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Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração. Brazilian Seismicity: Seismic Records indicate the Configuration of a New Map

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“O autor escreve, por opção pessoal, de acordo com a antiga ortografia”

Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração de um Novo Mapa

Brazilian Seismicity: Seismic Records indicate the Configuration of a New Map

Paulo S. T. MIRANDA

1

, Humberto S. A. VARUM

2

, Nelson S. VILA POUCA

3

1

CONSTRUCT-LESE, FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal, paulo.miranda@fe.up.pt

2

CONSTRUCT-LESE, FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal, hvarum@fe.up.pt

3

CONSTRUCT-LESE, FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal, nelsonvp@fe.up.pt Resumo: A NBR 15421:2006, norma brasileira que trata dos projetos de estruturas resistentes a sismos, apresenta um mapa de zoneamento que divide o Brasil em cinco zonas sísmicas. Este mapa tem como base o Global Seismic Hazard Maps. A maior parte do território brasileiro encontra-se na zona sísmica 0, situação na qual, segundo as recomendações da própria NBR 15421:2006, nenhum requisito de resistência sísmica é exigido. Um estudo comparativo da NBR 15421:2006 com normas sísmicas de outros países permitiu identificar que o mapa de zoneamento brasileiro é muito abrangente, não abordando as características específicas da sismicidade brasileira ao apresentar uma regionalização bastante simplificada. Mesmo em países de baixa a moderada sismicidade, o estudo detalhado do perigo e zoneamento sísmico é justificado pelo elevado risco sísmico gerado muitas vezes pela alta vulnerabilidade das edificações e grande exposição de pessoas. A avaliação dos registros sísmicos brasileiros nos últimos trezentos anos, especialmente a partir da década de 80 do século passado, indica uma diferente configuração do perigo sísmico no Brasil. A elaboração de um novo mapa de zoneamento sísmico brasileiro é de grande importância para divulgação e conscientização das ações relacionadas à diminuição do risco sísmico; e condição necessária e fundamental para futuras revisões da norma brasileira de estruturas resistentes a sismos.

Palavras-chave: Sismicidade brasileira, Perigo sísmico, NBR 15421:2006.

Abstract: NBR 15421: 2006, a Brazilian code dealing with seismic resistant structures, presents a zoning map that divides Brazil into five seismic zones. This map is based on the Global Seismic Hazard Maps. Most of the Brazilian territory is located in seismic zone 0, in which, according to the NBR 15421: 2006 recommendations, no seismic resistance requirement is required. A comparative study of NBR 15421: 2006 with seismic codes of other countries allowed to identify that the Brazilian zoning map is very broad, not addressing the specific characteristics of Brazilian seismicity when presenting a simplified regionalization.

Even in countries of low to moderate seismicity, detailed study of seismic hazard and zoning is justified by the high seismic risk often generated by high vulnerability of buildings and large exposure of people. The assessment of Brazilian seismic records in the last three hundred years, especially since the 1980s, indicates a different configuration of the seismic hazard in Brazil. The elaboration of a new map of Brazilian seismic zoning is very important for the dissemination and awareness of the actions related to the reduction of seismic risk; and a necessary and fundamental condition for future revisions of the Brazilian earthquake resistant structures code.

Keywords: Brazilian seismicity, Seismic hazard, NBR 15421: 2006.

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Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração de um Novo Mapa 2

1. Introdução

O Brasil é um país localizado em região intraplaca, precisamente na região central da placa sul-americana.

Nas regiões intraplacas, embora a probabilidade de ocorrência de sismos seja muito pequena, a natureza estável dos solos provoca a propagação mais eficiente das ondas sísmicas, caracterizando estas regiões como áreas potencialmente perigosas para sismos catastróficos. Assumpção et al. (2014) expõem que nestas regiões nem sempre há uma relação direta entre as atividades sísmicas e aspectos mapeáveis na superfície. Não há ainda um conhecimento profundo sobre o mecanismo dos sismos em regiões intraplacas. Entre as hipóteses dos mecanismos destes eventos está o afinamento das placas, concentrando as tensões na crosta superior; e a presença de regiões com crosta fina e fora de equilíbrio isostático, produzindo tensões locais. A principal diferença entre a sismicidade de regiões de borda de placa e regiões intraplacas não é a magnitude do evento sísmico e sim a frequência de ocorrência. Celik (2008) relata que em algumas situações no mundo, sismos de grande magnitude foram observados em regiões intraplacas causando grandes prejuízos. Terremotos de grande magnitude, em torno de 8,0 graus na escala Richter, ocorreram no centro e leste dos Estados Unidos da América. Uma publicação da USGS (2016) apresenta ainda, entre os sismos em regiões intraplacas que causaram grandes destruições, o sismo de magnitude 7,7 graus na escala Richter, ocorrido em 26 de janeiro de 2001 em Bhui, ou Gujarat, na Índia, que causou a morte de pelo menos 20 mil pessoas, muitos feridos e destruiu cerca de 339 mil edificações. Os danos observados em sismos de regiões intraplacas podem ser intensos, não só pelas características geológicas destas regiões, mas também pela ausência de cuidados antissísmicos nas edificações e falta de treinamento da população para reagir à situação.

