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Open Inclusão social: estudo sobre trabalho e deficiência física na região metropolitana de João Pessoa.

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INCLUSÃO SOCIAL: ESTUDO SOBRE DEFICIÊNCIA FÍSICA E

TRABALHO NA REGIÃO METROPOLITANA DE JOÃO PESSOA

Dissertação apresentada a Pós-Graduação de Serviço Social da UFPB, como requisito final para a obtenção do título de mestra em serviço social, sob a orientação da Professora Dra. Maria Aparecida Ramos de Meneses.

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MARIA FILOMENA NÓBREGA SPINELLI

INCLUSÃO SOCIAL: ESTUDO SOBRE TRABALHO E DEFICIÊNCIA

FÍSICA NA REGIÃO METROPOLITANA DE JOÃO PESSOA

João Pessoa, ____de novembro de 2007

COMISSÃO EXAMINADORA

_____________________________________________________ Profa. Drª. Maria Aparecida Ramos de Meneses

(orientadora)

__________________________________________________ Prof . Dr. Galdino Toscano de Brito

(examinador)

__________________________________________________ Prof. Dr. Jaldes Reis de Menezes

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"Nem mesmo a lua, precisa do corpo inteiro,

para encantar o mundo"

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AGRADECIMENTOS

A Deus, nosso pai, pela grandiosidade de sua obra, o meu amor incondicional;

Aos meus pais, porto seguro, refúgio de paz em minha vida;

Á minha filha querida, Giulliana, por toda força e coragem com que me incentiva e emociona;

Ao meu esposo, Ildebrando, pela confiança;

Aos meus irmãos, Rita e Guilherme, pelo carinho e apoio em todos os momentos;

Ás amigas mais presentes em minha vida, Sandra, Regina e Iara, pelo muito que representam, jamais poderei retribuir tanta atenção e dedicação;

A todas as pessoas que participaram do processo de coleta de dados, funcionários, empregados e empregadores, usuários da FUNAD, que tão bem me acolheram, colaborando com a pesquisa de forma gratificante;

Á FUNAD, na pessoa de sua Presidente, Maria de Fátima Ribeiro, e de toda a equipe que compõe a CORPU, em especial a Coordenadora, Bernadete, pela tamanha disponibilidade em contribuir para o trabalho;

Á minha professora orientadora, Maria Aparecida Ramos de Meneses, pelo exemplo de luta que representa e por toda ajuda e incentivo;

Aos colegas e amigos do centro Universitário de João Pessoa- UNIPE – e à Coordenação do curso de fisioterapia e da clínica-escola, pela compreensão nos meus momentos de ausência;

Á Faculdade Santa Maria, nas figuras de suas diretoras, Ana e Sheila, e de sua incansável coordenadora de curso, a preciosa amiga Adriana; e aos colegas e amigos, em especial Poliana, Gigliola , Wellington e Júlia.

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SPINELLI, Maria Filomena Nóbrega. Inclusão Social: estudo sobre trabalho e deficiência física na região metropolitana de João pessoa. João Pessoa, 2007. 110 p. Dissertação de Pós-graduação (Mestrado em Serviço Social) – Universidade Federal da Paraíba - UFPB.

RESUMO

A possibilidade de inclusão social das pessoas com deficiência pelo viés do trabalho tem se constituído em um tema por demais atual devido ao processo de globalização e às conseqüentes transformações decorrentes deste processo com relação ao mercado de trabalho e empregabilidade. Desta forma, o presente estudo teve por objetivo analisar como ocorre o processo de inserção das pessoas com deficiência física no mercado de trabalho formal da região metropolitana de João Pessoa, com base nas garantias legais que respaldam estes sujeitos. Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa de base qualitativa, tendo a Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência (FUNAD) como agente mediador do processo realizado em seis empresas, com 18(dezoito) pessoas com deficiência física, 9 (nove) ligadas ao setor de recursos humanos de cada uma das empresas participantes da pesquisa e 5(cinco) encarregadas do processo de seleção para admissão na empresa. Os instrumentos para coleta de dados constaram de observação assistemática, entrevista semiestruturada e análise documental, sendo posteriormente submetidos à análise crítica. Os dados apreendidos apontam para a identificação de um perfil da pessoa com deficiência física no mercado de trabalho, que corresponde a indivíduos jovens, com deficiências leves, percebendo baixos salários, mas sem demonstrar insatisfação, o que revela a existência de dificuldades de compreensão por parte das empresas acerca do processo de inclusão, denunciando a necessidade de contratar apenas para cumprir ‘cotas’ e não para contribuir com o reconhecimento da potencialidade laboral das pessoas com deficiência física.

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SPINELLI, Maria Filomena Nóbrega. Social Inclusion: a study over work and physical deficiency in João Pessoa metropolitan area. João pessoa, 2007. 110p. Post Graduation Thesis (Social Service Masters) – Universidade Federal da Paraíba - UFPB.

ABSTRACT

Handicapped people social inclusion possibility through the work bias has constituted itself in a subject too much actual because of the globalization process and the consequent changes deriving from this process in relation to the job market and employment. This way, the present study had as an objective to analyze how the insertion process of persons with physical deficiency occurs in the formal job market in João Pessoa metropolitan area, with base in the legal guaranties that support these subjects. For that, it was developed a research of qualitative basis, having the Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência (FUNAD) as the process mediator agent in six companies, with 18 (eighteen) persons with physical deficiency, 9 (nine) related to the Human Resources Sector of each participant company and 5 (five) responsible for the company admission selection process. The instruments for data collection were a half-structured interview and documental analysis, being thoroughly submitted to critical analysis. The realized data pointed to the identification of a person with physical deficiency profile in the job market, that corresponds to young individuals, with slight deficiencies, receiving low wages, but without demonstrating dissatisfaction, that reveals the existence of comprehension difficulties, on the part of the companies, about the inclusion process, denouncing the need of employing just to accomplish ‘quotes’ and not to contribute to the persons with physical deficiency laboring potentiality recognition.

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SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS... 06

RESUMO ... 08

ABSTRACT ... INTRODUÇÃO ... 09 10 CAPITULO I: A QUESTÃO DA DEFICIÊNCIA 1.1 Paradigmas Históricos da Deficiência ... 16

1.2 Resgate da Educação Especial como modelo de Assistência ... 22

1.4 Conquistas Sociais: Aspectos da Legislação Trabalhista Concernentes à Pessoa com Deficiência ... 27

1.5 A Inclusão no contexto da Pessoa com Deficiência Física ... 32

CAPÍTULO II: MUNDO DO TRABALHO - TRAJETÓRIA NA CONTEMPORANEIDADE 2.1 Elementos que situam o trabalho na Contemporaneidade ... 50

2.2 Mercado de Trabalho – Inserção Social ... 56

2.3 Aspectos do Mercado de Trabalho Brasileiro ... 59

CAPÍTULO III: A INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO COMO INSTRUMENTO DA INCLUSÃO 3.1 Caracterização da Metodologia ... 66

3.2 Delineamento dos passos da pesquisa ... 67

NOTAS CONCLUSIVAS ... 75

REFERÊNCIAS ... 78

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LISTA DE SIGLAS

AACD Associação de Assistência à Criança Defeituosa ABI Associação Brasileira de Imprensa

ADPD Assessoria de Defesa dos Direitos dos Portadores de Deficiência APAE Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais

ASPADEF Associação Paraibana dos Deficientes Físicos BPCBenefício de Prestação Continuada

CEDPD Conselho estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência CNBB Confederação Nacional dos Bispos do Brasil

CNE Conselho Nacional de Educação

CODAFI Coordenadoria de Atendimento ao Portador de Deficiência Física CODAM Coordenadoria de Atendimento ao Portador de Deficiência Mental CODAPA Coordenadoria de Atendimento ao Portador de Deficiência da audio-comunicação

CODAVI Coordenadoria de Atendimento ao Portador de Deficiência Visual CONADE Conselho Nacional da Pessoa Portadora de Deficiência

COORDIGUALDADE Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho

COPRED Comissão Permanente de Prevenção das Deficiências

CORDE Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência

CORDI Coordenadoria de Triagem e Diagnóstico

CORPU Coordenadoria de Treinamento, Produção e Apoio Profissionalizante DRTDelegacia Regional do Trabalho

FCD Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes

FUNAD Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência INSS Instituto Nacional de Seguro Social

IBGEInstituto Brasileiro Geral de Estatística IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada MMII membros inferiores

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NVA Núcleo de Vivência em Artes

OAB Organização dos Advogados do Brasil

OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OIT Organização Internacional do trabalho

ONUOrganização das Nações Unidas PACPlano de Aceleração do Crescimento PEA População Economicamente Ativa PIB Produto Interno Bruto

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O presente trabalho constitui-se em uma dissertação, construída a partir das experiências vivenciadas pela pesquisadora enquanto funcionária da Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência (FUNAD), enriquecidas à luz de estudos e observações assistemáticas e somadas a visitas realizadas a seis empresas, na região metropolitana de João Pessoa, com o intuito de analisar a inserção no mercado de trabalho enquanto viés da inclusão social da pessoa com deficiência física.

