sua influência várias escolas primárias foram abertas

Ellen White preconizava uma educação capaz de desenvolver o ser humano em todas as áreas da existência e não apenas no ponto de vista intelectual. Do ponto de vista doutrinário, os seus escritos exaltaram sempre o estudo da Bíblia, norma de vida e de julgamento. Uma das suas obras mais importantes, “O Desejado de Todas as Nações” retrata e comenta a vida de Jesus, de acordo com os Evangelhos.

Após a morte do marido, em 1881, ela viajou bastante. Esteve na Europa (1885-1887), na Austrália (1891- 1900), ajudando ao estabelecimento da igreja nestes continentes.

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22 dezembro, com a idade de 17 anos, crê-se que esta jovem teve uma visão, a primeira de muitas ao longo da sua vida.

3. Ellen Gould White (1827-1915),foi uma escritora cristã norte-americana e uma das fundadoras da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Revista Adventista Sinais dos Tempos, 2004 Portugal

Regressada aos Estados Unidos, fixou residência em Santa Helena, Califórnia, mas continuou, sempre que a saúde lhe permitia a viajar dentro do país, procurando servir a igreja que amava.

Faleceu a 16 de julho de 1915, com a idade de 87 anos. https://www.adventistas.org.pt/quem-somos/a- nossa-historia .

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23 De acordo com os órgãos oficiais da igreja, Ellen White teve mais de duas mil visões, escreveu 5000 artigos e 49 livros, entre os quais encontramos conselhos sobre saúde, por exemplo: abstinência de álcool, café, tabaco, a importância da saúde preventiva ou a adoção de um regime alimentar vegetariano39.

Os Adventistas do Sétimo Dia acreditam que as suas visões em nada são discrepantes com a Bíblia e assim, aceitam as visões como vindas de Deus, com mensagens dirigidas ao povo. No entanto, é-nos dito que todas as doutrinas adventistas foram estabelecidas apenas pelo estudo direto da Bíblia Sagrada e não das supostas visões anunciadas40.

É, pois, a partir de 1863 que se fixa o início da Igreja Adventista do Sétimo Dia, como denominação organizada. Contava então, seis Conferências, cento e vinte e cinco congregações (igrejas e grupos) e três mil e quinhentos membros41.

Que significado tem o nome “Adventistas do Sétimo Dia”? Adventista vem da palavra “advento”, já que os adventistas à semelhança dos católicos, acreditam numa segunda vinda de Cristo, e “sétimo dia”, uma vez que consideram que as leis morais (os dez mandamentos) não foram alteradas, inclusivamente o quarto mandamento que refere a guarda do sábado (com início à sexta-feira ao pôr do sol), que é o sétimo dia da semana, à semelhança do que se verifica na religião judaica42.

Os Adventistas do Sétimo Dia têm atualmente 28 crenças43 fundamentais, passíveis de alteração, dado que não as consideram como dogmas e sim doutrinas, que podem ser alteradas caso haja necessidade. Nomeiam-se apenas as seguintes por estarem relacionadas com o tema deste trabalho:

1) Consideram como único fundamento a Bíblia (Sola Scriptura – Somente as Escrituras);

39 http://www.centrowhite.org.br/ellen-g-white/biografia-de-ellen-g-white-1827-1915/ .

40 Ernesto Ferreira, Arautos de Boas Novas – 1904-2004 Centenário da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Portugal. Publicadora Servir, Sa. 2008. p.31.

41 A. W. Spalding, Origin and History of Seventh-day Adventists. 4 vols., 1961,1962. Sobre a organização da Igreja, vol. I, p. 279-311; C. M. Maxwell, Tell It to the World. Trad. Portuguesa: História do Adventismo.

S. André, S. Paulo, Casa Publicadora Brasileira, 1982, p. 137-50.

42 É-nos dito que «O sábado começa ao pôr-de-sol de sexta-feira e termina ao pôr-de-sol de sábado (ver Gn.

