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ADICIONAL DE PERICULOSIDADE — ELETRICIDADE: SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA E OUTRAS QUESTÕES POLÊMICAS

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ADICIONAL DE PERICULOSIDADE — ELETRICIDADE: SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA E O U T R A S Q U E S T Õ E S POLÊMICAS

J O S É C O R R Ê A V I L L E L A 1'1

Sumário: 1. Introdução; 2. Tempo de permanência em área de ris­

co; 3. O Anexo ao Decreto e a baixa tensão; 4. Pertencer ou não ao setor elétrico; 5. Significado da expressão “condições de pericuio- sidade"; 6. Utilização de EPfs e ferramentas isoladas; 7. O que é um sistema elétrico de potência; 8. Tensão e corrente elétricas con­

sideradas perigosas; 9. Conclusão; 10. Bibliografia.

1. I N T R O D U Ç Ã O

O s adicionais d e periculosidade, insalubridade e penosidade são g a ­ rantias constitucionais, de acordo c o m o artigo 7®, XXIII, d a Constituição Federal d e 1988. C o m relação à eletricidade, a caracterização d a peri­

culosidade é feita c o m b as e na Lei n. 7.369/85, d e 20.9.85 e no Decreto n.

93.412/86, d e 14.10.86.

Trataremos neste trabalho d a s questões q u e t ê m criado certa polêmi­

ca n a caracterização d a periculosidade envolvendo a eletricidade, quais sejam:

1) proporcionalidade d o p a g a m e n t o d o adicional e m virtude do t e m p o d e per ma nê nc ia e m área de risco;

2) o A n e x o a o Decreto t a m b é m contempla a baixa tensão;

3) o fato d e pertencer ou n ã o a o setor elétrico;

4) o significado da expressão ‘condições de periculosidade’;

5) a utilização d e E P I ’s e ferramentas isoladas c o m a g e n t e s periculosos; (•)

(•) Engenheiro Eletricista-Eletrotécnico; Bacharel e Pós -G ra du an do e m Direito pela U S P ; E n g e ­ nheiro d e S eg urança d o Trabalho pela F A A P , aposentado c o m o engenheiro n a Eletropaulo e a s ­ sistente técnico e m periculosidade no sindicato dos Metalúrgicos d o ABC .

(2)

6) o q u e é u m sistema elétrico de potência;

7) tensão e corrente elétricas consideradas perigosas;

8) conclusão do trabalho, c o m u m a síntese d a s conclusões d e cada tópico.

Neste trabalho serão abordadas a lg um as questões jurídicas, entre­

tanto, ele estará mais voltado para as questões técnicas e m eletricidade, d e q u e tratam o s citados diplomas legais, visto q u e é n esse ponto que residem as maiores controvérsias. Para a elaboração d o trabalho, utilizare­

m o s a Lei e o Decreto citados (que são o centro d a discussão), a Constitui­

ç ã o Federal d e 1988, a lgumas das n o r m a s técnicas vigentes sobre o a s ­ sunto e a doutrina existente, seja esta jurídica o u técnica e m eletricidade.

U m dos grandes problemas enfrentados pelos peritos indicados, p e ­ los juizes ou pelas partes, para elaborarem laudos técnicos no sentido d e verificar as condições d e periculosidade a q u e estão expostos os trabalha­

dores q u e e x e r c e m atividades e m instalações elétricas energizadas é o fato d e q u e certas palavras ou expressões utilizadas n a lei e n o decreto t ê m trazido inúmeras controvérsias. A Lei n. 7.369/85, e m seu artigo 1®, condicionou a percepção d o adicional d e periculosidade aos trabalhadores d o setor elétrico (expressão q u e trouxe muita controvérsia) e na regula­

m e n t a ç ã o d o Decreto h ouve extrapolação, ou seja, tratou-se d e questões novas n ã o contempladas por aquela lei.

Por acreditarmos q u e a caracterização d esse adicional d ev a ser tra­

tada d e forma mais criteriosa, d e acordo c o m o velho preceito d e q u e aquele q u e colhe o resullado d e u m a atividade d ev e arcar c o m as d e s ­ vantagens

(ubi emolumentum, ibi onus

); pelo fato d e q u e a periculosidade envolve a exposição d e vidas h u m a n a s ao risco no trabalho e m e m p r e s a s q u e a s s u m e m o s riscos d a atividade e co n ô m i c a (artigo 2® d a CLT) e por e n t e n d e r m o s q u e trabalhadores n ã o d e v e m ser tratados d e forma dife­

renciada por trabalharem e m tipos d e e m p r e s a s d e n o m i n a d a s de formas diferentes, p re t e n d e m o s c o m este trabalho esclarecer o s pontos polêmi­

cos citados acima.

N e s s e sentido, p o d e m o s citar as brilhantes conclusões d e

Washing­

ton Luiz da Trindade,

e m u m trabalho e m q u e trata d a insalubridade e da periculosidade, n o sentido de q u e d e v e m o s tratar essa questão c o m mais cuidado, n u m país o n d e o s trabalhadores c a r e c e m de mais justiça nas re­

lações d e trabalho e d e mais segurança na realização d esse trabalho: 1

1) O Brasil já está no terceiro estágio d o Direito d o Trabalho, e m q u e d e v e m prevalecer os preceitos q u e salvam os valores h u ­ m a n o s d a vida e da s a ú d e do trabalhador enquanto cidadão. 2) E s s a p a s s a g e m lógica (aqui ele se refere à p a s s a g e m d e u m estágio d o Direito d o Trabalho para outro) deixa resquício d e u m sistema e c o ­ n ô m i c o injusto q u e precisa ser corrigido. 3) O s m e i o s d e q u e dispo­

m o s para exigir administrativamente o cumprimento d os preceitos legais d e segurança e higiene d o trabalho s ã o ineficazes. 4) É per-

(3)

feitamente aceitável a convivência d o ‘adicional d e r em u n e r a ç ã o ’ c o m o sistema preventivo e protetivo d o trabalhador, eis q u e o adicional s u p õ e u m a forma ‘lavrada’ o u diferida de participação d o e m p r e g a ­ d o n a obra produtiva, geradora de lucro à custa de risco p ermanente

(Trindade,

1993: 49-53).

2. T E M P O D E P E R M A N Ê N C I A E M Á R E A D E RISCO

A regulamentação d o Decreto deveria dar-se c o m b as e no artigo 2®

d a Lei n. 7.369/85, q u e a p e n a s incumbiu o Poder Executivo d e especificar as atividades q u e s ã o exercidas e m condições d e periculosidade. Entre­

tanto, o Poder Executivo, n a s e g u n d a regulamentação, criou a proporcio­

nalidade d o p a g a m e n t o d o adicional d e periculosidade por exposição à ele­

tricidade, o u seja, pagar-se-ia o respectivo adicional s o m e n t e sobre a s horas trabalhadas efetivamente c o m exposição a o risco.

N e s s e caso, o P oder Executivo extrapolou, ou seja, criou direito novo, ultrapassando o s limites q u e a ele foi d a d o pela Lei e causando, c o m isso, muita controvérsia na caracterização d a periculosidade. C o m o ensina

Ma­

ria Sylvia Zanella Di Pietro, "o

decreto regulamentar é ato normativo deriva­

d o (porque n ã o cria direito novo, a p e n a s estabelece n o r m a s q u e permitam explicitar a forma d e execução d a lei)” (1999:215), e e ss e decreto é e xp e ­ dido c o m b a s e n o artigo 84, IV da Constituição Federal.

Giovani Moraes

afirma que: “A impropriedade jurídica d o Decreto n.

93.412 está b a s e a d a n o fato de q u e o m e s m o n ã o cria, não modifica e n e m extingue direitos e obrigações; ele n ã o amplia, n e m reduz o q u e dispõe a lei, o u seja, n ã o inova na o r d e m jurídica. Tecnicamente, a falha do decreto foi estabelecer a proporcionalidade da exposição a o risco, já que, a o c o n ­ trário d a insalubridade, que, progressivamente, vai c o n su mi nd o a s a ú d e do trabalhador, o acidente c o m a energia elétrica é pontual, p o d e n d o ser fatal, e m alguns casos.”

