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CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE CLÍNICA

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Academic year: 2022

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CURSO DE

FORMAÇÃO EM

PSICANÁLISE CLÍNICA

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1

1

MÓDULO

NOÇÕES DA PSICANÁLISE I

PLANO DE UNIDADE DIDÁTICO - PUD

O curso se propõe a embasar os futuros psicanalistas no

conhecimento do criador da Psicanálise e suas teorias e maximizar entendimento de outras teorias psicanalíticas. Conhecer o

significado de alguns termos importantes para análise.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1

O CRIADOR DA PSICANÁLISE

Sigmund Freud ---7 a 14 CAPÍTULO 2 OS MECANISMOS DE DEFESA

Os mecanismos de defesa ---14 a 30

CAPÍTULO 3 O PSICANALISTA VICTOR FRANKL

O psicanalista Victor Frankl---30 a 31

CAPÍTULO 4 MELENIE KLEIN

Melenie Klein---31 a 35 CAPÍTULO 5 Karl Gustav Jung Carl Gustav Jung--- ---36 a 37 Primeiros estudos--- ---37 Encontro com Freud --- ----37 a 38 Confronto com o inconsciente---39 Polêmicas sobre o nazismo---39 a 42 Reconhecimento internacional---43 Últimos dias ---43 A psicologia analítica---43 a 44 Junh e os conc.

Básicos da Psic.Analítica---44 a 46 O inconsciente--- ---46 a 49

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Arquetipos---49 a 55 O Self- ---55 a 56 Os complexos---56 a 58 Os tipos psicológicos ---58 a 59 A Psique objetiva---59 a 61 Sicronicidade- ---61 a 62

CAPÍTULO 6 CONHECENDO TERMOS E SEUS SIGNIFICADOS IMPORTANTES PARA ANÁLISE

Significados variados--- 62 a 85 Bibliografia ---86

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CAPÍTULO 1 O CRIADOR DA PSICANÁLISE

Freud, formou-se em medicina e especializou-se em Neurologia, tendo logo a seguir criado a Psicanálise. Freud nasceu numa família judaica, em Freiberg in Mähren, na época pertencente ao Império Austríaco.

Atualmente a localidade é denominada Příbor, na República Tcheca.

Freud iniciou seus estudos pela utilização da técnica da hipnose como forma de acesso aos conteúdos mentais no tratamento de pacientes com histeria.

Ao observar a melhoria de pacientes de Charcot, elaborou a hipótese de que a causa da doença era psicológica, não orgânica. Essa hipótese serviu de base para seus outros conceitos, como o do inconsciente.Freud também é conhecido por suas teorias dos mecanismos de defesa, repressão psicológica e por criar a utilização clínica da psicanálise como tratamento da psicopatologia, através do diálogo entre o paciente e o psicanalista. Freud acreditava que a desejo sexual era a energia motivacional primária da vida humana, assim como suas técnicas terapêuticas. Ele abandonou o uso de hipnose em pacientes com

histeria, em favor da interpretação de sonhos e da livre associação, como vias de acesso ao inconsciente.

Sigismund Schlomo Freud mais conhecido como Sigmund

Sigmund Freud

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Suas teorias e seu tratamento com seus pacientes foram controversos na Viena do século XIX, e continuam a ser muito debatidos hoje. Suas ideias são frequentemente discutidas e analisadas como obras de literatura e cultura geral em adição ao contínuo debate ao redor delas no uso como tratamento científico e médico.

Nascido Sigmund Schlomo Freud, em 1856 abreviou seu nome para Sigmund Freud. Aos quatro anos de idade sua família transferiu-se para Viena por problemas financeiros e problemas de saúde. Morou em Viena até 1938 quando, após o Anschluss (em razão de sua etnia judaica), refugia-se na Inglaterra, onde já se encontrava parte de sua família.

Freud ingressou na Universidade de Viena aos 17 anos. Ele planejava estudar direito, mas, ao invés disso, entrou para a faculdade de medicina, onde seus estudos incluíram filosofia, com o professor Franz Brentano, fisiologia, com o professor Ernst Brücke e zoologia, com o professor Darwinista Carl Friedrich Claus. Em 1876, Freud passou quatro semanas na estação zoológica de Claus em Trieste, dissecando o sistema reprodutor masculino de centenas de enguias, num estudo que se revelou inconclusivo.

Graduou-se em medicina em 1881.

Sigmund Freud é filho de Jacob Freud e de sua terceira mulher Amalie Nathanson (1835-1930). Jacob, um judeu proveniente da Galícia e comerciante de lã, muda-se a Viena em 1860.

Os primeiros anos de Freud são pouco conhecidos, já que ele destruíra seus escritos pessoais em duas ocasiões: a primeira em 1885 e novamente em 1894. Além disso, seus escritos posteriores foram protegidos cuidadosamente nos Arquivos de Sigmund Freud, aos quais só tinham acesso Ernest Jones (seu biógrafo oficial) e uns poucos membros do círculo da psicanálise. O trabalho de Jeffrey Moussaieff Masson pôs alguma luz sobre a natureza do material oculto.

Em 14 de Setembro de 1886, em Hamburgo, Freud casou-se com Martha Bernays.

Freud e Martha tiveram seis filhos: Mathilde, nascida em 1887, JeanMartin, nascido em 1889, Olivier, nascido em 1891, Ernst, nascido em 1892, Sophie, nascida em 1893 e Anna, nascida em1895. Um deles, Martin Freud, escreveu uma memória intitulada Freud:

Homem e Pai, na qual descreve o pai como um homem que trabalhava extremamente, por longas horas, mas que adorava ficar com suas crianças durante as férias de verão.

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Anna Freud, filha de Freud, foi também uma psicanalista destacada, particularmente no campo do tratamento de crianças e do desenvolvimento psicológico. Sigmund Freud foi avô do pintorLucian Freud e do ator e escritor Clement Freud, e bisavô da jornalista Emma Freud, da desenhista de moda Bella Freud e do relacionador público Matthew Freud.

Por sua vida inteira Freud teve uma posição financeira modesta. Josef Breuer foi no início um aliado de Freud em suas ideias e também um aliado financeiro.

Freud criou o termo "psicanálise" para designar um método para investigar os processos inconscientes e de outro modo inacessíveis do psiquismo.

Nos tempos do nazismo, Freud perdeu quatro irmãs (Rosa, Dolfi, Paula, e Marie Freud). Embora Marie Bonaparte tenha tentado retirálas do país, elas foram impedidas de sair de Viena pelas autoridades nazistas e morreram nos campos de concentração de Auschwitz e de Theresienstadt.

Freud inicia os estudos na universidade aos 17 anos, os quais tomamlhe inesperadamente bastante tempo até a graduação, em 1881. Registros de amigos que o conheciam naquela época, assim como informações nas próprias cartas escritas por Freud, sugerem que ele foi menos diligente nos estudos de medicina do que devia ter sido.

Em lugar dos estudos, ele atinha-se à pesquisa científica, inicialmente pelos estudos dos órgãos sexuais de enguias — um estranho, mas interessante presságio das teorias psicanalíticas que estariam por vir vinte anos mais tarde. De acordo com os registros, Freud completa tal estudo

Tcheca.

Placa memorial localizada onde Freud nasceu em Příbor, República

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satisfatoriamente, mas sem distinção especial. Em 1877, desapontado com os resultados e talvez menos excitado em enfrentar mais dissecações de enguias, Freud vai ao laboratório de Ernst Brücke, que torna-se seu principal modelo de ciência.

Com Brücke, Freud entra em contato com a linha fisicalista da Fisiologia. O interesse de Brücke não era apenas descobrir as estruturas de órgãos ou células particulares, mas sim, suas funções. Dentre as atribuições de Freud, nesta época, estavam o estudo da anatomia e da histologia do cérebro humano. Durante os estudos, identifica várias semelhanças entre a estrutura cerebral humana e a de répteis, o que o remete ao então recente estudo de Charles Darwin sobre a evolução das espécies e à discussão da

"superioridade" dos seres humanos sobre outras espécies.