1:5; cf. Mar. 1:32). A Escritura chama ao dia anterior ao sábado (sexta-feira) o dia de preparação (Mar. 15:

42) – um dia para nos prepararmos para o Sábado de maneira a não prejudicar a sua santidade». Os Adventistas do Sétimo Dia Creem…Uma Exposição Bíblica de 27 Doutrinas Fundamentais. Publicadora Atlântico. 1989, p. 254.

43Cf. Os Adventistas do Sétimo Dia Creem - Uma Exposição Bíblica de 27 Doutrinas Fundamentais.

Publicadora Atlântico. Sacavém. 1989. ou: https://www.adventistas.org.pt/quem-somos/declaracao-oficial- de-crencas-fundamentais .

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24 2) Encaram Ellen White como sendo uma profetisa, no entanto, toda a literatura elaborada pela mesma é apenas e só um complemento à Bíblia, nunca contradizendo nem se sobrepondo a Esta;

3) Apresentam uma visão holística do ser humano, isto é, têm como base o referido no Novo Testamento em I Coríntios 6:19, 20: «Acaso, não sabeis que o vosso corpo é o santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmo? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo» Para um Adventista do Sétimo Dia, os princípios bíblicos devem ser espelhados na vida quotidiana, através de diversos aspetos, como a alimentação, mordomia - vestuário, gestão económica, nos relacionamentos sociais e familiares, o cuidado com a natureza, e com o corpo através do exercício físico;

4) O hábito alimentar é uma preocupação constante, seguem à risca as restrições alimentares referidas em Levítico 11 (animais impuros), além de se absterem da ingestão de álcool, café, chá preto e substâncias consideradas dependentes. São adeptos da prática de exercício físico, sendo que muitos dos crentes praticam uma dieta vegetariana, por considerarem que é esta que se aproxima mais do plano original de Deus no momento da criação do homem e da mulher (Adão e Eva)44. Os Adventistas do Sétimo Dia estão organizados em 5 níveis distintos, que vão desde o membro singular até à organização mundial45:

1) Igreja local – conjunto de membros num corpo organizado, a união de vários distritos forma uma Missão/Associação;

2) Missão/ Associação - que é um corpo organizado e unido de igrejas de um Estado, província ou território, a organização de várias missões e associações forma a União;

3) União - A União é um corpo unido de associações, missões ou campos dentro de um território maior. Um conjunto de Uniões formam uma Divisão;

4) Divisão - A Divisão é constituída por vários países e é dirigida pelos seus presidentes que coordenam todos os departamentos da igreja. Os quinquénios estabelecem os prazos para as metas que se propõem. Metas estas para a

44 Os Adventistas do Sétimo Dia Creem - Uma Exposição Bíblica de 27 Doutrinas Fundamentais.

Publicadora Atlântico. Sacavém. 1989.

45 https://www.adventistas.org/pt/institucional/os-adventistas/adventistas-no-mundo/ .

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25 construção de escolas, universidades, hospitais, publicadoras, centros de multimédia (TV, Rádio e Internet), planos missionários em áreas ainda sem presença adventista, evangelismo nas suas diversas formas nas cidades, localidades e países. Antes de terminar o quinquénio são escolhidos os novos líderes para cada união, associação e missão. Ao todo existem 14 Divisões em todo o planeta que abrangem 235 países em todo o mundo. Exemplo: União Intereuropeia – compreende os países a sul da Europa, onde se inclui Portugal.

Um conjunto de Divisões formam a Conferência Geral;

5) A Conferência Geral – Hierarquicamente é a maior estrutura da Igreja. Tem a autoridade máxima e é ela quem tem a palavra final no que concerne a decisões doutrinais ou administrativas. Tem um dirigente máximo que é um presidente e cerca de dez vice-presidentes, secretários e tesoureiros, além dos presidentes departamentais e respetivos secretários. Todos os dirigentes nos pontos acima mencionados, reúnem-se a cada cinco anos para escolher os líderes da Conferência Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia por voto democrático nas sessões da Conferência Geral. É através da Conferência Geral que são destinados os envios de ofertas para missões de evangelismo, construção de templos, formação, envio de missionários, evangelismo. É também responsável pela área administrativa e doutrinária da igreja. A sede da Conferência Geral fica localizada em Washington – Estados Unidos da América.

