!i° ANNO N. 15-
REDACTOR
Or.CttLOSWA
A MAI DE FAMÍLIA JULHO DE 1882
EDITORES
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PALESTRA DO MEDICO
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Minhas Senhoras,
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omo deixamos dito, o ali- mento transforma-se em chymo no estômago. Nes- sas condições éregeitado por contracções próprias dos músculos, que já des- crevemos, para o intestino delgado. Devo lembrar aqui, o que disse quando tratei da anatomia; isto é, que os intestinos são di- vididos em delgados e grossos. Os intesti- nos delgados,' são mais finos porem mais longos e continuam-se no estômago. E' ahi que se completa a digestão.
Com efeito o alimento em forma de cliy- mo, chegando a primeira porção do intesti- no delgado que se chama daodeno recebe a acção de outro suecos digestivos, que são : o sueco biliar, a hlis que vem por can- naes especiaes do fígado e o sueco pancrea- tico, que vem de uma glândula chamada pmcreaszosiicco intestinal que é segregado por glândulas especiaes existentes dentro do intestino.
Cada um d'estes suecos tem acção espe- ciai para cada qualidade cie. substancia alimentar, como vamos explicar, e comple- tana a digestão de alimentos que o sueco
gástrico não pode digerir.
Mas continuando a descrever a marcha Vie segue o chjmo diremos que chegado ao intestino ahi é logo aproveitado o que pôde ser absorvido para o sangue isto é, o que
veio já prompto do estômago, o resto espera a acção dos suecos mencionados.
A' bilis ou o sueco segregado pelo fígado tem acção especial sobre os alimentos gor- durosos. A gordura não é digerida no esto- mago, sem ser attacada passa para o intes- tino e é ahi que a bilis a transforma em ch/lo, isto é, o alimento completamente digerido e em condições de entrar para o sangue.
Os alimentos feculentos, que também não são digeridos no estômago, o são pelo sueco pancreatico, que os transforma em assucar e assim são removidos para o san- gue. Já vedes portanto quanto são importantes esses suecos. Ainda temos o sueco intesti- final que existe em todo o percurso dos intestinos e que serve para completar o trabalho dos suecos biliar e pancreatico. ^
A acção do sueco intestinal continua sempre até a ultima porção do intestino delgado, o que quer dizer, que a digestão se fez sempre até que seja aproveitado tudo quanto possa ser absorvido.
Explicaremos melhor quando tratarmos especialmente da absorpgão. Mas synthe- tisando o que temos dito:
A digestão das substancias albuminoides (carne) se completa no estômago e é o que se chama o cliimificação, isto é, a formação d'essa posta semi liquido que dissemos
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chamar-se áymo. Em taes condições passa para o duodeno, levando porem, sem ser digeridas, as substancias gordurosas e fecu- lentas; d'esse papel como já dissemos tam- bem se incumbem os suecos Mliar,pancrea- tico e intestinal. Feito isto está completa a digestão do bolo alimentar, é o que se chama cUliftcaçào; o producto d'esse tra- balho é o chylo. Como tal é que o ali-
mento é absorvido para o sangue.
Do bolo alimentar porem não é tudo aproveitado, ha uma parte qne não é absor- vida no intestino delgado e passa para os grossos intestinos.
Os grossos intestinos, que são a conti- nuação dos delgados começão na parte supe- rior por uma porção mais larga e que se chama ccecum- Ali é que vão ter as sabs- tacias que não foram aproveitadas pela digestão, taes como os tendões, ligamentos,
(os chamados nervos e pelancas da carne) as cascas do grão, os caroços, etc, e também a porção do alimento que não poude ser dige- rido ou por falta de mastigação ou pela quantidade maior do que podia ser digerido ou por moléstia. Essa massa é que vai constituir os fezes; são esses detritus da digestão que putrefazendo-se desenvolvem gazes que dilatam os intestinos e por con- tracção do intestino vão até o recto e são regeitados; constituindo assim a defe cação.
E' essa a marcha do alimento. Compre- hendeis portanto quanta desordem poderá causar á economia quando qualquer cTesses actos é perturbado. Teremos occasiâo de fazer as applicações pathologicas e por em-
quanto continuaremos na physiologia.
Dr. C. Costa.
