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"O Brasil desde cedo aprendeu que podia fazer coisas de fachada"

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Academic year: 2022

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Sábado, 05 de Agosto de 2017

Segmento: PUCRS

05/08/2017 | A Plateia | Geral | 26

"O Brasil desde cedo aprendeu que podia fazer coisas de fachada"

"Jogada de Letra", uma nova seção do Jornal A Plateia

apresenta entrevista com o professor da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS) Juremir Machado da Silva, nascido em 29 de janeiro de 1962 e que esteve na cidade para uma palestra na Unipampa, tendo como contexto seu último livro, lançado em junho pela Civilização Brasileira, com o título "As raízes do conservadorismo brasileiro", em que trata da abolição da escravatura em relação à postura da grande imprensa e presença no imaginário social brasileiro. Confira o "Jogada de Letra" deste fim de semana, relacionado à questão do conservadorismo, da qual Juremir tratou em sua conferência. No próximo, o assunto vai girar em torno do tema "desenvolvimento".

A Plateia: O conservadorismo é histórico. Por outro lado, temos a presença das tecnologias que permeiam as relações. Como está acontecendo esse jogo entre a questão comportamental de conservadorismo e ao mesmo tempo a modernização da sociedade, que possui um aparelhamento tecnológico forte, com um imaginário voltado a essa interface diferente de se relacionar com o mundo externo? Como se situa o conservadorismo aí?

Juremir Machado: O Brasil é um país conservador em suas relações econômicas e comportamentais, é um país contraditório, porque parte da sociedade não acompanha essa postura conservadora, mas ao mesmo tempo essa parte da sociedade não tem ainda condições de impor seus valores, de fazer com que sejam dominantes. Então temos um país dividido em tudo, em política, em economia e em comportamento. O que acaba acontecendo é que o país tem práticas, como em qualquer lugar, cada vez mais livres sexualmente e moralmente, mas, de um ponto de vista estrutural, condena essas práticas. É um país em que as relações são cada vez mais livres, mas há todo um discurso muito forte contra o homossexualismo, há um discurso racista extremamente forte, então é um pais que não resolveu problemas de ordem econômica que outros países já resolveram.

Por exemplo, a questão da desigualdade, outros países já resolveram melhor que o Brasil. O Brasil continua tentando ser um país do século 19; quer liberalizar extremamente as relações econômicas, do ponto de vista de diminuir o tamanho do Estado, mas contraditoriamente quer um Estado pequeno em economia e muito grande em comportamento. Quer um Estado que regule fortemente o que as pessoas podem ou não consumir, basta comparar aqui com o Uruguai. Enquanto o Uruguai está vendendo maconha nas farmácias, o Brasil ainda discute se deve criar leis mais repressivas em relação a todas as drogas. O ministro Osmar Terra defende que tem que endurecer em relação ao consumo de drogas.A gente poderia esperar que os liberais fossem liberais em tudo. Quer Estado pequeno em economia, porque não também um Estado mínimo em comportamento? Por que o Estado pode dizer o que devo consumir se o que consumo não afeta a terceiros? Se quero comer terra, o que o Estado tem a ver com isso? Então, temos um Estado que secularmente serve de sustentáculo para posições conservadores, que servem a elite, sendo que, muitas vezes, a elite não pratica essas posições que defende. Ela tem um discurso e uma pretensão de que essas posições sejam válidas para a maioria, mas não para ela mesma. A elite que, por exemplo, pede mais repressão às drogas, é a mesma elite que consome as drogas. Então temos, além disso, um país hipócrita, em que aquilo que é pregado como moralmente superior não é praticado pelos mesmos que fazem o discurso. É um país que tem dificuldades de se tornar mais inclusivo. Porque o Brasil não sonha em ser uma Suécia, onde tem liberdade e iniciativa, alta participação do Estado, impostos altos, mas com retor

no à população, e intervenção Estatal, normas criadas pela sociedade para equilibrar as coisas até mesmo em termos de paridade de gênero, que é uma dificuldade se discutir no Brasil. Os conservadores acreditam que é vitimismo, mimimi, desestruturação da família, um monte de coisas assim.

AP: O senhor enxerga possibilidades de reversão nesse conservadorismo?

Juremir Machado: Talvez se reverta um dia, mas é lento porque o Brasil tem uma maneira de fazer em que, de certa maneira, avança

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sem resolver; avança um pouquinho, mas deixa à margem o essencial do problema. Quando o Brasil aboliu a escravatura não fez nada para incorporar os escravos à nova sociedade. Abole a escravatura, mas joga um milhão de negros à margem da sociedade. Ao mesmo tempo em que avançou um passo com a abolição da escravatura, criou outro problema que está para ser resolvido até hoje.

Ainda não saldou a dívida com os escravos, não integrou real mente os negros; quem diz que o país é racista é o IBGE. Todos os dias a gente olha os dados do IBGE e vemos que a população carcerária negra é maior do que a branca, o número de mortos de 20 a 35 anos de negros é maior.

Nove em cada dez mortos pela polícia no Rio de Janeiro são negros; então dá um passo, mas não resolve. Pega a Ditadura: o Brasil fez uma espécie de acordo e saiu da Ditadura, mas ao contrário da Argentina não julgou ninguém. A Argentina agora mesmo condenou à prisão perpétua ex-juízes que atuaram durante a Ditadura.

Enquanto a Argentina salda suas contas com a Ditadura, o Brasil não faz nada; enquanto outros países saldaram suas dívidas com a escravidão, o Brasil não fez nada.

Nos últimos anos, algumas políticas incorporaram e incluíram um pouco mais de não-brancos às universidades com as cotas, por exemplo, que são altamente contestadas e até vistas como um racismo invertido, mas que na verdade é a reação de uma elite branca a ter de entregar alguma coisa a esses negros, que, do ponto de vista dessa elite, podem ficar tranquilamente à margem. Então por que custa tanto a resolver? Por que avança uns passinhos sem realmente integrar. Nos últimos anos a trancos e barrancos se criou, com todas as imperfeições e problemas que surgiram com a corrupção, criou-se um mínimo de estado de bem-estar social que agora está sendo desmontado.

Tudo que se fez em poucos anos, cheio de defeitos, agora vai ser completamente desmontado. Então precisaria se avançar integrando e não dar poucos passos à frente deixando o essencial do problema para trás".

AP: Erving Goffman fala em regiões de fachada e de fundo. A respeito desse discurso, qual o fundamento dessa retórica de fachada que reprime, mas no fundo age diferente?

Jure= Machado: Fundamento não sei se existe, porque não me parece que seja racional, mas é um tipo de prática que se vai constituindo ao longo do tempo e que se percebe que funciona, mas não se teoriza muito sobre ela, agora, sabendo-se que funciona se faz.Te dou um exemplo, em torno da questão da escravidão no Brasil:todo mundo aprende nas aulas de história no ensino médio que o tráfico de escravos foi proibido no Brasil em 1850 pela Lei Eusébio de Queiroz. É verdade, mas não é toda a verdade. O tráfico foi proibido no Brasil por Lei de 7 de novembro de 1831.A Lei Eusébio de Queiroz foi a segunda proibição do tráfico (de escravos); a primeira foi em 1831. O que aconteceu coma Lei de 1831?Não pegou. A expressão ''para inglês ver vem dessa Lei. A Inglaterra estava fazendo pressão para o Brasil acabar com o tráfico, o Brasil não queria encerrá-lo, mas não tinha condições de resistir à pressão inglesa e aprovou uma Lei, uma lei para inglês ver, porque não era para pegar. Então o tráfico continuou acontecendo, com um agravante: a escravidão era legal, masa lei de 1831 estabeleceu que todo o negro que entrasse depois de 1831 seria livre, aí entrou mais de 1 milhão. Então, boa parte daqueles que foram libertados em 1888 já eram livres pela Lei. O

que quero dizer com isso? Simples, que o Brasil desde cedo aprendeu que podia fazer coisas de fachada. Na construção histórica o Brasil foi percebendo que podia o tempo inteiro manobrar com as coisas.

AP: Vivemos hoje uma luta de classes no pais?

Juremir Machado: "Sempre vivemos. A ideia de que a luta de classes acabou, assim como a ideia de que não existe mais esquerda e direita é uma ideia da direita.