A pesquisa em questão teve seu lócus nesta Fundação, especificamente na Coordenadoria de Treinamento, Produção e Apoio Profissionalizante (CORPU), em virtude de ser este órgão responsável pela ação estatal de inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho da Paraíba. Enquanto instituição, criada pela Lei Estadual nº 5.208 de 28 de dezembro de 1989, vinculada à Secretaria de Educação e Cultura, a FUNAD desenvolve, entre outras ações, programas de qualificação profissional, captação de vagas e intermediação de mão de obra de pessoas com deficiência para posterior inserção nas empresas paraibanas.

Para assim proceder, este órgão toma como base os preceitos da Constituição Estadual, que indica em seu art. 252 que é dever do Estado garantir às pessoas com toda e qualquer deficiência o pleno acesso à vida econômica e social a fim de desenvolverem suas potencialidades.

No intuito de viabilizar a concessão destas garantias sem esquecer das finalidades para as quais o referido órgão foi criado (habilitação, reabilitação e profissionalização) elaborou-se um organograma operacional que permitiu a distribuição do atendimento por coordenadorias, sendo a interdisciplinaridade característica principal do trabalho desenvolvido na FUNAD, que atualmente atende a cerca de 1500 sujeitos/mês, sendo que 600 deles tornam-se usuários e passam a receber atendimento duas vezes por semana, através do corpo técnico-administrativo e de apoio, a partir dos seguintes serviços:

− Triagem e diagnóstico, realizado na Coordenadoria de Triagem e Diagnóstico (CORDI);

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− Atendimento à pessoa com deficiência da audio-comunicação, na Coordenadoria de Atendimento ao Portador de Deficiência da audio-comunicação (CODAPA);

− Atendimento à pessoa com deficiência visual, na Coordenadoria de Atendimento ao Portador de Deficiência Visual (CODAVI);

− Orientação para defesa de direitos, na Assessoria de Defesa dos Direitos dos Portadores de Deficiência (ADPD);

− Prevenção, na Comissão Permanente de Prevenção das Deficiências (COPRED);

− Atividade física, no Núcleo de Educação Física e Desportos (NED) − Atendimento á pessoa com deficiência física, na Coordenadoria de

Atendimento ao Portador de Deficiência Física (CODAFI) − Teatro e dança, no Núcleo de Vivência em Artes (NVA);

− Educação, na Escola Estadual “Ana Paula Ribeiro Barbosa Lira”

Além destes, a Coordenadoria de Treinamento, Produção e Apoio Profissionalizante (CORPU) se responsabiliza pela reabilitação no tocante à profissionalização e inserção no mercado de trabalho. Atualmente, a Coordenadoria contabiliza 104 usuários com deficiência física, inseridos regularmente no mercado de trabalho a partir dos treinamentos e orientações desenvolvidos em seus serviços, distribuídos da seguinte maneira: serviço de orientação para o trabalho, oficina de encadernação manual, oficina de artesanato, oficina de marcenaria, serviço de higiene e beleza, serviço de corte e costura oficina de serigrafia, serviço de cozinha experimental, oficina de embalagens e cosméticos, serviços lúdicos e oficinas protegidas.

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deficiência de todo o estado que procuram a FUNAD com o intuito de ingressar no mercado de trabalho

Convidada a participar da elaboração do projeto deste centro de reabilitação, na condição de técnica, desde o início interessou-me a temática em estudo, pois o convívio constante com pessoas com deficiência, seja representado por suas entidades, no momento da discussão inicial, seja posteriormente, no atendimento propriamente dito, por ocasião da inauguração da instituição, em 1991, levou-me a uma aproximação com suas realidades e com a literatura referente ao tema, o que despertou o interesse em saber mais sobre a inclusão social deste grupo e o papel que o trabalho, enquanto elemento constitutivo deste processo representa para a identidade do grupo em questão, que se calcula compor 10 a 20% da população brasileira.

Por conseguinte, buscou-se, através do presente estudo, realizar uma análise, conforme citado anteriormente, do quadro de inserção das pessoas com deficiência física, usuárias da FUNAD, no mercado de trabalho da região metropolitana de João Pessoa, no período de 1999 a 2007.

A escolha do período se deu a partir da percepção de que a FUNAD, ao comemorar 10 anos de existência, no ano de 1999, já se encontrava suficientemente estruturada para atender a demanda de pessoas com deficiência física necessitando ser inseridas no mercado de trabalho. Isto devido ao fato de haver se organizado em termos de coordenadorias e da CORPU desenvolver cursos de capacitação no intuito de preparar devidamente estes usuários, ainda inexperientes, em sua maioria, para o mundo competitivo do trabalho.

Quanto à escolha da área a se realizar a pesquisa esta foi conseqüente a um período observacional ocorrido na CORPU, onde se constatou que ocorre uma maior procura da instituição de empresas localizadas na região metropolitana, em detrimento das demais regiões do estado, em parte pela desinformação da existência do aparato legal que ampara o segmento em questão e em parte pela própria precariedade da condição urbana e rural destes municípios.

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de trabalho do funcionário na empresa não inferior a 6 (seis) meses e o fato do mesmo não se encontrar afastado do trabalho no momento da entrevista.

Desta forma, foram selecionadas 06 (seis) empresas da região metropolitana de João Pessoa que atendessem aos critérios anteriormente citados, convencionando-se, por uma questão ética e de compromisso com os entrevistados, que seus nomes seriam omitidos e para efeitos didáticos seriam atribuídas a elas letras do alfabeto (A, B, C, D, E, F). Vale ressaltar que duas destas empresas trabalham com fabricação de calçados, duas atuam no comércio varejista diversificado, uma atua no setor de supermercados e outra ainda na produção e distribuição de gêneros alimentícios. Apesar da variedade dos ramos de atuação, estas empresas foram escolhidas por terem em seus quadros mais de 100 funcionários, fato que as obriga por lei a contratar pessoas com deficiência.

Vale ressaltar que as conquistas legais obtidas pelo segmento das pessoas com deficiência advieram de muitas lutas para que a nação assumisse o compromisso de admitir a pessoa com deficiência como trabalhador e é isto que enfatiza a Carta Constitucional de 1988, no seu artigo 7, inciso XXI, que preceitua: “proibição de qualquer discriminação no tocante a salário ou critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência”, e no artigo 37, inciso VIII, que determina: “a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão”.

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A idéia de dissertar acerca da deficiência perpassa pela compreensão da evolução de seu conceito ao longo da história da humanidade, face às modificações provocadas pelo homem nas suas relações sociais. Para tanto, neste capítulo, inicialmente, nos reportaremos aos diversos modos de produção e sua imbricação com os mecanismos sociais historicamente construídos. Mecanismos estes que possibilitaram ao homem a adoção de atitudes, culturas e posturas diversas frente ao ‘diferente’ ou a aquele que aparentemente não consegue atender às exigências de seu tempo. Mais adiante, contextualizaremos a deficiência física no Brasil, pautada na legislação concernente a esta, onde será ressaltada a Política de Trabalho e Emprego voltada para esta categoria.