2. Monitoramento sísmico no Brasil

Veloso (2012) apresenta um breve histórico sobre o monitoramento sísmico no Brasil. Desde o período colonial brasileiro, são realizadas pesquisas através de documentos e depoimentos que comprovam a ocorrência de sismos históricos. Os primeiros registros oficiais aconteceram no início do século XX. Em 1910, uma estação sismográfica, pertencente à rede sismográfica de John Milne, foi instalada na ilha de Fernando de Noronha; em 1965, uma das estações da WWSSN (World-Wide Standard Seismograph Network), financiada pelo programa americano Vela, foi instalada na cidade de Natal-RN; em 1968, os britânicos instalaram em Brasília uma estação WWSSN. Uma rede nacional de monitoração só começou a ser instalada na metade da década de 1970. O objetivo inicial era monitorar o possível surgimento de sismos induzidos nas áreas dos reservatórios artificiais. Berrocal (2016) destaca os grupos de pesquisa da USP – Universidade de São Paulo, da UnB – Universidade de Brasília, da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte e do ON – Observatório Nacional os quais atualmente operam a Rede Sismográfica Brasileira composta por mais de 80 estações sismográficas e publicam continuamente dados destas estações, como o Boletim Sísmico Brasileiro, elaborado pelo IAG/USP – Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo.

3. Sismicidade brasileira

Os registros brasileiros indicam a ocorrência de sismos com magnitude da ordem de 5,0 graus na escala

Richter a cada 4 anos aproximadamente. Dependendo das caraterísticas do solo, profundidade do foco e

tipologia das edificações, sismos desta ordem podem causar grandes prejuízos. Veloso (2012) relata que

em 25 de abril de 1966, um sismo de magnitude 5,2 graus na escala Richter ocorreu em Tashkent, capital

do Uzbequistão, matando 1.800 pessoas, deixando mais de 69 mil pessoas desabrigadas e causando a

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Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração de um Novo Mapa 3 destruição ou sérios danos em mais de 85 mil edificações. Sismos de magnitude da ordem de 6,0 graus na escala Richter acontecem no Brasil com uma frequência de aproximadamente 50 anos. Berrocal et al.

(1984) afirmam que pesquisadores brasileiros encontraram evidências, através de estudos paleossísmicos, da ocorrência de sismos com magnitude da ordem de 7,0 graus na escala Richter na região Nordeste do Brasil. No período de 2012 a 2017, houve apenas uma ocorrência no Brasil de terremoto acima de 7,0 graus na escala Richter (7,6 graus), mais precisamente na fronteira entre o Brasil e o Peru, em Taruacá-AC, no dia 24 de novembro de 2015. Por ser em uma área desabitada, não foram registradas perdas humanas ou econômicas.

4. NBR 15421:2006

No ano de 2006, impulsionada pela verificação de maiores atividades sísmicas registradas no Brasil nas últimas décadas e pela necessidade de adequação das normas técnicas brasileiras às exigências internacionais, visando uma maior integração econômica com outros países do mundo, a Associação Brasileira de Normas Técnicas elaborou e publicou a ABNT (2006) NBR 15421. Esta norma trata da obrigatoriedade da consideração das ações sísmicas nos projetos de novas estruturas.

4.1 Acelerações sísmicas horizontais

Na ABNT (2006) 15421, os valores definidos como característicos nominais para as ações sísmicas são aqueles que têm 10% de probabilidade de serem ultrapassados no sentido desfavorável, durante um período de 50 anos, o que corresponde a um período de retorno de 475 anos. Em função da variação de a

g

, aceleração sísmica horizontal característica, o território brasileiro é divido em cinco zonas sísmicas conforme apresentado na Figura 1 e Quadro 1.