É a direita que diz que não existe mais esquerda e direita. A esquerda nunca diz isso; quem diz é a direita, e a direita termina de dizer isso e faz uma crítica à esquerda. Então a gente conclui que só não existe mais a direita então, porque a esquerda está sempre de dedo apontado. Não faço a defesa da esquerda, ela tem todos seus defeitos possíveis; seus devaneios marxistas, suas tendências ao autoritarismo, seu apreço por alguns como países como a Coreia do Norte em alguns casos, a Venezuela em outros, mas também não faço deforma alguma a defesa da direita,que não está preocupada com o bem-estar social, coma sociedade justa, equilibrada, com educação para todos, com inclusão, nada. A direita está interessada em ganhar dinheiro para ela, se sobrar um pouco para os outros está tudo bem. Precisamos pensar uma sociedade que seja mais do que ganhar dinheiro e seja mais do que certos delírios utópicos que não funcionam".

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AP: Qual a participação das pessoas em todo esse

processo, alimentando todo esse sistema no cotidiano, quando, por exemplo, pela manhã se enxerga a Faixa toda suja?

Juremir Machado: "É fato que não há um engajamento dos brasileiros, no sentido de uma participação coletiva mais ampla na produção de um país melhor. Sabemos que todos nós cometemos ilícitos no dia a dia, mas isso pode ser visto de duas maneiras:

somos todos desonestos,e essa desonestidade menor leva à desonestidade maior, é uma maneira de ver; outra maneira dever é a da ótica do"jeitinho". Dado que estamos em uma sociedade em que a elite que governa, que julga, locupleta-se, o juiz tem auxílio moradia, eu não tenho, então dizemos assim: 'eu preciso me defender dessa sociedade'. Adoto estratégias, estratagemas, encontro maneiras de tirar pequenas vantagens, porque se não fizer isso serei devorado.

Como não acredito nos políticos, como não espero nada deles, eu me viro. É uma sociedade em que ninguém acredita em ninguém, então um tenta passar a perna no outro. Como temos que resolver isso? Só temos a via da política, não temos outra via. Agora, como se vai dizer para o cara que está na pior e que cometeu um pequeno delito, que ele não pode fazer aquilo? Ele vai dizer: 'mas os grandes estão fazendo'. Todo o edifício está desestruturado, ninguém acredita em ninguém, é uma descrença generalizada na política e que tem a razão de ser".,

05/08/2017 | Diário Popular | Estilo | 9

Zum-zum

Vai até a tarde deste sábado o curso Política no Brasil: Teoria e Prática. O curso é voltado para debates sobre as formas de governo e formatos eleitorais aplicados ou aplicáveis ao país. O ministrante é o cientista político Fábio Ostermann, com formação na UFRGS, PUCRS, Georgetown University (EUA) e Stanford/Johns Hopkins University (EUA).

05/08/2017 | Folha do Sul | Geral | 10

Museu da PUC

ACERVO de Biologia do Museu da PUC será mostrado, em novembro, aqui no Colégio Espírito Santo; uma parceria Rotary Clube Rainha da Fronteira...

05/08/2017 | O Informativo do Vale | Capa | 1

Inimigo oculto

A beleza da cena do barco navegando nas águas calmas do Rio Taquari encobre uma população gigante de mexilhãodourado. O molusco, natural da Ásia, veio em um “acidente”, na carona de navios cargueiros, e tem se espalhado pelo Brasil desde os anos de 1980. No Vale do Taquari, o mexilhão gruda em tudo que está embaixo d’água, prejudica embarcações e interfere na captação da água. Pesquisadores alertam que não há solução contra o inimigo oculto das águas. Páginas 4 e 5

05/08/2017 | O Informativo do Vale | Geral | 4

Mansidão do Taquari esconde ebulição do mexilhão-dourado

Vindo da Ásia na carona da água dos porões de cargueiros, molusco tornou-se uma praga ambiental. No Vale, invasão foi detectada no início da década

O ano era 2013, quando o barqueiro Roberto Petter (32) percebeu que “Terezina”, barca utilizada para o transporte de passageiros no Rio Taquari, estava mais pesada do que o normal. As manobras estavam difíceis, e a embarcação como um todo andava mais devagar. Em uma inspeção embaixo do casco do barco que leva o nome da avó, Petter percebeu centenas de mexilhões dourados

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cravados de uma ponta a outra.

Foi o primeiro contado do ribeirinho com a praga do mexilhão. Embora os primeiros registros do molusco sejam da década de 1980 no Brasil, foi a partir dos anos 2000 que o Rio Grande do Sul notou a presença do invasor. Vindo na carona dos navios cargueiros da Ásia, provavelmente do Rio Amarelo, na China, aqui o mexilhão é um estranho. Se gruda em tudo que é firme, corrói canos e tubulações e, em determinadas ocasiões, prejudica os peixes que dele passaram a se alimentar.

No Rio Taquari, o problema é submerso. “Precisa baixar um metro e meio, mais ou menos. No nível de seca, dá para ver a infestação do mexilhão em pedras, troncos e até nas estruturas das pontes”, garante Petter. De acordo com ele, no barco da família foi preciso raspar com um facão para remover os moluscos. “Vira e mexe algum pescador reclama. Conta que, ao retirar a linha do rio, em vez de peixe vem um feixe de mexilhões. Às vezes, a linha até arrebenta”, conta o barqueiro.

CRENÇA

Petter acredita que o mexilhão-dourado tenha vindo para o Vale pelo Porto de Rio Grande. Na época em que o Porto de Estrela recebia embarcações a todo instante. “Ele gosta de locais com muita pedra, areia não, não é?” - indaga o barqueiro. A experiência do vai e vem sobre as águas mostra a ele que o mexilhão não é daqui, e que pouco se sabe sobre este molusco que atravessou o mundo e veio parar nas águas da região.

Exótico e invasor

O professor Hamilton Grillo explica que atualmente existem três tipos de mexilhões no Rio Taquari. Dois deles nativos, pertencem às águas doces da região. O terceiro é a descoberta do barqueiro de Cruzeiro do Sul: o mexilhão-dourado. “Ele é um invasor, que tem como principal característica se fixar em qualquer tipo de superfície. Não há registro sobre o uso dele na culinária, e o maior problema é proliferação.”

Grillo, que é mestre em Biologia Animal e professor do curso de Ciências Biológicas da Univates, explica que os primeiros registros do molusco no Vale datam de 2010. Na época, focos do mexilhão foram encontrados no leito do rio, em pedras, madeiras e estruturas de concreto submersas.

Mais do que ocupar as áreas alagadas do rio, e vez por outra incomodar quem vive sobre as águas, o mexilhão se espalhou pelo Vale. “Na Lagoa Crispim, no interior de Cruzeiro do Sul, e no Rio Forqueta já foram encontrados mexilhões. O Forqueta é afluente do Taquari, mas a lagoa não. Os moluscos que foram para lá estavam grudados nas embarcações.”

Segundo o professor, isso ocorre porque a larva do molusco pode sobreviver até sete dias fora da água. Fixa-se como o molusco adulto no casco do barco e só sai dali com uma limpeza mais profunda. “Há relatos de que na hidrelétrica binacional de Itaipu todas as turbinas foram paradas, desmontadas e limpas para retirar o mexilhão de lá.”

A barragem exibiu

Depois da enchente do início de junho deste ano, o recuo das águas mostrou traços da presença do mexilhão-dourado na região. O morador de Estrela, Daniel Mezacasa, tem o Rio Taquari como vizinho do apartamento.

No dia 12 de junho, ele conta que depois que a Barragem Eclusa de Bom Retiro movimentou o leito do rio, uma área inundada ficou à mostra, e as colônias de mexilhões-dourados ficaram visíveis. “Eu fiquei impressionado, pois sempre achei que mexilhão era comum no mar e não em rio. Eu nunca tinha visto aqui”, revela.

Mezacasa viu os mexilhões em troncos e pedras da margem do rio. Fotografou e ficou inquieto.

Corsan já teve problemas com o mexilhão no Vale

A Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) é a responsável pelo abastecimento de água nos municípios do Vale do Taquari. Conforme a companhia, desde o início dos anos 2000, a estatal detectou a presença do mexilhão-dourado nos mananciais do Rio Grande do Sul.

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No Vale do Taquari, a Corsan teve problemas na captação da cidade de Taquari. A situação foi resolvida a partir da aplicação de sulfato de cobre na área da coleta de água. Em Bom Retiro do Sul, foi identificada a presença, mas não houve obstrução da captação.

Em Lajeado não houve identificação do molusco no sistema no Rio Taquari.

Conforme a Corsan, ele foi inserido nas bacias hidrográficas a partir do Rio da Prata, na Argentina, por meio da água de lastro dos navios. O início dessa invasão, trouxe muitos transtornos, como entupimentos de tubulações, válvulas e estruturas utilizadas nos bombeamentos de água bruta.

A companhia assegura que, atualmente, os ecossistemas estão mais adaptados à presença do molusco, com algumas espécies de peixes tendo incluído o mexilhão em sua cadeia alimentar. Os problemas iniciais de grande impacto, atualmente estão mais amenos.

