Capitalismo de Estado Neocorporativista
Fernando Nogueira da Costa Professor do IE-‐UNICAMP
h2p://fernandonogueiracosta.wordpress.com/
Estado interventor, indutor e regulador, que propiciou salto de etapas históricas antes percorridas
por países de capitalismo maduro
O Capitalismo de Estado chinês (sob domínio do PCCh), russo (sob ex-‐KGB) e indiano são derivados
de experiências históricas com
“Socialismo de Mercado” e, claramente, se diferenciam do
Capitalismo de Mercado norte-‐americano.
Capitalismo de Estado
NeocorporaEvista brasileiro
ainda busca conquistar maior autonomia tecnológica e financeira.
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Configuração de um Capitalismo
de Estado Neocorpora8vista
A necessária construção de indústria de componentes nacionais e de mecanismos
internos de financiamento em longo prazo pode retardar e até encarecer os
empreendimentos.
Embora tenha ocorrido enorme redução do peso do
Estado na economia brasileira, promovida pelas
privaNzações neoliberais, ele ainda mantém sua capacidade de coordenação
da negociação.
Agora, há associação entre capitais de origem estatal,
trabalhista, privada nacional e
estrangeira.
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Os interesses gerados na sociedade civil são organizados, seja em sindicatos dos
trabalhadores, seja em associações
empresariais.
Suas estruturas internas centralizadas e hierárquicas impõem quase como obrigação
a militância polí8co-‐
par8dária para obter apoio à ascensão a postos com poder de decisões estratégicas.
O NeocorporaEvismo é forma parNcular de
intermediação de interesses entre sociedade civil e Estado em regime
democráNco com governo trabalhista.
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O Estado brasileiro situa-‐se no centro das
decisões cruciais de financiamento da
economia.
O Tesouro Nacional possibilita a realocação dos recursos em prazos
adequados ao financiamento dos setores prioritários
para o desenvolvimento
brasileiro.
O Tesouro Nacional oferece aos invesNdores risco soberano, para captar em
longo prazo, tanto no mercado
financeiro domésNco, quanto
no internacional.
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Devido a incenEvos fiscais
concedidos pelo governo para esNmular a formalização do mercado de trabalho, a desoneração do PIS-‐Pasep para as empresas
que aderiram ao Simples tem impacto direto na diminuição do ritmo de crescimento da
arrecadação do tributo,
que é a principal fonte de recursos do FAT.
• a políNca de reajuste real do salário mínimo,
• a alta rota8vidade do trabalhador no mercado de trabalho, e
• o aumento dos rendimentos dos brasileiros.
As despesas do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT)
com abono salarial e seguro-‐
desemprego devem conNnuar com expressivos crescimentos nos próximos anos, refleNndo:
FAT só se equilibrará com aportes do Tesouro Nacional.
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Fonte: IBMEC. Relatório Trimestral do Financiamento dos Inves8mentos.
São Paulo, CEMEC -‐ Centro de Estudos de Mercado de Capitais, dezembro de 2012.
EVOLUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA BRUTA E LÍQUIDA (% DO PIB)
* Dados de Junho Fonte: BCB
% do PIB
59,9
56 56,4 56,4
58 57,7 60,9
58,8 56,7
58,5
34,5
49,3 49,8 50,6
48,4 47,3
38,5 42,1
39,2
36,5 35,3
33,8 34,9 54,2
53,1 53,4 50,4
60,4
42,6
45,5 46,9
33,3
29,5
54,8
27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014*
Dívida Bruta Dívida Líquida
Dívida líquida do setor público: diferença entre passivos e ativos acumulados pelas três esferas do governo e empresas estatais.
Dívida bruta: só os passivos das três esferas. Eleva-se quando o Tesouro Nacional lança títulos de dívida pública, inclusive que lastreiam “operações compromissadas”, e dá “empréstimos perpétuos” para capitalizar bancos públicos. Eles alavancam esses recursos e dão retornos via pagamento de juros e dividendos ao TN. Desconta-os da dívida bruta, para se calcular a dívida líquida.
60,1% do PIB em out/14
O superávit primário e a acumulação de reservas internacionais promoveram a redução gradual da dívida líquida em % do PIB.
A maior parte dos ativos públicos consiste em reservas internacionais.