Atualmente existem cerca de 10 mil46 membros batizados em Portugal. Porém, adicionando os jovens e crianças, os inscritos na Escola Sabatina, chegam aos 15 mil membros.

• Alguns dados relevantes sobre a Igreja Adventista no mundo47:

• Estão presentes em 212 países a nível mundial, inclusive Portugal

• Pregam em 215 línguas e dialetos, uma dessas línguas é o português

• Existem atualmente 21 milhões de Adventistas no mundo, tendo em conta que poderiam ser 41 milhões, conquanto 20 milhões apostataram até ao momento

• Têm 8540 unidades escolares em que Portugal Continental e ilhas contribuem com 3 colégios, 2 externatos e 1 jardim de infância

46https://documents.adventistarchives.org/Statistics/ASR/ASR2021.pdf?_ga=2.179335332.189933584.16 26024779-2037803628.1626024778 .

47 https://www.adventistas.org/pt/institucional/os-adventistas/adventistas-no-mundo/ .

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• Têm 23 indústrias de alimentos

• Possuem 681 hospitais, orfanatos e clínicas, sendo que em Portugal existem 2 clínicas

• 70% dos adventistas vivem na América latina e África

• 130 países contam com o apoio da ADRA (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais)48. As igrejas Adventistas em Portugal possuem este departamento que serve de apoio a pessoas carenciadas e está presente em catástrofes colmatando as necessidades primárias, independentemente do seu credo, etnia e língua. Em Portugal, todas as igrejas dispõem deste departamento de ajuda ao próximo.

Assistiu-se à queda do regime monárquico e à instauração da I República Portuguesa, a 5 de outubro de 1910. Podemos aduzir que no período anterior a 1910 o Estado não era fundamentado unicamente pelo catolicismo, ainda que fosse caracterizado por ser um estado confessional era, no entanto, um estado liberal. Era nestes moldes que se regia o princípio constitucional do regime. Todavia, a elite política da época embora fosse vista pelos católicos mais militantes como cada vez mais longínquos do Estado liberal, esta elite continuava a espelhar a imagem católica49.

O protestantismo, tinha uma imagem perspetivada e influenciada pela história da sua origem. Era aliás, percecionada como uma oposição à Igreja Católica.

Com a instauração da República dá-se a separação entre a Igreja e o Estado. As notícias da altura assinalavam a passagem de um tradicional regime político-religioso para o de uma progressiva separação entre a Igreja e o Estado.

Desde os finais do século XIX que a expansão do protestantismo em Portugal é materializada com mais intensidade e a sua representação no país começa a alastrar-se com a construção de templos.

Voltando ao pioneirismo Adventista em Portugal, o primeiro contacto dum pioneiro da Igreja Adventista com o nosso país em 1889, o protagonista foi Stephen Haskell. Este líder da Igreja Adventista fez uma viagem de pesquisa missionária à volta do mundo, visitando a Europa Ocidental, Africa do Sul, Índia, China, Japão e Austrália50.

48 https://adra.org.pt/ .

49 Bruno Cardoso Reis, O Catolicismo e o Estado na História Religiosa Contemporânea. Lusitania Sacra.

2ª série, 21. 2009, p.35.

50 Ernesto Ferreira, Arautos de Boas Novas – 1904-2004 Centenário da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Portugal. Publicadora Servir, S.A. 2008, p.31.

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27 O próximo pioneiro a ter contacto com o nosso país e com a nossa cultura, já não o faria como simples visitante, mas como iniciador da Igreja Adventista do 7º Dia em Portugal.

Foi Clarence Rentfro, quem em 1904, pisou solo português como pioneiro da Igreja Adventista em território lusitano.

Em 1909 a Igreja Adventista do Sétimo Dia adquiria a sua primeira sala de culto, situada na Rua da Cruz dos Poiais, 8, r/c, perto de São Bento. Fora alugada pela renda anual de 20,000 réis, onde a congregação se reuniu ao longo de dois anos51.