(Araújo,

1998: 524).

Sérgio Pinto Martins,

e m consonância c o m o citado anteriormente afirma: "Enquanto n a insalubridade t e m o s que, se n ã o for eliminada ou neutralizada, o trabalhador a ela exposto t e m continuamente u m fator pre­

judicial a sua saúde, já a periculosidade n ã o importa fator contínuo de ex­

posição d o trabalhador, m a s a p e n a s u m risco, q u e n ã o age biologicamente contra o seu organismo, m a s que, n a configuração d o sinistro, p o d e ceifar a vida d o trabalhador o u mutilá-lo" (1984: 534).

Vlademirde Freitas,

referindo-se ao Decreto n. 93.412/86, afirma que (...) tal e novo regulamento exorbitou sua esfera d e incidência, naquilo e m q u e restringiu o direito à remuneração adicional d e 3 0 % sobre o salário ’para o e m p r e g a d o q u e exerce atividade n o setor d e energia elétrica, e m condições d e periculosidade’ (Lei n. 7.369/85, art. 1®); e fê-lo q u a n d o distinguiu permanência habitual e m área de risco e ingresso d e m o d o intermitente e habitual, atribuindo àquela

(4)

adicional 'sobre o salário d o t e m p o despendido pelo e m p r e g a d o na e xe cu çã o d e atividade e m condições d e periculosidade o u d o t e m p o à disposição d o empregador' (art. 2®, incisos I e II). A lei instituidora d e s s e beneficio n ã o autoriza n e m ensancha essa distinção, b as e para a c on c e s s ã o d o adicional d e forma diferenciada; aliás, tal lei, c o n ­ quanto anterior, s e s u b s u m e n a inteireza d o espírito constitucional (art. 7®, XXIII), que, d e m e s m o m odo, n ã o con ce de discriminação de tratamento, m á x i m e naquilo e m q u e é acentuado o b e m constitucio­

nalmente preservado, s aúde e integridade física e mental d o traba­

lhador. Ferindo a finalidade normativa complementar, o Decreto n.

93.412/86 afronta a Lei n. 7.369/85 e é. por isso, ilegal e inoperante n o tópico e m q u e regulamentou distinção d e situações periculosas (1995: 71).

P od eríamos citar, ainda, u m a infinidade d e jurisprudências no senti­

d o q u e indicamos, m a s é desnecessário, visto q u e o T S T já colocou u m ponto final n essa questão c o m o Enunciado 361, portanto, n ã o faz sentido alguns peritos insistirem e m caracterizar a periculosidade, c o n c e d e n d o tal adicional d e forma proporcional.

3. O A N E X O A O D E C R E T O E A BAIXA T E N S Ã O

A Lei n. 7.369/85 foi regulamentada, primeiramente, pelo Decreto n.

92.212/85, de 26.12.85, q u e criou certa polêmica c o m relação a o c h a m a d o

setor elétrico.

N o a n o seguinte, este foi revogado pelo Decreto n. 93.412/

86, q u e contemplou outras categorias, já q u e o artigo 2®,

caput,

dispõe que t e m direito o adicional qualquer empregado, independente d o cargo, cate­

goria o u r a m o d e empresa.

A Lei n. 7.369/85 veio atender u m a reivindicação antiga d a categoria dos eletricitários e os elaboradores d o Decreto, b e m c o m o d e seu Anexo, voltaram-se unicamente para as atividades e áreas d e risco existentes e m concessionárias de energia elétrica, esquecendo-se da existência d e o u ­ tros trabalhadores q u e executavam atividades similares c o m esse agente, criando, c o m isso, a possibilidade d e interpretações errôneas, excluindo esses outros trabalhadores da percepção daquele adicional.

N ã o q u e seja impossível fazer o e nquadramento d e tais atividades no Q u a d r o d e atividades/áreas d e risco, a n e x o a o Decreto, m a s este deixa m a r g e m a dúvidas, q u a n d o n ã o se faz u m a b o a interpretação d o m e s m o , valendo-se d e outras n o r m a s técnicas e m eletricidade. Isso porque o pró­

prio A n e x o ao Decreto cita explicitamenle os consumidores e a baixa ten­

são, m a s a o tazè-lo, o faz s o m e n t e para subestações, pontos de m ed iç ão e cabinas d e distribuição. A s n o r m a s sobre eletricidade, b e m c o m o a literatu­

ra existente sobre o assunto n ã o t ê m u m a nomenclatura padronizada, tra­

zendo, c o m isso, muitas controvérsias.

O Q u a d r o A n e x o a o Decreto cita a alta e a baixa tensão. A N B R IEC 50 (826): 1 99 7 define n o A n e x o A, item A.01.03, Instalação d e alta tensão

(5)

c o m o a instalação elétrica cuja tensão nominal é superior a 1.000 Voits, e m corrente alternada, o u 1.500 Volts, e m corrente contínua. N o item A.01.04, instalação d e baixa tensão c o m o a instalação elétrica cuja tensão nominal é inferior a 1.000 Volts, e m corrente alternada, o u a 1.500 Volts, e m corren­

te contínua. Portanto, t e m o s q u e toda instalação c o m tensão abaixo d e 1.000 Volts (baixa tensão) t a m b é m está contemplada n o A n e x o àquele Decreto. O s consumidores d e energia elétrica t ê m e m suas instalações, e m s eu s sistemas elétricos, tensões q u e variam d e 5 Volts até milhares d e Volts, o u seja, e n g l o b a m a alta e a baixa tensão.

Ademaro Cotrim,

n o capítulo e m q u e trata d a s tensões existentes nos diferentes sistemas, afirma q u e

"A Publicação IEC 38, IEC Standard Volta- ges, aplica-se a sistemas de transmissão, distribuição e

utilização,

em cor­

rente alternada, com frequências de 50 e 60 Hertz, com tensões nominais acima de 100 Volts e aos equipamentos de utilização para uso nesses sis­

temas, bem como aos sistemas de tração CA e C C

(enfatizamos)". Ainda n esse m e s m o tópico,

Ademaro Cotrim,

traz a l g u m a s tabelas (

da IEC

— c o m a s tensões d e 120/240, 230/440, 277/480, 400/690 e 1.000 Volts;

dos sistemas de baixa tensão do Brasil —

c o m a s tensões d e 110/220, 115/

230, 120/208, 127/220, 220/380, 220, 254/440, 4 4 0 e 4 6 0 Volts e

de equi­

pamentos de utilização usuais no Brasil

— c o m as tensões d e 110, 115, 120, 127, 2 2 0 Volts, para sistemas monofásicos e 220, 3 8 0 e 4 4 0 Volts, para sistemas trifásicos) e a Tabela 1.2.11 q u e t e m c o m o título

"Tensões nominais de sistemas de baixa tensão usuais no Brasii'

(1992:11 -5) (adiante d e m o n st ra re mo s q u e sistema quer dizer sistema elétrico d e potência).

C o m o p o d e m o s notar,

Ademaro Cotrim

refere-se à baixa tensão c o m o sistema e apresenta, entre as tensões ciladas, todas aquelas q u e utiliza­

m o s e m residências, estabelecimentos comerciais e industriais, c o m o s e n ­ d o as tensões d o s sistemas d e baixa tensão, o q u e nos permite concluir q u e toda baixa tensão t a m b é m pertence àquelas áreas de risco apresenta­

d a s pelo Q u a d r o A n e x o ao Decreto, já q u e este contempla a baixa tensão e o sistema elétrico d e potência.