1.1 Paradigmas Históricos da Deficiência

Como forma primitiva de sociedade a comunidade tribal mostrava-se organizada com base na propriedade coletiva e nos laços sanguíneos, com seus componentes sobrevivendo da caça, pesca e, menos freqüentemente, da agricultura e pecuária. Segundo Silva (2001) havia então dois tipos de atitude para com as pessoas que apresentavam ‘deformidades físicas’, enquanto uma atitude sinalizava tolerância e ‘aceitação’ outra, decorrente da absoluta desinformação da época, demonstrava asco e menosprezo, culminando por vezes com a eliminação destas pessoas do convívio com aqueles considerados ‘normais’. Esta visão social construída historicamente em torno das pessoas com deficiência tende a considerar esta condição como sinônimo de doença, dependência e sofrimento e acaba por marginalizar estes indivíduos, nutrindo assim a crença da incapacidade.

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eram discriminados por serem considerados menos eficazes, no sentido de proverem o sustento da tribo.

Na sociedade comunal ou escravista, segundo Carmo (1991) a deficiência física muitas vezes era imposta como castigo por crimes ou desobediências, servindo até de estratégia para manter a subserviência de escravos, que se tornavam fisicamente limitados e, portanto, ficavam à mercê de seus senhores. Excepcionalmente, alguns relatos de historiadores nos falam de pessoas com deficiência física, em especial do sexo masculino, que se destacaram na Grécia antiga como adivinhos ou poetas, profissões muito valorizadas na época.

Contraditoriamente, há também relatos de pessoas com deficiência vagando pelas ruas, esmolando e sobrevivendo graças à piedade alheia. Havia ainda a crença de que toda deficiência seria um sinal de impureza, pecado ou maldição, o que levou filósofos, como Platão, amante da perfeição física, a recomendar que toda criança nascida com deficiência fosse conduzida a locais ermos e abandonada, o que para Aristóteles resolveria o problema do controle demográfico. Silva (2007) ressalta a existência, em Roma, de um mercado de homens amputados, gigantes e anões. Estes eram vendidos para servirem de atração circense ou serem utilizados em serviços humilhantes.

A legislação romana estabeleceu ainda, através da Lei das XII Tábuas, no que se refere ao pátrio poder, que ao pai era permitido matar o filho que nasceu disforme, mediante o julgamento de cinco vizinhos.

Na idade média, Lancillotti (2003, p.39) afirma que,

[...] Sob a influência teológica, a dicotomia corpo/mente transformou-se em corpo/alma, A partir da instituição de uma moral cristã, transformou-sendo todos os homens possuidores de uma alma, passou a ser intolerável a prática do abandono, socialmente aceita e justificada na sociedade escravista.

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fogueiras da Inquisição. Carmo (1991) reconhece, nos quadros de pintores da época, a figura do maligno sendo retratados com rosto monstruoso, pés apresentando deformidades, cabeças e orelhas disformes e / ou membros e coluna deformada.

Observa-se então que a irrelevância do papel que as pessoas com deficiência possuíam no contexto histórico da organização sócio-político-econômica da humanidade estava intimamente relacionada com o conjunto de crenças religiosas e metafísicas que determinam o tipo de relação que a sociedade mantém com o diferente (ARANHA, 2003).

A idéia de fracasso, defeito ou castigo vinculado à questão da deficiência começou a sofrer algumas transformações com o movimento francês de 1789, que lutava pelos ideais de justiça e igualdade entre as pessoas e culminou na Revolução Francesa, cujas idéias difundiram-se por toda a Europa.

Com o advento do capitalismo a visão teológica, até então predominante, onde tudo era determinado pelas leis divinas, passou a ser substituída pela concepção, descrita por Locke, de que o comportamento humano seria regido por suas capacidades naturais, concepção esta que acabou por fomentar a segregação, pois Lancillotti (2003, p. 40) postula que, "aquele que, em virtude de suas incapacidades naturais, ainda que, possuindo seu corpo, [...] não participava do processo de produção e acumulação de riqueza" estaria alheio às relações sociais e como tal deveria ser encaminhado a instituições asilares mantidas pelo Estado, na companhia de outros proscritos pela sociedade, os loucos, doentes e miseráveis. A era da industrialização trouxe consigo avanços tecnológicos e científicos que, apesar de considerarem o ser humano como uma máquina que deveria funcionar ininterruptamente, sem erros, beneficiou a pessoa com deficiência física, em sua maioria mutilada de guerra, quando criou os serviços de reabilitação.

Apesar das instituições responsáveis pela prestação destes serviços terem um cunho assistencialista e segregacionista, estas tiveram um importante papel na modificação da visão da pessoa com deficiência perante a sociedade. Antes tida como imprestável, havia agora o alento de que poderia ser reabilitada para a função produtiva – era o modelo médico da deficiência. 1 Considerado pré-inclusivista, esse modelo revela o pensamento da época, que Sassaki (2002, p.28)

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esclarece: “uma das razões pelas quais as pessoas deficientes estão expostas à discriminação é que os diferentes são freqüentemente declarados doentes.”

Pautada neste modelo, a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, adotada pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1975, em seu artigo 7 , afirma que:

As pessoas deficientes têm direito a tratamentos médico, psicológico e funcional, inclusive aparelhos protéticos e ortóticos, à reabilitação física, [...] que lhes possibilitarão desenvolver suas capacidades e habilidades ao máximo e acelerarão o processo de sua integração ou reintegração social.

Partindo desta premissa, a segregação institucional estabeleceu-se e na década de 60 e segundo SASSAKI (2002) houve um grande crescimento de instituições, cada vez mais especializadas, como escolas especiais, centros de habilitação e reabilitação, entre outros. Visto que a sociedade não poderia receber estas pessoas em seus serviços, às instituições caberia a missão de disponibilizá-los. Havia ainda a crença, por parte dessa mesma sociedade, deveras excludente, de que a deficiência era um problema exclusivo da pessoa que a ‘possuía’, que deveria, por sua vez, procurar meios e serviços para solucioná-lo.

Entretanto, no final desta década, surge um movimento denominado integração social que se preocupou com a inserção da pessoa com deficiência na sociedade em geral, entendendo-se este como acesso aos sistemas de educação, trabalho e lazer.

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Surgiu então à necessidade dos países desenvolvidos passarem a discutir um novo paradigma, o da inclusão social, que se entende como um processo bidirecional, de construção coletiva, fomentando a criação de uma política voltada para um conceito amplo de cidadania. Para tanto, a prática desta inclusão tem por base a aceitação das diferenças individuais, a valorização pessoal, a convivência em meio à diversidade e a aprendizagem constante. Dessa forma, inclusão diferentemente de integração significa a modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa buscar seu desenvolvimento e exercer sua cidadania (SILVA, 2004).

A proposta implica ainda em construir e estimular a participação crescente das pessoas com deficiência na sociedade, substituindo o modelo médico por um modelo social, no qual a própria sociedade terá que reconhecer a sua responsabilidade frente a esta participação, deixando para trás ou eliminando não apenas barreiras físicas, mas principalmente as atitudes estigmatizadoras. Para BARBOSA (2006), 2 deputado federal e Presidente da Associação Nacional das APAES,

Pessoas com deficiência não estão à parte da comunidade humana. São simplesmente pessoas com incapacidades. Elas não necessitam ou desejam as mesmas coisas. Suas necessidades e talentos são tão diversificados como em outros grupos. Todas elas devem ter a liberdade para escolher seu estilo de vida. Devem ainda ter suas opiniões ouvidas e respeitadas e ser capazes de exercer influência sobre os acontecimentos que as cercam [...]. A idéia de Inclusão pressupõe movimento. No que se relaciona às pessoas com deficiência, uma mudança de trajetórias que venham a preencher lacunas históricas de omissão [...]. Quem se propõe a ser inclusivo, não pode admitir reticências. O que dá a dimensão da deficiência é o olhar do Outro. Somente a indignação não vai mudar os fatos.