Depois, aparecem os empréstimos às Instituições Financeiras Públicas Federais, que aumentaram de 0,6% do PIB em 2006 para 9,5% do PIB em junho de 2013, para atuação anticíclica desde a explosão da crise sistêmica mundial em 2008.
Impulsionado por financiamentos gigantes como o da hidrelétrica de Belo Monte, o maior para um só projeto da sua história (R$ 22,5 bilhões) e também sua maior par8cipação como financiador no valor total de um mega inves8mento (78%), o BNDES depende cada vez mais do funding captado pelo Tesouro Nacional para atender a demanda.
Os créditos do governo federal para o BNDES somavam R$ 371,7 bilhões até dez/2012;
os repasses responderam por 69% dos desembolsos totais de R$ 538,2 bilhões feitos pelo BNDES.
Em dezembro de 2012, o estoque de etulos emiEdos pelo governo para reforçar as disponibilidades
financeiras e capacidade de crédito dos bancos públicos somava R$ 406,9 bilhões, o equivalente a um quinto do total da dívida pública mobiliária federal.
O BNDES argumenta que os emprésEmos totais de R$ 276 bilhões possibilitaram
um invesEmento total superior a R$ 374 bilhões e foram responsáveis
pela manutenção ou geração de 8,6 milhões de empregos.
Em função da renda extra, o setor de comércio foi o que mais deu contribuição
para o fortalecimento do mercado de trabalho em decorrência dos repasses do
BNDES, com 1,2 milhão de postos de trabalho manEdos ou gerados.
Nas contas da insNtuição, 2 milhões de empregos foram criados de forma direta,
outros 2,1 milhões por efeito indireto e 4,5 milhões decorreram do efeito-‐renda,
resultando do consumo adicional gerado pelas demais contratações.
ganhos fiscais resultantes das
operações viabilizadas pelo
emprésNmo da União
o lucro do BNDES, que retorna à União por meio
de dividendos, tributos e lucros re8dos;
o ganho fiscal de curto prazo, decorrente da expansão do
produto e da renda da economia;
o ganho fiscal de longo prazo, resultante do fato de que a capacidade produ8va da economia será maior nos próximos anos, viabilizando:
• o crescimento da demanda sem pressão inflacionária,
• maior Produto Interno Bruto (PIB), e
• arrecadação fiscal mais elevada.
13 Em termos de custo fiscal
e orçamentos governamentais,
IFPF podem
“fazer mais por menos”.
São 9 vezes mais, se comparar o valor em dinheiro necessário para
executar diretamente polí8cas públicas com a mesma quan8dade
de recursos capitalizados nas IFPF para alavancar
emprés8mos (e tomar depósitos).
InsNtuições
Financeiras Públicas Federais podem
gerar políEcas públicas cujo gasto efe8vo sai por cerca
de 10% do custo fiscal potencial.
exemplo de alavancagem financeira
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Suponha que o capitalista compre aEvo por US$ 100 mil: se ele passar a valer US$ 110 mil, ele lucrou 10%.
Suponha que ele tome emprestado US$ 900 mil para somar aos US$ 100 mil que usou para a compra do aNvo.
Se o juro for muito baixo e o aNvo se valorizar,
apresentando a mesma
rentabilidade patrimonial de 10% sobre seu invesNmento total de US$ 1,0 milhão, ele duplicará o
capital próprio!
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Os concessionários conseguem obter dinheiro mais barato:
os emprésNmos têm juros subsidiados, com longos prazos de carência e pagamento.
Isso torna o custo do dinheiro menor e
“alavanca” o retorno do inves8mento, a chamada taxa de retorno alavancada.
O segredo dos
negócios capitalistas é trabalhar com capital de terceiros!
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Fonte: CEMEC-‐IBMEC. Indicadores CEMEC de Custo de Capital.
São Paulo, 11o. Seminário CEMEC de Mercado de Capitais, 27/04/2012.
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Estoque de Riqueza Financeira Número de InvesEdores
> R$ 300.000 644.003
> R$ 700.000 221.194
> R$ 1.000.000 130.861
> R$ 3.000.000 55.104
> R$ 10.000.000 8.842
> R$ 20.000.000 3.902
Tipo Número de InvesEdores
Tesouro Direto 378.267
CBLC (ações) 571.963
Fundos de Pensão Fechados 2.276.000
Fundos de Pensão Abertos 13.400.000
Fundos de InvesNmentos 8.982.798
Depositantes de Poupança 97.984.000
Fonte: Anbima / FGC / Abrapp / Fenaprevi / Bovespa-‐BMF -‐ 2014
¾ < R$ 1.000
Bilionários brasileiros: de 18 para 30, entre 2010 e 2011.