De forma progressiva, manifesta-se uma permissão para a construção de novos templos e dessa forma a proliferação dos mesmos torna-se visível. No entanto, apesar do Estado respeitar a liberdade religiosa, as igrejas protestantes foram alvo de algumas agressões. Estes atentados eram realizados através de quadrilhas constituídas por elementos populares que, provocavam e mostravam-se intolerantes cometendo distúrbios e desordens contra os templos52.

A própria definição do termo “protestante” tinha a priori uma conotação perniciosa e hostil. O rótulo “protestante”, surge da cisão da Igreja Católica e Protestante.

Há quinhentos anos, o monge Martinho Lutero53 (1483-1546) vem expor 95 teses em 31

51 Em 1908 é visível determinada informação no diário do missionário, Renfro, este escreveu: «(Em Lisboa) temos um local que pode conter uma centena de pessoas; os ouvintes variam entre 40 e 50 pessoas. As reuniões têm lugar quatro vezes por semana, incluindo o Sábado». Arautos de Boas Novas, Centenário da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Portugal. Publicadora Servir, S.A. 2008. p. 75.

52 No diário de Renfro podemos ver um testemunho seu relativamente a este assunto: «Por exemplo, certo dia, uma quadrilha de dezasseis desordeiros invadiram a sala de culto da Rua das Chagas.» Arautos de Boas Novas, Centenário da Igreja Adventista do Sétimo Dia. 2008, p. 79.

53 Martinho Lutero (Eisleben, 1483-1546) nasceu no seio de uma família de camponeses da Turíngia.

Depois de iniciado o curso de Direito entrou, em 1505, para o Convento dos Eremitas de Sto. Agostinho em Erfurt. Professou em 1506 e em 1507 foi ordenado sacerdote. A partir de outubro de 1508 ensinou Filosofia Moral em Wittenberg e no ano seguinte tornou-se bacharel em Escritura. No seguimento do regresso a Erfurt, ainda em 1509, entrou em contacto com a devotio moderna por influência do vigário- geral da sua Ordem, João Staupitz. Entre 1510 e 1511 esteve em Roma a tratar de assuntos da Ordem e no Verão de 1911 tomou posse da cadeira de Escritura em Wittenberg, acabando por se doutorar em 1512. Até 1518 redigiu os comentários dos Salmos e das Epístolas de S. Paulo aos Romanos, Gálatas e Hebreus.

Durante esse período delineou as linhas fundamentais da sua teologia reformadora. A pregação das indulgências pelo dominicano João Tetzel, na região vizinha de Brandeburgo, inspirou alguns sermões de Lutero, e, acabou, em 1517, por dar lugar a uma disputa académica sobre a teologia e a questão das indulgências e, indiretamente, à questão pontifícia. Nesse mesmo ano, a publicação das Noventa e Cinco Teses marcou o impulso fundamental do movimento da Reforma. No decorrer do processo conflituoso entre Lutero e Roma, o reformador publicou as suas mais importantes obras: À nobreza da nação alemã, Da liberdade do cristão, Do cativeiro babilónico da Igreja. Posicionando-se contra o primado romano e negando a infalibilidade dos desígnios conciliares, Lutero acabaria por ser excomungado em 1520. Em 1521, diante da Dieta de Worms, Lutero recusou retratar-se e Carlos V, que presidia à assembleia, tomou a decisão de combater as doutrinas luteranas. Entre 1521 e 1522 começou a tradução da Bíblia para a língua alemã. Em 1525, em plena guerra dos camponeses, no interior da qual Lutero motivou ações e procurou uma pacificação, casou-se com a monja cisterciense Catarina de Bora. Essa união representou também a

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28 de outubro de 1517, com o intuito de reformar a Igreja. Contudo, teologicamente essas teses condenavam algumas ideologias e dogmas da Igreja Católica. Não sendo bem aceite, dá-se o ponto de partida da divisão entre a Igreja Católica e Igreja Evangélica Luterana na Alemanha. É nascimento da Reforma da Igreja.