Logo, para se fazer u m a análise d a periculosidade, n ã o p o d e m o s fi­

car adstritos àquele Q u a d r o A n e x o ao Decreto, m a s sim buscar essas defi­

nições e conceitos e m outras n o r m a s e doutrina existentes, n o sentido d e verificar as condições d e periculosidade. C o m isso p o d e m o s chegar a u m a conclusão lógica, qual seja. a d e q u e a eletricidade é perigosa e m qualquer setor d e atividade. O Q u a d r o A n e x o ao Decreto contempla a baixa tensão, portanto, s e ela é perigosa no setor d e energia elétrica (concessionárias), t a m b é m o é e m qualquer instalação d e baixa tensão d e qualquer c o n s u m i ­ dor, seja residencial, comercial o u industrial. 4

4. P E R T E N C E R O U N Ã O A O S E T O R ELÉTRICO

A Lei n. 7.369/85 é muito clara a o conceder o adicional de periculosi­

d a d e àqueles q u e e xe rc em atividades

em condições de periculosidade

(art.

1*), entretanto c o n c e d e esse adicional aos e m p r e g a d o s d o setor d e ener­

gia elétrica. À primeira vista, se fizermos u m a análise literal d e s s e artigo,

(6)

p o d e m o s crer q u e só o s trabalhadores de concessionárias teriam direito a e ss e adicional. Entretanto, o risco n ã o existe s o m e n t e naquele setor, pois a eletricidade depois q u e deixa a concessionária d e energia elétrica conti­

n u a a ser perigosa.

A Constituição Federal, e m seu artigo 5®,

capul,

garante igualdade d e todos perante a lei. Portanto, se h á condições de pericutosidade para os trabalhadores d o setor elétrico, aqui entendido c o m o aqueles q u e traba­

l ha m e m concessionárias d e energia elétrica, t a m b é m h á periculosidade para aqueles q u e e xe rc em atividades e m condições similares nas e m p r e ­ sas d o setor privado.

S e fizermos u m a interpretação d o artigo 1® d a Lei e m conjunto c o m o artigo 2® d o Decreto, verilicaremos q u e t e m direito à percepção d o adicio­

nal qualquer e mp regado, independente d o cargo, categoria o u r a m o d e empresa, q u e exerça suas atividades e m condições de periculosidade.

Giovani Moraes

atirma: “O aspecto a ser discutido tanto n a Lei q u a n ­ to n o Decreto, é quanto à aplicação d o adicional. A m p a r a d a pelo grande n ú m e r o d e jurisprudências, está muito clara a intenção d o legislador d e a m p a r a r o trabalhador d e torma geral, d e s d e q u e o m e s m o exerça ativida­

d e s dentro d a área d e risco, e n ã o s o m e n t e aqueles e m p r e g a d o s das con­

cessionárias d e energia elétrica” (1998: 534).

C on s o a n t e n osso entendimento, afirmam

Saliba o Corrêa:

"Analisan­

d o historicamente a Lei n. 7.369 e o quadro d o Decreto n. 92.212 (revogado pelo Decreto n. 93.412), prosume-se q u e vieram atender a u m a reivindica­

ç ã o antiga d o s trabalhadores do setor d e energia elétrica, isto é, beneficiar s o m e n t e o s trabalhadores d e concessionárias d e energia. Todavia, essa hipótese foi afastada pelo artigo 2® d o Decreto n. 93.412, q u a n d o estabele­

c e u d e forma expressa q u e o direito a o adicional independeria d e cargo ou r a m o d e atividade da empresa" (2.000: 165-6).

Há, t a m b é m , jurisprudência dominante c o m entendimento n esse sen­

tido, c o m o por exemplo:

“A Lei n. 7.369/85 e seu decreto regulamentador alcançam não só as empresas produtoras e geradoras de energia elétrica, mas to­

das as empresas que tenham ramo de atividade equivalente"

[Ac. (unâ­

nime) TRT, 8= Reg., 1a T. ( R O 1187/95), Rei. Juiz Itair S á da Silva, proferido e m 27.6.95, Revista d o T R T da 8 a Região, n. 55, Jul./Dez.

1995, pág. 143

In: Bomfim,

1996, pág. 148.

“Adicional de Periculosidade. O fato gerador do adicional de pe­

riculosidade, previsto na Lei n. 7.369/85, é a exposição do trabalha­

dor a situações de risco, de cujos efeitos possam resultar incapacila- ção, invalidez permanente ou morte, independentemente da catego­

ria profissional a que ele pertença ou da atividade preponderante da empresa, mormente quando comprovado por laudo pericial que o obreiro trabalha em área de risco"

[Ac. TRT, 12a Reg., 3 a T. ( R O 3705/

94), Rei. Juiz J os é Ernesto Manzi, D J / S C 5.12.95, págs. 82/83.

In:

Bomfim,

1996, pág. 23].

(7)

A lei n ã o poderia tratar diferentemente u m trabalhador s o m e n t e por­

q u e ele trabalha neste ou naquele setor d e atividade. S e o trabalho c o m eletricidade é perigoso para o trabalhador d a concessionária, q u e exerce suas atividades até o relógio de m e d i ç ã o d a concessionária para a s insta­

lações residenciais (110 Volts), então os eletricistas d e e m p r e s a s q u e não são concessionárias, m a s q u e trabalham, normalmente, c o m tensões aci­

m a d e 1 1 0 Volts, t a m b é m t ê m esse direito.

5. SIGNIFICADO D A E X P R E S S Ã O

" C O N D I Ç Õ E S D E PERICULOSIDADE”

A palavra

periculosidade

, s e g u n d o o Dicionário Aurélio, é u m s ub s ­ tantivo feminino, proveniente d o latim

periculosu,

e é o estado o u qualidade d e perigoso.

Perigoso,

por sua vez, é u m adjetivo, q u e quer dizer: “1. E m q u e h á perigo, arriscado. 2. Q u e c ausa o u a m e a ç a perigo".

Perigo,

signifi­

ca: “1. Circunstância q u e prenuncia u m mal para a lg ué m o u para a lg um a coisa. 2. Aquilo q u e provoca tal circunstância,

risco.

3. Estado ou situação q u e inspira cuidado, gravidade. 4. Jurídico: Situação de fato da qual decor­

re o temor d e u m a lesão física o u moral a u m a pessoa o u de u m a ofensa aos direitos dela” (enfatizamos).

C o m o p o d e m o s ver, o próprio significado d a palavra já nos esclare­

c e u m p o u c o o q u e quis dizer o legislador c o m aquela expressão, o u seja, q u e perigo significa u m risco. Mais u m a vez o Decreto n. 93.412/86, n o art. 2®, § 2®, auxiliou n o esclarecimento d a questão, pois mostrou o n d e reside o risco, o u seja. dispôs que:

“São equipamentos ou instalações elétricas em situação de risco aqueles de cujo contato físico ou exposi­

ção aos efeitos da eletricidade possam resultar incapacitação, invalidez permanente ou morte".

Portanto, o q u e d ev e ser feito e m u m a perícia técnica é analisar se as atividades d e s e m p e n h a d a s pelos trabalhadores s ã o exercidas e m condi­

ç õe s d e periculosidade, o u seja, deve-se procurar descobrir se as instala­

ções, objeto d a perícia, estão expostas a tal ponto de, durante o trabalho, poder causar u m acidente c o m conseqüências graves a o trabalhador.

O s trabalhadores q u e trabalham c o m circuitos e equipamentos ener- gizados o u c o m possibilidade d e energização acidental, trabalham e m con­

dições d e periculosidade (NR-10, Lei n. 7.369/85 e Decreto n. 93.412/86, art. 2®, § 2») e, a lé m disso, estão à disposição d o e m p r e g a d o r durante todo o período executando ou a gu ardando ordens d o m e s m o para trabalharem e m circuitos energizados (Decreto n. 93.412/86, art. 2®, I).