Figura 1 - Zonas sísmicas no Brasil (ABNT, 2006)

(4)

Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração de um Novo Mapa 4 Quadro 1 - Zonas sísmicas brasileiras (ABNT, 2006)

Zona sísmica Valores de a

g

Zona 0 a

g

= 0,025g

Zona 1 0,025g ≤ a

g

≤ 0,05g

Zona 2 0,05g ≤ a

g

≤ 0,10g

Zona 3 0,10g ≤ a

g

≤ 0,15g

Zona 4 a

g

= 0,15g

Na determinação das acelerações sísmicas horizontais características considera-se a frequência anual de sismos de cada magnitude, supondo que estes continuarão a acontecer nas mesmas regiões observadas até agora; e as relações empíricas que prevêm as acelerações esperadas em função da magnitude e distância epicentral. A maior parte do território brasileiro encontra-se na zona sísmica 0. Muitos dos grandes centros urbanos brasileiros, como as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador e Brasília estão localizados nesta área. Os estados brasileiros localizados em zona sísmica diferente de zero são o Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Roraima, Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Destacam-se, por conta da maior exposição de pessoas, os estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Melo (2007) afirma que pelo menos 30 dos 184 municípios do Ceará já apresentaram manifestações sísmicas. Cidades como Pacajus, Pereiro, Palhano, Irauçuba, Cascavel e Baturité são locais frequentemente associados a abalos sísmicos. O maior tremor registrado no Nordeste brasileiro teve epicentro no município de Pacajús-CE, cerca de 70km de Fortaleza, capital do estado do Ceará. No estado do Rio Grande do Norte, mais precisamente na Cidade de João Câmara, ocorreu uma grande e duradoura sequência de abalos sísmicos fazendo a terra tremer intermitentemente por cerca de sete anos. Além dos dois maiores sismos com magnitudes de 5,1 e 5,0 graus na escala Richter, ocorreram outros vinte com magnitude igual ou superior a 4,0 graus. Veloso (2012) destaca que é importante observar que o maior sismo ocorrido em João Câmara, embora tenha sido bem menos potente que o maior sismo já registrado no Brasil, provocou sérios problemas: 4.348 edificações tiveram que ser reconstruídas ou recuperadas e 26.200 pessoas ficaram desabrigadas. Lominitz (1986) estima que considerando uma intensidade máxima VII-MM na área epicentral, os maiores tremores em João Câmara devem ter atingido acelerações da ordem de “0,2g”, em uma zona com diâmetro de 2 a 3km.

5. Mapas de sismicidade

5.1 Mapa de sismicidade brasileira

O mapa das acelerações sísmicas horizontais no Brasil teve como base um estudo de perigo sísmico a nível mundial, o Global Seismic Hazard Maps, exposto na Figura 2. Este trabalho foi realizado por várias instituições internacionais. O mapa não apresenta as características locais e específicas da sismicidade brasileira, mostrando uma regionalização bastante simplificada.

A Figura 3, adaptada do mapa publicado pelo GSHAP (1999), mostra a fração do mapa relativa ao Brasil

dando destaque à escala de acelerações sísmicas e o perigo sísmico associado.

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Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração de um Novo Mapa 5 Figura 2 - Global Seismic Hazard Map (GSHAP, 1999)

Figura 3 - Fração do mapa relativa ao Brasil (GSHAP, 1999) 5.2 Mapas de sismicidade de outras normas sísmicas

Para efeito de comparação do mapa de sismicidade brasileiro com outras normas sísmicas, foram

estudadas as seguintes normas: CEN (2010) - EUROCÓDIGO 8, ASCS (2010) - SEI7/ASCE, INPRES (2013) -

INPRES-CIRSOC 103, INN (2009) - NCh 433, ACIC (2010) - NSR-10, NEC (2014) - NEC-11, MVCS (2016)- E.030,

MCT (2001) - COVENIN 1756-1 e SIB (2006) - NBDS. O zoneamento e as acelerações sísmicas horizontais

características recomendadas em cada uma das normas estão resumidas no Quadro 2.