Freud, então, conhece Martha Bernays, e parece ter sido amor à primeira vista. O seu desejo de desposar Martha, o baixo salário e as poucas perspectivas de carreira na pesquisa científica fazem-no abandonar o laboratório e a começar a trabalhar no Hospital Geral, o principal hospital de Viena, passando por vários departamentos do mesmo. O próprio Brücke aconselha-o a mudar, apesar de seu bom desempenho e com razão, já que Freud precisava ganhar dinheiro.

No hospital, depois de algumas desilusões com o estudo dos efeitos terapêuticos da cocaína — com inclusive um episódio de morte por overdose de um amigo da época do laboratório de Brücke —, Freud recebe uma licença e viaja para a França, onde trabalha com Charcot, um respeitável psiquiatra do hospital psiquiátrico Saltpêtrière que estudava a histeria.

De volta ao Hospital Geral e entusiasmado pelos estudos de Charcot, Freud passa a atender, na maior parte, jovens senhoras judias que sofriam de um conjunto de sintomas aparentemente neurológicos que compreendiam paralisia, cegueira parcial, alucinações, perda de controle motor e que não podiam ser diagnosticados com exames. O tratamento mais eficaz para tal doença incluía, na época, massagem, terapia de repouso e hipnose.

Apenas em Setembro de 1886 Freud casa-se com Martha Bernays, com a ajuda financeira de alguns amigos mais abastados, dentre eles Josef Breuer, um colega mais velho da faculdade de medicina. Foi com as discussões de casos clínicos com Breuer que surgiram as ideias que culminaram com a publicação dos primeiros artigos sobre

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tratamento dado a uma paciente (Bertha Pappenheim, chamada de "Anna O." no livro), que demonstrava vários sintomas clássicos de histeria. O método de tratamento consistia na chamada "cura pela fala" ou "cura catártica", na qual o ou a paciente discute sobre as suas associações com cada sintoma e, com isso, os faz desaparecer. Esta técnica tornou-se o centro das técnicas de Freud, que também acreditava que as memórias ocultas ou "reprimidas" nas quais baseavam-se os sintomas de histeria eram sempre de natureza sexual. Breuer não concordava com Freud neste último ponto, o que levou à separação entre eles logo após a publicação dos casos clínicos.

Na verdade, inicialmente, a classe médica em geral acaba por marginalizar as ideias de Freud; seu único confidente durante esta época é o médico Wilhelm Fliess. Depois que o pai de Freud falece, em outubro de 1896, segundo as cartas recebidas por Fliess, Freud, naquele período, dedica-se a anotar e analisar seus próprios sonhos, remetendo-os à sua própria infância e, no processo, determinando as raízes de suas próprias neuroses. Tais anotações tornam-se a fonte para a obra A Interpretação dos Sonhos. Durante o curso desta autoanálise, Freud chega à conclusão de que seus próprios problemas

a psicanálise.

Freud em 1905.

O primeiro caso clínico relatado deve - se a Breuer e descreve o

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eram devidos a uma atração por sua mãe e a uma hostilidade ao seu pai. É o famoso "complexo de Édipo", que se torna o coração da teoria de Freud sobre a origem da neurose em todos os seus pacientes.

Essa concepção de que a base do pensamento Freudiano está no complexo de Édipo, é contestada por Bruno Bettelheim. Este foi um profundo conhecedor de Freud e informa, baseado nas Metamorfoses de Apuléio, a base do pensamento de Freud está na paixão desenvolvida por Amor, filho de Júpiter por Psique, filho de Vênus (Afrodite) (estas eram as filha dos Rei Lear do Mercador de Veneza, participantes do julgamento de Páris, do qual Psique era a mais bela). Mesmo tendo sido corrompido por Vênus e tendo Páris a feito vencedora, a formosura de Psique a tornou mais venerada do que Vênus.

Venus beijou longamente e ardorosamente Amor para que este destruisse Psique, mas este se apaixonou por ela e pediu ajuda a Júpiter, o qual a aceita como noiva do seu filho. Conforme ensina Bruno Bettelheim "Em alguns aspectos, a história de Amor e Psique é uma réplica de Édipo, mas existem importantes diferenças" ("in" Freud e a alma humana, 14. ed. 2008, p. 27).

Ocorre que o

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controle dos instintos faz o final de Amor e Psique feliz, enquanto o do Rei Édipo terminou em tragédia.

O exposto evidencia que a base do pensamento de Freud não está no complexo de Édipo porque este não soube controlar seus sentimentos e agiu contra a natureza, mas em Amor e Psique ou Alma.

Últimos anos e morte

Nos primeiros anos do século XX, são publicadas suas obras A Interpretação dos Sonhos e A psicopatologia da vida cotidiana. Nesta época, Freud já não mantinha mais contato nem com Josef Breuer, nem com Wilhelm Fliess. No início, as tiragens das obras não animavam Freud, mas logo médicos de vários lugares — Eugen Bleuler, Carl Jung, Karl Abrahams, Ernest Jones, Sandor Ferenczi — mostram respaldo às suas ideias e passam a compor o Movimento Psicanalítico.

Freud morre de cancro no palato aos 83 anos de idade (passou por trinta e três cirurgias). Supõe-se que tenha morrido de uma overdose de morfina.

Freud sentia muita dor, e segundo a história contada, ele teria dito ao médico que lhe aplicasse uma dose excessiva de morfina para terminar com o sofrimento, o que seria eutanásia.

Encontra-se sepultado no Golders Green Crematório, Golders Green, Grande Londres na Inglaterra.

Conceito de Psicanálise

Trata-se de um método de tratamento baseado em uma investigação psicológica do inconsciente, tendo por escopo trazer à consciência os sentimentos obscuros ou recalcados. Foi criada por Sigmund Freud. Ciência do inconsciente, particularmente conhecida em sua dimensão clínica, a psicanálise possui também, uma dimensão filosófica. É dialética, tendo, por essa razão, revolucionado velhos preconceitos. Freud, Einstein e Marx estão colocados em um mesmo plano de importância: revolucionaram velhas teorias, através da aplicação de critérios dialéticos visando servir o homem, a fim de torná-lo mais compreensivo, conseqüentemente, mais feliz.

A psicanálise ensina a arte de ser feliz através de reestruturação das emoções e da mente.

Antes de Freud Breuer e P. Janet iniciaram os alicerces da ciência do inconsciente, mas coube Freud dar estrutura e acabamento a esse grande edifício da mente humana.

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Freud nasceu em Freiberg, na Moravia, a 6 de maio de 1856, tendo sido levado, aos quatro anos de idade, para Viena, onde completou seus estudos.

Certa vez, ao sustentar em maio, ainda, de suas duvidas, mas conduzido pela sua genialidade extraordinária que a histeria poderia ser encontrada também no sexo masculino, um velho cirurgião bradou: “Prezado colega, como pode você proferir tamanho absurdo”?

Fatos dessa ordem ocorrida com freqüência, mas Freud compreendia tratarse de ignorância.

Ele era grande demais para se deixar vencer pelos seus opositores. Assim, serenamente, prosseguiu em suas pesquisas, sem se preocupar com as antipatias que os detentores de preconceitos arraigados e rançosos lhe devotavam.

A psicanálise, que foi e continua sendo tese discutidíssima, abriram novos, horizontes para o conhecimento do psiquismo. Todavia, ainda hoje, é combatida por três grupos: os que leram Freud e não o entenderam; os que não o leram e dizem que leram e, finalmente, por alguns intelectuais que o leram, o entenderam, mas o criticam. A psicanálise nos esclarece que nem todos os caracteres de nossa personalidade são herdados; alguns são adquiridos, através do condicionamento e da imitação, sendo-nos, no entanto, possível canalizar os impulsos de nossos instintos primitivos, moderarem nosso egoísmo e dominar nosso erotismo, colunas mestras de nossa estrutura emocional, através de uma orientação adequada. Afim de que você possa assimilar alguns aspectos da psicanálise, transcrevemos um artigo de Karl C.