Realizando mais de 90 testes diários na água, a Corsan explica que não há registros de toxicidade desses moluscos. Os problemas causados são mecânicos, como a obstrução dos crivos das bombas de captação de água bruta. São moluscos de água limpa, e não são encontrados no esgoto.

A gente explica

Para que os navios cargueiros viajem em segurança quando estão com ou sem carga é utilizado um peso líquido em tanques localizados nos porões, isso se chama “água de lastro”. Ela garante a estabilidade do veículo, evitando danos, inclusive impedindo que o navio se parta ao meio ou mesmo naufrague em casos de tempestades. Quando o navio se aproxima do seu destino, precisa abrir o compartimento e trocar a água de lastro. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a troca de água de lastro no mar, conforme recomendado pelas diretrizes da Organização Marítima Internacional (IMO), é a melhor medida para reduzir o risco de transferência de espécies aquáticas nocivas disponível no momento. Antes que o navio chegue próximo da costa do país de destino, é preciso fazer a troca da água, a 200 quilômetros do continente, em mar aberto. Acredita-se que, na década de 1990, quando o Brasil sofreu com surtos de cólera, a doença pode ter vindo para o país com águas de lastro trazidas do Peru.

Em 2001, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) iniciou um estudo que detectou que em 71% das amostras de água de lastro de navios de cinco portos do país havia bactérias marinhas, inclusive a presença de bacilos do Vibrio cholerae O1 - causador da cólera humana, que sobrevive até 26 dias na água do mar, até 19 na água doce e até 12 no esgoto. Desde 2008, existe uma legislação que obriga os navios que venham de águas internacionais a inspecionarem a água de lastro.

Não há o que fazer

Segundo o doutor em zoologia Nelson Fontoura, do Laboratório de Ecologia Aquática da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), não há o que fazer contra o mexilhão-dourado. “Pelo fato de ele não ser uma espécie nativa daqui, não há predadores naturais contra o mexilhão, faltando, assim, mecanismos de controle”, pontua.

Fontoura diz que as investidas contra o mexilhão todas são pontuais. Ocorrem por meio da ação de limpeza de tubulações, turbinas e embarcações. “Mas dentro do rio, não há o que se fazer. As maiores causas de perda de biodiversidade do mundo estão relacionadas à introdução de espécies exóticas em um determinado ambiente.”

O mexilhão-dourado exerce, aqui, uma relação de competição com outras espécies. Ele compete por espaço e acaba tornando- se um problema para companhias de saneamento e hidrelétricas.

Já com os outros moluscos, o problema é um pouco maior. O pesquisador da PUCRS conta que a reprodução dos moluscos de água doce do Brasil é feita na própria água. Os machos lançam seus espermatozoides e fecundam os ovos das fêmeas, dentro do rio. “A presença do mexilhãodourado pode reduzir o número de outros mexilhões, pois eles podem consumir este material genético e prejudicar a reprodução das outras espécies.”

05/08/2017 | Pioneiro | Almanaque | 12

Louco por vinil

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Em três décadas, colecionador de Garibaldi reuniu 25 mil discos e trocou carreira na engenharia pelo comércio de LPs

A felicidade que sempre procurou no acúmulo, Guilherme Possebon descobriu quando passou a compartilhar. Estamos falando de discos de vinil, o hobby que virou ofício do garibaldense que trocou a carreira de engenheiro pelo ritual de comprar, trocar e vender long plays. Grande parte do acervo de 25 mil discos expostos em um antiquário numa galeria no centro de Garibaldi são da coleção particular de Possebon, 40 anos e colecionador desde a adolescência, apaixonado por rock graças à mãe, fã de Elvis Presley, e ao pai, que embora preferisse música gauchesca, tinha lá suas bolachas dos Beatles.

Formado em Engenharia de Controle e Automação na PUCRS, Guilherme atuou no ramo por 10 anos. Saturado da rotina profissional, no início dos anos 2000 percebeu na popularização da internet a chance de dedicar-se ao comércio de antiguidades e assim deixou para trás a área de formação. No começo, teve de superar não apenas a própria desconfiança, mas também a de todos os amigos que acompanharam o seu fervor de colecionador. Hoje se considera plenamente recompensado:

– Nunca me imaginei vendendo nada, porque sempre fui muito apegado. Sou um colecionista. Mas posso dizer que a melhor fase da minha vida foi quando passei a compartilhar música. Conheci novas pessoas, adquiri muita informação, diariamente descubro alguma banda nova que não fazia noção que existia. Passei de acumulador de discos a acumulador de conhecimento musical – orgulha-se.

Roqueiro à moda antiga, de jaqueta de couro, camiseta preta de banda e cabelos compridos que ignoram a incipiente calvície, Possebon mantém em casa não muito mais do que mil discos de estimação, quase todos pérolas adquiridas na adolescência, como a discografia do Creedence Crearwater Revival, algumas raridades do KISS, edições originais do AC/DC e tudo da banda preferida, Iron Maiden. Provocado sobre qual exemplar ele se arriscaria para salvar de um incêndio, responde de bate-pronto:

– Seventh Son of a Seventh Son, do Iron Maiden. Marcou minha adolescência. Esse eu levaria embaixo do braço.

Entre as histórias curiosas de uma vida dedicada aos vinis, o aficionado recorda quando o LP Rock a’Ula, dos Cascavelletes, voltou pra casa após um misterioso sumiço de 20 anos.

– Nunca vou saber como esse disco sumiu, se foi na mudança da casa da minha mãe ou se alguém roubou, mas era um disco que tinha o meu nome rabiscado. Como queria ter a coleção completa, passei um bom tempo atrás deste álbum até que um dia um amigo me ofereceu. Havia comprado num sebo em Caxias. Só quando cheguei em casa e coloquei para tocar vi que lá estava o meu nome rabiscado. Era o mesmo bom filho voltando pra casa 20 anos depois. Agora não sai da prateleira nem por decreto – brinca.

COMPRA DE 12 MIL PARA ABRIR A LOJA

O acervo de Possebon reúne espólios de DJs que substituíram o vinil por tecnologias digitais, rádios que também se modernizaram ou faliram, colecionadores que desapegaram. A maior compra que já fez, cerca de 12 mil LPs, foi o espólio de uma rádio de Ijuí.

– Como não dá para empilhar as caixas, tive de contratar um caminhão baú para ir buscar. Só para carregar e descarregar foi um dia inteiro. Isso foi quando eu resolvi montar a loja física, uns três anos atrás, porque para ingressar num negócio desses precisa ter quantidade – lembra.

Da origem estritamente roqueira, a coleção passou a contemplar praticamente todos os gêneros musicais. Há pérolas do samba e do choro, coletâneas de MPB, relíquias de soul music e R&B, clássicos do jazz e muitas trilhas de novelas, como Dancin’ Days (1978), Feijão Maravilha (1979) e Bandeira 2 (1971). As feiras trimestrais que ele organiza, no corredor da galeria comercial onde o antiquário está instalado, passaram de 10 caixas a quase 200 nas edições mais recentes. E a loja passou a ser cada vez mais conhecida.

– No início do ano até o Humberto Gessinger esteve aqui comprando uns discos de música clássica pra gramofone – conta.

O público que garimpa relíquias nas feiras é bem diverso, de sexagenários que acompanharam o auge do disco a adolescentes que começam a descobrir no vinil um prazer diferente de consumir música (a onda retrô fez gravadoras como a Sony, por exemplo, voltarem a produzir LPs após um hiato de 30 anos). Possebon vê a redescoberta do long play com otimismo para além da plataforma, mas para a própria música:

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–É uma juventude que dá pra perceber que conhece música e se interessa. Esse retorno da musicalidade não se percebe só pela venda de discos, mas também na quantidade de bandas de garagem surgindo por aí, que é muito bacana. Só em Garibaldi conheço umas 20.

A música não é só pra ouvir em casa, é legal que ela se espalhe de várias formas.

Ele próprio, contudo, não é um intransigente ouvinte de LPs:

– Gosto de ouvir vinil em casa, pra relaxar fazendo um churrasquinho, mas na correria do dia a dia prefiro algo mais prático. Mas sempre vou privilegiar os colecionáveis, como o CD, que devo ter uns 3 mil em casa. Porque não abro mão dessa expectativa de ir atrás, de reservar um espaço da casa para eles.