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HYGIENE DA MULHER PEJADA
(Continuação do n. 14J
A tolerância desceo — entre nós — a um gráo tal que as mulheres de má vida, e — infelizmente — as da camada inferior, apresentam-se ostensivamente com esse traje á janella, por ser justamente o que lhes parece indicar mais claramente a desenvol- tura de seus costumes.
Lembramos n'esse caso sua substitui- ção pelos casacos, que podem de alguma forma ser modificados; e — ainda — pelos casacos e saias que — permittindo a liber- dade interna —conservam toda a decência externa.
Os vestidos nesgados e justos ao corpo, sobre serem indecentes, cumpre que se- jam banidos pelas pejadas, Por demasiado óbvios, deixamos de consignar os motivos.
Occupemo-nos agora de um dos accesso- rios da toilette que mais controvérsias tem sofrido em todos os tempos: o espartilho.
Felizmente, não se pode repetir hoje—em absoluto—do espartilho, o que com muita razão se dizia outr'ora. Os progressos^ da industria por um lado, e por outro o gosto artístico das modistas, conseguiram o que debalde se esforçaram por alcançar duran- te muitos annos os hygienistas com seus conselhos, os médicos com seus fatídicos prognósticos, e até—no púlpito—os sacer- dotes, e os monarchas em suas leis í; sen- do sempre debalde tudo quanto se tentou
1 José II da Áustria prohibio, no século pas-
sado, o uso do espartilho em todos seus domínios.
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üara desterrar o espartilho, ou—quando menos—para modificar-lhe a forma de tal sorte que acarretasse ao corpo menos damnos.
B' verdade que até bem pouco tempo o espartilho era uma espécie de couraça feita de tela excessivamente forte, grossa, áspera inextensivel, que — começando da parte superior do peito—descia até muito abaixo do ventre; e — como se não fosse isso bas- tante — reforçado com uma infinidade de barbatanas; adiante, uma resistente chapa de metal obrigava o corpo á mais enérgica pressão por meio de um atacador collo- cado nas costas; não podendo por esse modo órgão algum escapar á acção compressiva de tão brutal machinismo.
Os seios eram tão fortemente comprimi- dos, que chegavam a perder o bico, e — em alguns casos — a atrophiar a glândula; as falsas costellas, e até mesmo as ultimas ver- (ladeiras, soffriam não menor compressão com o fim de apurar o talhe. E, quando a moda o exigia, redúzia-se a cintura á inve- rosimil delgadeza de ser abarcada com as duas mãos, sem se reflectir que órgãos tão importantes como o estômago, fígado e baço soffriam n'esse estado tal aperto que quasi embaraçava-os de funccionar.
E' inútil accrescentar que, habituada a mulher desde a mais tenra idade a essa tortura, adquiria facilmente o que ainda hoje se chama um talhe esbelto e elegante;
porém a taes padecimentos se comdemnava, e tão profunda modificação soffria o seu orgaiiismo,que não poucas vezes a medicina lamentou a exiguidade de seus recursos ante enfermidades geradas por esse systema bru- tal de maltratar o corpo.
Os espartilhos modernos estão muito mo- dificados. Feitos de tecido macio e elástico,
— menos tensivos do que os antigos, uma ou outra barbatanasinha perfeitamente in- vaginada e acolchôada para não castigar as carnes, — duas finas, estreitas e flexíveis tiras de metal constituem seo único reforço anterior, adaptando-se ao corpo por meio de um atacador que não pode — cie modo alg- um—exercer tanta pressão, ainda mesmo quando quizessem tental-a, pela pouca re-
sistencia que otterece. Em vez de subir até a parte mais elevada do peito,chegam apenas á altura dos seios, aos quaes mantém, sem apertar; e comprimem muito brandamente o ventre, acompanhando o em todas suas for- mas por meio cie umas abasinhas convenien- temente colbcadas. Este espartilho, que bem merece o nome do coliete, deste modo feito, não se o apertando demasiado, prehen- che perfeitamente o.seo fim, visto como vi- gora o talhe, sustem os seios, servindo ao mesmo tempo de ponto de apoio ás outras peças do vestuário.
A meu vêr é preferível a ágoa de Colônia, ou mesmo a ágoa Florida legitima. Fric- cionando durante a segunda metade da prenhez (do 5 mez em diante), todas a, vezes que se vestir ou despir, e ao deitar como dispõe de mais tempo, collocará a recem-casada sobre o bico do peito algodão em rama embebido na ágoa aromatica.