Podemos concluir que o conceito “protestantismo” tem dois sentidos: a) um sentido negativo, na medida em que se define pela distinção em relação à cultura religiosa hegemónica, visão católica; b) e um sentido positivo, em que a sua religiosidade e espiritualidade é centrada na salvação, ponto de vista dos reformadores.

É precisamente nesta base da salvação pela graça que, a Igreja Adventista prega a sua mensagem, que não passou despercebida à comunicação social portuguesa como se verifica pela notícia publicada a 28 de março de 1907, em lugar de destaque nas páginas 1 e 2 do influente diário O Século, realçada com a foto de C. E. Renfro, sob o título “O Fim do Mundo! Uma Nova Religião em Lisboa”54. Numa longa descrição de quem eram os Adventistas do Sétimo Dia, existe um parágrafo em que é mencionado o seguinte:

«…não são apenas uns grandes apologistas da hidroterapia; defendem e professam igualmente, na sua maioria, o vegetarianismo. Como os hebreus, proscrevem a carne de porco. Não bebem vinho, nem chá ou café. Combatem o tabaco. Preparam-se, numa palavra, o melhor que podem, para receber a Jesus puros de vícios...»

Em 1929 registavam-se 228 membros adventistas assim distribuídos: Lisboa 137;

Porto; 48; Portalegre 29 e Tomar 1455.

A partir de então, a igreja entrou em expansão, passou fronteiras e missionários eram enviados para as colónias portuguesas. Era imprescindível haver missionários nas colónias, porque a visão dos adventistas é que o evangelho deverá ser estendido a todas as nações, povos e língua. Nos finais da década de 20, do século passado, os adventistas tornaram-se muito populares e afamados especialmente em Angola pela sua Missão do Bongo. Fora criado um hospital onde médicos e enfermeiros adventistas socorreram às populações mais carenciadas.

demonstração da sua doutrina contra o celibato eclesiástico e contra os votos religiosos. No decorrer dos últimos vinte anos da sua vida, mantendo-se sempre ativo na defesa das suas posições, Lutero foi confrontado com a divisão das comunidades nascidas da sua doutrina reformadora. Cf. Rita Leite, Representações do Protestantismo na Sociedade Portuguesa Contemporânea (Tese de Doutoramento, Universidade Católica, 2009), p.55.

54 Ver fotos 5 e 6.

55 Ernesto Ferreira, Arautos de Boas Novas – 1904-2004 Centenário da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Portugal. Publicadora Servir, S.A. 2008, p.163.

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29 Em Portugal entrava-se num turbilhão de diversos acontecimentos. Em 1926 há a queda da I República e é instaurada uma Ditadura Militar.

Durante 1933 a 1939 sucederam-se diversos acontecimentos. Destacamos a Nova Constituição Política a 11 de abril. Nesse mesmo ano passa a haver um novo regime, Estado Novo, liderado por Oliveira Salazar. É criada a 29 de agosto a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE).

4. Clarence Emerson Renfro (1877-1951), de origem americana é o primeiro missionário adventista em Portugal. Arautos de Boas Novas – Centenário da IASD em Portugal 1904-2004, Portugal

(30)

30 5. Diário O Século, 28 de março de 1907. Influente diário português, surge com duas

páginas e o seguinte título: “O fim do Mundo! Uma Nova Religião em Lisboa”

referindo-se à Igreja Adventista do Sétimo Dia.Arautos de Boas Novas – Centenário da IASD em Portugal 1904-2004, Portugal

(31)

31 6. Segunda página do Diário O Século,28 de março de 1907. Arautos de Boas

Novas – Centenário da IASD em Portugal 1904-2004, Portugal

Durante estes seis anos ocorreram outros acontecimentos não propriamente dentro do país, mas que de certa forma vieram condicionar o funcionamento das atividades propostas e calendarizadas por todas as instituições, inclusive na Igreja Adventista.

Referências

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