ARTE É VIDA

Seja na intimidade com os discos que mantém em casa ou no promíscuo vai-e-vem das bolachas organizadas num pequeno labirinto na loja de antiguidades – residência também para vitrolas, câmeras fotográficas, gibis, coleções em fascículos sobre a II Guerra Mundial, fitas VHS e videogames clássicos – Possebon fez da paixão pela música em sua tecnologia de reprodução mais primária uma forma de expressar seu estilo e viver para sustentá-lo. Diante da inevitável provocação filosófica sobre a relação do homem Possebon com a musa música, responde com a máxima que não sabe garantir que seja sua, mas que nunca viu antes registrada:

– Se eu estiver roubando de alguém desculpe, mas nunca vi: música é arte, e arte é vida. A música é o combustível da criatividade.

Feira no finde

Neste sábado, rola uma feira de vinis promovida por Possebon, com participação de comerciantes convidados. É na Galeria Rogério Fava Jr (Rua João Pessoa, 135, em Garibaldi) das 8h30min às 18h.

05/08/2017 | Zero Hora | Capa | 1

Previdência vira um assunto de família

Embalado pela crise e pela incerteza com a reforma previdenciária, mercado de planos privados cresce no país, mas brasileiros ainda têm o desafio de aprender a poupar.

Noticias 9 a 13

05/08/2017 | Zero Hora | Notícias | 9

Crise e reforma dão gás à previdência privada

Prestes a completar 11 meses, Helena Moreira Vial arrisca seus primeiros passos sob o olhar atento da bisavó Suzel Macarthy Moreira, 87 anos, que ampara suas quedas. A assistente social aposentada espera, de alguma forma, também poder auxiliar a bisneta no inicio de sua caminhada na vida adulta. Foi essa a razão que a levou a contratar um plano de previdência privada assim que Helena nasceu, repetindo a conduta zelosa que já virou tradição na família. Ao longo de três décadas, Suzel e o marido, Earle, professor universitário aposentado, presentearam quatro netos e dois bisnetos com um plano de previdência.

Neta mais velha do casal, Mariana, 32 anos, mãe de Helena, foi a primeira a receber "algo mais sólido" como presente de nascimento. Na época, Suzel e Earle optaram por uma poupança Nada de roupas que serviriam por poucos meses ou brinquedos que pudessem ficar esquecidos em um canto Dois anos depois, quando a segunda neta nasceu, Suzel, responsável pelas finanças da casa, foi convencida pelo gerente do banco a mudar o investimento para obter melhores rendimentos. A exemplo dos Moreira, muitos brasileiros estão se tornando mais precavidos em meio à crise e ao debate sobre a reforma da Previdência. O número de pessoas que guardam dinheiro seja para complementar a aposentadoria ou a poupança de longo prazo, como es netos e bisnetos de Suzel e Earle,

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vem aumentando. Ano passado, houve crescimento de 4,5% na quantidade de beneficiários de planos de previdência complementar aberta (que podem ser adquiridos por qualquer um em bancos e seguradoras) em relação a 201.5, chegando a 13,06 milhões. Os aportes saltaram 20%, para R$ 114,72 bilhões No sistema fechado, os fundos de pensão (planos criados por empresas e voltados exclusivamente aos funcionários), o número de participantes se mantém estável, em torno de 2,5 milhões. Mas os ativos avançaram 10% em 2016, totalizando R$ 790 bilhões.

O crescimento do mercado é um fenômeno mundial, alavancado principalmente pelo aumento da expectativa de vida No Brasil, há um ingrediente extra: o debate sobre a reforma da Previdência Social. De acordo com o economista Renato Fragelli, professor da Fundação Getúlio Vargas, à medida que a aposentadoria pública começa a se tornar menos generosa, a opção privada ganha espaço para avançar - A previdência privada surge para complementar uma insuficiência da pública Está ficando cada vez mais patente para a sociedade que precisamos fazer a reforma da Previdência, pois não vai haver dinheiro para pagar o que está prometido. Não sabemos se a reforma passa neste governo, mas o próximo vai ter de fazer, senão voltará a hiperinflaçâo. Não é novidade que o pais está envelhecendo. Em três décadas, a expectativa de vida aumentou em 13 anos, chegando a 75,5 anos E a taxa de fecundidade está em declínio - se nos anos 1980, cada mulher tinha, em média, 4,07 filhos, hoje esse número caiu para 1,57. Projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, em 2060, para cada cem integrantes da população economicamente ativa, haverá 63 idosos. Hoje, é cem para 21. Mesmo assim, a previdência pública já tem despesas maiores do que as receitas.

No ano passado, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) teve déficit recorde de R$ 149,73 bilhões. De acordo com o consultor e atuário Sérgio Rangel, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, em meio ao cenário de incertezas, a previdência privada se revela "forte opção de proteção social", com perspectiva de ocupar espaço ainda maior - Ser previdente é trilhar uma vida um pouco mais orientada para o amanhã. Isso é bem dificil, mas as pessoas já perceberam que viverão mais tempo do que seus pais e avós. Essa consciência de longevidade acaba nos impulsionando a refletir sobre como será a nossa vida daqui a 20 ou 50 anos. Em tempos de crise econômica, esses sentimentos acabam se intensificando.

INVESTIDOR TEM MAIOR PODER AQUISITIVO E ENSINO SUPERIOR

Especialista em direito previdenciário, a professora Thaís Riedel, da Universidade de Brasília (UnB), ressalta que a previdência privada tem papel complementar e não substitui a pública. Como as pessoas, em geral, "não têm disciplina suficiente para poupar", são obrigadas a contribuir pelo sistema oficial para evitar um "problema social" para o governo no futuro: - Nesse sistema obrigatório, há uma solidariedade. O empregado, o empregador e a sociedade contribuem. Só que o INSS não vai te garantir poder aquisitivo. Você vai receber a média das contribuições. Hoje, o teto para aposentadorias do INSS é de R$ 5.531,31, enquanto o salário médio do brasileiro gira em torno de R$ 2 mil. Esses números ajudam a entender por que quem investe em previdência privada tem Ensino Superior e maior poder aquisitiva A postura previdente garantiu a Suzel e Earle uma aposentadoria tranquila Além de previdência, também investiram em imóveis e poupança. Mas a preocupação com o futuro é a principal herança que pretendem deixar para filhos, netos e bisnetos: - Se ganho R$ 100, tenho de guardar R$ 10. Não adianta querer viver só o momento, tem de pensar no faturo - diz Suzel.

Proteção para novos papéis na aposentadoria

A preocupação com o futuro começou cedo para José Eray Martins e Silva, 73 anos. Duas décadas antes de se aposentar da Petrobras, aderiu ao plano Petros assim que o fundo de pensão da estatal foi criado, em 1970. A mesma decisão foi tomada pela maioria dos seus colegas. Afinal, conta, era um sonho antigo dos funcionários da empresa e uma espécie de salvaguarda para manter a qualidade de vida num futuro não tão distante. A aposentadoria chegou em 1991. Passado o baque inicial da mudança de rotina que cumpriu ao longo de quase três décadas, Eray se permitiu desfrutar do tempo livre. O teatro virou um dos seus hobbies preferidos.

Desde 2003, participa do grupo Tanabeira, que reúne atores e atrizes maduros e nasceu nas dependências do Sindicato dos Petroleiros do Rio Grande do Sul (Sindipetro-RS). Recentemente, também começou a participar dos ensaios do grupo da Casa do Poeta de Canoas. O aposentado não se arrepende de ter investido na previdência complementar, e aconselha quem puder a fazer mesmo. De acordo com ele, o valor recebido da fundação Petros permite que tenha um padrão de vida bem melhor do que se recebesse só o beneficio pago pelo INSS. Hoje, seus vencimentos totais correspondem a aproximadamente 90% do que receberia se ainda estivesse na ativa. - Acho que a gente deve se preparar, fazendo algumas reservas. Quando te aposenta, mesmo que se aposente bem, o salário diminui e, por outro lado, as despesas aumentam, com mais consultas, remédios. Para mim, todo mundo deveria ter uma aposentaria digna. Porque a aposentadoria não é o fim, é o início de uma nova vida - reflete. Pai de Daniel, 38 anos, Eray agora tem outros planos. O aposentado vai ganhar um novo papel em novembro, talvez um dos mais importantes que irá desempenhar em

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sua vida: o de avô. À espera de Henrique, o primeiro neto, ele sabe que, para esse personagem, não adianta ensaiar. O segredo é apenas curtir o presente.

Passar a poupar é desafio para os brasileiros

Atualmente, o Brasil tem cerca de 20 milhões de aposentados pelo INSS, sendo que, de cada três, dois ganham um salário mínimo.