Menninger: “Na luta entre nossa personalidade e o ambiente, nossa mente consciente ajuda-nos a fazer conciliações por meio de um conjunto de coisas que chamamos “mecanismo de defesa”. Quando usando convenientemente, podem manter-nos mentalmente sadios. Quando mal usados ou usados em excesso, podem causar doenças nervosas. Em seguida estudaremos um breve resumo desse mecanismo mental.

CAPÍTULO 2 OS MECANISMOS DE DEFESA

Os mecanismos de defesa

Os mecanismos de defesa constituem operações de proteção postas em jogo pelo Ego ou pelo Si-mesmo para assegurar sua própria segurança. Os mecanismos de defesa não representam apenas o conflito e a patologia, eles são também uma forma de adaptação. O que torna “as defesas” um aspecto doentio é sua utilização ineficaz ou então sua não adaptação às realidades internas ou externas. (Bergeret, 2006).

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Os mecanismos de defesa fazem parte dos procedimentos utilizados pelo Eu (Ego) para desempenhar suas tarefas, que em termos gerais consiste em evitar o perigo, a ansiedade e o desprazer.

Entre os mecanismos de defesa é preciso considerar, por um lado, os mecanismos bastante elaborados para defender o Eu (ego), e por outro lado, os que estão simplesmente encarregados de defender a existência do narcisismo. Freud (1937) diz que mecanismos defensivos falsificam a percepção interna do sujeito fornecendo somente uma representação imperfeita e deformada.

Os mecanismos de defesa constituem operações de proteção postas em jogo pelo Ego ou pelo Si-mesmo para assegurar sua própria segurança. Os mecanismos de defesa não representam apenas o conflito e a patologia, eles são também uma forma de adaptação. O que torna “as defesas” um aspecto doentio é sua utilização ineficaz ou então sua não adaptação às realidades internas ou externas. (Bergeret, 2006).

Fenichel (2005) diz que as defesas patogênicas, nas quais se radicam as neuroses, são defesas ineficazes, que exigem repetição ou perpetuação do processo de rejeição, a fim de impedir a irrupção de impulsos indesejados;

produz-se um estado de tensão com possibilidade de irrupção.

Foi a partir de um desses mecanismos, o recalque, que o estudo dos processos neuróticos se iniciou. Não obstante, o recalque é algo bastante peculiar, sendo mais nitidamente diferenciada dos outros mecanismos do que estes o são entre si.

Os primeiros tradutores de Freud utilizaram o termo “Ego” para dar conta do Ich alemão. Em alemão Ich é um pronome pessoal da primeira pessoa do singular empregado no nominativo, ou seja, sujeito individual ativo da ação.

Ich não corresponde, portanto, ao ego, que traduziria o Mich alemão, ou seja, um acusativo utilizado para designar o objeto referido pelo verbo, isto é, aqui, o sujeito tomado a ele mesmo (quer dizer, Si-mesmo), ou seja, seu Si-mesmo como objeto. Esse processo concerne à relação narcisista e não a relação de ordem genital, em que o sujeito Eu visa, justamente, a outro objeto.

(Bergeret, 2006).

Existem mecanismos de defesa encarregados de defender as diferentes instâncias da personalidade (id, Ideal de Si-mesmo, Ideal do Ego, Superego) de um conflito que pode nascer entre elas, assim como conflitos que podem opor o conjunto de todas as instâncias (inclusive o Eu e o Si-mesmo) contra algumas provenientes da realidade exterior; ou ainda exclusiva e excessivamente de um mesmo tipo, o que faz com que o funcionamento mental perca a sua flexibilidade, harmonia e adaptação.

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Os mecanismos de defesa mais elaborados concernem ao Eu (ego), enquanto que de natureza mais primitiva se refeririam antes ao Simesmo. (Bergeret, 2006)

Os mecanismos de defesa não se reduzem apenas ao clássico conflito neurótico. Quando se trata de uma organização de modo neurótico, genital e edipiano, o conflito se situa entre as pulsões sexuais e suas proibições (introjetadas no superego). A angústia é então, a angústia de castração, e as defesas operam no sentido de diminuir essa angústia, seja facilitando a regressão em relação à libido, sendo organizando saídas regressivas, por exemplo, auto e alo-agressivas, retomando e erotizando a violência instintual primitiva. (Bergeret, 2006)

Nas organizações psicóticas toda uma parte predominante do conflito profundo dá-se com a realidade. A angústia é uma angústia de fragmentação, seja por medo de um impacto violento demais por parte da realidade, seja por temor por perda de contato com essa realidade. As defesas contra a angústia de fragmentação podem operar de modo neurótico. Mas, como lembra Bergeret (2006), esse tipo de defesa muitas vezes não basta, e, é quando surgem as defesas próprias ao sistema psicótico: autismo (tentativa de reconstituição do narcisismo primitivo, com seu circuito fechado); recusa da realidade (em todo ou em parte), necessitando às vezes de uma reconstrução de uma neo-realidade, o conjunto desses processos conduzindo à clássica posição delirante.

No grupo dos estados limítrofes o conflito se situa entre a pressão das pulsões pré-genitais sádicas orais e anais, dirigidas contra o objeto frustrante e a imensa necessidade de que o objeto ideal repare essa ferida narcísica por uma ação exterior gratificante. A angústia que disso decorre é a angústia de perda de objeto, a angústia de depressão. As defesas, nesse caso serão essencialmente centradas nos meios de evitar essa perda e devem conduzir a um duplo maniqueísmo: clivagem interna entre o que é bom (ideal do self) e mau (imediatamente projetado para o exterior), e clivagem externa (entre bons e malvados: não Si-mesmo). Há uma tentativa de aliviar a ferida narcísica arcaica por um narcisismo secundário em circuito aberto, árido, mas impotente para preencher a falta narcísica fundamental. (Bergeret, 2006).

Habitualmente em psicopatologia agrupam-se entre as defesas ditas

“neuróticas” o recalque, o deslocamento, a condensação, a simbolização, etc.

e entre as defesas ditas “psicóticas”, a projeção, a recusa da realidade, a duplicação do ego, a identificação projetiva, etc.

Entretanto encontra-se estruturas autenticamente psicóticas que se defendem contra a decomposição graças à defesas de modalidade neurótica, mais particularmente obsessiva, por exemplo. Há casos de estruturas autenticamente neuróticas que utilizam abundantemente a projeção ou a

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identificação projetiva em virtude do fracasso parcial do recalque e diante do retorno de fragmentos demasiado importantes ou inquietantes de antigos elementos recalcados, cujos efeitos ansiogênicos devem ser apagados, de modo certamente mais arcaico e mais custoso, e igualmente mais eficaz. É possível também encontrar angústias de despersonalização em uma desestruturação mínima, de origem traumática (por exemplo), sem que tais fenômenos possam ser atribuídos a qualquer estrutura específica.

Bergeret (1998) alerta em ter-se a prudência de falar apenas em defesas de modalidade “neurótica” ou “psicótica”, sem fazer previsões acerca da autenticidade da estrutura subjacente.

Freud (1937) lembra que as defesas servem ao propósito de manter afastados os perigos. Em parte, são bem-sucedidos nessa tarefa, e é de duvidar que o ego pudesse passar inteiramente sem esses mecanismos durante seu desenvolvimento. Mas esses próprios mecanismos, que a priori, são defensivos podem transformar-se em perigos. O ego pode começar a pagar um preço alto demais pelos serviços que eles lhe prestam. O dispêndio dinâmico necessário para mantê-los, e as restrições do ego que quase invariavelmente acarretam, mostra ser um pesado ônus sobre a economia psíquica. Tais mecanismos não são abandonados após terem assistido o ego durante os anos difíceis de seu desenvolvimento.