H á ainda a s disposições d a NR-10, q u e tratam d a segurança n o tra­

balho c o m a eletricidade, s e m fazer qualquer distinção, o u seja, ela é dirigi­

d a para qualquer tipo de instalação elétrica, d e qualquer tipo d e empresa, d e qualquer consumidor, e m qualquer tensão, mostrando q u e existem c o n ­ dições de periculosidade o n d e houver eletricidade e e ss a N o r m a cita expli­

citamente o s consumidores (item 10.1.1).

(8)

6. UTILIZAÇÃO D E EPI’S E F E R R A M E N T A S ISOLADAS E m insalubridade, o s EPI’s até p o d e m reduzir o u neutralizar os efei­

tos d a n o s o s d o agente agressivo, entretanto, e m periculosidade n ã o há equipamento d e proteção ou ferramenta isolada q u e elimine totalmente o risco à vida d o trabalhador.

D e v e m o s considerar vários fatores q u e influem no risco d o trabalho c o m agentes periculosos e, neste caso, c o m a eletricidade. H á fatores físi­

cos e fatores emocionais q u e afetam as atividades desenvolvidas por qual­

quer ser h u m a n o , seja n o trabalho o u e m qualquer outra atividade.

À s vezes, n o trabalho c o m a eletricidade n ã o é necessário tocar u m elemento energizado para q u e se forme o arco voltaico. Existe, para c ad a valor d e tensão, u m a distância m ín im a para se formar esse arco.

Quanto maior a tensão, maior será essa distância mínima, ou seja, maior o risco.

Portanto, por mais q u e a ferramenta seja isolada, q u a n d o s e está c o m p e ­ netrado no trabalho, qualquer desatenção p od e causar a aproximação ( me s ­ m o s e m tocar o elemento) daquela ferramenta o u d o próprio corpo, a o ele­

m e n t o energizado, implicando n a formação d o arco voltaico e podendo, c o m isso, ceifar a vida d o trabalhador ou causar graves ferimentos.

N o r m a l m e n t e o eletricista trabalha e m painéis, cabinas, etc., próximo a outros elementos energizados, que, n u m segundo, p o d e sofrer u m aci­

dente, n ã o só por falha h u m a n a , e ainda q u e exista (e d ev e existir) toda a proteção prevista pelas normas.

Há, ainda, os fatores d e o r d e m emocional e particular que, por mais q u e queiramos evitar, nos a c o m p a n h a m a o trabalho. U m a pessoa p od e estar c o m u m problema particular muito grave e, por u m a distração de segundos, c o m e t e u m a talha h u m a n a (prevista n o Q u a d r o a nexo ao Decreto n. 93.412/

86, já q u e ali se prevê a falha operacional) q u e implica n u m acidente. Toda pessoa, por mais experiente q u e seja, c om et e falhas, distrações, etc., e m qualquer tipo d e atividade. N ã o é o fato de u m a atividade ser extremamente perigosa q u e o trabalhador n ã o irá cometer atos falhos.

Pode-se contestar q u e o e m p re ga do r n ad a t e m a ver c o m os proble­

m a s particulares dos trabalhadores, entretanto, ele contrata seres h u m a ­ nos e n ã o máquinas, visto q u e s o m e n t e estas trabalham dentro d e u m a pro gr am aç ão exata e, m e s m o assim, ainda falham. Portanto, o e mp regador a s s u m e o risco eco nô mi co d a atividade que desenvolve, logo deve respon­

der pelos riscos físicos e materiais existentes no desenvolvimento dessas atividades.

Afirma

Giovani Moraes:

“Dispositivos d e segurança: para s e caracte­

rizar a periculosidade, não importam os dispositivos d e segurança e as estatísticas q u e afirmam n ã o haver acidentes e m delerminada atividade de risco. O q u e a lei procura estabelecer é a possibilidade da ocorrência do acidente e o d a n o físico. Portanto, a utilização d e m e d i d a s preventivas, apesar d e obrigatórias, n ã o exclui a necessidade d o p a g a m e n t o d o adicio­

nal d e periculosidade, q u a n d o assim for definido" (1998: 510).

(9)

Segue, ainda,

Giovani Moraes:‘ V

ale ressaltar q u e o risco c o m a ele­

tricidade é inerente à (unção, q u e p o d e ser minimizado, m a s n u n c a elimi­

nado; questiona-se, desta forma, a eficácia dos EPI’s citados n o referido Decreto c o m o garantia à segurança do trabalhador, visando eliminar o ris­

co e supressão d o p a g a m e n t o d o adicional" (1998: 524).

E m consonância c o m esse pensamento, t emos a afirmação d e

Saliba e Corrêa:

" C o m relação à periculosidade, n ã o ocorre a neutralização m e ­ diante a utilização d o EPI, pois esta é inerente à função. O p a g a m e n t o do adicional d e periculosidade s o m e n t e poderá ser c es sa do c o m a eliminação d o risco" (2.000: 20). Mais adiante, tratando especificamente d o agente ele­

tricidade, continua: " D o ponto d e vista d a S e g u r a n ç a d o Trabalho, as m e d i d a s coletivas geralmente n ã o oferecem proteção total contra os riscos da eletricidade, enquanto os E P P s não eliminam o risco; apenas, e m al­

g un s casos, p o d e m evitar o u minimizar a lesão" (2.000: 168).

Portanto, a utilização de EPI's o u d e ferramentas isoladas n o trabalho c o m agentes periculosos e, e m particular, c o m a eletricidade, n ã o eliminam as condições d e periculosidade existentes.

7. O Q U E É E M S I S T E M A E L É T R I C O D E P O T Ê N C I A

E s s e é u m dos t e m a s mais polêmicos n a caracterização d o adicional d e periculosidade pela exposição aos efeitos da eletricidade. O Q u a d r o de Atividades/Áreas de Risco, a n e x o a o Decreto n. 93.412/86, traz e m três de seus cinco itens a expressão

"sistema elétrico de potência"

e n u m outro item, a expressão “

sistema de potência".

A N BR - 5 4 6 0 , e m sou item 3, nota b), dispõe q u e “o termo

sistema elétrico',

o u abreviadamente

sistema',

significa

sistema elétrico de potên- cia'1 ,

qualquer u m desses três termos p o d e ser utilizado, indiferentemente, c o m o m e s m o sentido, ...".

a) O ensinamento da doutrina

O Dicionário Aurélio, entre as muitas

definições de sistema,

traz a seguinte: “Disposição das partes ou dos elementos de u m todo, coordena­

d o s entre si, e q u e funcionam c o m o estrutura organizada.” T od a instalação elétrica residencial, comercial ou industrial é u m a estrutura organizada c o m s eu s circuitos independentes, suas chaves seccionadoras, disjuntores, fu­

síveis, etc.; logo é u m sistema.

A O I T trata d a expressão sistema elétrico e m diversos itens de seu manual, citando a baixa tensão c o m o u m sistema elétrico q u e p o d e ser protegido por fusíveis, interruptores, relês, etc. (1989: vol. 1, págs. 886-7)

Ademaro Cotrim

escreve que:

C h a m a m o s d e

circuito elétrico

ao conjunto d e corpos ou d e meios n o qual p o d e haver corrente. U m sistema elétrico é u m circuito o u con-

(10)

junto d e circuitos elétricos inter-relacionados, constituídos para atingir u m determinado objetivo. U m a

instalação elétrica é o

conjunto d e c o m ­ ponentes elétricos associados e c o m características coordenadas e n ­ tre si, constituído para u m a finalidade determinada. D a s definições a cima p o d e m o s depreender que u m

sistema elétrico

é constituído es­

sencialmente por c om p o n e n t e s elétricos q u e c o n d u z e m (ou p o d e m conduzir) corrente, enquanto que u m a

instalação elétrica

inclui t a m ­ b é m c o m p o n e n t e s q u e não c o n d u z e m corrente, m a s que são essen­

ciais a o seu funcionamento, tais c o m o condutos, caixas, estrutura de suporte, etc. N e s s a s condições, a c ad a instalação elétrica correspon­

derá u m sistema elétrico. P o d e m o s visualizar melhor a diferença entre esses dois conceitos dizendo q u e n u m projeto, as plantas e os deta­

lhes (por exemplo, cortes) representam a instalação, enquanto o s es­

q u e m a s (unifilares e trifilares) representam o sistema” (1992:1).