Anteponho este meio a qualquer outro;
mas, desde que a mulher tenha os seios bem conformados, não ha necessidade alguma das taes biqueiras, tomando apenas as de- vidas cautelas para que a roupa não lh'os comprima.
Nas primiparas o bico do seio está ás vezes occulto; n'esse caso o melhor meio para facilitar-lhe a sahida é a sucção mo- derada de todos os dias, quer pelo próprio.
marido, quer por um cachôrrinho de mama;
ou mesmo empregando uma pequena bomba, cujo tubo se adapte á extremidade perfu- rada de uma biqueira.
Insisto, comtudo, em aconselhar ás se- nhoras que não abusem destes meios, os quaes —além de tudo —poucas vezes são realmente necessários: a natureza tem mil recursos para corregir essas pequenas faltas, e todos os dias vemos mulheres que chegam ao termo da gestação sem vestígios sequer do bico do peito, e —não obs- tante - basta o primeiro sugar da criança para fazêl-o apparecer como por encanto.
Dr. Pires de Almeida.
(Continua),
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â ESTUDOS GERAES
SOBRE A PREVENÇÃO DO CRIME NAS CRIANÇAS, COMO PARTE COMPLEMENTAR 1)0 SYSTEMA PENITENCIÁRIO (Continuação).
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FRANCA
A' direita e á esquerda do templo oslciitào-se dous prédios mais consideráveis do que os cha- lets da colônia : contem elles a escola que serve também para sala da rouniáo das famílias; e armazém de modelos e de instrumentos agrários, e de aposentos dos empregados.
Por trás, pegado á igreja, da qual é prolon- gamento, está a casa de castigo : é uma pr sào cercada dé muro, com cellulas dispostas de ma- neira que os detidos discipünarmente possão, sem sahirem e sem serem vistos uns dos outros, assistir aos officios divinos. Para isso basta
simplesmente correr uma cortina.
Em roda da casa do castigo espraia-sc a quinta^
com albergarias, curraes, celleiros, estribarias, uma queijaria, etc, e mais distante o cemitério,
singelamente disposto.
Os enterramentos são feitos com solemnidade;
sendo encarregados dos jazigos os irmãos mais velhos.
Sito á entrada da colônia, mas um pouco des- viado, ha ainda um edifício, occupado pela en- fermaria, rouparia, escola de grumetes e contra- mestres, vivenda das irmães de caridade, co¦
zinha, padaria lavanderia, etc.
Por diante está ogymnasioepor detraza horta.
A colônia tem capacidade para 720 rapazes A vida em família, queé o elemento principal da colônia, apresentou no começo de sua orga- nisação algumas difficuldades por se não saber como encontrar-se um chefe e outros empregados.
Para remover este obstáculo creou-se uma escola normal e preparatória, que atrahio alguns moços das circumvisinhanças os quaes adrede e convenientemente educados forão aproveitados com vantagem ; preparando-se uns para chefes
de família outros para fiscaes e alguns para dc- curiões das escolas e aspirantes aos diversos cargos.
Além destes, ha ainda na colônia uma enti- dade a que se dà o nome de irmãos mais-velho, tirado d'enlre os colonos — e eleito de tres em tres mezes por seus companheiros.
Assim que o menor chepa á colônia passa por um interrogatório municioso ; é inquirido sobre sua vida e costumes, delido commettido, e quaesquer outros esclaVecimentos.
Uegistra-se tudo no mesmo mappa onde vão-se apontando depois as occurencias posteriores.
Cada família vive vida á parte e tom suas re- lacões como na vida ordinária
Quanto ao regimen, observa-se na colônia o seguinte:
Nas aulas, no trabalho, n\ igreja, no refei- torio, nos dormitórios e em tudo mais, formão os menores categorias, segundo a idade ; sendo a primeira até 10 annos e as immediatas dos 10 aos 12, dos 12 aos 14, dos 14 aos 16 destes aos
18 e finalmente até aos 20.
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Não se torcem as vocações; pelo c ntrano, procura-se sempre desenvolvê-las, indagando a procedência de cada menino : se são do littoral e filhos de marinheiros,revelão aptidão para a vida do mar, apren lem náutica no navio existente na colônia.