Nenhum indivíduo, naturalmente, faz uso de todos os mecanismos de defesa possíveis. Cada pessoa utiliza uma seleção deles, mas estes se fixam em seu ego. Tornam-se modalidades regulares de reação de seu caráter, as quais são repetidas durante toda a vida, sempre que ocorre uma situação semelhante à original. Concedendo-lhes um teor de infantilismos. O ego do adulto, com sua força aumentada, continuam a se defender contra perigos que não mais existem na realidade; na verdade, vê-se compelido a buscar na realidade as situações que possam servir como substituto aproximado ao perigo original, de modo a poder justificar, em relação àquelas, o fato de ele manter suas modalidades habituais de reação. Os mecanismos defensivos, por ocasionarem uma alienação cada vez mais ampla quanto ao mundo externo e um permanente enfraquecimento do ego, preparam o caminho para o desencadeamento da neurose e o incentivam. (Freud, 1937)

Mecanismos de defesa e Resistências

É comum a confusão entre mecanismos de defesa do Eu (Ego) (utilizados patologicamente ou não) com as resistências.

As resistências são noções que concernem apenas às defesas empregadas na transferência (e no tratamento psicanalítico, em particular) por um sujeito que se defende especificamente do contato terapêutico e das tomadas de

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consciência dos diferentes aspectos desse contato, em particular da associação livre de idéias.

O paciente repete suas modalidades de reação defensiva também durante o trabalho de análise. Isso não significa que tornem impossível a análise.

Constituem a metade da tarefa analítica. (Freud, 1937). A dificuldade da questão é que os mecanismos defensivos dirigidos contra um perigo anterior reaparecem no tratamento como resistências contra o restabelecimento.

Disso decorre que o ego trata o próprio restabelecimento como um novo perigo.

Contra-investimento

É sobre os representantes ideativos das pulsões que incidem muitos dos mecanismos de defesa.

Quando o superego e as instâncias ideais se opõem ao investimento pelo consciente de representantes pulsionais indesejáveis, há inicialmente um desinvestimento da representação pulsional ansiogênica. Mas certa quantidade de energia psíquica vai se tornando disponível. Não podendo essa energia permanecer assim, ela deverá ser reutilizada em um contrainvestimento incidindo sobre outras representações pulsionais, de aspectos diferentes. (Bergeret, 2006) Formação reativa

É um contra-investimento da energia pulsional retirada das representações proibidas. Por exemplo, a solicitude pode ser uma formação reativa contra as representações violentas ou agressivas; ou as exigências de limpeza e asseio uma reação reativa contra o desejo de sujar.

Fenichel (2005) define as reações reativas como tentativas evidentes de negar ou suprimir alguns impulsos, ou de defender a pessoa contra um perigo pulsional. São atitudes opostas secundárias.

Bergeret (2006) fala que a formação reativa tem um aspecto funcional e utilitário, contribuindo para a adaptação do sujeito à realidade ambiente. Pois a formação reativa se forma em proveito de valores postos em destaque pelos contextos históricos, sociais e culturais, e em detrimento das necessidades pulsionais frustradas, agressivas ou sexuais diretas, ao mesmo tempo em que procura direciona-las de maneira indireta.

Existem mecanismos de defesa que são intermediários entre o recalque e a formação reativa. Por exemplo, a mãe histérica que odeia o seu filho é capaz de desenvolver uma afeição aparentemente extrema por ele, a fim de assegurar a repressão de seu ódio, essa solicitude ou beatude permanece limitada a um determinado objeto.

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As formações reativas são capazes de usar impulsos cujos objetivos se opõem aos objetivos do impulso original. Podem aumentar os impulsos de ordem reativa para conter o impulso original. De tal forma que um conflito entre em impulso pulsional e uma ansiedade ou sentimento de culpa dele decorrentes podem tomar, por vezes, a aparência de um conflito entre pulsões opostas.

O individuo pode então intensificar sua formação reativa, na luta com contrainvestimento do impulso indesejável. Pode tornar-se reativamente heterossexual para rejeitar a homossexualidade; reativamente passivoreceptivo para rejeitar a agressividade.

Formação Substitutiva

A representação do desejo inaceitável é recalcado no inconsciente. Fica então uma falta que o ego vai tentar preencher de forma sutil e compensatória.

Tentará obter uma satisfação que substitua aquela que foi recalcada e que obtenha o mesmo efeito de prazer e satisfação que aquela traria, mas sem que essa associação apareça claramente à consciência.

Bergeret (2006) dá como exemplo o transe mítico, que pode constituir somente um substituto do orgasmo sexual: aparentemente não há nada de sexual, na realidade, porém, o laço com o êxtase amoroso e físico se acha conservado, o afeto permanece idêntico. A formação substitutiva vem então constituir um dos modos de retorno do recalcado.

A formação substitutiva pode dar-se no sentido inverso. O sujeito pode tentar mascarar por meio de uma pseudo-sexualidade substitutiva de superfície, suas carências objetais e sexuais, ao mesmo tempo em que tenta se assegurar contra a carência de suas realidades narcísicas. O sujeito opera no registro das defesas do Simesmo. Formação de compromisso

É um modo de retorno do recalcado, de tal forma a não ser reconhecido, por um processo de deformação. É um processo que procura aliar em um processo de compromisso, os desejos inconscientes proibidos e as exigências dos proibidores.

Formação de sintomas

Para a psicanálise os sintomas têm um sentido e se relacionam com as experiências do sujeito.

Os sintomas são atos prejudiciais, ou pelo menos, inúteis à vida da pessoa, que por sua vez, deles se queixa como sendo indesejados e causadores de desprazer ou sofrimento. O principal dano que causam reside no dispêndio mental que acarretam, e no dispêndio adicional que se torna necessário para se lutar contra eles. Onde existe extensa formação de sintomas, esses dois

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tipos de dispêndio podem resultar em extraordinário empobrecimento da pessoa no que se refere à energia mental que lhe permanece disponível e, com isso, na paralisação da pessoa para todas as tarefas importantes da vida.

(Freud, 1916-1917).

A formação de sintomas é uma forma de retorno do recalcado. “Quer seja de um modo físico, psíquico ou misto, o sintoma não é causado pelo sintoma em si mesmo. Ele assinala apenas o fracasso do recalcamento; não constitui senão o resultado desse fracasso.” (Bergeret, 2006, pág. 98)

O sintoma resulta de três mecanismos precedentes: a formação reativa, a formação substitutiva e a formação de compromisso. Mas é mais complexa do que cada um deles isoladamente. O sintoma assume, graças ao jogo da formação de compromisso e da formação substitutiva, um sentido particular em cada entidade psicopatológica.

Bergeret (2006) aponta que a defesa constituída pelo sintoma vai no sentido da luta contra a angústia específica: evitar a castração, na neurose, evitar a fragmentação, na psicose, evitar a perda do objeto, no estado limítrofe.

Bergeret (1998) lembra que é um pouco equivocado qualificar de saída, demasiado nitidamente, um sintoma como “neurótico” ou “psicótico” sintomas aparentemente neuróticos, por exemplo, podem esconder uma estrutura psicótica ou vice-versa; seria mais prudente falar em sintomas de linhagem neurótica ou psicótica. O autor diz que convém ocupar-se com o sintoma único apenas no uso limitado, para o qual o sintoma foi construído, isto é, “uma manifestação de superfície destinada a expressar a presença de um conflito, o retorno de uma parte do recalque pelos desvios das formações substitutivas ou das realizações de compromisso.” (Bergeret, 1998, pág.48).

Identificação

A identificação é uma atividade afetiva e relacional indispensável ao desenvolvimento da personalidade. “Como todas as outras atividades psíquicas, a identificação pode, por certo, ser utilizada igualmente para fins defensivos.” (Bergeret, 2006, pág. 101)

De acordo com Laplanche e Pontalis, “um processo psicológico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade ou um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, a partir do modelo deste. A personalidade se constitui e se diferencia por uma série de identificações.”.