Mais adiante, ainda

Cotrim,

afirma q u e “O s

dispositivos fusíveis

cons­

tituem a proteção mais tradicional d o s circuitos e sistemas elétricos" (1992:

373) e fusíveis são c o m p o n e n t e s utilizados, principalmente, nas instala­

ç õe s d e baixa tensão (atualmente p o d e ser substituído pelos disjuntores).

O livro d e

Ademaro Cotrim é

utilizado nos principais cursos d e e n g e ­ nharia para a matéria instalações Elétricas Residenciais e Industriais. C o m o p o d e m o s ver, tudo o q u e está depois d o relógio de m ed iç ão pertence a u m sistema elétrico, seja e m u m a residência, e m u m a indústria, etc. C o m o vi­

mos,

Cotrim Neto

afirma q u e a c a d a instalação elétrica corresponde u m sistema elétrico, portanto p o d e m o s ter o sistema elétrico residencial d o Sr.

Fulano, o sistema elétrico industrial d a e m p r e s a X, etc.

Pela definição d a N BR - 5 4 6 0 , os termos sistema ou sistema elétrico significam sistema elétrico d e potência, c o m o já vimos, portanto, d e acordo c o m o s ensinamentos da melhor doutrina, toda instalação elétrica perten­

ce a u m sistema elétrico, q u e por sua vez significa sistema elétrico d e p o ­ tência, n ã o p o d e n d o existir essa discussão se o q u e está depois d o relógio d e m e d i ç ã o pertence o u n ã o a u m sistema elétrico d e potência.

b) U m exemplo corriqueiro

V a m o s falar agora d e algo b e m simples e corriqueiro, q u e todos en ­ tendem. U m a l â m p a d a d e 6 0 Watts é aquela cuja potência é d e 6 0 Watts.

T od a a energia consumida, por qualquer objeto é m ed id a e m Watts, e esta é a m ed id a u s a d a para a potência. Portanto, todos os aparelhos, equipa­

mentos, lâmpadas, etc., c o n s o m e m X Watts de potência.

E s s e s aparelhos c o n s o m e m potência por estarem ligados a u m cir­

cuito elétrico, q u e é protegido por certos elementos, tais c o m o chaves, fu­

síveis, disjuntores, etc. E ss e conjunto citado é u m sistema elétrico instala­

d o e m u m a residência, e m u m a indústria, etc., c o m o ensina

Cotrim Neto.

M a s pelo fato d esse sistema elétrico ter sido feito para q u e u m consumidor tenha à disposição u m a certa quantidade d e K W (quilowatts) d e potência, ele é u m sistema elétrico d e potência.

(11)

Aliás, qualquer c o n s u m o d e energia elétrica é m ed id o e m unidades de potência, pois a o s e pagar u m a conta de energia elétrica à e m p r e s a concessionária, a medida utilizada para se verificar o montante utilizado por qualquer consumidor é k W h (quilowatts-hora), q u e é u m a m e d i d a de potência n o tempo.

C o m o toda instalação elétrica é u m a estrutura organizada, c o n s e ­ que nt em en te u m sistema, e é utilizada para fornecer potência aos c o n s u ­ midores, conclui-se q u e toda instalação elétrica é u m sistema elétrico de potência, seja a instalação elétrica do concessionário, d e u m a indústria, d e u m estabelecimento comercial, d e u m a residência, etc.

c) A Norma Técnica NBR-5460

O Título d a N B R - 5 4 6 0 é “Sistemas Elétricos d e Potência", portanto, deduz-se q u e esta n o r m a trata de sistema elétrico d e potência e, c o n s e ­ quentemente. lodos o s itens definidos e m seu bojo tratam d e elementos do u m sistema elétrico d e potência.

O item 1.1 dispõe q u e

"Esta Norma define termos relacionados com sistemas elétricos de potência, explorados por concessionários de servi­

ços públicos de energia elétrica, sob os pontos de vista de

:...".

Neste item t e m o s d ua s expressões q u e p o d e m n ã o ficar muito claras n a interpretação do m e s m o : "

termos relacionados com" e “explorados por concessionários".

V a m o s demonstrar q u e “

termos relacionados com

" quer dizer “

termos que pertencem a".

E ss a N o r m a foi elaborada por engenheiros eletricistas e/ou técnicos eletricistas, q u e t ê m u m a forte formação matemática. P o d e ­ ríamos sugerir q u e "estar relacionado c o m " n ã o significa pertencer, o u seja, q u e p o d e estar relacionado d e qualquer outra forma q u e n ã o significa per­

tencer. E m ciências exatas,

relação é

u m conceito q u e indica pertinência, ou seja, q u e pertence e é representado pelo símbolo €. Afirma

Paulo R.

Halmos:

“Por u m a

relação

e n t e n d e m o s aqui algo c o m o o c a s a m e n t o (entre h o m e n s e mulheres) o u

pertinência

(entre elementos e conjuntos)" (1970:

28). Portanto, q u a n d o os técnicos eletricistas elaboraram a N o r m a quise­

r a m dizer q u e ela define termos d e u m sistema elétrico de potência, o q u e p od e ser confirmado pelo título da m e s m a . Nesta N or ma , o s itens definidos e m seu bojo são

elementos

d o conjunto

sistema elétrico de potência.

V e j a m o s agora o significado d a expressão

“explorados por conces­

sionárias”.

P od e- se dizer c o m isso q u e sistemas elétricos d e potência são s o m e n t e os d a s concessionárias, entretanto, a distribuição d e energia elé­

trica é explorada comercialmente por concessionários d e serviço público, o u seja, s o m e n t e os concessionários é q u e p o d e m comercializá-la, por­

q u e a exploração da energia elétrica é definida constitucionalmente c o m o serviço público (artigo 21, XII,

b,

d a Constituição Federal). Isso n ã o signi­

fica q u e depois q u e a energia elétrica deixa o concessionário ela deixa d e pertencer a u m sistema elétrico d e potência e o item d a N o r m a n ad a dispõe sobre isso.

(12)

Para completar esse pensamento, p a s s e m o s para o item 1.3 da m e s ­ ma, q u e dispõe:

“As definições desta Norma são também aplicáveis, quan­

do couberem, aos

sistemas

e instalações elétricas de

autoprodutores

e de

consumidores” {grifamos).

Enc on tr am os neste item a expressão

"quando couberem",

q u e p o d e ­ ria causar polêmica, pois alguns p o d e m apresentar qualquer item da Nor­

m a e dizer q u e

não cabe

aos sistemas d e autoprodutores e d e c on s u m i d o ­ res. Entretanto, essa expressão é colocada na N o r m a porque existem mui­

tos termos definidos n a m e s m a q u e não se aplicam para o autoprodutor e para o consumidor, apesar deles possuírem u m sistema elétrico d e potên­

cia. P o d e m o s citar c o m o exe mp lo os termos: concessionário (3.134). c o n ­ cessionário a rm az e n a d o r (3.135), fornecimento (3.333), capacidade asse­

gurada (3.69), etc., q u e são termos q u e s o m e n t e f azem sentido para o sis­

t e m a elétrico de potência d o concessionário.

Portanto, s o m e n t e c o m o titulo d a N o r m a e os itens apresentados já p o d e m o s concluir q u e os sistemas elétricos d e consumidores são sistemas elétricos d e potência, entretanto, v a m o s reforçar essa tese.