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Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração de um Novo Mapa 6 Quadro 2 - Comparação entre normas sísmicas: zoneamento e acelerações

Norma Origem Zoneamento e Acelerações

NBR 15421 (2006) Brasil 5 zonas (0,025g < a

g

<0,15g)

EUROCÓDIGO 8 (2010) Europa zonas sob responsabilidade dos países

(0,020g < a

g

<1,00g)

SEI7/ASCE (2010) EUA zonas extremamente detalhadas

INPRES-CIRSOC 103

(2013) Argentina 5 zonas (0,04g < a

g

<0,35g)

NCh 433 (2009) Chile 3 zonas (0,20g < a

g

<0,40g)

NSR-10 (2010) Colômbia 10 zonas (0,05g < a

g

<0,50g)

NEC-11 (2014) Equador 6 zonas (0,15g < a

g

<0,50g)

E.030 (2016) Peru 4 zonas (0,10g < a

g

<0,45g)

COVENIN 1756-1 (2001) Venezuela 8 zonas (0,00g < a

g

<0,40g)

NBDS (2006) Bolívia 8 zonas (0,04g < a

g

<0,12g)

Todas as normas sísmicas estudadas apresentam um grau de complexidade e profundidade de detalhes bem maior que a norma sísmica brasileira. Os mapas de sismicidade em geral consideram aspectos locais e não somente o mapa do GSHAP. Em muitos casos, como o chileno, por exemplo, esta complexidade é justificada pela localização do país em termos de posicionamento sobre as placas tectônicas. As acelerações características previstas na norma chilena variam de 0,2g a 0,4g ao passo que as acelerações horizontais características na norma brasileira variam de 0,025g a 0,15g. No caso particular da Bolívia, mesmo as acelerações horizontais características sendo da mesma ordem das brasileiras, variando de 0,04g a 0,12g, o mapeamento sísmico é bem mais detalhado como mostra a Figura 4. A justificativa apresentada na própria norma boliviana para tais cuidados é o elevado risco sísmico gerado pela alta vulnerabilidade das edificações mesmo no cenário de sismicidade baixa a moderada.

Figura 4 - Mapa sísmico boliviano (SIB, 2006)

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Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração de um Novo Mapa 7 6. Novo mapa de sismicidade brasileira

A identificação das regiões de sismicidade importantes passa pelo estudo das falhas conhecidas e o dos registros sísmicos.

6.1 Estudo das falhas tectônicas brasileiras

Hasui e Ponçano (1978) afirmam que os sismos ocorridos no Brasil estão associados com os movimentos tectônicos de caráter global, sendo a movimentação da placa tectônica sul-americana no sentido oeste- noroeste o principal fator das ocorrências tectônicas no Brasil. As forças tectônicas agem em zonas frágeis chamadas zonas de descontinuidade (geossuturas proterozóicas) dando origem aos sismos. Segundo Haberlehner (1978) no Brasil existem dez províncias sismotectônicas que são regiões onde existe concentração destas atividades sísmicas por conta da presença das falhas tectônicas. Machado (1968) afirma que em praticamente todas as províncias geológicas do país existem falhamentos Holocenos e anomalias geofísicas que mostram relações entre terrenos soerguidos com atividades sísmicas. O maior número de falhas concentra-se nas Regiões Sudeste e Nordeste, local onde se verifica a maior quantidade de abalos sísmicos, seguindo-se as Regiões Norte, Centro-Oeste e Sul, como representado na Figura 5.

Figura 5 - Mapa das principais falhas tectônicas brasileiras (Saadi, 2002)

Hasui (1990) afirma que a reativação de uma falha preexistente, desencadeada pelas ações da tectônica

global (processo denominado tectônica ressurgente) é bem mais provável de acontecer do que a formação

de uma nova linha de fraqueza. Mas há quem discorde. Assumpção et al. (2016) afirmam que um forte

terremoto pode acontecer em uma região sem muita atividade sísmica recente e com muita tensão

geológica acumulada e ainda não liberada. De forma que não há garantias de que sejam as falhas

superficiais, e não outras que jazem desconhecidas abaixo da superfície, as responsáveis por futuros

terremotos.