Consultora e professora de psicologia econômica na ESPM, Luciane Fagundes avalia que a relação do brasileiro com o seu futuro financeiro é de "despreocupação e imprevidência". Ou seja, a maioria da população está desprotegida para enfrentar os desafios de uma longevidade cada vez maior. - Essa é uma questão fundamentalmente comportamental. E preciso mudar nossa relação com o dinheiro e encarar a previdência complementar como necessidade básica, assim como já fazemos com a saúde suplementar, afinal, ninguém deseja ter de depender do SUS. Daqui para frente, cada um será responsável por complementar a aposentadoria oficial, viabilizando a sua sustentabilidade financeira - diz Luciane. A psicóloga lembra que o hábito de poupar para o futuro é uma prática que exige frequência, regularidade e, sobretudo, antecipação: quanto antes começar, melhor. Segundo Luciane, o grande desafio é conscientizar os jovens que encaram o futuro como algo ainda muito distante e intangível: - Nada mais doloroso e indigno do que chegar à velhice e não dispor de recursos e ter de depender da ajuda de terceiros ou precisar continuar trabalhando forçosamente.

Com o aumento da nossa longevidade, crescem também nossos riscos. Além de precisarmos de fôlego financeiro, estaremos mais expostos a vulnerabilidades, como doenças incapacitantes e invalidez. Pensar e agir buscando independência e autonomia econômica é sinal de maturidade financeira.

MAIS DE 90% DAS RESERVAS CONCENTRADAS EM SETE PAÍSES

Apesar de estar em crescimento, o mercado da previdência complementar aquela na qual qualquer pessoa pode contratar um plano em bancos e seguradoras - ainda engatinha no Brasil. São pouco mais de 13 milhões de beneficiários. Estudo feito pela Willis Towers Watson, empresa global de consultoria, mostra que apenas sete países reúnem hoje 91,7% das reservas globais de previdência privada. Líder do ranking a Holanda conta com US$ 1,3 trilhão em ativos, correspondente a 168,3% do PIB. O país tem 17 milhões de habitantes e expectativa média de vida de 81,7 anos. Lá, além da previdência pública, foi criado um "segundo pilar", financiado por contribuições obrigatórias. Quando contratado, o empregado é automaticamente inscrito em um plano de previdência complementar. No final do ano passado, o total de ativos nos 22 principais mercados mundiais somava US$ 36,99 trilhões, alta de 4,3% em relação a 2015. Conforme a Willis Towers Watson, na última década, o Brasil (8%) foi o quarto país com a maior taxa de crescimento, atrás de México (11,8%), África do Sul (9,7%) e Chile (9,2%).

"O país é viciado no chamado `curtoprazismo"

Um dos maiores especialistas do país em previdência e finanças públicas, o economista Fábio Giambiagi entende que a educação financeira deveria ser disciplina obrigatória no Ensino Médio. Segundo ele; mais do que reformar o sistema previdenciário, o Brasil tem um desafio cultural pela frente para fazer com que os jovens se preparem para a aposentadoria. Como avalia o desempenho do Brasil frente ao de outros países? Diria que estamos na Série B, mas no G-4 da Série B. Não temos o desenvolvimento institucional de países como Inglaterra ou Estados Unidos, mas, entre as economias emergentes, estamos bem situados. Temos tido uma série de problemas, a Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar) precisa melhorar, precisamos nos preparar muito melhor para o contexto de juros baixos, mas remos regras que têm sido aprimoradas com o tempo, instituições fortes financeiramente e boas perspectivas. O governo deveria estimular as pessoas a contratarem planos? O principal desafio é cultural:

temos de introjetar desde cedo no jovem a consciência de que um dia ele vai ter 65 anos, e se não se preparar durante 40 anos para esse dia, sua vida no futuro pode enfrentar série de problemas. Sou contra, no atual contexto, dar benefícios tributários, que não podem ser comportados no contexto fiscal. Qual é o perfil dos investidores? O perfil ideal do investidor deve ser o de alguém precavido, com visão de longo prazo e disposto a correr riscos moderados, com responsabilidade. Mas o país é viciado no chamado

"curtoprazismo". Uma das coisas nas quais o Brasil deveria pensar é em instituir o curso obrigatório de educação financeira no segundo ano do Ensino Médio, complementado por outro de educação previdenciária no terceiro.

Expansão dos fundos fechados não afasta riscos com fraude e má gestão

A presidência fechada (fundos de pensão dos quais participam somente os empregados ligados a uma mesma empresa, envolve um número menor de participantes do que a aberta - são 2,5 milhões contra 13 milhões de beneficiários - mas tem peso maior no total poupado. Por isso, ameaças ao sistema são vistas com atenção. A lei que possibilitou a criação de fundos de pensão no Brasil

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completou 40 anos no mês passado. Nesse período o pais se transformou no 10° sistema fechado de previdência no mundo, segundo a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), com ativos equivalentes a quase 13% do PIB. Cerca de 750 mil pessoas recebem, em média, R$ 5 mil por mês. Só que isso não basta para dar imunidade ao sistema. No ano passado, os fundos de pensão registraram déficit de R$ 70,6 bilhões, conforme a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). O rombo gera apreensão entre participantes devido ao crescimento acelerado: em quatro anos, o salto foi de 700% - em 2012, o saldo negativo era de R$ 9 bilhões Casos de fraude e má gestão também preocupam. Em 2016, a Polícia Federal deflagrou a Operação Greenfield, que investiga desvios bilionários em quatro dos maiores fundos do país: Postalis (Correio), Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa). O prejuízo foi estimado em R$ 8 bilhões. Suspeitas de irregularidades motivaram a criação de CPI na Câmara. A especialista em direito previdenciário Thais Riedel, professora da Universidade de Brasília (UnB), sugere que o beneficiário esteja sempre atento à saúde financeira do plano que faz parte. - Dentro da previdência fechada, se der déficit, o Estado não banca. É como se fosse um condomínio, está todo mundo no mesmo barco - compara. Na avaliação do presidente da Abrapp, Luis Ricardo Martins, os problemas são pontuais e não comprometem a credibilidade do sistema.

Ele admite que o atual modelo enfrenta um momento de estagnação, devido ao aumento das taxas de desemprego e, principalmente, da mudança no perfil dos trabalhadores. Se antes as pessoas ficavam 20 ou 30 anos no mesmo emprego, as carreiras corporativas, hoje, estão mais instáveis. - O sistema tem solidez, paga em dia, mas, de fato, passa por essa mudança de perfil do novo potencial participante. Então, é preciso se reinventar e se modernizar para esse novo trabalhador. É isso que estamos fazendo agora - diz Martins, destacando que esse "novo produto" deve ser flexível e sem burocracia. Para fomentar o sistema fechado, a entidade defende mudanças na legislação. Entre elas, a possibilidade de inclusão de familiares até terceiro grau e a criação de planos contemplando setores da economia, a exemplo do que ocorre em países como Holanda. Conforme Martins, os fundos de pensão devem ser vistos como parceiros do governo: - As entidades fechadas de previdência complementar são parte da solução dos problemas do país. Precisamos incentivar a poupança de longo prazo para que nós, enquanto investidores institucionais que somos, para rentabilizar essas reservas acumuladas, possamos ajudar o Brasil a solucionar problemas macroeconômicos e a investir em infraestrutura.

Com qual plano eu vou?

Comparar opções de previdência privada, simular valores e questionar gerentes de banco sobre as condições dos planos pode fazer toda diferença entre uma aposentadoria de bonança ou de aperto. Embora possam parecer semelhantes - produtos que devolvem a soma das economias, com correção, ao final do período de contribuição -, os detalhes nos contratos e as escolhas feitas pelo poupador são cruciais. - Os planos cobram taxas de administração, e quando são muito altas, corroem fatia importante do valor guardado - alerta o consultor financeiro Adriano Severa O calculo é simples: se um plano cobra taxa de administração de 3%, e em um ano o rendimento bruto fica em 6%, metade ficará nas mãos do banco. Algumas instituições cobram taxa de carregamento (uma leve mordida sobre cada depósito ou saque), o que deixa a conta ainda mais cara. Mas as tarifas nem sempre moram nas nuvens.