Percebe-se assim a necessidade de implementar políticas sociais que, longe do cunho assistencialista que permeia toda a história da pessoa com deficiência no mundo, possam viabilizar de forma efetiva sua inclusão. Ao invés de enfocar a pessoa na sua deficiência e na sua capacidade de ajustar-se ao meio educacional e social, a sociedade é que deve redimensionar o contexto e as relações afetivas – tanto no campo educacional quanto no acesso ao mundo do trabalho – de modo a assegurar a propalada igualdade de oportunidades.

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Dentre os organismos internacionais que mais se preocupam com a participação deste segmento populacional na sociedade destaca-se a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Internacional do trabalho (OIT).

Historicamente, a década de 80 ficou conhecida como a Década de Reabilitação ou Década Internacional das Pessoas Deficientes e o ano de 1981 o Ano Internacional das Pessoas Deficientes, com a elaboração da Convenção 159 da OIT, em 1983, constituindo-se um marco para a possibilidade de inserção dessas pessoas no mercado de trabalho, pois preconiza a idéia do emprego adequado e da integração/reintegração das pessoas com deficiência na sociedade. Para regulamentá-la, esta Organização editou, no mesmo ano, a Recomendação n° 168, em Genebra, tratando da Reabilitação Profissional e do emprego das Pessoas com deficiência. Neste sentido, a Constituição Federal Brasileira contribui com todo este processo quando, no artigo 227, responsabiliza não apenas o Estado, mas também a família e a sociedade em geral na assistência a essas pessoas.

Torna-se ainda oportuno lembrar as conquistas da década seguinte com as normas sobre a equiparação de oportunidades para pessoas com deficiência, aprovadas pela Organização das Nações Unidas no início dos anos noventa, recomendando a efetivação de programas que tornem acessível o ambiente físico, a informação e a comunicação e a aprovação da Lei dos Deficientes dos EUA, como estímulo à contratação de pessoas com deficiência. No intuito de atrair as atenções para o segmento em questão e realizar mobilizações de caráter mundial a data de três de dezembro foi escolhida então, pela ONU, como Dia Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência no ano de 1992.

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de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, em 1999, na Guatemala.

Mais recentemente, no ano de 2002, foi realizado o Congresso Europeu de Pessoas com Deficiência, na cidade de Madri, que estabeleceu 2003 como o ano europeu das pessoas com deficiência, que deve ter contribuído, mesmo que indiretamente, para que a ONU aprovasse aquele considerado o primeiro documento de direitos humanos do Século XXI – a Convenção Internacional de Direitos da Pessoa com Deficiência, no ano de 2006, que o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE (2007)3 reconhece:

[...] importantíssimo instrumento de aprimoramento dos direitos humanos, não apenas porque atende às necessidades específicas desse grupo,(...) mas, acima de tudo, porque revigora os direitos humanos, hoje ameaçados por guerras consideradas ilegais pela ONU e pelo avanço do mercado global em detrimento de direitos sociais antes consolidados.

Esta Convenção diz respeito aos direitos deste segmento quanto à saúde, educação inclusiva em escolas comuns, transporte, lazer, cultura, esporte, habilitação, reabilitação, trabalho e formação profissional.

No Brasil, a preocupação do Ministério Público do Trabalho com a criação da Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho – COORDIGUALDADE, em 2008, demonstra o interesse no cumprimento da lei.

1.2 Resgate da Educação Especial como modelo de Assistência

A necessidade de realização de uma retrospectiva histórica do caminho percorrido entre a exclusão e a inclusão escolar enquanto garantia de exercício de cidadania faz-nos recorrer a Ide (1999, p.6) quando postula que “Só no início do

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século XIX quando se instalam instituições especializadas é que tem início a educação dessas pessoas. Porém, era um serviço de caráter assistencialista.”

Em nosso país, a preocupação com a educação das pessoas com deficiência data do final do século XVIII para o início do século XIX, uma vez que a Constituição de 1824 determina a instrução primária e gratuita a todos. Entretanto, as dificuldades relativas à operacionalização dos preceitos constitucionais revelavam que apenas uma pequena parcela da população da época beneficiava-se com a escolarização, refletindo-se nesse fato os interesses das camadas elitizadas. Em relação aos que apresentavam alguma deficiência, muito pouco era feito a exemplo de um atendimento escolar para pessoas com deficiência física na santa Casa da Misericórdia, em São Paulo, ainda no Brasil - Colônia (SILVA, 2004).

Em sua análise, Ide (1999) considerou que o século XX teve como característica o incentivo à obrigatoriedade e a expansão da escolarização básica. Como conseqüência, surge em sala de aula alunos com dificuldades de aprendizagem e outras necessidades que a Educação Regular não foi preparada para lidar. Inicia-se então a busca por alternativas capazes de solucionar os impasses oriundos das diferenças detectadas na escola regular. Para tanto, a pedagogia especializa-se e a educação especial institucionaliza-se, advindo então às escolas e classes especiais que irão configurar outro panorama ao sistema educacional, com vistas a atender à nova demanda.

Contudo, a Educação Especial Brasileira teve sua ampliação consolidada no século anteriormente citado, mais especificamente no final da segunda guerra mundial, tanto na rede privada, com a proliferação de entidades ligadas ao atendimento desta população, quanto na rede pública, através da criação dos ‘Serviços de Educação Especial’ nas Secretarias Estaduais de Educação (SILVA, 2004).

Os primeiros serviços de atendimento escolar especial, em sua maioria, não contemplam todas as deficiências, ou seja, especifica-se a diferença, rotulando e discriminando as pessoas, conforme evidencia Mazzotta (1996, p. 31):

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estabelecimentos de ensino regular, os quais um federal, nove estaduais e quatro particulares atendiam também alunos com outras deficiências.

Desta feita, Silva (2004) ressalta que, configuradas como de caráter público, privado ou filantrópico, as instituições de educação especial expandiram-se por todo o país, algumas voltadas inicialmente para a deficiência mental, a exemplo da Sociedade Pestalozzi, Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), e outras para a deficiência física, como a Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD). Observa ainda que, a partir da década de 60, iniciou-se o reconhecimento da interferência do sistema educacional no desenvolvimento e na aprendizagem dos alunos considerados ‘especiais’ do ponto de vista de suas necessidades.

Mantoan (1997) concorda com a autora supracitada em relação ao impulso tomado pela Educação Especial no Brasil a partir de 1960, através da luta pela incorporação dos alunos com deficiência pelo sistema regular de ensino, evidenciando-se estatisticamente a pequena abrangência desse atendimento realizado de forma dissociada e a precariedade dos serviços especializados. O baixo índice de escolarização dessas pessoas refletia, pois, a carência de uma política educacional de oportunidades para todos. Acrescenta ainda que medidas como esta trazem para o ensino regular todos os ‘excluídos’, pertencentes às minorias, como o aluno pobre, o menino de rua, hiperativos, multirrepetentes e com distúrbios de comportamento.

Considerando, pois, a educação como um direito da pessoa com deficiência, a Constituição Federal reitera a importância de sua efetivação, ao destacar, no artigo 208, que o atendimento educacional para essas pessoas deva ocorrer na rede regular de ensino, assim como preconiza o ensino obrigatório e gratuito para todos.

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Para Gallardo e Gallego, apud Ide (1999) trata-se de substituir uma ideologia ultrapassada e discriminatória como a da Educação Especial em sua origem para outra mais abrangente e capaz de criar oportunidades de inclusão social, conforme versa o artigo 56 da Declaração de Salamanca:

O currículo dos alunos com necessidades educativas especiais que se encontram nas classes terminais deve incluir programas específicos de transição, apoio à entrada no ensino superior [...] treino vocacional subseqüente que os prepare para atuar, depois que sair da escola, como membros independentes e ativos das respectivas comunidades.