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Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração de um Novo Mapa 8 6.2 Registros sísmicos recentes

Em termos de registros sísmicos, o Brasil possui informações de apenas algumas centenas de anos. A partir da década de 70, com a instalação da rede nacional de monitoração, foi possível detectar um número bem maior de eventos sísmicos no território brasileiro. O Quadro 3, obtido a partir de dados do IAG/USP (2017) a seguir apresenta a frequência de sismos ocorridos no Brasil entre os anos de 1724 a 2017. Para melhor compreensão da atividade sísmica no Brasil, neste trabalho, os sismos são divididos em duas categorias:

sismos com magnitude maior ou igual a 2,0 graus na escala Richter e menor que 5,0 graus na escala Richter (Sismos I) e sismos com magnitude maior ou igual a 5,0 graus na escala Richter (Sismos II).

Quadro 3 - Frequência de sismos ocorridos no Brasil de 1724 a 2017

Estado Magnitude

Sismos I Sismos II

Acre - AC 31 6

Alagoas - AL 17 0

Amazonas - AM 33 3

Amapá - AP 2 3

Bahia - BA 103 0

Ceará - CE 358 1

Distrito Federal - DF 1 0

Espírito Santo - ES 9 1

Goiás - GO 97 1

Maranhão - MA 19 0

Minas Gerais - MG 423 0

Mato Grosso do Sul - MS 31 1

Mato Grosso - MT 184 3

Pará - PA 62 0

Paraíba - PB 7 0

Pernambuco - PE 147 0

Piauí - PI 6 0

Paraná - PR 46 0

Rio de Janeiro - RJ 99 0

Rio Grande do Norte - RN 290 2

Rondônia - RO 12 0

Roraima - RR 11 0

Rio Grande do Sul - RS 29 1

Santa Catarina - SC 30 1

Sergipe - SE 7 0

São Paulo - SP 267 2

Tocantins - TO 43 0

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Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração de um Novo Mapa 9 A Figura 6 e a Figura 7 a seguir resumem respectivamente as ocorrências de Sismos I e II no território brasileiro. Na confecção destes mapas foram consideradas apenas as frequências de ocorrência de sismos nos estados brasileiros, não considerando exatamente a localização dos epicentros nem as profundidades dos focos.

Figura 6 - Sismos I

Figura 7 - Sismos II

Nestes mapas percebe-se a considerável presença de Sismos I e II nos estados do Ceará e Rio Grande do

Norte, justificando a sismicidade destes estados no mapa da ABNT (2006) NBR 15421. No entanto, algumas

regiões que segundo o mapa da ABNT (2006) NBR 15421 estão localizadas na Zona 0, apresentam

considerável sismicidade. Em termos de ocorrência de Sismos I, destacam-se os estados Pará, Mato Grosso,

Mato Grosso do Sul, Goiás, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, todos eles com a

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Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração de um Novo Mapa 10 ocorrência de mais de cinquenta sismos no período estudado. Em termos de ocorrência de Sismos II, destacam-se os estados do Amapá, Amazonas, Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, todos eles com pelo menos uma ocorrência no período estudado.

6.3 Proposta do novo mapa de sismicidade

Assumpção et al. (2016) afirmam que um trabalho conjunto vem sendo feito pela comunidade sismológica do Brasil, envolvendo USP, UnB, UNESP, ON, UFRN, IPT, e PUC-RJ para atualizar o mapa de sismicidade brasileira. O mapa da Figura 8 apresenta a distribuição dos sismos ocorridos no território brasileiro. Sismos de magnitude acima de 6,0 graus na escala Richter registrados a partir de 1940, sismos de magnitude acima de 5,0 graus na escala Richter registrados a partir de 1962 e sismos de magnitude acima de 3,5 graus na escala Richter registrados a partir de 1980. Como há mais relatos de tremores antigos na região Sudeste do que na Amazônia, esta classificação é uma tentativa de mostrar quais são as áreas de maior e de menor atividade sísmica no Brasil.

Figura 8 - Pontos de ocorrências de sismos mais frequentes no Brasil (USP, 2017)

Os pesquisadores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, analisando os

dados da Rede Sismográfica Brasileira e a localização das falhas tectônicas, divulgaram recentemente o

estudo para publicação do novo mapa sismológico brasileiro incluindo novas regiões onde os tremores de

terra podem ser mais frequentes. No novo mapa de sismicidade além da confirmação da sismicidade dos

estados do Ceará e Rio Grande do Norte, foram inseridas como regiões de atividades sísmicas importantes,

regiões que não constam na ABNT (2006) NBR 15421: região do Pantanal, região central de Goiás, região

sul de Minas Gerais, região nordeste do estado de São Paulo e parte da Amazônia como mostra a Figura 9.