Existem dois grandes movimentos identificatórios, constitutivos da personalidade: a identificação primária e a identificação secundária.

Identificação primária: “é o modo primitivo de constituição do sujeito sobre o modelo do outro, correlativo da relação de incorporação oral, visando, antes

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de mais nada, a assegurar a identidade do sujeito, a constituição do Si-mesmo e do Eu.” (Houser, 2006, pág. 43).

Identificação secundária: é contemporânea do movimento edipiano, se fazendo sucessivamente em relação aos dois pais, em suas características sexuadas, e constitutiva da identidade sexuada e da diferenciação sexual.

(Houser, 2006)

Bergeret (2006) diz que na identificação primária o objeto deve ser devorado sem distinção prévia entre ternura e hostilidade, nem entre Si-mesmo e nãoSi-mesmo, em um movimento que visa precisar a identidade narcisista de base do sujeito.

A identificação secundária, segundo Bergeret (2006), é destinada a afirmar a identidade sexual do sujeito, com todos os seus avatares possíveis em psicopatologia. A criança, primeiro renunciando a incorporar o genitor amado, depois renunciando à idéia de um comércio sexual com ele, vai se consolar absorvendo as qualidades representadas por ele, por meio desse objeto. Esse movimento pode ir até uma regressão defensiva, com todas as perturbações dialéticas possíveis. Mas as identificações ligadas ao genitor do mesmo sexo vêm normalmente completar e organizar genitalmente as identificações primárias, e abrir caminho para as relações posteriores do tipo verdadeiramente objetal e genital.

A partir da psicologia coletiva, Freud descreveu um terceiro tipo de identificação: onde o sujeito identifica seus próprios objetos aos objetos de um outro sujeito, e principalmente aos objetos de um grupo por inteiro. Isso se produz por imitação e contágio, fora do laço libidinal direto. (Bergeret, 2006)

Identificação com o agressor

O indivíduo se torna aquele de quem havia tido medo, ao mesmo tempo, o suprime, o que tranqüiliza. Esse mecanismo, descrito por Ferenczi e Ana Freud, pode ir de simples inversão dos papéis (brincar de doutor, de lobo, de fantasma) a uma verdadeira introjeção do objeto perigoso.

Bergeret (2006) lembra que essa defesa pressupõe uma onipotência mágica do outro e se encontra relacionada com distorções das instâncias ideais, preparando secundariamente para as condutas masoquistas e para as instâncias proibidoras severas.

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Identificação projetiva

É um mecanismo descrito por Melanie Klein e faz parte da posição esquizoparanóide. É um conceito fundamental para a teoria e clínica, e foi o instrumento teórico com que os kleinianos abordaram a análise dos pacientes psicóticos e limítrofes.

Para Klein a mente tem a capacidade onipotente de se liberar de uma parte do self, colocando-a em um outro objeto; o resultado é uma confusão da identidade, uma perda da diferença real entre sujeito e objeto. (Bleichmar e Bleichmar, 1992).

Através desse mecanismo o sujeito expulsa uma parte de si mesmo, identificando-se com o não projetado; e ao objeto são atribuídos os aspectos projetados, dos quais o sujeito se desprendeu o que constituiria para Klein uma das bases principais dos processos de confusão.

Esse mecanismo é produzido por uma motivação pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo (para Klein os processos de desenvolvimento obedecem sempre a uma intenção inconsciente do sujeito). O bebê pode precisar, para aliviar sua angústia, desprenderse de aspectos dolorosos do seu próprio self, usando a identificação projetiva, colocando-os em sua mãe;

mas esta mãe, adquirirá um aspecto persecutório.

Na clínica, quando a identificação projetiva é muito intensa o paciente percebe o terapeuta a partir de suas próprias projeções e sua subjetividade. Esse mecanismo permite desprender-se tanto dos aspectos maus, como dos bons de alguém. O individuo pode situar os aspectos bons fora do self para preservá-los dos aspectos maus internos.

Uma das consequências da identificação projetiva excessiva é que o ego se debilita, ficando submetido a uma dependência extrema das pessoas nas quais se projetam os aspectos bons, para voltar a recebêlos delas, ou aspectos maus, para controlá-los e assim poder se proteger da ameaça da introjeção.

Para Klein o equilíbrio entre os processos de identificação projetiva e introjetiva é estruturante do mundo externo e interno. A identificação projetiva constitui-se como um fenômeno normal, base da empatia e da possibilidade de comunicação entre as pessoas. É a intensidade e qualidade que determina se o mecanismo é patológico ou normal.

Bleichmar e Bleichmar (1992) relatam que a identificação projetiva é base de muitas situações patológicas. Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamente dentro do objeto e controlá-lo, sofrerá um temor pela reintrojeção violenta , tanto no corpo quanto na mente. Isto provoca dificuldades na reintrojeção, que levam a alterações no ego e no

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desenvolvimento sexual; pode levar o indivíduo a se isolar em seu mundo interior, refugiando-se em um objeto interno idealizado.

Projeção

É a maneira de atribuir a outrem desejos ou defeitos que não admitimos existir em nós mesmo.

Para Freud, existem nesses mecanismos três tempos consecutivos. Primeiro a representação incômoda de uma pulsão interna é suprimida, depois esse conteúdo é deformado, enfim, ele retorna para o consciente sob a forma de uma representação ligada ao objeto externo.

A projeção ocorre em todos os momentos da vida. Ela é essencial no estágio precoce de desenvolvimento, contribuindo para a distinção entre Si-mesmo e não-Si-mesmo, onde tudo o que é prazeroso é experimentado como pertencente ao Si-mesmo; e tudo o que é penoso e doloroso se experimenta como sendo não-Si-mesmo. Esse é um processo normal que ajuda a fortificar o Si-mesmo e a estabelecer o esquema corporal.

Fenichel (2005) diz que a projeção é uma reação arcaica que nas fases iniciais do desenvolvimento ocorrem de forma automática e ulteriormente é amansada pelo ego e usada para fins defensivos. O autor destaca que esse mecanismo defensivo só pode ser amplamente utilizado se a função que tem o ego de ajuizar a realidade estiver severamente lesada por uma regressa narcísica. Servindo para toldar mais uma vez os limites entre Si-mesmo e nãoSi-mesmo.

Bergeret (2006) assinala que a projeção assinala praticamente um fracasso do recalcamento. Com efeito, com as defesas mais elaboradas, como o recalcamento, principalmente, o ego se defende contra os perigos interiores por meios que utilizam diretamente o inconsciente de maneira imediata e automática. “Se esses procedimentos não bastam mais, torna-se então necessário transformar, pela projeção, o perigo interior em perigo exterior, contra o qual se aplicam os meios de proteção mais arcaicos, mais elementares do Si-mesmo, utilizando e enganando o consciente, tais como a projeção, o deslocamento e a evitação.” (Bergeret, 2006, pág. 103).

Bergeret (2006) destaca que é preciso distinguir na projeção não uma forma de retorno do recalcado, mas um retorno do que, após o recalcamento normal, deveria ter sido recalcado, mas não o pôde ser. A projeção é uma maneira de tratar esse não-recalcado, que, tornando-se incômodo, deve ser eliminado por procedimentos menos eficazes que o recalcamento, mas também menos custosos em contra-investimento.

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Na teoria de Melanie Klein a projeção aparece, primeiramente, ligada à pulsão de morte, cuja ameaça de destruição interna é neutralizada, ao ser expulsa para fora do sujeito. Esta projeção de agressão e de libido permite que se constituam os objetos parciais seio bom e seio mau.

Introjeção

É o processo pelo qual, inconscientemente, absorvemos idéias, atitudes emocionais, padrões e ideias das pessoas que nos cercam.