O item 1.4 dispõe q u e “

Esta Norma não abrange os seguintes assun­

tos, relacionados com sistemas elétricos de potência, mas cujos termos são definidos em terminologias específicas, como indicado: a) os ter­

mos gerais de eletricidade e tecnologia elétrica (NBR-5456); b) os mate­

riais e equipamentos, tais como: máquinas (NBR-5457), transformado­

res (NBR-5458), dispositivos de manobra, tais como: chaves, disjuntores, etc. (NBR-5459), relês elétricos (NBR-5465), capacitores (NBR-5469), pára- raios (NBR-5470), condutores (NBR-5471), isoladores e buchas (NBR-5475), ferragens de linhas aéreas (NBR-6547

);...

g) as instalações elétricas de baixa tensão (NBR-5473

);...".

E s t a m o s tratando d e u m a n o r m a q u e define termos relacionados c o m sistemas elétricos d e potência. E s s a n o r m a reporta o tratamento d e “ter­

m o s gerais d e eletricidade e tecnologia elétrica", d a s "instalações elétricas d e baixa tensão", etc., a outras n o r m a s q u e estão relacionadas c o m siste­

m a s elétricos d e potência, o q u e nos leva a concluir q u e tudo e m eletricida­

d e diz respeito a u m sistema elétrico d e potência.

Continuemos. O item 3 trata das "

Definições

Para os efeitos dessa Norma são adotadas as definições de 3.1 a 3.835. NOTA: Na utilização das definições desta Norma deve ser entendido:... que o termo 'sistema elétri­

co', ou abreviadamente 'sistema', significa 'sistema elétrico de potência’- , qualquer um desses três termos pode sor utilizado, indiferentemente, com o mesmo sentido, desde que não cause confusão

; ...".

A g o r a v a m o s verificar qual a definição q u e esta N o r m a d á à expres­

s ã o

“sistema elétrico de potência

” (já p o d e m o s verificar que, d e início, o item 3.613, coloca no titulo

"sistema elétrico"

e a expressão

"de potência"

v e m entre parêntesis).

O item, o s subitens e a N O T A a seguir dispõem:

“3.613 Sistema elétri­

co (de potência)

3.613.1 Em sentido amplo, é o conjunto de todas as

(13)

instalações e equipamentos destinados à geração, transmissão e distribui­

ção de energia elétrica (601-01-01).

3.613.2. E m sentido restrito, è um conjunto definido de linhas e subestações que assegura a transmissão e/ou a distribuição de energia elétrica, cujos limites são definidos por meio de critérios apropriados, tais como, localização geográfica, concessionário, tensão, etc. (601-01-02).

NOTA: Por exemplo, sistema de geração, siste­

ma de transmissão, sistema de distribuição. Podem ainda ser considerados sistemas menores, desde que perleitamento caracterizados, tais como, sis­

tema de geração hidrelétrica, sistema do transmissão em X k V, sistema de distribuição da cidade X, etc."

O

ilem 3.613.2 e sua N O T A trazem esses etc's., e o termo

et cetera

quer dizer mais a l g u m a ou alg um as coisas. E m tudo há q u e se fazer u m a interpretação, logo, u m profissional técnico e m eletricidade s ab e muito b e m o q u e q u e r e m dizer aqueles etc's., o u seja, q u e r e m dizer muitos outros sistemas elétricos d e potência menores, q u e tomariam muito e sp aç o na norma, caso f ôs se mo s relacioná-los, c o m o por exemplo, o sistema elétrico d e potência da e m p r e s a Y, o sistema elétrico d e potência d a residência Z, entre u m a infinidade d e outros.

Muitas cidades d o interior inteiras não c o n s o m e m m e t a d e d a energia elétrica c o n s u m i d a por a l g u m a s indústrias, pois e m muitos locais u m a subestação abaixadora de tensão d e 88.000 Volts para 13.800 Volts ali­

m e n t a várias cidades. Pelo e xe mp lo citado n a norma, n a N O T A do item 3.613.2, p o d e m o s ter o sistema d e distribuição d a cidade X e isso é u m sistema elétrico d e potência.

Determinadas e m p r e s a s p o s s u e m u m a subestação d e 88.000/13.800 Volts (terminologia q u e quer dizer, subestação q u e abaixa a tensão de 88.000 para 13.800 Volts), q u e tem energia suficiente para alimentar o c o n ­ s u m o de várias cidades d o interior juntas.

C o m o o sistema d e distribuição d a cidade X. m e n o r q u e o d a e m p r e ­ sa Y, é u m sistema elétrico de potência, então o sistema d e distribuição da e m p r e s a Y t a m b é m é. N ã o é o fato d a medição da concessionária estar situada n a subestação de 88.000/13.800 Volts, q u e faz c o m q u e o sistema d e tal e m p r e s a deixe d e ser u m sistema elétrico d e potência. O q u e as n o r m a s técnicas q u e r e m proteger é a integridade física das p es so as e não a medição.

E m c a d a subestação d e u m a concessionária t a m b é m existe m e d i ­ ção, pois c o m isso ela verifica a energia fornecida e possíveis perdas exis­

tentes n o sistema. O s funcionários das concessionárias t ê m direito a o adi­

cional d e periculosidade após as medições existentes e m suas subestações d e 88.000 Volts. S e a pó s a m ed iç ão naquela subestação n ã o houvesse u m sistema elétrico d e potência, eles n ã o deveriam ter esse direito, s e g u n d o o entendimento d e vários peritos. A m e d i ç ã o existente n a s subestações d a s concessionárias e m n ad a difero daquela existente nas subestações d e 88.000 Volts dos

grandes consumidores

( n o m e d a d o a consumidores q u e p o s s u e m e m suas e m p r e s a s u m a subestação d e grande porte, c o m o , por exemplo, u m a subestação d e 88.000/13.800 Volts).

(14)

N o item 3.732, a n o r m a se refere a linhas e instalações elétricas sob tensão. T u d o o q u e for instalação elétrica sob tensão faz parte d e u m siste­

m a elétrico d e potência e a s e m p r e s a s t ê m u m a infinidade d e linhas e ins­

talações elétricas sob tensão o n d e o s trabalhadores e x e r c e m suas ativida­

des, o q u e nos leva a concluir q u e eles trabalham e m u m sistema elétrico d e potência.

Muito b em , exemplificamos c o m alguns itens d a N o r m a para q u e fi­

q u e claro o q u e é u m sistema elétrico de potência, entretanto, poderíamos citar a N o r m a toda, visto q u e a m e s m a , d o início a o fim, trata exatamente d e sistema elétrico d e potência.

Para o trabalhador d a concessionária, n o caso d e alguns c on s u m i d o ­ res d e energia elétrica e m alta tensão (indústrias, por exemplo), o seu tra­

balho termina n a med iç ão existente n a subestação de 88.000/13.800 Volts d o consumidor, e é até ali q u e o seu trabalho lhe dá o direito a o adicional d e periculosidade, por ter sua integridade física exposta ao risco. Dali e m diante, s ã o outros trabalhadores, os das e m p r e s a s consumidoras, por e x e m ­ plo, q u e d e v e m ter direito a o adicional d e periculosidade, por estar colo­

c a n d o sua integridade física e sua vida e m risco. A própria N R - 1 0 define o q u e p o d e ser perigoso e m eletricidade, o u seja, tudo o q u e se refere à eletricidade, principalmente q u a n d o está sob tensão, o menciona explicita­

m e n t e os consumidores.

O trabalhador d e u m a concessionária d e energia elétrica t e m seu di­

reito a o adicional d e periculosidade por trabalhar n o sistema elétrico de potência até a medição, inclusive. A tensão existente nesse medidor e m resi­

dências é d e 110 o u 2 2 0 Volts. O s trabalhadores q u e d e s e m p e n h a m ativi­

d a d e s e m instalações elétricas nas e m p re sa s consumidoras trabalham c o m e ssas e c o m maiores tensões. O adicional de periculosidade n ã o é c o n c e ­ dido para o trabalhador d a concessionária a lé m d o relógio d e medição, porque a área d e trabalho d a concessionária d e energia elétrica vai s o ­ m e n t e até o relógio d e medição. Dali e m diante as instalações pertencem a o consumidor.