— As taxas costumam cair conforme cresce o valor guardado. Quem começa aplicando um valor mais alto ou faz o patrimônio subir rapidamente com os aportes mensais encontra taxas mais amigáveis - explica o professor do curso de Finanças e Banking da PUCRS Edgar Abreu. Escolhido o plano, será hora de definir sua roupagem: optar ou não pela modalidade com abatimento do Imposto de Renda? Escolher regime progressivo ou regressivo? E se a empresa na qual se trabalha oferecer um plano próprio de previdência, vale a pena aderir? - O que pesa a favor dos planos de previdência são os benefícios tributários. É preciso formatar o plano de maneira que essas regras trabalhem a favor do poupador - afirma André Bona, consultor financeiro e autor do Blog de Valor. Muita gente se pergunta, ainda, qual a melhor hora para começar a economizar, e quanto ganhar a cada mês. Vale a pena começar a poupar faltando poucos anos para a aposentadoria? E quem nunca guardou dinheiro nem para emergência, pode se julgar pronto para a previdência privada? - Embora não haja restrição ao saque antecipado, desde que se respeite a carência de 60 dias do inicio do plano, quem toma essa decisão pode acabar perdendo os benefícios tributários - lembra Fábio Augusto Souza, superintendente da empresa de seguros e previdência Mongeral Aegon em Porto Alegre. A previdência privada é o caminho mais curto para se preparar para a aposentadoria sem depender do INSS, mas não o único. Criar a disciplina de guardar, mês a mês, uma quantia pode multiplicar rapidamente as economias, em razão de rendimentos nos títulos do Tesouro ou CDBs, por exemplo. Mas também traz desafios:

evitar de falhar a poupança em alguns meses, reajustar por conta própria os valores e - muito importante - resistir ao impulso de sacar o valor antes da hora.

Segmento: Interesse

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05/08/2017 | Correio do Povo | Editorial | 2

Pesquisa contingenciada

Os trabalhos de milhares de pesquisadores estão sob ameaça de paralisação por conta de cortes de verbas para a área de ciência e de tecnologia. De acordo com dados divulgados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), haverá um contingenciamento dos recursos da autarquia na proporção de 44%. Segundo o presidente do órgão, Mário Neto Borges, o orçamento previsto e mais o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico seriam suficientes para a manutenção das atividades, inclusive reeditando o volume de investimentos dos anos anteriores. Agora, essa expectativa não existe mais e, o que é pior, a verba ora disponível é suficiente somente para pagar as bolsas por mais um mês.

Diante desta realidade, fica a indagação sobre as consequências de interromper investimentos numa área tão estratégica. Para a presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Tamara Naiz, trata-se do trabalho de milhares de pessoas que estão atuando para desenvolver a ciência a fim de dar uma perspectiva para o país nesse campo. Além disso, muitas contam apenas com as bolsas para sobreviver, pois são impedidas legalmente de ter outra fonte de renda. Sem esquecer que o país perde bilhões por ano por não agregar competitividade à produção, déficit que tem causas variadas, como os baixos níveis de aportes em educação e em qualificação da mão de obra.

Por sua vez, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, afirma que vai atuar para sensibilizar o governo federal a fim de encontrar uma saída. Evidentemente, seria o melhor a fazer. O Brasil já está tendo uma evasão de “mentes brilhantes” que rumam ao exterior. São inúmeros os casos de cientistas que abandonam o Brasil para pesquisar em outras nações.

Reverter este quadro para propiciar um incremento na ciência nacional é urgente e o corte de verbas em nada ajuda neste sentido.

05/08/2017 | O Estado de S. Paulo | Editorial | 3

A triste herança do Fies

Sete meses depois de o Tribunal de Contas da União ter classificado como “descalabro” a gestão do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) pelos governos Lula e Dilma Rousseff, a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda divulgou estudo mostrando detalhes desse episódio de calamidade administrativa – especialmente entre 2009 a 2015 – e seu impacto nas contas públicas.

Durante esse período, o número de estudantes matriculados com recursos do Fies saltou de 182 mil para 1,9 milhão – um avanço anual de 280 mil. Os anos de maior expansão ocorreram a partir de 2012, quando o governo aumentou indiscriminadamente o orçamento do Fies, levando-o a oferecer crédito farto e barato a estudantes, inclusive aos que não vinham de famílias de baixa renda.

Em 2012, foram assinados 378 mil novos contratos. Em 2013, 560 mil. Em 2014, 733 mil. Em 2015, quando a economia já vinha patinando e muitos estudantes já não pagavam as mensalidades, foram firmados 287 mil novos contratos.

Além disso, o governo afrouxou as regras do Fies, chegando a ponto de permitir que jovens de 17 anos se enquadrassem nos critérios de renda mínima exigidos para a assinatura de um contrato. A consequência de tanta inépcia e irresponsabilidade foi um drástico aumento na taxa de inadimplência, que chegou a 49% dos contratos em fase de amortização, em dezembro de 2015.

Diante de tamanha oferta de crédito, falta de rigor para formalização de novos contratos e crescente deterioração do cenário econômico, a maioria das faculdades e universidades privadas passou a estimular alunos antigos e ingressantes a utilizar cada vez mais recursos do Fies para financiar seus estudos. Houve instituições que chegaram a alegar a alunos de classe média que, como a taxa de juros do Fies era baixa, para eles valia a pena assinar um contrato de financiamento estudantil e aplicar suas poupanças no mercado financeiro.

Os números do levantamento da Seae deixam claro que o Fies foi usado por faculdades e universidades para transferir para os cofres públicos o risco de inadimplência de seus alunos. E como essas instituições, aproveitando-se da falta de controle do governo, também passaram a cobrar mensalidades mais altas dos estudantes beneficiados pelo Fies, isso estimulou vários fundos internacionais a investir no setor educacional privado brasileiro, entre 2009 e 2015.

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Em outras palavras, travestida de “política social” pelos governos Lula e Dilma, e concebida especialmente para dar a ambos uma bandeira eleitoral, a oferta pouco criteriosa de crédito barato por meio do Fies fez a alegria de muitas instituições particulares de ensino superior, sem qualquer preocupação do governo com o que realmente importava – a melhoria do desempenho escolar dos estudantes financiados por esse programa. Muitas universidades privadas converteram-se em verdadeiras corporações empresariais, com ações cotadas em bolsa.

Sucessor do programa de crédito educativo do regime militar, lançado em 1976, o Fies foi criado em 1999 pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Depois de ser ampliado com muita pompa e marketing eleiçoeiro pelos governos lulopetistas, ele se converteu num fator de desequilíbrio das contas públicas. Entre 2010 e 2014, os gastos do governo com esse programa pularam de R$ 1,1 bilhão para R$ 13,4 bilhões.

Para estancar a hemorragia, o governo Michel Temer reformulou integralmente o Fies. Mesmo assim, como anunciou a secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, o órgão está sendo obrigado a incorporar os esqueletos do antigo Fies ao resultado primário do governo. O impacto fiscal do Fies no resultado primário de 2016 foi de R$ 7 bilhões. E, no acumulado de janeiro a maio deste ano, chega a R$ 1,4 bilhão. Essa é mais uma das heranças do modo como o lulopetismo geriu o ensino superior.

Segmento: Outras Universidades

05/08/2017 | Correio do Povo | Caderno de Sábado | 7

Ulbra Canoas sedia a ComicCON 2017

A maior e mais tradicional convenção de quadrinhos e cultura pop do RS chega à 7ª edição, neste fim de semana, das 13h às 20h, na Ulbra Canoas. Realizada pela produtora Multiverso, a ComicCON tem como convidado o lendário artista espanhol José Luis GarciaLópez, que desenhou o Guia de Estilo da DC Comics. Informações no site www.comicconrs. com.br/programacao.

05/08/2017 | Jornal NH | Comunidade | 5

Joga Aurora mobiliza crianças com esporte

A criançada não ficou parada ontem à tarde no lançamento do projeto Joga Aurora, no Câmpus 1 da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo. A proposta da instituição de ensino, em parceria com a marca esportiva Nike, atende em torno de cem crianças, de 7 a 12 anos, da Escola Municipal Edmundo Strassburger, de Campo Bom. Foram desenvolvidas atividades esportivas, brinquedoteca e musicalização.

"Começamos a seleção no ano anterior para definir qual comunidade o projeto ia contemplar. O lançamento conta com atividades recreativas, enquanto na própria escola, no bairro Aurora, são desenvolvidas práticas esportivas de segunda a quinta-feira no turno inverso", explicou uma das coordenadoras do programa e professora da Universidade Feevale, Luciane Steigleder. Um educador e um estagiário são responsáveis pela orientação dos participantes nas diferentes modalidades esportivas. Um grupo de aproximadamente 30 voluntários da Nike acompanhou a ação no dia de ontem e ajudou na entrega de kits, com meia, tênis, abrigo, camiseta e mochila. Escalada, salto em distância e slackline mobilizaram a turma no ginásio.

Saúde desde cedo

"O esporte representa saúde de forma geral. Essa tarde e esse aprendizado vão fazer toda diferença na vida deles", destacou a coordenadora do Esporte Escolar da Secretaria de Educação de Campo Bom, Márcia Tornin. O desempenho escolar dos participantes também é requisito observado dentro do projeto. Exemplos de satisfação não faltavam. "O segredo é olhar para frente e se concentrar. Já fui duas vezes", disse a aluna álea da Silva, 10 anos, sobre o slackline. Já outro coordenador do projeto, o professor Marcelo Marques Soares, acrescenta que a iniciativa será determinante para que os participantes não se tornem pessoas sedentárias no futuro. "O esporte desde cedo é muito importante para que eles tenham o hábito da prática esportiva na fase adulta."