Nos estágios iniciais do desenvolvimento tudo o que agrada é introjetado. A introjeção é um mecanismo que repete, com objetivo defensivo e regressivo no adulto, esse movimento que consistia em fazer entrar no aparelho psíquico uma quantidade cada vez maior do mundo exterior. Mas como destaca Bergeret (2006), enquanto na criança o ego se encontra enriquecido com isso, no adulto cria-se assim toda uma série de fantasias interiores inconscientes, organizando uma imagem mental íntima que o sujeito vai terminar por considerar como se ela fosse um objeto real exterior.

A introjeção seria uma defesa contra a insatisfação causada pela ausência exterior do objeto. A incorporação é o objetivo mais arcaico dentre os que se dirigem para um objeto. A identificação, realizada através da introjeção, é o tipo mais primitivo de relação com os objetos. Fenichel (2005) destaca que daí por que todo tipo de relação objetal que depare com dificuldades é capaz de regredir à identificação; e todo objetivo pulsional ulterior é capaz de regredir à introjeção.

Para os autores kleinianos, há um jogo de interações constantes entre os movimentos projetivos e introjetivos, do mesmo modo que entre os mundos objetais interno e externo, o que contribui para a manutenção de boas relações objetais, vitais para o sujeito.

Na teoria de Melanie Klein a introjeção é essencial para o psiquismo, pois é através dela que se constroem os objetos internos, o que permite a formação do ego e do superego. Mas para Klein, os objetos que se introjetam nunca são uma cópia fiel dos objetos externos, mas que estes se encontram deformados por uma projeção das pulsões e sentimentos do sujeito.

Há no nível da introversão, um certo número de confusões, principalmente no que tange as diferenças entre introversão, incorporação, identificação, introversão e internalização.

A incorporação oral descrita por Melanie Klein é essencialmente uma fantasia ligada a representações psíquicas mais corporais do que psíquicas, e não como um mecanismo psíquico propriamente dito.

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A identificação secundária incide sobre as qualidades do sujeito e não sobre as recriminações a seu respeito.

A internalização (ou interiorização) concerne ao modo de relação com outrem, por exemplo, rivalidade edipiana com o pai, enquanto que a introjeção comporta o estabelecimento, no interior de si, de uma imagem paterna substitutiva do pai faltante. (Bergeret, 2006)

A introversão, descrita por Jung e retomada por Freud, incide sobre os fenômenos de retirada da libido em relação aos objetos reais. Essa retirada pode se efetuar de duas maneiras: para o ego (narcisismo secundário) ou para os objetos imaginários internos, as fantasias.

Na conferência XXIII – O Caminho da Formação de Sintomas – Freud (1916 – 1917) diz que a retração da libido para a fantasia é um estagio intermediário no caminho de formação dos sintomas e merece ser denominada de introversão. Freud considera que a introversão denota desvio da libido das possibilidades de satisfação real e a hipercatexia das fantasias que até então foram toleradas como inocentes.

Freud diz que um introvertido não é um neurótico, porém se encontra em situação instável, desenvolverá sintomas na próxima modificação da relação de força, a menos que encontre algumas outras saídas para sua libido represada.

Bergeret (2006) aponta que o neurótico busca um ser exterior, objeto edipiano deformado pelos conflitos; o psicótico procura voltar seu amor sobre si mesmo, mas sem sucesso; nos estados-limítrofes o individuo ama um ser imaginário, que se assemelha a seu Ideal de Si-mesmo e ao mesmo tempo um ser real, mas escolhido porque justamente afastado e inacessível. “Esse parece ser o verdadeiro domínio da defesa por introversão, ou seja, uma retirada não estritamente autística, mas constituída por fantasias interiores.”

(Bergeret, 2006, pág. 104) Anulação

Freud diz que é um processo ativo consiste em desfazer o que se fez. O sujeito faz uma coisa que, real ou magicamente, é o contrario daquilo que, na realidade ou na imaginação se fez antes.

Bergeret (2006) lembra que é conveniente que as representações incômodas, evocadas em atos, pensamentos ou comportamentos do sujeito sejam considerados como não tendo existido. Para isso, o sujeito coloca em jogo outros atos, pensamentos ou comportamentos destinados a apagar magicamente tudo o que estava ligado às representações incômodas.

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A anulação ocorre nos atos expiatórios no animismo, em certas necessidades de verificação e, em geral, em todo mecanismo obsessivo, onde uma atitude é anulada por uma segunda atitude, destinada, segundo Bergeret (2006), não somente às consequências da primeira atitude, mas essa atitude em si, pelo próprio fato de que ela constitui um suporte para a representação proibida.

Fenichel (2005) diz que a própria idéia de expiação nada mais é do que a expressão da crença na possibilidade de anulação mágica.

Há vezes em que a anulação não consiste em compulsão em fazer o contrário do que se fez antes, mas em compulsão em repetir o mesmíssimo ato.

Fenichel (2005) destaca que o objetivo de repetir (que tem a compulsão) consiste em praticar o mesmo ato liberto do seu significado inconsciente, ou com o significado inconsciente contrário. E se ocorre de o material reprimido se insinuar outra vez na repetição, a qual visa a expiação, uma terceira, quarta, quinta repetição talvez se faça necessária.

A anulação constitui um mecanismo narcisicamente muito regressivo. Ela deve operar quando os processos mentais mais clássicos, à base de desinvestimento e de contra-investimento não sejam mais suficientes. A anulação irá incidir sobre a própria realidade, pois é a temporalidade, elemento importante do real, que se acha negada, alterada. Denegação É um mecanismo mais arcaico que o recalcamento. Na denegação o representante pulsional incômodo não é recalcado, mas o indivíduo depende dele, recusando-se a admitir que possa se tratar de uma pulsão que o atinja pessoalmente.

Segundo Bergeret (2006) com esse mecanismo defensivo uma representação pode, tornar-se assim consciente, sob a condição de que sua origem seja negada.

Recusa

A recusa trata-se de eliminar uma representação incômoda, não a apagando (anulação) ou recusando (denegação), mas negando a própria realidade da percepção ligada a essa representação. (Bergeret, 2006).

Não há necessidade de recalcamento, a recusa incide sobre a própria realidade, que se tornou consciente e não é levada em conta como tal.

A recusa é essencialmente um mecanismo que se dá nas psicoses e perversões. Na psicose há a recusa de toda a realidade incômoda, sem especificidade, e o delírio vem, se necessário, sobre-investir em uma neorelaidade compensadora. No perverso a recusa incide sobre uma parte muito focalizada da realidade, ficando o resto do campo perceptivo intacto.

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Isolamento

Esse mecanismo é descrito por Freud desde 1894, e consiste em separar a representação incômoda do seu afeto. No isolamento o paciente não esquece os traumas patogênicos, mas perde o rastro das conexões e o significado emocional. Os fatos importantes de sua vida (e que podem ter forte teor patogênico) perdem o significado afetivo, são isolados de sua carga emotiva.

Bergeret (2006) diz que o isolamento constitui uma forma de resistência freqüente no tratamento analítico, por interrupção defensiva do processo associativo, quando ele põe em evidência elementos angustiantes.

Fenichel (2005) relata que há casos em que o paciente tenta impedir todo efeito terapêutico de sua análise, realizando-a, toda ela, “isolada”. O paciente aceita a análise enquanto está no consultório, mas ela permanece isolada do resto da sua vida. Há sujeitos que começam e terminam a entrevista com rituais que se destinam a isolá-la daquilo que ocorre antes e depois.

Fenichel (2005) relata que um tipo de isolamento que ocorre com muita frequência em nossa cultura é aquele dos componentes sensuais e amorosos da sexualidade. Muitas pessoas não conseguem obter satisfação sexual plena porque só são capazes de gozar a sensualidade por pessoas pelas quais não sentem amor ou até com pessoas que desprezam.

Deslocamento

É o meio pelo qual deslocamos a emoção relacionada com uma pessoa ou coisa para outra determinada pessoa ou objeto que nada tem a ver com ela;

Nesse mecanismo a representação incômoda de uma pulsão proibida é separada de seu afeto e este é passado para uma outra representação, menos incômoda, mas ligada à primeira por um elemento associativo (Bergeret, 2006). O afeto contido em relação a certo objeto explode contra outro objeto.