A N B R - 5 4 6 0 n ã o especifica a tensão, n e m se é concessionária ou não, n e m a bitola dos condutores, n e m a tensão do material o u e q u i p a m e n ­ to, etc., o u seja, tudo o q u e diz respeito à eletricidade faz parte d e u m sistema elétrico d e potência, c o m o já vimos.

S e pelo Quadro, A n e x o a o Decreto n. 93.412/86, os trabalhadores d a s concessionárias, q u e trabalham e m circuitos d e 110 Volts (baixa ten­

são) energizados, t ê m direito a o adicional de periculosidade, então os tra­

balhadores q u e n ã o são de concessionárias, m a s q u e trabalham c o m es­

sas tensões, o u maiores, t a m b é m têm esse direito, por questão d e igualdade d e tratamento conferida pela Constituição Federal.

E m consonância c o m nossa tese,

Saliba e Corrêa

afirmam:

Alguns intérpretes ainda e n t e n d e m q u e o Decreto n. 93.412 s o m e n t e a m p a r a as concessionárias, u m a vez q u e o Q u a d r o d e Ativi-

(15)

dades/Área d e Risco faz m e n ç ã o a

sistema elétrico de potência

, o que, s e g u n d o a N B R - 5 4 6 0 da A B N T (Associação Brasileira d e Nor­

m a s Técnicas), c o m p r e e n d e geração, transmissão e distribuição d e energia elétrica. E s s a interpretação, n o entanto, é contrária à nossa, tendo e m vista o seguinte: A N B R - 5 4 6 0 detine termos relacionados c o m sistema elétrico d e potência, explorado por concessionárias de serviços públicos, d o ponto d e vista de geração, transmissão, opera­

ç ã o e manutenção. J á o item 1.3 d a referida n o r m a estabelece q u e as instalações elétricas de baixa tensão e o m e r c a d o consumidor t a m ­ b é m s ã o relacionados a sistema elétrico d e potência. Portanto, o sis­

t e m a elétrico de potência n ã o c o m p r e e n d e s o m e n t e as atividades de concessionárias. N o s itens 2 e 3 d o Q u a d r o d e Atividades/Área d e Risco, s ã o men ci on ad as a alta e a baixa tensões integrantes d o sistema elétrico d e potência. Já o item 5 n ã o faz qualquer m e n ç ã o a e sses referidos termos. A s s i m fica evidenciado q u e as instalações d e baixa tensão t a m b é m são integrantes d o sistema elétrico d e potên­

cia" {2.000: 166).

S e g u n d o alguns peritos, o sistema elétrico d e potência vai s om en te até o n d e termina a distribuição. M a s esta termina o n d e a energia elétrica é consumida, o u seja, nas lâmpadas, nos equipamentos, etc. N u m a instala­

ç ã o elétrica d e baixa tensão ( n u m a residência, por exemplo), o quadro o n d e estão instalados o s fusíveis e disjuntores d e circuitos é d e n o m i n a d o q u a ­ dro d e distribuição (NBR-5410, item 6.5.9), ou seja. é n esse quadro q u e se distribui a energia elétrica para todos os pontos daquele sistema elétrico d e potência. H á diversos níveis de distribuição, portanto, a distribuição só termina c o m o c o n s u m o d a energia elétrica.

T a m b é m a N B R 5410, cujo título é “Instalações elétricas d e baixa tensão”, trata esse tipo d e instalação c o m o u m sistema, pois e m seu item 8.1 dispõe:

“A periodicidade da manutenção deve adequar-se a cada tipo de instalação, considerando: a) a complexidade do sistema (...); b) a im­

portância do sistema: (...)."

Portanto, d e acordo c o m as n o r m a s N B R - 5 4 6 0 e N B R - 5 4 1 0 e c o m os a rgumentos apresentados, p o d e m o s concluir, s e m a m e n o r s o m b r a d e d ú ­ vida, q u e o trabalho exercido e m qualquer instalação elétrica é executado e m u m sistema elétrico de potência, seja do concessionário o u de qualquer consumidor.

8. T E N S Ã O E C O R R E N T E ELÉTRICAS C O N S I D E R A D A S P E R I G O S A S

A N o r m a e seu Decreto regulamentador n ã o tratam d e valores de tensão n e m d e valores d e corrente elétrica considerados perigosos, logo d everiamos considerar qualquer tensão e corrente elétricas c o m o perigo­

sas, entretanto v a m o s buscar esses conceitos e m outras n o r m a s e na doutrina.

(16)

A N B R - 6 5 3 3 , d e m a r ç o d e 1981, trata d o estabelecimento d e s e g u ­ rança a o s efeitos d a corrente elétrica percorrendo o corpo h u m a n o . E s s a N o r m a deixa claro, e m s e u item 1.2, q u e esses d a d o s t ê m a p e n a s u m enfoque médico, m a s q u e h á outros d a d o s a s e r e m considerados, c o m o por e x e m p l o a probabilidade d e falhas; probabilidade d e contato c o m par­

tes vivas o u defeituosas; tensão d e contato presumida; experiência a d ­ quirida; etc.

E s s a N o r m a mostra q u e u m a corrente elétrica d e 0,01 Ampères, p a s ­ s a n d o pelo corpo h u m a n o , durante 10 segundos, já p o d e c o m e ç a r a causar fibrilação cardíaca {item 3.1.2). Para u m leigo e m eletricidade esses n ú m e ­ ros p o d e m n ã o dizer nada, m a s v a m o s tentar esclarecer c o m u m e xe mp lo prático. U m a l â m p a d a d e 6 0 Watts, sob u m a tensão d e 110 Volts (é u m a d a s l âm pa da s q u e clareia m e n o s dentro n u m a residência), t e m u m a inten­

sidade d e corrente d e cerca de 0.55 Ampères, o u seja, 5 5 vezes maior q u e a corrente elétrica q u e já p o d e causar d a n o s a o corpo h u m a n o .

Portanto, c o m o p o d e m o s notar, u m a corrente elétrica muito m e n o r q u e aquela q u e p assa por u m a l â m p a d a d e 6 0 Watts p o d e matar u m a p e s ­ soa. É claro q u e isso dependerá d e outros fatores, pois a N o r m a e m seu item 2.1, define “corrente d e largar", c o m o s e n d o o

“valor máximo de cor­

rente que uma pessoa pode suportar quando estiver segurando um objeto energizado e ainda ser capaz de largá-lo pela ação de músculos direta- mente estimulados pela corrente".

Explicando essa definição, t emos q u e a corrente elétrica q u a n d o passa pelo corpo h u m a n o contrai o s músculos, impossibilitando a p es so a d e exer­

cer u m c o m a n d o sobre o s m e s m o s . Logo, s e u m a p es so a agarrar u m fio o u u m objeto energizado, d e p e n d e n d o d a intensidade d a corrente q u e por ele passa, ela n ã o conseguirá abrir a m ão , terá u m a fibrilação cardíaca, e, se n ã o for desligada a energia a tempo, morrerá por asfixia, ou seja, c o m os próprios estímulos u m a pessoa poderá n ã o conseguir s e desvencilhar do objeto, se essa corrente elétrica estiver acima d e u m certo valor.

D e acordo c o m essa N or ma , há outros parâmetros q u e influem no percurso d a corrente elétrica pelo corpo, quer seja, a resistência d o corpo h u m a n o , q u e varia d e acordo c o m o peso da pessoa, o u o percurso q u e a corrente faz pelo m e s m o . U m a corrente q u e passa s o m e n t e pela pele p o ­ derá causar queimaduras, entretanto, se ela fizer o percurso d e u m a m ã o à outra ou d e u m pé a u m a m ão , encontrará o coração no percurso, e aí está o risco d e fibrilação, asfixia e morte.