Trabalhar para a construção de uma sociedade inclusiva implica, segundo Mantoan (2004), no reconhecimento da heterogeneidade dessa sociedade, pois a inclusão só se concretiza quando ocorrem mudanças no modo de tratar e educar as pessoas, com respeito à individualidade. Portanto, a perspectiva de uma educação inclusiva requer o rompimento com antigos paradigmas pedagógicos que preconizam uma ‘pseudo-igualdade’ onde era essencial agrupar os iguais.

Silva (2004) ressalta haver uma lógica excludente, onde a escola exclui de seus procedimentos pedagógicos, e até mesmo de seus espaços, em nome da ‘homogeneidade’, aqueles alunos considerados ‘diferentes’. Para justificar a dificuldade de acesso à educação por parte desses alunos quase sempre se alega despreparo do sistema regular de ensino, enfatizando, pois a necessidade de um atendimento inicial diferenciado para posterior integração à escola regular.

Partindo do princípio citado anteriormente, não caberia à escola realizar quaisquer alterações para receber todo e qualquer aluno, mas dos alunos ‘especiais’ procurarem alternativas para alcançar o nível de ‘normalidade’ necessário para serem aceitos. Esta condição entra em choque com o modelo democrático em que vivemos onde o acesso à educação deve acontecer irrestritamente, sem condições determinantes e que é reforçado pela Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) que afirma ser dever do sistema regular de ensino assegurar a acessibilidade a estes alunos, através da remoção de barreiras arquitetônicas e adequação de espaço e mobiliário, além da garantia de disponibilidade de recursos humanos e materiais didáticos necessários (SACRISTAN, 1999).

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com autonomia e à escolha de métodos e técnicas adequados à abordagem de conteúdo e avaliação.

O processo de construção da escola democrática, portanto, teve início com o movimento de integração da Educação Especial e começa a se encontrar em um processo mais recente, de inclusão. No intuito de diferenciar os dois momentos de desenvolvimento do sistema educacional Blanco (1998) postula que a integração diz respeito à incorporação na educação geral de crianças com deficiência que durante muito tempo permaneceram segregadas enquanto que a inclusão corresponde a uma iniciativa da educação comum se relaciona com a necessidade de mudanças na estrutura e funcionamento das escolas para facilitar o acesso a todos.

Em acordo com o conceito acima proposto, Mantoan(1997) ressalta que a integração não favoreceu a interação entre os alunos com deficiência e os outros alunos porque tinha a segregação como base e que as diferenças entre os dois processos não são apenas conceituais mas apontam visões diferenciadas de homem, mundo e educação. Destaca a mesma que na integração pretende-se a colocação do aluno com deficiência no ensino regular mediante a implantação de mecanismos tais como: sala especial, sala de recursos, serviço itinerante, entre outros.

Silva(2004) ressalta, no entanto, que para se ter clareza dos conceitos anteriormente abordados faz-se necessário uma melhor compreensão a cerca dos parâmetros de ‘normalidade’ impostos pela sociedade que, na maioria das vezes, impõe determinados valores tendo em vista a perspectiva mercadológica e consumista que a caracteriza. Em sua pesquisa, a autora em questão destaca que a política de inclusão não parece contemplar as diferenças individuais das pessoas com deficiência, o que se reflete em uma postura apática em sala de aula por parte desses alunos.

Entende-se, por conseguinte, que o papel da escola não se restringe à transmissão de conhecimentos. Deve haver, por parte do corpo docente, uma preocupação com a formação global dos alunos, em uma perspectiva em que o conhecer e o intervir no real se encontre. Para tanto, necessita-se trabalhar as diferenças, reconhecendo-as e não as camuflando.

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[...] Implantar uma política inclusiva é o atual desafio da educação brasileira. Nele, conjugam-se o dever do Estado e o direito da cidadania. Hoje, mais do que ampliar e aprofundar os marcos legais necessita concretizá-los em ações. Estamos certos de que a educação brasileira, no processo de se fazer inclusiva, pode converter-se em poderoso instrumento de promoção dos Direitos Humanos, se forem cuidadosamente planejados os procedimentos pedagógicos, a partir das diferentes formas de ser e estar das pessoas envolvidas. Embora entendamos o conflito advindo dessa prática, consideramos que esse é o melhor meio para uma verdadeira inclusão.

Carvalho (2002) concorda com a autora supracitada e pondera que a escola inclusiva deve se colocar a serviço da dimensão, tanto social quanto política, das relações humanas, oferecendo assim, além da apropriação do conhecimento a capacidade crítica e reflexiva. Para ela, esta nova realidade educacional requer um enfoque holístico, que envolva valores, crenças e atitudes nas práticas educativas e reconheça a importância da participação da família e comunidade nos processos decisórios.

1.4 Conceituando e resignificando a diferença

Há muito se discute acerca de como melhor definir a deficiência e como as definições acabam por retratar o modo de pensar, agir e sentir de uma determinada época ou de um povo observa-se que houve uma evolução desta conceituação determinada pelas transformações econômicas, sociais e políticas, anteriormente citadas.

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deficiência como incapacidade de inserção social, uma vez que esta difere do paradigma de normalidade tradicionalmente aceito e respeitado.

Na tentativa de definir incapacidade Vash (1981, p.26) postula:

A incapacidade se refere à interferência que uma deficiência provoca no desempenho de uma pessoa numa determinada área da vida. É definida em termos de conseqüências sociais. Assim, enquanto as deficiências permanecem constantes, as incapacidades variam em grau e desaparecem, dependendo das atividades que a pessoa está tentando desempenhar. As incapacidades nem sempre são conseqüências da deficiência. Muito da incapacitação que as pessoas deficientes experiênciam é imposta pelos aspectos criados pelo homem no ambiente físico e pelos costumes, valores, atitudes e expectativas sociais [grifo nosso].

Isto se aplica verdadeiramente à pessoa com deficiência na área do trabalho, pois, apesar de ter competências e capacidades distintas, como todas as pessoas, estas nem sempre são valorizadas além das limitações. Existe ainda uma dificuldade em reconhecer cada deficiência e uma tendência à generalização, ou seja, tratar todas as deficiências como uma única, não visualizando as peculiaridades inerentes a cada tipo de limitação.

No que concerne à deficiência física, esta dificuldade torna-se ainda mais evidente, a exemplo do que ocorre no mundo do trabalho, onde os empregadores costumam confundir as deficiências, uma vez que as outras limitações lhes parecem mais incapacitantes e, portanto, se surpreendem quanto à descoberta das potencialidades do indivíduo, apesar das limitações impostas pela sua condição de pessoa com deficiência,

Bom, que eu saiba, tem portador de deficiência física que exerce, por exemplo, tem o deficiente visual, Josiano, chamam de Jô, é espetacular, eu nunca vi uma pessoa montar caixa com a habilidade e a capacidade e a velocidade. É um exemplo de profissional. É um exemplo mesmo. (F.B., engenheiro ligado ao setor de produção da empresa A)

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deficiência que apresentava. “Aquele que tinha deficiência era tido como socialmente inútil, um peso morto para a sociedade, um fardo para a família, alguém sem valor profissional” (SASSAKI, 2003 p. 2).

Algum tempo depois, nos anos 60, a mídia começou a chamá-los de incapacitados para depois, com o advento da reabilitação, considerá-los ‘indivíduos com capacidade residual’, o que, diga-se de passagem, foi um avanço em termos conceituais, embora houvesse o consenso de que a deficiência, de qualquer grau ou natureza, diminuiria significativamente o potencial de uma pessoa em termos laborativos e de vida social. Nas décadas seguintes deu-se o uso de termos pouco populares, como ‘defeituosos’, até chegar ao mais aceito na época – ‘deficiente’.