Bergeret (2006) diz que o deslocamento trata-se de um mecanismo muito primitivo e bastante simples, ligado aos processos primários. O deslocamento opera habitualmente nas fobias, diante do fracasso do recalcamento. O isolamento, nos obsessivos, e o deslocamento nas fobias, são complementados pela evitação, destinada a poupar o sujeito a encontrar mesmo a representação isolada ou deslocada.

Sublimação: é o método pelo qual nossa energia primitiva é dirigida para atividades socialmente aprovadas; o alvo é abandonado em proveito de um novo alvo, valorizado pelo superego e ideal de Simesmo. A sublimação não necessita de nenhum recalcamento.

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Compensação: é o mecanismo que nos permite compensar alguma inaptidão real ou imaginária, realizando-nos em outras atividades;

Racionalização: é a maneira de justificar, inconscientemente, idéias e comportamentos, de modo que nos pareçam razoáveis;

Formação de reação: é o meio pelo qual contrabalançamos um impulso inconsciente muito forte, realizando o oposto desse impulso em nosso comportamento consciente;

Conversão: é o mecanismo pelo qual transformamos em sintoma físico a energia de um desejo que não podemos expressar.

Resultados benéficos podem ser alcançados através da auto- análise; porém, na hipótese de haver dificuldades maiores, devemos procurar o auxilio de um bom psicanalista.

Convém estar inteiramente seguro de sua escolha, pois basta um consultório bem instalado, onde o paciente possa ficar comodamente deitado num divã.

Sabemos de pessoas que pioram com o tratamento, em razão de não terem sido tratadas por especialistas credenciados. A alma humana é muito delicada para ser perscrutada por qualquer curioso.

Não devemos confundir psiquiatria com psicanálise. A despeito de ambas se complementarem, existem algumas diferenças que foram muito bem explicadas por Freud e que devem ser objeto de rigorosa atenção por parte dos interessados.

Os psiquiatras analisados, de modo geral, são psicanalistas, ao passo que os psicanalistas, nem sempre são psiquiatras, ou simplesmente médicos, em virtude da necessidade de ser formados em medicina para exercer a psiquiatria, enquanto que para ser psicanalista não é necessário ser médico.

Todavia, é aconselhável o exercício da psicanálise por facultativo, desde que analisado por psicanalista emérito.

Grandes expoentes da psicanálise não eram médicos, como por exemplo, Oskar Pfister, Theodor Reik, Otto Rank, Ana Freud, Melanie Klein, e outros.

Para Ana Freud, os males psíquicos deixarem de ser individuais, transformando-se em sociais. Ela acha que qualquer pessoa que tivesse um bom salário, num emprego estável, raramente teria problemas psicológicos.

Estamos de acordo, exceto no que se relaciona com problemas oriundos de determinação familiares e amorosos.

Por que divã? Para deixar o paciente mais a vontade e, por conseguinte, mais relaxada. Entretanto, se o analista notar que o paciente não se sente bem, deitado no divã, não deve submetê-lo a isso. O divã foi adotado por Freud, no inicio de suas experiências, especificamente para fins hipnóticos.

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A psicanálise é aplicada no tratamento de estado emocional e também em favor de pessoas normais, possibilitando ao homem a compreensão das causas que determinam sua maneira de pensar e dando-lhe condições de por ordem em sua vida, desenterrando do inconsciente problema que possam prejudicar seu equilíbrio psicofísico.

A psicanálise surgiu graças à descoberta do mecanismo do inconsciente Freud sistematizou a organização e o funcionamento da vida psíquica, distinguindo-a em consciente, subconsciente e inconsciente.

Entre o inconsciente e o consciente, os atos psíquicos passam por uma espécie de censura que admite, ou não, a entrada de conteúdos que, ocultamente, distribuem-se entre um e outro. Esta “censura” tem o nome de “mecanismo de repressão”.

A técnica da meditação ioga, possibilitando ao paciente, após algum tempo, mover-se entre o consciente, o subconsciente e o inconsciente, permite-nos aproximá-la, guardando as proporções, da psicanálise aplicada.

O eu ou “Ego” seria o conjunto de idéias inconsciente ajustadas ao consciente, permitidas pela censura e que estabelecem as relações das pessoas com a realidade externa. O “Ego” é formado no curso do crescimento do individuo, em função da educação e do ajuste social da personalidade. O “Id”, situado no inconsciente, seria o conjunto das forças primitivas nascidas de um conflito fundamental entre o instinto da vida e o da morte, do amor e do ódio, de construir e de destruir. Freud descreveu ainda uma ultima instancia psicológica, o “Super Ego”, preponderantemente inconsciente, com a função de julgar e decidir até que o ponto “Ego” pode permitir as satisfações desejadas pelo “Id”.

Entre as exigências primitivas do “Id”, inconscientes e as necessidades civilizadas do “Super Ego”, procura o “Ego” de cada um adaptar e afirmar, reprimindo ou liberando, numa troca constante de instintos e ideias, afetos e rancores, emoções e inibições, o “eu” ideal e o “eu” real. Quando falha o equilíbrio nesta troca permanente entre o homem instintivo e o homem civilizado, surge à prevalência do inconsciente, com sua linguagem cifrada de atos e ideias perturbadoras: a neurose.

Não apenas nas neuroses é possível perceber a linguagem do inconsciente.

Na vida normal, também: nos “lapsos”, atos falhos ou gafes, dizemos o que

“precisamos” dizer e não o que nos era “permitida” dizer.

Nos sonhos, menos submetidos à censura, o inconsciente exprime simbolicamente nossos conflitos e desejos reprimidos. Decifrar lapsos e sonhos, favorecer a liberação de repressões, conhecer, enfim, o inconsciente das pessoas, eis a função principal da psicanálise, com o objetivo de reequilibrar o mecanismo normal da personalidade. Os ensinamentos

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psicanalíticos, infelizmente, não vêm sendo divulgados de maneira acessível à maioria das pessoas que deles precisam ou que desejam apenas que deles precisam ou que desejam apenas conhecê-lo, em virtude de estarem restritos, em grande parte, a pequenos grupos de estudiosos da matéria.

Avançando até nossos dias, vamos encontrar inúmeras correntes paralelas à psicanálise Freudiana. Umas, reservando-lhe intrínseca fidelidade; outras, afastando-se grandemente do pensamento do mestre.

CAPÍTULO 3 O PSICANALISTA VICTOR FRANKL

Assim é, por exemplo, o método de Victor Frankl, chamado por alguns especialistas a “terceira escola vienense”.

Para Franki, a era freudiana da frustração sexual está ultrapassada. “hoje somos frustrados existencialmente”, diz ele. Realmente, a angústia é uma das principais doenças da humanidade, particularmente na atual geração: por isso os hospitais de doenças mentais, casas de repousos, consultórios psiquiátricos e psicanalíticos, andam cheios de angustiados à procura de uma solução para seus males.

Segundo a concepção de Franki, as neuroses são freqüentemente, reflexos do tédio ou de um sentimento de falta de objetivo; Franki julga importante o autoconhecimento, bem que o fato de que o próprio paciente analise os seus males. A função do médico ou do psicanalista, segundo Franki, é simplesmente catalítica. Em Viena, o professor Franki é muito procurado por psiquiatras americanos que desejam estudar a “longoterapêutica”, nome dado ao seu método.

Dessas correntes, destacam-se a freudiana, com predomínio na

America do Norte e a Kleiniana, com grande penetração na America Latina.

CAPÍTULO 4 MELENIE KLEIN

INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

O pai de Melanie, de origem judaica, era um estudioso do Talmude que aos 37 anos rompeu com a ortodoxia religiosa e cursou Medicina. Era um médico judeu polonês, originário de Lemberg, na Galícia, que se tornou clínico geral graças a uma ruptura com pais tradicionalistas. A mãe mantinha um pequeno comércio para colaborar com o marido na manutenção da casa. Judia eslovaca

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brilhante, dedica-se, por necessidades familiares, ao comércio de plantas e répteis, cuja família, erudita e culta, era dominada por uma linhagem de mulheres.