(11)

Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração de um Novo Mapa 11 Figura 9 - Novas regiões no Brasil de importante sismicidade (USP, 2017)

Assumpção et al. (2016) descrevem a metodologia para determinação do novo mapa de sismicidade brasileira. O mapa da Figura 10 apresenta os resultados preliminares do estudo realizado em termos de acelerações sísmicas horizontais características para um período de retorno de 475 anos. Várias regiões do Brasil com acelerações acima de 0,03g preenchem parte da área de sismicidade zero do mapa GSHAP (zona sísmica 0 da ABNT (2006) NBR 15421). Este mapa ainda passará por estudos conclusivos principalmente no que se refere aos possíveis efeitos da sismicidade Andina exposta no mapa GSHAP.

Figura 10 – Proposta do novo mapa de sismicidade brasileira (Assumpção, 2016)

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Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração de um Novo Mapa 12 As áreas verdes do mapa correspondem às acelerações sísmicas horizontais características de 0,04g a 0,08g. Nas áreas amarelas as acelerações variam de 0,08g a 0,16g, situações que, dependendo da fragilidade das edificações podem causar consideráveis danos. Nesta nova configuração, os estados do Ceará e Rio Grande do Norte estariam submetidos a acelerações superiores às indicadas na atual ABNT (2006) NBR 15421.

7. Revisão da NBR 15421

O comportamento das estruturas frente a uma situação de abalo sísmico está diretamente relacionado às considerações de dimensionamento em projeto, aos sistemas construtivos adotados e à qualidade destes serviços e dos materiais. O novo mapa de sismicidade brasileira é fator indispensável para a proposta de revisão da ABNT (2006) NBR 15421. A inclusão de novas regiões em situação de sismicidade importante obrigaria à consideração de ações sísmicas em estados onde a concentração de domicílios brasileiros é bem elevada, podendo exemplificar os estados de Minas Gerais e São Paulo como mostra a Figura 11.

Figura 11 - Domicílios em situação urbana (IBGE, 2010)

10. Conclusão

Por ser o Brasil um país de baixa atividade sísmica, poucos são os grupos de pesquisa e trabalhos

publicados na área da Engenharia sísmica. De acordo com o censo 2016 publicado pelo CNPQ (2017) –

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, existem no Brasil, 37.640 grupos de

pesquisa cadastrados na plataforma Lattes e 199.566 pesquisadores envolvidos. Os grupos ligados

(13)

Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração de um Novo Mapa 13 diretamente à área sísmica, independente da área predominante de atuação, são apenas 49 (0,13% do total) com 310 pesquisadores envolvidos (0,16% do total). Considerando as Engenharias como área predominante do estudo sísmico, o número de grupos resume-se a apenas 10. Embora ainda em quantidade bastante reduzida, estudos considerando o efeito das ações sísmicas nas estruturas brasileiras têm sido desenvolvidos: Santos e Lima (2006), Santos et al. (2007), Parisenti (2011), Dantas (2013), Galvão (2013) e Miranda (2013). As residências brasileiras, em geral, quando estruturadas, possuem estrutura de concreto bastante primária. As peças em concreto possuem mais função de amarração do que propriamente estrutural. Muitas vezes não há a presença de profissionais qualificados e habilitados na fase de projeto e execução. Os materiais muitas vezes são de baixa qualidade. Muitas das casas térreas não possuem lajes e quando possuem são do tipo treliçada. As cobertas são em estrutura de madeira com telhas cerâmicas e os fechamentos em alvenarias de blocos cerâmicos. Este tipo de edificação, quando submetido às ações sísmicas, pode sofrer consequências que vão de pequenas fissuras em alvenarias até colapso parcial ou total. Mesmo com a evolução dos estudos na área sísmica não existem métodos confiáveis de previsão de sismos. A única maneira de reduzir as perdas é melhorar a capacidade resistente das edificações às ações sísmicas através da verificação e dimensionamento baseados nas recomendações de normas sísmicas.

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Sismicidade Brasileira: Registros Sísmicos Indicam a Configuração de um Novo Mapa 14 Hasui, Y. (1990). Neotectônica e aspectos fundamentais da tectônica ressurgente no Brasil. SBG/MG.

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Referências

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