Evolução maior, no entanto, ocorreu nos anos 80, com a adoção do termo ‘pessoas deficientes’, elevando os membros deste segmento á categoria de pessoas, ao tempo em que a palavra ‘deficiente’ passava a ocupar a classe dos adjetivos, deixando de ser aspecto principal de qualquer oração. A Organização Mundial de Saúde, por sua vez, decidiu com base na Resolução 37/52, da ONU, lançar a Classificação Internacional de Impedimentos, Deficiências e Incapacidades. A Resolução em questão data de dezembro de 1982 e faz distinção destes termos, da seguinte forma:

Deficiência: Toda perda ou anomalia de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica. [...]. Incapacidade: Toda restrição ou falta (devido a uma deficiência), da capacidade de realizar uma atividade na forma ou na medida em que se considera normal para um ser humano. [...]. Impedimento: Situação desvantajosa para um determinado indivíduo, em conseqüência de uma deficiência que limita ou impede o desempenho de uma função normal no seu caso.

Esta ampliação da visão do fenômeno da deficiência, instituindo a questão do impedimento/ incapacidade é válida se compreendermos que o impedimento quem cria é a própria sociedade quando nega a acessibilidade que possibilita a cidadania e o trabalho que viabiliza a sobrevivência, e que a incapacidade pode ser minimizada ou fortalecida, a depender da estrutura organizacional em que se insere.

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subo escadaria com peso, com mercadoria pesada e eles estão cientes disso.Quando cheguei para trabalhar aqui, me colocaram nos Serviços Gerais. (F.A.L. 32 anos, funcionário da empresa B).

Dando continuidade à busca da terminologia menos impactante, em se tratando de estigma, e ao mesmo tempo mais adequada, para viabilizar a elaboração de políticas públicas para este segmento, organizações ligadas à luta destas pessoas por dignidade e cidadania decidiram que ‘pessoa deficiente ‘ dava uma denotação pesada ao termo, como se a pessoa inteira fosse deficiente, o que não era verdadeiro. Considerando então a deficiência como um detalhe e não a característica mais importante da pessoa que a possui, elegeram ‘pessoa portadora de deficiência’ como terminologia mais adequada e para facilitar sua popularização a expressão foi logo reduzida para ‘portadores de deficiência’ Prontamente aceito pela sociedade em geral, o termo passou a constar na Constituição e em todas as legislações e políticas pertinentes ao campo das deficiências.

A partir dos anos 90 ocorreu um movimento, particularmente ligado à Educação Especial, que visava substituir o termo ‘deficiência’ por ‘necessidades especiais ‘ e conseqüentemente adotar-se a expressão ‘ portadores de necessidades especiais’. Entretanto, faltava ao novo termo um respaldo, senão legal, ao menos etimológico, que o justificasse, uma vez que ‘necessidades especiais’ vários grupos populacionais possuem, como idosos, crianças e outros que não apresentam dificuldades vinculadas a uma causa orgânica. Apesar de pertencerem a uma minoria vítima de preconceito e exclusão, as organizações de pessoas com deficiência, mesmo em nível mundial, não querem continuar tentando esconder ou camuflar a deficiência e para isto buscam:

Identificar nas diferenças todos os direitos que lhes são pertinentes e a partir daí encontrar medidas específicas para o Estado e a sociedade diminuírem ou eliminarem as ‘restrições de participação’(dificuldades ou incapacidades causadas pelos ambientes humano e físico contra as pessoas com deficiência) (SASSAKI, 2003, p. 7)

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aspecto clínico da limitação. Assim sendo, seis anos depois, a ONU aprovou a Convenção Internacional de Direitos da Pessoa com Deficiência, considerado primeiro documento de direitos humanos do séc. XXI que estabelece direitos quanto à saúde, educação, transporte, cultura, esporte, habilitação, reabilitação trabalho e formação profissional. Em relação ao trabalho, esta, em seu art. 27, reafirma a idéia da inclusão de todas as pessoas com deficiência no mercado de trabalho, de forma digna e integral, necessitando, para sua aplicação, apenas de ser ratificada.

Para Almeida (2003) os diversos tipos de deficiência podem ter origem no período pré ou pós-natal, sendo neste último consideradas como ‘adquiridas’. As deficiências de etiologia pré-natal são aquelas identificadas como congênitas, oriundas de processos de má-formação ou ainda causadas por complicações gestacionais enquanto que as de origem pós-natal são adquiridas após o nascimento e derivam de fatores externos, como acidentes de trânsito, de trabalho e doenças infecciosas, entre outros.

No caso específico da deficiência física, as doenças ou lesões que afetam os sistemas ósteo-articular, sistema muscular e nervoso, isoladamente ou em conjunto, podem produzir quadros de limitações de grau e gravidade variáveis, segundo o(s) segmento(s) corporais afetados e o tipo de lesão ocorrida. Dentre os tipos de deficiência física, destaca-se:

• Lesão cerebral (paralisia cerebral, hemiplegias)

• Lesão medular (tetraplegias, paraplegias)

• Miopatias (distrofias musculares)

• Patologias degenerativas do sistema nervoso central (esclerose múltipla,

esclerose lateral amiotrófica) • Lesões nervosas periféricas

• Amputações

• Seqüelas de politraumatismos

• Malformações congênitas • Distúrbios posturais

• Seqüelas de patologias reumáticas

• Lesões por esforços repetitivos (L.E.R.)

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1.5 Conquistas Sociais: Aspectos da Legislação Trabalhista Concernentes à Pessoa com Deficiência.

Embora a questão dos Direitos Sociais tenha sido alvo de discussões entre pensadores de todo o mundo desde o século XVIII, só após a Segunda Guerra Mundial a idéia de Cidadania plena se completou, concomitantemente à necessidade de valorização das minorias, representadas em parte pelas pessoas com deficiência, sequeladas da referida guerra. Esta nova postura em relação ás minorias se deve à nítida percepção pós-guerra do poder opressivo da maioria, servindo então de fundamento para a criação de políticas que salvaguardassem as primeiras, a fim de enfraquecer as últimas.

Quando se trata de voltar o olhar das Leis Trabalhistas para o segmento da Pessoa com Deficiência as políticas internacionais de incentivo ao trabalho divergem entre si, mas a maioria preocupa-se em reservar vagas ou fornecer subsídios fiscais ou ainda contar com contribuições sindicais para o custeio de programas de formação profissional, tanto na esfera privada quanto na pública. No Brasil, em relação às pessoas com deficiência, as ações estatais referentes às Políticas Trabalhistas, visam superar, segundo MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO (2007) “[...] o viés assistencialista e caridosamente excludente para possibilitar-lhes a inclusão efetiva. Passarão a ser sujeitos do próprio destino, não mais meros beneficiários de políticas de assistência social.” Neste diapasão, cabe às empresas primar pela aplicação do princípio constitucional do valor social do trabalho e da livre iniciativa, fomentando a implementação da cidadania plena e da dignidade do trabalhador, com ou sem deficiência. (art. 1º e 170 da CONSTITIUIÇÃO FEDERAL DE 1988). Para tanto, espera-se que a contratação de pessoas com deficiência siga os mesmos princípios da contratação dos demais trabalhadores, cabendo também a estes cumprir com suas obrigações para com a empresa contratante, no tocante a profissionalismo, dedicação e assiduidade. Se assim o fizerem, estarão demonstrando a todos que desejam oportunidades e não assistencialismo.

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tem dificuldade, obviamente que de vez em quando acontece uma situação ou outra que também acontece com pessoas que se diz 'normal', então, não acredito que isso seja pelo fato de terem uma deficiência física ou não, mas analisando o grupo como um todo são excelentes profissionais e ocasionalmente ocorre no caso algumas situações mas não acho que está relacionado de forma nenhuma , isso é muito mais uma questão de postura, de atitude. (J.V., Coordenadora de RH da empresa D)

[...] e a gente trabalhou bastante o pensamento do portador se achar, ‘coitadinho', ’pobrezinho’, essa cultura, ’né’ eles são pessoas normais, eles têm uma limitação física, mas eles têm que se adaptar às regras, não faltar serviço. (E.G.B., Coordenadora de Recrutamento da Empresa D)

No entanto, a realidade brasileira, segundo resultados da Tabulação Avançada do Censo 2000, se nos afigura com cerca de 24,5 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência e que destas 18,76% estão concentradas na região Nordeste. Corroborando com estes dados, a Fundação Banco do Brasil, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, destaca que o repasse do salário mínimo via Benefício de Prestação Continuada (BPC) para pessoas com deficiência aumentou em quase 350% entre os anos de 1996 e 2001. O estudo também ressalta haver diferenças no tocante a salários (a renda média de pessoas deficiência física é de cerca de 1 salário e meio enquanto a renda média de pessoas sem deficiência é de quase dois salários)e à alfabetização (27,61% das pessoas com deficiência não são alfabetizadas.).