E s s a N o r m a dispõe, ainda, q u e e m pesquisas internacionais efetua­

das pela C o m i s s ã o Eletrotécnica Internacional, não existe conclusão sobre acidentes c o m tensões d e alimentação iguais o u inferiores a 5 0 Volts e m corrente alternada o u 7 5 Volts e m corrente contínua, o q u e p o d e m o s c o n ­ cluir que,

pelo menos,

s ã o essas a s tensões m ín im as q u e d e v e m o s consi­

derar para efeito d e risco.

S e g u n d o a O I T (1989: vol. 1. pág. 887), as partes condutoras d e equi­

p a m e n t o s elétricos q u e são acessíveis (isto é, q u e p o d e m ser tocadas pelo ser humano), m a s q u e n ã o fazem parte d o circuito de carga (por ex. carca­

(17)

ças metálicas), m a s q u e p o d e m acidentalmente energizar-se, d e v e m ser protegidas d e m o d o q u e n ã o alcancem u m a tensão perigosa (por ex., 50 Volts e m usos industriais e 2 4 Volts e m usos agrícolas).

Continua a OIT, n o m e s m o Manual,

"Todo trabalho em tensão é peri­

goso.

C o m o os acidentes elétricos p r o d u z e m graves danos, as n o r m a s exi­

g e m q u e o s trabalhos e m tensão sejam u m a exceção dentro d o conjunto d e operações q u e se efetuam sobre instalações elétricas. Isto n ã o exclui a possibilidade d e q u e certas operações sejam efetuadas sobre elementos energizados, p o r é m certas operações n unca e outras s o m e n t e d e vez e m q ua nd o" (1989: vol. 1, pág. 887).

Ainda, s e g u n d o a OIT, u m a corrente d e 0,001 A m p è r e s é o limite d e corrente q u e n ad a causa a o corpo h u m a n o . S e a corrente aumentar, a pes­

soa c o m e ç a a sentir formigamento, calor e dor. Q u a n d o a corrente c h e g a a 0,01 Ampères, u m h o m e m adulto m é d i o já não c on se gu e soltar u m objeto energizado q u e segura, c o m e ç a n d o a sentir contrações. A maioria dos c h o ­ q u e s elétricos passa pelo tórax e, se a corrente é de uns 0,02 a 0,04 A m p è ­ res, os músculos d o tórax se contraem tetanicamente, c e s sa nd o a respira­

ção. E m poucos minutos a pessoa p o d e morrer. S e a corrente atingir o c e n ­ tro respiratório n o cérebro, a parada respiratória é b e m mais grave, ainda q u e o c h o q u e dure pouquíssimo t e m p o e só se restabelecerá por respira­

ç ã o artificial e m a s s a g e m cardíaca. Q u a n d o u m a corrente de cerca de 0,05 A m p è r e s passa pelo coração, c o m e ç a a fibrilação ventricular, isto é, pára a a çã o regular do coração, desaparece a pulsação e o s a n g u e pára d e circu­

lar. É n esse processo que, se o t e m p o d a o nd a d a corrente elétrica coinci­

dir o u superar o t e m p o d a o n d a T do coração, c o m e ç a a fibrilação ventricular (1989: vol. 1, págs. 744-6).

D e acordo c o m

Ademaro Cotrim

(1992: 130-6), qualquer atividade biológica, seja ela glandular, nervosa ou muscular, é originada d e impulsos d e correntè elétrica. S e essa corrente fisiológica interna somar-se a u m a outra corrente d e origem externa, devido a u m contato elétrico, ocorrerá no organismo h u m a n o u m a alteração das funções vitais normais que, d e p e n ­ d e n d o d a duração d a corrente, p o d e levar o indivíduo à morte. O s efeitos principais q u e u m a corrente elétrica (externa) produz n o corpo h u m a n o s ã o fundamentalmente quatro: tetanização (contração muscular produzida por u m impulso elétrico até o limite d a corrente d e largar), parada respira­

tória ( c o m correntes superiores à corrente d e largar), q ueimaduras (pela p a s s a g e m d a corrente elétrica peio corpo) e fibrilação ventricular (movi­

m e n t o caótico d o ritmo cardíaco).

Já v imos q u e por u m a l â m p a d a d e 60 Watts, n u m a tensão d e 110 Volts, p a s s a u m a corrente d e cerca de 0,55 Ampères. E ss a corrente é 5 5 0 vezes maior d o q u e a m á x i m a corrente elétrica q u e n a d a c ausa a o ser h u m a n o e 5 5 vezes maior d o q u e a corrente q u e p o d e matar u m ser h u m a ­ no, d e acordo c o m a N BR - 6 5 3 3 . Ora, as tensões e correntes a q u e estão submetidos o s q u e trabalham e m instalações elétricas d e alia e baixa tensão são infinitamente maiores q u e a s descritas neste tópico, portanto, o trabalho d e s e m p e n h a d o por eles é exercido e m condições d e periculosidade, c o m o quer a Lei n. 7.369/85, n o art. 19, e o Decreto n. 93.412/86, n o art. 2®, § 2®.

(18)

9. C O N C L U S Ã O

Pelos motivos expostos nos itens anteriores e levando-se e m consi­

deração que:

a) o risco n o trabalho c o m a eletricidade é pontual, o u seja, independe d o t e m p o e m q u e o trabalhador esteja exposto aos efeitos d a eletricidade;

b) a baixa tensão e as instalações elétricas de qualquer consumidor estão previstas n o Decreto n. 93.412/86;

c) a lei n ã o p o d e tratar diferentemente u m trabalhador s o m e n t e por­

q u e ele trabalha neste o u naquele setor d e atividade;

d) o trabalhador q u e exerce suas atividades e m qualquer instalação elétrica energizada o u c o m possibilidade d e energização acidental, traba­

lha e m condições de periculosidade;

e) o risco n o trabalho c o m a eletricidade é inerente à função;

f) os EPI’s e as ferramentas isoladas n ã o eliminam o risco existente no trabalho c o m agentes perigosos e, n o caso e m estudo, c o m a eletricidade;

g) qualquer instalação elétrica, d e alta ou baixa tensão, pertence a u m sistema elétrico d e potência;

h) o trabalhador q u e exerce atividade e m instalações elétricas está exposto a tensões e correntes elétricas muito maiores q u e aquelas consi­

deradas perigosas pela NBR-6 53 3;

concluímos q u e n ã o se p o d e tratar de forma diferenciada u m trabalhador s o m e n t e porque trabalha neste o u naquele setor d e atividade, pois exerce suas atividades nas m e s m a s condições e m qualquer e m p r e s a e m q u e seja necessário atuar e m instalações elétricas energizadas e c o m possibilidade d e se energizarem acidentalmente o u por falha h um an a.

Diante disso, a caracterização d a periculosidade c o m vistas à per­

c e p ç ã o d o adicional d e periculosidade deve ser feita d e forma criteriosa pelos

experls,

verificando as atividades d e s e m p e n h a d a s pelos trabalhado­

res d e qualquer empresa, s e m discutir qual o r a m o da empresa, quanto t e m p o o trabalhador está exposto a o risco, s e é o u n ã o sistema elétrico de potência, etc. Isto é u m a forma d e se poder fazer c o m q u e esse trabalhador seja r e m u n e r a d o pelo risco a q u e ele se e xpõe n o d e s e m p e n h o d e ativida­

d e s q u e t ê m o fito de lucro ao seu empregador, c o m o ensina o velho pre­

ceito

ubi emolumentum, ibi onus.

Q u e r e m o s deixar claro que, apesar do trabalhador ter direito a esse adicional, o e mpregador deve tomar todas as medidas preventivas, d e acordo c o m as n o r m a s técnicas vigentes, c o m o intuito d e preservar a s aúde e a integridade física d o obreiro, ainda q u e o m e s m o p a g u e o adicional e m discussão, d e acordo c o m o art. 35 d o Decreto n. 93.412/86.

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RT. n. 84, dez./93.

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