Somadas, as fortunas dos brasileiros mais ricos chegaram a
US$ 131,3 bilhões
(ou R$ 216 bilhões) em 2011.
Para comparar, o total dos aEvos dos fundos de pensão fechados no País alcançava, em dez/2012,
R$ 668 bilhões.
Elevou-‐se o número de bilionários brasileiros (de 36 para 46) e a soma das fortunas (de US$ 151 bilhões
para US$ 189,3 bilhões) entre 2012 e 2013.
5 maiores fundos de pensão (PREVI, PETROS, FUNCEF, FUNCESP,
VALIA): ~ 50% do invesNmento.
Havia ~ 6 milhões de parNcipantes aNvos e dependentes.
O capital de base trabalhista, quando agregado, supera o capital dos maiores capitalistas!
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20
AEvos de base imobiliária:
40% dos Bens e Direitos (DIRPF 2011)
PNAD 2011 -‐ domicílios próprios: 45,8 milhões
(74,8%)
AEvos financeiros:
52% de
R$ 4,464 trilhões =>
PF: 77% do total de Haveres Financeiros
Valor dos aEvos financeiros: saldo de fim do ano de 2010 X valor total dos imóveis:
histórico.
Valor de veículo automotor: histórico =
8% do total de bens
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A formação bruta de capital fixo — medida do PIB que considera
aplicações em construção e máquinas e indica o nível de investimentos produtivos no país — chegará em 2016 de 21% a 22% do PIB.
Em estudo do Itaú BBA, óleo e gás é o setor que responde pela maior fatia de recursos necessários, com programas de R$ 543,4 bilhões, ou quase 60% do total. É seguido por transportes (R$ 200 bilhões), energia (R$ 162,4 bilhões) e saneamento (R$ 15 bilhões).
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Parceria estratégica com a Petrobras no desenvolvimento do pré-‐sal brasileiro:
• US$ 89 bilhões em backlog garanNdos por 28 contratos de longo prazo com duração média de 14,5 anos cada.
• Frota de 29 sondas de águas ultra-‐profundas de 6ª geração com design comprovado, programadas para entrar em operação entre 2015-‐2020.
Tropicalização Antropofágica Miscigenada
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A economia brasileira possui traços não plenamente desenvolvidos dos três modelos de financiamento a prazo.
crédito privado incipiente crédito
público insuficiente
mercado de capitais raquíNco
Tropicalização Antropofágica Miscigenada
“Independentemente dos homens e de suas
intenções, sempre que o Banco Central se entrega à austeridade financeira, os Bancos Públicos
escancaram os cofres, com a inevitabilidade
quase de uma lei natural”.
“O comportamento dos Bancos Públicos é,
por definição, o desejado pelo Governo da Ocasião, seja ele monetarista,
seja desenvolvimen8sta, ou, quase sempre,
apenas pragmá8co”.
Primeira Lei Segunda Lei
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Leis da
Tropicalização Antropofágica Miscigenada
Não interpretar essas leis no senNdo negaNvo:
“os bancos públicos inviabilizam
a políNca monetária”.
Primeiro,
a dosagem de suas operações é instrumento básico de
políNca monetária.
Segundo,
o direcionamento setorial do crédito dá-‐lhe flexibilidade.
Crédito direcionado + Desoneração fiscal seleNva
No final das contas, controlar com uma mão,
liberar com outra, de acordo com o planejamento estratégico,
é melhor para o País.
Crédito direcionado a setores prioritários: “amortecedor”
de recessão provocada pela ânsia de controle monetário
geral por parte da autoridade monetária.
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Tropicalização Antropofágica Miscigenada
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Aqui, até agora, se consNtuiu Economia de Endividamento,
mas não Economia de Mercado de Capitais.
Ainda não houve no mundo nenhuma experiência de
conversão da primeira nessa úl8ma,
{pica dos países anglo-‐saxões.
O desafio é alterar o padrão de financiamento do inves8mento na indústria e na infraestrutura,
elevando a parNcipação do mercado de capitais.
fercos@eco.unicamp.br
http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/