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05/08/2017 | Jornal NH | Variedades | 36

Para nerd nenhum botar defeito

Canoas - O maior evento de cultura pop do Sul do País acontece neste sábado e domingo. A ComicCon RS começa às 11 e vai até as 20 horas, na Ulbratech, no prédio 16 do câmpus da universidade. A expectativa é que, no mínimo, 2,5 mil pessoas passem por dia pelo local. Todas as atividades dentro do evento, como concursos de cosplay, workshops, exposições e sessões de autógrafos, são abertas ao público e estão incluídas no valor do ingresso. Elas não necessitam de inscrição prévia, pois serão realizadas no palco e a participação é definida por ordem de chegada até atingir a lotação do auditório.

Nas sessões de autógrafos, cada participante terá direito a autografar um item, de acordo com os organizadores. Serão 100 senhas por dia, distribuídas no balcão de informações um hora antes da sessão. Tanto para retirada da senha quanto para pegar o autógrafo a fila será por ordem de chegada. Todos os participantes das sessões de autógrafos também estarão atendendo ao público em mesas no Artists Alley, espaço especialmente criado para os artistas. ATRAÇÕES INTERNACIONAIS Se no ano passado, o inglês David Lloyd, co-criador do clássico V de Vingança, garantiu a atenção do público, este ano a convenção traz o desenhista da DC Comics José Garcia-Lápez, de 69 anos, e Eddy Banws como o grande homenageado da ComicCon 2017. O brasileiro é um dos destaques do atual renovação da editora DC, assinando o titulo Detective Comics, um dos mais importantes do Batman.

Ingressos na hora

Para quem deixou para comprar na hora, o ingresso Meia Social custa 40 reais para todos que doarem 1 quilo de alimento não perecível ou 5 reais para uma instituição de caridade parceira do evento. Estudantes, pessoas acima de 60 anos e outros beneficiários pagam a meia-entrada normal de 40 reais. Crianças de até 5 anos acompanhadas de responsável não pagam ingresso. A idade mínima para entrar no evento sem um responsável maior de idade é 12 anos. O estacionamento da Ulbra estará disponível.

05/08/2017 | Jornal VS | Olho vivo | 2

Formatura

A formatura ocorre na quarta-feira, dia 9 de agosto, a partir das 14h45 no Anfiteatro Padre Werner, na Unisinos.

05/08/2017 | Zero Hora | Caderno Campo & Lavoura | 3

Calendário II

10/8

Ocorre neste mês o Fórum CSCB de Sustentabilidade e para o Encontro Nacional da Associação Brasileira dos Químicos e Técnicos da Indústria do Couro. O evento, que está com inscrições abertas, debaterá inovações do setor, em troca de ideias com especialistas, técnicos e agentes da indústria.

• Onde: Universidade Feevale, Novo Hamburgo

• Informações forumcscbencontroabqtic.com.br

05/08/2017 | Zero Hora | ZH Fíndi | 6

Orgulho Nerd na Comiccon RS

É o Fíndi do orgulho nerd em Canoas, com a ComicCON RS, encontro de quadrinhos e cultura pop realizado no Campus da Ulbra.

Esta é a sétima edição do evento, com debates sobre assuntos como adaptações de HQs para o cinema, a produção nacional e local

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de quadrinhos, os 40 anos de Star Wars e a série televisiva Game of Thrones, além de contar com desfiles de cosplay, entrevistas e oficinas ministradas por artistas.

O destaque internacional é José Luis García-López, ilustrador que popularizou junto a toda uma geração versões icônicas dos grandes heróis da DC, como Superman, Batman e Mulher-Maravilha. Nascido na Espanha mas criado na Argentina, García-López se tornou, a partir dos anos 1970, um dos nomes mais associados à DC Comics, da qual se tornou artista exclusivo.

A ComicCON deste ano homenageia também Eddy Barrows, brasileiro que já desenhou personagens como Os Novos Titãs, Birds of Prey, Superman e, na nova fase da DC, é responsável pelo traço do Homem-Morcego.

> A ComicCON RS será realizada das 11h às 20h, sábado e domingo, no Campus da Ulbra em Canoas (Ulbratech, prédio 16, Avenida Farroupilha, 8.001, bairro São José). Os ingressos, na bilheteria do evento, custam R$ 80 ? meia-entrada de R$ 40 para estudantes, idosos e para todos os que doarem um quilo de alimento não perecível ou R$ 5 para uma instituição parceira do evento.

05/08/2017 | Zero Hora | Vida | 6

Alimentação

Ter uma alimentação saudável e variada é um hábito que começa a ser exercitado muito cedo, antes mesmo do nascimento, quando o bebê ainda está na barriga da mãe. O papel dos pais é essencial durante a infância e, em rotinas cada vez mais aceleradas, pode ser difícil encontrar tempo para comprar e preparar os ingredientes ideais. Mas especialistas garantem que o esforço vale a pena.

"Pensar sobre a alimentação é muito importante. Isso faz parte da pessoa, forma ela. É algo para se chegar bem lá na frente" destaca a nutricionista Luísa Rihl Castro, professora da Unisinos.

COMO FAZER A INTRODUÇÃO ALIMENTAR?

O aleitamento materno exclusivo precisa ser mantido até os seis meses, quando deve começar a introdução alimentar - e, a partir daí, junto com a oferta gradual de outros alimentos, recomenda-se que a amamentação prossiga até os dois anos.

Sempre sob orientação do pediatra, os pais devem começar oferecendo frutas, amassadas ou raspadas, e uma papa preparada com ingredientes de todos os grupos alimentares - proteína, legume e carboidrato, que estão representados, por exemplo, em uma mistura de carne, cenoura e arroz. Um mês mais tarde, no sétimo, entram as leguminosas, como feijões e lentilhas, também amassados com o garfo. Nessa idade, o cardápio já pode conter duas refeições (almoço e jantar) e duas porções de frutas.

Daí por diante, o que muda não é tanto a variedade, mas o modo de preparo: a papa, que no início era bem amassadinha, vai dando lugar a uma versão contendo pedaços cada vez maiores, até que a criança consiga, por volta dos 10 meses, mastigar e ingerir um pedaço, bem cozido, inteiro. Esse processo é fundamental para que ela exercite a mastigação.

Dicas importantes: fuja dos temperos industrializados, apostando em ervas, cebola e alho. Não refogue os ingredientes em óleo - acrescente-o ao final do preparo. Não é necessário usar sal.

E A BAGUNÇA?

Berenice Lempek dos Santos, nutróloga pediátrica e presidente do Comitê de Nutrologia da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, diz que não se deve evitar a bagunça que o bebê tende a fazer na cadeira de papar, pegando a comida com as mãos e a espalhando por tudo. Mamães e papais, relaxem.

"É importante, desde as primeiras refeições, o contato com o alimento: deixar a criança colocar a mão, cheirar, se lambuzar e se sujar. É a partir disso que ela vai conhecer o alimento. A sensibilidade maior é o tato, e assim se vão desenvolvendo os outros sentidos. É essencial que ela tenha prazer em ingerir o alimento" comenta Berenice.

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COMO LIDAR COM AS PRIMEIRAS RECUSAS?

Você pode deparar, às vezes, com caretas de nojo e até ter a impressão de que o bebê vai vomitar o que acabou de engolir. São reações normais, e não uma prova de que seu filho não gosta daquela comida. Cada alimento deve ser oferecido de 10 a 12 vezes, na mesma forma de preparação e em diferentes refeições. Por exemplo, a beterraba: você prepara um purê para o almoço, e a criança recusa. Ao final da refeição, tenta de novo. No jantar, tenta outra vez.

"Um erro frequente é que, num dia, você oferece beterraba, e a criança não aceita. No outro dia, oferece chuchu, e no outro, um terceiro legume, gerando sempre a ansiedade de experimentação de algo novo. Se teve alguma rejeição, a criança tem que ser exposta àquele alimento outras vezes. Ela aprende por repetição" explica Berenice.

Há que se tentar, mas sem submeter o bebê a algum tipo de mal-estar.

" Insistir não é obrigar a comer" frisa a médica.

COMO SABER SE A CRIANÇA ESTÁ SATISFEITA?