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A capital da Paraíba, João Pessoa, apresenta-se com uma população aproximada de 600.000 habitantes, enquanto que o percentual de pessoas com deficiência encontra-se próximo aos 14%, o que equivale a 80.000 indivíduos.

Muitos destes ainda preferem se submeter à triagem para obtenção do Benefício de Prestação continuada (BPC), mesmo apresentando potencial produtivo, por não acreditar em suas próprias potencialidades ou por imposição da família, que antevê o Benefício como único meio de sobrevivência. “aí minha mãe, veja assim, ela botava esperança em mim. E ela se preocupava muito, ela achava que eu não ia conseguir arrumar um emprego por ter deficiência". (PRPJ, 21 anos, funcionário da empresa F)

Alguns documentos, elaborados pela OIT e em sua maioria ratificados no Brasil, a exemplo da Convenção nº. 159/83 estabelecem como princípio a garantia do emprego e a possibilidade de integração/reintegração das pessoas com deficiência na sociedade quando preconiza que.

Pessoas com deficiência devem desfrutar, com equidade, das portunidades de acesso, conquista e desenvolvimento do seu trabalho, o qual, sempre que possível, deve corresponder à sua própria escolha e trazer qualidade de vida sustentável (OIT, 1983).

A lei que a referendou foi a de nº 7.853, de 1999, que disciplinou a atuação do Ministério Público e instituiu a Coordenadoria Nacional para Integração das Pessoas Portadoras de Deficiência, a qual foi regulamentada pelo Decreto 3.298/99, que estabeleceu uma Política Nacional para a Integração de Pessoas Portadoras de Deficiência, conceituando os vários tipos de deficiência e determinando parâmetros avaliativos.

Mais recente, porém não menos importante, é a Lei nº 10.098, de 2000, que trata a questão da acessibilidade em um desenho universal, e aguardando ratificação, a Convenção Internacional de Direitos da Pessoa com Deficiência, que trabalha para alcançar a inclusão social com o conceito de ações afirmativas, que segundo GOMES (2001, p.40) podem ser definidas como sendo:

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como para corrigir os efeitos presentes da discriminação praticada no passado, tendo como objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a educação e o emprego.

Trata-se, portanto, de uma política compensatória de acesso à educação e emprego extensiva a todos os grupos que compõem as minorias, ou grupos vulneráveis, como forma de superação legal, na tentativa de corrigir danos oriundos do passado, de condutas indesejáveis e raízes históricas profundas.

A descrença no potencial produtivo da pessoa com deficiência decorre da falta de informações que, de certa forma, contribui para fazer com que o preconceito contra esta parcela da população continue presente, em especial no mercado de trabalho competitivo da nossa sociedade capitalista.

Na educação profissional o Serviço Nacional do comércio (SENAC ) destaca a importância da flexibilidade do currículo, no qual as possibilidades das pessoas com deficiência devem ser consideradas, além de oferecer um tratamento apropriado por ocasião do estabelecimento de métodos e prazos, garantindo o respeito ao tempo do aluno e a qualidade da capacitação oferecida.

1.6 A Inclusão no contexto da Pessoa com Deficiência Física

Em se tratando de deficiência física, ao fazermos uma retrospectiva histórica veremos que no Brasil da época do descobrimento quase não existiam pessoas com este tipo de deficiência. Para Carmo (1991) este fato ocorreu porque entre os índios havia o hábito de sacrificar as crianças que nasciam com deformidades congênitas, sobrevivendo apenas aqueles com deformidades adquiridas em guerras ou acidentes. No período colonial, no entanto, a escravidão modificou um pouco este cenário, na medida em que os escravos, vítimas de maus tratos, adquiriam deficiências devido a mutilações decorrentes de acidentes ou torturas e no Império de D. Pedro II foram criados alguns órgãos para prestar assistência a estas pessoas, embora de forma bastante primitiva.

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AACD, hoje com a denominação de Associação de Assistência à Criança Deficiente e nesta mesma década surgem as unidades pioneiras da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE.

Entretanto, só a partir da década de 80, ao realizarmos uma breve análise da seqüência histórica da luta das pessoas com deficiência por cidadania, em paralelo com a nossa própria história política, considerada relevante para a compreensão do problema em questão. Depara-se então com um país que foi palco de profundas transformações políticas, deixando de lado cerca de vinte anos de ditadura, para fazer emergir os chamados movimentos sociais.

Durante a história política de nosso país encontram-se líderes dos movimentos de oposição conduzidos principalmente pela igreja (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB), imprensa (Associação Brasileira de Imprensa – ABI) e advogados (Organização dos Advogados do Brasil)– (OAB). Havia um processo de luta da sociedade brasileira para romper com a “cultura do medo” fomentada pelos governos militares, como o do presidente Geisel, em defesa dos direitos humanos usurpados pela Constituição da época, que representava um forte aparato repressivo, reforçado pela censura, perseguições políticas, excessivo controle e centralização do poder.

A esta luta se somou fatos extremamente desagradáveis, como torturas e mortes, que constituíram um novo alento à batalha entre os segmentos sociais representativos e o Estado autoritário, a fim de recuperar o estado de direito, a cidadania e a democracia. Para tanto, exigia-se do referido Estado mudanças em suas diretrizes políticas, especialmente na área da política social.

Em meio ao clima controvertido em que o país mergulhara, assume o poder o presidente General João Batista de Figueiredo, com um discurso que, senão eficaz, parecia oportuno, uma vez que defendia o controle inflacionário e dos gastos públicos, o aumento do número de empregos e a abertura política lenta, gradual e controlada. Este governo, ao se deparar com pressões de ordem internacional e nacional, resolve promulgar a Lei da Anistia, permitindo que muitos brasileiros exilados retornassem à pátria.

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político, movimento que culminou com a proposta de eleições diretas e de nova Carta Constitucional. Estava, pois, determinada conforme Alves (apud Carmo, 1991 p. 42) “... a emergência de um movimento popular configurado na aliança entre as bases ligadas à igreja, os grupos associativos seculares e o novo movimento sindical, tanto no campo quanto nas áreas urbanas...”.

Em meio a este esforço pela democracia, o movimento reivindicatório das pessoas com deficiência cresceu e se fortaleceu, a exemplo da realização do I Encontro Nacional de Pessoas Deficientes, em 1989, ano de regulamentação da coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), criada no governo do presidente José Sarney, no ano de 1987.

Esta coordenadoria, por sua vez, surge para respaldar legalmente os pleitos deste segmento, que tem seu cotidiano conturbado pelo estigma do preconceito e da discriminação. Vale ressaltar que data desta época a existência de dois tipos de movimentos ligados às pessoas com deficiência - as entidades “de” pessoas com deficiência e as entidades “para” pessoas com deficiência, sendo as primeiras organizadas e coordenadas por pessoas com deficiência e as últimas organizadas por pessoas sem deficiência, com o intuito de apoiar e prestar serviços às pessoas com deficiência. Sobre a evolução das entidades, Nascimento apud Silva (2001, p.54) comenta;

No início, predominavam as entidades prestadoras de serviço com forte dose de assistencialismo. Depois vieram as entidades de deficientes para defender interesses de trabalhadores ambulantes, mas mantendo o caráter paternalista; e também as entidades formadas por incentivo dos processos de reabilitação, com ênfase nos esportes, mas dependendo também do assistencialismo público ou privado. [...] Na década de 80, apareceram os primeiros sinais de entidades voltadas para as reivindicações de direitos e cidadania [...].