Levantao-se as 5 horas da manhã, lavão-se e resào: trabalhào 3 horas no inverno e 4 no verão ; lem 2 horas de escola, 1/2 para o almoço 1 para o jantar e 1 para ceia e recolhem-se ás 9 horas da noite, depois da reza.
Os que se applicào á lavoura, nos dias calmo-
sos, durante a força do calor, suspendem o
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trabalho e empregão o tempo no estudo : e os que se destinão á vida do mar, nos dias chuvosos' recolhem-se ás suas oficinas especiaes e ahi se entregão a tudo quanto diz a respeito á arte
maritima.
a educação e o ensino literário e artístico são altendido com particularissimo desvelo.
Todos os colonos, sem distincção, frequentão Iodos os dias e por categorias as aulas -durante 1/2 hora pelo menos* e em dias alternados assis- lem na igreja as praticas religiosas.
Nas horas de folga—fazem exercícios phy- sicos nos prados, e se chove, exercícios gyna- nasticos nos alpendres que cobrem os espaços comprehendidos entre as habitações; e no verào exercícios de natação nos lagos.
Pela manhã,em seguida ao despertar, reunidos ao som de ciarim, são passados em revista por unidos directores, e distribuídos pelo serviço;
eem seccões, sob a direccão dos conlra-mestres e do irmão-mais-velho seguem para oficinas ou para o campo.
Todo este movimento ex« cuta-se ao som de clarim.
A agricultura c o ramo mais importante da Mettray além da cultura da parra, ha outras como a da ainmoreira para criação do bicho da seda.
A disciplina é um tanto severa ; a menor transgressão é punida immediatamente, mas de modo queo transgressor se convença da justiça do casligo.
As penas mais em pratica são : Reprebensão.
lixclusâo do quadro honorífico.
Cellula clara ou escura.
Regresso á casa central.
Existem 24 cellulas punitivas, raras vezes oecupadas
Aos colonos que mais se distinguem dá-se nm prêmio em dinheiro, e que se destina para o seu pecúlio; alem deste ha outros muitos, conferidos individualmente ou á familia, — como seJào ; o quadro honorífico, os empregos de con-
toca, os concursos etc.
Paru figurar no quadro honorífico é mister que o colono não tenha soffrido castigo algum
— por tres mezes seguidos.
lia um outro creado para & familia que no correr da semana não incorreu na menor falta ; e consiste em uma bandeira com as cores na- cionaes e a legenda.
« Colônia Mettray — Em honrada familia.)) Ao conferir-se o prêmio, entando toda colônia reuinda, colloci-se na frente a família%premiada
—que depois de receber o estandarte marcha ufana precedendo ás outras.
A religião é alli fervorosamente observada ; ao domingo assistem os colonos á missa e de- pois delia ás prédicas do capellão e do director.
Neste dia aprendem a musica e exercitão-se em gymnastica, e em manobras de incêndio e de marinhagem.
Para estimular os brios e a emulação dos co- lonos, tem-se introduzido todos os meios ima- ginaveis—: na igreja —estão gravados em lon- gas taboas os nomes dos mais distinetos; nas aulas —exposto em molduras os desenhos, as escriptas, a naraçáo de feitos memoráveis rela- tivos á colônia, e a correspondência daquelles que saliirão—deixando recordações agradáveis de sua passagem.
pessoal da colônia compòe-se de:
director.
1 inspector.
1 capellão.
8 irmãos de caridade.
1 mestre em cada oííicina.
1 dito em cada ramo de ensino.
chefe para cada familia.
irmãos mais velhos para cada familia.
A 20 kilometros está organisada, no campo de Orfrasiere, uma família com vida mais inde- pendente, como ensaio e preparo para eman-
cipação de colonos,
Para meninos delinqüentes protestantes existem unia colônia agrícola emSúnlFoy e ura refugio, estabelecido na casa de Dioconesse, em Pariz.
A colônia foi instituída pela Socielé des In- íerêls. Genéraux du protestantisme Français, fundada em 1842, e é, como a casa Diaconcsses, ao mesmo tempo de caracter preventivo e cor- .reccwnal
Recebe os menores detidos pelo poder com- petente e os meninos viciosos, mandado espon- taneamemte pelos pais ou seus bemfeitores.
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