A criança vai sinalizar que não quer mais - virando a cabeça, empurrando o prato. Nem sempre ela vai comer a mesma quantidade em todas as refeições, todos os dias, e é normal que isso aconteça. Seu filho pode se alimentar muito bem hoje e passar dois ou três dias ingerindo menos. Trate com naturalidade recusas específicas " hoje ele quis comer só o feijão ou só a carne ", sem deixar de apresentar outros alimentos. Não se deve nunca forçar a criança a comer, prática que pode levar à obesidade.

É fundamental comparecer às consultas com o pediatra para que se faça o acompanhamento adequado do desenvolvimento. Se seu filho está crescendo bem, ganhando peso de forma adequada, não tendo infecções de repetição nem apresentando qualquer sintoma de deficiência nutricional, é preciso respeitar sua saciedade, sem deixar de oferecer o alimento.

COMO SABER SE MEU FILHO ESTÁ COMENDO NA QUANTIDADE CERTA?

O acompanhamento médico é essencial para responder a essa questão. Durante os dois primeiros anos, os pais costumam levar os filhos com frequência ao pediatra e, depois, as consultas acabam ficando mais espaçadas, ocorrendo apenas quando surge algum sintoma específico. O ideal é que o especialista avalie a criança pelo menos duas vezes ao ano, assim os desvios serão constatados logo e corrigidos no tempo certo. Se a criança estiver engordando muito ou crescendo menos do que o esperado para a faixa etária, o profissional poderá orientar adequações na dieta.

Luísa Rihl Castro, nutricionista e professora da Unisinos, ressalta que os pequenos devem ter pratos e talheres menores, para melhor manuseio. É importante atentar para o tamanho das porções servidas - não se pode oferecer a eles uma refeição com quantidade quase igual à dos adultos. O prato da criança tem mais ou menos a metade da porção de comida do que dos pais.

Observe os intervalos entre as refeições. Se seu filho manifesta estar com fome ou vontade de comer pouco tempo depois da última refeição, ou se insiste para ganhar bolachas a toda hora, pode ser sinal de que algo está lhe provocando ansiedade. Consulte também a escola sobre o comportamento dele em relação à comida: está comendo fora de hora? Exagerando na hora do lanche? Comendo algo além do que é mandado na lancheira?

QUANDO A CRIANÇA DESENVOLVE O PALADAR?

O bebê começa a se alimentar e a formar o paladar ainda no ventre da mãe. Durante a gestação, a qualidade da dieta da mãe é superimportante, uma vez que ela repassa ao feto os nutrientes que ingere, fundamentais para a boa formação e o desenvolvimento saudável do filho. Quanto mais adequada e variada a alimentação da grávida, melhor - é fundamental incluir carboidratos (preferencialmente integrais), frutas, verduras, legumes e proteínas, evitando, entre outros itens, açúcar e alimentos crus, como sushi.

Não se esqueça de higienizar bem as verduras. Mais adiante, a criança tenderá a aceitar melhor os sabores com os quais já estava habituada na vida intrauterina.

Ainda que muitos acreditem que "grávida deve comer por dois", essa ideia já foi abandonada. A gestante precisa aumentar um pouco

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a ingestão calórica (entre 300 e 400 calorias diárias a mais, de acordo com o trimestre), e a quantidade de peso que pode ganhar depende do peso e da alimentação pré-gestacionais. A orientação de um profissional pode deixar tudo mais claro e prático.

DE QUE FORMA LIDAR COM OS CHATOS PARA COMER?

A criança que vai crescendo com um paladar muito seletivo, impondo várias restrições à mesa, precisa "dar alguns passos para trás", segundo a nutróloga pediátrica Berenice Lempek dos Santos. É necessária uma prática semelhante à que foi adotada na introdução alimentar com o bebê. Exponha seu filho ao alimento que costuma não ser aceito, tentando múltiplas apresentações. Há crianças hipersensíveis, que não gostam da comida só de olhar, e é preciso promover uma aproximação gradual até que se possa vencer essa repulsa. O processo pode ser demorado.

" A seletividade alimentar por longo período é algo bem danoso. Essas crianças podem apresentar mais problemas de cognição e de crescimento" adverte Berenice.

Evite dar complexos vitamínicos por indicação de amigos ou familiares. A constatação de alguma deficiência e a prescrição de uma eventual complementação devem ficar a cargo do médico

QUAL O LIMITE PARA AS GULOSEIMAS?

Tenha bom senso, sem ir aos extremos. Converse com seu filho, faça combinações, estabeleça limites. O exemplo dos pais é fundamental. De nada adianta investir no discurso da moderação e depois preparar uma torta de chocolate, dando à criança um pedaço minúsculo e se fartando com todo o resto na frente dela.

"A criança aprende muito mais pelo que está vendo do que pela fala" diz Berenice.

Restringir o consumo de doces aos dias festivos pode não ser uma boa ideia quando a agenda social da criança e da família são muito movimentadas. Visualize o volume de compromissos: em um calendário, assinale todas as datas em que há celebrações para as quais seu filho foi convidado. São muitas? Recomenda-se que essas ocasiões e os finais de semana não sejam momentos de "pode tudo?" faça concessões, mas sem liberar o consumo ilimitado.

"Deve-se evitar as guloseimas durante a semana e deixá-las para um momento fora da rotina " aconselha a nutricionista Luísa Rihl Castro. " A criança tem que saber que aquilo não é a base da dieta da família, mas que faz parte do mundo. Não dá para ela ficar numa bolha" acrescenta.

Na sobremesa, priorize frutas e produtos mais naturais, como mel e açúcar mascavo.

05/08/2017 | Zero Hora | DOC | 13

Sátiros para purificar

Os gregos antigos imaginaram várias figuras bestiais; umas, assombrosas, outras, amigáveis, ainda que selvagens. Esse é o caso de faunos e sátiros, seres do bosque, uns pirados jocosos, entusiastas do bom rito. Festejavam com Dioniso e suas Bacas (ou Mênades, maluquetes de Baco). Esses seres todos, imaginários ou provindos de casas aristocráticas gregas e do povo, celebravam a vida de uma planta que parecia morta, a videira, e o ciclo de morte e renascimento dos mundos vegetal e animal - humano, inclusive.

Pandeiros em mãos, flautas duplas (syrinx), ânforas e crateras (vaso de beber), e não faltariam vinho, hinos e danças para animar a orgia (o orgeón) - cortejo festivo báquico. Nas montanhas, em bosques misteriosos, sem credenciais da cidade, com certa pureza selvagem. Pródigos parreirais e vindimas promoveram o dionisismo a principal seita da Grécia que se modernizou entre os séculos VII e V a.C., da era arcaica ao apogeu democrático.

O que vemos como imagens instigantes nos vasos atenienses, ou o que rememoramos como dionisíaco, do brinde de vinho ao êxtase (erótico ou artístico), são bacanais: sinais do culto a Baco; este, a propósito, não é nome romano, mas saudação grega (Bakkhos) ao deus que veio de Nysa (ilha imaginária no Oriente), Dioniso (não o confunda com o nome próprio que o homenageia, Dionísio). No

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seio desse rito, a vitalidade primaveril, que dará nome a uma Musa alegre, Thalia, que significa a seiva que anima o talo cheio de vida, ramos novos e abundância. Thalia, símbolo de uma cultura típica de camponeses, a comédia, parte alegre do mundo teatral de Dioniso. Com a tragédia, adentrou a cidade para purificá-la com arte e riso.

Nos concursos trágicos em Atenas, no século V a.C., os autores apresentavam uma tetralogia, três tragédias seguidas de um drama satírico, no qual personagens caracterizados como sátiros entravam em cena fazendo micagens, alegrando a plateia após a tensão de muitos horrores. Os sátiros debochavam de tipos e situações da vida da cidade, provocando o riso que ridicularizava e que permitia outro tipo de catarse: dizer-se o que certos bananas merecem ouvir. A comédia tem a força da sátira, e atinge suas metas com a sagacidade cortante de uma boa crítica. Isso inclui maledicências que pouco agradam ao achacado, mas revelam verdades, muito divertem ao povo e aliviam a todos, um #prontofalei coletivo.

Quantos personagens da cena política gostarias de chamar de canalha, mas não podes, por temer processo, pois o chefe de quadrilha pertence a matilha em que a partilha é pai, mãe e filha, forma família, e podem vir todos, com togas e tortas sentenças, cassar pão e vinho da tua boca por dizeres verdade forte em público. Por nós, a sátira e o comediante vêm fazê- lo: Gregorio Duvivier para presidente! Tiririca vice. E o sábio Antonio Prata de chanceler.

(Texto em homenagem a José Alberto Baldissera (1943-2017), que por primeiro pôs Dioniso no palco do Teatro Unisinos, ao qual desejamos vida próspera e plena de arte.)

Francisco Marshall

Historiador, arqueólogo e professor da UFRGS marsholl@ufrgs.br

Referências

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