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referentes a este segmento, no início dos anos 90 foram criados vários órgãos governamentais, tanto em nível federal quanto estadual e municipal.

No estado da Paraíba, as pessoas com deficiência, articuladas à luta nacional em prol dos direitos constitucionais relativos à educação, saúde, trabalho e assistência social, surgem enquanto sujeito coletivo e passam a cobrar das autoridades locais, através das entidades que os representam, ações legítimas para o exercício de sua cidadania. Entre estas entidades destacam-se a Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes (FCD), que no início tinha como característica o assistencialismo e aos poucos muda de perspectiva, adotando a postura das pastorais dos movimentos populares, assumindo um caráter de luta reivindicatória, e a Associação Paraibana dos Deficientes Físicos (ASPADEF).

Sendo assim, iniciativas no sentido da reabilitação datam da primeira gestão do governador Tarcísio de Miranda Burity, em 1981, com o surgimento do projeto da Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência – CIAD - posteriormente denominada FUNAD. Este foi colocado sob a responsabilidade da Secretaria do Planejamento e Coordenação Geral (SEPLAN – PB), que envidou esforços para reunir profissionais e entidades ligadas aos portadores de deficiência, colhendo informações e comparando com os melhores centros do país, dirigindo estudos e definindo recursos e articulações em nível do governo federal para a construção da instituição.

Posteriormente, em 1989, por ocasião do segundo mandato do governador acima citado, cria-se então a FUNAD, vinculada ao governo do estado, órgão de referência para a reabilitação na Paraíba, objetivando trabalhar com a prevenção, habilitação e reabilitação nas quatro áreas de deficiência, a saber: visual, auditivo, mental e física.

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O CEDPD-PB, criado em 1º de dezembro de 2003 pela Lei nº 7.485 e regulamentado 3 anos depois pelo Decreto nº 26.955/06 é um órgão colegiado permanente, que tem caráter consultivo, deliberativo e fiscalizador, com a atribuição de aconselhar e assessorar o fomento de políticas, projetos e ações, em conjunto com o governo do estado, nas áreas de acessibilidade, educação, saúde, trabalho e renda, apoio jurídico contra a discriminação, fiscalização de cumprimento das leis referentes ao segmento da pessoa com deficiência, além de realizar eventos e mobilizações visando a inclusão do grupo supracitado. Para tanto, tem em sua composição representantes do governo e da sociedade civil, lutando, entre outras causas, por melhor acessibilidade que viabilize a propalada inclusão social.

A inclusão social, por sua vez, é definida por SASSAKI (1997) como sendo:

[...] o processo pelo qual a sociedade e o portador de deficiência procuram adaptar-se mutuamente tendo em vista a equiparidade de oportunidades e, conseqüentemente, uma sociedade para todos. A inclusão (na escola, no trabalho, no lazer, nos serviços de saúde, etc) significa que a sociedade deve adaptar-se às necessidades da pessoa com deficiência para que esta possa desenvolver-se em todos os aspectos de sua vida,

Pressupõe uma aceitação, por parte da sociedade, de princípios até então considerados incomuns, como aceitação das diferenças, valorização da pessoa enquanto indivíduo único, convivência com a diversidade humana e aprendizagem através da cooperação. Este novo paradigma prevê, portanto, a construção de um novo tipo de sociedade, e vai além das modificações no ambiente físico para prover acessibilidade, no momento em que sugere alterações no pensamento de todas as pessoas, apresentem ou não uma deficiência. Esta prática, da inclusão, vem sendo exercitada em algumas partes do mundo, a cerca de 20 anos.

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Conforme mencionado anteriormente, na perspectiva tradicional, a inclusão da pessoa com deficiência era tida como de responsabilidade da família , da própria pessoa com deficiência ou ainda das entidades que a assistiam, sendo a deficiência considerada uma questão de saúde. Com a evolução veio a mudança de paradigmas e surgiu a necessidade de considerar a inclusão como uma questão de ética, cidadania e combate às desigualdades sociais. Sendo assim, a viabilização da inclusão passou a ser discutida com toda a sociedade, incluindo-se empregadores e empregados, abrindo espaço para que as empresas atuassem com responsabilidade social. Para tanto, Sassaki (1997, p.65) reconhece que,

Uma empresa inclusiva é, então, aquela que acredita no valor da diversidade humana, contempla as diferenças individuais, efetua mudanças fundamentais nas práticas administrativas, implementa adaptações no ambiente físico, adapta procedimentos e instrumentos de trabalho, treina todos os recursos humanos na questão da inclusão,etc.

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[...] as pessoas que são consideradas deficientes elas são muito mais produtivas dentro da empresa do que aqueles que são considerados normais porque assim, acho que a própria dificuldade que a gente cria e a própria discriminação do mercado que existe faz com que eles se empenhem mais, se superem, seja mais comprometido naquilo que faz, então, a gente tem exceções que a gente trata, tem, eu não vou dizer que em 100% do quadro a gente não tenha alguns que fogem , vamos dizer assim, desse parecer, só, mas é muito pouco, ‘pra’ o número que a gente tem hoje a gente tem pouquíssimos problemas. (M.G.O.S.C., Consultora de Capital Humano da empresa C).

Diante da imensa influência que exerce na sociedade capitalista, as empresas de médio a grande porte devem reconhecer que a inclusão representa uma via de mão dupla, em termos de benefícios, pois a política inclusiva pode ser revertida em ganhos significativos em termos de imagem. É o que nos revela a pesquisa intitulada Responsabilidade social das Empresas – Percepção do Consumidor Brasileiro, realizada em 2000 e desenvolvida pelo Instituto Ethos, jornal Valor e Indicator.

Neste estudo, ficou comprovado que a contratação de pessoas com deficiência atrai um maior nº de consumidores. Além disso, o ambiente de trabalho fica mais humanizado e obtém-se um reforço do espírito de equipe entre os funcionários, favorecendo assim ganhos de produtividade real oriundos do clima organizacional positivo. Portanto, para a empresa que desenvolve uma política de responsabilidade social a inclusão deixa de ser uma obrigação legal e passa a ser compromisso com a sociedade, necessitando para tanto da estruturação de um programa de capacitação, recrutamento, seleção e contratação abrangente, que envolva todas as pessoas, com ou sem deficiência.

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Os sistemas de cotas, ou reserva legal de cargos no mercado de trabalho, não é tão recente quanto se deseja aparentar, uma vez que, em meados do século XX, surgiu na Europa um regime de ‘cota-contribuição’, planejado inicialmente para atender os ex-combatentes, muitos dos quais sequelados de caráter definitivo. De acordo com Menezes (2005) a Inglaterra e a Holanda foram as precursoras deste sistema, seguidas por Grécia e Espanha, entre outros. Na América Latina, aos poucos os países têm aderido a este sistema, a exemplo do Brasil e Honduras.

A legislação brasileira estabelece claramente a obrigatoriedade de as empresas com cem (100) ou mais empregados preencherem parte de seus cargos com pessoas com deficiência (art.93 da Lei nº 8.213/91). Esta cota, entretanto, é variável, porque depende do número geral de empregados que a empresa possui em seu quadro, estabelecida no artigo em questão, da seguinte forma:

− De 100 a 200 empregados...2% − De 201 a 500 empregados...3% − De 501 a 1000 empregados...4% − De 1001 em diante...5%

Vale ressaltar que a empresa privada pode demitir funcionários com deficiência, pois os mesmos estão sujeitos às determinações da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho que regem todos aqueles que estão no mercado de trabalho formal. Entretanto, no caso de a empresa demitir uma pessoa portadora de deficiência, o § 1º da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991 (Plano de Benefícios da Previdência Social), afirma que a dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderão ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante.

Para a aplicação do referido dispositivo legal recorre-se ao Decreto 3.298/99, que dispõe sobre a conceituação da pessoa com deficiência, para efeito da Lei de Cotas, determinando que a inserção laboral possa ocorrer em três modalidades:

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