Melanie Klein, pouco desejada, foi a quarta entre os filhos desse casal que não se entendia. Quando, por sua vez, se tornou mãe, também sofreria na vida particular as intrusões da mãe, Libussa, personalidade tirânica, possessiva e destruidora. A juventude de Melanie foi marcada por uma série de lutos, muitos provavelmente responsáveis pela culpa, cujos vestígios se encontram na obra teórica.

Tinha quatro anos quando a irmã Sidonie morreu de tuberculose com a idade de 8 anos; tinha 18 quando o pai, debilitado há longos anos, morreu, deixando-a com a mãe; tinha 20. quando seu irmão Emmanuel, que a influenciara muito, morreu esgotado pela doença, pelas drogas e pelo desespero.

Em 1896, Melanie Klein interessava-se pelas artes, tendo-se preparado para o exame de admissão ao liceu feminino, visando cursar Medicina. Mas, após o casamento com Arthur Klein, em1903, abandonou a Medicina e seguiu cursos de Arte e História, na Universidade de Viena, sem graduar-se. A seguir teve três filhos.

PSICANÁLISE

Em 1916, em Budapeste, teve o primeiro contato com a obra de Sigmund Freud e fez análise com Sándor Ferenczi. Estimulada por ele, iniciou o atendimento de crianças. Em 1919 tornou-se membro da Sociedade de Psicanálise de Budapeste. No ano seguinte conheceu

Freud e Karl Abraham, no Congresso Psicanalítico de Haia. Abraham convidoua para trabalhar em Berlim. Em1921, o marido se transferiu para a Suécia e Melanie permaneceu em Berlim com os filhos.

A partir de 1923, passou a dedicar-se integralmente à Psicanálise e, aos 42 anos, iniciou uma análise de 14 meses com Abraham. Em 1924, no VIII Congresso Internacional de Psicanálise, Klein apresentou o trabalho A técnica da análise de crianças pequenas.

Em 1927, Anna Freud publicou o livro O tratamento psicanalítico de crianças e Melanie criticou suas idéias, dando início a um subgrupo kleiniano na Sociedade Britânica de Psicanálise. No mesmo ano tornou-se membro da Sociedade.

De 1929 a 1946, Melanie Klein realizou a análise em Dick, um menino autista

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adultos. Em 1932 publicou a obra A psicanálise da criança, simultanemante em inglês e alemão; em 1936 realizou conferência sobre O desmame; em 1937 publicou Amor, ódio e reparação, com Joan Rivière; entre 1942 e 1944 foi elaborou, com discípulos, a sua teoria.

Em 1945 a Sociedade Britânia de Psicanálise foi dividida em três grupos:

annafreudianos (freud contemporâneo), kleiniano e independente. Em 1947, aos 65 anos, publicou Contribuições à psicanálise. Em 1955 foi fundada a Fundação Melanie Klein. No mesmo ano foi publicado o artigo A técnica psicanalítica através do brinquedo; sua história, sua significação, escrito a partir de uma conferência de 1953.

Em 1960 ficou anêmica e em setembro foi operada de um câncer do cólon.

Morreu no dia 22 de setembro, aos 78 anos de idade.

TEORIA

São três os pilares fundamentais da teoria Kleiniana:

Primeiramente existe um mundo interno, formado a partir das percepções do mundo externo, colorido com as ansiedades do mundo interno. Com isso os objetos, pessoas e situações adquirem um colorido todo especial. O seio materno, primeiro objeto de relação da criança com o mundo externo, tanto é percebido como seio bom quando amamenta, daí o nome de “seio bom” a esse objeto no mundo interno, quanto é percebido como “seio mau”, quando não alimenta na hora em que a criança assim deseja. Como é impossível satisfazer a todos os desejos da criança, invariavelmente ela possui os dois registros desse seio, um bom e um mau. Esse conceito também é muito importante no estudo da formação de símbolos e desenvolvimento intelectual.

Em segundo lugar os bebês sentem, logo quando nascem, dois sentimentos básicos: amor e ódio. É como se a vida fosse um filme em branco e preto, ou se ama, ou se odeia. É fácil, portanto, perceber que a criança ama o “seio bom” e odeia o “seio mau” sendo essa a origem do conceito de "seio bom, seio mau". O problema é que na phantasia da criança, o “seio mau”, esse objeto interno, vai se vingar dela pelo ódio e destrutividade direcionados a ele. Esse medo de vingança é chamado de ansiedade persecutória. Quando nos defrontamos diante de um perigo, como por exemplo, quando caminhando em um parque nos defrontamos diante de uma cobra, temos o instinto de fugir. Essa reação diante do perigo é chamada em psicanálise de defesa. O conjunto deansiedade persecutória e suas respectivas defesas são chamados por Klein de “posição esquizoparanóide”.

Com o desenvolvimento o bebê percebe que o mesmo objeto que odeia (seio mau) é o mesmo que ama (seio bom). Ele percebe que ambos os registros fazem parte de uma mesma pessoa. Agora o bebê teme perder o seio bom,

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pois teme que seus ataques de ódio e voracidade o tenham danificado ou morto. Esse temor da perda do objeto bom é chamado por Klein de “ansiedade depressiva”. O conjunto de ansiedade depressiva e suas respectivas defesas do ego são chamados por Klein de “posição depressiva”.

O conceito de posições é muito importante na escola kleiniana, pois o psiquismo funciona a partir delas, e todos os demais desenvolvimentos são invariavelmente baseados em seu funcionamento. Nesse sentido, o desenvolvimento em fases, proposto por Freud (fase oral, fase anal e fase genital), é aqui substituído por um elemento mais dinâmico que estático, pois as três fases estão presentes no bebê desde os três primeiros meses de vida.

Klein não nega essa divisão, muito pelo contrário, mas dá a elas uma dinâmica até então ainda não vista em psicanálise.

Aliás, é essa palavra que distingue o pensamento kleiniano do freudiano. Para Klein, o psiquismo tem um funcionamento dinâmico entre as posições esquizoparanóide e depressiva, que se inicia como o nascimento e termina com a morte. Todos os problemas emocionais, como neuroses, esquizofrenias e depressão são analisados a partir dessas duas posições. Por isso, em uma análise kleiniana, não se trata de trabalhar os conteúdos reprimidos, é preciso

“equacionar” as ansiedades depressivas e ansiedades persecutórias. É necessário que o paciente perceba que o mundo não funciona em preto e branco, e que é possível amar e odiar o mesmo objeto, sem medo de destruílo. Em outras palavras, não adianta trabalhar o sintoma (neurose) se não trabalhar os processos que levaram seus surgimentos (ansiedades persecutória e ansiedades depressiva).

Para Melenie Klein, os primeiros meses de vida da criança são importantes.

O instinto da morte das relações sexuais, segundo os kleinianos. São congênitos e, na maioria das vezes, imediatamente conhecidos em tenra idade; a neurose que se manifesta na idade adulta, em muitos casos, esta relacionada com os primeiros meses de vida, fase em que a criança precisa competir coma angústia da morte e das relações sexuais. Os fatores ambientes e as experiências adultas estão num segundo plano para a teoria kleiniana. Pela técnica analítica de analítica de Melenie Klein, em vários casos o paciente é indagado de imediato no tocante ás causas de sua neurose, resultando daí, muitas vezes, uma cura menos morosa. Embora os kleinianos objetivem um tratamento mais rápido, não se pode deixar de considerar o desenvolvimento gradual das estruturas psíquicas pela técnica clássica dos freudianos.

O importante é fundir o que essas escolas têm em comum de bom e aplicar no sentido de aperfeiçoar o método e apressar a cura. Não deve haver guerras entre freudianos, kleinianos etc. Melanie Klein não

Referências

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